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março 31, 2005

A Maldição da Economia

A Economia é uma ciência maldita: exige-se-lhe que explique tudo; espera-se que resolva tudo e quando a conjuntura económica não está de feição é o descrédito que se abate sobre ela. É estranho o que se passa com a economia. A nenhuma ciência se exige tanto. Nenhuma outra ciência é encarada de forma tão totalitária, tão absoluta. Nenhuma outra ciência é esconjurada e os seus profissionais desautorizados sempre que uma contrariedade acontece.

Houve o maremoto do sueste asiático, que se saldou em mais de 200 mil vítimas e ninguém, que eu saiba, acusou a Geologia, nem a Geofísica, nem a Tectónica. Foram acusadas as autoridades que não intervieram a tempo, mas os profissionais daquelas ciências passaram incólumes. Limitaram-se a explicar, em frente de gráficos coloridos, o deslizamento de umas placas tectónicas, com a mesma tranquilidade que explicariam a descida de um garoto num escorrega. O país está a ser vítima de uma seca terrível, os metereologistas continuam tranquilamente a prever tempo seco para os próximos dias e ninguém lhes pede satisfações, ninguém escreve indignado para as Televisões exigindo o seu despedimento. Fazem-se novenas; procissões: imprecam-se os deuses, mas metereologistas e geofísicos continuam a gozar da mesma respeitabilidade e credibilidade.

Os acidentes de viatura sucedem-se num cortejo macabro e ninguém põe em causa ou lança o anátema sobre as equações do movimento da Mecânica Clássica de Newton. Poderia citar exemplos decisivos em todas as outras ciências. Em todas se verifica o mesmo: a responsabilidade é dos outros, de erros humanos, ou de calamidades naturais. Nunca das ciências que tutelam a “desgraça” nem dos seus profissionais.

Ora a Economia é uma ciência com objectivos simples. Analisar as forças estáveis que caracterizam o enquadramento onde os agentes económicos interagem, as condições de base da actividade económica; analisar as estruturas dos mercados, ou seja as características do “ambiente” em que decorrem as transacções entre esses agentes; analisar as estratégias desses agentes referindo-as às estruturas onde estes se movem e agem; analisar os resultados obtidos pelos agentes económicos e estabelecer relações funcionais para avaliar em que medida esses resultados “deslocam” as condições de base da actividade económica; alteram as estruturas em que essa actividade se desenvolve e condicionam as estratégias dos agentes. E como todo este processo interage e se formam os sucessivos equilíbrios. E isto para agentes económicos individuais (pessoas e empresas) ou para os grandes agregados.

Para conseguir esse desiderato, a economia constrói modelos que expliquem o comportamento dos agentes económicos e como variam as variáveis e parâmetros micro e macroeconómicos. As suas bases são simples – a partir dos conceitos de escassez (se não houvesse escassez de recursos – se estes fossem infinitos – não haveria economia) e da análise marginal, estabelece as equações explicativas. Exactamente o mesmo tipo de equações e os mesmos processos matemáticos (as funções de Lagrange) que aqueles que conduzem às equações de movimento da Mecânica Clássica.

A Economia apenas explica o que pode acontecer se forem introduzidas alterações no modelo que inflictam quer as condições de base, quer as estruturas, quer os comportamentos, quer os resultados. A Economia não diz o que os agentes económicos devem fazer, nem lhes entoa prédicas moralistas. Essa é a função de sacerdotes, psicólogos, fazedores de opinião, etc.. A Economia não é responsável se os agentes económicos constroem os seus objectivos em função dos seus interesses pessoais e do seu egoísmo. A Economia apenas tem que reconhecer isso, construir os modelos explicativos baseados nesses dados de base e determinar, grosso modo, os resultados para esses agentes e para a sociedade, face às condições de base e às estruturas de mercados.

Responsabilizá-la pelos comportamentos dos agentes económicos, é o mesmo que os déspotas orientais faziam, quando matavam o mensageiro. Não foram os economistas que fizeram com que os agentes económicos agissem de acordo com os seus interesses pessoais. Apenas descobriram que o faziam e calcularam, através dos modelos explicativos, que uma sociedade cuja economia funcionasse em perfeita liberdade contratual, sem entraves, nem barreiras, atingiria um óptimo de funcionamento.

Também calcularam a perda de eficiência que as violações das condições estruturais da concorrência induziriam no bem estar económico da sociedade, quer essas violações fossem endógenas, ou seja, resultassem do próprio funcionamento da actividade económica através das estratégias de agentes económicos, quer fossem exógenas, isto é, resultantes das modificações operadas pelo poder político, ou outros poderes, nas condições de base, nas estruturas, ou nos resultados.

Exorcizar a economia por alertar que uma dada medida irá traduzir-se num certo (mau) resultado é o mesmo que execrar os avisos que nos alertam que se fizermos a curva a mais de 80km/h corremos o risco de nos despistarmos. É uma completa imbecilidade.

Obviamente que são os políticos que tomam as decisões. Cabe aos economistas elencar os resultados possíveis dessas decisões. Também é evidente que em modelos onde há milhões de decisores que se movem por interesses cujas causas nem sempre são absolutamente identificáveis, podem ser construídos modelos explicativos diferenciados, quer por convicção científica, quer para suportar determinadas opções políticas.

O mesmo sucedeu na mecânica, que à medida que se foi aprofundando a observação empírica se verificou que, fora de certos limites, a mecânica clássica perdia valor explicativo, e se criou a mecânica relativista. Igualmente em economia, o refinamento da análise vai progredindo, quer com o aumento das possibilidades de introduzir no cálculo milhões de observações e indivíduos, quer com a verificação dos resultados das medidas políticas tomadas exogenamente e do funcionamento endógeno do próprio modelo.

Há uma teoria que está irremediavelmente liquidada: a convicção que era possível gerar equilíbrios económicos eficientes sem ser em mercado e utilizando a sua capacidade de auto-regulação. Desde sempre, todos os regimes e políticas que se basearam em preços administrados e no planeamento das quantidades a produzir, conduziram ao completo desastre.

Talvez por isso a má vontade contra os economistas e a tendência para os responsabilizar pelas negligências humanas que conduziram aos desastres económicos – os moralistas não suportam uma teoria que se baseia nos instintos dos homens, nos seus vícios e nas suas virtudes. Os moralistas não suportam a realidade e preferem ignorá-la, pregando utopias e exorcizando a realidade do comportamento humano.

Querem um universo asséptico. Infelizmente ele não existe e as tentativas para criar o “homem ideal” conduziram a holocaustos – à liquidação física daqueles que não se enquadravam nesse ideal.

Publicado por Joana às março 31, 2005 11:53 PM

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Comentários

Concordo com quase tudo o que a Joana afirma. Mas chamo a atenção para o facto de que "equilíbrio" em economia não tem de significar sempre e apenas o equilíbrio entre a oferta e a procura. Poderíamos definir "equilíbrio" como a situação em que todos os consumidores satisfazem pelo menos as suas necessidades básicas. Nesse caso o equilíbrio não exigiria os mecanismos do mercado, embora nada obste a que o objectivo da justiça social utilize, pelo menos parcialmente, esses mecanismos. Um dos problemas dos economistas é tomarem a parte pelo todo. Na definição que dou aos meus alunos, "economia é a ciência que estuda a forma como se afectam recursos escassos para satisfazer necessidades ilimitadas". Nada obriga a que a eficiência produtiva tenha prioridade sobre a eficiência distributiva. Não se confunda ideologia com ciência.

