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março 30, 2005
É Oficial, veio no Público
Quer a Esquerda, quer a Direita, são Iliberais
Eu já temia que isto acontecesse. Há tempos escrevi aqui que «não existe no espectro político português um projecto liberal sólido e coerentemente assumido. Há razões que têm séculos: a nossa aversão ao risco e à inovação e a inveja mesquinha que se instalou na nossa sociedade, em vez do incentivo pela afirmação pessoal. Outras têm a ver com a génese do actual sistema político». E esta frase simples e linear, tenho-a glosado aqui em diversos tons e figuras de retórica. Hoje, JMF tornou isto oficial: «em Portugal não é preciso ser de esquerda para desconfiar do mercado e da economia liberal: há muita gente de direita que pensa da mesma maneira. Neste domínio a cultura política dominante tanto é uma herança da Revolução ... como do salazarismo corporativista».
E continuou, implacável, citando o livro oficial da antiga "Organização Política e Administrativa da Nação", do antigo 6º ano de Liceu, , onde condenava os Estados liberais, pois estes acreditavam que "o equilíbrio social resultaria do simples jogo da liberdade e da livre concorrência ... Da excessiva liberdade resultaram as mais flagrantes desigualdades económicas e as maiores injustiças sociais.".
Mas isto é o que aqueles que me contestam, me acusam! Afinal não passo de uma vítima a posterior do salazarismo! O salazarismo vem do fundo dos tempos apontar-me o dedo acusador pela mão de alguns prestimosos comentaristas.
Ainda ontem eu, ingenuamente, sublinhava que «a verdadeira clivagem na sociedade ... sociedade portuguesa, é entre aqueles que defendem este modelo social estatizante, ancilosado ... e aqueles que acham que a inovação e o progresso só se conseguem aceitando o risco, que a democracia só existe na plenitude se for acompanhada pela liberdade económica ... etc». Hoje verifico que não há, desgraçadamente, qualquer clivagem. A nossa classe política, segundo consta na redacção do Público, está toda no 3º quadrante (esquerdo-inferior) do Political Compass. Não há clivagem que nos valha.
Continuei a investigar, e verifiquei que, entre os líderes mundiais apenas Nelson Mandela e o Dalai Lama se situam nesse quadrante. O Dalai Lama?! E ainda há dias me imprecavam por eu apelidar toda aquela gente de bonzos! Não será o Dalai Lama, o chefe de bonzos? Porquê os bonzos se terem abespinhado por eu os designar pela sua verdadeira identidade, agora certificada pelo Political Compass.
Os líderes terceiro-mundistas estão no 4º quadrante (esquerdo-superior) e os líderes ocidentais, de esquerda ou de direita, no 1º quadrante (direito-superior). Ou seja, os nossos políticos estão completamente fora do circuito político. Apenas estão aptos para orquestrar aquelas compridas e esquisitas tubas dos monges tibetanos, ecoando pelos vales gelados e profundos dos Himalaias. É lá que poderão ser encontrados quando o país chegar à bancarrota, liderado por estes políticos-bonzos.
Fui a correr fazer o teste e verifiquei a razão porque sempre olhei com distanciamento cínico e crítico os políticos: estava no 2º quadrante, igualmente arredada de todos. Parece que Friedman também está nesse quadrante, assim como os Democratas Liberais britânicos, mas estes concorrem às eleições apenas por desporto, levados pelo fair-play britânico, não para ganharem.
Assim sendo, temos que viver com o que temos líderes políticos estatizantes qualquer que seja a sua cor política.
Há todavia uma luz ao fundo do túnel. Depois de abandonarem a política, os anteriores políticos abandonam a sua opção estatizante e refugiam-se todos no 2º quadrante António Barreto, Medina Carreira, Daniel Bessa, ... todos (ao que julgo...). Até Silva Lopes, ainda há pouco nas lides políticas, e agora a defender a redução dos salários da função pública «não podemos continuar a aumentar o vencimento dos funcionários públicos e provavelmente vamos ter de os diminuir, em termos reais. As pessoas não querem ouvir isto, mas infelizmente é assim», dando um vertiginoso trambolhão para o 2º quadrante.
O futuro está nos desalojados políticos. São eles que nos vão tirar deste escolasticismo medieval, deste aristotelismo serôdio, que nos arruína sem apelo nem agravo.
A menos que, quando regressarem à política, voltem a ser seduzidos pelo apelo estatizante ...
Publicado por Joana às março 30, 2005 09:04 PM
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Comentários
Está muito libertária, Joana. Se educar assim os miúdos, está feita. Tem que ganhar algum autoritarismo!
