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maio 03, 2005
Estado e Desenvolvimento (2)
Keep it simple, stupid
Os números que indiquei no post de ontem têm poder explicativo e mostram que o peso do Estado num dado momento, medido em percentagem do PIB, influencia negativamente o crescimento subsequente. Mostram igualmente que quanto maior é o ritmo do crescimento do peso do Estado, maior é a desaceleração do crescimento económico. Ou seja, o crescimento económico é entravado pelo peso do Estado e pela rapidez com que esse peso aumenta. E estes resultados são confirmados por um outro resultado que mostra que o investimento reage negativamente ao peso do Estado. E estas conclusões apoiam-se mutuamente se o investimento reage negativamente, afecta obviamente o crescimento económico.
É óbvio que as equações de regressão estimadas só são válidas dentro de certos limites. Se não houvesse quaisquer despesas do Estado (G=0) o crescimento não seria 7,72% ao ano, nem o investimento 28,4% do PIB. Provavelmente não haveria investimento e o país estaria num caos. O Estado tem que existir para assegurar a protecção dos cidadãos e dos seus bens, a aplicação da justiça, a soberania nacional e evitar que no processo de funcionamento da economia surjam situações de violação das regras da concorrência, suprimindo as barreiras que limitam a liberdade económica, nomeadamente aquelas que resultam das tentativas de agentes económicos de criarem cartéis, barreiras à entrada num dado mercado, etc.
Por outro lado, o Estado deve fornecer serviços que organizem as desigualdades sociais e económicas de forma a trazer aos mais desfavorecidos melhores perspectivas e a serem compatíveis com o objectivo permanente da igualdade das oportunidades. Ou seja, equidade na política de educação, segurança social, saúde, infra-estruturas públicas, etc.. Todavia aqui o Estado tem que evitar a tentação do igualitarismo, que conduziu, pouco a pouco, aos modelos sociais absurdos e em vias de falência. Não é a igualdade que é importante, mas sim a equidade. Este princípio é compatível com um aumento da desigualdade. Pouco importa que o rico se torne muito mais rico se o pobre se tornar menos pobre. Portanto o Estado deve definir com rigor o seu core business e não se dimensionar para além do aceitável.
O Estado deve ater-se ao princípio KISS: keep it simple, stupid.
O estudo apresentado ontem refere-se a países com alguma identidade: democracias estáveis onde existe o primado do direito e com níveis de desenvolvimento e organização social sem diferenças abissais entre eles. Por isso, a introdução de variáveis adicionais, tais como a variação do número de anos de escolaridade e da taxa de inflação revelaram-se, segundo os autores, sem poder explicativo.
Nesse sentido o estudo em causa alargou o leque de países para 60, incluindo os da OCDE. Não foram indicados os países em causa, mas presume-se que foram aqueles para os quais era possível obter dados fiáveis. Foram excluídos os países da antiga URSS e da Europa de Leste, bem como a China. Mesmo assim, o período de análise cingiu-se a 1980-1996, por dificuldade em obter dados anteriores.
Foram introduzidas mais algumas variáveis independentes interessantes:
1) dados sobre a segurança da propriedade e do primado da lei: riscos de expropriações; riscos de violação contratual, etc. Os dados foram obtidos a partir de uma empresa internacional de análise de risco. Como é usual em estatística não paramétrica, aquelas indicações foram quantificadas com scores de 1 a 10. Designei por Π essa variável. Simultaneamente introduziram outra variável, relativa à variação daqueles scores ao longo do período em análise ΔΠ.
2) Foi introduzida uma variável para avaliar os efeitos da inflação sobre o crescimento. Os autores escolheram o desvio-padrão da taxa inflação de inflação, o que me parece razoável, porquanto o mais importante, para um agente económico, é a incerteza associada a este fenómeno. Designei-a por σi.
3) Foi introduzida ainda uma outra variável representativa da escolaridade média dos indivíduos de idade superior a 25 anos (E). Embora o número de anos de escolaridade não seja suficiente, pois não entra em conta com a qualidade do ensino, acaba por ser uma boa variável proxy. Em princípio os países com mais anos de escolaridade terão um ensino de melhor qualidade (ou pelo menos não inferior).
4) A variável ΔG foi subdividida em 3 variáveis ΔG1 (variação de G entre 1980 e 1985); ΔG2 (variação de G entre 1985 e 1990); ΔG3 (variação de G entre 1990 e 1995).