Publicado por: Albatroz às abril 1, 2005 12:50 AM

É bem feita. Ninguém a mandou ser economista!

Publicado por: Coruja às abril 1, 2005 12:51 AM

Janica, vejo que mudaste aqui a fachada desta macacada. Ficou melhor, eheheheh...
Ainda aqui pululam os teus lambedores de cloacas! Cheia de sorte, mas vejo que como teu ídolo Paulinho das feiras de fora ficaste sem assunto.
E agora és economista? Pensava que eras dona de casa, doméstica, etc.
Adeus, diverte-te aí com os teus palerminhas que nunca hão-de aprender...
E não te esqueças de dar banho aos putos e de falares com o teu marido de vez em quando, em vez de estares sempre aqui agarrada a isto.
Economista, ehehehehehehehe.............

Publicado por: Átila às abril 1, 2005 01:02 AM

Há alguma verdade naquilo que escreve, Joana

Publicado por: censor às abril 1, 2005 01:50 AM

O Psicopata Átila volta a atacar...

As dúvidas sobre um texto claríssimo também..

Ninguém que não conheça algo sobre mecânica quântica se põe a discutir o assunto. No entanto, sobre economia, todos acham que podem lançar os seus palpites. Pior ainda, que as suas opiniões baseadas no "não se está a ver que é mesmo assim", são mais válidas que as dos economistas.

é a atitude do "sei que estou errado mas ninguém me impede de disparatar".

Publicado por: Mário às abril 1, 2005 10:20 AM

A Joana escreve neste post erros atrás de erros.

1) A "economia" era chamada no seu início "economia política". Sempre foi uma "ciência" política. Sempre teve, e nem podia deixar de ter, relações intensas com a política e com os interesses políticos dos seus mentores. Isso era reconhecido ao princípio. Agora, pretende-se ocultá-lo.

2)"uma sociedade cuja economia funcionasse em perfeita liberdade contratual [...] atingiria um óptimo de funcionamento"
Isto pode ser considerado um teorema da economia se e só se os atores económicos individuais não tiverem PODER para distorcer o sistema, para impôr as suas escolhas aos outros. Na prática, esse PODER existe sempre. A economia sempre reconheceu o poder dos monopólios, dos carteis, etc, e a forma como eles degradam o "óptimo de funcionamento". Adam Smith perdeu longo tempo a explicar no seu livro que os agentes económicos passam a vida a tentar alterar a "perfeita liberdade contratual" de forma a melhor servir os seus interesses pessoais. Com bastante sucesso, como Adam Smith lamentou.

3)"políticas que se basearam em preços administrados e no planeamento das quantidades a produzir, conduziram ao completo desastre"
Políticas dessas foram praticadas pelos Estados Unidos durante toda a Segunda Grande Guerra, com muito sucesso: foi um dos períodos de maior prosperidade do país. A União Soviética desenvolveu-se extraordinariamente até aos anos 50 ou 60 sob políticas dessas - era considerada um caso de sucesso a nível económico, temível pelo seu poder de demonstração.

Publicado por: Luís Lavoura às abril 1, 2005 10:21 AM

Excelente post, Joana. Simples, dizendo o essencial. e indo ao âmago da questão.
Como economista revejo-me naquilo que escreveu. De facto, a análise utilitária não é a culpada de as pessoas se comportarem de uma forma utilitarista.

Publicado por: Novais de Paula às abril 1, 2005 10:22 AM

Nos tempos em que David Ricardo se entretia a mostrar, com grande satisfação, que as trocas comerciais entre Portugal e Inglaterra eram benéficas para ambos - Portugal exportando vinho, a Inglaterra exportando têxteis - pois cada país se especializava nas suas vantagens naturais - mas não se percebe bem qual a vantagem natural da Inglaterra na produção de têxteis - omitia, ele David Ricardo, falar da ação dos ingleses na Bengala, na destruição através de impostos e entraves diversos da avançadíssima indústria têxtil bengali, para que os indianos fossem obrigados a comprar produtos têxteis ingleses, de qualidade inferior e preço superior, dado que em condições de perfeita concorrência jamais poderiam concorrer com a indústria bengali. É claro que David Ricardo não falava disso, pois ele era um economista político, e estava ali para defender aquilo que interessava a Inglaterra. Não tinha as parvas pretensões de objetividade de alguns economistas do presente, muitos dos quais se declaram seus seguidores.

Publicado por: Luís Lavoura às abril 1, 2005 10:26 AM

"economia é a ciência que estuda a forma como se afectam recursos escassos para satisfazer necessidades ilimitadas"

Não, Albatroz, as necessidades não são ilimitadas, e esse é um dos pontos que os economistas se esforçam por omitir. Grande parte do baixo crescimento económico da Europa atual explica-se pela sua demografia deprimida - uma população envelhecida e sem filhos tende a ter uma procura inferior. As necessidades são diretamente proporcionais à dimensão da população, e tendem também a ser maiores quando a população é jovem. Também, é desde há muito reconhecido o papel da publicidade para criar necessidades - sem as quais o crescimento económico seria muito menor.

O crescimento económico é uma necessidade estrutural da economia e da sociedade modernas. Para induzir esse crescimento é preciso permanentemente criar novas necessidades, porque naturalmente e em si as capacidades de consumo do ser humano NÃO SÃO ilimitadas.

Publicado por: Luís Lavoura às abril 1, 2005 10:58 AM

O problema da Joana é que decidiu que "jogo da bola" era futebol. Logo, se alguém jogar andebol ou basquetebol será logo acusado de falsear o jogo e de ineficiência. Não se podem impor regras arbitrárias e depois considerar que todos aqueles que não reconhecem essas regras são ou estúpidos ou desonestos. Eu aceito, de forma geral, as regras do mercado, mas não aceito os pressupostos glorificadores da eficiência produtiva, quaisquer que sejam os resultados em termos de exclusão social. O mercado é um mecanismo interessante, mas não pode transformar-se em valor absoluto. Para mim o valor absoluto é a "justiça". Logo, a economia tem de se submeter às exigências dessa justiça. Uma economia que gera 10 ou 20% de excluidos não pode ser boa. De acordo com os meus critérios, é claro.

Publicado por: Albatroz às abril 1, 2005 11:02 AM

Desculpe, Luis Lavoura, mas já encontrou alguém que dissesse: "Já tenho que chegue"? Ou: "Já não preciso de ganhar mais"? É claro que um ou outro indivíduo poderão tal dizer, mas não é essa a postura da população em geral. Logo, as necessidade - espontâneas ou induzidas, essenciais ou supérfluas - são, de facto, ilimitadas. Por isso é que é um absurdo afirmar que se deve primeiro produzir e só depois pensar em distribuir. Porque nunca se chegará ao ponto em que se considere que já se produz que chegue para se poder passar à distribuição.

