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abril 17, 2005

Inquisição Cautelar

Nada mais repugnante que os Inquisidores que se atribuíram a missão mesquinha de velar pela manutenção da ideologia dominante. Infelizmente é um desígnio nacional que remonta há perto de 5 séculos e que se tem mantido vivaz. Nada mais repugnante de que sejam aqueles que estão refastelados nas cadeiras do poder da Comunicação Social, pagos frequentemente pelos contribuintes, que acusam vozes que, a expensas próprias, se elevam contra essa ditadura do pensamento, de terem uma “difusão privilegiada - e sem concorrência - do seu correctíssimo proselitismo ideológico”. É o farisaísmo mais repugnante.

Uma das características do farisaísmo é acusar os outros dos seus próprios vícios. Por isso, V Jorge Silva acusa hoje, com a contumaz pesporrência, as vozes que têm, pelo esforço próprio e à custa de tanto insulto e calúnia, emergido do pântano da cultura estatizante, de terem a “Arrogância, a sobranceria, a pose de infalibilidade inquisitorial“.

Todos os totalitarismos ideológicos atribuem os males mais horrendos àqueles que se lhes opõem. Os fascistas condenavam os comunistas, acusando-os de comerem criancinhas; V Jorge Silva indigna-se pelo “ódio primitivo que hoje votam a figuras emblemáticas como Sartre (que alguns chegam, sem nenhum sentido do ridículo, a comparar a Salazar!)”. Se o ridículo (de VJS) matasse ...

Na realidade, o menos laudatório que se tem escrito sobre Sartre, neste ano do centenário do seu nascimento, é o relativo à sua intervenção política (e não como escritor ou filósofo), comparando-o com Raymond Aron, que nasceu no mesmo ano e foi condiscípulo dele, sublinhando, como eu escrevi aqui há um mês, que em cada evento, Sartre esteve, quase sempre, do lado certo, de acordo com o pensamento politicamente correcto da época, mas quase sempre do lado errado, de acordo com o posterior julgamento da história enquanto Aron esteve, quase sempre, do lado errado, de acordo com esse mesmo pensamento politicamente correcto e sempre do lado certo, de acordo com o mesmo julgamento posterior.

Nada disso prefigura um ódio primitivo mas apenas análise política e histórica factual; Não li em sítio algum Sartre ser comparado a Salazar. E se tal tivesse acontecido, isso apenas constituiria ignomínia para quem o escrevesse e não para Sartre.

Por isso é normal que os arautos do actual politicamente correcto odeiem serem confrontados com exemplos de figuras que foram idolatradas sobre os acontecimentos e cujos erros emergiram e foram ganhando uma dimensão cada vez mais calamitosa, à medida que a distância temporal se ampliou. Receiam o julgamento da história. E enquanto esse julgamento não chega ... insultam os adversários.

Publicado por Joana às abril 17, 2005 10:22 PM

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Comentários

Afinal Joana, VJS escreveu mesmo para si... e para os seus companheiros de ideologia !

ps:
já no post anterior eu tinha chamado a atenção para o artigo de VJS; aparentemente, ou não, Vc sentiu-se tão mal que teve que lhe responder. Mas dizer que o artigo de VJS é insultuoso é o mesmo que o ladrão gritar "agarra que é ladrão".

Publicado por: zippiz às abril 17, 2005 10:37 PM

"... refastelados nas cadeiras do poder da Comunicação Social, pagos frequentemente pelos contribuintes, que acusam vozes que, a expensas próprias..."
Esta sua afirmação não contempla o director do Público, a quem o artigo de VJS se aplica que nem uma luva, pois não ?
Acho que não porque ele não escreve a "expensas próprias" ...

Publicado por: zippiz às abril 17, 2005 10:46 PM

Parece-me que a Joana deu demasiada importância àquilo que, na crónica de VJC, é secundário, e que esqueceu o fundamental: a ideia de que o politicamente incorrecto é o politicamente correcto dos nossos dias.
Ou se calhar não se esqueceu; enfiou foi a carapuça.

Publicado por: Pois... às abril 17, 2005 10:49 PM

O escrito de VJS tem qualquer coisa de agonizante, na sequência aliás do de João Cravinho. Estão demasiado envelhecidos para as artes circenses. VJS abandonou o Parlamento (português, é claro). Uma canseira. O outro, com Nino Vieira e Kumba Ialá ao cólo mais as delícias da CPLP, não tarda a meter baixa por esgotamento. Parece que as Universidades têm vindo a preparar a «Geração Rasca» para gerir Portugal ...

