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maio 25, 2004

Theias que os mídia tecem

Durante mais de um ano os meios de comunicação teceram críticas à actuação do ministro Theias. Quando se falava na eventualidade de uma remodelação, Amílcar Theias aparecia sempre à cabeça. Estava na calha – seria o primeiro membro do governo a ser despedido.

Finalmente, depois de esperar tempo em demasia, Durão Barroso fez a vontade aos mídia e demitiu Theias.

Título dos jornais: Durão tira Theias sem explicação. Como sem explicação? Então se os meios de comunicação andavam há mais de um ano a explicar que o Ministro Amílcar Theias era uma desgraça e deveria ser remodelado?

A demissão de Theias só pecou por tardia.

Já há mais de um ano, e neste blog, desde que ele começou, que eu venho criticando a política (ou a ausência dela) de Amílcar Theias e da sua equipa. Foi em «Com Vergonha do Ministro» onde escrevi entre outras coisas que «O ministro Theias não tem qualquer perfil para o lugar». Posteriormente, em «Mau Ambiente» fiz uma crítica acerada ao ministro e ao seu Secretário de Estado do Ambiente. Entretanto e já em 25-06-03 havia escrito no Expresso online que « Theias foi um erro de casting» muito antes desta “teoria” ter começado a circular na comunicação social.

A situação do ambiente em Portugal é péssima e é necessário alguém enérgico para tomar decisões (matéria em que o ministro Theias era absolutamente incapaz). Em primeiro lugar há dezenas de candidaturas ao Fundo de Coesão que estão completamente «encrencadas» como diria AJ Jardim, algumas ainda desde o tempo de Sócrates (o ministro, não o filósofo!). Tem que ser pacificada a relação entre os autarcas e o Ambiente, bastante degradada pelas dilações permanentes do ministério em termos de aprovação das candidaturas. Trata-se de projectos importantes a nível de abastecimento de águas e saneamento e de tratamento de resíduos sólidos. E são investimentos públicos, comparticipados a fundo perdido e com retorno financeiro, de que a economia do país tanto precisa

Em segundo lugar tem que haver coragem de dizer não ao fundamentalismo ambiental que se enquistou como um polvo em institutos e organismos públicos e que só tem causado prejuízos. O desleixo governamental de décadas deixou em autogestão uma série de institutos pagos pelo dinheiro dos contribuintes. Assim, em Portugal, começaram a ser classificadas áreas sob os mais variados pretextos: REN, rede natura, biótipo Corine, paisagem protegida, etc., etc. O país ficou todo classificado.

Quando se tentaram construir centrais eólicas, como estas têm que se situar em locais altos e menos habitados, verificou-se que não havia locais disponíveis: estavam todos classificados. Simplesmente a alternativa às centrais eólicas é o incremento da energia térmica e o não cumprimento dos protocolos de Quioto e das directivas da UE. Lá teve que ser: começaram a “desclassificar” as áreas em causa, com as dilações burocráticas e os custos que tudo isso representa.

Outra ideia peregrina foi a de que a limpeza das matas e florestas destrói a biodiversidade. Não é por acaso que muitos dos incêndios do ano passado começaram em matas nacionais e zonas protegidas. Igualmente diversos agricultores se queixaram na altura que técnicos do Estado os impediram, em devido tempo, de proceder à desmatação de matas e florestas exactamente para proteger a biodiversidade. Mas há um alibi forte: a culpa é dos outros - quem pegou fogo, a mão criminosa, falta de meios dos bombeiros, etc.. Para os ambientalistas a culpa é sempre dos outros.

A tarefa dos ambientalistas é facilitada pela ignorância do mundo rural dos nossos fazedores de opinião. Quando se falou na hipóteses de colocar o ICN, os parques naturais e as zonas protegidas, debaixo da alçada das Florestas, gritou-se que tal representaria um verdadeiro golpe de Estado no Ambiente e uma traição a trinta anos de política ambiental. Sabe-se a que os 30 anos de política ambiental conduziram. Paisagens protegidas por lei e desprotegidas pela ignorância militante de quem as deveria proteger, desde o Parque Natural de Sintra-Cascais até à Tapada de Mafra.

A situação tornou-se extremamente grave e há que tomar medidas imediatas. Os incêndios florestais não se combatem com mais bombeiros e mais meios. Um incêndio numa floresta não tratada é imparável. E quantos mais anos de ausência de ausência de tratamento se acumulam mais rápido e devastador é o fogo, no caso de se desencadear. Tem que haver uma intervenção imediata nas florestas, passando por cima do polvo ambientalista, para que não se repitam as catástrofes dos últimos anos.

Depois é fácil dizer que a culpa é dos madeireiros, de interesses imobiliários, do secretário de Estado das Florestas ser o homem das celuloses, de mão criminosa, etc. Em Portugal prefere-se encontrar bodes expiatórios mais mediáticos e de efeito seguro do que encontrar as razões das coisas e providenciar que o desleixo seja eliminado. É evidente: encontra-se um bode expiatório e os ânimos ficam calmos, enquanto que eliminar o desleixo é uma acção lenta, que bule com muitos interesses instalados em diversos sectores, pouco mediática e de efeito a longo prazo. Esquecemo-nos que encontrar um bode expiatório fictício não tem qualquer efeito, a curto, a médio e a longo prazo. É apenas o ópio das consciências.