Foram estimadas 4 equações de regressão múltipla
(1) ΔY = 8,27 0,62xG 1,15x ΔG1 1,15x ΔG2 0,68x ΔG3 + 1,37xΠ + 1,46x ΔΠ 0,82x σi
R2= 0,48
(2) ΔY = 8,72 0,49xG 1,17x ΔG1 0,97x ΔG2 0,60x ΔG3 + 1,30xΠ + 1,36x ΔΠ 0,57x σi + 0,61xE
R2= 0,54
(3) ΔY = 8,81 0,42xG 1,01x ΔG1 0,83x ΔG2 0,31x ΔG3 + 1,13xΠ + 1,25x ΔΠ 0,68x σi + 0,085xI
R2= 0,49
(4) ΔY = 8,98 0,40xG 1,09x ΔG1 0,81x ΔG2 0,40x ΔG3 + 1,17xΠ + 1,25x ΔΠ 0,52x σi + 0,55xE + 0,048xI
R2= 0,54
Estes resultados confirmam tudo aquilo que tenho escrito, em quase dois anos, neste blog.
Em primeiro lugar os estimadores com maior significado estatístico são os que se referem ao risco que pende sobre a propriedade e sobre o cumprimento dos contratos. Quanto menor é o risco, maior é o crescimento. Já sublinhei aqui diversas vezes a importância do bom funcionamento da justiça no desenvolvimento da nossa economia. Um país de caloteiros insolventes não é atractivo para um investidor.
Em segundo lugar o peso do Estado (G) e as variações desse peso têm um efeito fortemente negativo sobre o crescimento e os estimadores dos respectivos coeficientes têm um elevado nível de significado, excepto os relativos a ΔG3, o que é compreensível, visto que os seus efeitos ainda não se fizeram sentir completamente. É evidente que deve haver alguma multi-colinearidade entre estas 4 variáveis e a repartição do peso da influência de cada uma no crescimento económico, indicada nas equações, pode estar enviesada por esse fenómeno. Mas isso não invalida a acção conjunta destas variáveis o nível da despesa pública tem uma influência preponderante no crescimento e age negativamente, entravando-o. Este é um resultado incontornável.
A variação dos anos de escolaridade age positivamente e tem algum significado estatístico. Enquanto isso, e como seria expectável, o risco de variações da taxa de inflação age negativamente no crescimento, embora o significado estatístico do estimador seja baixo.
Uma última palavra sobre o Investimento. Tem um efeito positivo, mas um significado estatístico baixo. Eu atribuo isso ao efeito da multi-colinearidade, visto haver uma forte correlação (negativa) entre o investimento e as variáveis relativas à despesa pública. O que é importante é haver uma sólida relação entre crescimento e despesa pública (negativa) e entre crescimento e investimento (positiva). É menos importante saber como essa relação se reparte em termos dos estimadores dos respectivos coeficientes.
Resta a questão da optimização do peso do Estado. Os autores concluem que um valor de 15% é a dimensão óptima. Todavia não entram em conta com as pensões de reforma e o serviço de saúde. É certo que estes dois serviços podem ser prestados por entidades externas, todavia o princípio da equidade que eu referi acima obriga a que o Estado tenha uma intervenção importante nessas áreas, mesmo que apenas complementar. Em Portugal, em 2004, aquelas despesas representavam cerca de 24% do PIB, embora haja, como se sabe, uma enorme ineficiência do Estado. Admitindo um valor de 20%, ter-se-ia um peso do Estado no PIB de cerca de 35%. Com este peso, e admitindo a validade das equações deduzidas no post anterior, Portugal poderia ter um crescimento da ordem dos 3,7% a 4%, mantendo o âmbito das prestações sociais.
Outras acções teriam de ser tomadas porque, como se viu, a despesa pública apenas explica 42% do crescimento, nomeadamente pôr a justiça a funcionar devidamente e aumentar drasticamente a escolaridade média.
Resumindo: Basta reformar a administração pública, reduzindo-a e melhorando o seu funcionamento, e privatizar alguns serviços e empresas ainda desnecessariamente a cargo do Estado.