Publicado por: Diana às março 30, 2005 10:09 PM
Há sujeitos cuja posição política não pode ser definida apenas a 2 dimensões. Terá de ser a 3 (pelo menos...).
Faltam aí muitos azimutes, nesses gráficos.
Publicado por: Senaqueribe às março 30, 2005 10:41 PM
Se bem que... as bolinhas coloridas já dão uma pequena ajuda.
Publicado por: Senaqueribe às março 30, 2005 10:45 PM
Com a devida vénia,
Publicado por: vitapis às março 30, 2005 10:21 AM(em outro post):
A Joana tem qualquer contrato com o JMF do Público? É que é vulgar que um tema que aborde aqui seja abordado logo a seguir, ou poucos dias depois por JMF.
Hoje no Público (http://jornal.publico.pt/noticias.asp?a=2005&m=03&d=30&id=13320&sid=1461 aparece um artigo mais ou mesmo sobre este tema e com conclusões idênticas.
Não foi inspiração porque o JMF não teve tempo de ler o seu blog e escrever aquilo. Provavelmente até escreveu antes, ou ao mesmo tempo.
Vocês telefonam-se?
Publicado por: vitapis às março 30, 2005 10:21 AM
Vou recomeçar a ler JMF !
Publicado por: zippiz às março 30, 2005 10:57 PM
É difícil ver pelo gráfico, mas reparem que o socialista Blair está à minha direita. Eu estou entre os socialistas Blair e Schröder.
Quanto ao eixo Social, tenho que trabalhar nesta faceta ... . Estou a ficar muito pouco autoritária ... mas julgo que este autoritarismo tem a ver com a perspectiva social e não com a perspectiva individual.
Publicado por: Joana às março 30, 2005 11:35 PM
Senaqueribe às março 30, 2005 10:41 PM:
Falta para já o eixo dos tempos. Por exemplo, veja o Freitas. Veio da Direita, passou pelo centro, há 2 anos estava no BE e dizia que o Bush era um político de extrema- direita comparável a Hitler. Depois voltou para o centro e agora acha que o Bush mudou, depois deste ter nomeado Paul Wolfowitz, o principal arquitecto da Guerra do Iraque, como candidato à presidência do Banco Mundial e Bolton, que despreza as Nações Unidas e a quem os próprios republicanos levantam objecções, como embaixador na ONU.
Como ele acha que o Bush mudou para melhor depois de ter substituído o pessoal da Casa Branca por outro mais para a direita, é porque o Freitas já está nos caminhos da Direita autoritária.
O Freitas precisava de um eixo dos tempos para aquele gráfico.
Publicado por: Joana às março 30, 2005 11:44 PM
zippiz às março 30, 2005 10:57 PM:
Você pode ler os textos do JMF. Duvido é que consiga comentar algum.
Publicado por: Joana às março 30, 2005 11:46 PM
Está a fazer uma grande confusão, Joana. As categorias «authoritarian» e «libertarian» nesse gráfico não têm nada a ver com liberalismo económico, mas com a atitude das pessoas face às liberdades pessoais - como a eutanásia, o aborto, o direito a emigrar e a imigrar, a igualdade entre os sexos e as raças, a liberdade religiosa, o direito ao estilo de vida... Ficar na metade inferior neste gráfico não significa que se seja adepto da economia de mercado; ficar na metade direita, sim.
Publicado por: Zé Luiz às março 30, 2005 11:53 PM
Bush mudou pal de ter mais direita nos mesmos la em cima! Olá
Sinclair
Publicado por: mala às março 31, 2005 12:05 AM
Joana às março 30, 2005 11:44 PM
É isso mesmo, Joana, falta o eixo dos tempos para esse sujeito. Era justamente nele que eu tinha pensado, mas há muitos mais, cá e lá fora. :-)
Mas, a sério, gostei muito dos gráficos. São muito elucidativos e dispensam resmas de palavriado. Melhor, se fossem elaborados com rigor e não apenas com ironia...
Publicado por: Senaqueribe às março 31, 2005 12:19 AM
Zé Luiz às março 30, 2005 11:53 PM:
Ou me exprimi mal ou você não me percebeu. Eu sei o que significa o eixo social. Só estava a fazer blaque dizendo que precisava de me tornar mais autoritária.
Na categoria económica estou perto do Schröder e Blair, o que condiz com o facto de eu já os ter citado aqui diversas vezes em oposição aos socialistas portuguesas (e parte da direita) que só estão adequados para gerirem monjes tibetanos
Publicado por: Joana às março 31, 2005 12:32 AM
Senaqueribe às março 31, 2005 12:19 AM:
Os gráficos foram retirados do Público (não tenho aqui o link) mas o JMF citou-os hoje. O meu foi resultado do teste que fiz.
