janeiro 03, 2006

Plágios e Dejectos

Há dejectos de familiares do Santo Ofício, ressequidos pelo tempo e inertizados pela ausência de seiva vital, restos insidiosos e bafientos que, à falta de uma vida, vegetam dedicando-se à devassa mesquinha do que os outros escrevem, não no intuito de debaterem ideias (por ausência de objecto de debate nas suas mentes vazias), mas com o estéril objectivo de encontrarem frases que já foram escritas por outrem. O que nas suas mentes bolorentas escasseia é suprido pelos motores de busca da net. Estes homúnculos libam o que vem à net, para provarem o seu parasitismo inquisitório aos sabujos da sua laia, e a sua ignorância ao mundo, pois a sua estultícia não lhes permite triar o bom do mau. Como não têm ideias, afadigam-se tentando mostrar que os outros também as não têm.

Não conheço o caso da Joana Amaral Dias, que tomei conhecimento, ontem à noite, via Blasfémias. Como também não conheço o caso da Carla Quevedo, passado há meses (com um blog frequentado pelo mesmo nick), que só li em diagonal. Mas conheço o caso que se passou comigo e o desprezo que voto a esse bisbórria, de nick Luís Rainha, permite-me afirmar com segurança que tudo o que venha desse inquisidor serôdio só me merece o prejuízo da dúvida. Desprezo aqueles que vivem da devassa alheia, que espreitam pelos buracos das fechaduras, que vigiam entradas e saídas, que metem as mãos nos caixotes dos lixos, sempre numa afanosa e permanente busca de descobrirem algo que prove que há gente ainda mais inútil, medíocre e incapaz que eles. Na altura ainda pensei que poderia haver motivos políticos. Vendo agora o caso JAD concluo que se trata apenas de uma malformação congénita: a tentativa da auto-promoção pela denúncia, pela bufaria. Não passam de espreitas, que merecem o mesmo destino das cartas anónimas: o lixo.

Só uma adenda curiosa ao meu caso. Algumas das frases cuja cópia da net fui então acusada, transcrevi-as (na altura não o disse, pois citei apenas as fontes de que esta autora se servira, livros que aliás eu também tenho *) do livro Os Templários da Régine Pernoud (a maior historiadora medieval francesa do século XX). Houve um cretino ignorante que na altura gozou com a tradução que eu fizera. Ele que se queixe da Maria do Pilar Delvaulx, que foi quem traduziu o livro para a Europa-América (nº 164 Colecção Saber). E o que era mais caricato era aquela matilha de trogloditas, que me ladravam às canelas, considerarem o site da net, onde julgo que 2 frases (ou períodos) eram idênticas às minhas, como a Bíblia sobre a matéria, quando aquele site eram transcrições ipsis verbis da edição francesa do livro da Régine Pernoud, sem qualquer menção da autora. Eu demorei uma tarde de domingo a escrever os 5 textos sobre o Código Da Vinci (1, 2, 3, 4 e 5), apenas com o intuito de divulgação; os espreitas despenderam dias em buscas estéreis na net. Estéreis, porque não aprenderam nada, apenas satisfizeram a sua ânsia pela delação e maledicência

Na altura ainda dei trela a um deles (enfim … ele até tinha um duplo tt no apelido …) até ter verificado rapidamente que, embora latindo de mansinho, fazia parte da mesma matilha.

Um conselho final sobre denúncias provenientes dali - não se dignem responder, deitem imediatamente no lixo.

(*)Dupuy Traittez … concernant la condamnation des Templiers … Paris 1654
Michelet - Le Procés des Templiers Paris 1841

Ver aqui:
Confesso ... plagiei
Plágios e Fontes

Publicado por Joana às 01:12 PM | Comentários (137)

dezembro 21, 2005

Discurso

Estou emocionadíssima (sniff) … queria agradecer a todos (sniff …sniff) em especial aos meus paizinhos (a mão esquerda acena para a plateia, enquanto a direita sobraça com zelo fervoroso a coluna direita do Insurgente) … senão fossem eles, eu não estaria aqui … papá (mais uma mão que se agita e uma lágrima que cai) obrigada por me deixares estropiar os teus incunábulos no scanner … e à vizinha Mélita, que tanto me ajudou nos posts … (mais a mão e uma lágrima) coragem, Mélita, vais ver que o teu Alzheimer avançado há-de regredir. E ao Cícero, o meu cocker spaniel, que é um querido que só finca o dente aos de casa. Obrigada Cícero pela tua eloquência, que eu teclo melhor com a mão engessada. E ao jcd, que se vitimizou, a meio do ano, com uma psicose bloguítico-depressiva, porque senão talvez estivesse hoje aqui, em vez de mim, se bem que injustamente. Obrigada, jcd (já chateia a mão e a lágrima), não te cures, que isso de jaquinzinhos é peixe de gato. E obrigada aos meus comentaristas, que quanto mais me enervo, mais a minha adrenalina sobe e mais a minha interpretação ganha arrebatamento. Ah! E obrigada, Blasfemos (e o estupor da mão que não pára de acenar), por só se terem mobilizado para a votação nos últimos dias ... confiaram demasiado na mão invisível do mercado ...

Publicado por Joana às 09:12 AM | Comentários (80) | TrackBack

dezembro 19, 2005

Apelo Vibrante

O jcd é o máximo. Acabo de ler o seu vibrante apelo ao voto no Blasfémias na eleição que se realiza no Insurgente. É um apelo onde a emoção só é ultrapassada pela imaginação, arrebatamento, excesso de riscos eloquência do tribuno. Não consegui conter as lágrimas de riso emoção, que se derramaram copiosas por sobre o teclado (amanhã terei que encomendar outro, porque este ficou com os circuitos estragados com a humidade lacrimal), e corri célere a dar o meu voto. Infelizmente apareceu uma resposta importuna, indecente, impiedosa e incontornável «We're sorry, you've already voted in this poll!». Não se faz ... depois dos empenhos com que tentei seduzir corromper os Insurgentes no post anterior. Mas amanhã, lá estarei, jcd ... só espero que, embargada pela comoção, os meus dedos não resvalem e acertem dois círculos abaixo.


Publicado por Joana às 09:31 PM | Comentários (44) | TrackBack

dezembro 13, 2005

Sondagem Insurgente

Verifiquei que os Insurgentes lançaram uma sondagem sobre quais eram os melhores blogs de direita e de esquerda em 2005. Nomearam 5 blogs para cada um daqueles sectores. Com a gentileza que os caracteriza, não se incluíram nas nomeações. Foi óptimo para os outros, porque eles seriam fortes candidatos à vitória. E levaram a gentileza ao cúmulo de me incluírem na lista dos nomeados. Estar incluída naquela lista já é uma vitória bem saborosa. É o máximo que posso aspirar, porque os meus concorrentes são bloggers de alta competição.
Aos Insurgentes, os meus mais sinceros agradecimentos.

Uma nota: Aqueles sectores correspondem de facto a opções políticas e económicas bem diferentes. Todavia, designá-los por direita e esquerda é aplicar nomes que nasceram nos fins do século XVIII a realidades bem diversas. Mas à falta de melhor ... segue-se a tradição ... embora a tradição também já não seja o que era.

Publicado por Joana às 11:27 PM | Comentários (49) | TrackBack

dezembro 01, 2005

Incertezas

Se eu soubesse que tinha direito a um epitáfio destes, acabava já o Semiramis. Mas resta-me o gozo de saber que aqueles que prefeririam ver este blog acabado, estão irmanados no clube dos que nunca me dedicariam semelhante epitáfio. É uma espécie do aforismo de Groucho Marx às avessas: Nunca aceitaria fazer parte de um clube que me aceitasse como sócio.

