outubro 03, 2005

Promoção pelo Erro

Sobrevêm êxitos ou são criadas reputações das formas mais inexplicáveis. Uma das promoções de referência foi a de Eróstrato, um personagem obscuro que, pretendendo tornar-se imortal por uma acção memorável, incendiou o templo de Diana, em Éfeso, uma das sete maravilhas do mundo. Brutus não se tornou célebre por estar no meio da chusma de conspiradores que assassinaram César (alguém se lembra deles?), mas sim por apunhalá-lo sendo um seu protegido. Colombo descobriu a América porque cometeu um erro monumental ao calcular o diâmetro da Terra. A Compta acumulava prejuízos, e desde que falhou rotundamente na aplicação informática para a colocação de professores, vai de vento em popa, tendo resultados líquidos consolidados de 8,7 mil euros no primeiro semestre deste ano, contra prejuízos de 1,1 milhões de euros no período homólogo do ano passado.

A promoção pelo erro é especialmente evidente no nosso país. Saldanha decidiu-se fazer uma revolução para acabar com o Cabralismo. Saiu sozinho e confiante de Lisboa e fez a tournée dos quartéis. Foi corrido de todos os que quis aliciar. A sua última esperança, o Porto, não o apoiou. Desgostoso e sem outra opção, tomou o vapor e fugiu para a Galiza. Quando chegou, comprou o jornal e leu que a revolução estalara no Porto e alastrava ao resto do país. Era a Regeneração – Saldanha comprou imediatamente o bilhete de regresso. A implantação da república foi uma série de equívocos. Enganaram-se em Loures, onde a proclamaram a 4; enganou-se Cândido dos Reis que se suicidou na madrugada de 5, porque julgava que a revolta tinha sido jugulada, enganaram-se os monárquicos, que julgavam que os republicanos tinham algum apoio militar, etc..

Mais recentemente assistiu-se a um político absolutamente falho de carisma, em quem ninguém apostava, chegar a primeiro ministro apenas porque estava no sítio certo na hora errada, aquela em que Guterres se equivocou e se demitiu por ter perdido as eleições autárquicas. Aparentemente confundiu o país com uma autarquia. Santana Lopes também estava no sítio certo na hora errada, aquela em que Durão Barroso, sem saber o que fazer ao país, resolveu que a UE era um sítio mais discreto para as suas dificuldades políticas. Sócrates, um político com chavões no lugar das ideias, chegou a 1º Ministro igualmente porque estava no sítio certo na hora errada, aquela em que o PR mandou às urtigas os hábitos constitucionais e dissolveu a AR porque não gostava das T-Shirts do PSL. E pelo andar da carruagem sabe-se lá o que pode calhar a Marques Mendes ... Tamanha série de equívocos, em tão pouco tempo, ainda não se tinha visto em nenhum país.

Mas a reviravolta da Compta é notável. Era disto que a empresa precisava – de um falhanço rotundo, demonstrando total incompetência, com notoriedade pública e à escala nacional. Não um erro que se comete num gabinete fechado, sem audiência nem reconhecimento público. E conseguiu-o – foram 36.000 erros numa simples saída! E galvanizada, ela e o mercado, por aquele falhanço monumental, passou de prejuízos sucessivos para a satisfação de apresentar lucros neste 1º semestre. As suas acções passaram de um mínimo de 1,15 euros para o valor actual de 1,59 euros.

Todavia não me parece que a situação já esteja consolidada. As margens de lucro ainda são frágeis (uns escassos 8,7 mil euros). Qualquer manobra menos reflectida pode deitar tudo a perder. Recomendo pois que a Compta tente a adjudicação de um bom contrato público, um contrato com grande notoriedade e cujo falhanço leve as TV’s a falarem do facto semanas a fio, no horário nobre. E depois, que se empenhe a fundo, com determinação, em ajavardar a aplicação informática até os seus bugs serem insolúveis. Finalmente, implementá-la, eliminando cuidadosamente a outra metodologia usada até então pela entidade adjudicante, pois o desastre tem que ser perfeito e irreversível.

Depois sentem-se, liguem as TêVês e esperem. A glória aproxima-se e lucros fabulosos não tardarão a derramar-se pelos balanços da empresa.

Publicado por Joana às 10:40 PM | Comentários (88) | TrackBack

setembro 21, 2005

A Aberração do Amor

Hoje vou abordar um tema completamente diferente. Quis o acaso que passasse os olhos por este post e achei que o que lá estava escrito merecia alguma reflexão, não porque tivesse qualquer consistência científica (os links lá indicados não me conduziram a nada) mas porque corresponde a opiniões correntes em alguns círculos. O absurdo da questão talvez nem decorra das preferências sexuais desses círculos, mas mais das mentalidades de quem produz tais afirmações, embora as primeiras possam, eventualmente, influenciar as segundas.

