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maio 31, 2005

As Fauces do Moloch para os remediados

Abandonemos o executivo do post anterior. Ou melhor, foi ele que nos abandonou, arreliado por entregar 70% do valor do seu trabalho ao sôfrego Moloch e ainda ter que ler as piadas dos invejosos, sobre ele ter comprado um carro acima da média. Começou a antecipar o que sucederia quando Campos e Cunha decidisse enviar a declaração do IRS dele para os vizinhos do bairro e resolveu despedir-se. Não vou revelar se ele emigrou, ou se se empregou numa empresa onde recebe 30% do vencimento em Portugal, e o restante num paraíso fiscal algures. Perante este Runaway Executive, resolvi então investigar a relação entre o insofrido Moloch e um quadro técnico intermédio, igualmente solteiro, que aufere uns modestos 2 mil euros mensais mais um subsídio de refeição de 5,75€/dia. Será que o Moloch se apieda dele?

Com se viu no caso anterior, o vencimento dele não são 2 mil euros mensais. A empresa entrega ao voraz Moloch 23,75% daquele valor (475 euros mensais). Este quadro médio custa à empresa 2.595,75 euros mensais. Quanto é que ele leva para casa?

São-lhe retidos 410,00 € de IRS (20,5%) e 220 € de Taxa Social Única. Como recebe mensalmente 120,75€ de subsídio de refeição, leva 1.490,75€ para casa. Da sua remuneração bruta, 42,6% já foi entregue ao Moloch. Pouco menos que aquele executivo, entretanto desaparecido, e que tanta inveja despertou.

O nosso quadro médio comprou uma casa em Lisboa. Andámos a ver casas, mas não foi possível encontrar um T0 por menos de 120 mil euros. A amortização do empréstimo custa-lhe 562 €/mês, mas como cerca de 45% dos custos de construção são impostos, o nosso quadro médio entrega ao Moloch, no mais doce engano, 252,9€/mês. Adicionalmente entrega-lhe o IMI que, em termos mensais, é de 70,0€ (0,7%, em Lisboa).

Nesta altura sobejam-lhe 858,75€ e entregou em impostos, directa ou indirectamente, 55% do valor do seu trabalho.

O nosso quadro médio, mais morigerado que o dispendioso executivo, comprou uma viatura de 1.200 cc por 21,8 mil euros (que inclui 6,1 mil euros de impostos diversos). Este carro não tem uma vida útil superior a 5 anos (60 meses) e seguindo a mesma metodologia do post anterior, ele pagará 363,33€ por mês, dos quais 101,67€ ao Moloch. Como ele está à beira da insolvência, só anda 900 a 1.000 kms/mês, o que poderá equivaler a 69€ de gasolina por mês. Como 68% do preço da gasolina são impostos, o nosso prudente quadro médio entrega mensalmente mais 46,92€ ao esfaimado Moloch.

Nesta altura do mês, o nosso quadro médio tem apenas 426,42€, e já lançou 60,7% da sua remuneração bruta para as fauces insaciáveis do Moloch. Apesar dos meus conselhos, advertindo-o contra os riscos que corria (a sua saúde e o seu extracto bancário), a depressão nervosa que o atingiu, depois de fazer a sua contabilidade doméstica, era tal, que o máximo que consegui foi que ele fumasse apenas um maço por dia. Enfim ... 75€ mensais, dos quais 60€ para o Moloch, sempre de goela estendida.

O nosso quadro médio vai despender o que lhe sobejou (351,42€) em bens de consumo. Tem sorte, porque o IVA médio, para o seu cabaz de compras será de 16%, ou menos. Com o que lhe resta, dificilmente almoçará mais que um copo de leite e um donut na pastelaria da esquina. Mesmo assim, entregará ao predador Moloch mais 59,74€. Da sua remuneração bruta, o nosso quadro médio entregou ao Estado 63,0% em impostos.

A pergunta que se coloca novamente é: O que é que este quadro médio recebe em troca do Estado, por lhe ter entregue cerca de 63% do valor do seu trabalho?

Li algures, escrito por um adorador do Moloch, que «O Estado não é uma empresa privada, não existe para prestar serviços pagos a "executivos"! O Estado existe para promover o bem-comum e não o bem dos "executivos", e isso envolve taxar valentemente esses "executivos"». Outros disseram que entregar aquela monstruosidade ao Moloch era um ... «privilégio»!!. O nosso executivo do post anterior, quando leu isto, obviamente desapareceu: então ele dava 70% do valor do seu trabalho a troco de nada? ... o bem de um executivo não é um bem-comum? Em face daquela sentença radical, esse executivo optou por se colocar numa situação tal que pagasse o mínimo que lhe fosse possível. Ninguém gosta de ser roubado e amesquinhado e insultado ainda por cima. Privilégios desses ... não, obrigado.

O problema é que mesmo um quadro técnico intermédio entrega 63% do valor do seu trabalho ao ávido Moloch estatal, directa ou indirectamente. Todavia, apenas parte daquela punção no nosso orçamento doméstico é feita às claras. Uma parte muito substancial é entregue directamente pela empresa onde trabalhamos, sem constar sequer do nosso recibo de vencimento. Mas é um custo que onera as empresas e lhes retira competitividade. Outras parcelas muito substanciais pagamo-las quando adquirimos uma casa ou um carro. Continuamos a pagar impostos, sem ter uma exacta noção disso, quando enchemos o depósito da viatura ou consumimos algum bem. Sempre ...

Muitos julgam que os impostos são apenas aqueles valores que aparecem nos nossos recibos, a deduzir ao vencimento, ou nas notas anuais de liquidação do IMI. É um equívoco. Uma parte significativa pagamo-la sob os mais diversos, surpreendentes e inexplicáveis disfarces. A voracidade do Moloch é insaciável.

...

E lá se voltou a esquecer do selo do carro!

Publicado por Joana às maio 31, 2005 10:49 PM

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Comentários

Brilhante conclusão: pagar impostos custa a todos. O que não quis entender é que, alta ou baixa de impostos aparte, é satisfatório ver que esse classe média paga 63% e o executivo paga 70%. Ninguém duvida que se todos não pagássemos nada e cada um possuísse uma árvore de patacas no quintal, tudo seria mais fácil.

Genial que é no seu raciocínio e, deduzindo que é adepta de um corte fiscal que faça "aumentar a competitividade" das empresas portuguesas para gerar a tal riqueza de que todas se orgulham de gerar, que soluções práticas apresenta? Que têm feito as empresas para aumentarem a sua competitividade? O que têm feito essas mesmas empresas que se queixam a torto e a direito do Estado mas esperam do Estado uma solução para a sua situação? E depois de gerar essa riqueza, como propõe que ela seja redistribuida? Já sei, fazemos como a troca de nome do SISA. Criamos doaçõoes forçadas e fingimos que não são impostos, que tal?

Mas parabéns, ao menos tem bastante paciência para fazer contas. Deve ser uma rica e jovem executiva, por certo...

Publicado por: HokaHei às maio 31, 2005 11:17 PM

Estas contas são fáceis de fazer. É um quadro Excel com meia dúzia de linhas, que se muda de executivo para quadro intermédio e por aí fora.

Os adoradores do Moloch estatal desculpam a avidez deste com o facto das empresas não terem competitividade. Mas com um Estado que custa desmesuradamente, com uma burocracia que emperra tudo, com uma justiça que não resolve nada, com um sistema de ensino que é o maos caro e o pior da Europa, não incentiva a competitividade das empresas ... incentiva a fuga das empresas.

Bem ... pelo menos, quando elas se forem embora deixam de as atacar. Só não sei quem os vai sustentar.

Publicado por: Joana às maio 31, 2005 11:34 PM

Grande não-resposta. Volto a perguntar-lhe: se as empresas pedem rédea solta do Estado, que têm feito elas até agora para assegurarem a sua competitividade? Investem na formação profissional? Duvido (e com conhecimento de causa). Investem nas novas tecnologias? Tirando meia dúzia de tubarões com as posses para tal, o mais que se arranja são computadores e todos batemos palmas às novas tecnologias, que até Internet têm. Procuram novos mercados? Demasiadas não (e falo novamente com conhecimento de causa). Metem as mãos à cabeça desde a governação de Cavaco e berram muitas vezes seguidas "Ai que é a minha desgraça!". Diga-me que têm feito as empresas, agora que concluímos que o Estado pouco e mal tem feito. E não sou admirador de Moloch. Aliás, serei anarca numa visão romântica em que a consciência humana seria a melhor das leis. Essa seria outra discussão, sobre as utopias, desnecessária para o caso. Mas que soluções nos apresenta para além da simples evidência de que pagar impostos e morrer é uma merda (à falta de expressão mais adequada)?