Publicado por Joana às 10:59 PM | Comentários (38) | TrackBack

novembro 30, 2005

O Pinho e a Ota

Caro jcd, estive a ler o Justa Causa e tenho alguns reparos a fazer. Em primeiro lugar queria avisá-lo que, no cenário 2, quer o Mário, quer o seu consultor especializado se enganaram. Com um investimento de 3 milhões e um cash-flow anual de 200 mil euros, a TIR desse investimento, admitindo uma vida útil de 20 anos, seria de 2,9% e não de 6%. Despeça igualmente esse consultor especializado, que julga que uma instalação industrial tem uma vida útil infinita e que a evolução tecnológica parou no tempo. Em segundo lugar, o meu querido amigo está a supor que não há concorrência (1º cenário). Essa situação nunca existe na prática, a menos que haja uma barreira à entrada institucional. Portanto, a comparação com a situação inicial, terá que ser considerando o cash-flow anual diferencial de 50 mil (admitindo a fábrica antiga a laborar à capacidade máxima). Nesse caso, com o investimento de 3 milhões e um cash-flow anual diferencial de 50 mil euros, face à situação anterior, a TIR, admitindo uma vida útil de 20 anos, seria de –8,8%. Ou seja, em qualquer dos casos seria um desastre.

Todavia, está-se a esquecer que a procura irá aumentar até atingir a capacidade nominal. Admitindo que esse aumento ocorre linearmente durante 20 anos, as TIR’s seriam respectivamente de 5% (projecto em si) e de –3,1% (projecto diferencial). Isto considerando os valores residuais nulos, o que só não é verdade na questão do valor do terreno. Todavia, como o desmantelamento de uma fábrica obsoleta também custa dinheiro, optei por anular o valor residual. Bastante mau em ambos os casos.

O seu consultor esqueceu-se ainda de várias outras coisas. Em primeiro lugar, e a menos que a dimensão da actual fábrica fosse a dimensão mínima óptima, uma fábrica com uma dimensão tripla teria custos unitários menores e portanto margens maiores. Eu poderia inventar um número para a nova margem, como o meu caro jcd fez, mas acho que basta enunciar este princípio, pois qualquer número que eu inventasse seria discutível (como os seus, aliás). Em segundo lugar, uma instalação industrial tem uma vida útil determinada, a partir da qual cai na obsolescência e fica com custos de exploração proibitivos. O seu consultor (se é que ainda não o despediu) esqueceu-se que não pode comparar, da forma como o fez, uma fábrica nova, com um certo horizonte de vida útil, com outra antiquada.

Depois, o seu consultor parece convencido que há para aí muitas fábricas dessas, que produzem 10 mil cadeiras ano, e isso pode não ser verdade. Qualquer industrial lhe dirá que, a menos que se trate de indústrias de baixo valor acrescentado incapazes de competir com os chineses, quando se constrói uma nova fábrica, é com a dimensão máxima possível, de acordo com o mercado existente e as perspectivas futuras, pois só assim se obtêm as sinergias resultantes de uma maior dimensão e de equipamentos mais actualizados e especializados. Se a dimensão do mercado que prevê não for suficiente (for bastante inferior à capacidade da dimensão mínima óptima), o melhor é não fazer nada nesse ramo e dedicar-se a outro nicho de mercado, pois nunca poderá concorrer com a produção estrangeira (isto é o que qualquer economista austríaco ou neoclássico lhe diria). Além do que, o seu administrador de empresas poderia só conseguir encontrar uma localização a 40 ou 50 kms e veja os problemas de logística que teria. Além do mais, também nesse cenário da fabriqueta adicional teriam que desmantelar parte da fábrica antiga (os equipamentos que faziam as cadeiras de pinho) e mudá-los para a nova. E os trabalhadores especializados no pinho (refiro-me à madeira e não ao ministro) teriam que ser deslocados para a nova fabriqueta, o que implicaria igualmente custos adicionais.

Jcd, eu não estou nada convencida com os estudos económicos relativos à Ota sejam fiáveis e tenho dúvidas sobre as projecções de tráfego em face dos efeitos colaterais induzidos pelo TGV e por uma eventual diminuição de procura turística, devida a uma maior distância, mas as minhas dúvidas e julgamentos estão resumidos no post anterior.

Todavia digo-lhe uma coisa: o seu administrador de empresas está com sérios problemas, pois quer o consultor quer o director de obras deixam muito a desejar.

Publicado por Joana às 06:51 PM | Comentários (44) | TrackBack

novembro 24, 2005

Exibicionismos

Ou um post lascivapoliticamente incorrecto

Tem havido uma enorme restolhada sobre comportamentos públicos na sequência do beijo da Gaia. Rapidamente o banzé saiu fora do domínio da vida social e invadiu o domínio político e quiçá económico. Julgo que as escolas marxista, neoclássica e austríaca foram chamadas à colação. A questão ganhou tal pertinência que poderá dar origem à Escola Portuguesa que unificará, numa poderosa visão sincrética, a totalidade do pensamento e praxis política, económica e social, desde os mais recentes desenvolvimentos sobre a concorrência monopolística e a teoria dos jogos, até aos grafitis nos lavabos públicos, passando pelas vivências coloquiais e físicas nos estádios desportivos e no Intendente.

Eu, na minha ingenuidade, julgava que o comportamento público decorria das normas sociais, consensualmente aceites, embora variando no espaço e no tempo. Por exemplo, estar numa praia (obviamente afastada dos subúrbios de Lisboa) em topless, envergando unicamente um imperceptível fio dental, enquanto a cálida brisa marítima acaricia suavemente a epiderme generosamente exposta, não é minimamente constrangedor, nem para a protagonista, nem para os circunstantes.

Já seria diverso se, dias depois, a mesma entrasse assim vestida (ou despida) no Belcanto. Um escândalo absoluto e lamentável e a expulsão imediata (com alguma protecção corporal generosa e pudicamente oferecida pela gerência). Mas, o mais curioso, era que aquela clientela do Belcanto poderia ter estado entre os veraneantes da praia, que então se limitaria a deitar um ou outro olhar disfarçado e concupiscente. E tal não implicaria que, entre frequentadores e empregados do Belcanto (e da praia), estivessem, ou não, liberais, ultra-liberais, austríacos, comunistas, trotskistas, socialistas, conservadores ou, apenas, conversadores.

O escândalo seria porventura maior se o fenómeno ocorresse na praia de Pedrouços nos princípios do século XX. Todavia isto não significa que a evolução se faça num só sentido. Antes da vaga puritana do século XIX (e fins do século XVIII) o escândalo era certamente muito menor e sociedades e/ou épocas diferentes encarariam o caso com naturalidade.

O mesmo se dá com a exibição pública ostensiva e continuada de afecto (!?). É constrangedor para os circunstantes e apenas apreciada pelos voyeurs. É um exibicionismo desnecessário e indiciador de uma sexualidade frustrada. O que eu tenho verificado é que a exibição pública de afecto é inversamente proporcional à satisfação sexual de quem a faz. Pelo menos, todos os casais que eu conheço que passavam a vida aos beijos e a salivarem-se em público, divorciaram-se ao fim de pouco tempo. O exibicionismo público de desejo sexual é normalmente sinónimo de que esse desejo não encontra satisfação na intimidade.

O sexo tem uma característica: o que tem de mais belo, fascinante e de fantasia erótica, quando vivido na intimidade, é exactamente o que o torna mais porco e pornográfico, quando sujeito à devassa pública e ao voyeurismo.