Publicado por: asdrubal às abril 17, 2005 11:32 PM

O VJS costuma ser comedido. Mas desta vez excedeu-se.

Publicado por: Sa Chico às abril 18, 2005 01:11 AM

Ouve-se falar em liberalismo e fica tudo eriçado. Esquerda e Direita.

Publicado por: Sa Chico às abril 18, 2005 01:13 AM

Nunca li nada comparando Sartre a Salazar. O VJS excedeu-se

Publicado por: Rave às abril 18, 2005 01:23 AM

Não sei como explicar isto, mas ao ouvir falar de VJS, veio-me à mente um livro que agora estou a ler e que em certa parte refere eunucos, que passavam a vida nos corredores de poder orquestrando intrigas.

Publicado por: Mário às abril 18, 2005 10:11 AM

O VJS é (ou foi) um dos grandes impulsionadores da liberdade de expressão em Portugal. Talvez puxe a brasa à sua sardinha, mas sãos sempre opiniões a terem em conta

Publicado por: vitapis às abril 18, 2005 10:40 AM

Então, o VJS é um santo do Panteão do jornalismo?

Publicado por: Coruja às abril 18, 2005 10:48 AM

Eu quando vejo estas disputas entre a Joana e os "inquisidores", entre ela e os que "estão refastelados nas cadeiras do poder da Comunicação Social", fico preocupado. Porque me dá, vagamente (ou não tão vagamente) a ideia de que, se pudesse, seria a Joana a refastelar-se, seria ela a inquisidora.

Assim mais ou menos como os comunistas combateram bravamente o fascismo, apenas para se tornarem eles próprios os ditadores mal tiveram oportunidade disso.

É que, eu já vi muita direita não liberal no poder, mas nunca vi nenhuma direita liberal. E muitas vezes parece-me que, por detrás de uma máscara de direita liberal, se esconde um passado, ou uma personalidade, de direita nada liberal.

Publicado por: Luís Lavoura às abril 18, 2005 11:03 AM

O Luís Lavoura está cheio de pressentimentos.

Publicado por: Coruja às abril 18, 2005 01:00 PM

Aliás, acho curioso que a Joana se dê ao trabalho de desancar no Vicente Jorge Silva, mas nunca se tenha dado ao trabalho de dizer uma palavra sobre o comportamento e opiniões do comentarista/jornalista/diretor de jornal Luís Delgado. De onde eu concluo que um jornalista de esquerda, mesmo que razoavelmente independente do poder político, merece à Joana todos os ataques, mas um jornalista de direita, mesmo que com um comportamento de comissário político que faria inveja a um qualquer dos do Estaline, passa incólume.

Não parece ser o comportamento dos jornalistas em relação ao poder que incomoda a Joana. É mesmo a sua orientação política. De onde eu presumo que, se a Joana chegasse ao poder, não se importaria nada de ter uma matilha de jornalistas a adulá-la. Acharia mesmo, possivelmente, que era a obrigação deles.

Publicado por: Luís Lavoura às abril 18, 2005 01:06 PM

É sempre muito fácil trazer o exemplo do fantoche Luís Delgado. É uma espécie de prova que eles estão lá, vejam bem. Mas parecem esquecer que Luís Delagado é uma personagem da qual todos se querem afastar, mesmo a direita e muito mais os liberais que o gaozam frequentemente.

A coragem, paciência, constantes humilhaçoes por as quais a Joana aqui passou acho que são mostra também do seu carácter. Querer ver numa simples e ligeira crítica a VJS um desejo de também estar instalado na cadeira do poder não passa de um exercício de português estilístico, sem qualquer conteúdo. Ainda não se percebeu que num contexto livre como o dos blogs estas coisas mesquinhas não terão lugar.

Publicado por: Mário às abril 18, 2005 01:28 PM

O Luís Delgado, neste contexto, faz-me lembrar aquela rua de Judeus prósperos na Berlim nazi ; a «excepção» recorrente, que esconde/mostra a «totalidade». Quanto aos processos de intenção, mesmo sob a forma disfarçada de pressentimento, valem o que valem. Não valem dez serrilhas furadas.

