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outubro 18, 2005

A Vertigem da Receita

Antes da entrega do OE 2006, o Governo prometeu que o a contenção se faria do lado da despesa. Prometeu que não iria aumentar os impostos. Já havia prometido que não iria recorrer a receitas extraordinárias.

Vendo as contas verifica-se que a despesa cai, em termos do PIB (base 1995), de 49,3% para 48,8%, uma descida insignificante face às necessidades de diminuição do défice. Como solucionar a questão? Simples – as receitas passaram de 43% do PIB para 44%. Esse aumento é conseguido por receitas extraordinárias: privatizações de partes do capital da Galp e da REN. O Governo não resistiu igualmente à tentação de aumentar o IRS, introduzindo um novo escalão.

A receita fiscal passa de 36,6% para 37,5% do PIB. O Governo fala de melhoria do combate à fraude e evasão fiscal. Não nos iludamos. A fraude e evasão fiscal resultam da complexidade, ineficiência e injustiça do sistema. Se o nosso sistema fiscal for simplificado, a fraude e evasão fiscal diminuem. Mas simplificações é uma coisa que os sucessivos Governos têm preterido. Motivo? Meter a mão no bolso dos distraídos. Apanham alguns, mas as fugas a que dão ensejo permitem que o que escapa seja muito superior ao que metem no bolso por ignorância dos contribuintes.

Todos os economistas, como ainda recentemente 2 laureados com o Nobel da Economia, têm afirmado que Portugal tem que conter drasticamente a despesa e aliviar a carga fiscal, para melhorar a competitividade internacional. Não vejo uma estratégia nesse sentido. Vejo medidas avulsas. E vejo expectativas que não sei se se manterão: a estimativa da ligeira subida do desemprego para 7,7% parece-me optimista; a previsão para o crescimento do PIB de 1,1% talvez não se confirme e a previsão de 2,3% para a inflação é capaz de ser insuficiente, por vários motivos, entre os quais a possibilidade do aumento das taxas de juro.

A questão do desemprego é complexa. O aumento do desemprego no sector privado é grave para a economia do país e para a sustentabilidade do próprio Estado. Todavia, nos países em que houve estratégias de contenção com o objectivo de melhorar a competitividade da economia, houve aumentos muito significativos do desemprego enquanto durou o “processo de cura”. Simplesmente era desemprego por emagrecimento do sector público, e esse desemprego, com a retoma económica resultante da diminuição da despesa e dos ónus fiscais, é progressivamente absorvido pelo sector privado. O “nosso” desemprego não. Acontece no sector privado e torna-se um fardo mais pesado para a economia e gerador de maior desemprego no futuro.

Há um sinal positivo, não no OE, mas em declarações governamentais e, eventualmente, implícito em algumas rubricas da despesa. Fala-se em auditorias ao funcionamento dos serviços e em premiar o mérito, e não a antiguidade, nos aumentos dos vencimentos do funcionalismo público. Se isto for (bem) feito e, das auditorias, se extraírem as conclusões adequadas, teremos uma medida estratégica importante. Não gostaria de pôr em dúvida que tal venha a acontecer, mas só acredito, verdadeiramente, quando acontecer mesmo.

Quanto às privatizações, não vejo nada contra, antes pelo contrário. O Governo deve concentrar-se naquilo que é o seu “core business” e deixar o sector empresarial para quem o sabe gerir melhor. Não me parece é que essas receitas devessem maquilhar a diminuição do défice. São receitas extraordinárias e as receitas extraordinárias têm um problema – não se repetem. Na realidade o Governo não promete reduzir o défice de 6,2% para 4,8%, mas sim de 6,2% para 5,9%, porquanto as privatizações concorrem com 1,1% do PIB. Ou seja, no próximo ano terá que partir dos 5,9% como referência para a próxima redução e não dos 4,8%. No OE 2007 o Governo estará praticamente no mesmo ponto de partida ...

Publicado por Joana às outubro 18, 2005 12:08 AM

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Comentários

Já na semana passada escrevi que as receitas extraordinárias 'a que o governo não recorreria' em 2005 eram os 5% da EDP. As receitas extraordinárias 'a que o governo não recorrerá' em 2006 são (agora já sabemos) a REN, a GDP, mais uma fatia da EDP, e, insisto, os CTT... Não que veja isso como um problema. Privatizam lá as mal geridas empresas públicas, incluindo as golden shares. Mas controlem a despesa. Nisso têm todo o meu apoio, mesmo que tenha que pagar uma quota substancial.

Publicado por: Pedro Oliveira às outubro 17, 2005 11:54 PM

1) O secretário-geral da CGTP classifica o Orçamento para o próximo ano como sendo de estagnação e desigualdade.
O crescimento previsto da economia de 1,1% "não resolve o problema do desemprego e não cria condições para aumentar quantitativa e qualitativamente o emprego em Portugal",


2)É claramente um Orçamento de crise, em que prevê um crescimento económico que ainda era inferior ao que ainda era previsto há pouco tempo, o que significa que o aumento do desemprego ainda vai ser superior aquele que já estava previsto", sublinha João Proença.

Publicado por: zippiz às outubro 18, 2005 12:17 AM

1,1% é uma previsão. Não é uma decisão do Governo. O secretário-geral da CGTP pode fazer as previsões que entender. Ele que proponha 5%, que talvez o internem num asilo de alienados no fim do próximo ano

Publicado por: David às outubro 18, 2005 12:58 AM

Eu também acho que o aumento do desemprego vai ser superior ao previsto. Segundo depreendo, a Joana também dá a entender o mesmo.
O Prof Silva Lopes, há pouco, também sugeriu, a medo, o mesmo.

Publicado por: David às outubro 18, 2005 01:00 AM

zippiz, esse tipo de conversa só serve para as claques dos sindicatos. Ninguém mais acredita nela

Publicado por: rudy às outubro 18, 2005 01:28 AM

Ainda há pouco, nos Prós&Contras, o tipo da CGTP levou um baile de todo o tamanho de todos, mas de todos, os intervenientes. Fazia dó.
A própria Fátima estava com pena dele e tentava lançar-lhe uma bóioa. Mas ele só sabia repetir a cassete.

Publicado por: rudy às outubro 18, 2005 01:31 AM

Pedro Oliveira às outubro 17, 2005 11:54 PM

Só para dizer-te em relação ao outro post, e já que somos ambos caranguejos, que não acho que possas reduzir o conceito de domínio do sapiens a uma ilusão romântica. Tem raízes muito mais fundas e extensas.

