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julho 11, 2005

A Dimensão do Estado

Quando se fala do peso excessivo do Estado, imediatamente quem def(p)ende (d)a sua existência clama que se responda, sem ambiguidades, qual deve ser a dimensão do Estado. Vou hoje fazer algumas reflexões sobre essa matéria, sublinhando todavia que não é um problema de solução única. A solução depende da eficiência do próprio Estado, da «qualidade» do sistema fiscal e do projecto que se tem para o país: Qual o doseamento entre desenvolvimento e igualitarismo.

Como eu escrevi há dias «Sem a existência de um governo suportado num aparelho estatal está instalada a anarquia e não é possível uma actividade económica sustentável, nem há condições para o progresso económico e civilizacional.». Ou seja, se a despesa pública fosse 0% (ou não houvesse impostos), a receita fiscal seria 0 e o PIB seria nulo. Haveria produção, para subsistência, mas esta não teria expressão monetária, visto que «a ameaça de expropriação é real e permanente. A actividade económica reduz-se à subsistência». Esse seria o limite inferior.

À medida que as taxas de imposto vão aumentando, os bens e serviços públicos essenciais ao funcionamento normal do mercado vão sendo disponibilizados – justiça, defesa, infra-estruturas básicas, educação básica. Nesta zona os efeitos destes aumentos em eficiência produtiva vão contrabalançando os efeitos desincentivadores das taxas de imposto para a actividade económica.

Se se continuarem a aumentar as taxas de imposto, a partir de certo montante, as ineficiências e os desincentivos começam a fazer-se sentir de forma cada vez mais acentuada. Vai ocorrer o declínio dos rendimentos do trabalho, da poupança, do investimento e do próprio rendimento colectável. Os agentes económicos vêm-se forçados a abandonar as suas actividades «monetarizadas» para se dedicarem a outras actividades como o lazer, a evasão e a fraude fiscais, a trabalhos de rendimento não tributável, à improdutividade e ao absentismo. E isto porque as alterações nos preços relativos induzidas nas taxas dos impostos afectam as escolhas entre trabalho e lazer, entre consumo presente/futuro e poupança/investimento e entre economia legal e economia paralela.

Em teoria, se as taxas forem 100% não haverá interesse em desenvolver qualquer actividade tributável – o dinheiro que se recebe é totalmente entregue ao Estado. Nessa situação as receitas fiscais reduzem-se a zero e o PIB igualmente. Será o limite máximo. É óbvio que continuará a haver alguma produção, mas apenas para subsistência, sem expressão monetária, visto que «a ameaça de expropriação [pelo Estado] é certa. A actividade económica reduz-se à subsistência». Diversos autores sugerem que a partir dos 85% a 90% haveria uma oferta nula do sector tributável.
Laffer1.jpg

Ou seja, a receita fiscal seria nula quando T = 0, aumentaria e depois diminuiria, porque se anularia quando T = 1 (100%). Grosso modo um seria uma curva do tipo R = A×(T – T²), quando T = 0 então R = 0 e quando T = 1 (100%) então R = 0. O máximo desta curva seria quando a primeira derivada se anulasse (2T = 1 ou seja, T = 50%). O máximo da receita fiscal seria 0,25×A (A é um factor de escala).

Ao lado está a curva respectiva. O mesmo nível de receitas fiscais é atingido por duas taxas dispostas simetricamente relativamente ao ponto T = 50%. Portanto, a partir de T = 50%, já não vale a pena aumentar o nível de impostos.

Esta é uma formulação muito grosseira. Haverá outros factores que condicionarão a forma da curva, o valor de T que maximiza R, e o valor máximo de T que anula R.
LafferArmey.jpg

Esta curva é conhecida em Economia com a designação de Curva de Laffer, pois foi Laffer que a desenhou pela primeira vez, num guardanapo de papel, num restaurante em Washington há 30 anos. Paralelamente com esta curva existe a Curva de Armey, que relaciona o PIB com a Despesa Pública. Tem um andamento semelhante. Quando G = 0, PIB = 0 (já vimos que o PIB seria nulo em termos contabilísticos, mas teria um valor estimado, não monetário, mas traduzível em termos monetários, pois haveria uma economia de subsistência). Do mesmo modo que na Curva de Laffer, à medida que G se aproximasse dos 100% do PIB, a actividade económica tributável tenderia para zero. O PIB real não seria nulo, mas não haveria actividade económica tributável. As pessoas trocariam serviços mas não usariam meios monetários que pudessem conduzir à taxação.

Ao lado encontram-se as duas curvas tal como foram desenhadas pelo estudo do WorkForAll citado anteriormente. Na opinião destes autores flamengos (daí alguns erros de francês!) o máximo do PIB aconteceria com G = 30% e o máximo das receitas seria obtido com uma taxa fiscal de 45%. A partir de 85% as receitas e o PIB seriam nulos. Milton Friedman, num estudo onde comparou os USA e Hong Kong, concluiu que, embora o governo tivesse um papel essencial numa sociedade livre e aberta, a partir de um certo valor da Despesa Pública, a contribuição marginal para o PIB anular-se-ia e passaria a ser negativa. Situou esse valor algures entre 15% e 50%.

Mas estes limiares dependem de vários factores, à cabeça dos quais vem a «qualidade» do sistema fiscal. Dois sistemas fiscais que arrecadem ambos 40% da riqueza nacional podem ter efeitos muito diversos. Um deles ter efeitos negativos mitigados e o outro ser completamente castrador da actividade produtiva, tendo efeitos devastadores sobre essa actividade. Nesse ponto de vista, o nosso sistema fiscal é duplamente mau – por ter taxas elevadas e por ser um agente anquilosante da actividade produtiva, pela sua “má qualidade”.

Há um estudo de 1998, Government Size and Economic Growth, de Richard Vedder e Lowell Gallaway, que calculou a Curva de Armey, para os EUA. Testou várias variáveis independentes. A seguir apresento aquela que me pareceu mais interessante, que relacionava o PIB com a Despesa Pública (G), o desemprego (U) e o Tempo (T). A variável Tempo (o período em estudo compreendia os anos entre 1947 e 1997) foi utilizada para capturar os efeitos não explicáveis pelas outras varáveis – produtividade, tecnologia, intensidade do Capital, etc.:

PIB = A + bG – cG² + dT - eU

Os resultados foram os seguintes:
Armey.jpg

Estes resultados, apesar de terem um R2 muito elevado, carecem de algum poder explicativo, embora os sinais dos coeficientes estejam de acordo com as hipóteses de base. Todavia os autores cometeram um erro que se deve, sempre que possível, evitar: introduzir o Tempo como variável independente numa regressão múltipla baseada em séries temporais. Invariavelmente o Tempo torna-se a variável com maior poder explicativo, pois “captura” todos os factores que evoluem com o tempo. Basta ver que é a variável que tem um coeficiente com a Estatística t mais elevada, de longe. Parte do poder explicativo das restantes variáveis foi capturado por T.

Outras análises econométricas, adicionando outras variáveis, conduziram a resultados semelhantes, embora com R2 menor, mas com menor preponderância explicativa de T. Por exemplo:
Armey1.jpg

Resumindo, as curvas apresentadas acima estão, grosso modo, certas. Saber se a Despesa Pública óptima é 30% (como afirma WfA) ou 35%, como sugere o exemplo irlandês, e se o máximo de receitas fiscais se atinge com uma taxa geral de 45% ou 50% é discutível. Igualmente é discutível se o máximo, a partir do qual a actividade económica «monetarizada» se anula, acontece com 85% ou 90%. Seguramente será antes dos 100%. Aquilo que é evidente é que o andamento das curvas de Laffer e Armey está correcto, dentro de uma faixa de imprecisão relativamente pequena.

Ler ainda:
Sísifo e o Estado 1
Sísifo e o Estado 2
Sísifo e o Estado 3
Estado e Desenvolvimento 1
Estado e Desenvolvimento 2


Publicado por Joana às julho 11, 2005 11:30 PM

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Comentários

É bomlembrar o exemplo da Suécia mais estado, mais impostos, nivel de vida dos mais altos da Europa.

Só que a diferença entre o ordenado maximo e minimo é na Suécia de 1para 3
Em Portugal de 1 para 8

A Suècia tens dos niveis de impostos mais altos da Europa e a taxa de fuga ao fisco das mais baixas.

É normal um empresário sueco ir para a empresa nos transportes públicos, os de cá são muito finos, vão em carro de alta cilindrada até com motorista.

O grande cancro de Portugal é a falta de empresários dignos desses nome.

Publicado por: espectro às julho 11, 2005 11:52 PM

É bom lembrar que a Suécia, conjuntamente com a Dinamarca, é dos países europeus que menos tem crescido. O modelo sueco está a ser questionado pelos próprios, dada a estagnação económica.
Em 1970 era dos países mais adiantados, mas agora está ao nível da Itália.