Mas também isso depende da situação. Se dois ou mais casais concordarem numa farra conjunta com swing deixa de haver constrangimentos porque, para aquele grupo, isso passou a constituir a regra do jogo e, provavelmente, um dos fascínios do próprio jogo que é vivido na intimidade desse grupo, embora possa acontecer, mais tarde, sequelas negativas, pois a abertura de espírito “teórica” pode, em alguns casos, soçobrar perante a “prática”. Temos um lastro civilizacional mais pesado do que julgamos.

Quanto à homossexualidade discordo que seja apenas uma forma alternativa de sexualidade. É um desvio sexual congénito ou adquirido. Também há gente que tem o fascínio em ser chicoteada por mulheres atléticas de saltos altos e ameaçadoramente pontiagudos, envergando cabedais negros com penduricalhos metálicos, tilintando lascivamente, o que não é, igualmente, uma forma alternativa de sexualidade – é um desvio sexual. Os desvios sexuais, desde que não incidam sobre menores, não se façam violentando o outro parceiro, nem levem a situações que ponham em risco a integridade física, são comportamentos cuja existência devemos aceitar, e relativamente aos quais não é lícito fazer algo que possa levar à exclusão social desses desviantes, sob quaisquer formas.

Por outro lado praticar um acto homossexual não significa que se seja homossexual. Em diversas situações, heterossexuais foram levados pela curiosidade (na adolescência, por exemplo) ou pela necessidade (nas prisões, por exemplo) à prática de actos homossexuais. Mas também foram levados a práticas onanistas ou outras. O onanismo não é uma forma alternativa de sexualidade. É um desvio provocado por diversas razões, entre elas a solidão.

Lutar contra a discriminação dos homossexuais alegando que a homossexualidade é apenas uma forma alternativa de sexualidade, é um absurdo, cria anti-corpos no tecido social, farto da propaganda do lobby gay e dos adeptos das teorias ditas “fracturantes”, e abre a porta a que dezenas de outros desvios sexuais tenham todo o direito de exigirem idêntico tratamento de “forma alternativa de sexualidade”.

Todavia, o que expus é o que eu penso. Não estou a pretender fazer disto uma teoria absoluta, universal e totalizante. Se eu vivesse na época vitoriana, pensaria talvez de outro modo. Talvez também pensasse de outra maneira se vivesse na Corte francesa de Luís XIV, no serralho do Sultão de Constantinopla, num templo de Ísis na Roma antiga, ou em Lesbos, no círculo de Safo. Estou agora mesmo a debater-me com a dúvida sobre o que pensaria se vivesse actualmente em Cabul.

No meio disto tudo, esqueci-me de referir Marx, Marshall e Hayek. Mas pensando melhor, não discirno onde os inserir.

Publicado por Joana às 07:37 PM | Comentários (152) | TrackBack

novembro 16, 2005

Problemas dos meios pequenos

Nos meios pequenos, como o nosso, há controvérsias que ganham uma amplitude inesperada. O CAA colocou um post sobre a entrevista do Cavaco que eu, numa primeira visão em diagonal achei estranho e percebi mal. Pareceu-me que teria a ver com alguma análise à urina da CCS que teria dado resultados inquietantes. Depois, surgiram imprecações de todo o lado e em todas as direcções. Verme foi uma das palavras mais usadas. Foi aí que eu percebi que o copo conteria whiskey e que a imagem pretendia dizer que a CCS sacrificava a Baco.

Diversos Blasfemos acotovelaram-se em pedidos de desculpas à Srª Drª Constança Cunha e Sá tentando exorcizar o pecado do CAA e exigindo a retratação de António Ribeiro Ferreira, o criador dos vermes. Blogosféricos ilustres e Blogostéricos vulgares andaram numa roda viva debatendo este tormentoso e gravíssimo problema.

Eu acho que foi apenas uma brincadeira de gosto talvez duvidoso que, comparada com o hooliganismo de CAA quando fala do FCP, é o mesmo que comparar um sacerdote, bebendo vinho a pretexto da Eucaristia, com Atila invadindo as Gálias. Continuo a não perceber a razão do cataclismo cosmosférico que isto provocou. Tanto ruído para nada!

Por falar em Atila ... eu tinha outra impressão (e muito mais favorável) de António Ribeiro Ferreira antes de o terem deixado à solta num blogue. Mas pode ter sido uma crise passageira.

Vamos esperar que a poeira assente, porque isto não passou de poeira.


Publicado por Joana às 11:55 PM | Comentários (24) | TrackBack

outubro 06, 2005

Dois Anos

Faz hoje dois anos que este blogue começou. Iniciado como uma brincadeira, foi ganhando autonomia e um espaço próprio de debate.
Velas.jpg

Não é fácil manter um blogue. Nunca fui vítima do fetiche do blogue, mas interrogo-me frequentemente se sou eu que giro o blogue, ou se é ele que me gere a mim. Frequentemente, e já me queixei aqui diversas vezes, sou acometida da síndrome do Bey de Tunis ... e tenho que me desenvencilhar à pressa enquanto as «botas do empregado da tipografia rangem no patamar da escada».
Julgo que com altos e baixos, cumpri a missão que me impus. Julgo que consegui alguma qualidade, que tenho deixado clara a minha independência e coerência, dentro obviamente da minha mundividência e dos conceitos e ideias que tenho sobre as questões económicas, políticas e sociais. Ser-se independente não é ser-se cinzento, nem é tentar agradar a gregos e troianos.

Tenho continuado a procurar uma intervenção diversificada, não só na escolha dos temas, mas também na abordagem, quer mais sisuda, quer mais brejeira, mas sempre com seriedade.

Tenho deixado totalmente aberta a inserção de comentários. Há, uma vez por outra, alguns abusos, mas a liberdade de inserção de comentários tem-se revelado um bem mais precioso que os poucos abusos que têm ocorrido. Já “rasurei”, uma ou outra vez, alguns palavrões mais obscenos, mas nunca apaguei qualquer comentário.

Termino com uma citação de Raul Proença:

Amar os nossos inimigos - o pensamento dos nossos inimigos e a crítica dos nossos inimigos - é o verdadeiro sinal do espírito combativo. Que importa que eles me guardem ressentimento e rancor? Eu preciso deles como do ar que respiro; eu agradeço-lhes o contribuírem para a clarificação das minhas ideias e para a fortificação dos meus motivos de viver; eu afirmo-lhes, para além de todas as minhas disputas, a minha fraternidade e a minha lealdade de inimigo .

Dedico este parágrafo àqueles que discordam frontalmente do que escrevo (os inimigos), quer o escrevam aqui, quer apenas o pensem. E aqueles que apenas o pensem, que não se acanhem – escrevam-no.

Alguns ficarão admirados por ter citado um seareiro. Os seareiros de 1921-6 tinham uma qualidade que prezo – eram independentes e pensavam pela própria cabeça. Poderão ter dito e feito muita asneira, mas nunca como resultado de terem sido colonizados mentalmente por outros. E isso é notável num país cuja cultura e as ideias são importadas pelo “paquete do Havre”.

E agora vou soprar as velinhas.

Publicado por Joana às 09:08 AM | Comentários (88) | TrackBack

agosto 03, 2005

Tradeoffs Imperfeitos

O “Jaquinzinhos” anunciou o seu encerramento. A razão é evidente: no tradeoff entre a obrigação e o prazer de manter um blogue, jcd verificou que o segundo factor se tinha tornado manifestamente inferior.

Manter um blogue individual é complicado. Exige bastante, não tanto pelo tempo de escrita, como pelo esforço imaginativo na procura de um tema, mas também na busca do tipo de abordagem mais adequado. Normalmente as coisas fluem. Mas nem sempre. E então acontece a síndrome do Bey de Tunis. Estes são os custos de manter um blogue.