Impregna toda a cultura judaico-cristã desde a fundação, através do versículo do Génesis:

"...Ele os criou homem e mulher. Abençoando-os Deus disse-lhes:« Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se movem na terra.»"

Este é o Brave New World Statement a que se refere Niles Eldredge, autor de Dominion, curador do Museu de História Natural de N. Y., co-autor juntamente com o Wilson (da Biodiversity) da Theory of punctuated equilibria.

Publicado por: py às outubro 18, 2005 09:21 AM

Seria muito útil se todos, mesmo todos, fizessem o compromisso de, em 2006, cortarem nas despesas de bens não essenciais importados. Os parolos que compram vinhos e cervejas estrangeiras podiam passar a comprar bebidas nacionais. Podíamos abdicar de alguns DVD's e CD's. Nas roupas podíamos optar pelas marcas portuguesas, deixando as Benetons e quejandas nas lojas. Podíamos procurar viajar na TAP ou Portugália, e podíamos ir para o Algarve em vez de ir para Espanha, Seychelles ou Bora-Bora. Podíamos deixar de comprar queijos franceses. Há uma multitude de coisas que podíamos fazer para melhorar a nossa balança de pagamentos e para defender a produção nacional, com os respectivos empregos, sem sacrificar grande coisa ao nosso conforto. Mas provavelmente preferiremos continuar a dizer mal do Estado, dos sindicatos, da função pública, quando era tão fácil fazer coisas positivas para a economia nacional.

Publicado por: Albatroz às outubro 18, 2005 09:25 AM

Estava convencido que o João Proença era secretário geral da UGT. As coisas que se aprendem nos comentários dos blogues... Então o que é que aconteceu ao Carvalho da Silva? Mudou-se definitivamente para o paraíso socialista da Coreia do Norte?

Publicado por: Pedro Oliveira às outubro 18, 2005 09:43 AM

Albatroz às outubro 18, 2005 09:25 AM

"defender a produção nacional"

No moderno liberalismo direitista não existe o conceito de "nação" e, portanto, também não existe o conceito de "produção nacional". As modernas classes ricas, que coincidem largamente com as classes instruídas, consideram-se parte de uma elite transnacional, e não se identificam com os restantes membros da sua nação. Na sua ótica, as nações não existem, uma vez que, por exemplo, um português licenciado e rico não pode ser confundido com um português varredor de ruas. Pelo contrário, um português licenciado e rico pertence a uma classe rica e educada transnacional. Essa classe rica não aceita qualquer restrição ligada à nação e, naturalmente, rejeita que o seu poder de compra deva servir a defesa da produção nacional. Também não aceita qualquer ação coletiva da nação, uma vez que, para ela, a nação não existe; por isso rejeita a ação do Estado. Para essa classe educada e rica, o que há a fazer é deixar andar a economia: eles têm confiança de que sairão sempre a ganhar, de que o andamento da economia como ela é os favorecerá sempre, logo, acham que essa é mesmo a melhor política (para os seus interesses).

Publicado por: Luís Lavoura às outubro 18, 2005 10:26 AM

plim

Publicado por: py às outubro 18, 2005 10:27 AM

Albatroz às outubro 18, 2005 09:25 AM: Sou economista, tenho lido muitos manuais de economia e nunca li, em sítio nenhum, que a questão da balança comercial se resolvia pelo apelo ao sentido patriótico dos consumidores ou esperando que eles o tenham.
Gostaria de saber como é que fundamenta essa sua teoria.

Publicado por: Novais de Paula às outubro 18, 2005 10:35 AM

Quando os secretários gerais vitalícios da CGTP e UGT disserem bem de qualquer medida de qualquer governo eu acredito que eles voltarão a trabalhar nas empresas a que pertencem.

Publicado por: Ingénuo às outubro 18, 2005 10:36 AM

Publicado por: Novais de Paula às outubro 18, 2005 10:35 AM

Hombre se fechas la aduana e pones tu pueblo a manjar do nacional (o que é Nacional é bom!)los dolares dos gringos se vano a ficar cá.

Publicado por: Fidel às outubro 18, 2005 10:39 AM

Isso não invalida que marginalmente haja consunmidores que comprem, por patriotismo, produtos nacionais. Mas serão uma minoria sem significado.

Em economia as coisas não se resolvem com sermões. Só o Louçã é que pensa assim

Publicado por: Novais de Paula às outubro 18, 2005 10:46 AM

Há neste blogue (entre outros) 3 discos que tocam cada qual a sua música.

A Joana, a dona do blogue, diz que o mais importante é diminuir o peso do Estado na economia.

O Albatroz, comentador residente, defende que o mais importante é diminuir o deficit da balança de pagamentos.

Eu, outro comentador residente, insisto que o principal problema é a dependência da economia das condições ecológicas envolventes, nomeadamente do petróleo que ficará cada vez mais caro, e que é crucial diminuir essa dependência.

As 3 músicas em simultâneo fazem uma cacofonia.

Publicado por: Luís Lavoura às outubro 18, 2005 10:54 AM

Luís Lavoura e Albatroz:

Desta vez não estou de acordo com o Luís: a sugestão trazida pelo Albatroz parece-me MÁ. E a inexistência de um apelo nacionalista é um dos aspectos menos negativos do devaneio neoliberal (até diria, um aspecto positivo).

O mercantilismo é a estratégia da traição no jogo do prisioneiro. Se os outros não a adoptarem, é óptima, mas se todos a adoptarem, ficam todos a perder.

Assim sendo, se os portugueses optassem por previligear muito os produtos nacionais, importávamos menos; mas se os outros países fizessem o mesmo, não exportávamos nada. A auto-suficiência não era lá muito adequada para Portugal, que nem sequer tem energia suficiente para manter uma sociedade industrializada: sem vender vinho do porto (porque os outros países previligeriam muito os produtos nacionais) seria fácil comprar petroleo?

As questões do proteccionismo são complexas: algumas barreiras fazem sentido. Os subsídios à agricultura não correspondem à irracionalidade que os neoliberais lhes atribuem (estão relacionados com uma questão que eles se esquecem, a da "independência alimentar" - o sector agrícula não pode responder de um dia para o outro a carteis ou estratégias comerciais agreessivas, sem sequer falar na possibilidade de haver uma guerra) - o que não quer dizer que não sejam excessivos os actuais, mas isso é uma questão mais técnica. As barreiras em relação a países com trabalho infantil, proibição do direito de greve, e outras formas de exploração também fazem sentido. Enfim...