Há mitos que se criam ...

Publicado por: Joana às julho 11, 2005 11:59 PM

Trabalho muito interessante, pela ideia e pela informação que disponibiliza.
Parabéns

Publicado por: Novais de Paula às julho 12, 2005 12:13 AM

Sempre que se fala em Estado, há uns mitómanos a falarem da Suécia.
A Suécia é um modelo esgotado, apesar da elevada qualificação da população, a sua disciplina e rigor no trabalho. Está numa crise muito grande, com a economia estagnada.
Apesar de tudo ainda têm a ABB (Sueca-Suiça), a Volvo, etc.

Publicado por: Novais de Paula às julho 12, 2005 12:17 AM

Sempre que se fala em Estado, há uns mitómanos a falarem da Suécia.
A Suécia é um modelo esgotado, apesar da elevada qualificação da população, a sua disciplina e rigor no trabalho. Está numa crise muito grande, com a economia estagnada.
Apesar de tudo ainda têm a ABB (Sueca-Suiça), a Volvo, etc.

Publicado por: Novais de Paula às julho 12, 2005 12:18 AM

Por exemplo, na Dinamarca despede-se praticamente sem pré-aviso e sem indemnização. É certo que há subsídios de desemprego transitórios e há apoio na requalificação. Mas o mercado de emprego é completamente liberal. Um tipo pode ir para a rua no dia seguinte.

Publicado por: Novais de Paula às julho 12, 2005 12:21 AM

Este é mais um estudo que dá que pensar. A malta que adora o Estado, geme, mas estes estudos têm algum fundamento sólido.

Publicado por: Rui Sá às julho 12, 2005 12:28 AM

Joana às julho 11, 2005 11:59 PM

Mas mesmo assim os Suecos ainda tem algo interessante prós Latinos, as Suecas !

Porquê ? ( se os Tugas soubessem, ai meu Deus...)

Porque há imenso desemprego, mas como a protecção Social é enorme, então as meninas só pretendem uma coisa, homem para fazer Bébé. Depois de terem o Bébé podem ser dispensados e poderão viver à conta do subsídio do bébé, da mamã e do papá.

Sério... miúdas com uns 20 e poucos anos e com 3 e 4 bébés, carrinhos especiais...
Eu que já andei em tanta cidade europeia, vi mais bébés numa semana a passearem na rua ( e em finais de Setembro) do que em toda a minha vida.

Pensei nessa da Segurança Social. Mas um amigo meu lá residente e divorciado de 4 suecas, explicou-me melhor a técnica apurada delas.

E dizia ele, o Governo ainda quer pôr um subsídio de Nascimento nos 1500 contos, olha se aprovarem isso tenho mesmo que fugir daqui, que elas passam a atacar e não perdoam.
Resumindo...há miséria...mas com bébés vai-se alegremente vivendo !

Publicado por: Templário às julho 12, 2005 12:28 AM

Templário: Não sei se um Estado Social assim se vai aguentar muito tempo!

Publicado por: Rui Sá às julho 12, 2005 01:24 AM

E os pais? Não têm que pagar pensão?

Publicado por: lopo dias às julho 12, 2005 01:24 AM

Templário: Esse Estado Social é bom, mas não dura!

Publicado por: Sa Chico às julho 12, 2005 01:25 AM

Esse estudo retoma as teses anteriores. Achei-o consistente

Publicado por: bsotto às julho 12, 2005 01:33 AM

Esse estudo retoma as teses anteriores. Achei-o consistente

Publicado por: bsotto às julho 12, 2005 01:33 AM

Esse estudo retoma as teses anteriores. Achei-o consistente

Publicado por: bsotto às julho 12, 2005 01:33 AM

Peço desculpa, mas carreguei demais na tecla

Publicado por: bsotto às julho 12, 2005 01:35 AM

Rui Sá às julho 12, 2005 01:24 AM

Isto foi há 6 anos, que eu Saiba o Estado Social ainda Vigora... bem como as vigorosas Suecas e seus Bébés.

Publicado por: Templário às julho 12, 2005 01:50 AM

Sa Chico às julho 12, 2005 01:25 AM

Como os gestores da Erikson, da Volvo, da ABB e outros, devem estar entalados com uns bébés, o melhor é eles pagarem.... a Segurança Social... porque como deves saber, como as mulheres não se pode brincar... eheheheheh

Publicado por: Templário às julho 12, 2005 01:57 AM

Voltando ao trabalho da Joana, é o primeiro trabalho dela aqui no Semiramis que me deixa sossegado, uma vez que Portugal está com 46% e portanto na sua máxima pujança. È obra... e eu que estava quase convencido que estávamos falidos e a caminho da Argentina.

Obrigado Joana !

Publicado por: Templário às julho 12, 2005 02:01 AM

Por uma feliz coincidência a pergunta hoje posta aos leitores do Correio da Manhã é:

SALÁRIOS: É aceitável que gestores públicos ganhem mais do que o Presidente da República?

Sem qualquer dúvida a resposta dos leitores é esmagadoramente NÂO.
Vamos supor que a pergunta era:

Quem trabalha e tem mais responsabilidade em Portugal; O Presidente da República ou o Presidente da (ANA - CGD - TAP - Ponha o nome que lhe apetecer)

Qual seria a resposta?

Publicado por: carlos alberto às julho 12, 2005 09:19 AM

Essa pergunta é difícil de responder. Mas o mais irresponsável, aquele que só sabe dizer banalidades é mesmo o PR.
Mas por essa ordem de ideias, até os almeidas deveriam receber salário superior.

Publicado por: David às julho 12, 2005 09:51 AM

Templário em julho 12, 2005 02:01 AM:
Não é isso que vem no texto. O crescimento máximo será com uma Despesa Pública entre 30% e 35%. O máximo de receitas fiscais seria com taxas entre 45% e 50%. A partir daí as receitas começariam a descer, mesmo aumentando as taxas.

Publicado por: Rui Sá às julho 12, 2005 09:58 AM

E aqueles valores seriam num Estado que tivesse um sistema fiscal justo e eficiente. Não é o nosso.

Publicado por: Rui Sá às julho 12, 2005 10:02 AM

carlos alberto às julho 12, 2005 09:19 AM

Quem tem mais responsabilidade em Portugal (e no mundo inteiro) é o meu médico!
Sem qualquer dúvida!

Publicado por: Senaqueribe às julho 12, 2005 10:04 AM

Senaqueribe: espero que o tenha escolhido bem.
E lhe pague de acordo com essa responsabilidade!

Publicado por: c seixas às julho 12, 2005 10:12 AM

É bom ver que alguma pedra se foi furando e apresentar estes raciocínios sobre o peso do estado já não causa uma onda de histeria e insultos.

Publicado por: Mário às julho 12, 2005 10:13 AM

carlos alberto às julho 12, 2005 09:19 AM: Quanto menos ganham, quanto são, em média, menos competentes (pois têm que arranjar outros), e mais prejuízos dão as empresas.
E mais pagamos nós para as sustentar

Publicado por: Susana às julho 12, 2005 10:14 AM

Os trabalhos citados pela Joana têm um defeito: confundem o PIB com a riqueza efetivamente produzida. Com efeito, como a própria Joana reconhece, se a fiscalidade fôr 100%, o PIB anula-se - mas, e isto é crucial, isso não quer necessariamente dizer que se viva mal. Quer apenas dizer que toda a economia passou à clandestinidade.

Se o sistema fiscal tiver taxas muito altas mas fôr também muito ineficiente, é possível que, embora o PIB seja muito baixo, o bem-estar da população seja alto - pois que a economia clandestina é muito grande.

Além destas considerações, gostaria de perguntar à Joana uma coisa. Na tabela que apresentou no fim do seu post, não seria conveniente usar a utilização de ENERGIA como um fator explicativo, em vez de se usar o TEMPO, por exemplo? É que o TEMPO, por si so, não explica, decididamente, o desenvolvimento económico; mas a utilização de ENERGIA tem um poder explicativo bastante grande, segundo penso. Porque é que os economistas dão tão pouca importância a este fator?

Publicado por: Luís Lavoura às julho 12, 2005 10:14 AM

Novais de Paula às julho 12, 2005 12:21 AM

Pois. Mas na Dinamarca os sindicatos têm um poder enorme. Os patrões têm grande liberdade perante o Estado, mas pouca liberdade perante os sindicatos.