Resumindo, a conclusão era que “Os resultados sugerem que mulheres em relações estáveis são atraídas pelo odor corporal de homens dominantes unicamente durante o período de ovulação. O estudo implicaria assim que as mulheres estariam biologicamente programadas para adoptar estratégias de acasalamento misto, tendo filhos de machos dominantes portadores de óptimos genes, mas estabelecendo relações duradouras com maridos fiéis e bons pais de família, prontos a investir na educação das crianças

Esta conclusão baseia-se numa visão completamente distorcida do que deve ser um casal ou uma família. Baseia-se na separação de duas coisas que são inseparáveis: a união conjugal e o desejo físico. Baseia-se na ignorância daquilo que nos separa dos animais não racionais – funcionarmos racionalmente e não apenas por instinto. Não funcionamos pelo cio. A nossa principal zona erógena é o cérebro. E só os desajeitados não percebem isso.

A paixão é a atracção física intensa, adicionada a um conjunto de qualidades que o desejo faz o(a) apaixonado(a) atribuir ao objecto da sua paixão. Mas a paixão é chama que se extingue. A banalização da relação física acaba invariavelmente na eliminação daquelas qualidades apostas, a maioria delas mais fruto da ilusão que reais. Acaba a paixão, acabam as qualidades do objecto da paixão e, frequentemente, fica a dúvida sobre como teria sido possível ter havido aquela paixão. O matrimónio deve basear-se no amor. Amor é o desejo, mas também é o respeito mútuo, a educação e a amizade ... sobretudo a amizade.

É possível que um matrimónio se mantenha, na ausência do desejo, quando este se extingue, mas é um matrimónio árido, vazio, que, por muita educação e respeito mútuo que os cônjuges tenham, acaba por se reflectir no ambiente familiar e na educação dos filhos. As crianças têm uma enorme sensibilidade para se aperceberem destas “falhas”.

Ter como sucedâneo uma relação extra-conjugal não é solução. É possível um ou ambos os cônjuges manterem em simultâneo a sua célula familiar e relações extra-conjugais paralelas e duradouras. Mas essa célula familiar só existe, enquanto existir, contratualmente. Como família é o vazio, é a aridez. Não há bons pais de família, ou boas mães de família, nestas circunstâncias, por muito boa vontade e verniz que cada um tenha. Não é sustentável um cônjuge fiel e bom pai (ou mãe) de família, pronto a investir na educação das crianças, enquanto o outro desfruta o duplo prazer do sexo e do “pecado”. Mas também não é sustentável para o cônjuge do acasalamento misto, visto ele próprio não ser capaz de manter essa situação de forma duradoura, mesmo variando de parceiros. O que "ganhou" num prazer efémero, perderá sempre no esvaziamento da sua família, de si próprio e do seu sentido da sua vida.

Não quero dizer que uma relação extra-conjugal não possa acontecer ou seja diabolizada. As pessoas, às vezes, estão mais vulneráveis ou carentes, quer psicologicamente, quer fisicamente. O desejo sexual nem sempre é fácil de controlar (como se diz ... a ocasião faz o ladrão). Inclusivamente poderá constituir uma terapia sexual numa fase de menor interesse físico e basear-se mesmo numa opção aceite mutuamente. Portanto, tal poderá ocorrer, mas como uma excepção, uma casualidade, talvez até uma terapia, nunca uma regra, nunca o sucedâneo a um matrimónio onde o desejo físico se extinguiu ou se considera despiciendo.

O acasalamento não é o matrimónio. Será vulgar durante a adolescência dos humanos, enquanto não sentimos a necessidade de procurar uma relação duradoura e estável, baseada no amor, respeito, afecto e, obviamente, no desejo físico. O acasalamento poderá fazer parte da nossa aprendizagem para atingir a idade adulta. Não pode servir de ersatz a um matrimónio.

Um matrimónio nessa situação leva à falta de respeito mútuo, uma das bases principais de um sólido ambiente familiar, onde os filhos encontrem a educação que necessitam, que merecem e que temos obrigação de lhes dar. Leva à degradação da amizade. É um matrimónio sem amor. Não é uma célula familiar. É uma célula contratual. É uma aberração.

Publicado por Joana às 07:18 PM | Comentários (121) | TrackBack

maio 22, 2005

O Clube do meu bairro lá ganhou

Não era para escrever nada sobre esta questão, mas ao dar-me conta do entusiasmo que essa vitória despertou em todo o país e mesmo nas ex-colónias, resolvi alinhavar umas linhas sobre a ideia estúpida e malévola de que o Benfica era o "clube do sistema”. O Benfica, até à presidência de Mário Madeira (1949), foi quase sempre liderado por gente da oposição, como Félix Bermudes e Tamagnini Barbosa e correu mesmo um risco sério, na época do MUD, de ser encerrado. Nessa altura era presidente o Brigadeiro Tamagnini Barbosa.

O Benfica era claramente um clube mal visto pelo poder político, que achava que os seus corpos gerentes estavam cheios de oposicionistas. A sua visibilidade pública era censurada pelo regime. Talvez devido a essa situação, forjou ao longo de décadas, uma grande dinâmica popular e uma mística, que lhe permitiu, depois de ter sido despejado de vários recintos, fazer um estádio próprio sem recurso a subsídios, apenas com o dinheiro dos sócios.