Qual a utilidade que se retira disto? No meu caso o prazer de comunicar, de intervir civicamente, de dizer coisas que, de outro modo, talvez não fossem ditas, ou, pelo menos, do modo como gostaria que fossem ditas, em suma, colaborar numa sociedade mais transparente e onde a informação circule melhor.

O problema é que nada na vida permanece constante. O que começa por puro prazer acaba por ganhar autonomia própria e erguer-se, ameaçadoramente, contra quem o criou, exigindo uma atenção diária, uma contínua busca pelo aperfeiçoamento, um permanente cuidado pela manutenção dos parâmetros mínimos de qualidade e rigor. Em certa altura, já não sou eu que sou dona do blogue … é o blogue que se assenhoreou de mim. Há prazer … mas também obrigação.

A questão agora é equilibrar ambos os pratos desta balança. Manter o prazer sem sentir o desprazer da obrigação. Eu tenho-o conseguido até hoje, umas vezes melhor, outras pior. Veremos por quanto tempo ainda.

Jcd achou que já não conseguia equilibrar os pratos. O custo de oportunidade da manutenção dos Jaquinzinhos tornou-se demasiado elevado. E tornou-se tanto mais elevado quanto mais elevados eram os parâmetros de qualidade a que ele nos ia habituando.

Espero que, com o mesmo formato, ou outro qualquer, sozinho ou em equipa, jcd volte às lides da blogosfera. A blogosfera sem ele ficaria mais pobre.

………….

E desculpa lá, ó jcd, este obituário, mas hoje não há mesmo nada: o nosso primeiro está num safari, no Quénia, na perseguição ao Elephas (loxodon) africanus, enquanto por cá, Mário Lino anda no encalço de Elefantes Brancos, Elephas Maximus Albinus. A isto se resume a nossa vida política – uma questão de elefantes: cinzentos, brancos ou cor-de-rosa.

Publicado por Joana às 09:11 PM | Comentários (63) | TrackBack

julho 03, 2005

Conversas de Fim de Semana

1 – O Prof Marcelo foi ectoplasmado pela RTP1, ou melhor, pela Caverna da Ana Sousa Dias. Inicialmente, eu julgava que aquelas figuras refractadas, alegadamente entrevistadas pela Ana Sousa Dias na RTP2, eram epifenómenos resultantes de diversas e inexplicáveis refracções que ectoplasmavam, no fundo da Caverna, arquétipos desconhecidos e que queriam permanecer ignotos. Verifiquei entretanto que não. O Prof Marcelo foi irremediavelmente estropiado por uma poderosa óptica anisótropa que refracta com gradientes de tal forma variáveis com as direcções de propagação, que torna qualquer realidade, por mais reluzente, numa amostra sem valor. O Prof Marcelo passou de fenómeno a epifenómeno.

2 - A Arte da Fuga ou mais propriamente, Die Kunst der Fuge ou, de acordo com o catálogo, o BWV 1080 (que raio de nome!? ... faz-me lembrar outros nomes estranhos e inexplicáveis, como ... Semiramis) chegou ao fim do 1º Contraponto. Parabéns. Espera-se que os próximos Contrapontos, Cânones , etc., sejam igualmente executados a rigor e com mestria.

3 – A vida rural tem as suas virtudes, mas as suas limitações. Uma delas é o consumo da fruta. Em Dezembro são as tanjas e tangerinas. Entre Janeiro e Maio é comer laranjas às cabazadas. Ainda deixámos algumas nas árvores, mas já estão um pouco secas (mas ainda se comem ... às vezes). Em Maio temos que dar conta das nêsperas, que não se aguentam mais de 3 semanas. Ficamos amarelos de tanta nêspera. Os miúdos têm que andar de T-shirts castanho-amareladas, porque põem nódoas que não saem. Depois vêm os damascos, que também aguentam pouco ... toca a comer. Agora são as ameixas das mais variadas espécies que estão a exigir que as comam. Entretanto os pêssegos e os pêssegos carecas, que são conhecidos por nectarinas nos hipermercados, começam a ficar maduros de impaciência. Depois outras virão, como os melões e melancias lá para Agosto, Setembro, as uvas em Setembro, Outubro e os diospiros a seguir. A nossa dieta frutífera é regulada sazonalmente. Impõe-nos responsabilidades e restrições (sazonais, não quantitativas), mas dá-nos qualidade. Sabe a fruta. Mesmo quando tem bicho. Porque se o bicho a escolheu, é porque ela era de boa qualidade.

4 – O facto dos sucessivos governos não andarem com os projectos para a frente tem as suas vantagens. O governo seguinte não precisa de ter imaginação – vai aos arquivos, arrebanha tudo o que ficou por fazer e anuncia a extensa lista (cada vez mais extensa) com estrépito público. Quanto àqueles projectos que obviamente não são para fazer, como, por exemplo, a Ota, anuncia que vai fazer estudos. Há projectos que foram estudados, re-estudados, tres-estudados e tresmalhados. Têm feito a felicidade e dado sustento a gerações de consultores.

Publicado por Joana às 11:15 PM | Comentários (62) | TrackBack

junho 21, 2005

Refugiados

Em pleno sul do país, a meia dúzia de kms do sítio onde jcd tira belíssimas fotografias, desenrola-se diariamente esta tragédia. Milhares de refugiados tentam desesperadamente alcançar a costa, conforme se pode observar nas imagens dramáticas captadas pela fotografia abaixo. Estão cansados e famintos, pois é hora de almoço. Um refugiado procura, angustiado, contactar por telemóvel, o Serviço de Protecção Civil. Há resignação e lamentos. Crianças indefesas, apanhadas na voragem dos acontecimentos, choram. Uma tristeza. Um drama. Bem perto de nós.

Refugiados.jpg

Publicado por Joana às 12:55 PM | Comentários (22) | TrackBack

maio 26, 2005

Jaquinzinhos

Os Jaquinzinhos fazem dois anos. Mas não são apenas eles (ou ele, jcd) que merecem parabéns. Somos todos nós que estamos de parabéns por existir um blog com aquela qualidade. Obrigada, jcd.
E, à guisa de comemoração, gostaria que lessem, aqui (por transcrição) ou , no original, Quatro Casamentos e um Funeral, que continua a ser cada vez mais actual.

Publicado por Joana às 11:40 PM | Comentários (15) | TrackBack

maio 18, 2005

Barnabé ida e volta

Um Barnabé exulta com a expropriação de parte do imóvel da Bombardier (ler abaixo), exclamando: “Um anúncio útil, quem quiser desinvestir em Portugal não é bem vindo!”
Julgo que o correcto seria: “Um anúncio útil, quem quiser desinvestir em Portugal não é bem ido!”... ... e acrescentaria “O Governo adverte: investir em Portugal pode prejudicar seriamente os seus activos.

Publicado por Joana às 02:10 PM | Comentários (21) | TrackBack

maio 15, 2005

Semíramis adverte

Este blogue causa dependência

Semirdependencia.jpg


Outras imagens mais cruentas, mostrando funcionários públicos e executivos de empresas de ponta a consultarem o Semiramis nas horas de expediente, foram retiradas por o seu conteúdo ter sido considerado traumático e ser susceptível de ferir sentimentos e sensibilidades.