Publicado por: Albatroz às abril 1, 2005 11:09 AM

Luis Lavoura,

Como é possível você escrever tanto sobre uma matéria que dá evidentes mostras de não não dominar quase nada? Gostava de saber a sua reacção se alguém começasse a fazer a mesma coisa em relação à Física, com aquelas erros costumeiros em relação à segunda lei da termodinâmica, ao princípio da incerteza ou a relaividade restrita. Não se coloque em bicos de pés que lhe fica muito mal.

Publicado por: Mário às abril 1, 2005 11:20 AM

A analogia da economia com a mecânica clássica é reveladora das falhas da ciência económica. O paradigma da mecânica clássica já foi superado pelo da física quântica, numa ciência em que as relações estruturais são muito mais estáveis do que as da economia.

A economia consegue a proeza de continuar a usar métodos retirados da mecânica clássica, o paradigma anterior da física, e os aplicar a uma realidade muito mais mutável do que a da física. Isto só é possível devido às hipóteses assumidas à partida nos modelos, de entre as quais destaco a racionalidade dos agentes, donde resulta o comportamento maximizante dos agentes que conduz ao equlíbrio. Claro que este comportamento é considerado maximizante para o agente e para o colectivo de agentes, não existindo qualquer incompatibilidade de objectivos. É a ciência económica normal que não "se baseia nos instintos dos homens, nos seus vícios e nas suas virtudes", não tem em conta o "instinto animal" dos agentes.

As hipóteses como a dos agentes racionais e as soluções determinísticas que muitas vezes apresenta levam a que a economia seja não uma ciência maldita, mas sim uma ciência em crise em que são necessárias novas abordagens para atingir um novo paradigma.

Publicado por: Daniel às abril 1, 2005 11:24 AM

"já encontrou alguém que dissesse: "Já tenho que chegue"? Ou: "Já não preciso de ganhar mais"?"

O meu pai, por exemplo, que tem 82 anos de idade.

Publicado por: Luís Lavoura às abril 1, 2005 11:28 AM

(complementando Daniel)

A economia não reconhece, também, as diferenças antropológicas entre os povos. Por exemplo, os ingleses e americanos amam o seu cartão de crédito e utilizam-no abundantemente, os alemães não. As economias inglesa e americana são caraterizadas por um abundante deficit comercial e um abundante endividamento, enquanto que alemães e japoneses têm superavits repetitivos e endividamentos muito menores. Ou seja, as pessoas têm atitudes diferentes perante a economia, as quais fazem com que as economias nacionais se estruturem em paradigmas distintos.

Publicado por: Luís Lavoura às abril 1, 2005 11:33 AM

Mário,
eu assumo o meu nome e a minha profissão, e qualquer pessoa pode ir à internet e encontrar o meu curriculum, e perceber que eu não sou um especialista em economia, na qual, naturalmente, cometerei muitos erros (que gostaria que me corrigissem). Agora, pessoas que assinam "Mário" ou "Joana" eu não sei quem são, nem o que são, nem em que coisas são especialistas, nem que erros cometerão ao falar de outras coisas.
Se eu dei alguma calinada das grandes, é favor corigi-la.

Publicado por: Luís Lavoura às abril 1, 2005 11:42 AM

Luís Lavoura às abril 1, 2005 11:28 AM

Com todo o respeito pelo seu pai, não me parece que a sua atitude - ainda por cima aos 82 anos - seja típica da nossa sociedade. Por isso devemos analizar os fenómenos económicos no pressuposto do carácter ilimitado das necessidades. Que, aliás, ajuda a compreender muito do que se passa nesta sociedade.

Publicado por: Albatroz às abril 1, 2005 11:44 AM

Luís Lavoura,

Quem se desse ao trabalho, poderia descobrir quase tudo de mim a partir da informação que aqui digo. Daria trabalho e não teria interesse para ninguém, mas não escondo nada.

Você começa por dizer: "A Joana escreve neste post erros atrás de erros."

Depois fala de forma afirmativa, como se conhecesse profundamente os métodos económicos. Você é um homem e ciência, e por isso acho que tem a obrigação de um maior discernimento mental do que a maioria das pessoas que comentam os blogs.

Há sempre aspectos filosóficos que todos podemos comentar, porque ninguém é dono da verdade. É nesse sentido que faço comentários, mas penso que é minha obrigação saber quando não devo comentar. Eu sei lá se aquilo que a Joana diz é verdade, mas ela já mostrou que merece credibilidade no que diz em termos técnicos.

Eu já li os autores que citou e muitos outros, mas sou apenas um curioso sobre assunto. Se existissem coisas que a Joana disse e me parecessem incorrectas, a minha primeira tendência seria de pensar que teria de estudar melhor os assuntos, e não de dizer que a especialista so diz erros atrás de erros.

E este tipo de "diálogo" que me faz pensar que os blogs serão sempre apenas uma esfera fechada, sem grande relevância, porque todos falam como se fossem especialistas em tudo, nunca estando disponíveis para aprender o que quer que seja.

Publicado por: Mário às abril 1, 2005 12:14 PM

"Quem se desse ao trabalho, poderia descobrir quase tudo de mim a partir da informação que aqui digo"

Diga, diga...

Eu assino "Luís Lavoura" e chega. Devo ser a única pessoa de entre os 6,5 biliões de habitantes da Terra com esse nome, e qualquer um pode - sem trabalho nenhum, e sem possibilidade de erro - decobrir na internet quem sou.

Se me quisesse armar aos cucos, e não receber remoques como os do Mário, poderia assinar os meus comentários "Inês" e dizer que era economista. Ou, quando quisesse comentar os posts sobre história, assinava "Jaime" e dizia que era historiador.

Agora, com as assinaturas "Mário" ou "Joana" ou outra qualquer, qualquer um pode disfarçar a sua eventual ignorância dos assuntos.

Publicado por: Luís Lavoura às abril 1, 2005 12:33 PM

Vá não se zanguem. Já li neste blog, julgo que escrito pela Joana, que qualquer português com formação universitária e boa capacidade de se exprimir, está sempre a 15 dias de se tornar um expert em qualquer matéria.
Todos nós já aparecemos por aqui há mais de 15 dias, logo somos experts.

Publicado por: David às abril 1, 2005 12:41 PM

Quando se compara a Economia com a Física ou outra ciência "dura", faz-se um salto epistemológico que não é válido em sentido estrito.

Na Economia o sujeito e o objecto confundem-se- é feita pelos homens para os homens. `A letra significa "as regras de condução da casa".

Quanto à Geologia, à Biologia e sobretudo à Física o objecto já não são as relações entre os homens mas as relações de causalidade entre componentes do mundo. Têm um estatuto de objectividade forte, ou seja, qualquer experimentador utilizando o mesmo protocolo alcançará os mesmos resultados em qualquer laboratório do mundo. Não é bem assim mas é quase.

Aliás se bem me lembro das lições de Economia do Prof. Pereira de Moura, às tantas dava-se a definição de "Economia é aquilo que os economistas fazem". Penso que é aí que vai parar a questão.

