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novembro 22, 2005
Pinho Tecnológico
Sete dos dez membros da Unidade de Coordenação do Plano Tecnológico, incluindo o coordenador José Tavares, apresentaram a demissão a Manuel Pinho. O Plano Tecnológico, tal como foi concebido pela equipa demissionária, e a avaliar pelas escassas informações disponíveis, é um brilhante exercício académico. Desenvolve uma Utopia sólida. Esquece a realidade do país. Já aqui escrevi diversas vezes que o país precisa, prioritariamente, de uma justiça célere e eficiente, uma completa desburocratização da administração pública, uma fiscalidade eficiente (e simplificada) e tendencialmente menos pesada e uma progressiva privatização de actividades que o Estado desenvolve mas para as quais não tem vocação nem as realiza com um mínimo de eficiência.
Este é o nó do problema. Paralelamente com o desatar deste nó górdio da nossa economia, são bem-vindas medidas de incentivo ao desenvolvimento tecnológico, algumas delas contempladas nas listas hoje divulgadas no Público. Todavia o Governo tem que ter presente que o seu âmbito de acção é apenas esse: demolir toda a burocracia estúpida e asfixiante criada ao longo de séculos e criar incentivos para que apareçam clusters de elevada tecnologia que, num país pequeno como o nosso, podem constituir um motor de arranque da nossa economia. Não pode pretender ser ele a determinar as vias. Tem que deixar isso à imaginação dos agentes económicos portugueses ou estrangeiros, atraídos pelo bom ambiente criado ao exercício da sua actividade em Portugal.
E deve deixar isso à imaginação dos agentes económicos privados porque o Estado, nesta matéria, equivoca-se sempre. Quanto mais os mercados vivem da inovação e dos avanços tecnológicos, menos vocação tem o Estado para tutelar ou orientar a intervenção nesses mercados. A Investigação e Desenvolvimento não deve ser vista como um fim em si, mas como algo que é posto ao serviço da actividade económica. Caso contrário estamos a investir em massa cinzenta que logo que esteja convenientemente apetrechada demandará outras paragens em busca de melhores oportunidades de valorização profissional (e também remunerações mais elevadas).
Um investimento em I&D, visto como um fim em si, esgota-se no plano universitário. A imagem que o resume é a de um investigador biomédico a analisar a urina que acabou de verter na proveta.
O número de membros da UCPT e a catadupa de demissões faz lembrar um thriller, que deve estar a constituir um pesadelo para Manuel Pinho, e que pode ser resumido no poema infantil que serve de leit-motiv a um livro de Agatha Christie, Convite para a Morte:
Eram dez negrinhos que foram jantar,
Mas um engasgou-se; só ficaram
Nove.
Eram nove negrinhos que foram dormir.
Um não acordou; só restavam
Oito.
Eram oito negrinhos que foram passear.
Um não regressou; só ficaram
Sete.
Os sete negrinhos foram rachar lenha.
Um deles cortou-se; só restavam
Seis.
Os seis negrinhos mexeram num cortiço,
Um deles foi picado; só ficaram
Cinco.
Cinco negrinhos estudaram direito,
Um deles formou-se; só restavam
Quatro.
Os quatro negrinhos foram tomar banho
Mas um afogou-se; só ficaram
Três.
Eram três negrinhos que foram ao bosque,
Apareceu um urso e só ficaram
Dois.
Eram dois negrinhos, sentaram-se ao sol
Um ficou torrado. Só estava
Um.
O pobre negrinho achou-se sozinho
Foi enforcar-se e não sobrou
Nenhum.
Esperemos que não se chegue a tanto
ou que o filme acabe antes ...
Publicado por Joana às novembro 22, 2005 07:09 PM
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Lista dos links para blogues que mencionam Pinho Tecnológico:
» PORQUE SE DEMITIU A EQUIPA DO PLANO TECNOLÓGICO? from Os cães ladram e a caravana passa
A Fundação Canzoada, soube de fonte bem informada, que existiram conversas telefónicas, presentemente em segredo de justiça, apenas nós, o Expresso, o Público, o Correio da Manhã, o Diário de Notícias, o Independente e a Visão é que temos conhecimento... [Ler...]
Recebido em novembro 22, 2005 07:27 PM
Comentários
Mas este Pinho não faz parte da fina flor da banca (rica) deste país (pobre)? Então o "nosso" BES tem incompetentes no seu seio, ou pior do que isso, defendores do "Estado Social", nas suas fileiras? Como é que é Joana?
Publicado por: zippiz às novembro 22, 2005 07:43 PM
O dr. Manuel Pinho provavelmente tem mais "expertise" na área imobiliária do que na das novas tecnologias. Pelo menos são públicos os seus negócios pessoais na área imobiliária.
Publicado por: Flávio às novembro 22, 2005 08:50 PM
É impossível não ver aquilo que o grande capital não consegue esconder: o Poder concentrado no establishment americano (Democratas&Republicanos ou Socialistas&Social-Democratas) tem um plano global para monopolizar os recursos naturais do planeta, com o objectivo de manter o abastado modo de vida das classes dominantes no Ocidente.