Preferimos os boatos e a teoria da conspiração ao estudo dos problemas e ao incómodo de os resolver.

Por isso, após meia dúzia de horas de cenários conspirativos, o silêncio absoluto. Theias regressou ao nada da comunicação.

Publicado por Joana às maio 25, 2004 10:45 AM

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Comentários

De facto nunca mais se ouviu falr de Amilcar Theias.
Voltou ao pó ...

Publicado por: Novais de Paula às maio 25, 2004 12:31 PM

O Theias era uma desgraça, mas a forma como foi substituído é estranha.
Os jornalistas adoram estas peripécias.

Publicado por: c seixas às maio 25, 2004 12:53 PM

o Theias era uma desgraça, ok. mas há algo que não compreendo: demite-se um ministro na véspera da privatização _chamem-lhe alienação parcial se quiserem_ das águas de portugal? o que é que há aqui que não bate certo? se desde logo se viu que o homem não tinha perfil político por que não o demitiu antes?

Publicado por: dionisius às maio 25, 2004 01:20 PM

Dionisius: Será que o Theias ia privatizar qualquer coisa? Pelo que vi, ele falou na privatização, mas não explicou nada como seria. Fizeram-lhe perguntas mas ele não soube responder.
Não terá sido uma coisa inconsistente?

Publicado por: David às maio 25, 2004 02:03 PM

Mas quem é esse Teias? Alguém se lembra dele?

Publicado por: Mocho às maio 25, 2004 04:29 PM

Esta história do Theias foi ultrapassada pela questão do contrato do jogador do Benfica, que é muito mais importante

Publicado por: fbmatos às maio 25, 2004 06:23 PM

O fbmatos tem razão. Tanta celeuma e no dia seguinte os meios de comunicação mudam de canal.
Não são os factos que são importantes. O que os torna importantes é o relevo que os média lhes dão.

Publicado por: David às maio 25, 2004 07:26 PM

Deixem as teias de aranha e vão às aranhas. ULTIMA HORA:Manuela Ferreira Leite Não Esclarece Porque Ficou Isenta de Coima Fiscal

De acordo com informação recolhida junto dos serviços tributários, sendo uma infracção grave nunca poderia beneficiar do pagamento espontâneo. Por outro lado, poderia haver dispensa ou atenuação especial de coimas caso a infracção cometida não tivesse resultado em prejuízo da receita efectiva do Estado (artigo 32º do RGIT). Mas o entendimento dos serviços e dos tribunais administrativos é claro: o facto de se tratar de uma situação em que a omissão resultou num menor imposto, deve ser entendido como prejuízo. E esse tem sido o funcionamento habitual dos serviços tributários.

Ontem, o PÚBLICO tentou obter uma confirmação da notícia de sábado passado do jornal "24 Horas" que dava conta da assunção pela ministra do não pagamento da coima. Perguntou-se qual a base legal para essa dispensa, solicitou-se acesso à declaração de rendimentos de 2001 corrigida e, caso negasse a notícia, pedia-se acesso ao impresso da tesouraria das Finanças em que fosse explícito o pagamento da coima. Questionou-se a ministra de Estado e das Finanças se a omissão de esclarecimentos não poderia encobrir uma situação de tratamento excepcional face aos demais contribuintes, por parte dos serviços tuteladas pela própria ministra. Manuela Ferreira Leite não respondeu até ao fecho da edição.

Publicado por: Viriato às maio 25, 2004 07:33 PM

Este Viriato é especialista em M F Leite

Publicado por: riuse às maio 25, 2004 09:09 PM

O Viriato tem razão. O Theias já se foi. Agora é a coruja da Leite!

Publicado por: Cisco Kid às maio 25, 2004 10:36 PM

Portugal está com um grande dinamismo. A sensação de hoje, amanhã já não interessa.
Foi o Theias, a Manela, o Benfica, amanhã o Porto. Um país em movimento!

Publicado por: Hector às maio 25, 2004 11:39 PM

Essa história do Benfica mostra a forma nojenta como os meios de comunicação agem para arranjar audiências.
Foi apenas uma coisa da SIC

Publicado por: Rui Silva às maio 26, 2004 09:32 AM

Foi a SIC porque é a única que não conseguiu transmitir jogos. A TVI tem a taça, a RTP a Liga e a SIC ficou reduzida a tentar os escândalos

Publicado por: Sa Chico às maio 26, 2004 09:49 AM

Deve ser isso. Mas não deixa de ser nojento ir buscar uma coisa com mais de 2 anos para fazer banzé, só por causa das audiências

Publicado por: Rui Silva às maio 26, 2004 10:19 AM

Deixem lá esse gajo e bibó Porto!

Publicado por: Bsotto às maio 26, 2004 10:40 PM

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Publicado por: Theis às fevereiro 21, 2005 05:15 AM

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