Publicado por: pyrenaica às abril 1, 2005 12:57 PM

Luís Lavoura às abril 1, 2005 10:21 AM
“Isto pode ser considerado um teorema da economia se e só se os atores económicos individuais não tiverem PODER para distorcer o sistema”
Julgo que você não me leu bem. Eu escrevi “Também calcularam a perda de eficiência que as violações das condições estruturais da concorrência induziriam no bem estar económico da sociedade, quer essas violações fossem endógenas, ou seja, resultassem do próprio funcionamento da actividade económica através das estratégias de agentes económicos, quer fossem exógenas, isto é, resultantes das modificações operadas pelo poder político, ou outros poderes, nas condições de base, nas estruturas, ou nos resultados.”
Portanto a Economia analisa as violações das condições estruturais do seu funcionamento.
O que você escreveu sobre os EUA não é verdade. Os próprios contratos de fornecimento militar eram por adjudicação. A prosperidade deveu-se ao facto dos EUA se tornarem os banqueiros e fornecedores do Mundo livre e da URSS.
Quanto à URSS respondi no post abaixo

Publicado por: Joana às abril 1, 2005 01:19 PM

Luís Lavoura às abril 1, 2005 10:21 AM
A Economia passou a certa altura a ser designada por Economia Política, mas nunca vi nenhum dos principais economistas serem líderes políticos, nem estarem lá próximos.

Publicado por: Joana às abril 1, 2005 01:21 PM

Luis Lavoura,

Pelas suas palavras só é possível existir anonimato ou exibicionismo. A informação que falava não é a do nome, mas a do link que está lá por trás.

Eu não sou especialista em economia, tudo o que falar sobre o assunto tem boas possibilidades de estar errado. Não tenho qualquer intenção de ficar por cima numa discussão. Uso blogs como um meio de informação e de obter alguns conhecimentos. Sei perfeitamente que estes comentáriso que se trocam por aqui não tem qualquer importância.

Tal como você se sente seguro por dizer quem é, deve respeitar quem não o quer fazer. Alguns comentários que têm passado por este blog revelam que algumas pessoas teriam muito prazer em fazer "a folha" à joana se a encontrassem na rua.

Você deve pensar que vivemos num país com liberdade de expressão, mas apenas porque está colocado à esquerda. Quando eu tinha simpatias à esquerda também pensava assim. Mas quando me atrevi, não a defender, mas apenas a comentar ideias liberais, percebi que tinha de ficar "caladinho" para não sofrer censura e mesmo ameaças à minha integridade física.

Publicado por: Mário às abril 1, 2005 01:24 PM

Mário, eu respeito quem se quer manter anónimo. Mas nao admito que usem o meu não-anonimato para, como anónimos, me virem amochar.

Publicado por: Luís Lavoura às abril 1, 2005 02:22 PM

Durante a Segunda Grande Guerra os preços nos EUA eram "administrados". Pelo menos a acreditar em J.K. Galbraith, que era um dos economistas da agência de administração dos preços. O objetivo era impedir uma espiral de inflação, limitando administrativamente os aumentos tanto dos salários como dos preços.
Isto, repito, a acreditar em Galbraith.

Publicado por: Luís Lavoura às abril 1, 2005 02:25 PM

Albatroz às abril 1, 2005 11:02 AM
A clivagem aqui é entre os que defendem as concepções estatizantes ou corporativas, e aqueles que defendem o mercado livre, Entre a direita conservadora aliada ao socialismo estatizante e a democracia liberal. Estes últimos estão em minoria (eu e aqueles que os contrários designam depreciativamente por meus clones).
Mas lembro-lhe que o sistema corporativo é um entrave ao desenvolvimento. Após o terramoto, o Marquês de Pombal (que não tinha nada de liberal) foi obrigado a acabar com regulamentações das corporações ligadas à construção civil que proibiam outros de exercerem aqueles mesteres para ter mão de obra para a reconstrução. Toda a Economia Clássica foi construída em luta contra as coacções extra-económicas do regime feudal, onde as corporações artesanais eram uma das componentes.
Quanto à parábola da “bola” pode ter piada, mas não vejo como se aplica no caso vertente.

Publicado por: Joana às abril 1, 2005 02:30 PM

Luís Lavoura,

Cometemos talvez o mesmo erro, de formas diferentes.

Por um lado, já utilizei a informação que deu de si para o colocar em xeque, o que não devia ter feito. Por outro, já sugeriu que o anonimato pode ser uma forma de cobardia, desonestidade ou de esconder ignorância. Isso é verdade em alguns caso, mas acho que o aplicou a alguns que não o mereciam.

Ainda sobre o anonimato, o sistema de comentários deste blog tem alguma culpa. Em outros sistemas de comentários fica bem expresso o nome (que deve ser tão raro como o seu), o meu endereço de mail, e um link para um dos blogs que escreve de vez enquando.

Publicado por: Mário às abril 1, 2005 02:32 PM

Luís Lavoura às abril 1, 2005 02:25 PM
Uma coisa é, em época excepcional, fixar preços máximos, outra é criar um sistema económico que vive com preços administrados. Em épocas de crise, como uma guerra mundial, é natural que se imponham preços máximos para evitar especulações. Todavia esses preços devem ser fixados tendo em atenção que se não devem afastar do respectivo custo marginal, pois senão está-se a introduzir uma grave distorção.
A questão dos preços administrados ser um desastre não acontece no início, desde que se tomem as devidas precauções. A questão é que, ao tornar-se uma prática, os preços administrados reflectem a correlação de forças entre os lobbies e não a verdadeira estrutura de custos. Isto, ao fim de algusn anos, é mortífero.

Publicado por: Joana às abril 1, 2005 02:39 PM

Daniel às abril 1, 2005 11:24 AM
O exemplo que dei, refere-se às equações de equilíbrio nos mercados de produtos e de factores que se ensinam aos alunos no primeiro ano de microeconomia. Que correspondem, na formulação matemática, à forma como são deduzidas as equações do movimento.
Quando os estudos se aprofundam, os instrumentos matemáticos refinam-se. Sucede isso na Física Quântica, mas também na Economia mais avançada.
Indo para exemplos mais práticos, em Econometria avançada, um dos clássicos da Análise Multivariante (Multivariate), Maurice Kendall, os seus modelos aplicam-se à Economia, Agricultura, Antropologia, Arqueologia, etc. Também muitos modelos econométricos se aplicam nos testes de qualidade das fábricas.

Publicado por: Joana às abril 1, 2005 02:49 PM

Luís Lavoura às abril 1, 2005 11:42 AM e 11:33 AM
Não sei se os americanos amam mais o seu cartão de crédito que os portugueses.
Quanto à discrição, se eu fosse investigadora ou docente universitária (ou vivesse apenas dos meus rendimentos), não teria problemas com a minha identidade. Espetaria o currículo na coluna do lado.
Todavia a profissão que exerço impede que o faça.
Isto para não falar nos ressabiados que me insultam por aqui, e por e-mail. Nunca mais me atrevia a sair à rua sem guarda-costas.