Era óbvio que a adesão ao Benfica não era apenas de gente oposta ao regime. Os afectos clubistas são muito mais sólidos que os outros: uma pessoa muda de partido, muda de cônjuge, muda de nacionalidade ... mas não muda de clube. A razão da ascensão de Mário Madeira à presidência foi justamente uma tentativa de evitar um maior endurecimento do regime contra o Benfica.

Os riscos de encerramento que o Benfica correu entre 1946 e 1950, conjuntamente com a enorme popularidade do clube, facilitou um take over progressivo por gente ligada ao mundo dos negócios que viram no Benfica uma possibilidade de adquirirem protagonismo social. As vitórias europeias levaram a que Salazar descobrisse, por seu lado, que a paixão pelo futebol podia trazer dividendos políticos. Mas mesmo nesse enquadramento, o Benfica não se tornou o “clube do sistema”. Quando foi o 25 de Abril, o presidente do Benfica era Borges Coutinho.

Nunca vi nenhum jogo de futebol ao vivo, e raramente vejo jogos na TêVê (excepto alguns internacionais). Quem tem uma enorme paixão pelo Benfica são os meus avós paternos, a caminho dos 90. Contagiaram o filho, os netos e julgo que os bisnetos. Mas não é paixão que nos anima (enfim ... uma das minhas irmãs costumava encerrar-se no quarto, enervadíssima, a ver o Benfica pela TêVê!) ... apenas uma simpatia tranquila e terna. Nada mais.

Publicado por Joana às 11:44 PM | Comentários (26) | TrackBack

maio 18, 2005

Politest

Embora me pareça com muito menor poder explicativo e discriminante que o Political Compass, em vista do entusiasmo de alguns blogosféricos pelo Politest, resolvi fazê-lo.
Os resultados estão muito ligados ao universo político-partidário francês, como convém a uma nação que se julga o umbigo do mundo. Os meus resultados foram os seguintes:

«Vous vous situez à droite.

Aucun parti ne correspond exactement à vos opinions.
Cependant, le parti dont vous êtes le plus proche :

l'UMP
mais vous ne partagez pas la même opinion sur l'importance de la responsabilité personnelle des gens.
L'UMP est en majorité POUR la Constitution européenne

Na verdade eu tenho a opinião que o Sakorzy é o único dos líderes políticos franceses com alguma visão política. Nessa medida dizerem-me que eu estou mais próxima do partido dele, não me parece despropositado.

Todavia, os resultados que obtive no Political Compass (ver este link), parecem-me mais fidedignos.

Na altura fiz também o teste OK Cupid e tive resultados, ao que julgo, idênticos aos do Political Compass:
You are a Social Liberal (73% permissive)
And an ...
Economic conservative (66% permissive)
You are best described as a: Libertarian
You exhibited well-developed sense of Right and Wrong and believe in economic fairness

Neste caso fiquei no 1º Quadrante, mas porque os quadrantes são diferentes dos do Political Compass. Julgo que os resultados foram muito idênticos. Uma coisa interessante foi que no gráfico do posicionamento na escolha eleitoral entre Bush e Kerry, eu fiquei na zona de indecisão, embora mais Kerry que Bush.

E na realidade, a minha opinião sempre foi que entre os dois viesse o Diabo e escolhesse, embora eu achasse que, do ponto de vista dos EUA, o Bush talvez fosse o mal menor.

Resumindo, todos estes resultados mostram que eu sou uma ... desalinhada.

Publicado por Joana às 12:08 AM | Comentários (30) | TrackBack

maio 09, 2005

Concorrência Imperfeita

Tem sido para mim um caso intrigante verificar o furor com que os Blasfemos terçam em matérias futebolísticas: penalties a mais ou a menos, foras de jogo ou dentros de jogo, cartões amarelos e vermelhos que se mostram ou se escondem, jogadores que se agridem ou se afagam, etc., são dramas tumultuosos, que se agitam de forma estranha e que incendeiam teclas e mentes. Mas tudo se me tornou claro quando li que as acções da SAD do Porto tiveram uma perda de 47% face ao preço a que foram inicialmente vendidas.

Tamanha queda bolsista transtorna certamente qualquer agente económico, por muito experiência que tenha das vicissitudes do mercado. Vendo de uma perspectiva mais abrangente, o que lemos nesse blogue de referência não são, afinal, questiúnculas menores desse epifenómeno que é o futebol - o que estará a acontecer, e despertou a justa repulsa blasfema, são violações estruturais do modelo de concorrência pura e perfeita num importante sector do nosso tecido económico e do efeito devastador que a concorrência imperfeita teve no comportamento do mercado bolsista. É essa a matéria em apreço.

Nesse entendimento, questionar Ligas, Apitos Dourados ou Prateados, Federações é despiciendo. Não são essas as sedes destas matérias. Isso apenas causa que comentaristas pouco avisados, e outros bloggers, se insurjam por motivos fúteis e gastem as energias discutindo posições relativas de jogadores, bolas, cotovelos, mãos, bandeirinhas, apitos, etc., julgando estar a discutir futebol, em vez de micro e macroeconomia, exaltando-se com a caprichosa bola de couro, quando a matéria é a teoria neoclássica. É à Autoridade da Concorrência ou à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários que se devem dirigir.