No entanto, no geral, uma atitude "nacionalista" de consumo, é, a nível mundial, pior para todos.

Publicado por: Alfredo às outubro 18, 2005 10:56 AM

Quando falei em vinho do porto e petroleo, estava obviamente a fazer uma analogia com as diferentes trocas que fazemos. Não se fizem muito nese exemplo um tanto disparatado, mas na ideia (que creio não ser nada disparatada, mas sou suspeito) que está por de tras do mesmo.

Publicado por: Alfredo às outubro 18, 2005 10:59 AM

Publicado por: py às outubro 18, 2005 09:21 AM

Sim, eu sei que a tradição humanista vai de Moisés e Jesus a Comte e Marx. E depois?

Publicado por: Pedro Oliveira às outubro 18, 2005 11:12 AM

Do Sr Sarsfield :

«Para baixar a sério o elevado custo salarial da função pública portuguesa não basta congelar progressões automáticas nas carreiras, limitar a entrada de novos funcionários (necessariamente com contratos individuais de trabalho) ou não deixar subir os vencimentos na função pública acima da inflação. O despedimento dos actuais funcionários não é legalmente viável - e não se podem fazer leis retroactivas. A solução será utilizar em escala significativa o mecanismo do quadro de supranumerários, encerrando serviços inúteis após as prometidas auditorias aos ministérios. Veremos até onde chega a coragem do Governo».

Publicado por: asdrubal às outubro 18, 2005 11:18 AM

Novais de Paula às outubro 18, 2005 10:46 AM

Economia quer dizer etimologicamente oikos+nomos: as regras de condução da casa. Se não se preocupam com a casa, aí incluído o conceito de Nação (o território onde se nasce), o que andam a fazer?

Acho muito bem que os portugueses voluntariamente comprem cada vez mais produtos nacionais, até porque nos queijos, nos enchidos, nos esquentadores Vulcano e nalgumas outras coisas somos imbatíveis. Veja-se o pão-de-ló Ti Piedade que desde que falei dele aqui que não me sai da cabeça e hoje lá terá de ser. Mas também não acho bem que sejam impedidos normativamente de comprarem produtos estrangeiros.

Para mim faz todo o sentido que cada português tenha gosto em contribuir para uma melhor balança de comércio externo de Portugal, depois de passado o devaneio de que só o que é de fora é que é bom.

Publicado por: pyrenaica às outubro 18, 2005 11:20 AM

E depois nada, pá.

Publicado por: pyrenaica às outubro 18, 2005 11:23 AM

Alfredo às outubro 18, 2005 10:56 AM

Eu estou de acordo com o Albatroz em que a diminuição do deficit comercial é muito importante. Em relação ao protecionismo, no entanto, tenho "mixed feelings". Penso que aquilo que Você escreveu é bastante equilibrado e bastante verdade. O protecionismo nalguns items é boa política, mas como política geral é "self-defeating".

Antes da Segunda Guerra Mundial (e depois...) o Japão desenvolveu-se muito, em regime protecionista mas utilizando o mercado americano para exportar os seus produtos e importar petróleo (os EUA foram até 1970 os maiores produtoes mundiais de petróleo). Na década de 1930 os EUA começaram a perceber que estavam a perder a competição com o Japão, e entaram em regime protecionista. Pasámos a ter dois países protecionistas, em vez de só um. O resultado foi a calamidade da Segunda Guerra Mundial. O Japão não podia sobreviver sem o comércio com os EUA, nomeadamente por não dispôr de matérias primas, e teve que encetar uma política agressiva. Começou pela Manchúria (que tem petróleo), e foi por aí adiante, à procura de matérias-primas, petróleo, e mercados. O "clash" com os EUA era inevitável.

Publicado por: Luís Lavoura às outubro 18, 2005 11:42 AM

Nãos erá natural que ao comprar-mos produtos portugueses estamos a ajudar o investimento e o emprego em portugal. não é verdade que as importações também decrescem.

Publicado por: Braveman às outubro 18, 2005 12:17 PM

Será que assim se fabrica um grande negócio para a indústria farmaceutica?

http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=62&id_news=197317

Os mais malévolos, como eu, até acham que é possível um laboratório construir um vírus e o respectivo antídoto...

Mas deve ser paranóia de quem leu muita FC.

Publicado por: pyrenaica às outubro 18, 2005 12:38 PM

pyrenaica às outubro 18, 2005 11:20 AM:
Concordo com isso. O problema é que temos 10 milhões de consumidores cuja vontade não controlamos. Você e eu podemos, sempre que possível, comprar produtos nacionais. Mas somos 2. E os outros?

Publicado por: Novais de Paula às outubro 18, 2005 12:40 PM

Você escreve e muito bem que "Economia quer dizer etimologicamente oikos+nomos: as regras de condução da casa".
Então o Estado devia fazer como os particulares: gastar de acordo com o que ganha e não endividar-se para ir pagando o que gasta a mais.

Publicado por: Novais de Paula às outubro 18, 2005 12:42 PM

vejam este

http://www.elpais.es/vineta.html?d_date=20051016&xref=20051016elpepivin_3&type=Tes&anchor=elpporopi

Publicado por: Braveman às outubro 18, 2005 12:52 PM

http://photos1.blogger.com/img/216/3421/640/bird_flu_01.jpg

Publicado por: Braveman às outubro 18, 2005 12:55 PM

PPP - Prefira Produtos Portugueses
SIM aos patos bravos nacionais!
NÃO à importação da gripe das aves!

Publicado por: Senaqueribe às outubro 18, 2005 01:07 PM

Claro que são credíveis esses números. Basta estarem escritos.

Publicado por: Carlos às outubro 18, 2005 01:42 PM

Lavoura: em qualquer manual de Economia vêm as demonstrações que o comércio internacional melhora a economia dos países em causa.
Só pessoas que não leram os manuais ou não os perceberam vêm propor soluções que já foram abandonadas há mais de 60 anos e que tão mau resultado deram

Publicado por: Novais de Paula às outubro 18, 2005 01:46 PM

Luís Lavoura às outubro 18, 2005 10:54 AM: Não é só a Joana a propor isso, ou eu ou outros. Ainda ontem, numa conferência em Lisboa, Robert Mundell, Michael Spence (ambos com o Prémio Nobel) e Robert Wescott disseram exactamente o mesmo.
Julgo que foi a esta reunião que a Joana se referiu quando escreveu "como ainda recentemente 2 laureados com o Nobel da Economia ...".
Viu os Prós&Contras de ontem? Pouco a pouco começa a haver unanimidade entre os economistas, de todas as áreas, sobre isso (excepto aqueles que, por dever de militância partidária, têm que tomar as posições dos partidos)

Publicado por: Novais de Paula às outubro 18, 2005 01:55 PM

Está arreigada na cabeça de muitos pseudo-economistas a convicção de que a economia portuguesa vai renascer das cinzas logo que se resolva o desiquilíbrio orçamental do Estado.
Nada de mais enganador.
Urge equilibrar as finanças públicas. Urge estancar o despesismo na Administração Pública.
(Coloque-se o garrote adequadamente, evitando a perda fatal de sangue. Cuidado para não gangrenar.)