Publicado por Joana às maio 3, 2005 10:51 PM
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Comentários
O que vale é que o resumo é simples. :)
Publicado por: Rui Lizandro às maio 4, 2005 12:44 AM
Estes dois posts estão muito interessantes e, apesar da aridez matemática, fica-se com uma ideia clara da situação
Publicado por: Ramiro às maio 4, 2005 01:16 AM
Como sempre, um excelente poste, Joana. Quanto à 'aridez matemática', Ramiro, uma explicação semelhante apenas usando retórica, nunca mais acabava...
Publicado por: Pedro Oliveira às maio 4, 2005 10:41 AM
Acerca destes mesmos assuntos, tenho imensa pena de ter perdido um célebre escrito da autoria do Dr Miguel Cadilhe. Os de Joana estão aqui e podemos revê-los e consultá-los sempre que se queira. Será que alguém saberá como e onde poderei re-pescar o escrito do Dr Cadilhe ?
Antecipadamente grato ...
Publicado por: asdrubal às maio 4, 2005 01:36 PM
Estes estudos são importantes porque dão conteúdo matemático a ideias que já muitos tinham que excesso de Estado prejudica a Economia, o desenvolvimento e, ao fim e ao cabo, todos nós.
Publicado por: Rui Sá às maio 4, 2005 03:16 PM
Sobretudo fornecem munições contra os que estão convencidos que o Estado é que é o motor da Economia
Publicado por: lopes às maio 4, 2005 04:44 PM
Mas somente o Estado tem os recursos suficientes para injectar Capital numa economia estagnada ou em crise. Veja-se os exemplos, da Grande Depressão americana e da acção de Roosevelt com o New Deal e a mais recente intervenção do governo japonês na sua debilitada economia. O recuo do Estado nas suas áreas tradicionais traduz-se geralmente na criação de grandes desigualdade sociais, com a erosão da classe média e a multiplicação de grandes camadas da população vivendo em grande pobreza.
Publicado por: Rui Martins às maio 4, 2005 04:46 PM
A situação na Grande Depressão foi diferente. Naquela altura havia um excesso de oferta para a procura existente. Agora querem um excesso de procura para a capacidade de oferta da economia.
Publicado por: Hector às maio 4, 2005 05:13 PM
E quanto ao Japão, não estou a ver quaisquer melhoras.
Publicado por: Hector às maio 4, 2005 05:14 PM
Hector às maio 4, 2005 05:14 PM
É difícil fazer crescer uma economia como a japonesa, quando a população está estagnada e fortemente envelhecida, a rejeição de imigrantes é grande, e a população já é de qualquer forma mais do que suficientemente rica. De onde é que virá a procura suplementar?
Publicado por: Luís Lavoura às maio 4, 2005 05:25 PM
Posts muito interessantes. Parabéns
Publicado por: rudy às maio 4, 2005 05:27 PM
"querem [criar] um excesso de procura para a capacidade de oferta da economia"
Uma visão interessante. De facto, qualquer estímulo estatal à procura, em Portugal, que não seja estritamente dirigido à área da construção civil, corre o risco de fazer derrapar (ainda mais) o nosso deficit externo. Porque o nosso aparelho produtivo é tão débil, que qualquer procura adicional se dirige, maioritariamente, para produtos importados.
Publicado por: Luís Lavoura às maio 4, 2005 05:29 PM
Luís Lavoura em maio 4, 2005 05:25 PM: Mas isso é o que eu dei a entender. Se a procura suplementar for por injecção de dinheiro na economia, fica tudo na mesma, mas com mais inflação.
Aliás, o Japão é, de longe, o país do mundo com maior custo de vida.
Publicado por: Hector às maio 4, 2005 05:30 PM
Só algumas questões: (é que com tanta teoria e matemática à mistura perdi-me!) Diga-me lá como é que aparecem "os mais desfavorecidos"? Geração espontânea "igualitária"? Existe equidade nesse processo?
Para chegar às bananas no alto de uma bananeira, essenciais à sobrevivência de ambos, dois macacos concorrem livremente e a nenhum é colocado qualquer entrave; pergunta: Por que razão um deles morreu de fome?
Publicado por: oinsurgente às maio 4, 2005 11:27 PM
Resposta: porque o outro morreu de indigestão.