Em vez de linkarem jornais ou blogues desportivos, deverão linkar esses posts denunciantes à AC e à CMVM

Publicado por Joana às 11:19 PM | Comentários (19) | TrackBack

abril 19, 2005

A Deslocalização não Pára

O Espírito Santo escolheu a Alemanha

Publicado por Joana às 11:18 PM | Comentários (23) | TrackBack

Habetis Papam

Entre a ruptura e a continuidade, os cardeais reunidos em conclave escolheram a segunda opção. Os católicos que estão pela continuidade rejubilam: Morreu o Papa João Paulo II, viva Bento XVI!; os que, como D. Manuel Martins, prefeririam a ruptura, murmuram, melancólicos: Morreu o Cardeal Ratzinger, viva Bento XVI! Como Marcelo Rebelo de Sousa assegurava há tempos que, em Conclave, além dos cardeais estaria o Espírito Santo para lhes providenciar a clareza do juízo, esta eleição era pré-determinada, logo deverá ser aceite pelos católicos, porque é matéria de fé e pelos não católicos, porque é matéria que não lhes diz respeito.

O Cardeal Ratzinger estava nos primeiros lugares na bolsa das apostas. Logo não constituiu surpresa. Apenas provocou hilaridade porque 3 horas antes, o “nosso” enviado António Esteves Martins garantia que o fumo negro das 2 votações da manhã significava a definitiva derrota do Cardeal Ratzinger. Quanto mais afirmativos são os nossos analistas, mas se equivocam. Quem ouvisse as suas afirmações peremptórias, à hora do almoço, diria que António Esteves Martins tinha acompanhado o Espírito Santo para o interior do Conclave.

Uma curiosidade desta eleição foi o ardor com que muitos que, anteriormente, eram notórios ateus, agnósticos e mesmo anti-clericais, se empenharam nesta eleição. Quem os lesse e ouvisse diria que tinham regressado, como filhos pródigos, ao aprisco divino (ou à vinha do Senhor do Cardeal Ratzinger/Bento XVI) para intervirem na eleição do seu novo pastor. Até Mário Soares deixou de ser laico (e quiçá republicano) para se lançar na contenda. Pelo que observei, deve ter havido milhares de conversões nestas últimas semanas. Se continuarem no aprisco, a Igreja Católica sai muito robustecida deste Conclave.

Publicado por Joana às 07:51 PM | Comentários (51) | TrackBack

janeiro 24, 2005

Algo que eu gostaria de ter escrito

Graça Franco, hoje, no Público. Revejo-me inteiramente nele.

Publicado por Joana às 01:14 PM | Comentários (16) | TrackBack

janeiro 02, 2005

Ano Novo

Neste início de ano venho aqui formular uma promessa, a mim própria e a quem me lê, gostando ou não: Não desisto.

Vou seguir a mesma linha que é a defesa intransigente do meu país, do seu bem estar económico e social e das políticas económicas e sociais que entendo serem as adequadas para sair da estagnação e enveredar pela via da prosperidade.

E faço-o, independentemente de motivações partidárias. Nunca estive, nem ambiciono estar, enfeudada a nenhum partido. Sempre prezei a minha liberdade de pensar e de dizer o que penso. Isso não é incompatível com, ao defender determinadas políticas, poder estar conjunturalmente, por esse facto, a favor de um dado partido e contra outro. Ou mesmo estando em desacordo com todos, ser obrigada a optar pelo mal menor. Mas mesmo quando aceito o mal menor, não entoo loas ao mal. Mal é sempre mal. Combaterei assim o mau e o péssimo, mas saberei hierarquizá-los.

Continuarei a criticar, venham donde vierem, a hipocrisia, a demagogia, as falácias dos vendedores de ilusões, a mesquinhez mórbida, a inveja sórdida e tudo o que tem contribuído para que Portugal esteja na situação actual. Ridendo castigat mores continuará a ser a minha divisa predilecta, mesmo quando me escasseia o engenho para a usar como gostaria.

Tentarei manter o ritmo de um texto por dia. Mais que isso não é compatível com a minha vida profissional e familiar. Portanto tentarei encontrar um equilíbrio entre manter este blogue vivo e evitar cair na banalidade da repetição, para onde seria forçosamente arrastada se enveredasse pelo frenesim destas últimas semanas.

Tentarei manter o mesmo rigor de análise e a mesma defesa da verdade, como até aqui. Não pactuarei com boatos nem com as “piadas de caserna”. A maioria dos blogues portugueses vive da graçola fácil, superficial e baseada, na maioria das vezes, em boatos. Em vez de chalacearem à mesa da pastelaria ou do café, é mais modernaço contarem as mesmas histórias simplórias, chocarreiras e falaciosas na net. Fazê-lo na net, até lhes confere um cunho de veracidade que pode iludir ingénuos, mas que visa, principalmente, quem a priori quer acreditar, quaisquer que sejam os argumentos e a sua fundamentação e veracidade. É cavaqueira estéril de pastelaria para ociosos frequentadores de pastelarias.

