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agosto 11, 2005

Impostos e nível de Emprego

… e o Bem-estar geral

Qual será o impacto do nível de tributação no mercado de trabalho e no bem-estar geral? Para avaliar esse impacto, consideremos o mercado do factor trabalho, tal como é exemplificado no gráfico abaixo e vejamos como o nível de tributação irá afectar o funcionamento desse mercado: remunerações líquidas, remunerações brutas pagas pela empresa, receitas tributárias, nível de emprego e desperdício social.

Se o imposto sobre o factor trabalho recai sobre as empresas, a curva da procura desloca-se para baixo, no montante do imposto; quando recai sobre os trabalhadores, a curva da oferta desloca-se para cima, no montante do imposto. Nos dois casos, quando o imposto entra em vigor, a remuneração paga pelos empresários aumenta e a recebida pelos trabalhadores diminui. Empresários e trabalhadores partilham o ónus do imposto, independentemente de como ele é cobrado.

Sem imposto, de acordo com o gráfico abaixo, o nível de emprego é de 400 efectivos com um salário mensal de 1800 euros (ponto A). Suponhamos que o imposto referido acima era de 37,5% sobre o total das remunerações, parte paga pela entidade patronal, parte paga pelo trabalhador. O nível de emprego passou para 300 efectivos (menos 100 que no 1º caso), a remuneração líquida que o trabalhador recebe é de 1500 €/mês, enquanto a empresa despende 2.400 €/mês por cada trabalhador (ponto B). O imposto arrecadado é de 270.000€ (900€/efectivo) e corresponde ao rectângulo com os lados a “laranja”. O desperdício social corresponde ao polígono B-C-A - 45.000€, que são os excedentes do consumidor (acima da linha amarela) e do vendedor (abaixo da linha amarela) que deixam entretanto de existir, com a diminuição das quantidades (efectivos) transaccionadas. Neste mercado, o consumidor (da força de trabalho) é a empresa, e o vendedor, o trabalhador ou o conjunto de trabalhadores habilitados a trabalhar naquela actividade.

EfeitoImposto.jpg

Não desenhei as novas curvas de procura e de oferta, porque a sua posição relativa depende de como é repartido o imposto entre a entidade patronal e o trabalhador. Mas o resultado é o que está indicado no parágrafo anterior, admitindo que o andamento das curvas da procura e da oferta mantêm os respectivos declives. No caso da curva da procura, é normal que ela se torne mais elástica à medida que aumenta a remuneração social visto que a subida dos custos laborais afecta cada vez mais a competitividade da empresa. Por isso desenhei uma curva quebrada, com um declive menor quando a remuneração social aumenta.

Consideremos que a taxa de imposto aumenta e se atinge o ponto C. Nesse ponto, o imposto total é de 52,3%, o nível de emprego passou para 220 efectivos (menos 180 que no 1º caso), a remuneração líquida que o trabalhador recebe agora é de 1.260€/mês, enquanto a empresa despende 2.640€/mês por cada trabalhador. O imposto arrecadado é de 303.600€ (1.380€/efectivo) e corresponde ao rectângulo com os lados a “verde”. O desperdício social corresponde ao polígono D-E-A - 124.200€.

A partir desta taxa de imposto, a receita fiscal cai. Por exemplo, se imposto total é de 55,5%, o nível de emprego passa para 200 efectivos (menos 200 que no 1º caso), a remuneração líquida que o trabalhador recebe é de 1.200€/mês, enquanto a empresa despende 2.700€/mês por cada trabalhador. O imposto arrecadado é de 300.000€ (1.500€/efectivo), menos 3.600€ que no caso anterior e corresponde ao rectângulo com os lados a “vermelho”. O desperdício social corresponde ao polígono F-G-A - 150.000€.

Graficamente basta comparar os rectângulos com lados a “vermelho” e a “verde” para se perceber que o que se ganhou pela maior tributação por efectivo, perdeu-se pela diminuição do número de efectivos.