Publicado por: Luís Lavoura às julho 12, 2005 10:20 AM

Luís Lavoura às julho 12, 2005 10:14 AM:
Apanhou-me "de raspão", mas vou responder-lhe:
O PIB é medido, na Contabilidade Nacional, através dos fluxos financeiros. Se não houver trocas "monetárias" o PIB é zero. Pode estimar-se um PIB de economia paralela, como se faz usualmente, mas é uma estimativa. Nos valores oficiais essas estimativas não entram.

Publicado por: Joana às julho 12, 2005 10:20 AM

A Suécia está estagnada, informam-nos. Mas, pergunto, qual é o mal disso, se o nível de vida da população se mantem altíssimo? Se, mesmo com a economia sem crescer (mas porque é que ela haveria de crescer, se a população vive bem e é numericamente estável?), o pessoal continua a ter tudo aquilo de que necessita?

Publicado por: Luís Lavoura às julho 12, 2005 10:22 AM

Quando os autores se referem às taxas, não se referem a taxas específicas, mas à percentagem de riqueza que o Estado arrecada, independentemente das taxas de cada imposto.
Quando eu falei da «qualidade» do sistema fiscal, referia-me à forma como as taxas são concebidas e à eficiência da arrecadação.
Quanto ao Tempo terá que questionar os autores. A minha opinião exprimi-a no meu texto

Publicado por: Joana às julho 12, 2005 10:23 AM

Joana às julho 12, 2005 10:20 AM

Sei isso perfeitamente. Se a fiscalidade fôr 100%, os fluxos financeiros anulam-se e o PIB também. Mas, como eu disse, o nível de bens e serviços económicos não se anula. Simplesmente, a economia passou toda à clandestinidade.

Isto implica que o facto de a fiscalidade ser 100% não quer dizer que o povo viva mal. Quer apenas dizer que não há economia formal.

Publicado por: Luís Lavoura às julho 12, 2005 10:24 AM

UM NICHO DE MERCADO

Recebi hoje gratuitamente mais uma publicação da União Europeia.
Lá leio que a Suécia tem 8,9 milhões habitantes para um superfície de 411 milhares de quilómetros quadrados e um PIB de 25,300 contra 10,4 milhões de portugas em 92 mil quilómetros quadrados e um PIB tão pequenino que ainda não consegui ler o número.

Ora é óbvio que há muito espaço onde colocar suecos e portanto atendendo aos ensinamentos avulso que aqui dão dados há aqui uma grande oportunidade:

Exportemos tugas para ajudar aqueles enfezados a fazerem mais e mais, e talvez melhores suecos, ou pelos menos feitos com mais agrado das suecas.

O slogan:

""Vá para a Suécia onde o phoder ainda está na ponta da baioneta!""

Publicado por: carlos alberto às julho 12, 2005 10:39 AM

Publicado por: carlos alberto às julho 12, 2005 09:19 AM
Publicado por: David às julho 12, 2005 09:51 AM

digam lá aqui à gente que Vcs tens uma frustraçãozinha política : "uma maioria, um governo, um presidente" !!!

Publicado por: zippiz às julho 12, 2005 10:44 AM

Luís Lavoura em julho 12, 2005 10:24 AM:
Parece-me que uma economia que viva apenas da subsistência e da troca de bens ou serviços, ou seja a economia "natural", não vive bem.
Não tem automóveis, Televisores, transportes públicos, electricidade, abastecimento de água, recolha de lixo, come do que cultiva, etc.
Acha que "não quer dizer que o povo viva mal"?

Publicado por: Hector às julho 12, 2005 10:48 AM

Hector às julho 12, 2005 10:48 AM

O texto da Joana dá a ideia de que, quando a fiscalidade é 100%, se dá uma catástrofe: o PIB desce para 0 e toda a gente morre de fome. Aquilo que eu pretendi salintar com os meus comentários é que isto não é assim: o facto de o PIB descer para 0 não quer dizer que o pessoal fique todo à míngua. A economia até pode continuar razoavelmente pujante e realizadora - só que na clandestinidade. É sabido, por exemplo, que diversos países comunistas tinham economias negras que garantiam a boa parte da população um nível de vida bem melhor do que aquele que era proporcionado pelas economias formais.

Tome o exemplo daquelas funcionárias no Luxemburgo que vão para o trabalho em car-sharing. Não contribuem em nada para o PIB, mas chegam ao trabalho e a casa mais depressa, mais cedo e de melhor humor do que se fossem de camioneta. Têm um bom serviço de transporte, mas o PIB não o reflete.

Publicado por: Luís Lavoura às julho 12, 2005 11:07 AM

carlos alberto às julho 12, 2005 10:39 AM

Pelo menos O Estado Sueco considera que a actividade de fazer Bébés é uma actividade Importante para o Sobrevivência do Próprio Estado.

O que é curioso é que os Tugas há 20 anos eram dos maiores especialistas nesta Arte, e actualmente estão abaixo da produção Sueca !

Porque será ?

Já nem nisso superamos os Suecos !

Publicado por: Templário às julho 12, 2005 11:14 AM

Sem querer ser um interprte dos "textos sagrados", logo ao princípio está escrito:
"Ou seja, se a despesa pública fosse 0% (ou não houvesse impostos), a receita fiscal seria 0 e o PIB seria nulo. Haveria produção, para subsistência, mas esta não teria expressão monetária, visto que «a ameaça de expropriação é real e permanente. A actividade económica reduz-se à subsistência». Esse seria o limite inferior."

Publicado por: Hector às julho 12, 2005 11:15 AM

Joana:

Como ao longo de todos estes meses tenho sido eu, de todos os seus comentadores, quem mais tem insistido na questão dos limiares, tomo a liberdade de presumir que a sua frase inicial se refere a mim. Se é este o caso, permita-me três observações: primeiro, não «clamei» por coisa nenhuma, limitei-me a apontar o facto óbvio que a questão dos limiares se põe naturalmente netas matérias, e que você lhe fugia. Segundo, que se eu defendo a existência do Estado, você, pelos vistos, também. Demorou a confessá-lo, mas defende-a. Terceiro, que não «dependo» do Estado: ao longo da minha vida já trabalhei para empresas privadas e em regime liberal, sempre com êxito, e estou preparado para voltar a fazê-lo a qualquer momento.

Posto isto, que é acessório, vamos ao essencial, que é uma palavra de felicitações. Finalmente aborda, neste post e no de há dias, a questão dos limiares. Quanto ao de há dias, já tive oportunidade de lhe manifestar a minha concordãncia: como não o fazer, se a tese que expõe é inatacável do ponto de vista dum Hobbesiano como eu?

Quanto ao se post de hoje, sou incompetente para o criticar, embora não incompetente para o compreender (à justa) nem para tirar dele algumas inferências. E as inferências que tiro são estas:

Primeiro: No que toca as receitas fiscais, a situação no Portugal de hoje está dentro dos limites aceitáveis, ou excede-os em pouco. Haveria talvez vantagem em reduzir impostos, mas há margem para o fazer de forma selectiva, aumentando eventualmente alguns.

Segundo: No que toca as despesas do Estado, estamos muito acima dos limites aceitáveis, e é necessário reduzi-las. Infelizmente esta redução não poderá ser, pelo menos numa primeira fase, tão selectiva como seria de desejar.

Terceiro: o grosso do trabalho a fazer está, contudo, na eficiência do Estado e na qualidade do sistema fiscal.

Quarto: o doseamento entre crescimento e igualdade é uma decisão política, não económica (como você escreve, é uma questão de «projecto»). Registo com agrado o facto de você admitir, creio que pela primeira vez neste seu blogue, que o crescimento económico não é um valor absoluto, mas sim algo que tem que ser optimizado em articulação com outros valores.

Publicado por: Zé Luiz às julho 12, 2005 11:22 AM

Novais de Paula às julho 12, 2005 12:21 AM

Quando a McDonald's se quis instalar na Dinamarca foi obrigada a prescindir da sua política habitual de não admitir trabalhadores sindicalizados.

É que o liberalismo não pode funcionar só num sentido...

Publicado por: Zé Luiz às julho 12, 2005 11:31 AM

Publicado por: zippiz às julho 12, 2005 10:44 AM

Eu não tenho frustrações, nem essa nem nenhuma.
Bem concedo, o Benfica ás vezes...

O meu desespero é perceber que a Suécia está á distância de uma, (bem você sabe o que eu quero dizer), e não ter dinheiro para ir lá testar-me.

Publicado por: carlos alberto às julho 12, 2005 11:36 AM

Considero este texto muito importante, pelos seus fundamentos científicos, na linha dos anteriores. Nos blogs liberais ataca-se o peso do Estado e o que isso representa para a prosperidade económica de uma “descritiva”. Na generalidade com razões certeiras, às vezes com uma acutilância exagerada.

Nestes posts da Joana há uma tentativa de fundamentar cientificamente (e econometricamente) esta questão. Na minha opinião há 2 factores que concorrem para isso.