Também encontrei na net gráficos para os políticos do UK e dos EUA (o Kerry estava relativamente perto do Bush, talvez coincidente com o Howard, o 1º Ministro australiano)
Publicado por: Joana às março 31, 2005 12:35 AM
É oficial, a Joana é a egocêntrica do quadrante libertário da direita.
Segundo a recém-libertária, e após uns exaustivos estudos sobre bitaite político, conclui que:
- aí, no tal quadrante, é que está a resolução de todos os problemas, com que nos debatemos!
- junta ao seu imaginário quadrante, um rol de políticos ressabiados, que fazem da maledicência política a sua intervenção cívica na sociedade (também não sabem mais).
- torna-se numa espécie de concubina política dessa cáfila de bujardões, com que se identifica.
- sente-se prazenteira.
- transmite a sua descoberta inquietante, e triunfante proclama aos quatro ventos que finalmente encontrou o quadrante da felicidade eterna
- bem vindos os bem aventurados que vierem ao meu quadrante, será deles o reino da felicidade!
Disse.
Publicado por: semal às março 31, 2005 12:36 AM
E vejam que o Chirac é mais autoritário que economicamente liberal. Daí ele ter horror ao liberalismo económico. Ele e a França, que procura desesperadamente que o mundo não mude ... quer parar o tempo.
Publicado por: Joana às março 31, 2005 12:38 AM
Publicado por: Joana às março 30, 2005 11:44 PM
Lá está Vc com o seu mau feitio ... e falta de humor !
Então eu ia lá perder um editorial do ex-maoista JMF ? Nem pensar !
Publicado por: zippiz às março 31, 2005 12:46 AM
Não sei porque é que as pessoas se abespinham tanto com o corporativismo. Ainda que mal aplicado - por ser um corporativismo de Estado e não um corporativismo de associação - o corporativismo foi, em Portugal, a tentativa mais honesta e com maiores potencilidades para resolver o dilema da eficiência económica e da justiça social. Tem razão quem afirma que a direita autêntica é anti-liberal. Mas isso não significa que tem de ser totalitária. O que se pretende é estabelecer um equilíbrio entre a inserção social e a sobrevivência económica. Nem o liberalismo nem o socialismo lá chegam perto. Mas o corporativismo poderia ter-se aproximado desse ideal. Só que nós preferimos julgar o Estado Novo pela existência e actuação da PIDE, e não pela tentativa de traduzir a doutrina social da Igreja numa prática política. Tentativa mal sucedida, sem dúvida. Mas, pelo menos os políticos de então tinham percebido que era preciso conciliar as esferas do económico e do social. Hoje os ídolos da Joana estão dispostos a sacrificar entre 10 e 20% da população ao sucesso (relativo) dos outros. O que é incompatível com o sentido de comunidade. A Joana faz troça dos escolásticos, mas foi então que a doutrina dominante mais se aproximou dessa conciliação da necessidade de produzir e da necessidade de distribuir. O que era preciso era modernizar o discurso aristotélico sem lhe retirar o fundo ético. Mas, é claro, isso da ética não cabe nem no liberalismo nem no socialismo. E o conceito do bem comum há muito que deixou de ser entendido.
Publicado por: Albatroz às março 31, 2005 12:50 AM
É bom haver blogs e o anonimato, para que cada um, no anonimato, possa destilar o ódio, o fel, o ressumar da sua mesquinhez; fazer a catarse da sua ignobilidade sem se dar em público, comentarista Oliveira.
E também é bom gente com fair-play para dar a esse epifenómeno o lugar que merece.
Publicado por: Joana às março 31, 2005 12:51 AM
Nota: o comentário anterior era sobre o semal às março 31, 2005 12:36 AM
Publicado por: Joana às março 31, 2005 12:55 AM
Quer a Joana, quer o JMF têm razão sobre a inexistência de um penamento liberal em Portugal. Há alguns, mas poucos e fora da política.
Publicado por: Novais de Paula às março 31, 2005 01:17 AM
Isso não invalida que diversos políticos tenham tentado aplicar algumas medidas liberalizadoras. Cavaco fez isso, embora moderadamente. O Durão não teve, como a Joana tem dito, coragem para tomar nenhuma medida a sério. Sócrates fez uma pirotecnia com a história dos medicamentos no supermercado, mas parece-me que é mais para propagando que para outra coisa.
Publicado por: Novais de Paula às março 31, 2005 01:20 AM
Duvido que tome medidas que doam aos lobbies mais poderosos.