Este é um exemplo de como o imposto afecta os compradores (neste caso, as empresas), os vendedores (neste caso, a mão-de-obra) e o governo. O benefício obtido pelos compradores num mercado é medido pelo excedente do consumidor - a quantia que os compradores estão dispostos a pagar por um bem menos o que efectivamente pagam (no gráfico, a área entre a curva da procura e a recta a amarelo AH). O benefício obtido pelos vendedores nesse mercado é medido pelo excedente do vendedor - a quantia que os vendedores recebem pelo bem (neste caso, o seu trabalho) menos os seus custos (neste caso, o valor que atribuem ao seu trabalho) - no gráfico, a área entre a curva da oferta e a recta a amarelo AH. Essas são as medidas de economia do bem-estar. À medida que o imposto aumenta, diminui o bem-estar global, isto é, parte é arrecadada pelo governo para pagar os serviços públicos que presta, e outra parte é desperdiçada. Quanto maior é a taxa de imposto, maior é o desperdício social e, a partir de certo nível dessa taxa, o próprio nível de tributação (a receita do Governo) baixa.

Este exemplo, para o mercado de trabalho, conduz a resultados próximos dos deduzidos num texto que publiquei atrás em "A Dimensão do Estado" (ver abaixo a curva de Laffer). É evidente que as curvas da procura e da oferta apresentadas correspondem a modelos explicativos e têm que ser avaliadas pela tendência que mostram e não pela exactidão dos números. Mas uma conclusão é óbvia: quando as taxas de imposto são baixas, a sua influência na diminuição do bem-estar geral é baixa e pode deduzir-se que as transferências sociais que as respectivas receitas tributárias promovem, compensam, pela equidade social, o desperdício do bem-estar geral. A partir de certo nível de tributação, a punção no bem-estar geral torna-se muito elevada, o reflexo no nível de emprego é forte, e a equidade social obtém-se pelo empobrecimento da sociedade. Neste caso a equidade social torna-se um factor de empobrecimento geral e de desperdício social.


Laffer1.jpg

Nota: As taxas consideradas não são muito elevadas face à situação existente. Ver, por exemplo, As Fauces de Moloch ou As Fauces de Moloch para os Remediados

Publicado por Joana às agosto 11, 2005 06:21 PM

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Comentários

Quem não percebe de matemática vê os bonecos. A Joana prossegue sua cruzada.

Publicado por: vitapis às agosto 11, 2005 09:30 PM

Pelos bonecos Vê-se que há desperdício. Mas será que os bonecos representam a realidade

Publicado por: vitapis às agosto 11, 2005 09:33 PM

Joana, tanta conta! A curva de Laffer é uma parábola (invertida); noutro dia apresentou uma hipérbole hoje apresenta uma parábola, já pensou no significado do nome destas curvas?

Publicado por: pyrenaica às agosto 11, 2005 09:58 PM

65 dólares o barril. Com a UE, os USA e a Pérsia, às avessas. Assim vai falar Zaratustra...

Publicado por: asdrubal às agosto 11, 2005 10:46 PM

Joana,
explique aí - pode ser com curvas, rectas, derivadas, rectângulos,integrais, quadrados - como é que o preço do gasóleo em Badajoz é 20% mais baixo do que em Elvas.

Publicado por: zippiz às agosto 11, 2005 10:49 PM

Estou a ver que ninguém leu o post mas não resistem comentar.

Eu também não li...

Mas amanhã quando estiver menos cansado irei ler.

Publicado por: Mario às agosto 11, 2005 10:49 PM

Será que em Espanha o estado, por ter menos desperdício, precisa de cobrar menos impostos?
Será?!?

Alface

PS Penso eu de que...

Publicado por: Alface às agosto 11, 2005 11:54 PM

Não estou com muita paciência para fazer uma análise cuidadosa deste modelo, mas, a propósito da afirmação

"À medida que o imposto aumenta, diminui o bem-estar global, isto é, parte é arrecadada pelo governo para pagar os serviços públicos que presta, e outra parte é desperdiçada. Quanto maior é a taxa de imposto, maior é o desperdício social"

permito-me perguntar como é que se chega a esta conclusão. Sem saber como o Estado aplica o dinheiro dos impostos, como é que se sabe que há desperdício? Não é economicamente possível que o Estado aplique o dinheiro colectado melhor que o fariam os trabalhadores ou as empresas se tivessem retido essa verba? Atenção que eu não estou a afirmar nem que sim nem que não. Limito-me a perguntar.