Publicado por: pyrenaica às maio 4, 2005 11:50 PM
oinsurgente às maio 4, 2005 11:27 PM:
Você está baseado no princípio que, numa sociedade, partem todos da mesma linha. Isso não é verdade. Mesmo na economia do bem estar, os pontos de equilíbrio na caixa de Edgeworth dependem das dotações iniciais. Ou seja, o Óptimo de Pareto depende das dotações iniciais de todos os agentes económicos.
No processo económico criam-se desigualdades. Essas desigualdades decorrem naturalmente do próprio funcionamento do mercado.
Uma das funções do Estado é criar mecanismos para que todos tenham as mesmas oportunidades. Por exemplo, no ensino, quer através do serviço público, quer através de vouchers, no privado. O mesmo sucede com a saúde (pública ou privada) e o acesso à justiça.
É isso que eu chamo equidade. Nunca o "igualitarismo".
Estou a falar de prestações que assegurem o mínimo de sobrevivência e de igualdade de oportunidades, e não de prestações que quer pelo valor, quer pela duração, incentivem à preguiça, desemprego, etc.
Publicado por: Joana às maio 4, 2005 11:55 PM
Joana, já que você conhece a multi-colinearidade o que será que dava fazer um backward sobre os modelos originais? Sabe a a regressão linear múltipla tem muito que se lhe diga, e ainda assim é só um modelo linear.
Mas entretanto você já postou outro e lá ficamos com a conversa para depois.
Publicado por: pyrenaica às maio 4, 2005 11:57 PM
Estes dois posts têm muito interesse, muito nível e os comentários, muitos deles, também concorrem para o interesse do debate.
Parabéns
Publicado por: Rui Pereira às maio 5, 2005 12:56 AM
pyrenaica às maio 4, 2005 11:57 PM:
O problema da multi-colinearidade é que podemos ter um R2 satisfatório, mas os estimadores dos coeficientes terem baixo nível de significado. Ou seja , globalmente está bem, mas não conseguimos distinguir com precisão os pesos relativos dos coeficientes
Por exemplo, na equação (3) do post anterior, quando se introduz I, o R2 aumenta mas a estatística t diminui claramente face às equações I(G) e Y(G,dG). Isso indica que há alguma multicolinearidade.
Há várias soluções:
Evitar variáveis independentes correlacionadas entre si, o que é difícil em Economia;
Analisar inteligentemente os resultados (às vezes é a melhor solução);
Tentar estabelecer a priori relações entre os coeficientes das variáveis independentes, fazendo transformações de variáveis, a seguir a regressão com a variável transformada e invertendo depois a transformação;
Consultar um bom manual de econometria... mas não é fácil encontrar solução adequada aí.
Publicado por: Joana às maio 5, 2005 10:32 AM
Certo Joana, mas ainda pode ser pior do que isso, quando há multi-colinearidade o modelo torna-se instável e uma perturbação mínima dos dados pode trocar sinais dos coeficientes, de uma forma mais inesperada do que o teste de t faria prevêr.
Publicado por: pyrenaica às maio 5, 2005 10:31 PM
pyrenaica às maio 5, 2005 10:31 PM:
Isso que está a dizer só acontece se não houver cuidado. Fazer uma análise de regressão não é meter tudo no caldeirão e mexer. Há que ir com cuidado.
Se houvesse um R=1 entre 2 variáveis independentes, então os estimadores seriam indeterminados e o desvio padrão infinito. Isso nunca se faz. Usa-se apenas uma das variáveis e deixa-se cair a outra, ou faz-se a tal transformação que falei.
Em economia há sempre alguma correlação entre variáveis. Desde que seja baixa, não há problema de maior.
Como eu lhe disse, o fundamental é analisar os resultados com senso e saber que tipo de enviesamentos poderão ocorrer e a sua dimensão. E isso é dado pela experiência.
Publicado por: Joana às maio 6, 2005 09:00 AM
(Joana, só hoje me foi possível responder)
"Você está baseado no princípio que, numa sociedade, partem todos da mesma linha.
Isso não é verdade."
Você não percebeu o meu comentário, é precisamente o contrário! Não estou convencido que todos partam da mesma linha: esse para mim é o objectivo humano mais nobre e mais díficil de alcançar. Quando eu lhe perguntei como é que surgem os "mais desfavorecidos" foi precisamente para lhe fazer ver esse ponto.
"No processo económico criam-se desigualdades. "
Parece que esatmos de acordo então!