Faça essas mesmas contas para a empregada da limpeza que ganha 400€ (a recibos verdes), vive na Amadora e também quer viver. Se calhar ainda sobra algum ao executivo para partilhar se ao fugir, for em económica e não em primeira classe.

Explique-me, dentro do conceito de riqueza e redistribuição, de que adianta as empresas bradarem a necessidade de criar a tal riqueza (e já lá vão 50 anos de brados) se depois fazem uma birra à Patacôncio, daquelas em que comem o chapéu com sal e pimenta, por ter de a partilhar.

Sem impostos, há sempre o Sudão. Ou o Mónaco.

Publicado por: HokaHei às maio 31, 2005 11:42 PM

Mas afinal parece que os baixos salários e a crise é coisa de minorias tal a quantidade de blogues que hoje se mostram tão revoltados com os ditos 70%,

Em suma mais de 80% dos portugueses não têm esse problema pagam bastante menos pois ganham ordenados de miséria.

Se uma elite entende que a crise é coisa para a ralé se preocupar e que o apertar do cinto é coisa de povinho , então é altura de dizer ou há moralidade ou comem todos.....

Quanto há possivel inveja dos ditos bem sucedidos na vida, volto a dizer

A trabalhar honradamente NINGUEM faz fortuna

Publicado por: a.pacheco às maio 31, 2005 11:47 PM

Muitó Bem !!!

Cara Joana

Se bem se lembra, eu no ano passado, já me tinha revoltado contra a "Fuga aos impostos" e tinha até provado, com o mesmo raciocínio que agora aplicou, que efectivamente, quando um empresário seja ele qual for, foge com 100.000 contos ao fisco, na realidade ele apenas Obteve a respectiva ansiedade e angustia características intrínsecas à fuga, e nada mais.

Porque.... ao comprar o belo mercedes de 60.000 e a bela vivenda de 200.000, ainda fica é entalado, e o Estado arrecada toda a fuga e mais alguma, Mantendo aliás o Moloch atento às fugas futuras.

Do seu genial raciocínio e do meu, podemos concluir o seguinte:

1º - Não há hipóteses de fuga em Portugal aos Impostos .
(excepto prá Fátima Felgueiras, mas teve que fugir pró Brasil).

2º - Afinal os são , e portanto os tais vencimentos de 25.000 euros/mês são de estimular e até de criar mais e mais desses postos no Estado, pois a Joana comprovou que são "executives" baratos, apenas ganhadores da Ilusão de levar aquela quantia no final do mês para casa, deixando-se sugar nos restantes 30 dias, pelo Krido Moloch.

3º - Finalmente resta-me dar vivas ao Moloch, pois é o belo monstro que repõe toda a Justiça e nos dirime em anõezinhos que sempre fomos.

Publicado por: Templário às junho 1, 2005 01:01 AM

Estes 2 posts, Joana, são a prova mais angustiante da situação a que chegámos. O Estado devora-nos, mesmo quando não damos por isso.
Li, nos comentários a estes posts, algumas graçolas. Críticas que desmontem os números nenhumas. Poderão ser 72%, ou 70%, ou 65%, ou ... mas é excessivo. É sempre excessivo. É demais. E vemos muito pouco em troca

Publicado por: soromenho às junho 1, 2005 01:06 AM

No anterior comentário o "sistema" cortou-me os boys e as garçonnettes ! esquesito... ele há coisas... na informática...

2º - Afinal os "boys" são Garçonnettes, e portanto os tais vencimentos de 25.000 euros/mês são de estimular e até de criar mais e mais desses postos no Estado, pois a Joana comprovou que são "executives" baratos, apenas ganhadores da Ilusão de levar aquela quantia no final do mês para casa, deixando-se sugar nos restantes 30 dias, pelo Krido Moloch.

Publicado por: Templário às junho 1, 2005 01:07 AM

A conclusão é que a classe média, média baixa ou média alta, sustenta este monstro ineficiente e corrupto.
E isto tem que acabar. A bem ou a mal.

Publicado por: soromenho às junho 1, 2005 01:09 AM

Completamente de acordo consigo, soromenho.
Iso vai acabar com uma revolta dos contribuintes, mais tarde ou mais cedo.
Ou então com a deslocalização da maioria das empresas.

Publicado por: Rave às junho 1, 2005 01:13 AM

Pró Soromenho e pró Rave

Pago pra ver a revolta dos Burgueses !!!

eheheh será que ainda os têm no sítio ?


Publicado por: Templário às junho 1, 2005 01:26 AM

Será, provavelmente, a mais idiota revolução da história. Mas ainda assim, uma revolução de pressupostos justos. Que cor escolhemos? Que flor? Que impressos do IRS levamos para queimar?

Publicado por: HokaHei às junho 1, 2005 01:34 AM

Quer que as empresas sejam competitivas? Reduza o IRC para 0%. Nenhum outro «Moloch» consegue ir abaixo disso.

Mas não reduza os impostos aos empresários. Nem aos executivos. Eles não precisam, e, como os papás não têm «contactos» no grande mundo, também não estão em condições de emigrar.

Publicado por: Zé Luiz às junho 1, 2005 01:51 AM

A Joana está mal informada sobre os preços de casas em Lisboa. Por 120.000 euros compra-se facilmente um T1, não um T0, numa zona razoável da cidade. Mas se aceitar uma zona com má fama (mas não necessariamente com mau proveito!), digamos os Anjos, os preços descem. Ainda há pouco tempo um amigo meu vendeu um T3 no Intendente por 90.000 euros - e era uma casa boa, na qual ele tinha vivido com a mulher e dois filhos durante já uma ou duas dezenas de anos.

Publicado por: Luís Lavoura às junho 1, 2005 09:49 AM

Zé Luiz às junho 1, 2005 01:51 AM:
O peso fiscal maior para as empresas não é, frequentemente, o IRC - são as quotizações para a SS, principalmente em empresas com um grande peso de pessoal (empresas de engenharia, de serviços, ou de mão de obra pouco qualificada).
E quanto à competitividade, o pior é a rigidez do mercado laboral, que impede uma melhor afectação de recursos humanos, o não funcionamento da justiça, que facilita a proliferação do não pagamento, e os entraves diversos provocados pelo mau funcionamento e excesso de burocracia estatal.
Tudo isto tenho escrito dezenas de vezes neste blog.

Publicado por: Joana às junho 1, 2005 09:59 AM

Luís Lavoura às junho 1, 2005 09:49 AM:
Esse seu amigo teve sorte. Deve tê-la vendido para um segmento de mercado próprio dessa área.
Uma casa em 2º mão precisa de muitas obras de remodelação. O meu pai comprou há 3 anos um T3 á minha irmã mais nova por 35 mil contos, em Lisboa. O prédio teria uns 20 anos. Os anteriores proprietários viviam lá e a casa estava habitável, para muitos padrões. Quando se meteu a fazer obras de remodelação, gastou mais 8 a 9 mil contos. E não mexeu no chão. O pior são as cozinhas, as casas de banho e as canalizações dentro das paredes, incluindo a electricidade, janelas, portas, etc.

Publicado por: Joana às junho 1, 2005 10:07 AM

Isto é, substituiu o chão da cozinha, casas de banho e marquise. Só não mexeu no chão das assoalhadas, que era em parquê e só precisava de tratamento.

Publicado por: Joana às junho 1, 2005 10:09 AM

Zé Luiz às maio 31, 2005 11:50 PM

Caro Zé Luís:
Justamente por eu ser uma pessoa sensível é que me incomoda viver nesta sociedade COM um Estado "organizado" para ser ineficiente.
Acho isto um espectáculo muito impróprio duma sociedade que se diz civilizada.
Quanto às tais sociedades desorganizadas a sério (na sua expressão), bem, o mal é delas. Não podem é servir, por comparação, de conforto, de lenitivo, de refrigério ou de desculpa para os desvarios que aqui se praticam. Não constituem padrôes de referência para nos guiarmos, sob pena de acabarmos por aceitar o insalubre princípio "do mal o menos, porque aqueles são piores".