Publicado por: Albatroz às agosto 11, 2005 11:54 PM

Eu admiti que o Estado aplicava com eficiência as receitas fiscais. Nos modelos económicos parte-se do princípio da racionalidade económica.
O desperdício social é a área, cada vez maior, com vértice em A e que vai até às linhas verticais dos sucessivos equilíbrios resultantes dos aumentos de impostos. Não tem a ver com boa ou má aplicação do dinheiro, tem a ver com a distorção do mercado e a eficiência económica que se perde com a aplicação do imposto.

É por falta de eficiência nos mercados, por diversas razões (distorção ou ausência de concorrência, intervenção do Estado nos preços, contigentação de quantidades ou impostos) que não se atinge o Óptimo de Pareto (ver teoria da Economia do Bem-Estar).

Por curiosidade, a curva da oferta usada tem a equação:
p = 600 + 3.q
A curva da procura, para q >= 340 é:
p = 5000 - 8.q
para q

Escolhi estes números como poderia ter escolhido outros, desde que respeitasse os andamentos normais destas curvas. Podem exercitar-se com outros tipos de curva, desde que tenham significado económico.

Provavelmente estou a ser generosa com o declive, pois será provável que a partir de um certo nível remuneratório a curva de procura fosse paralela ao eixo dos xx, visto o empresário não poder pagar mais, para qualquer quantidade (nº de efectivos), sob pena de fechar.

O que será provável é a elasticidade da curva de procura aumentar aceleradamente até se tornar infinita (recta paralela aos xx) à medida que se afasta do ponto de equilíbrio devido ao aumento do preço do factor trabalho.

Mas para o caso, o resultado não teria alteração muito significativa, no que respeita aos conceitos.

Publicado por: Joana às agosto 12, 2005 12:28 AM

à medida que o imposto aumenta, o excedente do consumidor (empresário) e vendedor (força de trabalho) é tragado pelo imposto e pela perda social resultante do afastamento do equilíbrio normal em concorrência.
A partir de certa taxa (ver gráfico), o próprio imposto (receita fiscal) diminui, sendo tudo tragado pela perda social.

Publicado por: Joana às agosto 12, 2005 12:33 AM

Estas lições de economia teórica são deveras enfadonhas para não-profissionais.

O que interessa saber é qual é a correspondência estas teorias da economia e o mundo real.

Publicado por: Luís Lavoura às agosto 12, 2005 11:42 AM

As curvas não têm significado se não forem bem interpretadas. Qualquer leigo conseguirá entender o raciocínio aqui presente e perceber que existe um ponto de equilibrio.

Contudo, em grande parte este raciocínio está desviado da realidade porque há a assumpção de uma acção racional pelo Estado. Como sabemos, o que é de todos, em termos psicológicos, não é de ninguém.

Uma das coisas que não está aqui realçada é a influência que tem ser o próprio Estado a poder fixar o nível de impostos arbitrariamente. Mas percebo que estes diagramas elementares sirvam apenas para ajudar a compreender algumas situações básicas.

Publicado por: Mário às agosto 12, 2005 11:46 AM

Perdoe-me o rigor: não é o Estado que fixa impostos. É o Governo. Mas, adiante, porque percebi o seu ponto de vista.

Embora o "arbitrariamente" seja interpretativo admito que, por vezes, quando não concordamos, a fixação dos impostos nos pareça arbitrária.
Mas qual será a alternativa? Criar uma espécie de Comissão Parlamentar para a Elaboração do Orçamento? Não estou a vislumbrar uma alternativa adequada, que possa ser directamente sancionada pelos eleitores.

Publicado por: Vítor às agosto 12, 2005 12:14 PM

Joana, acho que este post é mais para o género "início do ano lectivo" do que para Agosto.