"Essas desigualdades decorrem naturalmente do próprio funcionamento do mercado."
Aqui o seu "naturalmente" é que está errado (no meu ponto de vista); não acredito que seja naturalmente (como se fosse e tivesse que ser assim) mas sim que deriva da vontade dos agentes (pessoas, empresas, Estado) que intervêm no mercado e na sociedade.
"Uma das funções do Estado é criar mecanismos para que todos tenham as mesmas oportunidades. Por exemplo, no ensino, quer através do serviço público, quer através de vouchers, no privado. O mesmo sucede com a saúde (pública ou privada) e o acesso à justiça."
O problema é que pensamos de forma diferente: você acredita que no estado actual da nossa sociedade, se todos tiverem acesso à educação, saúde, justiça etc. etc. o problema fica resolvido desde que atenuado pela ajuda estatal, o que eu digo é que se esse acesso não for em condições iguais a equidade não serve para nada. O facto do Pobre e do Rico poderem ir a um mesmo médico não resolve o facto de que um deles tem de optar por, ou comprar os medicamentos, ou comprar os alimentos para fazer a sua refeição. Não há equidade sem igualdade de condições. O facto de uma criança de uma familia pobre frequentar a escola tal como a de uma familia rica (e digamos a mesma escola) não esconde o facto que a primeira não pode comprar um bom dicionário para os seu estudos.
"Estou a falar de prestações que assegurem o mínimo de sobrevivência e de igualdade de oportunidades, e não de prestações que quer pelo valor, quer pela duração, incentivem à preguiça, desemprego, etc."
Eu também não acredito nos subsidios eternos e vitalícios; penso que são uma solução do "capitalismo" assumido quer pela esquerda quer pela direita; não resolvem o problema;
Acredito sim é que sem a destribuição igual e justa, do trabalho, da riqueza e do rendimento a equidade é um conceito totalmente vão. E enquanto a sociedade se basear na ideologia do lucro, da vantagem pessoal sobre os outros - supremo ideal do capitalismo - nada significativo se alterará.
Publicado por: oinsurgente às maio 6, 2005 03:10 PM
1. "E enquanto a sociedade se basear na ideologia do lucro, da vantagem pessoal sobre os outros - supremo ideal do capitalismo - nada significativo se alterará."
Acho que o maior incentivo à criatividade é o lucro pessoal. Exceptuando algumas situações, como o Open Source.
2. A igualdade de oportunidade é importante mas não é tudo. As pessoas que jogam no totoloto (supondo que fazem o mesmo número de casas) também estão em igualdade, mas o resultado é que uma fica rica e as outras ficam quase na mesma. Acho que além da igualdade de oportunidades deve haver um chão abaixo do qual ninguém deve viver.
3. Os benefícios do lucro pessoal são confundidos com o mínimo de oportunidades, basta pensar em acesso à internet ou em banda larga. Isto torna tudo muito mais confuso porque as vantagens vão-se alterando com o tempo.
Publicado por: Jorge Martins às maio 11, 2005 03:54 AM
oinsurgente às maio 6, 2005 03:10 PM:
Você escreve:
«Aqui o seu "naturalmente" é que está errado (no meu ponto de vista); não acredito que seja naturalmente (como se fosse e tivesse que ser assim) mas sim que deriva da vontade dos agentes (pessoas, empresas, Estado) que intervêm no mercado e na sociedade.»
Mas é isso que é o "naturalmente". Os agentes económicos têm "naturalmente" comportamentos diferentes e isso conduz a resultados diferentes.
Quando eu escrevi "Uma das funções do Estado é criar mecanismos para que todos tenham as mesmas oportunidades", não subentendi que as pessoas tinham capacidade de as aproveitar da mesma maneira, quer por questões de ambiente familiar e social, quer porque uns são mais inteligentes que os outros. O Estado não pode suprir essas desigualdades, embora no caso dos ambientes sociais (e mesmo familiares) degradados deve intervir no sentido de os melhorar.
Quanto à "ideologia do lucro", que eu chamaria satisfação dos interesses pessoais, é ela que tem desenvolvido a sociedade e a tornado próspera.
Há desigualdades, mas os pobres de agora são menos pobres que os pobres anteriores e assim sucessivamente.
Publicado por: Joana às maio 11, 2005 10:07 AM