Publicado por: Senaqueribe às junho 1, 2005 10:18 AM

Não é um segmento próprio de mercado, Joana. São simplesmente casas antigas. Não têm 20 anos de idade, têm 70. Um outro amigo meu, alemão, que vivia num T3 no Intendente (4º andar sem elevador, mas casa muito bem arranjada, janelas alemãs em vidro duplo, soalho antigo belíssimo, etc), vendeu-o há dois anos por 80.000 euros para ir viver para o campo nos arredores de Castelo de Vide. Um outro casal meu conhecido comprou casa nos Anjos por 110.000 euros, mas era quando a zona era melhor afamada.

São os preços típicos daquela zona. Não é nenhum nicho de mercado especial.

Mesmo se você fôr para as Avenidas Novas, uma zona chique, encontra T1 recentes à venda por 125.000 euros. Na minha zona (Campo Santana), com 115.000 euros arranja um belo T1, recente.

Publicado por: Luís Lavoura às junho 1, 2005 10:19 AM

De qualquer forma, Portugal, que a Joana tanto abomina, parece apesar de tudo ser um país muito atraente. Um colega meu romeno, que se doutorou nos EUA, diz que escolheu Portugal para viver; tenta desesperadamente arranjar trabalho para sobreviver, mas não hesita, diz que a Roménia é uma merda e os EUA outra, Portugal é um país livre, diz ele, em que as pessoas podem ter a opinião que quiserem e o modo de vida que lhes apetece - ao contrário dos EUA, salienta ele. O meu alfaiate, um paquistanês, está tão satisfeito por cá estar, pelo muito trabalho que tem e pelo muito dinheiro que consegue ganhar, que diz que já está a preparar a vinda de um irmão, também alfaiate, que montará outra loja em Lisboa.

Não estamos tão mal assim.

Publicado por: Luís Lavoura às junho 1, 2005 10:29 AM

Eu acho piada a malta discutir preço das casas, cilindrada dos automóveis, etc, quando o facto mais pertinente e que nenhum destes "quadros" leva para casa mais de 55% do valo do seu trabalho, logo à partida. Esse é o roubo mais substancial e que não é compensado com serviços que o Estado presta.
Quanto aos impostos, implícitos ou explícitos, sobre o consumo, se são 15% ou 30%, a diferença não é muita quando comparada com o peso que tal representa.
Será que não perceberam que somos roubados indecentemente?

Publicado por: Diana às junho 1, 2005 10:45 AM

Luís Lavoura:
Quando uma pessoa se preocupa com o futuro do país, não é com certeza por o abominar.

Publicado por: Diana às junho 1, 2005 10:46 AM

Sim, sim, Luís... De facto comparar Portugal com a Roménia ou o Paquistão... Já essa comparação com os Estados Unidos, não entendo. Estou no processo de operar um quisto na face, num hospital público. Resultado da última consulta: 'Então, doutor? Não vai operar agora? Isto não é uma intervenção complicada, pois não?' adiantei eu, esperançosamente. 'Mas o amigo pensa que está onde? Nos Estados Unidos? Vai ter que ir para a lista de espera para a cirurgia. Leve este impresso e vá à secretaria de cirurgia.' replicou o médico. Isto passou-se em Abril. Na 'secretaria de cirurgia' marcaram-me a intervenção para 'talvez em Setembro, mas não lhe posso dar a certeza, dê-me um contacto seu'. Lá dei o número do telemóvel... Talvez em Setembro... Espero só que seja antes de Setembro de 2007.

O teu amigo romeno deve achar que os Estados Unidos são uma merda porque não têm empregos assegurados, e suprema chatice, tem que se trabalhar para ganhar dinheiro. Que raio de curso tem esse teu amigo, que nem doutorado consegue arranjar emprego?

Publicado por: Pedro Oliveira às junho 1, 2005 10:51 AM

Se eu vivesse no «rectângulo», já tinha organizado a minha vida algúres na Raia. Ou decididamente em Espanha.

Publicado por: asdrubal às junho 1, 2005 11:06 AM

Não é por nada, mas alguém sabe se nos restantes países da UE a proporção do rendimento das famílias que vai para o Estado não é semelhante? Ou Portugal é alguma excepção?
Pode acontecer que a tributação elevada sobre as famílias seja normal nos países desenvolvidos, que fornecem uma enorme panóplia de serviços aos cidadãos.

Publicado por: Daniel às junho 1, 2005 11:09 AM

Neste Blog o Estado é o Bombo da Festa. Pior que isto só boneco de feira de levar com bola de trapos na tromba.
Como se o Estado fosse responsável pelo estado em que 30 anos de desgovernos PS/PSD/CDS o colocaram.
A generalidade dos ilustres afixadores e a sua "sponsor", a mui krida Princesa de Xabregas, até mostram alguma cultura. E fazem alguns TPCs. Mas tudo isto é duma inconsequência de bradar aos céus.
Olhem bem para o exemplo dos Franceses. Marimbaram-se nos PSs/PSDs/CDSs de lá, votaram NÃO e com isso provocaram um CHOQUE PSICOLÓGICO que está a desvalorizar o Euro, com efeitos benéficos na competitividade europeia.
Fazem bem em ler o D. Quixote de la Mancha, mas não precisam de interiorizar e imitar. Deixem lá o tenebroso moloch, moinho de vento de Cervantes. Quando o Estado for gerido por governos competentes, quando não for pilhado, quando tiver património e for eficiente, as coisas mudarão. E os impostos baixarão.
E já agora, para eventuais interessados, posso informar que um T4 no Barreiro custa menos que um T1 no Intendente.
Um abraço para todos. E já agora: QUE O GOVERNO VOS IGNORE!

Publicado por: elmano às junho 1, 2005 11:52 AM

Luis Lavoura diz:"Um colega meu romeno, que se doutorou nos EUA, diz que escolheu Portugal para viver; tenta desesperadamente arranjar trabalho para sobreviver, mas não hesita, diz que a Roménia é uma merda e os EUA outra, Portugal é um país livre, diz ele, em que as pessoas podem ter a opinião que quiserem e o modo de vida que lhes apetece - ao contrário dos EUA, salienta ele."

Joao P diz: Como????!!!!!!!!!!!!!!!

Publicado por: Joao P às junho 1, 2005 12:00 PM

Mais um excelente post que vou linkar para o Blasfémias.

Esta é a evidência: pagamos demais e recebemos de menos.

E o conselho que nos dão é: vai viver para o Intendente! Ou faz fatos num alfaiate paquistanês...

Publicado por: RAF às junho 1, 2005 12:19 PM

Eu nem sequer culpo os funcionários públicos em bloco. Mas culpo uma tradição de laxismo que existe no ESTADO desde sempre. Outro exemplo: com a implementação do NSR na função pública foi também decidido que os funcionários passariam a ser sujeitos a avaliação de desempenho. Resultado: a função pública portuguesa só tem funcionários Bons e Excelentes (ou Muito Bons, já não recordo exactamente a nomenclatura). Embora já tivesse as minhas suspeitas sobre a explicação deste fenómeno, numa reunião (em trabalho) com um administrador de uma instituição de saúde pública foi-me explicado o porquê: o administrador concordava que a avaliação de desempenho era uma palhaçada (falou-se em pro-forma), mas que também ele tinha que dar avaliações máximas aos seus soburdinados, caso contrário, seriam prejudicados em relação a outros com chefias mais complacentes...

Desenvolvendo este raciocínio, podemos estender a sua aplicação ao fisco: o meu vizinho foge ao fisco o mais que pode, portanto também eu devo fazer o mesmo, caso contrário ficarei prejudicado relativamente a ele...