Mas não podemos ficar sentados à espera que surja um efeito milagroso do saneamento das contas públicas.
Infelizmente, o problema não é meramente financeiro. É muito mais vasto. Obviamente não é conjuntural; é mais que estrutural; é, certamente, cultural.
E isso é responsabilidade de todos nós. Todos teremos que mudar e fazer sacrifícios.
Foi aqui referido um exemplo meramente ilustrativo: consumir o que é nacional.
Imediatamente foi atacado pela metralha liberal.
Julgo que ninguém quererá impor barreiras à importação ou fazer lavagens ao cérebro dos consumidores. Apenas um pouco de consciencialização colectiva.
Afinal "migalhas é pão..."

Publicado por: Vítor às outubro 18, 2005 02:01 PM

Vítor: Pelo que li, julgo que ninguém aqui é contra à "consciencialização colectiva". O que têm dúvidas é sobre o efeito disso no comportamento dos consumidores. Em alguns terá, mas na quase totalidade não. A questão é esta.

Publicado por: David às outubro 18, 2005 02:15 PM

E se esse apelo for público e apoiado por entidades públicas e privadas, podemos ficar sujeitos a retaliações dos outros. Portugal está muito dependente do comércio internacional, na agricultura, combustíveis, etc.

Publicado por: David às outubro 18, 2005 02:17 PM

Novais de Paula às outubro 18, 2005 01:46 PM

Pois, mas o que interessa não são as demonstrações teóricas que aparecem nos manuais de economia, o que interessa são os casos práticos. Ao fim e ao cabo, a economia, como as outras ciências, deve ser fundamentalmente experimental. Ou não?

Praticamente todos os países que até hoje efetuaram um "take-off" económico fizeram-no sob condições de protecionismo mais ou menos estrito. Isto tanto é verdade para a Inglaterra do século 18 como para os EUA e Alemanha do século 19 como para o Japão do século 20.

Tem-se também verificado ao longo da história, por diversas vezes e já com países desenvolvidos, que períodos de relativa abertura comercial levam rapidamente a um abrandamento no crescimento económico e, finalmente, a uma retração do próprio comércio. Pelo menos, já li isto.

Já agora: eu não sou economista e posso, perfeitamente, estar a dizer disparates ao falar destas coisas. Se fôr o caso, agradeço que me apontem claramente os disparates que estou a dizer, que me corrijam. Tenho toda a boa-vontade em aprender.

Publicado por: Luís Lavoura às outubro 18, 2005 02:20 PM

David:
Eu também tenho dúvidas em relação à consciencialização dos portugueses.

Em relação ao seu segundo comentário, não me parece que alguém tenha defendido a participação de entidades públicas nesse movimento.
Quanto a retaliações, muito menos.
Quem é que quer saber do que os portugueses andam a comprar?

Mas, insisto, nada disto invalida a bondade da ideia.

Publicado por: Vítor às outubro 18, 2005 02:58 PM

Luís Lavoura às outubro 18, 2005 02:20 PM:
O que escreve não aconteceu assim. A Inglaterra foi a campeã do liberalismo económico e do comércio internacional. Claro que também tomou algumas medidas proteccionistas aqui e ali, mas o seu sucesso deve-se justamente ao comércio internacional.
Veja que Napoleão, para tentar destruir a Inglaterra, decretou o Bloqueio Continental para impedir o comércio com a Inglaterra (foi por causa de Portugal não querer respeitar isso, que se deram as invasões francesas)

Publicado por: Novais de Paula às outubro 18, 2005 03:24 PM

E o desenvolviemnto do Japão começou depois da esquadra americana ter ido ao Japão ameaçar bombardear as cidades costeiras se o Japão não se abrisse ao comércio internacional

Publicado por: Novais de Paula às outubro 18, 2005 03:26 PM

O período proteccionista começou a seguir à 1ª Guerra Mundial com os totalitarismos de esquerda e de direita e só acabou com a queda destes totalitarismos. Primeiro com o fim da 2ª Guerra Mundial e depois com a implosão da URSS.
Foi um período que, para os proteccionistas se saldou na miséria e na guerra.

E quando falei nos manuais, não estava a pensar em si, pois sei que não é economista.

Publicado por: Novais de Paula às outubro 18, 2005 03:30 PM

Novais de Paula às outubro 18, 2005 03:24 PM

A história que eu li difere dessa. A Inglaterra foi muito protecionista até cerca de 1840, quando já estava muito desenvolvida; só nessa altura é que as teorias de Adam Smith foram finalmente ouvidas. Naturalmente que a Inglaterra importava muitos produtos de que necessitava - nomeadamente algodão para as suas fábricas, também vinho de Portugal, etc - por isso o bloqueio napoleónico fazia sentido. Mas o crucial foi que o desenvolvimento do tecido industrial inglês foi realizado sob proteção contra a importação de produtos manufaturados estrangeiros. Em particular, a Inglaterra protegeu-se contra a concorrência indiana, facto crucial uma vez que, inicialmente, a Bengala tinha uma manufatura têxtil muito avançada tecnologicamente e beneficiando de algodão barato e de superior qualidade.

Cerca de 1840 houve finalmente um movimento de forte baixa dos direitos aduaneiros ingleses.

Nos EUA, a guerra da secessão foi largamente feita em torno de interesses aduaneiros diferentes. A aristocracia sulista era a favor do comércio livre. Os industriais nortenhos, pelo contrário, queriam-se proteger das impostações de produtos ingleses, mais baratos, com o fim de poderem desenvolver as suas fábricas. Com o fim da guerra da secessão (1865) venceram os interesses dos industriais da Nova Inglaterra. Foi a partir daí, essencialmente, que se deu o grande desenvolvimento industrial americano.