Publicado por Joana às 11:19 PM | Comentários (21) | TrackBack

maio 12, 2005

Ao Impertinências

O Impertinências, como retaliação à minha alegada “boutade” na Certidão de Creditação, escarneceu do nome deste blog. Ora sucede que eu escolhi este nome, entre outras razões, como um acto de contrição. Semíramis ficou em dívida para com a sociedade por duas coisas: 1) Pelas numerosas, megalómanas e sumptuosas construções que mandou fazer – cidades, palácios, os jardins suspensos de Babilónia, obras públicas e infra-estruturas diversas, nomeadamente estradas e canais – que teve como resultado o erário real ficar de tal forma vazio que ela desapareceu, alegando ter-se transformado em Deusa. 2) Pelos seus excessos sexuais.

Relativamente à primeira questão, todos certamente reconhecerão o vigor com que me tenho batido pela contracção da despesa pública, demonstrando, por exemplo, em dezenas de posts, que o investimento em obras públicas não é um factor de desenvolvimento sustentável. Sócrates corre um sério risco de, dentro de poucos anos, ver-se obrigado a desaparecer, com a direcção do PS a clamar que ele subiu aos céus e se tornou Deus. Guterres, mais modesto, subiu à IS e agora está em vias de subir à ACNUR. Há meses também se deu Barrosos Himmelfahrt. Santana desceu aos Infernos, mas ainda não percebi por que fugiu deste padrão semiramístico.

Veja como a experiência vivida com a excelsa Semiramis é posta ao serviço do meu país. Ela arrepende-se através de mim, através da minha luta pela virtude, neste caso virtude económica e financeira.

Quanto à segunda questão, lá chegaremos. Roma e Pavia não se fizeram num dia. Não será para já, em virtude da premência do saneamento financeiro, mas dentro de 30 ou 40 anos lá estarei, vigorosamente, a bater-me contra.

Publicado por Joana às 11:35 PM | Comentários (27) | TrackBack

maio 10, 2005

Certidão de Creditação

Corre pela blogosfera uma ânsia de confissões, de auto-denúncias, de auto-flagelações na praça net pública. Bloggers contritos, de joelhos e de mãos suplicantes martelando compassadamente o chão, virados para Meca JPP e D Oliveira, tentam ser os primeiros na comovente missão de entregarem aos dois Censores da Res Bloga, o respectivo fassio com todos os dados relativos às suas pessoas, respectivas filiações, estados civis, medidas vitais, BI’s, etc., para os inscreverem no album blogorium e ficarem aptos para a Lectio Bloga, direito imprescritível que foi atribuído àqueles dois magistrados do census e do regimen morum. Eu não podia ficar indiferente, sob pena de descrédito total, a esta avidez de despimento na praça net pública.

Tudo começou quando o Público dedicou duas páginas a bloggers políticos. Aí, J.P.Pereira afirmou que «Sou muito crítico em relação ao blogues cujos autores não se identificam. Nenhuma coisa que lá se diz me merece credibilidade.» e o Daniel, que a Direita odeia, desdenhou «Eu não dou muito valor [aos bloggers não identificados] ... é uma situação de desigualdade.». E a partir de então dezenas de bloggers se acotovelaram na ânsia de serem iguais ao Daniel que a Direita odeia, e de se credibilizarem perante o Panurgo falhado do PSD.

Um blogger mostrou tal empenho em ser igual a Daniel Oliveira, que o ultrapassou, colocando todos os seus dados civis e fiscais no respectivo blogue, pretendendo chamar, como escreveu, os bois pelos nomes. Por distracção, que certamente corrigirá em próximo post, esqueceu-se de indicar o mais importante: o NIB e o código MB

Embora sem pretender enfileirar naquela ilustre fila bovina, e tendo sido citada pelo « Impertinências» como igualmente anónima, decidi imediatamente fazer o mesmo que os jaquinzinhos e outros blogues desacreditados, e credibilizar-me perante o Panurgo JPP e o Barnabé DO, pondo o « Impertinências» a roer-se de inveja, colocando os meus documentos de identificação neste blogue, onde poderão ver o meu BI devidamente assinado.
BI_JAGC.jpg

A fotografia não ficou boa porque foi tirada no momento em que eu havia acabado de ler que: «os produtos culturais ... têm uma espécie de plasticidade, o que significa que a nossa relação com eles é densa e elástica, se desloca entre o mais e o mais» e estava completamente aturdida a tentar perceber como é que a plasticidade se torna elástica, e como é que se desloca entre o mais e o mais. De tanto mexer nas palavras, o EPC misturou-as todas e já não consegue refazer o puzzle. Elas efluem sem nexo daquela mente privilegiada.

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dezembro 29, 2004

Confesso ... plagiei

É verdade ... tenho que reconhecer. Plagiei. Plagiei-me a mim mesmo e à minha desventurada maninha mais nova! E conto esta história apenas por dois motivos:

1 – Porque ela é deliciosa, quando enquadrada com o que as azémolas contumazes da net têm andado a escrever por tudo o que é blogosfera;

2 – Porque já a havia contado por mail, ao Bernardo Motta, do Afixe, há uma semana. Eu devo ter o dom da premonição ... parece que adivinho o futuro. Calhou contar então esse episódio, nesse mail, por mero acaso, porque se não o tivesse feito, não diria nada agora, pois não faltariam depois as azémolas do costume a zurrar que eu havia inventado esta história.

Há uns 12 anos, teria a minha mana mais nova 14 anos, precisou de fazer um trabalho escolar e, já não me lembro a que propósito, escolhemos (ela conversou comigo sobre essa escolha) o número de ouro como tema.

Um amigo do nosso pai (e nosso também, por afinidade), catedrático do I S Agronomia, julgo que, à época, presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática, emprestou-nos aqueles números do Boletim da Sociedade Portuguesa de Matemática. Eu encarreguei-me da parte matemática e de algumas partes do texto (sou mais velha 9 anos que ela) e ela das imagens e das partes mais artísticas. Ela é toda dada às artes e já estava na calha para Arquitectura, onde se formou há 2 anos.

O texto foi então feito em WordPerfect e não consegui, naquele domingo em que escrevi os 5 textos do Descodificando o Código da Vinci(*), recuperar tudo para o Word, nomeadamente umas imagens giríssimas da explicação do friso do Parténon em termos do rectângulo de ouro. Mas se estiverem interessados consultem os números que referi daquele Boletim. Em qualquer dos casos, o que postei foi um resumo do trabalho.

O que nos tem feito rir às escancaras é aparecerem, segundo os azémolas contumazes da net, distintos professores e alunos universitários, com textos semelhantes ao nosso. Será que tão ilustre gente foi vasculhar os trabalhos dos miúdos da Escola Secundária onde a minha irmã (e eu antes dela) andou? Claro que não. Fomos todos beber às mesmas fontes.

Entretanto verifiquei agora que o incansável e inefável LR descobriu, depois de ter escrito os primeiros disparates e ter passado o resto do dia a trabalhar neste momentoso problema, que aquele Boletim está on-line. Peço-lhe, após esta sua notável e tardia descoberta, que não se esqueça agora de acusar, em pelourinho público, aquele catedrático que, ainda esta manhã, era para si o repositório do saber e da ética científica. Andou a chamar-me tantos nomes e afinal o ex-reputado “professor Machiavelo também é um reles ladrão” (Luis Rainha em dezembro 29, 2004 01:05 PM)

Foi pena eu não ter sabido, naquele domingo tão extravagante, que aquele boletim já estava on-line, senão tinha ido lá sacar as imagens que não consegui converter do WP. ... Sou mesmo uma plagiadora relapsa ... diga lá!!