Parece-me mais que existe um problema de mentalidades retorcidas nesta nossa cultura. É que qualquer uma destas atitudes revela falta de cultura cívica (para além de egoísmo) disfarçada de sentido de justiça. O problema é que estas atitudes estão sempre presentes: a cunha não tem ideologia, e aplica-se por igual a todo o espectro político, idem para o laxismo. Afinal o sentido popular (e elitista) de 'justiça' aponta para 'Se os outros fizeram, porque não eu?'

O que de qualquer modo não iliba o estado de chupar os mais fracos em troca de serviços péssimos.

Publicado por: Pedro Oliveira às junho 1, 2005 12:56 PM

soburdinados -> subordinados, claro.

Já agora, João P, se calhar o amigo romeno estudou numa daquelas universidades americanas liberais, tipo Columbia, em que é considerado crime ter ideias que não sejam politicamente correctas.

Publicado por: Pedro Oliveira às junho 1, 2005 12:59 PM

Que mal é que tem viver no Intendente? Homessa. Faz-se massa e não se pagam impostos.
É preciso é arranjar um apoderado musculado e bom a manejar as naifas.

Publicado por: Chica Faz-Tudo às junho 1, 2005 01:33 PM

Tal como eu pensava, em Portugal não há uma carga fiscal muito diferente da dos restantes países desenvolvidos. Encontrei dados em:

http://www.nationmaster.com/country/po/Taxation

Publicado por: Daniel às junho 1, 2005 01:37 PM

Essa estatística deve ter-se esquecido dos 23,75% que as empresas pagam e que "ninguém vê".
Esqueceu-se também do excesso de impostos que em Portugal oneram a Construção Civil, os automóveis, os combustíveis, etc.
Além disso ainda trás o IVA a 17% ... há que anos!!!

Publicado por: Hector às junho 1, 2005 01:54 PM

Está bem, Joana.

Vamos admitir que o seu executivo, farto de pagar 70% da riqueza que produz (ou que adquire?) em troca de serviços de qualidade inferior, decide emigrar.

Suponhamos que se trata de um profissional competente, criativo, qualificado, seguro de que tem «marketable skills» suficientes para poder trabalhar e ganhar dinheiro em qualquer parte do mundo. Para onde se orientarão os seus passos?

Para os EUA, naturalmente. Onde verificará que os cidadãos, em vez de terem de trabalharr 134,3 dias por ano para o Estado, como em Portugal, «só» têm que trabalhar 92,5 dias.

«So far, so good», pensará o nosso herói, que se habituou desde pequenino a pensar em Inglês. 92,5 dias a trabalhar para o Estado ainda é um balúrdio, mas já é um progresso.

A primeira coisa que vai fazer a seguir é verificar é se a relação preço/qualidade dos serviços prestados pelo Estado americano lhe é tão vantjosa como a carga fiscal. verificará que nos EUA há excelentes escolas - mas caras. As gratuitas são piores do que as nossas. Do mesmo modo há excelentes hospitais e excelentes seguros de saúde - mas, mais uma vez, caríssimos. Em muitas zonas não há transportes públicos: não ter carro, que era uma opção em Portugal, é uma impossibilidade nos EUA. Ainda bem que os carros e os combustíveis são muito mais baratos do que na Europa, mas mesmo assim não deixam de ser uma despesa obrigatória.

Somando os preços dos serviços que o Estado americano não presta, ou presta pior do que em Portugal, o nosso jovem conclui que paga pelas mesmas coisas bem mais do que 70% da riqueza que produz. «Goddam!» diz ele para os seus botões; e decide emigrar de novo, para outro país anglo-saxónico de cultura liberal.

Chega ao Reino Unido. Os impostos, contrariamente ao que ele imaginava, não são mais baixos do que em Portugal, são até ligeiramente mais altos: 137,3 dias de trabalho anual contra 134,3. Mais três dias não é muito. Se os serviços prestados pelo Estado forem melhores do que em Portugal, talvez se justifique.

Bom, a Justiça funciona indubitavelmente melhor, apesar daquela complicação toda dos «solicitors» e dos «barristers». As escolas, depende. Nos hospitais há listas de espera, altas prematuras, erros médicos, doenças fora da lista que dá direito a tratamento comparticipado. A segurança nas ruas... bom, da terceira vez que um bando de jovens paquistaneses lhe rouba o carro para andar em corridas nocturnas pela cidade, o nosso jovem decide emigrar de novo, desta vez para a Suécia.

Ena pá, aqui é que os impostos são altos! 184,2 dias por ano! Mais 50 dias do que em Portugal! O dobro do que nos EUA!

Ao primeiro impacte o nosso intrépido viajante sente-se desfalecer. Mas cedo se recompõe: as escolas são excelentes; os hospitais idem; a burocracia é omnipresente, mas discreta e eficaz. pode-se andar nas ruas a qualquer hora do dia ou da noite, e na maior parte do país até é possível deixar o carro destrancado com as chaves na ignição. O preço é alto, muito alto, mas a relação preço/qualidade é a melhor que o nosso amigo já viu.

Por uns tempos sente-se feliz. mas a cabeça dum jovem executivo nunca pára de pensar, e a ele dá-lhe para pensar o seguinte: que lhe interessa a ele que as escolas suecas sejam excelentes? A mesma saudável noção do interesse próprio que o leva a não gostar de pagar impostos leva-o a não querer ter filhos. É jovem e saudável, não precisa
do sistema de saúde sueco. É atlético, pratica artes marciais, está em forma e julga-se capaz (erradamente) de se defender do ataque de qualquer assaltante. E os impostos, meu Deus, os impostos...

Tem uma ideia. Decide correr um risco. Tem talento para a gestão e para a organização, e se há lugares em que esse talento faz falta são recisamente as sociedades mais desorganizadas do Planeta - aquelas em que o Estado, ou nunca existiu, ou entrou em colapso por uma razão ou por outra. Lugares onde não se paga impostos: os funcionários das Finanças, se alguma vez os houve, há muito que deixaram de receber os seus salários e foram engrossar as hordas de famintos nos campos de refugiados.

«O meu futuro», decide o nosso herói, «está no Sudão».

E vai para o Sudão, onde uns meses mais tarde é raptado, torturado e morto por um dos muitos bandos que andam por lá a exercer a autoridade possível.

Mas não sem antes ter feito as suas contas e concluído que os 100% do produto do seu trabalho que lhe era permitido guardar no Sudão não valiam a décima perte dos 30% que lhe era permitido guardar em Portugal.

Publicado por: Zé Luiz às junho 1, 2005 02:02 PM

Os dados têm poucos anos, não há grandes alterações. A questão aqui recai sobre a tributação das famílias e não sobre os impostos que as empresas pagam (teoricamente).

O Hector deve ter um conhecimento profundo dos impostos dos diferentes países da OCDE. Tem de partilhar essa informação, tenho sempre muito gosto em aprender.

Publicado por: Daniel às junho 1, 2005 02:07 PM

Outra razão que levou o nosso jovem executivo a migrar da Suécia para o Sudão foi o facto de não se imaginar em stuação de precisar de subsídio de desemprego. Tinha consciência de ter uma alta taxa de empregabilidade; e, se as coisas corressem mesmo para o torto, tinha os pais (reformados da Função Pública) para o sustentarem o tempo que fosse necessário.

Publicado por: Zé Luiz às junho 1, 2005 02:15 PM

Pedro Oliveira às junho 1, 2005 12:56 PM

"Parece-me que existe um problema de mentalidades retorcidas nesta nossa cultura."

Ora aqui é que o Pedro acerta. A culpa do atraso português está no povo português, na sua cultura, no seu modo de ser. Não está, essencialmente, no Estado português. O Estado é mau porque o povo é mau, e não o contrário.

"falta de cultura cívica (para além de egoísmo) disfarçada de sentido de justiça"

Mais uma vez, o Pedro acerta em cheio.

"a cunha não tem ideologia, e aplica-se por igual a todo o espectro político, idem para o laxismo"

Exato. A cunha aplica-se não só em todo o espetro político, mas também em todas as empresas privadas em Portugal. Não é de admirar que, com esse sistema de contratação de funcionários, elas sejam ineficientes e pouco competitivas...