Sempre que julgar oportuno, devido a efemérides ou por outro motivo qualquer, e julgar que tenha interesse em ser divulgado, continuarei a postar textos sobre assuntos históricos.

Nesta matéria seguirei os procedimentos que tenho utilizado. Total rigor na apresentação dos factos. Factos são factos. Se escrevo que Afonso Henriques conquistou Lisboa em 1147, não me sinto na obrigação de noticiar o local onde me certifiquei da data. É irrelevante. Nem os historiadores o fazem, quanto mais num blogue onde pretendo apenas partilhar, com quem me lê, alguns temas históricos que considero de interesse. O mesmo sucederá com enunciados de teoremas, definições ou matérias similares. O mesmo sucederá com textos coevos. Se eu, por exemplo, citar algum edital, missiva ou documento coevo, não me sinto obrigada a referir o livro ou site donde extraí a citação, para além da referência nominativa de editais, cartas ou manifestos. Eu assegurar-me-ei da fidedignidade dos textos. Quem tiver dúvidas sobre os mesmos que as tire.

Outro tanto não acontecerá com factos que julgue controversos. Nessas ocasiões citarei as fontes em conflito. Foi o que fiz, por exemplo, quando apresentei as 2 versões ligeiramente contraditórias do texto de Flávio Josefo em que ele falava sobre Cristo.

Na quase totalidade dos temas históricos que abordei, utilizei-os para fundamentar opiniões sobre temas actuais, políticos e sociais. Quer nesses casos, quer noutros, as opiniões e conclusões que emito são minhas. Opiniões não são factos. Se apresentar a opinião de outrem sobre um dado acontecimento, certamente que a referenciarei.

Quem tiver motivos para duvidar do rigor dos textos que eu redigir, que o faça, que eu discutirei a respectiva veracidade. Nunca me furtei a discussões.

Mas não voltarei a envolver-me em controvérsias sobre sites da net com frases semelhantes. Quando um auto-nomeado Inquisidor-mór da blogosfera cita um site, alegadamente reputado, cujas frases que transcreve são cópias absolutamente textuais de trabalhos da maior historiadora medieval francesa do século passado ou cita sites com transcrições idênticas a um trabalho escolar executado há 12 anos, eu pergunto-me se esta controvérsia não será completamente estulta e desfasada da realidade que vivemos. Se entidades conhecidas e reputadas colocam textos na net sem o “rigor académico” de uma dissertação de doutoramento, só por malevolência se pretenderá exigir isso de mim.

E quem quiser ser malevolente, que o seja, pois não posso impedir.
Como escreveu Molière, no Tartufo, pela boca de Cléante:
«Hé! voulez-vous, Madame, empêcher qu'on ne cause?
Ce seroit dans la vie une fâcheuse chose,
Si pour les sots discours où l'on peut être mis,
Il falloit renoncer à ses meilleurs amis.
Et quand même on pourroit se résoudre à le faire,
Croiriez-vous obliger tout le monde à se taire?
Contre la médisance il n'est point de rempart.
A tous les sots caquets n'ayons donc nul égard ;
Efforçons-nous de vivre avec toute innocence,
Et laissons aux causeurs une pleine licence

Publicado por Joana às 09:25 PM | Comentários (43) | TrackBack

dezembro 10, 2004

Barómetro da Corrupção

O "Barómetro da Corrupção 2004", preparado pela organização Transparência Internacional, apresenta alguns números de bastante interesse e curiosidade acerca do modo como os portugueses encaram a corrupção no nosso país e, principalmente, a diferença entre a perspectiva que os portugueses têm da corrupção das diferentes instâncias e sectores e a perspectiva reinante nos países estrangeiros.

Os portugueses consideram os políticos no topo da corrupção mas, curiosamente, a sua perspectiva sobre a corrupção entre os políticos tem um índice inferior à média dos países estrangeiros. Esta posição dos políticos é fácil de explicar: eles são a classe mais exposta ao escrutínio público e aqueles sobre os quais há uma devassa maior. Em Portugal e em todo o mundo.

Eu nunca partilhei da opinião de que a classe política portuguesa era, na generalidade, mais corrupta que a média da UE. É indecisa, ou quando decide, decide, com frequência, mal. E, às vezes, as indecisões ou as más decisões são mais onerosas para o erário público que a corrupção. Em contrapartida existe a pequena corrupção nos serviços públicos: processos que só são agilizados mediante “lembranças”, etc.. Tenho ideia que, por exemplo, a corrupção entre a classe política francesa, principalmente no poder autárquico, é muito superior à portuguesa.