Publicado por: xatoo às novembro 22, 2005 08:52 PM
Penso que os menores não deviam ter acesso à net
Publicado por: demolidor às novembro 22, 2005 09:32 PM
Este Pinho deve estar Xaró.
Publicado por: Senaquerib às novembro 22, 2005 09:38 PM
O Pinho é tosco.
"Então o "nosso" BES tem incompetentes no seu seio...?" pergunta Zippiz.
Não seria o único incompetente, meu caro (ou minha cara)Zippiz, com altos cargos no BES.
Publicado por: Luis Serpa às novembro 22, 2005 10:12 PM
O problema é que o Plano Tecnológico não vai conduzir a nada de relevo. Concordo com a Joana sobre o "nó górdio" da situação portuguesa. Acho que o governo está a construir a casa de cima para baixo e, é claro, cada vez que põe uma telha, ela cai no chão.
Publicado por: Nunes às novembro 22, 2005 10:38 PM
Proponho, portanto, o lançamento de um programa tecnológico abrangente com vista a dotar as telhas de um dispositivo anti-gravidade, de forma a eliminar o problema identificado pelo Nunes.
Publicado por: Incognitus às novembro 22, 2005 11:36 PM
http://xxxocolate.blogspot.com
este é o verdadeiro choque tecnológico
Publicado por: Xik0 às novembro 22, 2005 11:41 PM
Publicado por: demolidor às novembro 22, 2005 09:32 PM
Não concordo.
Deixe lá os menores fazerem tropelias.
O problema são os maiores e dentro destes os maiorais.
Publicado por: Sou o preto que foi para advogado às novembro 22, 2005 11:52 PM
Por isso é que o Plano Tecnológico mete água
Publicado por: Coruja às novembro 22, 2005 11:52 PM
Caem as telhas e chove ... chove
Publicado por: Coruja às novembro 22, 2005 11:53 PM
Este post está muito bem visto e espelha, a meu ver correctamente, as insuficiências do Plano, ou Choque.
Publicado por: Gpinto às novembro 23, 2005 01:10 AM
Disseram-me há meses que o Pinho não tinha uma boa imagem quanto a competência na actividade profissional que exercia. Na altura fiquei sem saber se seria verdade ou apenas má língua, mas cada vez me convenço mais que era verdade.
Publicado por: soromenho às novembro 23, 2005 10:57 AM
É.
E os terrenos da OTA são do Soares...
Publicado por: Vítor às novembro 23, 2005 11:05 AM
Isso foi um boato posto a correr por e-mail que foi logo desmentido.
Publicado por: David às novembro 23, 2005 01:10 PM
Aliás, o primeiro sítio onde li o desmentido acompanhado com a série de e-mails em que o texto ia mudando até se atribuirem os terrenos ao Soares foi num blog considerado o mais fundamentalista dos liberais
Publicado por: David às novembro 23, 2005 01:12 PM
Considerar isso como argumento que tudo o que se diga em desabono de alguém do PS é falso, é uma falácia.
Publicado por: David às novembro 23, 2005 01:13 PM
O ministro parece-me fraco. Fala-se que a seguir às presidenciais vai ser remodelado.
Publicado por: Rave às novembro 23, 2005 02:55 PM
Este post acerta no âmago da questão. Está OK.
Publicado por: Jarod às novembro 23, 2005 03:42 PM
Já que o py está longe
Publicado por: Coruja às novembro 23, 2005 03:45 PM
Fico eu
Publicado por: Coruja às novembro 23, 2005 03:46 PM
David às novembro 23, 2005 01:13 PM
Pois é David. Concordo consigo.
Sabe, disseram-me há tempos que o Manuel Pinho é um tipo competentíssimo e muito paciente (qualidade que disfarça de low-profile".
Estou plenamente convencido que não sei se é verdade se é mentira =:)
O Soromenho não tem culpa. Mas sempre embirrei com comentários do género "ouvi dizer", "dizem", "disseram-me", etc.
Publicado por: Vítor às novembro 23, 2005 06:14 PM
Este Plano Tecnológico faz-me lembrar os famosos Planos de Fomento do tempo de Salazar.
Já não temos é o Duarte Pacheco.
Publicado por: Senaquerib às novembro 23, 2005 06:20 PM
Não temos o Duarte Pacheco e temos TêVês que metem paus na roda sempre que se pensa fazer alguma coisa
Publicado por: VSousa às novembro 23, 2005 08:44 PM
VSousa em novembro 23, 2005 08:44 PM´:
Completamente de acordo, Somos um país mesquinho. Nestes tempos não haveria lugar para um Duarte Pacheco.
Publicado por: Adalberto às novembro 24, 2005 12:44 AM
Penso que não precisamos de nos preocupar já, até porque o nosso actual Ministro da Ciência Tecnologia e Ensino Superior está muito longe de concluir a sua obstinada e criativa tarefa de branquear os resultados da sua anterior e desastrosa estratégia política, iniciada desde que foi ministro da Ciência e da Tecnologia, entre 1995 e 2002, coordenando as áreas da política científica e tecnológica e a política para a sociedade da informação. Esperem só, para ver do que ele é capaz, muito para lá de confortar o subsistema de ensino superior português seu protégé, inacreditavelmente, também de convencer os seus deslumbrados pares de governação, e até o Nosso Primeiro de quem, para falar a verdade, eu tinha em outra conta!