Publicado por: Luís Lavoura às junho 1, 2005 02:37 PM

Algumas pessoas gozaram com a hipótese de morar no Intendente. Eu cito a frase da Joana:

"não foi possível encontrar um T0 por menos de 120 mil euros"

As minhas observações apenas se destinavam a corrigir este facto: é muito fácil encontrar em Lisboa casas (T0, e maiores do que isso) por menos de 120.000 euros. A Joana escreveu que não é possível, eu assevero que é perfeitamente possível. O que não quer dizer, está claro, que algumas pessoas aceitem viver nessas casas. Os portugueses são muito esquisitos, sobretudo em matérias de status, como se sabe.

Publicado por: Luís Lavoura às junho 1, 2005 02:40 PM

Penso que incluir as verbas da segurança social na "canga fiscal do Moloch Insaciável" é incorrecto, a menos que consideremos o Moloch aplicará a verba que o executivo e do quadro intermédio lhe confiam estritamente para

a) os fuzilar quando chegarem aos 65 anos,
b) obrigá-los a passar fome, se tiverem a infelicidade de adoecer (na Europa a obesidade é um problema grave de saúde :-) ),
c) condená-los à prisão com trabalhos forçados se ficarem desempregados.

Eu encaro a Segurança Social como um montepio em que cada um põe 35% do que ganha (11% em nome próprio, 24% em nome da empresa) para estar protegido na infância e na velhice. Afinal, se eu viver 80 anos e trabalhar 40, tenho de financiar 20 anos de infância e 20 anos de velhice.

Se a Segurança Social foi confiada ao Estado, foi porque o conjunto dos cidadãos, representados pelos deputados escolhidos por sufrágio directo e universal, acredita que a gestão agregada desses activos seria mais eficiente.

Uma alternativa (utópica!) interessante seria acabar com a Segurança Social colectiva e fazer com que esses serviços fossem garantidos pelas redes sociais privadas/familiares. Aqueles que não fossem capazes de sobreviver, seriam eliminados.

Parece loucura mas já tive um aluno - com mais de 25 anos! - que defendia isto. Dizia ele que o problema de Portugal era um milhão de reformados que não produziam e consumiam recursos: "São um peso-morto, logo devem ser mortos". O melhor era matá-los com uma injecção letal. Mas se tal implicasse custos sociais e económicos excessivos, a solução passaria por deixá-los morrer discretamente, retirando-lhes a Segurança Social e os benefícios do Serviço Nacional de Saúde, pois sem isso morreriam num ápice. Foi há 10 anos e ele ara um adepto fervoroso do economista Pedro Arroja.

...

Como nota pessoal, sou membro da Caixa de Previdência dos Engenheiros, que é um montepio privado e voluntário dos engenheiros (penso que os advogados têm uma quotização obrigatória, não sei como são as outras profissões). Quando disse aos senhores que gerem a Caixa que a quota era pequena e os benefícios também, responderam-me que mesmo assim, eram pouquíssimas as pessoas que pagavam.

A quem confiam os meus colegas a reforma ?Ao "Moloch", aos PPRs (agora sem benefícios fiscais)? aos fundos de pensões dos seus empregadores ou ao auto-aforro ?
Sentem-se confiantes no pós 65-anos ? Ou terão que trabalhar até ao dia da sua morte ?

Publicado por: João GM às junho 1, 2005 02:42 PM

Adendas:

1) Se eu mudar dez vezes de emprego durante a vida, será que consigo uma gestão optimizada dos recursos cativos em dez fundos de pensões após a minha reforma ? Como ? Ou será preferível ter tudo num montepio comum

2) a Segurança Social também nos protege no desemprego - cada vez mais provável quando se muda frequentemente de emprego - e na doença - se ficamos deprimidos com estes números, aumentamos o número de baixas e o consumo de anti-depressivos.

Por isso, sejamos optimistas, eficientes e exigentes com a eficiência do "Moloch" na gestão dos activos que lhe confiamos.

Publicado por: João GM às junho 1, 2005 02:50 PM

Zé Luiz às junho 1, 2005 02:02 PM:
O problema é que os portugueses pagam, mas depois, os que podem, têm que recorrer aos privados.
A minha mãe tem que ser operada às cataratas e ou espera no mínimo 1 ano (foi a indicação que lhe deram no Gama Pinto) ou vai a um privado, e são 2 mil euros.
Essa sua conversa não passa de tretas.

Publicado por: Rave às junho 1, 2005 02:56 PM

Eu nem faço contas.
Com um crescimento económico na casa de 1 ou 1.5% e um sistema de protecção social decalcado dos velhos bons tempos das "Trinta Gloriosas", isto vai parar longe !
Excepto se o caro Zé Luís, em quem deposito esperança em des-construir fantasias, me disser que uma coisa, nada tem a ver com a outra.

Publicado por: asdrubal às junho 1, 2005 03:20 PM

"Os portugueses são muito esquisitos, sobretudo em matérias de status".
Então aqui no Intendente não ha´status? Havias de ver a minha clientela, filho! Ficavas a morder-te de inveja!

Publicado por: Chica do Intendente às junho 1, 2005 03:21 PM

Rave:
Isso é verdade, mas é apenas uma face da moeda.
A outra é que se a sua mulher for ter um filho numa clínica privada e a situação se complicar, é levada de ambulância para um hospital público.

Publicado por: Zé Luiz às junho 1, 2005 03:35 PM

Mas qual gestão de activos, João GM? Toda a gente sabe que a Segurança Social não capitaliza o valor dos descontos: de facto, o estado 'social' não passa de uma fraude em piramide. Se eu ou tu fizessemos o mesmo estavamos agora na prisão. Quem é que ainda se lembra da D. Branca (um escandâlo com um esquema em pirâmide nos anos 80)? Aquilo que agora descontamos é usado agora para pagar pensionistas, baixas, e claro, as despesas de funcionamento da Segurança Social, incluindo uma generosa fatia de despesas com o pessoal (como não podia deixar de ser)...

Publicado por: Pedro Oliveira às junho 1, 2005 03:46 PM

Já agora, Luis, não é 'o povo que é mau'. As elites é que são péssimas. O povo é aquilo que é. Limita-se a seguir os exemplos que, afinal de contas, vêm de cima.

Publicado por: Pedro Oliveira às junho 1, 2005 03:49 PM

"Aquilo que agora descontamos é usado agora para pagar pensionistas"

E assim é que está correto. Porque o que conta é o TRABALHO que dá sustentar esses pensionistas. O dinheiro é uma mera ficção, que pode ser "comida" pela inflação, por uma desvalorização da moeda, ou por uma queda do mercado de ações. O que interessa, fisicamente, é que haja pessoas capazes de sustentar os pensionistas (e as crianças) de hoje, aqui e agora. Pessoas capazes de fabricar medicamentos, de trabalhar nos lares, etc. Ou seja, o que interessa é que a sociedade ativa DE HOJE seja capaz de sustentar os velhinhos DE HOJE, e que as pessoas ativas DE AMANHÃ sejam capazes de sustentar os velhinhos DE AMANHÃ.

De nada valerá as pessoas hoje descontarem para a reforma e porem tudo em ações ou seja no que fôr, para descobrirem daqui a 30 anos, quando forem velhas, que ninguém está disposto a sustentá-las, ou seja, que as ações não valem nenhum.

As ações, os "assets" bancários, são apenas papeis. O que interessa é o trabalho físico de pessoas concretas.

Publicado por: Luís Lavoura às junho 1, 2005 04:02 PM

Obrigado, Luís. A partir de agora vou deixar de aceitar dinheiro, bah! papéis. Quando o meu patrão me quiser dar dinheiro digo-lhe: Ná, o meu amigo Luís disse que o que valia era o trabalho físico de pessoas concretas. Faça favor de ir a minha casa e pintar as paredes que bem precisam.

Publicado por: Coruja às junho 1, 2005 04:09 PM

Caro Asdrúbal:

Por um lado não sabemos se o crescimento económico vai ficar para sempre na casa dos 1 ou 1,5%. Os economistas dizem-nos que se tratarmos agora das finanças poderemos tratar depois da economia: vamos confiar neles.

Por outro lado, a protecção social não tem que ser obrigatoriamente decalcada da dos «Trinta Gloriosos». Em matéria de protecção social, como em tudo, tudo é possível, nada é obrigatório e nada é inevitável - desde que as contas batam certo.