(*) O que é um espanto, e diz bem da forma como, em Portugal, despendemos tempo e energias com coisas inúteis, é que eu devo ter gasto umas 7 a 8 horas com aqueles 5 textos que são, repito, apenas textos de blogue e não uma dissertação de doutoramento. O LR já deve ter gasto muito mais que isso em navegações netívagas, em escritos tumultuosos por tudo o que é blogosfera, a roer nervosamente os sabugos, temeroso de possíveis respostas mordazes, a tomar ansiolíticos, a sovar desnecessariamente a companheira sempre que, após cada 40 irritantes passagens pelo Google não encontra o que quer.

Enfim ... uma vida tornada estupidamente inútil

Publicado por Joana às 06:40 PM | Comentários (44) | TrackBack

dezembro 22, 2004

Plágios e Fontes

A situação não é virgem. Quando em 21-01-04 postei aqui A execução de um rei, na efeméride da execução de Luís XVI, houve uns zunzuns de c&p e eu, dias depois, em 26-01-04, postei a bibliografia mais relevante para o tema, e que eu disponho, em Revolução e Historiografia com comentários sobre o seu interesse e as circunstâncias em que as obras foram escritas. Desta vez, face aos comentários que acabei de ler, resolvi matar a questão de imediato, e postar a bibliografia que disponho, repito, que disponho, sobre estas matérias.

Se tiverem dúvidas sobre o facto de eu dispor daquelas obras, e das que vou discriminar em seguida, posso disponibilizar ficheiros jpg com as páginas que pretenderem, eventualmente o frontispício, da obra ou volume que entenderem, desde que de forma moderada, visto eu ter mais que fazer que satisfazer gente que o que tem em comum é o serem caluniadores e não perceberem nada do que escrevem.

Quando se faz um trabalho sobre um tema histórico abrangente é obrigatório, para ele ter alguma coerência, que quem o faça tenha uma cultura vasta sobre essa matéria, tenha lido muito sobre ela, que tenha passado e repassado mil vezes Lethes, o sombrio rio dos mortos, como escreveu, numa alegoria magnífica, Michelet. Só assim se podem relacionar factos, sentir as motivações e integrá-los num todo coerente.

É evidente que a transcrição de documentos coevos, datas exactas, etc., obriga a que, quando se está a escrever se relanceie os olhos por diversos livros e, eventualmente, a net. Sobre a net tenho todavia algo a acrescentar – é muito útil e rápida, mas não é fiável em termos de informação rigorosa e precisa.

A maior parte das informações sobre esta questão baseiam-se em documentos produzidos na época: bulas, manifestos, autos dos inquiridores, etc. Logo quando se transcrevem essas informações elas são do domínio público, pois foram produzidas na época e reproduzidas milhares de vezes por milhares de historiadores.

Eu escrevi algures «No mês seguinte, cento e trinta e oito prisioneiros são interrogados em Paris, na sala baixa do Templo, peto inquisidor de Paris, depois de terem passado pelas mãos dos oficiais do rei, que, de conformidade com as instruções contidas nas cartas fechadas, empregaram «a tortura, em caso de necessidade». De facto, trinta e seis dos presos deveriam morrer em consequência dessas torturas. Perante o inquisidor, apenas três deles negaram ter cometido os crimes de que os acusavam». Mas isso é o que consta dos autos das inquirições. Daí em diante, todos os historiadores não passarão de meros plagiadores? Pois quê? Você escreve 138 e o Sr. X também escreve! Ignara plagiadora! Pois ... o Sr. X também se reportou às fontes anteriores. Mas ele não plagia ... quem plagia sou eu ...

Quanto ao manifesto real de 14 de Outubro de 1307, ele é público. Tem sido citado e transcrito ao longo de quase 7 séculos. Como posso ser acusada de plagiadora ao transcrever partes desse manifesto É uma perfeita estultice.

Eu li o Código Da Vinci e escrevi aqueles textos num fim de semana. Eram comentários insertos num blog e não uma tese de doutoramento nem de mestrado. Escrevi-os tão rapidamente, porque tinha algumas ideias sobre as matérias e sabia onde estavam as fontes em caso de dúvida, e tinha todo o material à minha disposição, quer na nossa casa, quer em casa dos meus pais, que é na porta ao lado.

Passemos às fontes:

Dupuy Traittez … concernant la condamnation des Templiers … Paris 1654
Esta obra trata de toda a época que se inicia com o episódio de Anagni e acaba com o fim do «Cisma de Avignon» ... cerca de 70 anos. É minuciosa (são mais de 500 páginas!). Está em francês arcaico (com as bulas papais em latim) e não conheço edição posterior. Dei-lhe uma vista de olhos e passei adiante ...

Abade de Fleury - Histoire Ecclesiastique 36 vols, Paris 1742
O volume 19 (Depuis l'an 1300 jusques à l'an 1339) abarca este período e é muito minucioso (são 576pgs.). Leitura obrigatória para quem quiser saber que abordagem desta questão fazia a Igreja.

Conde de Ségur – Histoire Universelle 18 vols Bruxelas 1822.
O Tomo 13 (6º da História de França), saído em 1826, é todo ele dedicado aos reinados de Filipe o Belo e dos seus filhos (300 páginas). Trata com grande detalhe o processo dos Templários.

Michelet - Histoire de France 17 vols Paris 1861 (Nota: esta história vai até à convocação dos Estados Gerais-1788)
Michelet foi o primeiro historiador “moderno” pela forma como abordou a historiografia. É o equivalente francês de Herculano (ou vice-versa). É um extraordinário analista dos factos e das sua motivações, mas menos minucioso no relato dos factos. Qualquer leitura de Michelet deverá ser complementada com historiadores mais “factuais”. O processo dos Templários está no Tomo III, que abrange o período desde as Vésperas Sicilianas (1282) até à morte de Duguesclin (1380). Michelet dedica cerca de 50 páginas ao processo dos Templários. É interessante a análise que ele faz das causas da queda dos Templários (pgs 168/170) que tem semelhanças à minha ... sans blague! Na altura interessava-me mais os factos e a pressa fez-me passar ao lado dessas 3 páginas! (era demasiado literário para a pressa que eu tinha) mas estou a olhar para elas agora.

Henri Martin - Histoire de France jusqu'en 1789 17 vols Paris 1855
O terço final do Tomo IV abarca os reinados de Filipe o Belo e dos seus filhos (pgs 420 a 567)

Na Revue des Deux Mondes, Paris 1891 Tomo 103 (janvier-février) há um artigo muito interessante, e que me foi útil, Le Procés des Templiers d’après des Documens Nouveaux da autoria de Ch. V. Langlois (pgs 382 a 421), bem documentado e que julgo se baseia em parte na obra de Schottmüller – Der Untergang des Templer-Ordens, que tinha sido publicada há pouco, mas que não disponho.

Esta revista, que se publicou entre 1829 e 1900 (pelo menos só dispomos dos números até 1900), foi das mais importantes que se publicaram então na Europa e era uma referência, nomeadamente para a intelectualidade portuguesa do século XIX.

Estes autores têm, todavia e de acordo com os “netívagos”, um problema. Todos eles plagiaram, aqui e além, o guru Gilles C H Nullens!! ... descoberto ao acaso da net... pois todos eles transcrevem passagens comuns.

Sobre as cruzadas:
Guillaume de Tyr Histoire des croisades 3 vols Paris 1824 É o clássico, onde muitos vieram depois beber. Ele foi contemporâneo dos acontecimentos (julgo que morreu por altura da conquista de Jerusalém por Saladino em 1187)

Albert d'Aix Histoire des croisades 2 vols Paris 1824 É o outro clássico. Também contemporâneo, mas mais velho que o anterior (julgo que cerca de 30 anos).
Estas edições são complementadas com anotações de Guizot o que, em certa medida, as actualizam.