Outra coisa que dá que pensar é os socialistas portugueses estarem numa posição diametralmente oposta à dos socialistas europeus. E, segundo depreendi, muitos políticos de direita estarem no mesmo quadrante ou, quanto muito, mais acima, mas sempre do lado estatizante.
Isso não augura nada bom para o país.
Publicado por: Novais de Paula às março 31, 2005 01:24 AM
Xi, vocês são muito complicados
Já agora eu sou anti-liberal. Penso que a razão de ser da Economia é criar empregos.
Publicado por: clark59 às março 31, 2005 01:50 AM
Acho que sim. Bora substituir os cursos de economia por serviços de empregos
Publicado por: Coruja às março 31, 2005 09:48 AM
"É bom haver blogs e o anonimato, para que cada um, no anonimato, possa destilar o ódio, o fel, o ressumar da sua mesquinhez; fazer a catarse da sua ignobilidade sem se dar em público"
Joana, tendo em conta que o seu blogue é anónimo, não é nada bonito vir acusar os outros de serem eles os anónimos.
Publicado por: Luís Lavoura às março 31, 2005 10:02 AM
Já fiz este teste do Political Compass por diversas vezes. Aproveitei agora e fi-lo novamente. Caio sempre bem no meio do quadrante dos gestores de bonzos. Ou de monjas do Carmelo, como a Joana sugeriu noutro comentário.
Já agora, tenho as mais sérias dúvidas de que sujeitos como Saddam Hussein ou Robert Mugabe tenham alguma vez feito o teste. Não sei com que bases é que eles são colocados seja onde fôr.
Publicado por: Luís Lavoura às março 31, 2005 10:16 AM
E quem lhe diz a si, joana, que gerir monges tibetanos é fácil? Eu não saberia sequer por onde começar..
Publicado por: Zé Luiz às março 31, 2005 10:19 AM
Joana,
Agora já sabe porque razão estão sempre todos contra si. Está mesmo isolada.
Publicado por: Mário às março 31, 2005 10:32 AM
Algumas notas sobre o Political Compass:
1 - Note-se que não há memória significativa de executivos políticos na liderança de países que se localizem no quadrante inferior direito (conhecido em trigonometria pelo Quarto Quadrante). Pode ser que os eleitores sejam burros, mas não querem liberais de direita ao leme das suas nações. Um módico de autoridade é indispensável para chegar ao governo. E essa é a causa de frustração da Joana: as suas ideias não têm vencimento nas urnas e é uma contradição fundamental dar um golpe de estado para impor um regime de direita liberal :-)))
2 Pelo contrário, há numerosos executivos políticos no quadrante inferior esquerdo (conhecido em trigonometria pelo Terceiro Quadrante), em especial nas ditas democracias ocidentais. Estão geometricamente opostos ao Primeiro Quadrante.
3 - É por isso que a luta política se desenha normalmente na diagonal principal do plano, entre o Primeiro Quadrante e o Terceiro Quadrante, identificando-se o primeiro como a esquerda democrática e o segundo como a direita democrática, excluindo os extremos deste eixo do poder. O diagrama do Political Compass evidencia quão redutor é esse modelo: reduzimos duas dimensões a uma!
4 Politicamente, o Segundo Quadrante (superior esquerdo) é o espaço das Repúblicas Democratas Populares que, como se verificou, eram pouco democratas e ainda menos populares. Se um político tiver ambições governativas deve afastar-se de lá a correr!
4 - A característica mais importante do Political Compass é fazer médias das respostas. É possível defender simultaneamente que o aborto deve ser quase sempre ilegal e que a terra não deve ser uma commodity e aparecer junto à origem do gráfico.
5 Convido a Joana e os leitores fazer alguns testes imaginando-se outras pessoas ou criando heterónimos políticos. Perceberão logo o efeito da média.
5 A ponderação em média é também o maior risco do Political Compass: como não revela a dispersão das medidas (respostas) não é possível discernir quais as pessoas que se adaptam bem ao modelo (baixa dispersão) daquelas que não se enquadram nele (elevada dispersão).
Penso que a terceira dimensão que mais falta faz é um semi-eixo de dispersão.
6 É mera especulação minha, mas embora eu concorde com a localização de João Paulo II (as suas atitudes recordam-me frequentemente Álvaro Cunhal), suspeito que a dispersão das respostas de João Paulo II seja muito elevada.
Publicado por: João GM às março 31, 2005 10:49 AM
O quadrante inferior direito está vazio porque não é intuitivo. Estará sempre vazio.
É muito cómodo (e cobarde) enxovalhar quem se encontra só nesse campo. As maiorias tem tendência a estas arrogâncias.