Corujinha: no número de Julho da Scientific American, pags 52, 53 está lá a árvore filogenética da passarada toda, desde o pardal até aos crocodilos.

biloba, puseste um pyrenaica com um bocadinho de suspiros... Diz lá ao liriodendrum que tudo bem, mas ele que não se arme em parvo, senão chamo-lhe EXOTICA com todas as letras (tu estás safa porque és fóssil) e exerco a minha autoridade patriarcal de carvalho lusitano... negral. Já mandei o mail para o D-G para abrir uma linha de produção de declarações de interesse público que o teu endereço tão bem sintetizou. já conheço as pessoas certas para tratar de tudo, mas só em Setembro porque agora vai tudo de férias. Eu também vou ver se me meto com um embondeiro, se tiver coragem, e ver se revejo por lá a árvore-mãe dos índios, uma sumauma.

Agora:

n'O Século de 22 de Julho de 1914 vem o artigo chamado Árvores Nacionais - regulamento oficial de proteçao às árvores, onde se dis que foi à última assinatura presidencial um decreto muito importante...Queremos referir-nos ao Regulamento da Proteção às Árvores Nacionais, onde consta:

"Em todo o territorio da Republica Portugueza proceder-se-ha a um arrolamento das arvores notaveis pela edade, pelas dimensões e ainda, pelos factos historicos que rememorem, que serao devidamente catalogadas e tidas como patrimonio nacional..."

Eles naquele tempo quase não usavam acentos!

Publicado por: pyrenaica às agosto 12, 2005 12:15 PM

Vítor às agosto 12, 2005 12:14 PM

Quem fixa os impostos é a Assembleia da República sob proposta do Governo, através do Orçamento de Estado, que é uma lei obrigatoriamente aprovada pela AR.

Pode-se pois dizer que é o Estado quem fixa os impostos. O Governo só por si não é, de certeza.

Publicado por: Luís Lavoura às agosto 12, 2005 01:05 PM

Quem tem razão é o Asdrúbal: Zaratustra fala, e o seu veredicto é pesado. O petróleo sobe de dia para dia, e de dia para dia este país, e o seu consumismo irresponsável, se aproximam mais do abismo.

(Alguns analistas da matéria dizem que o petróleo pelo Natal estará a 80 dólares. Não sei se irá estar ou não. Mas lembro que o notável esquerdista Fernando Rosas previu no ano passado que no Natal de 2004 o petróleo estaria a 80 dólares. Foi então muito gozado por direitistas, inclusivé alguns neste blogue. Talvez Fernando Rosas se tenha enganado por apenas um ano. O que, nesta matéria, não é muito tempo.)

Publicado por: Luís Lavoura às agosto 12, 2005 01:10 PM

Entretanto, sugiro à Joana que, em vez de analisar os impostos sobre o trabalho, analise uma coisa bem menos agradável: o tempo de férias mínimo que o Estado estipula. Como é evidente, este tempo de férias mínimo encarece o trabalho. Se os trabalhadores so tivessem que gozar 5 dias de férias, em vez de 22, o trabalho seria mais barato, e haveria presumivelmente menos desemprego. Ou não?

Publicado por: Luís Lavoura às agosto 12, 2005 01:12 PM

Entretanto, sugiro à Joana que, em vez de analisar os impostos sobre o trabalho, analise uma coisa bem menos agradável: o tempo de férias mínimo que o Estado estipula. Como é evidente, este tempo de férias mínimo encarece o trabalho. Se os trabalhadores so tivessem que gozar 5 dias de férias, em vez de 22, o trabalho seria mais barato, e haveria presumivelmente menos desemprego. Ou não?

Publicado por: Luís Lavoura às agosto 12, 2005 01:13 PM

Luís Lavoura às agosto 12, 2005 01:05 PM

Vamos lá então discutir pormenores.
OK: a culpa é minha. Fui eu quem começou.

Dos diccionários:

GOVERNO. Refere-se à entidade subjectiva constituída pelos indivíduos e órgãos que têm a responsabilidade de conduzir a acção do Estado.