Na equação da protecção social há muitos valores a ter em conta: a taxa de natalidade, a esperança de vida, a duração das carreiras contributivas, a idade de reforma, o montante das contribuições, o montante das pensões. Destes factores, uns podem ser previstos, os outros podem ser objecto de decisão política directa, e outros ainda - como a taxa de natalidade - podem ser influenciados indirectamente.

Portanto a protecção social PODE SER GERIDA. É uma questão de fazer contas, só isso. Quem diz que a protecção social não pode ser gerida e está condenada a desaparecer é porque está interessado nesse desaparecimento - e compreende-se porquê: é mais difícil impor maus empregos a quem tem como alternativa o subsídio de desemprego e a pensão de reforma do que a quem não tem alternativa.

E digo mais: não há razão nenhuma para que as decisões não sejam tomadas pelos próprios interessados. Ao gestor do sistema, fosse ele o Estado ou outro, competiria apenas fazer as contas. Se alguém se quisesse reformar aos trinta anos de idade, o gestor diria apenas: reforme-se se quiser, mas com a sua esperança de vida e a sua carreira contributiva a pensão que vai receber será apenas de 1 €.

Se o candidato a pensionista aceitasse esta proposta, poderia arranjar outro emprego, acumular o salário com a tal pensão, e iniciar uma segunda carreira contributiva que lhe daria direito, algum tempo mais tarde, a uma segunda pensão - já não de 1 €, mas de 10 €. E assim sucessivamente, até ao momento em que todas as pensões somadas atingissem o montante duma pensão normal.

Até seria possível, a quem quisesse e pudesse, aumentar a sua contribuição de modo a ter uma pensão mais alta ou a reformar-se mais cedo no futuro.

Uma das vantagens deste sistema é que permitiria reduzir drasticamente o subsídio de desemprego, substituindo-o por uma indemnização de prestação única que ficasse mais barata ao Estado e não constituísse incentivo ao não-trabalho. Um trabalhador que ficasse desempregado aos 45 anos receberia a sua indemnização, começaria imediatamente a receber uma pensão de reforma, e não perderia nem a indemnização nem a pensão se recomeçasse a trabalhar. Acumularia tudo, faria descontos sobre tudo e pagaria impostos sobre tudo.

Aos 55 anos muitos portugueses estariam provavelmente a acumular um ordenado com cinco ou seis pensões de reforma; aos 60 só estariam a trabalhar se quisessem; aos 70 estariam provavelmente a receber dez ou quinze pensões, todas elas baixas, as mais recentes muito mais avultadas do que as antigas, perfazendo um total decente.

Publicado por: Zé Luiz às junho 1, 2005 04:19 PM

Vou então deixar um desafio à Joana, que tanto gosta de fazer contas....


1) O dinheiro dos impostos vai para qualquer lado. Alguém o recebe e presta serviços por o receber. Desafio a Joana a nos dizer quem é que recebe esse dinheiro e esses serviços (e neste caso quanto é que esses serviços equivalem em dinheiro).


2) A Joana ficará então em posição de fazer uma comparação quantitativa entre o que alguém, o seu executivo, o seu quadro técnico médio, a sua secretária, o seu operário, o seu assalariado agrícola (não se esqueça destes três ultimos!... afinal há-os em muito maior número no nosso país), paga de impostos e o que recebe em troca.


Neste momento a única coisa que a Joana faz é quantificar a despesa, e depois lança a insinuação de que é mal gasta.... E que tal a Joana responder (quantitativamente) à sua própria pergunta:

"O que é que este quadro médio recebe em troca do Estado, por lhe ter entregue cerca de 63% do valor do seu trabalho?"

Olhe, se quiser até pode dar a resposta no seu caso pessoal: quanto é que acha que pagaria pelos serviços que o Estado paga, se este não existisse?... Até responder a isto, como se diz mesmo lá fora, a Joana está "cheia de ar".....

Publicado por: viana às junho 1, 2005 04:20 PM

1-Nao deixa de ser curioso que em Jaquinzinhos (Mais uma corrida, mais uma viagem), seja apresentada uma situação análoga.

2-A Joana tem de passar a ter mais cuidado com a utilização de alguns conceitos. De facto, quando se refere ao valor da habitação diz que " 45% do custo de produção são impostos", para, logo de seguida, aplicar este coeficiente ao valor da amortização. Ora, como se sabe, a amortização é composta de duas parcelas, Capital e Juros, e o seu valor total incide, em regra, sobre o preço comercial. Também se sabe que o valor comercial incluí todos os custos, inclusivé o de produção, e o lucro do investidor.Este, no caso do sector da habitação não é nada dispiciendo.
Assim, não é legitimo aplicar o coeficiente de 45% com a ligeireza como o fez.

3-Há ainda outro aspecto intrigante: a aplicação do coeficiente de 45% é também extensivo ao caso das transacções de habitações em 2ª. mão? Quer explicar melhor?

Publicado por: Luís Filipe às junho 1, 2005 04:25 PM

Essa pergunta que ela fez, ainda não encontrou resposta nos comentários deste post ou do anterior.
Só vejo gente transtornada com os posts e com algumas parcelas, que nem são as maiores, casa, carro de alta cilindrada, etc.

Publicado por: Ricardo às junho 1, 2005 04:36 PM

Bem, alguns disseram que no Sudão ainda era pior.

Publicado por: Ricardo às junho 1, 2005 04:38 PM

Outra possibilidade, a aplicar em complemento da anterior:
Quem tivesse um ascendente, descendente, cônjuge, ex-cônjuge ou irmão a receber qualquer prestação social não contributiva sofreria um agravamento de IRS. Se a prestação fosse indevida e o contribuinte não quisesse sofrer esse agravamento, só teria que fazer a competente denúncia.

Ainda outra: baixar ligeiramente todas as prestações sociais e com parte do dinheiro poupado financiar um aumento brutal no abono de família - que seria igual para os ricos e para os pobres, de modo a não haver lugar a fraudes, mas contaria como rendimento familiar para efeitos de IRS.

Publicado por: Zé Luiz às junho 1, 2005 04:38 PM

4-Toda a argumentação da Joana está direccionada para apresentar o Estado como um insaciável sorvedouro de dinheiros, dos quais não há qualquer retorno.
Porém, não é bem assim, e por isso deixemos o caso do incógnito "quadro técnico intermédio"

5-Que tal focalizar a questão numa situação bem real, e que é do seu inteiro conhecimento?
Refiro-me ao familiar que se vai reformar no próximo ano, que, admito, está na situação seguinte:
- idade na reforma: 65 anos
- Tempo de trabalho efectivo: 36 anos
- Pensão liquida a que vai ter direito: 500 contos
- esperança de vida: 85 anos
Assim, temos:
- Valor total da reforma a valores constantes:140.000 contos
- Descontos efectuados durante o tempo de serviço: valor do conhecimento do futuro pensionista.
- Equivalente mensal de descontos durante o tempo de serviço: 278 contos (140.000/36/14)

(Note-se que o futuro pensionista esteve isento durante a maior parte de tempo de trabalho do pagamento do defunto Imposto Profissional).

E a ADSE? Nunca, mas nunca, houve qualquer comparticipação)?
A Joana e o(s) irmão(s) estudaram na faculdade pública ou privada?

Que o Estado serve mal os cidadãos é coisa inquetionável, mas este bota-abaixismo é coisa demasiada. Como se fosse possivel abolir o Estado...

Publicado por: Luís Filipe às junho 1, 2005 04:48 PM

Luis,

Ou seja, o que interessa é que a sociedade ativa DE HOJE seja capaz de sustentar os velhinhos DE HOJE, e que as pessoas ativas DE AMANHÃ sejam capazes de sustentar os velhinhos DE AMANHÃ.

O que pena é que as tendências demográficas não partilhem o teu optimismo. Aliás, não interessa se amanhã a sociedade activa portuguesa me pode sustentar ou não. Se ainda existirem reformas quando me aposentar (o que de algum modo duvido), faço tenções de a gozar num país do terceiro mundo, onde esta terá muito mais poder de compra (por exemplo, no Brazil)...

