« Os Familiares do Santo Fisco | Entrada | Ministro Italiano Aumenta a Competitividade Europeia »

junho 02, 2005

As Fauces do Moloch - Notas

Os posts sobre as Fauces do Moloch (aqui e aqui) destinavam-se a mostrar a punção fiscal que pesa sobre a população portuguesa, nomeadamente sobre a classe média que é o suporte da democracia e do equilíbrio social. Mostrei que a punção fiscal sobre essa classe é enorme, mas que só uma parte é sentida directamente. A outra, não menos despicienda, é feita de uma forma que não tem visibilidade para o cidadão comum. A soma das duas é enorme e isso aterrorizou o cidadão vulgar e indignou aqueles que são os devotos incondicionais do Estado.

A indignação dos devotos incondicionais do Estado não resultou do imposto excessivo, explícito ou implícito, que pagamos. Resultou que isso viesse a público. Ninguém contestou os números, exceptuando o Discovery do “executivo rico”, ou o custo da habitação, sugerindo que aqueles quadros técnicos fossem viver para bairros problemáticos. Mas é interessante verificar que um técnico ganhando mais de 800 contos mensais, não chega ao Discovery.

Outros sugeriram que, se a carga fiscal é muito menor nos EUA, os serviços públicos são aí deficientes, ou omissos, e que a classe média americana gasta o remanescente recorrendo aos privados. Infelizmente em Portugal sucede o mesmo, apesar de uma punção fiscal incomparavelmente maior. Embora muitas vezes, na Saúde, os privados não tenham os mesmos equipamentos, prestam imediatamente cuidados ao doente e não o sujeitam a listas de espera de um ou mais anos. Portanto em Portugal a carga fiscal é muito mais elevada e as contrapartidas insuficientes e de pior qualidade.

Os valores que eu apresentei são consistentes com o tipo de consumo normal em quadros técnicos com aquele estatuto. Mas o essencial reside no facto de, logo à partida, antes de levarem o dinheiro para casa, entre 43% e 50% do valor do seu trabalho ser objecto de punção fiscal. Essa é a parte mais substantiva. A partir daí depende do cabaz de consumo. Se será 60%, no mínimo dos mínimos, ou 72%, a diferença tem algum valor, mas o significado é claro – pagamos impostos excessivos.

Queria acrescentar uma nota. Não podemos deduzir destes exemplos que a sociedade, no seu todo, pague percentagens tão elevadas. Por exemplo, quando aqueles quadros técnicos compram bens sobre os quais incide o IVA de 21%, este imposto está, na realidade, implícito naqueles bens. Todavia, eles só são directamente responsáveis pelo pagamento de 21% sobre o valor acrescentado pelo vendedor. E este por 21% do valor acrescentado pelo grossista, e assim sucessivamente. Se somarmos 21% sobre cada uma das transacções intermédias, duplicamos o valor do IVA para o conjunto destes agentes económicos. É óbvio que o consumidor final vai arcar com todo o imposto, mas na contabilidade nacional não podemos somar todos os IVA’s sucessivos, sob pena de duplicar o valor.

O mesmo sucede com a carga fiscal na aquisição da habitação. Aquele valor incorpora 45% de impostos. Mas estes impostos já foram pagos pelos diversos intervenientes da cadeia de produção. É um facto incontornável que essa carga fiscal onera, com aquela percentagem, o custo da habitação para um cidadão. Todavia não podemos somar, para o conjunto da actividade económica, aqueles impostos, porque os estamos a duplicar.

Uma outra nota foi sobre uma observação de um comentarista acerca do facto de parte do custo da mensalidade do empréstimo conter os juros bancários. O resultado não é afectado, ao contrário do que o comentarista supõe. É como se o quadro técnico do exemplo contraísse dois empréstimos: um para pagar o custo da habitação sem impostos, e outro para pagar os impostos incorporados no custo da habitação. Pensem nestes juros, como juros de mora pelo pagamento de um imposto a 30 anos. Apenas as comissões bancárias (deduzidas da respectiva carga fiscal) deveriam ser excluídas.

E há mais vida, para além daqueles quadros técnicos ... seria melhor para todos se o Estado fosse menos dispendioso, menos burocratizado, mais ágil nos procedimentos administrativos e na aplicação da justiça, porque assim melhoraria em muito o ambiente económico em que laboram as empresas: menos impostos, menos atrasos dispendiosos causados pela burocracia paralisante, cobrança atempada de dívidas devida a uma justiça mais rápida, etc.. É esse ambiente que gera emprego e desenvolvimento.