O primeiro é o facto deste blog ter comentadores muito mais críticos que os outros blogs liberais, que me dá a ideia que falam uns com os outros. Este é mais “aberto” e mais sujeito a críticas de outros quadrantes.

Não sei as razões que levaram a essa "abertura", mas é um facto.

Publicado por: L M às julho 12, 2005 11:53 AM

O segundo é que a autora é uma pessoa voluntariosa em extremo, que quando confrontada com o contraditório, não assobia para o lado. Portanto, as críticas são um estimulo e não um aborrecimento

Acresce a isso uma elevada qualificação na Econometria, como é fácil observar. Repare-se na crítica existente no post «Todavia os autores cometeram um erro que se deve, sempre que possível, evitar: introduzir o Tempo como variável independente numa regressão múltipla baseada em séries temporais.» Portanto a Joana não se ficou pelo estudo em si, mas leio-o criticamente, mesmo que isso fosse contra o que queria provar.

Isso indica uma abordagem científica e despida de preconceitos

Perdoem-me estes comentários, mas acho que são merecidos

Publicado por: L M às julho 12, 2005 11:54 AM

Zé Luiz às julho 12, 2005 11:31 AM
“Quando a McDonald's se quis instalar na Dinamarca foi obrigada a prescindir da sua política habitual de não admitir trabalhadores sindicalizados.”
Pois, mas os sindicatos admitem que os trabalhadores sejam despedidos quase “na hora”.

Publicado por: L M às julho 12, 2005 11:57 AM

L M: um dos nossos problemas é os sindicatos defenderem cegamente aquilo que julgam serem os interesses dos trabalhadores.
No Norte da Europa têm uma visão mais "economicista". Por isso são mais desenvolvidos.

Publicado por: David às julho 12, 2005 12:06 PM

Lembro-me que, a seguir ao 25 de Abril, era moda atacar esses sindicatos acusando-os de "colaboracionistas" com o patronato.
Agora, que o modelo sueco e dinamarquês procura novas vias, elogiam-no!

Publicado por: David às julho 12, 2005 12:09 PM

L.M. em julho 12, 2005 11:54 AM

A Joana já disse aqui que o L.M. é o único comentador habitual deste blogue que ela conhece pessoalmente.

De onde, parece-me que os comentários elogiosos que o L.M. tece à Joana são diretamente dirigidos a uma conhecida ou amiga sua, ou seja, a modos que lhe está a dar graxa...

(Não quero com isto dizer que esses comentários sejam imerecidos.)

Publicado por: Luís Lavoura às julho 12, 2005 12:15 PM

Ontem no BBC World uma presidente de uma empresa chinesa dizia que os chineses eram "empreendedores naturais", tinham propensão para correr riscos.

Enquanto isso, por cá perdemos tempos infindos com fantasias doutrinárias. Somos naturalmente poetas, fantasistas, utópicos, servidores da ilusão. Estão na moda agora os debates sobre o estado da nação e as pessoas querem ter um rumo, porque toda a sua natureza original foi expoliada devido a centenas de anos de educação para a tristeza.

Mas Portugal não precisa de rumo, precisa apenas de querer viver. Os portugueses não se reproduzem, não querem trabalhar, não têm ocupações que os realizam, as ambições são infantis.

Publicado por: Mário às julho 12, 2005 12:28 PM

Quando alguém tem de perdir perdão por ter feitos elogios é porque atingimos um ponto civilizacional muito baixo.

Publicado por: Mário às julho 12, 2005 12:31 PM

Mário em julho 12, 2005 12:28 PM:
O Weber tem que refazer o clássico sobre "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo"!

Publicado por: Hector às julho 12, 2005 12:38 PM

Luís Lavoura às julho 12, 2005 12:15 PM
Eu não preciso de dar “graxa” à Joana. Fui colega do pai no Técnico e tenho mantido contactos com ele, mas só há 2 anos, na sequência de um diálogo no Expresso on-line, que se traduziu numa troca de e-mails, descobrimos, acidentalmente essa circunstância.
O que eu escrevi corresponde à impressão que tenho.

Publicado por: L M às julho 12, 2005 12:39 PM

LM:

O que torna as medidas liberais mais fáceis de aceitar no Norte da Europa do que em Portugal é o facto de lá terem contrapartidas e cá não.

A existência ou não de contrapartidas explica também o facto de as medidas liberais serem mais fáceis de aplicar, politicamente, por um governo de Esquerda do que por um de Direita.

Em Portugal tem-se procurado impor um liberalismo selectivo que só funciona para um lado. Como na UE e nos EUA, de resto: a PAC europeia e os subsídios agrícolas americanos são iliberais em extremo, como são iliberais em extremo as limitações à imigração.

Um caso anedótico mas extremamente ilustrativo deste carácter selectivo é a notícia sobre a empresa privada de transportes que processou um grupo de ex-clientes por terem posto em prática um esquema de «car sharing».

Enquanto o liberalismo se traduzir, na prática, por «toda a liberdade para as empresas, nenhuma para os outros», é claro que os sindicatos e as associações de consumidores rejeitarão o liberalismo. E fazem muito bem.

Publicado por: Zé Luiz às julho 12, 2005 12:41 PM

Mário em julho 12, 2005 12:31 PM
Você está cheio de razão. Eu bem pedi antecipadamente perda, mas não foi suficiente.

Publicado por: L M às julho 12, 2005 12:42 PM

ESPECTRO: Em Portugal essa diferença é de 8 para 1! Se o Víctor Constâncio ganha 18000€/mês, então eu deveria ganhar cerca de 2500. O problema é que só ganho 1220 (E há quem esteja muito pior!) Quem arrecada a diferença?

Zippiz: digam lá aqui à gente que Vcs tens uma frustraçãozinha política : "uma maioria, um governo, um presidente" !!!
!Isso queria o Cavaco! Mas o Sócrates tem muito mais: Uma Maioria...Um governo...Um Presidente da República....e um Presidente do Banco de Portugal!
Por isso é que o palerma do PR quer que enterremos a cabeça na areia e deixemos de falar na crise. Uma rica ajuda, sem dúvida!

Publicado por: elmano às julho 12, 2005 12:46 PM

Zé Luiz em julho 12, 2005 12:41 PM:
O que você escreve mostra que não tem qualquer ideia sobre como funciona a economia real em Portugal. Portugal deve ser o país da UE, de longe, onde há mais entraves às empresas, a burocracia que limita a sua acção é maior e o sistema fiscal mais injusto e prejudicial à actividade económica.
É claro que como a fiscalização também funciona mal, há pequenos (e médios) empresários que furam os esquemas, nomeadamente no Norte e em empresas de baixa qualificação.
Você vive de mitos no que respeita ao funcionamento de mepresas. Mitos acalentados pelos Ferraris desses empresários de meia-tijela que não trazem qq valor acrescentado à economia.

Publicado por: L M às julho 12, 2005 12:49 PM

Se você me disser que o peso do Estado é mais fácil de aceitar no Norte da Europa porque lá há contrapartidas e cá os serviços públicos são uma misério e parte da população recorre aos privados (educação, saúde, etc.), aí terá razão

Publicado por: L M às julho 12, 2005 12:52 PM

Zé Luiz em julho 12, 2005 11:22 AM

Sem querer diminuir o seu ego, não me referia a si. Aliás, não me referia a ninguém em especial.

Não me parece que uma despesa pública de 50% do PIB seja aceitável (as receitas fiscais são menores, porque uma parcela é subsidiada pelo défice, mas traduzir-se-á, fatalmente em impostos futuros). Estamos é perto do limite em que se o governo aumentar as taxas, as receitas fiscais começam a diminuir.

Nunca pretendi a eliminação do Estado, mas o seu emagrecimento e maior eficiência do seu funcionamento. Você, no seu afã de defender o Moloch estatal, é que me atribuiu essa intenção.

Repare que sempre defendi que o Estado devia emagrecer em cerca de 1/3. Ou seja, a DP deveria passar de 50% do PIB, para 33%. Que aliás, é o valor irlandês

Publicado por: Joana às julho 12, 2005 01:08 PM

L M às julho 12, 2005 11:54 AM:
Agradeço-lhe os elogios.
Só não digo que são imerecidos (como é de regra) para não contrariar o Luís Lavoura (julho 12, 2005 12:15 PM)!

Publicado por: Joana às julho 12, 2005 01:11 PM

Alertei já, nalguns comentários para a necessidade de, em paralelo com a redução do peso do Estado e a melhoria da sua produtividade, se encontrarem soluções concretas para a economia portuguesa.
É necessária uma definição de linhas orientadoras que permitam o desenvolvimento da nossa economia.
O plano de investimentos do Governo em infraestruturas, deveria surgir como consequência dessa definição de rumo. E, ou ando muito distraído, ou ainda não vi debate sobre este assunto.
Não se trata de criar uma economia dirigida. Trata-se de, em conjunto com os empreendedores e os detentores de capital, definir um rumo para o país.