Mas uma atitude séria devia pensar nas razões, de apesar desse quadrante não ter ninguém, ser necessário recorrer às suas soluções amiúde. Nem toda a realidade é intuiva.
Publicado por: Mário às março 31, 2005 11:46 AM
Se o argumento de João G M está correcto, então a instauração de um regime político ao gosto da Joana é impossível em democracia, a menos que a percepção que a maior parte das pessoas tem dos seus interesses mude muito. Sabendo isto, a Joana vai buscar o velho recurso retórico dos comunistas - a Inevitabilidade Histórica. As mudanças que ela quer dar-se-ão, então, independentemente da vontade dos povos, pela acção inelutável das «leis do mercado».
É uma boa maneira de não propor uma mudança pela força. O pior, e já vimos isto com os comunistas, é que, quando as «leis» da História ou do Mercado tardam em fazer sentir os seus efeitos, a tentação de usar a força começa a ser irresistível.
Comparem a acção dos EUA na América Latina com a da URSS nos seus países satélites, e verão do que estou a falar: se a doutrina messiânica não se cumpre por si, é preciso fazê-la cumprir... o que só mostra que afinal estava errada.
Publicado por: Zé Luiz às março 31, 2005 12:16 PM
Eu o que acho nesta coisa da direita liberal é que ela contem uma contradição nos próprios termos. É que, por um lado, pretende defender a liberdade e eliminar a tirania. Mas, por outro lado, é incapaz de ver a falta de liberdade e a tirania que se escondem por detrás da maior parte da propriedade privada. A direita liberal só vê a opressão provinda dos Estados; não vê qualquer possibilidade de opressão nas atividades dos privados.
A direita liberal ainda vê o mercado idealizado por Adam Smith: um grande conjunto de produtores de batatas vende o seu produto a um grande conjunto de consumidores de batatas numa praça pública. Nesse mercado são evidentes a transparência, a informação, e a falta de poder do produtor ou do consumidor individuais. Infelizmente, no entanto, boa parte dos mercados atuais (incluindo o mercado de trabalho) não se conforma nesse modelo. Nos mercados reais, o poder de alguns atores individuais é muito grande. E esse poder oprime. E, se queremos ser livres, também temos que combater esse poder.
Publicado por: Luís Lavoura às março 31, 2005 12:32 PM
O dr. Silva Lopes deu há tempos uma entrevista ao Público (portanto estas coisas também são oficiais!) em que reflectia sobre as dificuldades da economia portuguesa, dizendo que não via no horizonte facilidades "externas" para aumentar o crescimento económico português; os subsídios da UE minguam e os fogachos da descida das taxas de juro não se repetem. E lamentava-se de os grupos económicos portugueses terem investido na área financeira e na distribuição, não renovando o aparelho produtivo. Parece que o liberalismo dos grupos económicos se resume ao dinheiro certo (negócios da reforma, da saúde, da água, parcerias simpáticas com o Estado, sei lá!). Acho que os políticos apenas reflectem e justificam esta realidade. Asfixia-se. António Champalimaud bem nos deu uma lição: refez a sua fortuna, liquidou-a, deixou os seus hereditários governados de acções espanholas e legou à sociedade portuguesa uma Fundação para nos tratar da saúde.
Publicado por: Rui Lizandro às março 31, 2005 01:18 PM
Ainda chegamos à conclusão de que a «direita possível», e mesmo até porventura desejável, é a que o PS representa.
E se o PS conseguir levar ávante e com sucesso duas ou três reformas estruturais de relevância, passadas as dores de parto, então é que teremos todos encontrado o justo "meio-termo" de um módico de felicidade, de progresso e de bem-estar social. E já estou "como o outro" :
Tarde é o que não chega ...
Publicado por: asdrubal às março 31, 2005 01:56 PM
No referencial cartesiano da bússola política, quem valer zero é que é o melhor.
:-))
Publicado por: Senaqueribe às março 31, 2005 02:32 PM
Estive a dar uma vista de olhos por testes do género. Destaco dois, um pela forma como apresenta os resultados, já que apresenta áreas diferentes dentro dos quadrantes
(http://www.okcupid.com/)
e outro por apresentar resultados por países (Portugal é dos que tem mais observações)
(http://www.moral-politics.com/xpolitics.aspx?menu=Home&action=Distribution&choice=Portugal).
Este último dá uma ideia de Portugal como um país de esquerda.
Publicado por: Daniel às março 31, 2005 02:51 PM
Muito me espanta que no "matrix moral português" o conservadorismo apareça com 13,51% e o liberalismo com 23,33%.
Uma boa notícia para Joana e uma má notícia para JMF que escreve hoje :
.