Publicado por: asdrubal às abril 18, 2005 01:57 PM

V.Jorge Silva é apenas mais um entre muito milhares de portugueses que na altura crítica preferiram, como afirmou no passado dia 12 o Presidente Sampaio na Assembleia Nacional francesa, "estarem errados mas ao lado de Sartre, a terem razão mas ao lado de Raymond Aron".
É que e fervor religioso tens razões que a razão desconhece e o povo esquece e perdoa tudo.

Publicado por: Joao P às abril 18, 2005 02:02 PM

Joao P às abril 18, 2005 02:02 PM
Sampaio disse que "nous débattions les positions de deux de vos penseurs dont on célèbre le centenaire, nous répartissant entre ceux qui, comme ici d’ailleurs, préféraient errer avec Sartre plutôt qu’avoir raison avec Aron".
Esqueceu-se do outro termo de comparação ... a menos que julgasse que não existisse.
O Sampaio só se torna compreensível quando fala em inglês. Nas línguas latinas é hermético

Publicado por: Joana às abril 18, 2005 02:14 PM

Esqueci-me de dizer que além de estarem "refastelados nas cadeiras do poder da Comunicação Social" e pagos para isso, não tinham uma caixa de comentários aberta para permitirem que os críticos (e os outros) dissessem tudo o que lhes viesse à cabeça.

Publicado por: Joana às abril 18, 2005 02:17 PM

Luís Delgado é um homem de direita, de discurso linear e simplista, que não engana ninguém sobre o que é, nem finge ser outra coisa. O "opositor" normal dele, o A J Teixeira é um sujeito que usa um discurso untuoso, que pretende enfabular um pensamento que se está a desenvolver na plenitude das libérrimas meninges dele, mas que conclui sempre a mesma coisa. O primeiro vai direito ao assunto; o segundo finge que está indeciso ... anda em círculos e poisa sempre no sítio pré-determinado.
Ultimamente tem feito de ramo de salsa no Soares da Bairrada.

Publicado por: Joana às abril 18, 2005 02:24 PM

Repare-se que a única crítica que a Joana faz ao Luís Delgado é ele ter um "discurso linear e simplista [...] que não engana ninguém". Não lhe cabe criticar o facto de ele ser comentador político em diversos mídia, nem o facto de ele estar "refastelado na cadeira do poder da Comunicação Social", nem critica o facto de ele ser "pago pelos contribuintes". Essas críticas ficam reservadas para os jornalistas de esquerda - mesmo para aqueles que não têm nenhuma cadeira de poder, nem são pagos pelos contribuintes.

Outro exemplo: vi que a Joana criticou, num post antigo, um jornal qualquer (penso que o Espesso) por ter contratado Daniel Oliveira, destacado militante bloquista, para seu comentador político. Muito bem, estou de acordo com a Joana, mas pergunto, porque é que ela não critica, pela mesma bitola, a contratação de José Pacheco Pereira e de Marcelo Rebelo de Sousa, destacados militantes do PSD, como comentadores políticos? Suspeito que a contratação de Daniel Oliveira só a incomoda por ele ser bloquista; a contratação de um comentador político que é simultâneamente um destacado líder direitista, não a perturba.

Publicado por: Luís Lavoura às abril 18, 2005 02:48 PM

VJS limitou-se a apontar e dizer que o rei vai nu. O rei não gostou e sentiu-se ofendido: não vai nu, os parvos é que não conseguem ver o tecido especial...

Publicado por: Daniel às abril 18, 2005 02:51 PM

Atacar Luís Delgado nos tempos que correm é sinal de fraqueza. Trata-se de uma ave rara que ninguém liga. Para quê pisar nele?

Claro que tem mais sentido criticar todos os comentadores de esquerda, que não passam de medíocres e que assumem posturas de sábios do Olimpo.

Há uma coisa que o pessoal de esquerda ainda não se apercebeu. Tem poder de censura nos media tradicionais, mas no blogs todos somos livres. Ainda nãoperceberam isso?

Publicado por: Mário às abril 18, 2005 03:08 PM

Luís Lavoura, importa-se de dizer em que post é que ela esceveu isso?
É que eu meti no "pesquisador" da coluna da direita o nome de "Daniel Oliveira" e não encontrei nada disso.
Por sinal até encontrei, nesse "search" uma crítica ao L Delgado no "Eixo dos Nulos"!

Publicado por: Hector às abril 18, 2005 03:36 PM

Hector, foi precisamente nesse post "O eixo dos nulos" que a Joana criticou (a meu ver, bem) a contratação de Daniel Oliveira como comentador político (mas não foi num jornal, foi numa televisão, nesse ponto enganei-me; mas isso só realça a comparação com os casos de Marcelo Rebelo de Sousa e de José Pacheco Pereira).