Finalmente, não foi minha intenção preconizar o desmantelamento do Estado, como alguns sugeriram. Foi apenas mostrar que temos uma carga fiscal excessiva, que o que recebemos em troca é pouco e de má qualidade e que não é possível que o país continue assim. Todos nós, como escrevi, viveríamos melhor se o Estado fosse mais eficiente, prestasse melhor serviço, e emagrecesse. Todos os rácios internacionais indicam que, face à UE, temos um Estado com efectivos a mais e que, apesar disso, presta serviços piores.

Quando se argumenta esta verdade reconhecida internacionalmente, gritam que queremos desmantelar o Estado. Não é um argumento, é apenas uma tentativa canhestra, mas demagógica, de intimidar o interlocutor e arregimentar para as suas hostes todos os potenciais membros do “Partido do Estado”, como lhe chamou Medina Carreira.

Todavia o que está em jogo não são esses gritos estultos. O que está em jogo é saber se o Estado começa a ser “emagrecido” agora, daqui a 5 anos, daqui a 10 anos, etc.. Quanto mais tarde, maior será o sofrimento. Mas é inevitável, por muito que gritem.

Publicado por Joana às junho 2, 2005 09:10 AM

Trackback pings

TrackBack URL para esta entrada:
http://semiramis.weblog.com.pt/privado/trac.cgi/91209

Comentários

Já agora, os dois posts anteriores merecem um outro reparo: neles foram apresentados os casos de dois trabalhadores por conta de outrem, os quais, como se sabe, constituem o grande grupo dos grandes sacrificados, pois não podem fugir ao imposto pago logo à cabeça. Valeria a pena analisar também os restantes grupos: o dos empresários, das profissões liberais, dos recebedores de rendas diversas, etc. É que toda a gente concorda que esses pagam menos do que o que deveriam. Um trabalhador por conta de outrem pode talvez pagar 70% do seu trabalho em impostos; quanto paga um empresário agrícola, o proprietário de uma farmácia, ou um médico que tem uma empresa?

Publicado por: Luís Lavoura às junho 2, 2005 10:00 AM

Por exemplo, uma conhecida minha, médica radiologista, trabalha que se desunha e é muito boa médica, segundo me dizem. Criou com o pai uma empresa, para evitar passar recibos verdes, e também para poder descontar pseudo-custos. "Come" faturas, as suas e as dos outros: portagens de auto-estrada, refeições em quaisquer restaurantes e por quaisquer motivos (dela ou de amigos), telefonemas, etc, vai tudo para pseudo-despesas da pseudo-empresa. Ela e o pai são os únicos trabalhadores da pseudo-empresa.

É evidente que esta senhora paga muito menos impostos do que o que teoricamente deveria, tendo em conta os seus muito altos (eu diria de facto: altíssimos) rendimentos.

Se outros profissionais que ganham o mesmo pagam muitos impostos, é em parte por esta profissional pagar relativamente poucos.

Publicado por: Luís Lavoura às junho 2, 2005 10:07 AM

Acima de uma determinada percentagem de receitas (julgo que 10%), os custos relativos a refeições, viagens e estadias, deixam de ser dedutíveis na contabilidade fiscal de uma empresa

Publicado por: Joana às junho 2, 2005 10:12 AM

Joana:

O Estado sofre de obesidade e tem níveis demasiado elevados de colesterol. Precisa duma dieta.
Mas não lhe corte todos os alimentos, por amor de Deus. O que o desgraçado tem a mais em gordura tem a menos em massa muscular.

Corte-lhe os açúcares, as gorduras, os hidratos de carbono excessivamente refinados, as carnes vermelhas. Mas obrigue-o a comer mais verduras, mais fruta, mais peixe, mais carnes magras. Dê-lhe alguns complementos vitamínicos e proteicos, oligoelementos, ferro, cálcio, selénio, magnésio.

E obrigue-o a mexer-se. A enfrentar os poderes fácticos, que é um exercício muito mais estrénuo e desenvolve muito mais a musculatura e a flexibilidade do que apanhar os pilha-galinhas.