Em contrapartida a percepção que os portugueses têm da corrupção no fisco é tão elevada quanto à dos políticos e muito superior à média dos países estrangeiros. Já aqui fiz várias críticas ao despotismo fiscal do OE 2005, principalmente na sua 1ª versão. E essas críticas derivavam exactamente de eu ter a percepção dessa corrupção fiscal. Não só a corrupção passiva face aos grandes empresários, mas, mais abjecta, a chantagem que alguns funcionários do fisco fazem junto de pequenos empresários, aproveitando a sua ignorância e escassez de meios legais ao alcance, para lhes extorquir alguns dinheiros.

Curiosamente o ranking dos países face aos 15 sectores escolhidos (partidos políticos, parlamento, justiça, polícia, sector empresarial e privado, fisco, alfândega, media, serviços médicos, serviços educativos, registos e notários, serviços básicos (água e electricidade), militares, ONG e estruturas religiosas) coloca Portugal não só numa posição favorável em termos de corrupção, contrariamente ao que muitos dos nossos íncolas maldizentes pensam, como o coloca num alinhamento frequentemente inverso.

Por exemplo, a média dos 62 países coloca as ONGs e as estruturas religiosas, no final da tabela, como as menos corruptas. Em Portugal tal não acontece, nomeadamente no que se refere às ONGs onde a percepção dos portugueses sobre a sua corrupção é muito superior à média daqueles países.

Já aqui, neste blog, fiz várias referências à corrupção entre as organizações ambientalistas e não me vou repetir. Sempre me referi aos seus líderes e não aos militantes que lutam generosamente por um mundo com uma qualidade de vida ambiental melhor. Mas, na generalidade, se as ONGs aparecem em Portugal a pretexto de alertar a sociedade para problemas reais e para sugerir soluções, rapidamente usam o protagonismo, que adquiriram entretanto, como arma no combate político, servindo o seu objectivo inicial apenas de suporte à sua existência e à designação que têm. Começam por pretender ter uma intervenção cívica, mas são rapidamente anexadas e colonizadas por organizações políticas de pouca representatividade eleitoral que as usam para potenciarem o seu peso social.

Um dos dramas da intervenção cívica em Portugal é essa colonização partidária que descredibiliza a sua própria intervenção cívica. Por isso é natural que os portugueses as considerem corruptas.

Quanto às organizações ambientalistas (excepto os «Verdes», que caem na caracterização anterior) a questão é diferente. Usam e abusam do lobby para angariarem pareceres, ou para forçarem escolhas que possibilitem maiores financiamentos às organizações, ou para obterem financiamentos de empresas que trabalham na área ambiental. As opções políticas não são relevantes.

Publicado por Joana às 02:53 PM | Comentários (7) | TrackBack

agosto 18, 2004

Acto de Compaixão

Durante as férias fazem-se coisas impensáveis. Não resultam de qualquer acto volitivo ... acontecem simplesmente. Uma dessas coisas é descansar um olhar distraído no rectângulo televisivo. Essas distracções têm-me permitido observar, embora de forma esparsa, alguns curiosos incidentes relacionados com a participação portuguesa nos Jogos Olímpicos.

E os comentários e entrevistas que eu tenho difusamente observado permitem-me, desde já, expressar aqui a minha revolta contra as autoridades olímpicas portuguesas e a minha compaixão e solidariedade com os infelizes atletas (incluindo os cavalos) que foram obrigados a deslocarem-se à Grécia.

Não há desculpas para a malevolência de se fazer deslocar à Grécia um conjunto de atletas (e cavalos) cheios de pundonor, mas inferiorizados física e mentalmente. Até agora, e exceptuando aquele rapaz baixinho e desconhecido (certamente foi enviado a Atenas por equívoco) que ganhou uma medalha de prata no ciclismo, só assisto, revoltada, a entrevistas em que os nossos inferiorizados atletas desfiam um rosário de maleitas que incapacitariam qualquer um. A minha admiração pela forma corajosa como aqueles bravos lusitanos conseguiram atingir as costas gregas não tem limites. Naquele estado físico e mental eu não conseguiria ultrapassar o Bugio.

São lesões por tudo o que é tecido muscular e cartilagíneo: mãos, pés, tendões ... tudo. Outros estão cheios de febre e de sezões. E os poucos que escaparam às lesões musculares, e às mais diversas e inesperadas patologias, estão psicologicamente diminuídos, stressados, mentalmente afectados. Alguns estavam num estado maníaco-depressivo agudo. Nem precisaram queixar-se, bastava observá-los em competição para se avaliar do seu precário estado psíquico.

E não foram só os atletas humanos, os nossos garbosos cavalos apresentaram-se nas plagas gregas completamente stressados, à beira de uma crise de nervos.

Queria exprimir por este meio a minha mais extremosa compaixão pelos atletas (humanos e equinos) que lutam bravamente na Grécia olímpica contra as enfermidades de que estão a ser vítimas.

Publicado por Joana às 08:53 PM | Comentários (12) | TrackBack

julho 04, 2004

Perfeito ... só faltou

... a vitória.

A organização foi excepcional, o comportamento dos adeptos foi exemplar, desportivamente chegámos à final.

Só não ganhámos a taça.

Paciência. Um país com perseverança, determinação e meios, se não ganhou agora, ganhará na próxima!