ESTADO. Nação politicamente organizada. É constituído, portanto, pelo povo, território e governo. Engloba todas as pessoas dentro de um território delimitado - governo e governados.

Parece-me, assim, mais sensato usar "Governo" que "Estado".
De uma forma simplista, as Leis emanam da Assembleia da República, os Decretos-Lei do Governo, as Portarias dos Ministérios, etc.
Neste caso, o Orçamento de Estado tem força de lei, aprovada em Assembleia, sob proposta do Governo.

Pelo que antes ficou escrito, mantenho o que disse.
Mas confeso que já estou arrependido de ter tocado no assunto...

Publicado por: Vítor às agosto 12, 2005 02:23 PM

Nota: No meu comentário Joana em agosto 12, 2005 12:28 AM está escrito:
"A curva da procura, para q >= 340 é:
p = 5000 - 8.q
para q" e pára abruptamente (não, não tem nada a ver com o JPP). Sucede que eu coloquei o sinal "menor que" que é mal interpretado pelo programa da weblog.
Eu queria escrever:
para q menor que 340 o coeficiente que corresponde ao declive é de 3 (e não de 8).

Publicado por: Joana às agosto 12, 2005 02:37 PM

Houve alguma imprecisão da minha parte ... época de férias ...
Os impostos são fixados pelo Governo mediante autorização da AR. As receitas dos impostos são do Estado.

Publicado por: Joana às agosto 12, 2005 02:41 PM

" (...) Mas por que razão os políticos portugueses não libertam o mercado de trabalho, o nosso grande obstáculo económico ao desenvolvimento? Afinal, os portugueses estão a dar a sua contribuição para o desenvolvimento: consomem desenfreadamente. Isso devia ser elogiado e estimulado, e não travado com as guerrilhas psicológicas da crise e impostos mais pesados sobre o consumo. Se os políticos não dão a sua contribuição para o desenvolvimento económico, é porque têm uma característica única nos políticos do mundo desenvolvido: não confiam no povo que os elege. Acham que os trabalhadores nunca iriam compreender estes mecanismos infantis do mercado de trabalho que eu consigo explicar a uma criança. E portanto nem se dão ao trabalho de explicar coisa alguma; continuam indefinidamente a política que herdámos de Salazar (e que já vinha de trás): um mercado de trabalho estagnado, que faz murchar os talentos e não potencia criatividades. Qualquer trabalhador compreende que se vale a pena emigrar para países como o Reino Unido ou a Alemanha, é porque nesses países o nível de vida é melhor; e é melhor porque o mercado de trabalho é como o mercado de sapatos: podemos escolher, há concorrência e isso potencia o desenvolvimento e é melhor para todos — sapatarias e consumidores, empresários e trabalhadores.Mas por que razão os políticos portugueses não libertam o mercado de trabalho, o nosso grande obstáculo económico ao desenvolvimento? Afinal, os portugueses estão a dar a sua contribuição para o desenvolvimento: consomem desenfreadamente. Isso devia ser elogiado e estimulado, e não travado com as guerrilhas psicológicas da crise e impostos mais pesados sobre o consumo. Se os políticos não dão a sua contribuição para o desenvolvimento económico, é porque têm uma característica única nos políticos do mundo desenvolvido: não confiam no povo que os elege. Acham que os trabalhadores nunca iriam compreender estes mecanismos infantis do mercado de trabalho que eu consigo explicar a uma criança. E portanto nem se dão ao trabalho de explicar coisa alguma; continuam indefinidamente a política que herdámos de Salazar (e que já vinha de trás): um mercado de trabalho estagnado, que faz murchar os talentos e não potencia criatividades. Qualquer trabalhador compreende que se vale a pena emigrar para países como o Reino Unido ou a Alemanha, é porque nesses países o nível de vida é melhor; e é melhor porque o mercado de trabalho é como o mercado de sapatos: podemos escolher, há concorrência e isso potencia o desenvolvimento e é melhor para todos — sapatarias e consumidores, empresários e trabalhadores. (...)"