Publicado por: Zé Luiz às junho 2, 2005 10:17 AM

A taxa de 23,75% paga à cabeça, por cada empregado, são os empresários qua a pagam.
Os liberais têm taxas para a SS bastante superiores (porque a SS admite que eles são os patrões de si mesmos) e não têm direito a baixas. Quando estão doentes não trabalham e não recebem nada da SS.
Alguns liberais safam-se não passando recibos, mas só os que trabalham para particulares (os advogados e os médicos, parcialmente). Os que trabalham para empresas têm que passar.
Fala-se muito, mas a realidade não é a que o Carvalho da Silva descreve.

Publicado por: Joana às junho 2, 2005 10:18 AM

Eu não consigo cortar-lhe no excesso de alimento e, pior, não o consigo obrigar a fazer exercício.
Você consegue?

Publicado por: Joana às junho 2, 2005 10:20 AM

Como é possível receitar-lhe uma dieta se tantos o querem engordar, aqui e na comunicação social.

Publicado por: Rave às junho 2, 2005 10:49 AM

Joana: pegando no que escreveu o Luís Lavoura, desde já se sugere um bom exercício para o Estado: correr atrás de quem não paga os impostos que outros cidadãos com rendimentos iguais ou inferiores pagam.

Isto faria o Estado ganhar tecido muscular (mas será que você quer mesmo que ele ganhe tecido muscular?) e possibilitaria que quem paga demasiados impostos pagasse um pouco menos.

E a fuga aos impostos, legal ou ilegal, não é a excepção, é a regra. Toda a gente conhece casos. Qualquer português que pague impostos se consegue lembrar de vários que não pagam.

Só no meu círculo imediato há um fabricante/comerciante de móveis que todos os anos tem prejuízo; mas não faz mal, porque o dinheiro que ganha, ganha-o não a fabricar e a vender móveis mas a comprar e a vender terrenos declarando valores muito abaixo dos reais. Tem uma vivenda de luxo, dois carros (um dos quais topo de gama), declara o salário mínimo às Finanças e à Segurança Social e ainda recebe um subsídio do estado por as filhas andarem num colégio.

E há o construtor civil que vende andares por 200.000,00€ mas só declara 120.000, fugindo assim ao IRC, ao IRS e ao imposto sobre mais-valias...

E há o médico que leva um preço com factura e outro sem factura... Um amigo meu tinha que ser operado aos dois olhos. Foi operado a um, exigiu a factura, e quando chegou a altura de ser operado ao outro o médico recusou-se a fazê-lo.

E há a banca que conseguiu do poder leis de excepção que a beneficiam...

Não vale a pena continuar. Só no campo do meu conhecimento imediato há dezenas de casos. E tenho a certeza que também os há no campo do seu conhecimento imediato, se você quiser ter a honestidade de o reconhecer.

Actuar sobre a gordura do Estado sem moralizar primeiro esta situação pode ser tecnicamente a solução mais simples, mas é politicamente impossível. Tire daí o sentido. «It's just not gonna happen».

Diga, se quiser, que esta impossibilidade se deve à «inveja» dos portugueses; eu direi que se deve antes ao seu sentido da justiça; mas com um ou outro nome nem por isso deixa de ser um facto com que é preciso contar.

Publicado por: Zé Luiz às junho 2, 2005 11:03 AM

A sua amiga médica, teve azar na profissão que escolheu.
Se fosse como o meu advogado, que nunca me passou um recibo, verde, azul ou amarelo, estava bem melhor.

Entretanto tivemos um problema aqui no prédio e depois de muita labuta lá arranjamos um curioso que o veio resolver.
Apresentou-nos dois orçamentos.
Um com factura e outro com um papelito.

Achamos melhor aprovar o do papelito.

Publicado por: carlos alberto às junho 2, 2005 11:14 AM

Já que falam em obesidade e dietas, recomendo vivamente:

http://ogintonico.weblog.com.pt/arquivo/2004/03/obesidade_menta.html

Publicado por: Senaqueribe às junho 2, 2005 11:14 AM

Joana:
A minha única maneira de obrigar o Estado a fazer seja o que for é o voto. Isso e o protesto. É pouco, mas é o que tenho.

Reconheço a necessidade de emagrecer o Estado, mas como a minha prioridade é a justiça fiscal, voto nos partidos que a prometem com um mínimo (muito mínimo) de credibilidade.

Se você acha que é preciso ou possível emagracer ANTES o Estado e só DEPOIS obrigar quem não paga impostos a pagá-los, então pode e deve votar nos partidos mais ligados ao liberalismo doutrinário.