Lembrem-se que:
- Já se percebeu que, em Portugal à custa do erário público, através da nossa produção caseira e da manufacturada no estrangeiro, acrescentamos anualmente no mercado cerca de 1000 Doutorados, dos quais, apenas cerca de 15% são absorvidos por empresas. Pergunta-se, o que fazer aos outros?
Resposta fácil e pronta:
Inventam-se e reinventam-se programas para os ocupar vejam-se, por exemplo
- Assina-se, de uma assentada, nada menos que 14 Memorandos de cooperação luso-espanhola para a investigação daquela excelente - um dos quais refere-se a uma linha de investigação, e pasme-se é, exactamente, o que as nossas micro e nano empresas nacionais tanto e tão ansiosamente aguardavam: a Física Nuclear, de Partículas e Astropartículas
.????
- Acrescenta-se também mais um centro tecnológico ibérico de excelência (seja lá o que isto for) a localizar lá para Braga - à custa de um investimento inicial de 30.000.000 de Euros (não serão anuais? Quem paga isto? Onde está a análise de investimento e a análise de riscos desta brilhante ideia?) - aonde, mesmo sem nenhum currículo que se preze nesta área, Portugal vai passar a dar cartas ao mundo das nanotecnologias avançadas. Valha-nos santa Internet, graças a ela muitos de nós passámos, instantaneamente, a criativos e a especialistas de inovação!
Resta-nos esperar que a estrela da cimeira não seja um buraco negro.
- Parte dos restantes Doutorados também têm emprego garantido no Governo aonde já são cerca 50% - mesmo que a sua vivência pessoal da nossa realidade, seja e permaneça apenas por ouvir dizer, ou por terem lido, em qualquer lado, numa dessas publicações científicas de elevado índice bibliométrico, por ter simulado em ensaio de bancada,
. Aliás, não será mesmo só por isto que não se consegue planear nada, que resulte bem?
Claro que, agora, além dos Doutoramentos, a Investigação torna-se também claramente interdita ao subsistema de ensino superior gata borralheira nacional (a esta se reclamar muito, fecha-se a porta e atira-se a chave fora
), mesmo que algumas instituições e áreas desse subsistema detenham capacidades, parcerias e competências muito adequadas
. Mas isto, também não interessa! O MCTES comporta-se, exactamente, como alguns alunos (os mais fraquitos) da matemática e dos seus sucedâneos que, sempre que uma ou mais variáveis os atrapalham, na resolução de uma equação diferencial mais complicada, dizem logo com um ar todo decidido: esta(s) a gente despreza!
Para o MCTES, cerca de metade do sistema de ensino superior português (refiro-me aquele o proscrito) não existe mesmo, e PONTO FINAL! E, é mesmo por não existir, que esse mesmo subsistema nem sequer merece a honra de ser considerado nos horizontes legislativos. O Processo de Bolonha, em Portugal, também não existe! E, sabem que mais, a continuarmos assim, é que não vai existir nunca, pelo menos, cá dentro.
Não conheço de lado nenhum, o Professor José Tavares mas, só pela sua heróica e resistente convivência, se calhar compulsória e durante tanto tempo, com o Schwarzschild radius das finanças públicas (MCTES) na canela, o heróico ex-coordenador do Plano Tecnológico merece a minha total admiração, solidariedade e compreensão! Eu imagino o que passou Senhor Professor
.
Publicado por: Regina Nabais às novembro 24, 2005 03:19 AM
Li que vão ser envolvias entidades privadas na monitorização do plano. Não sei que influência terão ou se será apenas para deitar barro à parede.
Publicado por: Salema às novembro 24, 2005 12:14 PM
Esse grupo é para inglês ver. Não acredito que vá longe.
Publicado por: hanibal às novembro 24, 2005 05:26 PM
O ministro da Economia Manuel pinho propôs que o Plano Tecnológico passasse a ser coordenado pelo Gabinete do primeiro-ministro, disse o próprio no decorrer da apresentação do Plano Tecnológico
Publicado por: ardina às novembro 24, 2005 05:27 PM
O Pinho foi à vida
Publicado por: hanibal às novembro 25, 2005 12:55 PM
Talvez volte pelo Natal
Publicado por: Cubitus às novembro 25, 2005 02:43 PM
(plim)
Esta do Pinho Tecnológico fez-me ter uma ideia: não poderíamos obter um tipo de madeira de pinho feita com alta tecnologia ? Dava jeito que fosse à prova de fogo (vê bem, py, já não tinhas que te preocupar tanto com o Dragão...).
E aqui está como o nome de um ministro já contribuíria significativamente para o progresso do País.
Outra solução seria inventar uma espécie de Quercus de crescimento rápido e pô-la a pulular por aí...
Publicado por: J P Castro às novembro 26, 2005 01:43 AM