Publicado por: Luís Lavoura às abril 18, 2005 03:42 PM

A resposta do «Provedor do Leitor» do DN (de hoje) a um protesto do "Coordenador do Círculo Eleitoral de Setúbal" do PND, parece-me paradigmática. Muito escorado nas recomendações da AACS, resumo-a com estas suas palavras :
.
« (...) E no combate político terão mais relevo as ideias do PS, com mais de dois milhões e meio de votos, do que as do PND que teve pouco mais de 40 mil votantes ? Não tenho a resposta da direcção do jornal sobre esta interrogação do leitor, também actor político (...)».

Publicado por: asdrubal às abril 18, 2005 03:43 PM

Ora, eu penso que de Vicente Jorge Silva não se possa dizer que é de alguma forma "pago pelos contribuintes", ao contrário daquilo que a Joana sugere. De Luís Delgado pode dizer-se que o é, pois que é diretor da agência de notícias estatal Lusa. E mais, pode dizer-se que Luís Delgado é amigo pessoal de Pedro Santana Lopes - ele próprio o afirmou aos microfones da Antena 1. Temos assim um caso claro de, ou nepotismo, ou colocação de um comissário político. Em qualquer dos casos, "pago pelos contribuintes".

Estes casos claríssimos, a Joana não critica.

Publicado por: Luís Lavoura às abril 18, 2005 03:57 PM

Desculpe lá, Lavoura, mas aquilo foi uma crítica geral ao programa e a todos os protagonistas (http://semiramis.weblog.com.pt/arquivo/2004/11/o_eixo_dos_nulo.html).
Até o desgraçado do Luís Delgado, que não tinha nada a ver com aquilo, apanhou de raspão.
Pelo menos foi assim que a entendi.
Também há uma coisa que é verdade: pôr o assessor de imprensa de um partido, num programa cujo objectivo é a má-língua é um falhanço. O eixo do mal não é um programa de comentário político.

Publicado por: Hector às abril 18, 2005 03:59 PM

Joana,

Tem que fazer uma análise estatística sobre os comentários, para tentar descobrir quando se atinge o ponto de saturação e mais ninguém tem algo a acrescentar... A sério.

Publicado por: Mário às abril 18, 2005 05:45 PM

Mário às abril 18, 2005 05:45 PM: O que eu e/ou você achamos sobre o ponto de saturação não coincidirá, exactamente, com o que outros acham.
Deixemos que seja a liberdade de escolha a decidir. Quando a utilidade marginal de escrever um comentário for inferior ao esforço de o fazer, atingiu-se esse ponto, para cada um dos comentaristas. Só que esse ponto será diferente, conforme os comentaristas.

Publicado por: Joana às abril 18, 2005 07:07 PM

O Luís Delgado é proprietário ou accionista de empresas na área da Comunicação Social, entre elas a Edições Multimédia , SA. Ele foi nomeado para a LUSA pelo governo de Durão Barroso.
Foi interessante este caso porque, logo que se aventou essa hipótese, a LUSA processou o Diário Digital (e Luís Delgado) por plágio. A ideia era matar à nascença a nomeação - não se nomeia ninguém com um processo pendente movido pela empresa para a qual é nomeado.
Todavia o processo foi julgado improcedente e as alegações do Juiz fortemente cáusticas para a LUSA.
Dias depois o Luís Delgado era nomeado para a LUSA

Publicado por: Joana às abril 18, 2005 07:14 PM

Isso não invalida que esse gajo seja um cretino.

Publicado por: Cisco Kid às abril 19, 2005 01:04 AM

Mas a direita não pode ter um cretino nos media? Se a esquerda tem dezenas....

Publicado por: Mário às abril 19, 2005 10:05 AM

Pois é, Mário. Nem isso deixam ter na CS. O bloqueio é total.

Publicado por: Coruja às abril 19, 2005 10:18 AM

A diferença é que os cretinos de direita estão na comunicação social como administradores e os cretinos de esquerda trabalham para eles...

# : - ))

Publicado por: (M)arca Amarela às abril 19, 2005 11:48 PM

Publicado por: (M)arca Amarela às abril 19, 2005 11:48 PM

Sendo assim, saudemos a abertura de espírito desses administradores de direita.

Publicado por: Mário às abril 20, 2005 10:06 AM

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