Publicado por: Pedro Oliveira às junho 1, 2005 05:08 PM

Caro Zé Luís :
.
« (...) Até seria possível, a quem quisesse e pudesse, aumentar a sua contribuição de modo a ter uma pensão mais alta ou a reformar-se mais cedo no futuro (...) ».
.
Pois é, "seria possível", mas não é. Nem no sector privado, nem no sector público. Pelo que o que me parece é que o sistema que vigora há três décadas, inflexível, nunca foi sequer GERIDO, quanto mais BEM GERIDO ... este é um País triste.

Publicado por: asdrubal às junho 1, 2005 05:48 PM

Pedro Oliveira:

Quando eu entrego ao Estado os meus descontos, não me interessa saber se ele os vai entregar aos reformados de hoje ou se os vai guardar numa gaveta para mos devolver no futuro. O que eu sei é que estou a entregar uma quantia e que em troca dessa quantia recebo a promessa duma pensão futura. É uma transacção, com parte e contraparte, prestação e contrapartida.

Ao entregar os meus descontos constituo-me credor do Estado, e o Estado ao recebê-los institui-se devedor. Se me vai pagar com o meu dinheiro, com o dinheiro dos futuros descontos, ou com as receitas dos impostos, isso é problema do Estado - e nessa medida de todos nós, é claro.

O que levanta uma questão interessante: terá o devedor o direito de adiar unilateralmente o prazo de vencimento da dívida?

Publicado por: Zé Luiz às junho 1, 2005 05:54 PM

Zé Luis, é claro que interessa. Afinal, ao contrário da percepção marxista do Luis Lavoura, não só o trabalho (humano, segundo Marx) cria riqueza (até porque o trabalho não cria necessáriamente riqueza) como também o capital (que é, afinal de contas aquilo que entregas ao estado) também é importante na sua geração: qualquer adolescente sabe que não dá o mesmo resultado investir dinheiro, ou colocar o mesmo debaixo do colchão. O dinheiro que dás ao estado, ao ser gasto hoje não realiza qualquer reprodução (ou muito pequena). Podes encarar essas contribuições como sendo muito simplesmente 'Imposto para Paz Social'.

Quanto a 'O que levanta uma questão interessante: terá o devedor o direito de adiar unilateralmente o prazo de vencimento da dívida?'

Não se trata de uma questão de direito, mas sim de poder. Existe uma velha história, atribuída a Keynes que é mais ou menos assim, e que de alguma forma ilustra a verdadeira resposta para a tua questão: 'Se eu dever 100£ a alguém e não puder pagar, tenho um problema. Se eu dever 1,000,000£ a alguém e não puder pagar, então ambos temos um problema.'

Publicado por: Pedro Oliveira às junho 1, 2005 06:32 PM

Pedro Oliveira

Não foi só Marx que disse que só o trabalho cria riqueza, foram, salvo erro, todos os economistas desde pelo menos Adam Smith até hoje. Mas há aqui quem possa esclarecê-lo melhor do que eu sobre isto, a começar pela própria Joana.

Todos os economistas concordam, também, que o dinheiro é a expressão abstracta do valor criado pelo trabalho. O capital é, portanto, trabalho acumulado.

Publicado por: Zé Luiz às junho 1, 2005 07:48 PM

É extraordinário que se entenda que as pessoas devem ir viver para a Rua do Bem Formoso (para quem não saiba fica nos Anjos, perto do Intendente) para comprar uma casa de 120 mil €. Vê-se que logo que é uma pessoa que não mora lá. É que os magníficos serviços que o Moloch proporciona, como a segurança, dizem que as pessoas daquela zona têm que aguentar o espetáculo que lá se passa porque senão o espetáculo dispersa-se pela cidade e isso é que é um problema.

Além disso, esses mesmos serviços magníficos que o Estado nos proporciona não nos impedem de levar a naifada ou, pior, com uma seringa espalhada que já foi utilizada por trinta pessoas.

O nível de estupidez daquilo que se diz devia ter limites. E não, não se compra com facilidade uma casa em Lisboa por menos de 120 mil Euros, em estado habitável, claro. Bom, peço desculpa. Encontra-se no Intendente, na Maria Pia, na Damaia, perto da Edifer. O problema á a brutal redução da esperança média de vida, tendo em conta a tremenda eficiência dos serviços do Estado.

E há outro problema - os serviços do estado, ou uma parte significativa deles, são impostos e as pessoas não têm liberdade de escolha. Nem de não ser servido nem de escolher o prestador do serviço.

Cada geração sustentar os seus próprios reformados! Muahahahahahahahahaha. E quando houver 3 reformados por cada activo? Mas em que mundo vive esta gente?

Publicado por: GWB às junho 1, 2005 07:52 PM

GWB:
Responda-me a isto em abstracto, puramente em abstracto: porque é que no futuro não há-de haver três reformados por cada activo? Ou dez? Ou vinte? Desde que a evolução tecnológica e a produtividade do trabalho o permitam?

Agora em concreto: onde é que você põe a fasquia? Porquê a esse nível e não mais abaixo ou mais acima?

Publicado por: Zé Luiz às junho 1, 2005 08:45 PM

Zé Luiz disse: "Todos os economistas concordam, também, que o dinheiro é a expressão abstracta do valor criado pelo trabalho".
Se eles disseram isso, então quero que me expliquem que tendo eu investido dinheiro numa fábrica que produz bicicletas com rodas quadradas, ainda não conseguimos vender nenhuma. Fartámo-nos de criar valor, trabalhando duramente e ainda ninguém nos pagou um chavo.
Digam-me onde estão esses economistas! E onde está esse "dinheiro que é a expressão abstracta do valor criado pelo trabalho"!

Publicado por: empresario de bicicletas às junho 1, 2005 08:47 PM

Luís Lavoura às junho 1, 2005 04:02 PM

Diga-me, caro Luís Lavoura: quando foi instituida a segurança social, os primeiros contribuintes andaram a descontar para quem?

Publicado por: Senaqueribe às junho 1, 2005 09:47 PM

Empresário de bicicletas:
Se você investiu dinheiro numa fábria que produz bicicletas com rodas quadradas, desperdiçou o trabalho representado por esse dinheiro e também desperdiçou o esforço (não sei se lhe podemos chamar trabalho) que empregou nessa indústria.

Não criou valor nenhum, pelo menos por enquanto. Mas experimente expor as suas bicicletas numa galeria de arte moderna: talvez as venda por um preço cem vezes superior ao duma bicicleta de rodas redondas.

Publicado por: Zé Luiz às junho 1, 2005 10:13 PM

A contradição em que o Zé Luiz caiu resulta de ter considerado que o valor é criado pelo trabalho, quando ele é criado no processo de troca. O valor resulta da acção do mercado. É no mercado que se ajustam as quantidades transaccionadas e os preços respectivos. Os produtores ajustam os seus custos e as quantidades a produzir em termos da curva de procura e os que não o conseguem fazer, abandonam o mercado. O equilíbrio, em concorrência, será quando o custo marginal for igual ao preço.
As operárias têxteis que vão para o desemprego não andaram a "desperdiçar trabalho". O que aconteceu foi que o seu custo é superior ao que o actual equilíbrio de mercado permite e as fábricas não se podem manter. O custo delas é superior ao valor do trabalho definido pelo equilíbrio de mercado.

Publicado por: Joana às junho 1, 2005 10:29 PM

Empresário de bicicletas:

Quando digo que o dinheiro é uma abstracção não estou a ser depreciativo. Pelo contrário, acho que o dinheiro é, esteticamente, uma das mais belas abstracções criadas pelo génio humano e que não fica atrás do teorema de Pitágoras ou da 9ª Sinfonia de Beethoven.

O carácter abstraco do dinheiro é, de resto, o que leva a que a sua história seja a história da sua desmaterialização.

Primeiro a moeda tinha que ter valor próprio; a cunhagem não era mais do que a certificação duma dada quantidade de ouro, prata ou cobre. Depois o valor facial foi-se autonomizando em relação ao valor intrínseco do oblecto-moeda. Mais tarde ainda o valor da moeda metálica passou a ser representado por pedaços de papel, e agora é possível haver moeda que nem em papel tem existência material.

Lembra-se do ECU, ou Unidade de Conta Europeia, que precedeu o Euro? O ECU nunca esteve materializado em notas ou moedas, e nem por isso deixou de ser dinheiro.