Se acha que é preciso fazer as duas coisas mais ou menos ao mesmo tempo, esqueça os seus ódios de estimação e admita a hipótese de estar a ser mais bem servida pelo José Sócrates do que foi pelo Cavaco, pelo Guterres, pelo Barroso e pelo Santana.

Publicado por: Zé Luiz às junho 2, 2005 11:16 AM

A gordura do Estado português mede-se pelos rácios em comparação com os outros países. Os serviços que presta são maus. Isso tem que acabar.
Quando se fala nisto, os que vivem à sombra do Estado gritam exemplos de que alguns fogem ao fisco e que só depois disso acabar é que trataremos da obesidade do Estado.
E se eu agora dissesse: Então, enquanto não resoverem o problema desse Estado obeso e paralítico eu não pago nem mais um imposto. E se nós todos, os que alimentamos esse Estado dissessem isso?
Queria ver o que aconteceria a alguns destes comentaristas

Publicado por: Hector às junho 2, 2005 11:17 AM

Tanta hipocrisia é demais

Publicado por: Hector às junho 2, 2005 11:18 AM

Leiam:
http://sociogerente.blogspot.com/2005/06/mais-justo.html
É um grito que vale a pena escutar.

Publicado por: rudy às junho 2, 2005 11:31 AM

Se a alguma esquerda grita à direita liberal que quer eliminar o Estado, a direita liberal grita à esquera que é invejosa. Não sei o que entristece mais, se a inveja que existe realemente se a ideia de muitos fidalgos e tenentes de que são invejáveis. Porque a acusação denuncia que não concebem que os bens não sejam, obrigatoriamente, objecto de inveja, juízo que é simétrico do valor que lhes atribuem. E nisso pode ler-se todo o egoísmo que os deve mover.

Publicado por: A às junho 2, 2005 12:12 PM

*realmente*


Publicado por: A às junho 2, 2005 12:15 PM

Aquela do Sr das cataratas que ficou com um olho por operar é demais ! Se calhar foi o Ministro da Segurança Social, ao tempo que o vejo descaído ...

Publicado por: asdrubal às junho 2, 2005 12:22 PM

Concordo com tudo o que refere. Cometeu, no entanto, uma imprecisão no 5.º parágrafo. O IVA apenas se reflecte no consumidor final por vias das deduções na cadeia entre o produtor e o consumidor final.

Publicado por: AA às junho 2, 2005 01:53 PM

Num agradecimento à Joana e quantos enriqueceram o seu anterior post, sem perceber de contas mais que as relativamente seguras do meu caso, a roçar o segundo "executivo", permitam-me respigar aqui o comentário que também lá fiz depois de proveitosa leitura de todos os outros:

"Raro leio um post do princípio ao fim e tão variado número de pareceres subsequentes como ora neste, de ontem para hoje, achando todos positivos na sua diversidade. E de alguns gostei, particularmente, como da viagem do Zé Luís, salvo erro, daqui aos EUA, Inglaterra, Suécia, ao Sudão, que é magistral, sem mesmo a minúcia para mangas que ainda dava.
E miraculosa, ao fim, ressalta a qualidade de serviços e segurança que, mesmo assim, em Portugal se disfruta, globalmente, sobretudo nas cidades, sem a riqueza do mar da Noruega como da terra dos Estados Unidos.
Por outro lado, hoje, os Portugueses não se bastam, pacificamente, da sobriedade dos povos nórdicos como em grande parte da população dos EUA. Ou lá se concebe por lá a oferta dos nossos centros comerciais, das nossas casas de materiais caros... Nos EUA, um vendaval arrasa cidades de casas de madeira e zinco, além de algum tijolo burro, e na Suécia maioria contenta-se da casa cómoda quão prática que aluga ao governo, quase único senhorio, em lugar de se enforcar para a vida na compra de uma caríssima.
Demais, sobre a sobriedade dos países capitalistas de raiz protestante, vocacionados para produzir riqueza na terra, em lugar de a esbanjarem em luxos, teria aqui a palavra Max Weber.
De modo que o nosso Moloch, algo espezinhado, parece-me até um mouro bastante humano e preocupado, à vista de outros."

O problema abrange, pois, muito mais que a simples uma regra de três simples sobre a nossa eficácia em economia e finanças. E há aí dicas que também só vão afloradas por alto, naturalmente.