Estarei a falar de Portugal? Esperemos que sim!

Publicado por Joana às 10:21 PM | Comentários (44) | TrackBack

maio 18, 2004

Fundamentalismo Cristão

Já sai Froilás, furente da albarrã
Já manda infantes levigar a liça
Já seu Monteiro atroz matilha atiça
Já ruge a arraia pela barbacã

Já vem Mafalda, a lábios de romã
Já toda nua vai sofrer justiça
Já baixa e geme a ponte levadiça
Já dobram sinos na feral manhã

Já, solta, a adúltera em carreira vai
Já dos alões a brônzea trela cai
Já ruem, saltam, pelo trilho em fora

Já ela expira envolta em seu cabelo
Já volta o Gardingo para o seu Castelo
Já seus uchões lhe dão comer agora

.... tive que recuar um milénio e adequar o cenário e a linguagem àquela época tenebrosa.

Publicado por Joana às 10:08 PM | Comentários (12) | TrackBack

dezembro 24, 2003

Feliz Natal

Hoje venho aqui desejar um Bom Natal para todos e, em especial, agradecer os votos que me formularam.

Depois de um ano de stress: O défice, a crise, o Iraque, o défice, a crise, os fogos, o défice, a crise, o Orçamento, o défice, a crise, etc., é chegada a época de se ter paz, nem que seja por alguns dias apenas, na companhia da família, ou na melhor companhia que se puder arranjar.

Bom Natal!

Publicado por Joana às 12:22 PM | Comentários (5) | TrackBack

novembro 04, 2003

A produtividade do Sr. Silva e a produtividade de Herr Schulz

O Sr. Silva e Herr Schulz são ambos motoristas de camião, um em Portugal e outro na Alemanha. Ambos são profissionais responsáveis, hábeis, trabalhadores, competentes. Não bebem, excepto em casa, às refeições, e só se a seguir não vão trabalhar (Mesmo neste caso o Sr. Silva fica-se por um copo de vinho tinto e Herr Schulz por uma lata de cerveja).

Ambos começam a trabalhar às 08:00. Mas o sr. Silva tem de se levantar uma hora mais cedo do que Herr Schulz, porque, com o estado caótico da cidade onde vive e com o facto de as suas condições financeiras não lhe permitirem melhor local de habitação do que um subúrbio remoto, demora muito mais tempo na deslocação.

Apesar disto, apresentam-se os dois no emprego com igual pontualidade. Hoje os camiões estão vazios, e é preciso levá-los até ao lugar onde se fará a carga. O Sr Silva fá-lo através de um emaranhado de vias, atravessando zonas que não se sabe bem se são industriais, residenciais, agrícolas ou outra coisa qualquer. Logo neste primeiro percurso Herr Schulz ganha-lhe quinze minutos; às 08:15 o camião de Herr Schulz está a ser carregado. O armazém está impecavelmente organizado, computadorizado, para cada função há a máquina adequada, e com a papelada não há problemas de última hora. Quando Herr Schulz parte para o seu destino, ainda o Sr. Silva anda à procura do funcionário que tem as guias de marcha, e a carga ainda nem começou.

Depois de muitas voltas pelo meio da povoação - o armazém onde o Sr. Silva carregou está mal localizado, mas nenhuma autoridade se atreve a tirá-lo dali com medo da reacção dos "populares" - o Sr. Silva lá chega finalmente, já cansado e nervoso, à estrada. Por esta altura já Herr Schulz percorreu 100 km e está a pensar em parar para tomar um café.

A certa altura do percurso, o Sr. Silva tem de enfrentar uma longa subida. O camião leva carga a mais - num esforço desesperado da empresa para rentabilizar o que não é rentabilizável - e tem potência a menos, porque um veículo com a potência adequada ao serviço teria ficado muito mais caro.

Lá vai o Sr. Silva a 30 km/h, perdendo tempo e fazendo perder tempo a mais noventa condutores que vão na fila atrás dele. Entretanto Herr Schulz lá vai a 100, mesmo nas subidas, com a sua carga legal e o seu potente motor.

Herr Schulz chega ao seu destino. Tudo está a postos para o receber. A descarga faz-se com rapidez e eficiência. Herr Schulz ainda tem tempo para se dirigir a outro lugar de carga de modo a não regressar com o camião vazio.

O Sr. Silva, entretanto, perdeu-se. Por qualquer razão misteriosa, a lei portuguesa não permite que a localização das empresas seja assinalada nas estradas e auto-estradas. Tem de continuar até à saída seguinte, dar mais uma volta por estradinhas, regressar à auto-estrada, e então, sim, dá com o caminho.

Quando chega ao lugar de descarga já lá estão vários colegas seus. Vai ter de esperar horas. Entretanto faz-se noite, o armazém onde pensava fazer outra carga já fechou, e o Sr. Silva vai regressar, tarde e a más horas, com o camião vazio.