Há uns anos atrás, veio Porter (se bem me lembro, num estudo encomendado por Mira Amaral)dizer-nos quais os sectores em que devíamos apostar. Falou da floresta, do vinho, dos moldes, etc.
Mais recentemente, foi a Viniportugal a encomendar novo estudo ao MonitorGroup, desta feita, especificamente sobre o cluster do vinho.
Mas, não passamos disto. Perdemo-nos em estudo e diálogo. É uma pena.

Um exemplo:
No caso específico da floresta, temos, entre outros, apoios à constituição de organizações de produtores, ajudas ao investimento que podem atingir os 100% (não reembolsáveis), prémios de manutenção, prémios por perda de rendimento, etc.
E, contudo, os proprietários não investem. Talvez não tenham dimensão da propriedade, idade ou formação adequadas.
Outrora, a floresta era, para muitos proprietários rurais, um seguro de vida. Talvez, a falta de investimento em produtos de retorno a longo prazo seja um sinal dos tempos que vivemos.
Teremos de avançar para a criação de medidas coercivas sobre o direito (sagrado) da propriedade?
Já me chocou mais...

Publicado por: Vítor às julho 12, 2005 01:14 PM

Esqueci-me de dizer que a variável W (última equação) representa a % de cada período que correspondeu a tempo de guerra. Durante esses príodos (Guerra Civil, 1917/18, 1941/45) a população activa variou sem ser por maior ou menor desemprego.

Publicado por: Joana às julho 12, 2005 01:16 PM

Vítor às julho 12, 2005 01:14 PM: É difícil recrutar empregados. Só pessoas acima dos 50 anos ou mesmo 60 é que aceitam trabalhar no campo. A solução são os trabalhadores de Leste (africanos e brasileiros só em zonas urbanas)

Publicado por: Joana às julho 12, 2005 01:19 PM

Joana às julho 12, 2005 01:08 PM

«Nunca pretendi a eliminação do Estado, mas o seu emagrecimento e maior eficiência do seu funcionamento. Você, no seu afã de defender o Moloch estatal, é que me atribuiu essa intenção.»

Joana, esta sua afirmação é tão injusta como seria da minha parte dizer: «nunca pretendi a destruição da economia privada mas apenas a sua subordinação à lei; você, no seu afã de defender os Molochs privados, é que me atribuiu essa intenção».

Quanto ao emagrecimento do Estado, a minha preocupação (já o escrevi antes, recorda-se?) é a dificuldade em eliminar tecido adiposo sem destruir massa muscular. E, como o óptimo é inimigo do bom, eu à cautela prefiro uma dieta que não seja radical.

Em Portugal o Estado é débil há séculos e gordo há décadas. Historicamente a economia portuguesa tem sido mais prejudicada pela debilidade do Estado do que pela sua adiposidade. Hoje, na conjuntura, não sei dizer qual das duas realidades é mais prejudicial, mas tenho a certeza que ambas o são.

Tenho assim por desiquilibrada e excessiva - não em tese, mas na aplicação concreta ao caso português - a sua ênfase na necessidade (que é real) de emagrecer o Estado. Penso que se trata duma transposição doutrinária e acrítica para a realidade portuguesa de princípios fundados na observação de outras realidades.

Publicado por: Zé Luiz às julho 12, 2005 01:58 PM

"Mas Portugal não precisa de rumo, precisa apenas de querer viver. Os portugueses não se reproduzem, não querem trabalhar, não têm ocupações que os realizam, as ambições são infantis."

Está aí tudo dito, Portugal não precisa de projecto ou outra idiotice centralizada como a comunicação social gosta de lamentar sempre a invocar que apareça alguém superior e infalível para lhe indicar o rumo, precisa é de deixar os Portugueses procurar a sua prosperidade e serem livres.

Publicado por: lucklucky às julho 12, 2005 02:01 PM

"Não se trata de criar uma economia dirigida. Trata-se de, em conjunto com os empreendedores e os detentores de capital, definir um rumo para o país."

Isso é impossível, lembra-me o Catroga na TV2 a dizer que a OTA iria durar até ao Séc 22 ! hehe como é que ele saberá se existirão aviões?

Publicado por: lucklucky às julho 12, 2005 02:05 PM

lucklucky às julho 12, 2005 02:01 PM

Gostaria que V. tivesse razão.
Mas, julgo que não é bem assim.

Um rumo, ou um projecto, não são uma "idiotice centralizada".
Num mundo cada vez mais globalizado, os pequenos e médios empresários (sobretudo os portugueses) têm alguma dificuldade em dominar todas as variáveis associadas à entrada num determinado sector de actividade.
Mais, o sucesso só será conseguido se, concomitantemente, o Estado "facilitar" a vida ao empresário, e se a estratégia de cada um, fizer parte de uma estratégia global.

Não poderá ser, como hoje li na comunicação social a propósito dos plano de incentivos às PME's: temos que investir na exportação, temos que inovar, temos que apostar em novos mercados. Isto é conversa balofa.
Isto não é nada.
Andamos a dizer isto há 30 anos.
Toda a gente sabe disto.

O que é preciso saber é "o quê" e o "como" e o "a quem".


Obviamente que isto não prejudicará em nada a liberdade de cada um, muito menos dos empresários, nem a sua ânsia de prosperidade. Se V. quiser fazer à sua maneira, estará à vontade.

Publicado por: Vítor às julho 12, 2005 02:17 PM


L M às julho 12, 2005 11:54 AM

"O segundo é que a autora é uma pessoa voluntariosa em extremo, que quando confrontada com o contraditório, não assobia para o lado. Portanto, as críticas são um estimulo e não um aborrecimento"

Concordo e diria ainda mais... a autora desde que foi Iluminada ao ler/estudar Adam Smith, sentiu estar no caminho certo da Verdade, a partir daí, nada a fará mudar, excepto o Tempo... por isso esse factor T é tão importante !

Publicado por: Templário às julho 12, 2005 02:34 PM

"definir um rumo para o país"

Mas, num mundo em globalização, o que é o país?

Para quem, exatamente, se pretende definir um rumo?

Para os trabalhadores portugueses?

Para os pequenos empresários portugueses?

Para os grandes detentores de capital portugueses?

É que, os rumos que se pretenda definir para esses diferentes setores podem ser contraditórios entre si!

Se se diz, por exemplo, que as empresas têxteis portuguesas devem deslocalizar a sua produção para Marrocos, esse rumo poderá ser muito bom para os empresários têxteis portugueses, mas muito mau para os trabalhadores.

Se se diz, por exemplo, que as grandes distribuidoras portuguesas devem investir a criar hipermercados nos países de Leste, isso será bom ou mau para os portugueses na sua generalidade?

Num mundo globalizado, já não há "um rumo para o país". Em rigor, de facto, já não há país.

Publicado por: Luís Lavoura às julho 12, 2005 03:01 PM

""Num mundo cada vez mais globalizado, os pequenos e médios empresários (sobretudo os portugueses) têm alguma dificuldade em dominar todas as variáveis associadas à entrada num determinado sector de actividade.""

Está enganado... depende dos empresários, os Iluminados conhecem tudo e nada lhes escapa, os outros vão aprendendo assim deixo-lhe aqui exemplos simples só sobre preços:

- Quando o Dólar sobe, os produtos sobem, claro até o zé da esquina sabe isso. Logo quando o dólar baixa os produtos Deveriam Baixar ! Mas Não Baixam e mantém o mesmo Preço !

- Um pequeno empresário meu amigo, faz umas 4 ou 5 Importações por ano de material siderúrgico. Quando o Dólar caíu 20% em relação ao Euro ele viu melhores perspectivas para o seu negócio.
Enganou-se
Ao começar a negociar com os Chinas, eles subiram-lhe em exactamente 20% o produto !

Lição nº 1

No mercado não há parvos ! e os Chinas são os menos Parvos !

Isto talvez não venha em nenhum livrinho de economia...

Publicado por: Templário às julho 12, 2005 03:09 PM

Chegamos a um novo cisma:

De um lado estão aqueles que acham que Portugal precisa de um rumo. De outro, aqueles que pensam que isso é uma questão com pouco sentido, uma espécie de manobra de diversão.

Publicado por: Mário às julho 12, 2005 03:32 PM

Mário às julho 12, 2005 03:32 PM

O cisma não é novo. Pois os sucessivos governos que temos tido nunca preconizaram um rumo.