Publicado por: Joana às abril 1, 2005 02:55 PM

Não se exige à Economia que explique tudo. Pelo contrário, verbera-se-lhe a veleidade de explicar tudo. Não se encara a Economia de forma totalitária, verbera-se que encare totalitariamente o Mundo.
Ninguém acusou a Geologia, nem a Geofísica, nem a Tectónica, pelo maremoto do sueste asiático, mas acusaram-se com toda a justiça os técnicos e os outros decisores que não souberam ou não quiseram servir-se destas ciências para minimizar a tragédia.
Quando os acidentes de viação se sucedem, ninguém culpa as leis da física; mas culpam-se, com razão, os engenheiros e os autarcas que constroem uma curva quesó pode ser feita a 60, segundo essas mesmas leis, numa estrada que no resto do seu traçado permite que se ande a 100.
Se um operário da construção civil cai dum andaime, ninguém culpa Newton nem a força da gravidade - mas culpa-se o técnico de segurança que não fez instalar as devidas protecções.
A Economia, quando é uma técnica, aspira à inimputabilidade da Ciência; quando é ciência desculpa-se com a falibilidade da técnica.
Quanto aos moralistas que não suportarem uma teoria que se baseia nos instintos dos homens, nos seus vícios e nas suas virtudes, têm a sua contrapartida nos ideólogos do liberalismo que não suportam qualquer crítica baseada nos vícios e nas virtudes das empresas. Também estes querem criar um «homem ideal», viciado no risco, desprendido da segurança económica, e aberto a todas as mudanças.
Eu, como hobbesiano, não acredito que os homens ou as empresas sejam «bons» ou «maus». Acredito que em «estado de natureza» os homens e as empresas são predadores - predadores inocentes, como o lobo da metáfora, porque só pela predação podem sobreviver.
E acho o mundo da Joana perigoso porque pretende mater a economia em «estado de natureza» ou próxima dele.

Publicado por: Zé Luiz às abril 1, 2005 02:57 PM

Joana às abril 1, 2005 01:19 PM

A Joana pode postar-se na posição de uma ecomomista pura, decretando que um regime liberal universal seria o mais eficaz para enriquecermos todos.

Mas tem que reconhecer que essa economia pura não existe, feliz ou infelizmente, na prática. Na prática, todos os economistas pensam: o que é que eu vou fazer para que a minha empresa, ou a minha classe social, ou o meu país, fique a ganhar?

Ou seja, na prática a economia está SEMPRE contaminada por relações de PODER. É sempre uma economia POLÍTICA. As pessoas que praticam a economia não querem nunca o bem global: querem o bem da sua classe social, ou da elite dirigente, ou do seu país, ou da sua empresa, ou de si mesmos pessoalmente, etc. E usam o poder de que dispõem para distorcer o campo de jogo de forma que lhes seja favorável.

Mesmo que Portugal, por hipótese académica, adoptasse uma economia perfeitamente liberal, continuaria inserido num mundo regido por relações de força. Portugal precisa de aceder a petróleo, precisa de ter mercados para as suas exportações, etc etc etc. E para tudo isso precisa de uma política, a qual nunca será liberal.

Publicado por: Luís Lavoura às abril 1, 2005 03:10 PM

Zé Luiz em abril 1, 2005 02:57 PM:
Como dizia ... os moralistas têm razões que a razão desconhece.
Por falar em moralistas ... tentei ir ao seu blog deixar um comentário, mas verifiquei que teria que preencher diversos formulários antes de poder ter a honra de o fazer. Desisti
Aqui, como sabe, nesta cidadela do vício, a liberdade é total. Se cortei o pio a um comentarista, não foi por ele me insultar dezenas de vezes ao dia, durante meses a fio. Foi porque um dia o fez usando o meu nome e o meu e-mail. Aí achei que era demais ... nem as monjas do Carmelo!
Nesse entendimento deixo-lhe o meu comentário aqui: quando você escreve, como sub-título do blog, “Somos humanos, não somos recursos” você está a tentar inviabilizar uma das profissões mais em voga – a dos especialistas em Recursos Humanos. Milhares de empresas terão que fechar os departamentos de Recursos Humanos o que envolverá milhares de desempregados. Você já pensou na calamidade que poderá provocar?.
O Estado, onde você labuta, não tem problemas, lida com humanos, quer trabalhem, quer olhem entediados para os monitores dos PC’s enquanto atiram bolinhas de papel para o ar. Não são recursos. Recursos é algo que se utiliza para produzir qualquer coisa. Se os seus humanos não são recursos, são apenas números. São os números de funcionários públicos que nós temos que alimentar sem termos voto na matéria de podermos dizer: que é que esses senhores estão aí a fazer?

Publicado por: Joana às abril 1, 2005 03:25 PM

Luís Lavoura às abril 1, 2005 03:10 PM:
Está a ver como eu tinha razão. A Economia não pode aspirar à categoria de ciência pura. VoC~e decretou que estamos vendidos a interesses inconfessáveis.
Mas olhe que isso tem sucedido com todas as ciências. Muitas teorias da Física foram declaradas reaccionárias pelos académicos soviéticos.
Se pensar bem, o que você disse aplica-se a todas as ciências humanas (mais que à economia) e mesmo às ciências abstractas.
Apenas a matemática ... e não sei ... terei que reler Pitágoras.

Publicado por: Joana às abril 1, 2005 03:32 PM

"Somos humanos, não somos recursos."

Não sabia que eram incompatíveis. Pensei que áté dava uma ar socialista afirmar que os maiores recusrsos de uma empresa são as pessoas. E assim era mais fácil justificar a protecção social, do emprego, etc.

Publicado por: Mário às abril 1, 2005 03:35 PM

Não estou a ver nenhuma teoria da física que tenha sido "decretada reacionária pelos académicos soviéticos". Da biologia, sim. Da física, os nazis é que decretaram que a teoria da relatividade era "física judaica".

Os físicos na URSS não eram muito considerados até depois da guerra. Quando a bomba explodiu em Hiroxima, Estaline mandou imediatamente multiplicar por dez os salários de todos os físicos da URSS.

A URSS teve físicos fabulosos, de primeiríssima água. À cabeça deles o grande Lev Davidovitch Landau, um judeu ucraniano. No fim da sua vida teve um acidente de automóvel que o tornou completamente amnésico.

Publicado por: Luís Lavoura às abril 1, 2005 03:58 PM

Joana às abril 1, 2005 02:49 PM

Não referi nenhuma especificação matemática ou econométrica, nem era essa a minha intenção. Referi-me a uma hipótese, racionalidade dos agentes, um pilar fundamental na teoria económica, independentemente da especificação utilizada. A análise econométrica não corresponde a nenhuma teoria económica, não é como a macro ou microeconomia. Quando é usada por outras áreas não é feita uma analogia, é utilizada a própria econometria.

Publicado por: Daniel às abril 1, 2005 05:01 PM

Este blog está excelente. Os posts e os debates. Muito estimulante

Publicado por: azimute às abril 1, 2005 05:39 PM

Zé Luiz às abril 1, 2005 02:57 PM

"Acredito que em «estado de natureza» os homens e as empresas são predadores - predadores inocentes, como o lobo da metáfora, porque só pela predação podem sobreviver".