A Alemanha também efetuou todo o seu salto industrial, no século 19, protegida das importações inglesas por barreiras alfandegárias. A teoria económica utilizada foi a de Friedrich List, um economista hoje pouco apreciado, autor do livro "Sistema nacional de economia política".

Publicado por: Luís Lavoura às outubro 18, 2005 03:40 PM

Lavoura: O Bloqueio Continental não tinha a ver com o algodão que vinha da Índia.
Bengala era uma colónia inglesa. Logo a questão não é de proteccionismo, mas de colonialismo.
A indústria têxtil indiana, que era artesanal e não avançada tecnologicamente, foi liquidada progressivamente pela Inglaterra, para proteger a sua.
Todos os países tinham barreiras aduaneiras. Mas nada com o que se comparasse com o período anterior dominado pelas teses mercantilistas. Mas o desenvovimento deveu-se à diminuição desas barreiras, apesar de algumas continuarem.

Publicado por: Novais de Paula às outubro 18, 2005 04:26 PM

Por exemplo, o desenvolvimento alemão deveu-se ao estabelecimento do Zollverein e ao fim das barreiras alfandegárias entre as dezenas (ou centenas) de Estados alemães. Foi uma espécie de União Europeia para os países do futuro Império Alemão.

Publicado por: Novais de Paula às outubro 18, 2005 04:29 PM

Eu não sou economista nem gostaria de ser. Não me vou, obivamente, pronunciar sobre os manuais que não li. Mas gostava de me pronunciar sobre essa ideia da "consciencialização colectiva". Provoca-me grande urticária ver alguém defender que os portugeses sejam sensibilizados a comprar produtos portugueses...SÓ porque são portugueses!
Então vamos começar a andar para trás é? Vamos instalar um regime pseudo-proteccionista com laivos de comunismo encaputado? Vamos ser "aconselhados" a fumar Português Suave quando preferimos Marlboro? Eu creio que também aqui se deveria aplicar a tal teoria da inversão do ónus da prova : os produtos portugueses, se querem ser "comprados" por portugueses, têm de dar o salto qualitativo para que sejam aliciantes ao consumidor e provarem que merecem a sua confiança. Porque ninguém compra Azeite Gallo nem Farinha Branca de Neve só para "fazer o frete" à economia nacional! Compram porque preferem esses produtos relativamente a outros da concorrência, seja ela de origem nacional ou estrangeira.

Publicado por: Xiko às outubro 18, 2005 05:02 PM

Xiko às outubro 18, 2005 05:02 PM

Os Marlboro que se vendem em Portugal são (em princípio) fabricados em Albarraque, no concelho de Sintra, ou seja, são portugueses. A Tabaqueira foi, já há alguns anos, comprada pela Philip Morris International. Os Marlboro fabricados em Albarraque são-no a partir dos mesmos lotes de tabaco e com as mesmas misturas que os Marlboro fabricados em qualquer outra das muitas fábricas da Philip Morris. Os Marlboro são hoje em dia tão portugueses como os Português Suave. E esta, hem?

A sede europeia da Philip Morris International fica em Lausanne, na Suíça. Trabalham lá diversos portugueses, em particular os ligados à fábrica de Albarraque.

Publicado por: Luís Lavoura às outubro 18, 2005 05:48 PM

O melhor manual de Economia que conheço é a obra prima que tem por título EXTRACTO CONSOLIDADO, de autor desconhecido. Todos os meses o meu banco me envia um capítulo.

Publicado por: Senaqueribe às outubro 18, 2005 06:42 PM

Os nossos econumistas:

""Em Lisboa, um grande grupo financeiro promoveu uma "Master Class" com três economistas de craveira mundial, incluindo dois prémios Nobel. Até aqui tudo bem. E de saudar. Nada que tenha despertado interesse por aí além nos media tradicionais, mas isso é normal.

O problema foi na fase das perguntas. O nível de inglês apresentado pelos estudantes de economia das várias universidades (Lisboa, Algarve, Porto e Coimbra), supostamente escolhidos a dedo, era confrangedor ao ponto de não se perceber exactamente quais as questões colocadas. Uma triste e pálida imagem de um trsite e pálido país.""

ler o resto em

[url]http://grandelojadoqueijolimiano.blogspot.com/2005/10/ontem.html#comments[/url]

Publicado por: omixão Igualitária Entre Blogues às outubro 18, 2005 06:49 PM

Pois, precisam de um choque tecnológico

Publicado por: so às outubro 18, 2005 06:58 PM

Senaqueribe às outubro 18, 2005 06:42 PM:
Felicito-o por o seu ser uma obra prima. Na maioria dos casos é uma obra que só dá vontade de rasgar e deitar no lixo

Publicado por: soromenho às outubro 18, 2005 07:00 PM

Luis Lavoura:"Os Marlboro que se vendem em Portugal são (em princípio) fabricados em Albarraque, no concelho de Sintra, ou seja, são portugueses."

Para alem de ser económicamente inutil, é perfeitamente demagógico o apelo ao consumo do que é português pelo simples facto de que não sabemos o que é português. Não sabemos se os esquentadores Vulcano são alemães, os chouriços e queijos espanhois ou o vinho inglês, ou até se o BES é francês. Nem podemos saber porque na comunidade europeia essa distinção não existe. Também não percebo como se apela ao proteccionismo para algumas industrias: Como é? Lei do condicionamento industrial de má memória, ou subsídios do Estado pagos por todos nós aos empresários mais espertos ou mais malandros, ou nacionalização da economia à la PCP/BE. Já provamos desse remédio ou não se lembram?Pareceque não...

Publicado por: Joao P às outubro 18, 2005 07:44 PM


até Alfredo da Silva deve estar zangado em apelidarem a Lei do condicionamento industrial de má memória !

Publicado por: zippiz às outubro 18, 2005 08:46 PM

Sobre o proteccionismo:

1- Concordo com o Luís Lavoura - numa fase inicial é fundamental que uma economia se "proteja" criando barreiras, pelo menos em relação a produtos em cujos sectores quer apostar. Para mais exemplos além dos vários que já deu, ver os sucessivos fracassos do FMI em mercados que pretende "abrir ao exterior" em economias que não estão preparadas.

2- Dito isto, não estou a falar do caso Português, nem de qualquer economia desenvolvida (SIM, Portugal É um país desenvolvido, por muito que a maioria dos portugueses não acredite)

3- O que se sucede é, como referi, algo do tipo do "jogo do prisioneiro": se todas as economias são abertas e uma é fechada, esta ganha bastante. No entanto, se todas forem fechadas, perdem todas muito mais do que se forem abertas.