PS- Estou a ser injusto...foi Preconizado o Rumo da Pedinhcha ao entrarmos na CEE.

Publicado por: Templário às julho 12, 2005 03:43 PM

Luís Lavoura às julho 12, 2005 03:01 PM:
"Se se diz, por exemplo, que as empresas têxteis portuguesas devem deslocalizar a sua produção para Marrocos, esse rumo poderá ser muito bom para os empresários têxteis portugueses, mas muito mau para os trabalhadores.

Se se diz, por exemplo, que as grandes distribuidoras portuguesas devem investir a criar hipermercados nos países de Leste, isso será bom ou mau para os portugueses na sua generalidade?"

O que é bom para os empresários portugueses, é bom para a Economia, como um todo, mas não é necessariamente bom para o país.

Para isso, o Estado devia organizar-se para criar um "bom ambiente" aos empresários e levá-los a investirem cá. Não é dirigi-los, é atraí-los.

Você, numa loja, para atrair clientes não os obriga a comprar lá. Torna a loja agrdável e os produtos apetecíveis em qualidade e preço

Publicado por: Hector às julho 12, 2005 03:43 PM

E melhor ambiente é menos burocracia, uma administração pública mais ágil, uma justiça que funciona, um regime fisca mais leve e, principalmente, mais justo (aquilo que a Joana desgna por «qualidade»), etc.
Esse é o papel do Estado, em vez das banalidades insensatas do PR

Publicado por: Hector às julho 12, 2005 03:46 PM

"O que é bom para os empresários portugueses, é bom para a Economia, como um todo, mas não é necessariamente bom para o país."

Claro ! é bom essencialmente para o empresário e/ou empresa que se deslocaliza e pode até nem o País ganhar um centimo.

Se os empresários/empresas decidirem reinvestirem os lucros nesses Países ou até decidirem terem as sedes nesses Países e pagarem aí impostos.

A globalização nestes termos benefícia apenas os empresários e os Países onde investem.

Publicado por: Templário às julho 12, 2005 03:50 PM

Antigamente...para se evitarem estas barbaridades havia Leis severas sobre a Fuga de Capitais, e só circulavam Capitais autorizados pelos Estados. Isso evitava o Desastre actual !

Mais uma vez, se prova a Importância da Intervenção do Estado na Defesa dos seus interesses e dos seus cidadãos !

Publicado por: Templário às julho 12, 2005 03:55 PM

As Leis severas sobre a Fuga de Capitais agem em dois sentidos: impedem a saída, mas desincentivam a entrada. Quem vai investir num país onde depois não sabe se conseguirá sair se as coisas não correrem bem?

Publicado por: Sa Chico às julho 12, 2005 04:00 PM

Sa Chico às julho 12, 2005 04:00 PM

Você já está deslocalizado também....

de que estamos a falar ?

Do investimento Chinês na Europa e nos EUA ? ou do contrário ?
Para se ter uma noção basta ver os números do Superavit Comercial Chinês nos últimos 2 anos:
2003 26 mil milhões de dólares 2004 58 mil milhões de dólares 2005 já vai em 30 mil milhões só no 1º semestre.

Essas quantias é quanto ficaram a dever a Europa e os EUA seus 2 principais clientes !

Publicado por: Templário às julho 12, 2005 04:08 PM

"havia Leis severas sobre a Fuga de Capitais"

Essas leis foram sendo progressivamente desmanteladas sob pressão dos Estados Unidos quando estes decidiram, a partir de 1973, que o futuro da sua economia estava na finança e não mais na indústria. A partir dos anos 70 os EUA compreenderam que não podiam ganhar a competição industrial contra a Europa e o Japão. Resolveram então que o seu futuro estava em concentrarem-se no setor financeiro, atraindo os capitais de outros países para os EUA.

Todo o desenvolvimento dos tigres asiáticos (Coreia, Taiwan) foi feito sob estritos controles estatais à fuga de capitais. Se não fosse tais controles rígidos, esses países nunca se teriam desenvolvido.

Pelo contrário, países como o Brasil e a Argentina sempre tiveram liberdade de circulação de capitais. O resultado foi as classes abastadas desses países preferiam enviar os seus capitais para os EUA a investi-los no próprio país. Por outro lado, esses países usufruíram de um amplo investimento externo - principalmente o Brasil - ao contrário, penso, daquilo que aconteceu com os tigres asiáticos, que se desenvolveram essencialmente à custa do seu próprio capital.

Publicado por: Luís Lavoura às julho 12, 2005 04:23 PM

Luís Lavoura em julho 12, 2005 04:23 PM: Pelo menos no que toca ao Brasil isso não era verdade. Sempre me recordo de haver restrições severas à saída de dinheiro do Brasil.
Essas classes abastadas devem ter posto o dinheiro fora, e acredito que sim e em grande escala, por métodos "paralelos"

Publicado por: Hector às julho 12, 2005 04:31 PM

O problema da Argentina foi o despesismo incontralável do Estado, feito por governantes populistas, apoiados pelos eleitores anestesiados e iludidos por esse populismo. Até o FMI foi na cantiga!
Até que chegou a altura de pagar a factura.

Publicado por: David às julho 12, 2005 05:14 PM

Haverá coisa mais risível do que achar que uma lei pode impedir a fuga dos capitais?

Contudo, há muitas leis que são muito eficazes na diminuição do capital.

Publicado por: Mário às julho 12, 2005 05:16 PM

Mário em julho 12, 2005 05:16 PM:
Todas as tentativas de impedir a fuga de dinheiro goraram-se. Apenas surtiram efeito nos pequenos investidores, que não têm os "conhecimentos" dos outros.

Publicado por: Rave às julho 12, 2005 05:25 PM

"O problema da Argentina foi o despesismo incontrolável do Estado"

Esse foi também um problema do Brasil. Por volta de 1988 convivi de perto com um cientista brasileiro, que me contou como era viver no Brasil sob uma inflação da ordem dos 100% ao mês. Histórias de terror. Uma pessoa recebia o seu salário e tinha que o gastar imediatamente todo, em compras para todo o mês, porque sabia que passado uma semana ou duas aquele dinheiro já valeria muito menos.

Mas o Brasil curou-se, e parece que a Argentina também se está a curar.

Publicado por: Luís Lavoura às julho 12, 2005 05:28 PM

Mário às julho 12, 2005 05:16 PM

É impossível impedir totalmente a fuga de capitais. Mas ela pode ser fortemente restringida. E foi-o, em muitos países, durante muito tempo.

Nos anos 70, quando Portugal tinha um sério problema de falta de divisas, era muito difícil fazer um pagamento qualquer ao estrangeiro (tinha que se justificar ao banco a sua necessidade), só se obtinha divisas para se ir ao estrangeiro em quantia limitada, etc. Todos os pagamentos e transferências internacionais eram controlados e tinham que ser justificados.

Isto foi prática corrente em muitos países. Se não o tivesse sido, podemos ter a certeza de que grande parte da classe média portuguesa teria posto todas as suas poupanças lá fora, em dólares, e o país teria ficado de rastos.

É claro, hoje os tempos são outros. Mas convem não esquecer o passado.

Publicado por: Luís Lavoura às julho 12, 2005 05:34 PM

Como foi escrito acima, isso só dificultou a vida dos "pequenos". É o problema do dirigismo económico - fecham a porta e eles saem pela janela.

Publicado por: Hector às julho 12, 2005 05:43 PM

Nunca ninguém escreveu um artigo sobre o mito do Porteiro, que tenta impedir a fuga dos capitais, mas só consegue que eles não entrem? Se já existe a falácia da janela partida, este que mete uma porta também poderia ter sucesso :)

Publicado por: Mário às julho 12, 2005 06:15 PM

O Mito do Porteiro é que ele ao não deixar que as pessoas saem, faz com que elas não queiram entrar.
E as que conseguem fugir pela janela não voltam!

Publicado por: Coruja às julho 12, 2005 07:09 PM

É que nem o Pai Natal, mesmo pela chaminé, vai lá, com medo de ficar enclausurado.

Publicado por: Coruja às julho 12, 2005 07:10 PM

Coruja às julho 12, 2005 07:10 PM

Porque é que só falam de "bocas" jornalisticas?

vamos a factos sérios !

Miterrand quando foi a 1ª vez eleito, disse que iria taxar as grandes fortunas. Logo se levantaram vozes, que o Capital iria fugir etc, seria o fim do mundo.
Ganhou, taxou, pressionaram com a queda da bolsa e Miterrand manteve-se firme e o capital regressou !
É sabido que o Capital pressiona, tal como agora o BES pretendeu pressionar o Expresso sobre o mensalão brasileiro.
Mas com firmeza tudo volta ao normal...