Publicado por: Jeremias às agosto 12, 2005 02:49 PM

Publicado por: Luís Lavoura às agosto 12, 2005 01:12 PM

Se os trabalhadores so tivessem que gozar 5 dias de férias, em vez de 22, o trabalho seria mais barato, e haveria presumivelmente menos desemprego.

Sim, provavelmente. Bem sei que estás a pensar o contrário (mais força de trabalho disponível, traduzido em homens/hora consequentemente maior desemprego), mas eu penso que a doutrina marxista, o tal socialismo dito 'cientifico', sobrevaloriza o trabalho humano.

Publicado por: Pedro Oliveira às agosto 12, 2005 02:51 PM

Pedro Oliveira às agosto 12, 2005 02:51 PM

Nem eu estou a pensar no contrário, nem sou nem nunca fui marxista (ao contrário, ao que parece, de Si).

Publicado por: Luís Lavoura às agosto 12, 2005 03:32 PM

Entretive-me a fazer contas, mas considerando que a procura, a partir de certo valor, se tornava infinitamente elástica (p = constante), que aliás foi uma hipótese que a Joana, num comentário, considerou mais plausível que diminuir apenas o declive.
Nesse caso o ponto B (300 efectivos) era atingido com um imposto de 34,2% (pago por ambos) e a partir de um imposto de 36,8% a receita global tributária caía com o aumento da taxa de imposto. Quanto ao desperdício social aumentava mais que no seu modelo. Portanto a situação era mais grave para a economia que no modelo do post.
Julgo que não me enganei.

E parabéns por essa abordagem do efeito do imposto sobre o trabalho (ma pago por trabalhador e empresa) no mercado do trabalho.

Publicado por: Novais de Paula às agosto 12, 2005 03:41 PM

Publicado por: Vítor às agosto 12, 2005 12:14 PM

O uso abusivo do termo "Estado" é um excesso para os poucos ir tentando minar o endeusamento desse conceito :)

Não digo que o governo não deva fixar o motante de impostos, porque já não sou anarquista. Digo apenas que essa fixação não deve ser arbitrária. Arbitrária não quer dizer aleatória. Neste contexto e mais uma vez de forma abusiva, digo que arbitrária é a decisão tomada sem estar devidamente fundada.

Os governos em geral tomam decisões arbitrários porque:

- São tomadas para resolver problemas de curto prazo, esquecendo os efeitos no longo prazo;

- São tomadas para satisfazer a clientela partidária e/ou os grandes grupos empresariais que financiam o partido;

- São tomadas por uma fé ideológica.

Publicado por: Mário às agosto 12, 2005 04:40 PM

Este post é demasiado técnico. Só pessoas com luzes de microeconomia conseguem interpretar o modelo, mesmo com as explicações que foram dadas.

Publicado por: Rui Sá às agosto 12, 2005 04:56 PM

Publicado por: Luís Lavoura às agosto 12, 2005 03:32 PM

É verdade, mas eu ainda era teenager nessa altura.

Publicado por: Pedro Oliveira às agosto 12, 2005 05:19 PM

Publicado por: Rui Sá às agosto 12, 2005 04:56 PM

Consulte a internet e em pouco tempo conseguirá também interpretar estes diagramas de Marshall.

Publicado por: Mário às agosto 12, 2005 05:27 PM

Mário às agosto 12, 2005 04:40 PM

Esclarecido o sentido que deu ao termo "arbitrária", sinto-me inclinado a concordar com o seu comentário.

Publicado por: Vítor às agosto 12, 2005 05:30 PM

Os posts mais técnicos têm uma vantagem. Para serem contrariados não se podem só mandar bocas

Publicado por: David às agosto 12, 2005 06:25 PM

David às agosto 12, 2005 06:25 PM:
Bocas mandam-se em qualquer circunstância

Publicado por: Ricardo às agosto 12, 2005 08:00 PM

O raciocínio do texto assenta sobre variações de imposto e não sobre o nível de imposto. Duas economias podem ter o mesmo nível de desemprego e e tributações sobre o trabalho muito diferentes, uma vez que os agentes ao longo do tempo incorporam a taxa de imposto na sua actividade económica e surge uma nova situação de equilíbrio bastando que as taxas de imposto não flutuem (ou seja, o texto refere-se ao curto prazo).