Publicado por: echo às junho 2, 2005 01:53 PM

AA às junho 2, 2005 01:53 PM:
Não foi uma imprecisão. Ou eu não me expliquei bem ou você compreendeu mal.
O que tentei dizer foi o seguinte. Para cada elo da cadeia de transacções, cada um vê um IVA de 21% sobre o bem que adquiriu. Mas no fundo só está a pagar, directamente, 21% sobre o valor acrescentado pelo vendedor. E isto por causa das deduções. A diferença entre o IVA liquidado e o dedutível é o IVA sobre o valor acrescentado por esse agente económico.
Eu apenas alertei para o facto de que não se devem somar os IVA's das transacções intermédias, porque iria duplicar os valores em termos de contabilidade nacional.

Publicado por: Joana às junho 2, 2005 02:07 PM

A confusão é muita. Todos jogam à defesa querendo perder o menos possível e quem se lixa é o país e todos nós.

Publicado por: bsotto às junho 2, 2005 03:05 PM

Mencionaram-se três assuntos: tributação,
dimensão do Estado, funcionamento dos serviços públicos - três questões distintas e uma só questão verdadeira.

Tudo se resume ao funcionamento dos serviços públicos. Com serviços de melhor qualidade os contribuintes ficam mais satisfeitos e protestam menos com a carga "excessiva". O ideal é que exista estabilidade fiscal e simplificação dos processos, não é uma taxa de imposto "óptima".
Com serviços mais eficientes a dimensão do Estado atinge um nível óptimo face aos objectivos a que se propõe, existindo ainda as externalidades que favorecem o funcionamento da economia.

Por outra palavras, a tributação que recai sobre cada um é uma questão acessória, é a variável dependente.

Publicado por: Daniel às junho 2, 2005 03:49 PM

Ó caro Daniel, a tributação que recai sobre cada um é uma questão acessória ? Essa é boa ! A "variável dependente" ... pois sim, mas só se for para si.
Eu não me queixo dos serviços públicos ; por exemplo, há dois anos fiz uma complicada operação num hospital público e fui excelentemente tratado. Mas vi pessoas "que enfim", a protestar por tudo e por nada, com uma gritante falta de educação e até de humanidade em relação a um corpo de enfermagem que se desdobrava num trabalho duríssimo. Essa é uma questão. Outra muito diferente, é gerir com rigor e responsabilidade os hospitais e centros de saúde, as escolas e as universidades ... quer ver ? Como é que num país de dez milhões de habitantes, tantos como Londres ou Paris, há vinte e sete faculdades de Direito ? Vinte e sete. Como é que isto é sequer pensável ?

Publicado por: asdrubal às junho 2, 2005 05:48 PM

Eu também acho que a "tributação que recai sobre cada um é uma questão acessória" desde que eu não faça parte desse grupo.

Publicado por: soromenho às junho 2, 2005 07:43 PM

Querem é dar cabo do que resta das conquistas de Abril. Conversa de reaccionarios.

Publicado por: Cisco Kid às junho 2, 2005 09:57 PM

O Cisco fazia falta à malta.

Publicado por: AJ Nunes às junho 2, 2005 10:04 PM

Caro Asdrúbal:
O meu amigo não sofria de cataratas: você confundiu-o com a mãe doutro comentador, noutro post da Joana.
E não ficou com o outro olho por operar: acabou por fazê-lo num hospital público.

Publicado por: Zé Luiz às junho 2, 2005 10:16 PM

O DIA MUNDIAL DA IMBECILIDADE :
http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1224684

Publicado por: zippiz às junho 2, 2005 11:50 PM

Uma estúpida questão político-partidária leva-o a dizer coisas muito inconvenientes.
Não há nada mais belo que uma criança em gestação, que há-de nascer. Misturar isto com a palavra imbecilidade é muito triste e mostra onde chegámos na baixeza dos nossos valores sociais.
Pelo menos de alguns

Publicado por: Joana às junho 2, 2005 11:58 PM

Esse médico, caro Zé Luís, é daqueles profissionais que mereciam um processo em tribunal, uma queixa na Ordem e uma denúncia claramente assumida ns Direcção de Finanças.
Eu tê-lo-ia feito sem rebuço. E devo confessar-lhe que, com esse exemplo, pensei que estivesse mesmo a brincar ...

Publicado por: asdrubal às junho 3, 2005 12:06 AM

Joana,
Vc morre mesmo de amores pela IMBECILIDADADE do CDS !