Às 17:00, Herr Schulz, entregue o camião na empresa, dirige-se a casa, onde chega passado pouco tempo. A mulher chega uns minutos depois, porque entretanto foi buscar os miúdos à escola. Herr Schulz brinca com os filhos, ajuda-os a fazer os trabalhos de casa, janta, dedica-se um pouco à sua colecção de selos e vai para a cama, cedo.

O Sr. Silva chega a casa às 23:00, estafado. Os filhos já estão na cama, a mulher está cansada e nervosa, o jantar está frio. Come pouco e à pressa, vê uma porcaria qualquer na televisão e vai-se deitar.

As horas que o Sr. Silva trabalhou hoje a mais nunca lhe vão ser pagas. Nem o Sr. Silva as vai exigir: é um homem razoável, sabe as dificuldades com que se debate o patrão, e entende muito bem que as coisas são assim mesmo.

Passados uns anos, Herr Schulz despede-se e, aproveitando as suas poupanças, uma pequena herança que recebeu e um crédito bancário que obteve, forma a sua própria empresa. Leva consigo alguns dos seus colegas, entre eles um português, primo do Sr. Silva.

Este, farto de não sair da cepa torta, aceita a sugestão do primo e emigra para a Alemanha, onde vai trabalhar para Herr Schulz.

O patrão português do Sr. Silva fica triste de o ver partir, mas também ele é um homem razoável e compreende a situação. Despede-se dele cordialmente, diz-lhe "se precisares de qualquer coisa, pá..."

Nesta história, como em todas, houve quem ficasse a ganhar e quem ficasse a perder. A ganhar ficou o Sr. Silva, que passa a trabalhar menos e melhor por mais dinheiro; fica Herr Schulz, que na sua nova condição de empresário pode contar com mais um trabalhador competente; e fica a Alemanha, que fica com duas empresas produtivas onde antes só tinha uma.

A perder fica o antigo patrão do Sr. Silva, porque empregados como ele não aparecem todos os dias; ficam os antigos colegas do Sr. Silva, que passam a ter de fazer o trabalho dele para além do que já faziam, e que já era demais; e fica Portugal, que, onde já tinha uma empresa pouco produtiva, fica com uma que o é ainda menos.

As culpas? Ah, as culpas! Do Sr. Silva não são, com certeza. Do antigo patrão do Sr. Silva, algumas, mas não todas. As restantes temos que as distribuír pelo Estado que não ordena o território, pelas outras empresas envolvidas no processo e que tratam com igual desdém e pendor predatório os seus empregados, os seus clientes e os seus fornecedores... Mas nas culpas pensem vocês, os que me lerem, porque eu acho que já disse o que tinha a dizer.

Autor: Zé Luiz 12:58 6 Novembro 2003

Publicado por Joana às 07:39 PM | Comentários (14) | TrackBack

outubro 04, 2003

Irreflexões de uma intelectual blasée

Uma piscina no campo, um arvoredo frondoso ao redor, afastado apenas o suficiente para permitir a total insolação no verão e evitar a sujidade da queda das folhas no outono. Um relvado fofo. Um comprimento suficiente para não se passar a maior parte do tempo nas viragens.

De meia em meia hora um mergulho, umas piscinas feitas “à vontade”. No intervalo a espreguiçadeira, uma bebida refrescante, o bronzear quente e suave do reflexo do sol no espelho de água, a luminosidade cálida e sensual que nos envolve. O Assim Falou Zaratustra que se abre, uma página que os olhos percorrem sem se fixar e o livro a resvalar, lentamente, abandonado ao sabor de uma doce sonolência, perante o olhar indignado e desiludido do Nietzsche.

Ao longe, muito ao longe, por detrás dos olhos semicerrados pelo insustentável peso das pálpebras, o alegre e despreocupado chilrear dos pequenos, igualmente indiferentes ao Nietzsche, sob o olhar vigilante da competente e diligente empregada ucraniana dos avós.

Ao entardecer, uma ou outra andorinha, em voo rasante por sobre a água, molha o bico naquela mistura de água, cloro e algicida … sobreviverá? Adaptar-se-á às novas realidades ecológicas?

Francamente não percebo como há quem abandone o campo … como é incompreensível este estranho fenómeno da desertificação rural de que tanto se fala. Que total ausência de bom gosto! Não se está bem assim?

Reconheço que é incómodo o ruído abafado que periodicamente sobrevem quando o temporizador liga a electrobomba de recirculação e filtragem … mas daí ao abandono dos campos !

31 de Agosto de 2003

Publicado por Joana às 12:12 AM | Comentários (0) | TrackBack

outubro 01, 2003

Com as minhas desculpas, embora alheia ao facto

Reabri manualmente as últimas caixas de comentários que a weblog fechou, algures, durante a manhã de hoje.
A weblog já havia encerrado, automaticamente as caixas de comentários referentes aos posts mais antigos. Quando protestei, disseram-me que iriam "rever" a situação. Segundo parece era para lutar contra o spam.
Aparentemente, a luta contra o spam é mais restritiva a nível das liberdades de expressão que a luta anti-terrorista.

Publicado por Joana às 12:00 AM | Comentários (2) | TrackBack