O resto das obras que disponho tem mero interesse biblliográfico, como Maimbourg Histoire des croisades pour la Délivrance de la Terre Sainte 2 vols Paris 1686

Recentes:
Zoe Oldenbourg – As Cruzadas - Rio de Janeiro 1968
É dos livros que conheço mais documentado sobre aquela matéria. Quer factual quer, principalmente, sociológico.

René Grousset L'Epopée des Croisades Paris 1957 Mais factual e sintético que o anterior, mas peca por não fazer uma análise aprofundada da sociedade franca (ou latina) no levante.

Sobre os primórdios do cristianismo, os livros de Tácito, Suetónio e Plínio o Moço, podem ser encontradas na net, em texto completo (latim e inglês) e estão traduzidos em português. O mesmo sucede com as obras de Flávio Josefo. Relativamente a este último disponho de 2 edições interessantes - The Works of Flavius Josephus 2 vols, Londres 1825 e Historia de las Guerras de los Judios y de la destruccion del Templo y Ciudad de Jerusalen, 2 vols, Madrid 1791.

Nota: Alguns romancistas abordaram esta temática. Eu sugeria Maurice Druon – Les Rois Maudits (há uma tradução portuguesa da Difusão Europeia do Livro (S.Paulo-Brasil). São 7 títulos, mas só disponho de 4 - I - O Rei de Ferro (1956), II - A Rainha Estrangulada (1956), III- Os Venenos da Coroa (1957) e VI - O Lis e o Leão (1328-1343) (1961). Não sei se nunca saíram, ou o meu pai desistiu de comprar os restantes. O 1º volume romanceia o processo dos Templários (A Maldição) e o escândalo da Torre de Nesle. Foi Prémio Goncourt, o que abona sobre o rigor da reconstituição histórica de Druon. Recomendo vivamente a leitura deste romance, visto ter sido escrito antes das inventonas do Priorado do Sião e a abordagem que faz das questões esotéricas ligadas ao processo segue vias diferentes. Li-o na adolescência e fascinou-me então.
Alexandre Dumas também romanceou estes casos – ver, por exemplo, La Tour de Nesle em Oeuvres II Paris 1842

Aditamento: As gravuras que postei ontem foram copiadas do 1º volume de:
Guizot - Histoire de France racontée a mes Petits-Enfants 5 vols Paris 1872.


À atenção de Bernardo Motta, do afixe.

Publicado por Joana às 09:27 PM | Comentários (89) | TrackBack

novembro 26, 2004

O Barnabé encontrou a solução

O Barnabé titula, empolgado, que foi «eleito por 1 milhão de portugueses». Ou, mais precisamente, que foi visitado por um milhão de portugueses. O Barnabé realizou finalmente algo de útil: resolveu a situação demográfica portuguesa.

Eu já devo ter aberto aquele blogue uma dúzia de vezes. Sou 12 portuguesas. Haverá adeptos fervorosos do Barnabé que poderão tê-lo visitado, cada um, 2 ou 3 mil vezes, nos seus, ao que julgo, 14 meses de existência. Cada um tornou-se milhares de portugueses. Jesus Cristo multiplicou os pães nas bodas de Caná, Barnabé multiplicou os portugueses na blogosfera cá do sítio.

Espero que este fenómeno tão benéfico para o país já tenha chegado ao conhecimento da Administração Fiscal e da Segurança Social. É natural que tal tenha sucedido pois julga-se que é na função pública que se encontram os internautas mais devotados. Sendo assim já estarão, a esta hora, a serem emitidas liquidações oficiosas tributárias e avisos de pagamento das contribuições para a Segurança Social para toda essa multidão de portugueses tão inesperadamente surgida da blogosfera pela prestimosa e patriótica iniciativa do Barnabé.

Bagão Félix está finalmente satisfeito e a salvo: as receitas fiscais vão disparar e o superavit orçamental português vai fazer empalidecer de inveja e despeito os nossos parceiros europeus. PSL vai poder, com toda a tranquilidade, encontrar assessoras de comunicação social realmente competentes e com impacte devastador a nível de imagem.

Não há dúvida: é por estas e outras que o Barnabé é diferente dos outros.

Publicado por Joana às 02:39 PM | Comentários (17) | TrackBack

outubro 13, 2004

Um Ano

Faz agora um ano que este blogue começou. Não hoje, mas há uma semana. Foi em 6 de Outubro de 2003, mas só hoje me lembrei! O meu ego já não é o que era!

Iniciado com o intuito de “armazenar” alguns textos que havia escrito no Expresso Online, e que andavam perdidos no ciberespaço, rapidamente ganhou autonomia e constituiu um objectivo em si mesmo.

Não é fácil manter um blogue. O Semiramis acabou por ganhar autonomia própria e erguer-se perante mim como algo que me era exterior e que me comandava. Mas não foi um processo de Entfremdung, isto é, nunca deixei de reconhecer-me na actividade que aqui desenvolvia. Nunca fui vítima do fetiche do blogue. Todavia, muitas vezes interrogo-me se sou eu que giro o blogue, ou se é ele que me gere a mim. Frequentemente, e já me queixei aqui diversas vezes, sou acometida da síndrome do Bey de Tunis ... e tenho que me desenvencilhar à pressa enquanto as «botas do empregado da tipografia rangem no patamar da escada».

Julgo que com altos e baixos, cumpri a missão que me impus. Julgo que consegui alguma qualidade, que tenho deixado clara a minha independência e coerência, dentro obviamente da minha mundividência e dos conceitos e ideias que tenho sobre as questões económicas, políticas e sociais. Ser-se independente não é ser-se cinzento, nem é tentar agradar a gregos e troianos. Também não é dizer a primeira coisa que vem ao crânio sem avaliar as suas repercussões.

Procurei uma intervenção diversificada, não só na escolha dos temas, mas também na abordagem, quer mais sisuda, quer mais brejeira, mas sempre com seriedade.

Tentei igualmente evitar a superficialidade e fazer-me eco do «diz-se ... diz-se» com que se entretêm a maioria dos blogues nacionais e parte da nossa comunicação social. Sempre fundamentei as afirmações que fiz, embora admita que muitos dos meus leitores não considerem correctos quer esses fundamentos, quer essas afirmações.

Tenho deixado totalmente aberta a inserção de comentários, e isto apesar de, logo na primeira semana de existência, alguém ter colocado aqui 2.500 comentários repletos, cada um, de centenas de parágrafos todos iguais e todos imundos. Valeu, na altura, o apoio do gestor da Weblog, o Paulo, que apagou directamente no servidor toda essa enxurrada de obscenidades e a quem eu aqui renovo os meus agradecimentos. Mas esse era um problema menor. O assunto resolveu-se por si próprio, embora de tempos a tempos haja recaídas.

As novas versões do software de suporte da weblog possibilitam que só comentaristas, que se registem previamente, insiram comentários. Ou que os comentários sejam previamente analisados e só depois permitida a sua publicação. Prefiro a situação actual. O registo iria acrescentar uma complicação adicional para os comentaristas e não traria qualquer vantagem. Quem quer perseverar no insulto não se inibe pela necessidade de um registo.

Quanto à «censura prévia», mesmo que eu a desejasse, ela seria materialmente impossível. Durante as horas de expediente não tenho possibilidades de aceder ao blog. E mesmo fora desse período estou muito limitada pela minha vida familiar. Seria estulto obrigar um comentarista a esperar 5 ou mais horas para ver o seu comentário inserido.

Se deambularem pela blogosfera hão-de reparar que a maioria dos blogs ditos de «referência» impede, ou dificulta, a inserção dos comentários. Experimentem, por exemplo, comentar no blog de Paulo Gorjão, que teve honras de TV: impossível. Experimentem comentar no Abrupto ou no Causa Nossa: materialmente impossível.