«(...) O que lhe coloca (à Direita) o desafio de construir uma identidade em ruptura não só com o seu passado mas também em contraciclo com o ambiente político, social, cultural e comunicacional dominante (...)».
Publicado por: asdrubal às março 31, 2005 04:19 PM
Tchhh, enganei-me na leitura do «matrix» ... e na leitura contrastada, sucessivamente, de Joana e de JMF. Vou de férias.
Publicado por: asdrubal às março 31, 2005 10:56 PM
Desculpem se me atrazei, afazeres..., também não posso estar sempre ao PC como alguns aqui, tenho de ganhar o meu.
Porém, quero fazer uma adenda ao meu post anterior, se me permitem.
No tal "quadrante libertário" também cabem "cuscuvilhices" informáticas, para gáudio da Joana!
Já só faltava esta "anómima Joana" a cuscar os outros, não nos bastavam já as "escutas telefónicas" e outras indecências...
Publicado por: semal às março 31, 2005 11:08 PM
Interessante este post e sobretudo os comentários. Quanto aos líderes mundiais não há nada a fazer, por razões completamente diferentes (pensava eu) os que eu mais gosto são precisamente o Nelson Mandela e o Dalai Lama.
A singularidade da Joana também sou capaz de admiti-la. Afinal de contas não resisto a frequentar este blog...
Penso que a Joana e os seus próximos podem estar contentes: hoje com o Público saiu o nº 1 da revista Atlântico, que traz várias contribuições da direita na sua melhor potência intelectual.
Publicado por: pyrenaica às março 31, 2005 11:22 PM
Fiz o teste OK Cupid (http://www.okcupid.com/) que o Daniel sugeriu e tive resultados, ao que julgo, idênticos aos do Political Compass:
You are a Social Liberal (73% permissive)
And an ...
Economic conservative (66% permissive)
You are best described as a: Libertarian
You exhibited well-developed sense of Right and Wrong and believe in economic fairness
Neste caso fiquei no 1º Quadrante, mas porque os quadrantes são diferentes. Julgo que o resultado foi muito idêntico ao anterior.
Uma coisa interessante foi que no gráfico do posicionamento na escolha eleitoral entre Bush e Kerry, eu fiquei na zona de indecisão, embora mais Kerry que Bush.
E na realidade, a minha opinião era que entre os dois viesse o Diabo e escolhesse, embora eu achasse que, do ponto de vista dos EUA, o Bush talvez fosse o mal menor.
Publicado por: Joana às abril 1, 2005 12:18 AM
Luís Lavoura às março 31, 2005 10:02 AM:
O meu comentário referia-se às ordinarices debitadas por "semal às março 31, 2005 12:36 AM".
É bom existirem fóruns para gente assim despejar a bílis no anonimato. Talvez assim incomodem menos aqueles com quem convivem
Publicado por: Joana às abril 1, 2005 12:21 AM
Zé Luiz às março 31, 2005 12:16 PM: Já reparou que este seu parágrafo não faz qualquer sentido? :
"Se o argumento de João G M está correcto, então a instauração de um regime político ao gosto da Joana é impossível em democracia, a menos que a percepção que a maior parte das pessoas tem dos seus interesses mude muito. Sabendo isto, a Joana vai buscar o velho recurso retórico dos comunistas - a Inevitabilidade Histórica. As mudanças que ela quer dar-se-ão, então, independentemente da vontade dos povos, pela acção inelutável das «leis do mercado»."
Se o mercado só funciona em perfeita liberdade, como é que você quer que ele instaure uma ditadura, ou seja lá o que for.
Apenas houve um país que quis instaurar as receitas liberais em ditadura. Foi o regime de Pinochet. E o resultado foi o impasse, e a queda de Pinochet. Liberdade de mercado e ditaduras são incompatíveis.
Em qualquer dos casos, a semente germinou e o Chile é hoje o país da América do Sul mais desenvolvido, mas em democracia!
Publicado por: Joana às abril 1, 2005 12:32 AM
Não há inevitabilidade históricas, pelo menos nunca as defendi, embora reconheça o seu vício em me atribuir desígnios malévolos.
As mudanças dar-se-ão quando os povos verificarem que não têm alternativa. Nunca contra vontade deles.
Aliás já várias vezes aqui escrevi que aa alternativas que se nos colocam é entre o projecto de empobrecimento contínuo em que actualmente vivemos, ou uma ruptura que inicialmente terá custos, mas que nos levará pelo caminho do desenvolvimento sustentado.
As pessoas podem escolher o "projecto de empobrecimento contínuo". Todavia duvido que o escolham durante muito tempo.