Esta deixou-me de cabelos em pé! Não é pela predação que o Homem sobrevive, é pela solidariedade. No Homem o instinto predatório - que existe - nada tem de inocente. O instinto predatório subverte a sociedade, coloca o interesse individual acima do bem comum. Na natureza não há predadores: há animais que se alimentam de outros, mas que apenas matam na medida da estricta necessidade. Só o Homem é predador. É o Homem que destrói, subjuga, o seu semelhante sem que a sua sobrevivência esteja em causa. E o liberalismo económico é o instrumento de eleição do Homem-predador.

Publicado por: Albatroz às abril 1, 2005 06:49 PM

Joana às abril 1, 2005 02:30 PM

A "parábola da bola", como lhe chamou, tem a haver com esta sua afirmação:

"Há uma teoria que está irremediavelmente liquidada: a convicção que era possível gerar equilíbrios económicos eficientes sem ser em mercado e utilizando a sua capacidade de auto-regulação. Desde sempre, todos os regimes e políticas que se basearam em preços administrados e no planeamento das quantidades a produzir, conduziram ao completo desastre."

É aqui que a Joana decidiu que o único jogo da bola era o futebol, tentando ilegitimar todos aqueles que jogam andebol ou basquetebol. É aqui que a Joana nos diz que não vale jogar a bola com a mão, esquecendo que, em andebol e em basquetebol, a bola só se joga com a mão. A Joana tem todo o direito de jogar à bola com os pés, mas não nos pode dizer que só o futebol é que é bom. Se, para mim, o equilíbrio económico é a situação em que todos têm, pelo menos, o suficiente para subsistir, não me pode obrigar a aceitar o mercado como único meio válido. Para obter o meu equilíbrio, terei de violar de vez em quando as regras de mercado. Terei de ir buscar recursos que alguns quereriam utilizar apenas na produção, para promover a justiça social. Terei de dar ocupação remunerada a alguns cuja eficiência produtiva é considerada insuficiente.
Quando a Joana diz que se não deve "exorcizar a economia por alertar que uma dada medida irá traduzir-se num certo (mau) resultado", está a fazer um juízo de valor baseado nas regras do futebol. Pode ser que o resultado só seja mau no quadro dessas regras. Noutro quadro de valores, o resultado até pode ser bom. Tenho a certeza que a Joana acha que a economia cubana é um desastre. Mas se avaliássemos a economia cubana quanto à sua capacidade para proporcionar a todos os cubanos o acesso gratuito a uma educação e cuidados de saúde de qualidade, já a situação mudaria. Cá está, os cubanos jogam basquetebol e a Joana só os critica por jogarem a bola com a mão...

Ter-me-ei feito entender?...

Publicado por: Albatroz às abril 1, 2005 07:07 PM

Luís Lavoura às abril 1, 2005 03:58 PM:
refiro-me às teorias sobre o Universo, por exemplo.
Sei quem é o Landau - o meu pai tem para aí uma dezena de volumes do Curso de Física Teórica do Landau e Lifschitz (julgo que é assim que se escreve)

Publicado por: Joana às abril 1, 2005 07:48 PM

Albatroz às abril 1, 2005 07:07 PM:
Os impostos podem não constituir uma violação das leis do mercado, assim como as transferências sociais. Como sabe são possíveis vários equilíbrios na "Caixa de Edgeworth".
Como tenho aqui escrito por diversas vezes, alguns poderão preferir um projecto de empobrecimento contínuo. No caso cubano, eles foram obrigados a preferir.
Agora tome nota: a economia paralela em Cuba funciona segundo as regras do mercado, embora muitos dos bens transaccionados com os turistas sejam subtraídos ou obtidos através de suborno. Portanto o seu custo marginal é variável e não tem a ver com nenhuma "função de produção".
E não tenha dúvidas que esse regime vai implodir.

Publicado por: Joana às abril 1, 2005 07:57 PM

Isso de Cuba deve ser assim mesmo. Estive lá em turismo e o nosso guia, que era engenheiro, estava muito satisfeito por ter conseguido aquele emprego porque ganhava muito mais.
Depois o motorista levou-nos a comer umas lagostas que devem ter sido surripiadas (foi num sítio à beira mar). Tudo pago em dólares.

Publicado por: Arroyo às abril 1, 2005 08:36 PM

Não percebo nada do assunto, mas ouvi ali no café da esquina alguém dizer que, em Economia, há diversidade de escolas, tendências, teorias e soluções para todos os gostos e paladares, sem que possam ser assacadas culpas aos economistas em caso de falha.
Ora isso também se verifica, por exemplo, em Astrologia, que apregoa soluções para todos os males do corpo e do espírito, sem que o astrólogo possa ser acusado em caso de falha.
Por isso não sei se o conceito de Ciência que se aplica à Economia é o mesmo que se aplica à Astrologia.

Publicado por: Senaqueribe às abril 1, 2005 09:42 PM

Senaquerib: A Metereologia também é uma ciência e às vezes parece Astrologia

Publicado por: Coruja às abril 1, 2005 10:39 PM

Teria todo o gosto em ver ripostada "a posta" Ciências Calmas na http://abruta.blogspot.com/ do dia 22 Março. Será outro anátema de Maldição à Economia?!?!
Bom blog, decididamente e vou voltar à Maldição da Economia (análise que me parece perfeitamente justa e acertada, ainda que julgue que os problemas da Economia sejam outros: ainda estou para os descrever)

Publicado por: ABRUTA às abril 1, 2005 11:09 PM

Maldição da Economia, maldição de Portugal, ou maldição de ambos?

Publicado por: Ramiro às abril 2, 2005 12:02 AM

Albatroz às abril 1, 2005 06:49 PM

A expressão «estado de natureza» tem no quadro do meu comentário um sentido muito restrito, que é o que lhe dá Hobbes, e define-se por uma situação anterior ou exterior ao contrato social. Sem contrato social o homem só pode viver da predação: toda a actividade económica é impossibilitada porque não há uma autoridade que garanta que quem lançou as sementes venha a colher os frutos. Daí a metáfora de Hobbes do homem como lobo do homem.
O lobo é um predador: vive da morte de outros. É um predador inocente porque apenas faz o que está na sua natureza.
O homem, esse, está longe de ser inocente; mas mesmo inocente seria sempre um predador se vivesse em «estado de natureza». É isto que Hobbes nos diz, e não, como erradamente nos ensinaram na escola, que o homem é «naturalmente mau». Dizer isto seria um juízo de valor, e Hobbes não faz juízos de valor.
O homem não é «naturalmente mau» nem «naturalmente bom»: procura sobreviver, para sobreviver tem que competir, e, na ausência de um contrato social, para competir tem que infringir os corpos, as vidas ou os bens dos outros.
O mesmo se passa com os colectivos, sejam eles clubes desportivos, igrejas, partidos ou empresas. As coisas são o que são, não o que nós queremos que elas sejam. O Estado limita a liberdade dos predadores; mas ao fazê-lo assegura a liberdade de todos.