Há tempos Vital Moreira comentou, no Causa Nossa, o meu post «O Neoliberal Vital Moreira». Tentei responder mas não o consegui, talvez por falta de jeito, e acabei por inserir quer o comentário do VM, quer a minha resposta, no meu blog e naquele post.

E nos blogs que se encontrem abertos experimentem inserir um comentário francamente discordante. Na maioria dos casos ele desaparece de lá num ápice.

Não farei tal coisa. Cada um é livre de dizer o que lhe aprouver, desde que não tente a obscenidade pura e simples. Nesse caso, logo que eu tiver oportunidade, apagarei o conteúdo do comentário. É isso que tenho feito. É apenas isso que continuarei a fazer.

E agora vou soprar a velinha.

Publicado por Joana às 07:22 PM | Comentários (35) | TrackBack

abril 01, 2004

Encerramento do Blog

Teve que ser. Durante mais de seis meses recusei insistentes convites para figurar no elenco governamental. Recorri a todos os pretextos possíveis: a idade, as obrigações familiares, os vencimentos ministeriais de miséria, a manutenção deste blog, etc., etc...

Ganhei algum tempo ... mas já não é possível dizer que não. Os resultados sucessivos das eleições espanholas e francesas tornaram a situação insustentável. Não podia continuar a recusar. Era o país que o exigia!

Vou ter que abdicar de várias coisas (este blog entre elas) e contentar-me com um vencimento miserável, a exemplo do desgraçado do Bagão Félix cujo vencimento actual é menos de 25% do que tinha antes de ter aceitado ingressar no governo. Lá terei que me sacrificar pela coisa pública. Felizmente o meu motorista passa a encarregar-se de levar e trazer os miúdos ao colégio e jardim-escola, o que sempre é um alívio.

Assim este blog vai fechar, a menos que contrate uma assessora para fazer a sua manutenção. Mas isso depende da dotação orçamental. O futuro o dirá.

Publicado por Joana às 08:01 PM | Comentários (13) | TrackBack

outubro 23, 2003

Aviso

Decidi fechar, durante alguns dias, o acesso aos comentários.
Era uma medida que foi considerada indispensável, enquanto se analisa a implementação de outras soluções. Este blogue tem 3 semanas e já foram apagados mais de 2.000 comentários, se é que se pode chamar comentários àquilo.

O nível de educação e de civismo no nosso país é, e infelizmente tenho que o reconhecer em face do sucedido, muito rasteiro, muito baixo, muito mesquinho, muito ordinário.

Gente ordinária há em todos os quadrantes políticos Assim como gente boa e digna. Mas é de uma enorme hipocrisia uma certa esquerda (sublinho, uma certa esquerda) considerar-se ser ela a depositária das virtudes cívicas e da democracia e lançar tanta imundície num local onde apenas se pretendia discutir ideias.

Calculo que quem fez isto seja gente que se julga de esquerda mas que mantém com ela idêntica adesão conceptual à que, na Idade Média, se tinha às religiões reveladas, ou, actualmente, ao ser fã de um clube do bairro ou de um cantor pimba. Não há racionalidade, apenas fé e ódio por aqueles que não partilham a mesma fé. Sabe-se lá o que serão, politicamente, daqui a alguns anos. Ordinários, continuarão a ser, seguramente.

Publicado por Joana às 12:00 AM | Comentários (18) | TrackBack

outubro 20, 2003

Mandeville e as refregas na net

Como já se aperceberam, aqueles que se deram ao trabalho de passar uma vista de olhos por este sítio e ler os comentários ... agora poucos, pois alguns eram de tal forma ordinários que os apaguei, a falta de nível e a malevolência de alguns internautas (um ou dois, mas que multiplicam os nicks!) são impressionantes.

Mas, sejamos pragmáticos, este é o país que temos. Sou, sempre fui, uma iconoclasta. Divirto-me a despedaçar a manipulação orwelliana da palavra, onde quem exalta as “forças democráticas” e as “amplas liberdades” constrói sociedades de uma absoluta perversão totalitária e aqueles que ficam extasiados pela “Democracia Participativa” têm um completo desdém pela opinião dos outros, que caiem na mais absoluta intolerância, e nos “comentários de taverna”, quando a coberto de nicks na net ou, quando em manada, vandalizam montras, carros, mobiliário urbano, etc..

Aliás, não serei eu uma adepta do laissez faire …? Então tenho que agir em conformidade! Cito-me Bernard de Mandeville e esse espantoso livro “A Fábula das Abelhas: Ou velhacos transformados em gente honesta” escrito no início do século XVIII, onde se pode ler, logo no prefácio:

“O que, no estado da natureza, faz o homem sociável, não é o desejo que tem de estar em companhia, nem a bondade natural, nem a piedade, … . As qualidades mais vis, frequentemente as mais odiosas, são as mais necessárias para torná-lo apto a viver com o maior número. São elas que … mais contribuem para a felicidade e prosperidade das sociedades.” … e, mais adiante:
“Grandes multidões pululavam … atropelando-se para satisfazerem mutuamente a luxúria e a vaidade. Consequentemente cada parte estava cheia dos vícios mas, no seu todo, o conjunto era um paraíso.”

Ou, como escreveu Adam Smith, meio século depois: “cada indivíduo … ao tentar satisfazer o seu próprio interesse promove, frequentemente, de uma maneira mais eficaz, o interesse da sociedade, do que quando realmente o pretende fazer.”

Portanto, neste microcosmos dos debates na net, ao prosseguirmos o nosso próprio interesse, mesmo que alguns o façam da forma mais vil ou odiosa, maximizamos o bem-estar geral. E como? Porque, ao sermos confrontados com argumentos em contrário, ou apenas com o insulto soez, pensamos melhor e mais profundamente as questões, treinamos o nosso estilo e capacidade de polemizar, aperfeiçoamo-nos a pôr a nu as fragilidades da argumentação (mesmo insultuosa) alheia, em converter os insultos na ignomínia de quem os proferiu, etc.

E, simultaneamente, exercemos, mesmo sem ser esse o nosso objectivo, uma acção pedagógica, pois alguns dos que seriam tentados em ir pela via do insulto fácil, poderão aperceber-se que ganharão em ter uma intervenção mais séria e ponderada.

Como diria Mandeville, no seu “anarquismo”, cepticismo cínico e utilitarismo … “no seu todo, o conjunto ser um paraíso”.

Eu apareço por na net porque me divirto com este microcosmos onde coexistem comentaristas de alto gabarito ou simplesmente interessantes (a maioria), com frustrados, intolerantes, néscios etc.. E, ao prosseguir este meu interesse lúdico estarei, mesmo se não fosse esse o meu objectivo, a concorrer para a melhoria do universo comentador, aperfeiçoando-me simultaneamente. E a concorrer para que a net atinja o Óptimo de Pareto!

A tese de Mandeville, depois retomada e aperfeiçoada por Adam Smith de que os vícios privados ( egoísmo interesseiro, ambição e desejo de lucro) se transformam, no final do processo de produção, distribuição e consumo, em vantagens para toda a comunidade, originando uma ordem funcional mais eficiente do que qualquer outra forma resultante de tentativa de organizar a economia na base de um planeamento centralizado, foi genial, nomeadamente tendo em conta ter sido escrita numa época em que toda a vida económica e social estava completamente espartilhada por regulamentos e hábitos consuetudinários. Foi absolutamente notável.
Um feito espantoso!

Publicado por Joana às 07:32 PM | Comentários (36) | TrackBack