O carácter abstracto do dinheiro pode um dia tornar possível uma medida política que contribuiria muito, por si só, para acabar com os tráficos de droga, de armas, de pessoas e de órgãos, bem como com a corrupção e com a fuga aos impostos. refiro-me à desmaterialização total de todas as moedas do Mundo.

Deixava de haver «cash», passava a haver só dinheiro electrónico. Todas as transacções ficariam registadas, incluindo as mesadas das crianças e a o pagamento dum café. Esta simples medida resolveria duma penada metade dos problemas do mundo.

Publicado por: Zé Luiz às junho 1, 2005 10:42 PM

Joana;
«I stand corrected». Em face da sua explicação só me resta reiterar o conselho que dei ao Empresário de Bicicletas de procurar vender o o seu produto numa galeria de arte.

Publicado por: Zé Luiz às junho 1, 2005 10:48 PM

... enfim pode ser que, com a ajuda de Mariano Gago, o TOKAMAK do IST, nos próximos três a quatro anos, domine a produção de energia limpa a partir da fusão nuclear. De facto, neste queridíssimo Portugal, tudo é possível. Ó se é !

Publicado por: asdrubal às junho 1, 2005 10:54 PM

óh Asdrubal,,, tá aqui uma prendinha para si, vá lá,,não se poderá dizer que em Portugal é tudo assim tão mau
http://www.bichos-carpinteiros.blogspot.com

Publicado por: xatoo às junho 2, 2005 12:29 AM

A fusão nuclear nem daqui a 100 anos. Eólica, Fotovoltaica, energia das ondas e das correntes marítimas, células de combustível poderão desenvolver-se nos próximos 15 a 20 anos.
A fusão ... sabe-se lá.

Publicado por: v Forte às junho 2, 2005 01:42 AM

Ehehe, pois é «xatoo», até via expressamente o "canal parlamento" que a trocou por aquele mono do Fazenda !

Publicado por: asdrubal às junho 2, 2005 01:44 AM

Algusn comentários não têm senso nenhum.
São apenas desesperados defensores do Estado.

Publicado por: AJ Nunes às junho 2, 2005 01:48 AM

É pacífico que o Estado é ineficiente, por vezes ineficaz. Mas este umbiguismo disfarçado de defesa da competitividade, estas arengas contra serviços públicos de quem não tem a mais remota dúvida de que os pode dispensar, é irritante.

E que dizer do seu exercício de cálculo? Contém erros, revela má fé, evidencia toda a saloiice de que enfermam as nossas elites e que é, e sempre foi, a verdadeira causa do nosso défice de competitividade. Como explica a punção fiscal de 45% que aplica à compra de habitação? Não é possível pagar outra taxa de IMI? Como propõe substituir os custos de um sistema de Segurança Social? Quanto valem todas as prestações que o seu contribuinte recebe do Estado, e em especial a prestação de segurança? Precisa de habitar uma construção recente? Se todos o fizessem, ou não mudávamos de casa ou era preciso demolir a que deixássemos, que o país é pequeno para tanta edificação. E não encontra melhor uso para o rendimento do seu contribuinte que comprar um carro de 5 em 5 anos e um maço de cigarros por dia? Que tal se o seu contribuinte habitasse uma casa mais modesta, não comprasse carro e pedisse um empréstimo para criar uma empresa? Sabe, é que até é mais barato.

Publicado por: A às junho 2, 2005 07:57 AM

Raro leio um post do princípio ao fim e tão variado número de pareceres subsequentes como ora neste, de ontem para hoje, achando todos positivos na sua diversidade. E de alguns gostei, particularmente, como da viagem do Zé Luís, salvo erro, daqui aos EUA, Inglaterra, Suécia, ao Sudão, que é magistral, sem mesmo a minúcia para mangas que ainda dava.
E miraculosa, ao fim, ressalta a qualidade de serviços e segurança que, mesmo assim, em Portugal se disfruta, globalmente, sobretudo nas cidades, sem a riqueza do mar da Noruega como da terra dos Estados Unidos.
Por outro lado, hoje, os Portugueses não se bastam, pacificamente, da sobriedade dos povos nórdicos como em grande parte da população dos EUA. Ou lá se concebe por lá a oferta dos nossos centros comerciais, das nossas casas de materiais caros... Nos EUA, um vendaval arrasa cidades de casas de madeira e zinco, além de algum tijolo burro, e na Suécia maioria contenta-se da casa cómoda quão prática que aluga ao governo, quase único senhorio, em lugar de se enforcar para a vida na compra de uma caríssima.
Demais, sobre a sobriedade dos países capitalistas de raiz protestante, vocacionados para produzir riqueza na terra, em lugar de a esbanjarem em luxos, teria aqui a palavra Max Weber.
De modo que o nosso Moloch, algo espezinhado, parece-me até, à vista de outros, um mouro bastante preocupado e humano.

Publicado por: echo às junho 2, 2005 01:14 PM

Segundo percebi, a questão pode resumir-se à pergunta: "O que me dá o monstro em troca do que lhe pago". Primeiro era o jovem-executivo-modelo, (que entretanto fugiu para parte incerta com vergonha das revelações da joana sobre as suas queixinhas acerca do imposto que pagou pelo carro de nãoseiquantos mil euros), e agora é um "quadro médio". O viana já ali em cima colocou uma questão interessante, que não obteve resposta. Com licença dele, vou retomá-la a ver se comigo resulta: Quanto é que pagariam pelos serviços que o Estado lhes dá, se este não existisse? hhhmmmm... começamos por onde?... vejamos... a segurança: quando teriam de pagar os meus amigos se tivessem de recorrer a uma empresa privada para lhes proteger os bens do roubo, dos incêndios, para lhes garantir a segurança alimentar, etc. e com quanto ficariam ao fim do mês? por agora, ficamos por esta.

Publicado por: caramelo às junho 2, 2005 01:19 PM

A às junho 2, 2005 07:57 AM:
A percentagem de 45% de impostos no custo da construção civil para habitação é um número avançado pelas entidades ligadas ao sector que nunca foi desmentido.
A taxa de IMI é a aplicção da taxa de Lisboa (0,7%) sobre o valor da aquisição do imóvel.
Quanto às restantes perguntas que faz, acrescento uma:
E porque não viver numa barraca?
Isto sim (conjuntamente com as suas perguntas) é má fé

Publicado por: Joana às junho 2, 2005 01:46 PM

aramelo às junho 2, 2005 01:19 PM:
Eu não propus o desmantelamento do Estado. Leia o meu post acima, de hoje. Proponho que em vez de gastar desmedidamente, gaste como nós, pobres contribuintes, temos que fazer - gastar na medida das nossas possibilidades.
Quem está a propor o dsmantelamento do Estado é você. E nesse caso respondo-lhe: 70%x4000=2800€ por mês dá para isso tudo e ainda sobeja dinheiro.

Publicado por: Joana às junho 2, 2005 01:51 PM

A Joana pretendeu apresentar-nos os seus exemplos de consumo como generalizáveis a todos os portugueses de rendimento semelhante. Até se percebe que a Joana os considera padrões de consumo aspiracionais para os escalões de rendimento ("estatutos") imediatamente inferiores. Tenho tudo contra, mas não lhe recuso liberdade. Simplesmente não existe boa fé em apresentar-nos os seus desagrados relativamente à carga fiscal, resultado das suas preferências, com roupagens de um problema prestes a esmagar-nos todos, até aqueles mais morigerados.

Textos deste teor insinuam sempre a ideia de que não é desejável, porque não é eficiente, um sistema público de prestações sociais para proteger todos, de modo igual, face ao risco. Ideia temível e perigosa.

Que lhe ocorra contrapor (justamente) a barraca à objecção, deixa-me bem mais tranquilo quanto ao acerto do meu juízo.

Publicado por: A às junho 3, 2005 07:08 AM

O que é temível aqui e perigoso é as pessoas terem consciência do roubo a que são sujeitas para alimentar um monstro ineficiente.
É isso que faz engulhos à malta que vive à custa do Estado e que nem quer ouvir falar disto.

Publicado por: David às junho 3, 2005 02:37 PM

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