Publicado por: Templário às julho 12, 2005 08:13 PM

Pois, pois. Mas as grandes fortunas e muitas empresas continuam a sair da França. O desemprego vai nos 11%. Foi por isso que votaram Não.

Publicado por: Sa Chico às julho 12, 2005 09:14 PM

Foi o que aconteceu... Na prática Mitterrand quase levou a França ao desastre.

Por isso é que o Governo mudou em 1984 para Fabious
(Pró-mercado) com uma forte crise instalada. Conseguiu mais ou menos estancar o problema....

Publicado por: lucklucky às julho 12, 2005 09:16 PM

In the first few years of his presidency and with the help of a Socialist Prime Minister and cabinet, Mitterrand nationalized a broad sector of the French economy and increased taxes sharply. But Mitterrand's reformist zeal met a hostile reception both at home and abroad, at a time when most Western nations were unsympathetic to Socialist ideology. As taxes and unemployment rose — and the value of the franc and exports fell — the Socialist experiment floundered and the government was forced to cut spending and adopt an austerity policy known at the time as "la rigueur." It was at this point, between 1982 and 1983, that Mitterrand's forces abandoned the temptation to withdraw behind a protectionist wall and instead embraced the free market economy and the cause of European integration.

The voters who had welcomed the Socialists in 1981 deserted them in the 1986 parliamentary elections . Many supporters of the Socialist cause were now disillusioned. On the far right, Jean-Marie Le Pen and his National Front, with its xenophobic campaign to expel immigrant workers, played to public fears about unemployment and the "mongrelization" of French society. A more moderate swing to the right was reflected in the majority won by the rightist coalition in the National Assembly. Mitterrand had two years of his presidential term to go and a government of an opposing ideology with which to work.

http://www.time.com/time/europe/timetrails/france/france810518.html

Publicado por: lucklucky às julho 12, 2005 09:22 PM

Ler estes comentários começa a ser hilariante com os tiros no pé que alguns insistem em dar.

Publicado por: Mario às julho 12, 2005 09:33 PM

Os socialistas franceses chegaram cheios de farroncas ao poder. Até mantiveram a aliança com os comunistas, apesar destes terem ficado com uma votação muito baixa. Dois anos depois já era o desastre completo.

Publicado por: Rui Sá às julho 12, 2005 10:00 PM

As nacionalizações foram reprivatizadas, e toda a porcaria que tinham feito foi revogada.

Publicado por: Rui Sá às julho 12, 2005 10:02 PM

Mario em julho 12, 2005 09:33 PM:
É hilariante, mas também instrutivo. Muitos dos mitos que a nossa comunicação veicula são desmentidos, quer no posts do blog, quer nas caixas de comentários onde aparecem uns sujeitos a fazerem-se eco desses mitos e outros a desmentirem.

Publicado por: Filipa Sequeira às julho 12, 2005 10:32 PM

Sa Chico às julho 12, 2005 09:14 PM

As que fogem como deveria saber. são as de menor importância...porque as Airbus estão a dar cartas às Boeing´s e aproveitam para lhes vender um sistema de telecomunicações para que se possa também telefonar de um Boeing .

Filipa Sequeira às julho 12, 2005 10:32 PM

Aqui os camaradas ultra-liberais não desmentem nada, antes pelo contrário até confirmam ! Só que dão-lhe depois a interpretação que se vê...a França na desgraça, trá lá....É o que se vê... têm aquela pujança e ainda sustentam 6 milhões de desempregados, olha o que ela seria se não os sustentasse....
mas entendem e bem que é preferível terem desempregados a viverem melhor que certos empregados Ingleses e Americanos .


Publicado por: Templário às julho 12, 2005 10:55 PM

É como nós! Temos aquela pujança e ainda sustentamos 500 mil desempregados e 750 mil funcionários públicos.

Publicado por: ernesto às julho 12, 2005 11:16 PM

Sem falar nos reformados!

Publicado por: Coruja às julho 12, 2005 11:27 PM

E a nossa pujança é porque estamos fossilizados. Nem sentimos o peso.

Publicado por: Coruja às julho 12, 2005 11:28 PM

Foi só para marcar o ponto do centenário.

Publicado por: Lima às julho 13, 2005 12:30 AM

Este post está muito bem esgalhado.
E os comentários permitem melhorar a ideia que temos sobre estas matérias.

Publicado por: saavedra às julho 13, 2005 12:52 AM

joana, a curva de laffer apenas pretende explicar reacções de curto prazo e não tendências de longo prazo, ou estarei confundido ?

outra dúvida que tenho, prende-se com os efeitos imediatos do reagonomics ? tanto quanto saiba, a oferta agregada (através de aumento do investimento - oferta de capital) não reage imediatamente à baixa de impostos (os efeitos são diferidos normalmente de 2 ou 3 períodos - até porque é necessário que os agentes tenham confiança que as medidas não são revogadas por dá cá aquela palha) ou estarei também enganado ?

Confesso que já me esqueci de algumas dessas teorias, mas isso é natural quando se deixa de trabalhar no assunto ...

Isto tudo, não invalida que o peso do estado português é claramente excessivo e que em conjunto com a sua imprevisibilidade, burocracia, a falta de respeito pela propriedade privada (que melhor exemplo que a estupidez proposta para o novo regime do arrendamento) e as dificuldades impostas à circulação de capitais (entradas e saídas de capital, criação e encerramento de empresas) são factores altamente dissuasores de qualquer investimento ...

Bem sei que o ponto tem a ver com a oferta de trabalho e não com a oferta de capital, mas o equilíbrio do mercado de trabalho, depende não só da oferta como também da procura ...

quanto ao templário, gostava de notar que estamos nos 50 % (aliás um pouco mais) e não nos 46 %, pelo que em teoria, este aumento da carga fiscal decretado pelo sócrates originará a perda de receitas fiscais ...

Publicado por: bcool às julho 13, 2005 02:13 AM

A curva de Laffer explica o comportamento dos agentes económicos face à variação de impostos. Presumo que haja efeitos logo no curto prazo (evasão)e outros que apareçam a médio e longo prazo (abandono progressivo da actividade «mercantil»)

Publicado por: Joana às julho 13, 2005 09:49 AM

Quanto à curva de Armey, ela foi deduzida no estudo americano utilizando as variações da Despesa Pública por intervalos de 5 anos (se bem me lembro, pois não tenho o documento à mão, agora)

Publicado por: Joana às julho 13, 2005 09:52 AM

Lembro-me de um caso recente publicitado pela comunicação social, de um individuo cuja casa ardia e ele não acordava. Às tantas, já era ele que começava a arder mas ainda não acordava. Só quando a sua vida já estava seriamente em risco, meio carbonizado, acordou.

Não tenho ilusões que em termos de ideias isso seja a norma para muitos. Por isso admiro a tenacidade da Joana, que se dá ao trabalho de nos nos mostrar um pouco do que sabe, mesmo sabendo ela que a maioria não quer saber e, à partida, apenas tentarão argumentar contra.

Publicado por: Mário às julho 13, 2005 10:17 AM

Esse tipo teve sorte em não ter acordado já morto.
Pode muito bem vir a acontecer isso connosco.

Publicado por: Diana às julho 13, 2005 10:49 AM

Ausentei-me umas horas e como disse há uns tempos: "Curiosamente, quando surge um comentário equilibrado, atacamos pelo flanco que fere (ainda que ao de leve) a posição que, inflexivelmente, temos vindo a defender."

Luís Lavoura às julho 12, 2005 03:01 PM
"Já não há país". Mais uma visão catastrofista. Então não vale a pena definir um rumo?. OK. Nem vou discutir. Com esse argumento, perdi a vontade de explicar os meus argumentos.

Templário às julho 12, 2005 03:09 PM
Os empresários dividem-se em iluminados e inocentes. Esta visão é catastrofista e maniqueísta.
Já agora, não ando a ler livros de Economia, pelo menos não com a frequência que devia...
Mas, curiosamente, o diálogo com os livros começa a parecer mais interessante que o diálogo com as pessoas...

Publicado por: Vítor às julho 13, 2005 11:13 AM

A blogoesfera mostrou-me as vicissitudes da globalização. Porque, ao contrário do que pensava, praticamente só me interesso por coisas nacionais. O país existe, basta passar a fronteira e sabemos estar num local diferente. Até a luz é diferente, mais suave. Os espanhois, sem muitas diferenças genéticas em relação a nós, tem gestos diferentes, mais decididos, não perdem tempo com floreados.

Já a questão do país ter um rumo não é tão óbvia. Se se entender que ter um rumo é ter um conjunto de desígneos nacionais, em que apostemos quase tudo, de forma meio fanática, eu discordo. Não é isso que nos salvará.