Publicado por: Joana às abril 1, 2005 12:37 AM
Também lá fui fazer o teste do Cupido:
- Social Liberal (70% permissivo)
-Económico Liberal (11% permissivo)
melhor descrito como Socialista... a meio caminho entre o Gorbatchev e a Hillary Clinton!
Continuo a gostar mais do Mandela e do Dalai Lama.
Publicado por: pyrenaica às abril 1, 2005 12:57 AM
Continuas frustradita, Janica e agora bates no palerma do JMF que nem merece troco.
A quantidade de palermas que aqui te dão troco a propósito do teu artigo tão rebuscado e demonstrativo da tua falta de assunto mostra bem que só escreves para parvos e que nada tens que fazer, contrariamente ao que aqui sempre afirmaste.
Mas cada um come do que gosta e tu sempre tiveste tendêencia para feirante...tal como o teu amado ídolo.
Olha, querida, não te dês ao trabalho de me bloqueraes o acesso porque só vim cá para te dar estes sopapos, não volto tão cedo.
E estuda mais e copia menos, ehehehehehe
Publicado por: Átila às abril 1, 2005 01:16 AM
"o Chile é hoje o país da América do Sul mais desenvolvido"
Já o era antes de Allende. Já o era há muito tempo.
John Kenneth Galbraith observou uma vez que, se passeássemos pela Europa de Leste comunista em 1980, veríamos as mesmas diferenças de desenvolvimento que se observavam em 1900. As mesmas regiões desenvolvidas (Saxónia, Boémia, etc), as mesmas regiões pobres.
O Chile sempre foi uma democracia bastante avançada, para os níveis latino-americanos, e com um grau de desenvolvimento peculiar. É precisamente por isso que o golpe de Estado de Allende foi tão chocante - porque os chilenos tinham uma democracia que funcionava bastante bem, para os padrões regionais pelo menos.
Publicado por: Luís Lavoura às abril 1, 2005 10:09 AM
Luís Lavoura às abril 1, 2005 10:09 AM:
Você não anda bem a par dos acontecimentos. A Argentina era o país mais desenvolvido daquela zona e veja o que lhe aconteceu. O Uruguai o mesmo embora em épocas diferentes.
Quanto ao Chile, você julga que o golpe militar aconteceu por acaso? Quando aconteceu, Allende estava em grande quebra de popularidade. Havia uma enorme crise económica e o país estava à beira da bancarrota.
É certo que o comportamento das multinacionais que compravam o cobre ajudou. Mas você, se tivesse uma mina no Chile e a nacionalizassem, não reagiria?
O Vasco Gonçalves quando andou a nacionalizar tudo, veja lá se ele nacionalizou as propriedades dos estrangeiros.
Publicado por: Hector às abril 1, 2005 10:48 AM
O golpe de Estado contra o Allende só foi chocante para quem não conhecia a situação chilena. Pinochet teve uma enorme base de apoio inicial. Não a teria para fazer os massacres que fez, nem para criar uma ditadura, mas teve-a para derrubar Allende.
Foi como cá o 28 de Maio.
Publicado por: Hector às abril 1, 2005 10:53 AM
Luís Lavoura às abril 1, 2005 10:09 AM
O Chile sempre foi uma democracia bastante avançada, para os níveis latino-americanos, e com um grau de desenvolvimento peculiar. É precisamente por isso que o golpe de Estado de Allende foi tão chocante
Você faz uma ideia errónea da situação social do Chile de Allende. Se estiver interessado, leia, s.f.f., o meu post Chile, 11 de Setembro 1973 http://semiramis.weblog.com.pt/arquivo/2003/10/chile_11_de_set.html
Publicado por: Joana às abril 1, 2005 01:09 PM
Luís Lavoura às abril 1, 2005 10:09 AM
A URSS especializou-se na produção de bens militares e na indústria aero-espacial, onde o mercado é quase inexistente, visto o Estado ser o único comprador.
Quanto ao restante, a actividade industrial e agrícola da URSS saldou-se por um desperdício enorme. As pessoas trabalhavam até à exaustão para cumprirem normas estúpidas e sem que o seu nível de vida melhorasse. A saúde funcionava mal, pois as pessoas, se queriam ter bons cuidados, ou tinham cunhas (a maioria), ou pagavam aos médicos por fora (os poucos que o podiam fazer). Os alojamentos eram péssimos e as pessoas viviam amontoadas.
Como disse Soares, a URSS foi um embuste colossal.