Publicado por: zippiz às junho 3, 2005 12:19 AM

Ainda vão propôr o dia do Bolo-rei de apoio ao Cavaco

O dia de apoio ás Universidades Privadas dedicado á Moderna

O dia de apoio aos bancos dedicado ao BES

O dia de apoio aos tachistas dedicado á Celeste Cardona

O dia de apoio aos emprendimentos turisticos dedicado ao Abel Pinheiro

O dia da limpeza da floresta e do abate aos sobreiros dedicado ao Nobre Guedes.

O dia de apoio á industria de armamento americano dedicado ao Paulo Portas.

E por ultimo o dia de apoio ao Padre do Lordelo o tal que dizia que mais grave que assassinar uma criança de 5 anos era fazer um aborto.

Assim vai extrema-direita em Portugal cantando e rindo....

Publicado por condor em junho 1, 2005 09:23 PM
in Bernabé

Publicado por: zippiz às junho 3, 2005 12:25 AM

asdrubal às junho 2, 2005 05:48 PM

"Como é que num país de dez milhões de habitantes [...] há vinte e sete faculdades de Direito?"

É muito simples: porque o povo assim o quer. Há 27 faculdades de Direito porque há pessoas que querem estudar Direito suficientes para todas elas. Porque o povo é parvo e dá um valor desmesuradamente grande a um canudo.

Em parte, este amor ao canudo é culpa do Estado, que assumiu como política que as pessoas são contratadas na função pública (e no serviço militar) com um posto correspondente aos seus diplomas académicos, e não à sua aptidão real para o trabalho concreto que há a fazer. Tenho uma amiga que, trabalhando numa biblioteca municipal, tirou um curso universitário como trabalhadora-estudante apenas para subir - automaticamente - o seu salário. Continuou a fazer exatamente o mesmo trabalho que fazia anteriormente, com exatamente a mesma proficiência, mas passou a ganhar mais apenas por ter um canudo de licenciada.

Nestas condições, claro, a apetência pelo canudo é grande. Pelo canudo, e não por quaisquer conhecimentos específicos.

Publicado por: Luís Lavoura às junho 3, 2005 09:47 AM

Publicado por: Luís Lavoura às junho 3, 2005 09:47 AM
"Nestas condições, claro, a apetência pelo canudo é grande. Pelo canudo, e não por quaisquer conhecimentos específicos." Antes do 25 de Abril existiam umas 4 ou 5 faculdades de direito e claro que todos os seus diplomados encontravam trabalho, no Estado ou no privado. Com o aumento de diplomados posterior ao 25 de Abril, deveriam ter terminado os automatismos salazarentos. A selecção salazarenta acontecia logo no berço; com a democrática deveria acontecer com as competências e qualificações. E o automatismo tem, ainda por cima, a injustiça de equiparar um 14 de uma escola exigente com um 14 de uma escola laxista e com um curriculum escolar confrangedor.
Não é para bater no novel responsável pelo monstro do despesismo público - o Prof. Cavaco Silva - mas quando se deu o boom universitário nos finais dos anos 80 e princípios dos anos 90, se tivesse havido uma política mais rigorosa na acreditação dos cursos (nomeadamente com a exigência de um corpo professorado próprio e desvinculado das escolas públicas e de um curriculum escolar "aceitável"), talvez não tivessem surgido tantas escolas de direito, mas sim escolas profissionais, para formarem bons técnicos.

Publicado por: Rui Lizandro às junho 3, 2005 11:53 AM

Rui Lizandro às junho 3, 2005 11:53 AM

O que acontece é que o PSD quando chegou ao poder com Cavaco Silva levou a cabo a mesma política populista de (des)educação que os comunistas tinham levado a cabo, em muito menor grau, durante o Verão Quente de 75, e que a direita tinha então asperamente criticado.

Durante o Verão Quente de 75 instituíram-se as "passagens administrativas" e outros procedimentos laxistas que, basicamente, tornaram a escola numa bandalheira. A direita, horrorizada, criticou.

Mas, quando a direita chegou ao poder, esses procedimentos laxistas passaram a ser política oficial do Estado, e não apenas desordens próprias de um período revolucionário. Roberto Carneiro, e outros, instituíram como política oficial do Estado que os alunos tinham o direito inalienável de passar de ano, de aceder a universidade, e de se licenciarem.

O disparate e o deboche que a direita conservadora e séria criticou asperamente durante o PREC, foi erigido em política sistemática do Estado mal os partidos dessa direita chegaram ao poder.