4- Assim sendo, pondo nacionalismos de parte, seria desejável (em primeira análise) que todos os estados ricos tivessem os seus mercados abertos.

5- Isto refer-se a barreiras alfanegárias, mas TAMBÉM a atitudes psicológicas. Se os Alemães preferirem um produto Alemão de qualidade inferior e preço superior, a um português, isso na prática corresponde a uma barreira alfanegária. É portanto, em primeira análise, indesejável que os consumidores de QUALQUER país rico (incluindo Portugal) preveligiem os produtos do seu próprio país.

6- Há excepções (daí a expressão "em primeira análise"). Para mim as mais óbvias são os produtos agrículas - os estados devem garantir uma certa dose de auto-suficiência pelas mais diversas razões (perigo de guerra, dificuldade em fazer esse sector aparecer rapidamente a reagir a posições dominantes, etc...) e os países com condições laborais de ESCRAVATURA (sem direito à greve, com trabalho infantil, sem legislação que garanta condições mínimas de saúde, etc...) - nestes casos as barreiras devem EXISTIR (inclusivamente as psicológicas) e ser usadas como forma de pressionar esses países a alterarem as suas condições laborais.

Publicado por: Alfredo às outubro 18, 2005 09:18 PM

Este pessoal anda mesmo nervoso.
Fala-se em coisas tão simples como a valorização do que é português e toca de vir falar em proteccionismo, leis de condiccionamento industrial e laivos de comunismo encaputado (sic).
Calma!

João P: a rotulagem da maioria dos produtos permite (explícita ou implicitamente) identificar os produtos portugueses.
Mas, se não gosta da ideia do apelo ao consumir português tem bom remédio: faça ouvidos de mercador.

Publicado por: Vítor às outubro 18, 2005 09:22 PM

Não sabia que as receitas davam vertigens

Publicado por: Coruja às outubro 18, 2005 10:01 PM

Eu só tenho vertigens com as despesas

Publicado por: Coruja às outubro 18, 2005 10:01 PM

"(SIM, Portugal É um país desenvolvido, por muito que a maioria dos portugueses não acredite)" (Alfredo)
Claro! Há países desenvolvidos, depois há países superdesenvolvidos, países hiperdesenvolvidos e países hipersuperdesenvolvidos.
Portugal é apenas desenvolvido.

Publicado por: Senaqueribe às outubro 18, 2005 10:28 PM

Senaqueribe:

Mais de 80% da humanidade vive em países menos desenvolvidos que Portugal, onde se vive pior.
Mas SIM, existem países mais desenvolvidos que nós, como é óbvio. Se quer chamar a essa minoria "países hiper-super-ultra-mega-meta-desenvolvidos", esteja à vontade. Reflecte simplesmente um dos aspectos menos desenvolvidos da nossa sociedade: a nossa tendência para esta auto-comiseração, esta mania de que este é pior país do mundo. Essa mania é tão patética que chega a ser cómica para qualquer pessoa que conheça o mundo, os dados, a realidade.

Publicado por: Alfredo às outubro 19, 2005 12:48 AM

Com economias abertas, o proteccionismo onera os consumidores (ou os contribuintes) em benefício da renumeração do capital (cujos detentores não são necessariamente nacionais) e da manutenção de algum sub-emprego (necessariamente conjuntural). Paga-se sempre mais que os beneficios que daí se retira. Excepto se existir um retrocesso, não expectável, no rumo que a economia global tem vindo a seguir, melhorar a balança comercial via medidas proteccionistas pode funcionar a curto-prazo (e não é nada certo..), mas conduzirá, inevitavelmente, a uma pesada factura a pagar. Por outro lado, hoje sobram poucos instrumentos razoáveis para esse tipo de medidas - a maioria deles é tão reconhcidamente e consensualmente má, que qualquer governo tem vergonha de os utilizar (e a grande maioria que o faz, utiliza-os "às escondidas"). Quanto a apelos moralistas o Novais de Paula já disse tudo...

"Ao fim e ao cabo, a economia, como as outras ciências, deve ser fundamentalmente experimental. Ou não?" Não, quando, e é quase sempre, isso equivale a experimentalismos sociais, e, muitas vezes, em larga escala. Comprovadamente deram maus resultados.

Quanto ao List, é normal. As teorias económicas evoluem, a partir do que é observável na realidade - o contrário é que é perigoso. Por exemplo, a escola austriaca era, há 30 anos, absolutamente marginal, e hoje muito das suas teorias mais polémicas são absolutamente mainstream. Analisando a lista dos ultimos 50 nobeis, talvez uns 50% venham daí, mais chicago, monetaristas, etc.. O ordoliberalismo alemão funcionou há 50 anos, mas hoje está ultrapassado. Grande parte dos exemplos de take-offs económicos que aponta, são, por esta ordem de razões, irrelevantes - as soluções que, sei lá, o eucken postulou há 50 anos não são hoje válidas por uma absoluta mudança de premissas. As do List, que nunca li, terão para aí uns 200 anos. Há um contemporâneo dele, chamado David Ricardo, que sobre estas coisas de proteccionismo tem lições bem mais interessantes - ou, se quiser, que se provaram mais adequadas à realidade.

"até porque nos queijos, nos enchidos, nos esquentadores Vulcano e nalgumas outras coisas somos imbatíveis" O MEC escreveu há muitos anos, no causa das coisas, uma crónica imperdível acerca disto, os portuguesinhos. A propos, segundo o vate, o portuguesinho fuma Português Suave. E não há praias como as nossas, e ai, se eles apanhassem um queijinho cá dos nossos...

Publicado por: cordobes às outubro 19, 2005 12:55 AM

Vitor:

Vou repetir o ponto 5:

"5- Isto refer-se a barreiras alfanegárias, mas TAMBÉM a atitudes psicológicas. Se os Alemães preferirem um produto Alemão de qualidade inferior e preço superior, a um português, isso na prática corresponde a uma barreira alfanegária. É portanto, em primeira análise, indesejável que os consumidores de QUALQUER país rico (incluindo Portugal) preveligiem os produtos do seu próprio país."

E agora passo a explicar: "a valorização do que é português" implica escolher algo por ser português, mesmo que seja ligeiramente inferior em preço ou qualidade. Isso é muito bonito, mas se achamos bem fazer isso, então os habitantes dos outros países também acharão. E isso não é muito bom para as nossas exportações. No geral, se todos fizerem isso, ficam todos a perder.