Publicado por: Zé Luiz às abril 2, 2005 01:01 AM

A propósito de contrato social, eu acho particularmente repugnante que se evoque e considere o aumento da esperança de vida, para alterar a idade da reforma.

Publicado por: asdrubal às abril 2, 2005 12:53 PM

O problema é que é o aumento da esperança de vida que torna difícil a sustentação do sistema.

Publicado por: David às abril 2, 2005 01:17 PM

E vejo um inconveniente prático. A maioria das pessoas com mais de 65 anos já não está em condições de manter o mesmo estilo de trabalho. As empresas precisam de se rejuvenescerem e costumam fazê-lo. O aumento vai complicar-lhes a vida.

Publicado por: David às abril 2, 2005 01:19 PM

Concordo com asdrúbal sobre a idade da reforma - é mau em vários planos e conduz a uma sociedade mais stressada e deprimida.

Há exemplos de economias ideais em a "Utopia" de T.M. e também no ElDorado descrito em "O Candido" de Voltaire. Não são de forma alguma irracionais, têm uma lógica e coerência próprias que as torna admissíveis. São ideais obviamente, mas aí eu concordo com o poeta, "o sonho comanda a vida".

Publicado por: pyrenaica às abril 2, 2005 01:20 PM

Pois, mas sem dinheiro, porpouco que seja, não há sonhos.
Há pesadelos

Publicado por: Susana às abril 2, 2005 03:14 PM

Suzana, o dinheiro é uma convenção estabelecida entre os homens. Rearranja-se, inventa-se, haja imaginação. Para já há a revisão das condicionantes do PEC, depois há uma grande quantidade de impostos por cobrar aos ricalhaços (que são viciados nisso, coitados!), depois pode-se decidir politicamente que o BES vai subsidiar em x de euros políticas específicas re inserção social, investigação, etc. Poderá subir um pouco a inflacção, paciência. Confronte-se a imaginação com as indicações previsíveis sobre a estabilidade do sistema.

O fundamental é que vivemos todos sob o signo do dom e ainda não percebemos: o Sol, a chuva e o oxigénio produzido pelas plantas verdes, e ainda outras coisas são dados, não precisamos de complicar indefinidamente as coisas.

Publicado por: pyrenaica às abril 2, 2005 04:32 PM

Ora aqui está uma despesa justificada:
http://diariodigital.sapo.pt/dinheiro_digital/news.asp?section_id=2&id_news=49783

Publicado por: pyrenaica às abril 2, 2005 06:24 PM

Discordo desta frase do post inicial: «Obviamente que são os políticos que tomam as decisões. Cabe aos economistas elencar os resultados possíveis dessas decisões».

Toda a gente toma decisões, e todas essas decisões influenciam o percurso da sociedade. A "explicação" de que são os políticos quem toma as decisões é um "modelo" demasiadamente simplista. É claro que nem todas as decisões têm o mesmo peso no curso das festividades, mas as decisões dos economistas, seja no papel de políticos acidentais, seja no de gestores, investigadores, professores, jornalistas, etç, têm mesmo muita influência na nossa sociedade. A "racionalidade" de muitas das decisões tomadas por outros agentes (nomeadamente os políticos profissionais) é muito influenciada pelas "teorias" dos economistas, mesmo se defuntos, como referiu Keynes numa conhecida frase:

«Practical men, who believe themselves to be quite exempt from any intellectual influences, are usually the slaves of some defunct economist.»

Com esta frase Keynes pretenderia criticar os tais "homens práticos", mas podemos ler a frase ao contrário e ver como as ideias dos economistas, mesmo depois de mortos, continuam a assombrar o mundo dos vivos.

A afirmação original da Joana pode ser admitida no tal modelo laboratorial de "economia pura"; os modelos científicos (na Física como na Economia) são sempre simplificações da realidade: naquelas estritas condições aquilo funciona assim. Mas enquanto que as leis da Física são dominantes no universo sensível, no âmbito social as leis da Economia subordinam-se às leis da "política em sentido lato".

A "política em sentido lato" é praticada por todos os primatas, dos símios aos humanos: inclui as alianças oportunistas, o bluff, etç. A actividade económica (produção e troca) não existe desligada desta "política em sentido lato"; a política instituicional e formal (aquilo que usualmente designamos como Política) é apenas uma variante sofisticada daquela outra, criada para a vida urbana, mas inclui todos os ingredientes que se podem detectar num bando de macacos - e não digo isto de modo depreciativo.

Ou seja: a investigação das "leis" fundamentais da "economia pura" faz sentido, mas é ridículo querer depois organizar o mundo como se fosse um laboratório asséptico e isolado de todas as influências. É como se um físico, depois de descobrir uma relação fundamental entre átomos que determina a ocorrência de chuva, quizesse organizar toda a atmosfera terrestre em função dessa lei "pura", para poder ter chuva à hora certa, culpando os deuses por todas as outras causas que o impedem. Assim são os economistas neo-liberais: querem organizar o mundo à medida das leis que "descobriram"; fazem isto culpando o resto do mundo pela complexidade que o impede. No fundo são tão "planificadores" como os marxistas (o que se compreende: todos querem ser deuses, é humano...); e fazem isto insultando o lado oposto (o que também se compreende: são tão primatas como os outros...)

Mas a Joana está bem acompanhada nas suas convicções: o professor João de Sousa Andrade também coloca os economistas "fora da política" neste seu texto "Definição de moeda e efeito Berlusconi", disponível em:
http://gemf.fe.uc.pt/workingpapers/pdf/1997/gemf97_6.pdf
e que eu comentei aqui:
http://puraeconomia.blogspot.com/2005/03/efeito-berlusconi.html

P.S. - Francisco Pereira de Moura escreveu de facto, nas suas "Lições de Economia", após referir as definições de Marshall, Pirou e Robbins: "Mas, afinal, o que é a Economia? Não haverá, talvez, melhor resposta do que uma, aliás tradicional: 'a Economia é aquilo que fazem os economistas'."

Publicado por: Joao Aldeia às abril 4, 2005 06:05 PM

Joao Aldeia às abril 4, 2005 06:05 PM
Quando escrevi que «Obviamente que são os políticos que tomam as decisões» referia-me às decisões da esfera política: política fiscal, política monetária e cambial (quando possível), política de transferências sociais, política de investimentos públicos, política de gastos do Estado em termos gerais, etc..
Todos nós, agentes económicos, tomamos decisões, e todas essas decisões são relevantes economicamente.

Publicado por: Joana às abril 4, 2005 06:55 PM

Os modelos económicos, da teoria marginalista, da teoria dos jogos, etc., são modelos explicativos para explicar tendências..
Quando se lecciona microeconomia, por exemplo, explicam-se os modelos e para que os alunos percebam melhor como funcionam os mecanismos, dão-se problemas onde são quantificadas algumas variáveis, para se obterem resultados. Mas os alunos (e os professores) devem ter a consciência que se tratam apenas de quantificações sem relevo operacional.
Os modelos visam apenas a explicação de tendências gerais.