O país não tem que ter um rumo. Tem que ter é um conjunto pequeno mas forte de intituições que permitam a cada um definir o seu rumo.

Publicado por: Mário às julho 13, 2005 11:41 AM

Mário às julho 13, 2005 11:41 AM

Quando olhamos para as palavras dos outros, com a idiossincrasia dogmática de que dificilmente nos libertamos, interpretamos o que não está escrito.
Não fale em fanatismo e em apostar tudo, para depois discordar, porque, obviamente, disso também eu discordo.

O problema é que todos falamos de problemas, raramente de soluções.
E o que eu pretendo dizer é exactamente isso - seria talvez mais produtivo falar de soluções.

Publicado por: Vítor às julho 13, 2005 11:56 AM

Publicado por: Vítor às julho 13, 2005 11:56 AM

Apesar de ter pegado no seu último comentário, não acompanhei de perto os seus comentários anteriores. Por isso não veja no que disse alguma tentativa de discordar de si à força.

O seu comentário serviu-me apenas de estímulo para desenvolver um pouco algo que já tinha dito antes por aqui.

Além do mais, há uns dias atrás tabém disse que se perdia muito tempo com discussões estéreis mas não via muita vontade de debater problemas concretos e suas soluções.

Publicado por: Mário às julho 13, 2005 12:08 PM

Mário às julho 13, 2005 12:08 PM

OK!
Got the message...

Publicado por: Vítor às julho 13, 2005 12:13 PM

Mário e Vítor: Quando se analisa uma situação, a primeira fase é, invariavelmente, o diagnóstico.
Uma das razões que andamos em círculos, é que não chegamos a acordo minimamente consensual sobre o diagnóstico.
Basta ler os comentários.
Só assim se passará às fases seguintes: Definição das medidas e implementação das medidas.

Publicado por: Joana às julho 13, 2005 01:06 PM

Atenção que o diagnóstico não é apenas dizer que "isto está mal". É também determinar as causas directas e indirectas dessa situação.
E é aí que todos discordam.

Publicado por: Joana às julho 13, 2005 01:08 PM

Joana às julho 13, 2005 01:06 PM

Não quero passar por cima do diagnóstico.
O que me aborrece é que alguns definem, à priori, qual é a doença. Só depois vão tentar arranjar os meios de diagnóstico para provar a sua tese.

Publicado por: Vítor às julho 13, 2005 01:22 PM

Começo a concordar com aqueles que, há décadas, acham que as causas da doença são os capitalistas e a "inevitável" exploração do homem pelo homem.

Porque antes de existir uma economia de mercado em moldes capitaistas, os níveis de desenvolvimento eram tão baixos que estes problemas nem se punham. Não tinha sentido em falar de défice, crescimento económico, funções do estado. As sociedades dependiam sobretudo do acaso, encomendando desde cedo a alma ao Criador, sem grande perspectivas de melhorar as suas condições de vida.

As doenças de que falamos são doenças só possíveis com um certo nível de abastança, doenças só possíveis, portanto, com um certo nível de capitalismo.

Publicado por: Mário às julho 13, 2005 01:57 PM

Temos de aceitar, sem nos vergarmos, aqueles que têm o seu modo peculiar de ver estas coisas. Sabemos que os seus ódios ideológicos levam-nos a gastar as suas energias em teorias da conspiração, numa tentativa constante de provar as suas certezas.

Mas as mudanças de que a sociedade precisa, tantas vezes propostas aqui, dependem muito mais de uma aceitação geral da população. Não precisamos de tentar convencer quem nunca será convencido. O máximo que se pode fazer é ir desmontando as suas falácias. Nestas questões, consigo encontrar muito mais inteligência (porque a inteligência implica a capacidade de resolver problemas) em pessoas simples e pouco intruídas, mas sem vicíos mentais. É apenas uma questão de perseverânça.

Publicado por: Mário às julho 13, 2005 02:11 PM

As pessoas simples e pouco instruídas não foram viciadas pelo ensino. Aprenderam com a vida que é a grande escola.

Publicado por: lopo dias às julho 13, 2005 02:21 PM

Mário às julho 13, 2005 02:11 PM

Deixe-me fazer uma ressalva ao seu comentário, e, já agora, ao de lopo dias às julho 13, 2005 02:21 PM:
É necessário respeitar a inteligência dos que não partilham das nossas ideias e não cair na falta de inteligência de os apelidar de pouco inteligentes.
É também necessário não cair na tentação de procurar a concordância das "pessoas simples e pouco instruídas". Aliás, as mudanças de que o país necessita vão, numa primeira fase, penalizar essas pessoas simples e pouco instruídas.

Publicado por: Vítor às julho 13, 2005 02:38 PM

"Quando G = 0, PIB = 0 (já vimos que o PIB seria nulo em termos contabilísticos, mas teria um valor estimado, não monetário, mas traduzível em termos monetários, pois haveria uma economia de subsistência)"

Uma economia de subsistência? Mas que disparate é este? Eu que estava a gostar de ler o blogue e a admirar a Joana e leio isto. Glup!

Quando muito a economia não gerava rendimentos ao... Estado. O resto é balelas. Desculpem, mas é verdade. Então só o Estado poderia garantir infraestruturas? Educação básica? Justiça?

É melhor reler e estudar a história económica. A começar pelo Código de Hammurabi e seguir por aí fora. ;-) O mundo não começou com o fim do Antigo Regime.

A Curva de Laffer, quando muito, mede o nível óptimo para a arrecadação de receitas fiscais. E a partir do qual, desse limite óptimo, a tributação é prejudicial para o próprio Estado, pois baixa as receitas fiscais. Penalizando a actividade económica e dessa forma a arrecadação de receitas fiscais.

Economia de subsistência? ;-)

Publicado por: anti-comuna às julho 15, 2005 10:39 PM

Alguns comentadores não perceberam que na realidade é um modelo cícilico. Quando se diz que "se a fiscalidade fosse 100%" é apenas um enunciado formal.

Quando Lavoura diz que "o nível de bens e serviços económicos não se anula. Simplesmente, a economia passou toda à clandestinidade" já parece o Rosas a dizer que aumenta os funcionários públicos e diminui o deficit.

Se a economia passa à clandestinidade, os 100% formais significam na realidade 0%, porque só se cobram impostos sobre rendimento declarado... que é zero...

O Estado não teria receita e os serviços públicos paravam, voltando ao ponto inicial.

Como é obvio, isso inviabiliza a sua conclusão que "isso não quer necessariamente dizer que se viva mal".

O problema é simples. O Estado não é eficiente, nem para cobrar impostos.

Os únicos convencidos que o Estado é eficiente são alguns funcionarios públicos, que acham que trabalham muito, mas que com o seu ritmo natural (ou adaptado) não aguentavam 1 semana na privada.

50% de Estado significa que o sector privado tem de se pagar a si mesmo e ainda pagar um sector público do seu tamanho. Quanto mais Estado, menos empresas para suportar o Estado. Quanto mais empresas, mais receita fiscal existe, ou seja, o peso na economia é menor mas recolhem mais dinheiro em valor absoluto.

Só quando houver colapso é que os políticos acordam, tanto faz ser o Socrates como o Frade Louçã. No fundo são piores que funcionários públicos, pois têm muita retorica e muito pouco trabalho naquelas costas...

Publicado por: Um conhecido da Joana às julho 18, 2005 07:39 PM

Muito se tem discutido qual a dimensão óptima do Estado.

Gostaria de chamar a atenção para o facto de certamente já termos passado pelo valor óptimo.

Basta verificar o retrocesso na Justiça (parada), na Segurança (quase 40% de aumento de crimes violentos nos últimos 10 anos), na Educação (é melhor desistir das olimpiadas da matematica para não passarmos vergonhas), na Saúde (ainda bem que tenho seguro de saúde), etc.

Neste estado de coisas, admitindo que estamos já na curva descendente, as medidas de aumento "formal" dos impostos poderão conduzir a uma redução da receita fiscal.

Tome-se como exemplo o imposto automovel, que até nem é bom exemplo porque é um bem importado ou com lucro expatriado.

Se o IA diminuisse haveria mais vendas de automóveis, provavelmente com mais receitas fiscais e teriamos carros melhores (o Belmiro já tinha percebido isto há 20 anos quando abriu o Continente, pelo que julgo que estes os políticos não servirão para o balcão de uma merciaria)...

Medidas como 21% de IVA significa mais uma verba que o Estado fica refém, e naturalmente mais comércio em Badajoz.

E o pior é que, na tenue eventualidade de daqui resultar aumento da receita fiscal, tal representa que terão mais dinheiro para gastar.

Pensem nisso...

Publicado por: Um conhecido da Joana às julho 18, 2005 08:00 PM

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