Publicado por: Luís Lavoura às junho 3, 2005 12:34 PM

Por uma vez estou de acordo consigo. Aliás, António Barreto escrevia há meses no Público que a Direita tinha sido "colonizada" pela Esquerda em matéria de educação. Acabado o modelo da escola autoritária, a direita, ou o centro, não soube construir um modelo alternativo ao laxismo da esquerda.

Publicado por: Joana às junho 3, 2005 12:46 PM

1-A Joana é tão obstinada na sua argumentação que é incapaz, mesmo perante situações que são do seu perfeito conhecimento, de ver que a realidade não se confunde com a forma fantasiosa como apresenta as contas. Na realidade, se há coisa que é perfeitamente manobrável, são os números.

2-Como é economista e não fiscalista, comte, por vezes alguns erros perfeitamente aceitáveis. Por isso, digo-lhe que não há qualquer limite, para as empresas, de 10% para a contabilização de custos relacionados com "deslocações e estadas". Há, porém, uma coisa bem pior: o poder descricionário do fisco em aceitar como custos apenas aqueles que concorrem para a formação do rendimento.
3-Considerando, como na velha terminologia, que o custo de produção é constituído por:Matérias primas+Mão de obra+gastos gerais de fabrico, considero excessivo que, na construção civil, 45% do seu valor seja referente a impostos.
No entanto, a pricipal observação a fazer é o facto de ter mantido a aplicação do coeficiente de 45% ao Preço de venda, confundindo-o com o custo dee produção.

Publicado por: Luís Filipe às junho 3, 2005 12:48 PM

Para assustar a nossa Banca, o governo devia deixar que o BBVA comprasse um grande banco em Portugal.


Serve este texto para explicar como podia e pode o governo salvar o défice sem nos "lixar" a vida a todos. O artigo é, sobretudo, uma lista de mercearia (ou de lavandaria, para quem gosta dos livros do WoodyAllen). Os itens não vão por ordem de grandeza, mas são todos exequíveis. Ora aí vai:


1. Proibir qualquer governo de mudar a sua lei orgânica durante 20 anos.

2. Proibir qualquer ministro de mudar o nome do seu ministério e, assim, não encomendar novo logótipo, papel timbrado, envelopes, cartões e afins.

3. Proibir qualquer ministério ou direcção-geral de mudar de instalações e ameaçar criminalmente quem o fizer.

4. Proibir as delegações que vão a Nova Iorque de se instalarem no Pierre ou no Waldorf Astoria, apesar de os representantes da Guiné estarem lá.

5. Restringir o uso dos Falcon ao Presidente da República e ao Primeiro-Ministro.

6. Não encomendar nenhum estudo a nenhuma consultora durante 1 ano. Vão ver que os preços das consultoras baixam e que os 'power-points' deixam de ser um chorrilho de banalidades.

7. Extinguir todas as comissões de livros brancos, verdes e afins.

8. Extinguir os governos civis todos, vender os edifícios e a tralha respectiva.

9. Reduzir drasticamente o 'staff' variável dos ministérios e, sobretudo, das câmaras municipais para acabar com as máquinas de emprego partidário.

10. Proibir que os ministérios contratem empresas de comunicação para fazer a assessoria de imprensa ou que o façam através das empresas que tutelam.

11. Não nomear amigos e "malta do partido" para as administrações das empresas estatais e para-estatais.

12. Para assustar a nossa Banca, o Governo devia deixar que o BBVA comprasse um grande banco em Portugal.

13. Para mostrar que nem tudo está combinado na secretaria, o Governo devia deixar que o Belmiro ganhasse um concurso público qualquer. Lá porque ele não dá dinheiro aos partidos, começa a ser escandaloso que o maior empresário português nunca ganhe nada quando a decisão está nas mãos do Estado.

14. Vender os submarinos a algum país emergente (ou submergente, como nós).

15. Vender todos os quartéis que existem no centro das cidades, urbanizar 30% e pôr tudo o resto com espaços verdes geridos e pagos pelas construtoras que ficam com os direitos de construção.

16. Obrigar Angola a pagar a dívida.

17. Assumir que só as linhas do TGV Lisboa-Madrid e Lisboa-Porto é que podem ser rentáveis e acabar com as outras todas, que nunca vão ser feitas e para as quais se continuam a encomendar muitos estudos.

18. Condecorar o Paulo Macedo.

19. Depois de ser condecorado, sugiro ao Paulo Macedo que faça uma busca simultânea nos partidos políticos e nas empresas que montam campanhas eleitorais. Vai ver, finalmente, o que são sinais exteriores de riqueza.