Existem países na UE cujos habitantes tendem a fazer isso bastante (a Espanha, por exemplo), mas não todos. Ora isso é que está mal: os espanhois ao "valorizarem o que é espanhol" estão a ter uma atitude mesquinha e egoísta (que prejudica as nossas exportações, por exemplo) que nós NÃO deveríamos copiar (NOTA: não tenho nada contra os espanhois em geral, mas esta atitude em concreto acho-a lamentável). Por isso é que não gosto de ouvir apelos a que nós façamos o mesmo. Quando muito poderíamos, enquanto consumidores, retaliar com uma aversão ao que é espanhol - mas não defendo essa atitude: sei que com o tempo os consumidores espanhois deverão alterar esse hábito de consumo egoísta e mesquinho que é valorizarem os produtos nacionais.

Publicado por: Alfredo às outubro 19, 2005 12:55 AM

Às terças-feiras dou nove horas de aulas, pelo que só agora regressei a este blog para ler, meio divertido, as reacções indignadas à minha inocente proposta. Chamo a atenção para o facto de que optar por produtos portugueses é um direito de qualquer um. Não é uma medida proteccionista, é uma opção livre, uma manifestação de cidadania consciente. Chamo ainda a atenção de que o Japão viu a sua economia crescer porque, entre outros factores, os japoneses sistematicamente preferiam produtos japoneses. Os produtos estrangeiros podiam ser livremente importados, mas ninguém os comprava. Logo não havia razão para retaliações. E, de facto, nunca houve qualquer retaliação. É evidente que o consumidor deve estar preocupado com a qualidade dos produtos que adquire, mas se um pequeno sacrifício de qualidade ou de preço permitir manter mais portugueses a trabalhar, e permitir reequilibrar a balança de pagamentos, parecer-me-ia pouco inteligente não o fazer. Como já alguém aqui disse, eu dou uma grande importância ao equilíbrio das contas externas pois considero isso a primeira condição para se ter uma economia saudável. Um país que só consome bens de valor igual aos que produz nunca pode estar mal. Pode ser mais pobre do que os outros, mas terá uma economia sólida. O que não deve é usar do proteccionismo para tal alcançar. Devem ser as próprias pessoas a exercer a medida de auto-controlo necessária para conseguir esse equilíbrio. É só porque os portugueses parecem achar que o interesse dos outros deve ser posto em pé de igualdade com os interesses próprios que estamos na linda situação que se conhece.

Novais de Paula diz que é economista, que tem lido muitos manuais de economia e nunca leu, em sítio nenhum, que a questão da balança comercial se resolvia pelo apelo ao sentido patriótico dos consumidores ou esperando que eles o tenham. E já leu nalgum desses manuais que isso não se podia fazer? Há alguma coisa que obrigue os consumidores a ignorar o interesse colectivo?

Publicado por: Albatroz às outubro 19, 2005 01:03 AM

Cordobes:

Também não concordo consigo.

O proteccionismo, ao contrário do que diz, NÃO está condenado ao fracasso, PRINCIPALMENTE numa economia aberta. Se vários os países tiverem as fronteiras abertas, e um deles for proteccionista, esse estará em extrema vantagem.

Exporta livremente para o mercado aberto, mas tem as importações muito condicionadas. O mercantilismo, quando surgiu inicialmente, teve um sucesso notável. E ainda na história recente, vários países subdesenvolvidos que abriram os mercados cedo entenderam que isso foi uma ENORME asneira que gerou crises impressionantes.

A questão é que o proteccionismo pode ser útil localmente, mas nefasto globalmente, pelo que TODOS ficam a perder se todos o fizerem.
Pelo que surgem tratados do tipo "se eu não me proteger dos teus produtos, tu não te proteges dos meus" - foi assim que nasceu a UE, que é, creio, uma história de sucesso.

NOTA: a UE é uma história de sucesso, mas note-se que não existem grandes disparidades laborais entre os seus constituintes. Comércio livre entre a UE e a China, por exemplo, já é outra conversa...

Publicado por: Alfredo às outubro 19, 2005 01:05 AM

Chamo ainda a atenção para a decisão da Volkswagen de produzir o novo modelo na Alemanha e não em Palmela, apesar das condições de custos mais favoráveis em Portugal. Não é isso uma forma de preferir o produto nacional? Se os alemães são suficientemente inteligentes para porem o interesse da Alemanha acima do interesse de Portugal, porque razão acham que seria uma vergonha nós optarmos também pelo nosso interesse?

Publicado por: Albatroz às outubro 19, 2005 01:09 AM

Albatroz:

Os consumidores Portugueses estão no seu pleno direito de serem egoístas e mesquinhos, e optar sempre por consumirem os seus produtos. Será excelente para a economia e para o emprego até os consumidores de outros países terem a mesma atitude - rebentando com as nossas exportações. Aí, ficam todos a perder.

Por isso acho lamentável e egoísta o "apelo patriótico" na escolha dos produtos.

Se ainda fosse um apelo a consumir produtos de países menos desenvolidos (como no Comércio Justo, por exemplo), ou um apelo a não consumir produtos de países onde a "escravatura", de certa forma, existe (como os texteis chineses), sempre acharia o apelo mais louvável.
Agora essa mesquinhice de preveligiar o Português, não contem comigo.

Eu até teria orgulho em viver num país onde isso não se sucede, mas na verdade lamento é ver o oposto: os consumidores prejudicarem artigos portugueses em igualdade de circunstâncias - isso é PATÉTICO. Só me lembra esta atitude muito nossa de, por exemplo, acharmos que não somos um país desenvolvido (quando CLARO que somos!).

O consumidor que não é egoísta nem saloio, não vai passar ou deixar de comprar um artigo porque ele é português.

Publicado por: Alfredo às outubro 19, 2005 01:13 AM

Alfredo em outubro 19, 2005 01:05 AM:
Esse país que fura as regras do jogo só tem vantagem até os outros descobrirem isso (o que é rápido). A partir daí haverá retaliações e ele será penalizado com tarifas aduaneiras para compensar a política comercial dele.
Isso acontece frequentemente.

Publicado por: Valente às outubro 19, 2005 01:16 AM

Albatroz:

Justificar o egoísmo com o egoísmo alheio não me parece muito louvável. De qualquer forma, essa decisão de uma empresa alemã é mais a excepção que a regra, no que respeita ao perfil das decisões económicas alemãs na história recente.

De qualquer forma, se forem todos a alhinhar no egoísmo patriota, ficam todos a perder.