Publicado por: Joana às abril 4, 2005 07:02 PM

Tenho ouvido e lido que os economistas neo-liberais querem desregulamentar e desorganizar ... são aliás acusados de quererem desregulamentar os mercados, nomeadamente o mercado de factores. Você é o primeiro que escreve que os economistas neo-liberais querem organizar o mundo à medida das leis que "descobriram""
Poderá dizer que querem desregulamentar os mercados para que o mundo funcione de acordo com as leis que ... não foram eles que descobriram, mas os economistas clássicos.

Publicado por: Joana às abril 4, 2005 07:07 PM

Joana: parto do princípio que as leis económicas estão "certas", ou seja: nas condições especificadas, verifica-se a correlação entre as variáveis; e de um modo geral as leis económicas aceites (ou seja, que resistiram à prova da previsão-verificação em diferentes conjunturas económicas) comprovam o modelo clássico, ou neo-clássico, ou neo-liberal, enfim, o modelo do mercado. Mas depois não se pode organizar toda a sociedade em torno destas leis, como se a economia fosse prevalecente.

O erro dos neo-liberais é quererem que toda a sociedade seja organizada de acordo com o modelo simplificado do mercado, onde o governo é um "mal" e portanto deve ser minimizado, etç. Ora isso não é possível: à medida que se minimizam as funções do estado, os próprios agentes económicos (consumidores, empresas) desenvolvem comportamentos políticos oportunistas e mandam as leis da economia às urtigas - veja-se o caso Enron.

Publicado por: Joao Aldeia às abril 4, 2005 08:22 PM

Joao Aldeia às abril 4, 2005 08:22 PM:
Está equivocado. Um dos princípios basilares da economia neoclássica é que o Estado deve intervir na economia para evitar que sejam violadas as condições estruturais do mercado livre. Há mais de um século que existe o Sherman Act.
O Estado deve intervir na economia, do mesmo modo que intervem na vida social: impondo legislação que penalize mortes, roubos, práticas anti-sociais, etc. .
Se o Estado não proteger a livre concorrência, entramos num mundo arbitrário de salteadores e criminosos.
O que se pretende é que o Estado não ponha entraves à liberdade do mercado, assim como na sociedade não ponha entraves às suas opiniões.

Publicado por: Joana às abril 4, 2005 09:04 PM

Joana, conheço bem esse discurso: é a defesa simultânea de que: (1) o estado não deve intervir e (2) deve intervir para garantir a "não intervenção" (ou seja, o mercado livre). É uma contradição insanável (mal) disfaçada por um jogo de palavras.

Foi nesse contexto de criatividade semântica que se inventou o conceito da desregulamentação que traduz, precisamente, o desmantelamento do papel regulador do Estado.

O caso Enron, peço desculpa por repetir, é paradigmático; a regulamentação de preços continua a existir nos EUA (curioso, não é?); veja-se então o conhecido memorando da Enron para o Vice Presidente Dick Cheney "explicando" porque é que as autoridades federais se deveriam abster de estabelecer preços máximos (price caps) ou outras medidas destinadas a estabilizar o preço da energia. O memorando pode ser consultado aqui (sobretudo o parágrafo 3):
http://www.sfgate.com/cgi-bin/object/article?f=/c/a/2002/01/30/MN46204.DTL&o=0

Publicado por: Joao Aldeia às abril 5, 2005 09:48 AM

Não é critividade semântica. Dou-lhe um exemplo simples para ver se você percebe: O Estado deve ter polícias para assegurar que você não é assaltado e morto, mas não para lhe supervisionar os movimentos e lhe dizerem o que deve fazer.
Nunca disse que os EUA fossem um modelo de funcionamento. Apenas tenho escrito que tem funcionado melhor que o europeu.

Publicado por: Joana às abril 5, 2005 10:13 AM

Ponto prévio, o Semiramis na minha opinião é o melhor blog dentro do universo dos blogs que conheço(e olhe que são muitos). Parabéns ao autor.

Sou licenciado em economia pela univ. nova lisboa. apontei aqui a minha licenciatura uma vez que este post respeita a isso. Gostaria de saber em que padrões macroeconómicos poderá a Joana enquadrar as relações que existem em alguns povos africanos. estou a pensar por exemplo no ritual do potlatch onde a racionalidade dos agentes, ou pelo menos, racionalidade no sentido que lhe damos, não existe. como bem disse o comentador Daniel, a racionalidade dos agentes é um pilar que não é assim tão sólido como isso.

Apesar de partilhar a 90% as suas opiniões, há casos em que a Economia tem as suas limitações. Não sendo no entanto diferente de qq outra ciência.

Publicado por: Miguel às abril 5, 2005 11:28 AM

Em cima onde está macro deve estar micro.

Publicado por: Miguel às abril 5, 2005 11:30 AM

Joana: o exemplo que deu é irrelevante porque não é do domínio da regulação económica.

Na teoria económica, quando se acredita que os agentes económicos agem de acordo com o paradigma do individualismo metodológico, a conclusão inevitável é a de que a liberdade de mercado deve ser total; é por isso que os misesianos afirmam que são eles os únicos que levam essa análise até às últimas consequências, e é verdade.

Só que não existe um universo económico isolado, composto por unidades de "homo economicus" que, quando vão às compras e trabalham nas empresas, "desliguem" do resto e passam a obedecer apenas às leis da economia. É uma impossibilidade.

Posso dar-lhe uma analogia (não por pensar que não tenha percebido, mas porque eu posso não me ter explicado com suficiente clareza): um biólogo que estude o funcionamento do coração num laboratório, artificialmente ligado a uma máquina, pode determinar quais as condições óptimas (temperatura, inputs nervosos, etç) em que o órgão deve funcionar para maximizar o tempo de vida. No entanto esse óptimo não é susceptível de ser obtido num ser humano porque essas condições laboratoriais são impossíveis de manter num indivíduo. Se neste exemplo é fácil de ver a impossibilidade (creio eu), o mesmo não acontece na economia, dada a escala e complexidade (e também devido ao "ruído" das teorias e manipulação de dados).

Eis o que fazem os defensores da minimização do estado: dizem aos outros que se devem manter em certas condições óptimas - embora não exista nenhum sítio do mundo onde ocorram. Fazem o papel do biólogo referido que interpelasse os humanos na rua e lhes dissesse: vocês estão a agir mal, váo lá para o meu laboratório e mantenham-se lá imóveis e calmos.

Os EUA são um bom exemplo dessa impossibilidade: pregam a liberdade económica mas são das economias que levaram mais longe os mecanismos de intervenção estatal na economia, não na forma de propriedade pública do capital (modalidade mais grosseira), mas de outras formas mais sofisticadas e nem sequer muito disfarçadas.

Já agora, seria interessante saber quem são, na sua óptica, os "modelos de funcionamento".

Publicado por: Joao Aldeia às abril 5, 2005 01:54 PM

Leiam o "post", «O Estado Ladrão» (5-04-2005); uma estória "fisco-empresarial" concreta ...
.
http://jaquinzinhos.blogspot.com/

Publicado por: asdrubal às abril 5, 2005 04:10 PM

asdrubal às abril 5, 2005 04:10 PM:
No meu post de hoje cito essa história, pois testemunhei um caso idêntico

Publicado por: Joana às abril 5, 2005 08:11 PM

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