20. Fazer o mesmo nas SAD dos clubes que vivem acima das possibilidades e jogam cada vez pior.

21. Implodir o Estádio do Algarve em cerimónia pública e obrigar o José Sócrates e o José Luís Arnaut a carregarem no botão e, já agora, a comprar a dinamite do seu bolso - são os dois ricos e não lhes faz diferença. Ameaçar, nesse mesmo dia, implodir os estádios de Aveiro e de Coimbra se continuarem a dar prejuízos monstruosos.


____

Ricardo Costa é director de Informação da SIC Notícias e assina esta coluna semanalmente à sexta-feira.

Publicado por: Karl Marx às junho 3, 2005 01:10 PM

Eu não fui muito clara: o custo da habitação a que me referia era visto do lado do adquirente. Portanto será o preço.
Falei em construção, de uma forma imprecisa, reconheço, porque aquele rácio referia-se quer à habitação quer a escritórios e comércio (excluo os centros comerciais).
Também considero excessivo, mas aquele valor tem sido avançado em diversas publicações da especialidade, colóquios etc., e nunca foi desmentido oficialmente.

Publicado por: Joana às junho 3, 2005 01:15 PM

Mas vocês atacam algumas parcelas, fingindo esquecer que praticamente metade do valor do seu trabalho nem chega às mãos do trabalhador. Fica retido na entidade patronal, parte constando do recibo e parte nem sequer referida no recibo.
Isso fingem ignorar.

Publicado por: Joana às junho 3, 2005 01:18 PM

Luís Lavoura em Junho 3, 2005 09:47 AM

.«Le Grand Mensonge».
Michel Godet (Robert Laffont) na edição de 1997, é assim resumido:
.
Michel Godet, professeur au Conservatoire national des arts et métiers, connu pour sa spécialité de prospective industrielle et pour ses colères épisodiques, attaque au fond. Sur les causes du mal, il accuse en bloc l'Etat, le patronat et les syndicats, qui, pour avoir la paix sociale, renoncent aux vraies réformes antichômage afin de ne pas mécontenter la majorité des actifs - ceux qui sont pourvus d'un emploi. Qui prétendent entrer dans le troisième millénaire avec les conventions collectives des années 50. Qui entretiennent la diplômosclérose, source de rigidités comparable à la hiérarchie des titres de noblesse sous l'Ancien Régime.

Erreurs, illusions, tromperies... Mais alors, où sont les vrais problèmes et comment les résoudre? Activiste et nataliste, Michel Godet plaide pour trois chantiers de réforme: la protection sociale, le fonctionnement de l'Etat et l'éducation.
La protection: le poids des cotisations sociales dans le PIB est passé en France de 12 % en 1970 à plus de 22 % en 1994. Sur 3 francs facturés à un client, plus de deux partent dans la trappe des prélèvements obligatoires.
L'Etat: la démocratie parlementaire et élective est de plus en plus contredite par la démocratie d'opinion, fondée sur les sondages ou les manifestations de rue: cela constitue un facteur évident d'immobilisme.
L'éducation: Comme l'ex- Armée rouge, l'Education nationale est l'un des plus gros employeurs du monde (plus de 1 million de personnes). Il faut rééquilibrer un système éducatif trop exclusivement orienté vers la sélection des champions et pas assez vers l'épanouissement des individus et la formation des citoyens: promouvoir l'alternance, développer la concurrence privé-public, recruter des enseignants dotés d'une expérience professionnelle...

L'emploi est mort, vive l'activité! Cela veut dire aussi penser local, ne pas confondre haute valeur ajoutée et haute technologie, repérer les besoins non satisfaits, aider les projets de développement. Ce livre, malgré son titre, n'est pas un pamphlet soixante-huitard mais une grande fresque sur le mal français. Avec quelques pistes concrètes qui pourraient inspirer la campagne présidentielle. --Claude Villeneuve--
.
Michel Godet já esteve em Portugal pelo menos uma vez e um dos capítulos deste seu livro tem por título «La maladie des diplômes».

Publicado por: asdrubal às junho 3, 2005 01:47 PM

Estes posts sobre o roubo descarado do Estado são esclarecedores. Acho piada é aos defensores desta situação. Devem estar todos à mesa do orçamento

Publicado por: Gros às junho 5, 2005 11:32 AM

Comente




Recordar-me?

(pode usar HTML tags)