No caso de diminuição de impostos, o aumento do emprego depende de um aumento da procura dos bens produzidos internamente, o que não é garantido no modelo. Depende também do encontro entre as competências procuradas e oferecidas, já que os trabalhadores (actualmente passaram a colaboradores) não são homogénios.

A análise microeconómica torna-se assim parcial e tem em conta apenas efeitos de curto prazo.

Publicado por: Daniel às agosto 13, 2005 04:57 PM

Interessante este post ... muita conta. Deve ser prás férias.

Publicado por: curioso às agosto 13, 2005 06:43 PM

Daniel às agosto 13, 2005 04:57 PM:
Se ler com atenção, verificará que o raciocínio do texto assenta, pelo contrário, sobre diversos níveis de imposto e depois compara o efeito dessas variações entre esses níveis de imposto nas remunerações líquidas recebidas por um trabalhador, remunerações brutas pagas pela empresa, receitas tributárias, nível de emprego e desperdício social.
É óbvio que, em qualquer nível de imposto, a empresa em questão incorpora "a taxa de imposto na sua actividade económica e surge uma nova situação de equilíbrio". E o trabalhador também. Repare que eu escrevi Se o imposto sobre o factor trabalho recai sobre as empresas, a curva da procura desloca-se para baixo, no montante do imposto; quando recai sobre os trabalhadores, a curva da oferta desloca-se para cima, no montante do imposto. Nos dois casos, quando o imposto entra em vigor, a remuneração paga pelos empresários aumenta e a recebida pelos trabalhadores diminui. Empresários e trabalhadores partilham o ónus do imposto, independentemente de como ele é cobrado.
E escrevi mais à frente que Não desenhei as novas curvas de procura e de oferta, porque a sua posição relativa depende de como é repartido o imposto entre a entidade patronal e o trabalhador. Mas isso não invalida os resultados em termos de remunerações líquidas recebidas por cada trabalhador, remunerações brutas pagas pela empresa, receitas tributárias, nível de emprego e desperdício social

Esta análise foi feita para o mercado constituído por uma empresa confrontada com uma oferta do factor trabalho (que considerei indiferenciado, ou tomado em termos de trabalhador médio, por questão de simplificação, mas que não lhe retira validade). Parto do princípio que a curva de procura da empresa é-lhe imposta exogenamente pelas condições do mercado para o qual ela produz. Foi por isso que introduzi uma procura quebrada: a partir de um dado custo do factor trabalho (que aumenta por acção do imposto sobre esse factor), a empresa perde competitividade. Houve um comentarista (Novais de Paula às agosto 12, 2005 03:41 PM) que fez uma simulação para estacionaridade da procura a partir de um certo nível de preços e a situação é mais gravosa em termos ineficiência fiscal e social que o modelo que apresentei. Com a diferença que essa hipótese, que eu também havia sugerido no post, é seguramente mais provável que a que eu apresentei em gráfico.

Você escreveu que "No caso de diminuição de impostos, o aumento do emprego depende de um aumento da procura dos bens produzidos internamente". Isto está respondido acima: a curva de procura da empresa, neste mercado do factor trabalho, decorre da procura com que a empresa é confrontada no mercado para o qual produz, ou seja, toma em atenção essas preocupações.
Um modelo em microeconomia exprime tendências. Não visa dar resultados exactos, a menos que se conheçam exactamente as curvas de oferta e de procura, o que é muito raro. Mas conhecem-se os seus "andamentos" com alguma aproximação.

Publicado por: Joana às agosto 13, 2005 07:14 PM

Este post tem muito interesse e está bem concebido do ponto de vista da teoria microeconómica. Todavia, apesar da simplicidaade de exposição, lida com conecitos, como o excedente do consumidor, que não são imediatos para o leitor comum, mesmo depois de explicados sumariamente.

Publicado por: Sampaio às agosto 14, 2005 02:48 PM

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