Quando estive em Viena com os meus pais, demos uma saltada a Bratislava. A queda do regime comunista tinha ocorrido há poucos meses. Não me lembro de alguma vez ter visto uma cidade tão decrépita. O único sítio onde pudemos comer foi no Hotel Kyev, o melhor da cidade (onde uma refeição custava tanto como num restaurante de 3ª em Lisboa). Você nem calcula o aspecto dos restaurantes e dos supermercados. Tudo completamente decrépito, com poucos produtos e de uma qualidade de fugir.
Ah! ... os gelados eram óptimos e quase de borla (e não apanhámos salmonelas!)
Publicado por: Joana às abril 1, 2005 01:10 PM
A França está no mesmo caminho iliberal que Portugal. Porque é que julgam que o Não vai à frente?
Publicado por: Sa Chico às abril 1, 2005 09:21 PM
Ainda me lembro da manifestação dos tachos das mães de família pelas ruas de Santiago, por causa da crise. E a greve dos camionistas que paralisou completamente o Chile.
Publicado por: Cerejo às abril 1, 2005 09:24 PM
"Mas, por outro lado, é incapaz de ver a falta de liberdade e a tirania que se escondem por detrás da maior parte da propriedade privada."
Além de não ser verdade, a propriedade privada, não tem meios de impor qualquer especie de tirania, a não ser que tenha a protecção do estado.
Publicado por: HFerreira às abril 2, 2005 01:18 AM
"a propriedade privada, não tem meios de impor qualquer especie de tirania"
A própria Joana escreveu noutro comentário que escreve sob pseudónimo porque não está num emprego do Estado. Ela sabe que, estando empregada no privado, não convem andar a expôr em público as suas ideias. Pode ser despedida. Ou ter dificuldade em voltar a araanjar emprego.
Publicado por: Luís Lavoura às abril 2, 2005 03:26 PM
Não era preciso o JMF descobrir isso. Basta ouvir falar as pessoas, ver a maioria dos comentários na net. Por exemplo aqui.
Publicado por: fbmatos às abril 2, 2005 08:03 PM
É oficial ... o Papa morreu
Publicado por: bsotto às abril 2, 2005 09:03 PM
Ele não teve culpa, mas foi deprimente
Publicado por: David às abril 3, 2005 12:32 AM
3 dias de morto em directo arrasa qualquer um
Publicado por: David às abril 3, 2005 12:33 AM
E agora são mais meia dúzia de dias de obituário. Os enlatadaos que as TêVês têm sobre o Papa em doses maciças
Publicado por: David às abril 3, 2005 12:34 AM
Pois, isto para as T^vês é um maná!
Publicado por: Coruja às abril 3, 2005 01:20 AM
Foi um grande Papa e não tem culpa da necrofilia dos media.
Publicado por: Ricardo Pereira às abril 3, 2005 05:26 PM
Luís Lavoura em abril 2, 2005 03:26 PM:
A razão não é essa, embora não tenha interesse em esta minha actividade seja conhecida na empresa.
A razão é porque estou frequentemente envolvida em negócios com clientes que têm cargos políticos - Presidentes de Câmaras, presidentes de Institutos Públicos, inclusive ministros (ou assessores de ministros),etc..
Esse tipo de negócios baseia-se em confiança e no sigilo profissional. O saber-se desta actividade poderia levantar dúvidas sobre esse sigilo.
Publicado por: Joana às abril 3, 2005 10:38 PM
Público??
Publicado por: Cisco Kid às agosto 13, 2005 01:55 AM
Lixo
Publicado por: Cisco Kid às agosto 19, 2005 01:20 AM
lixo
Publicado por: sisifo às agosto 20, 2005 05:02 AM
Veio??
Publicado por: sisifo às agosto 20, 2005 07:28 PM
Veio??
Publicado por: Cisco Kid às agosto 21, 2005 06:47 AM
Pasquins!
Publicado por: sisifo às agosto 25, 2005 12:08 AM
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Publicado por: Nurcia às agosto 27, 2005 05:45 AM
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Publicado por: Coiso às agosto 30, 2005 08:23 PM
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Publicado por: didi às setembro 4, 2005 03:15 PM
Público! Bah!
Publicado por: didi às setembro 6, 2005 07:51 PM
Esses mentirosos?
Publicado por: querubim às setembro 10, 2005 05:15 PM
Esse pasquim
Publicado por: didi às setembro 12, 2005 08:29 PM
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Publicado por: consumer review diet pill às setembro 16, 2005 12:30 AM
tretas
Publicado por: didi às setembro 17, 2005 09:08 AM
Pasquins
Publicado por: Cisco Kid às setembro 19, 2005 07:00 AM
Então é mentira
Publicado por: Cardona às setembro 21, 2005 04:24 AM
Eu não acredito
Publicado por: Nurcia às setembro 24, 2005 02:14 PM