Gostavam que os ingleses preferissem os vinhos deles ao vinho do Porto?
Gostavam de não ter mercado para os nossos produtos de valor acrescentado?

Publicado por: Alfredo às outubro 19, 2005 01:17 AM

Não, Valente, não acontece.

Principlamente quando se fala em "barreiras psicológicas".
Trago-lhe o exemplo que eu dei: os espanhois tendem a preferir produtos nacionais face aos estrangeiros. Isso coloca Portugal numa situação mais difícil que a Dinamarca (os consumidores Alemães são menos mesquinhos neste aspecto).
Que retaliações existem contra a Espanha? Porventura alguum consumidor vai penalizar, por isso, negativamente os artigos espanhois? De tal forma que não lhes compense essa vantagem? NÃO.

A Espanha fica "realmente" a ganhar com essa atitude.

E, no entanto, eu, optimista, creio que essa atitude vai desaparecer com o tempo, da mentalidade dos consumidores espanhois. Isso será bom para Portugal.

Publicado por: Alfredo às outubro 19, 2005 01:25 AM

Alfredo em outubro 19, 2005 01:25 AM: Mas isso faz parte do comportamento de uma população que já vem desde há muitas décadas. Julgo aliás que já não é tão evidente como há 50 anos, por exemplo.
Mas isso são comportamentos que demoram décadas a mudarem e que não têm a ver com publicidade.
Há países onde tem havido mudanças de comportamento, como na América com os carros, por exemplo.
Mas isso não é controlado.

Publicado por: Valente às outubro 19, 2005 01:41 AM

Valente:

Mas era precisamente a esse propósito que toda esta conversa veio: de eu discordar que os consumidores portugueses devam "valorizar" o que é português sobre os outros produtos.

De qualquer forma, mesmo que assim não fosse, discordo da ideia simplista que as nações que optam pelo proteccionismo acabam por "ficar a perder". A história económica indicia o contrário. No entanto, concordo que todos ficam a perder se todos seguirem o caminho do proteccionismo indiscriminado.

De qualquer forma, um contra-exemplo para a sua tese é muito simples: o Koweit. Se eles se "protegerem" das exportações alheias, será que os países vão comprar-lhes menos petroleo em retaliação??
Não me parece... (note que ao negar a sua tese, eu não estou a afirmar a tese oposta - pode haver casos em que um país fique a ganhar com a abertura de barreiras unilateral - mas isso é a excepção e não a regra. O mesmo já não se passa em relação a países que passam a pertencer a zonas livres de comércio: creio que beneficiam, em geral)

Publicado por: Alfredo às outubro 19, 2005 02:51 AM

Mas mesmo asim, uma grande razão de existir dos fundos estruturais, é que os países pagadores beneficiam muito mais com a pertença de países menos industrializados na zona livre de comércio do que estes últimos com essa pertença.

A tendência geral é que, quanto menos desenvolvida fôr a indústria de um país, menos lhe convirá abrir as fronteiras.
A regra geral é que abertura unilateral é negativa.

Publicado por: Alfredo às outubro 19, 2005 02:55 AM

O meu esquentador Vulcano é português!

Publicado por: py às outubro 19, 2005 08:15 AM

O exemplo do Kuwait não colhe. Produz um bem que tem muita procura e a sua população é de tal forma pequena que seria de pouca monta um fecho unilateral.
Além de que não o faz. porque seria estúpido. O que faria às receitas do petróleo? Guardava debaixo do colchão?

Publicado por: Bsotto às outubro 19, 2005 09:18 AM

Bsotto:

O exemplo colhe sim senhor. O facto de ter pouca população e muito petroleo é uma boa razão para ter escolhido esse país como contra exemplo. O que eu pretendia provar é que HÁ casos em que o fecho unilateral das fronteiras pode ser conveniente para a economia.

E se o Koweit o fizesse, não seria nada parvo. Se o Koweit fechasse as fronteiras a alguns sectores e os desenvolvesse fortemente em vez de esbanjar todo o dinheiro do petroleo em consumo, certamente o Koweit estaria muito mais preparado para o dia em que o petroleo acabar por aquelas bandas. (Nota: não quer dizer que eu não ache bem que o Koweit tenha "as barreiras abertas" - acho é que é pior para eles, e melhor para os países que lhes exportam produtos)

Publicado por: Alfredo às outubro 19, 2005 10:13 AM

Alfredo às outubro 19, 2005 12:48 AM

A insatisfação é um factor de progresso. Aliás, é mesmo o principal factor de progresso. Se estamos satisfeitos não damos um passo para melhorar seja o que for.
Por isso é que eu não estou satisfeito com o meu país, tal como está. Quero melhor!

Publicado por: Senaqueribe às outubro 19, 2005 10:43 AM

Como todos temos tempo de sobra vamos dedicar mais uma horinha ou duas de cada vez que formos às compras para comprar produtos que, embora em qualidade ou até no preço possam deixar muito a desejar relativamente à restante oferta, têm o código de barras com os algarismos certos que nos indicam que são produto nacional. Imaginem o pessoal todo de rabo pó ar à procura da marca TUGA !
E, by the way, os Marlboro de Albarraque são lucro da Philip Morris...que não é portuguesa (eu sabia que alguém se ia perder em "desmascarar" o exemplo concreto em vez de se preocupar com a globalidade da questão...)

Publicado por: Xiko às outubro 19, 2005 11:26 AM

E, by the way, os Marlboro de Albarraque são lucro da Philip Morris...que não é portuguesa

Sim, sim, mas esqueces que também são os salários dos trabalhadores da Tabaqueira, que são maioritariamente portugueses... Dava jeito, não era?...

Publicado por: Pedro Oliveira às outubro 19, 2005 11:41 AM

Alfredo às outubro 19, 2005 10:13 AM

Pois... se Portugal está onde está, é porque el-rei D. Manuel, quando tinha aquela pimenta toda, achou por bem meter-se numa de comércio livre, deixando o pesoal importar à tripa-forra belos brocados da Flandres, em vez de fechar as fronteiras e mandar os investidores desenvolver cá as fábricas e a tecnologia.

Agora o Quaite está-lhe a copiar o mau exemplo. Daqui a 5 séculos, arrepender-se-ão.

Publicado por: Luís Lavoura às outubro 19, 2005 12:21 PM

Não havia comércio livre. As trocas com as Índias passavam obrigatoriamente pela Casa das Índias, que era um "instituto público" da Coroa.

Publicado por: Joana às outubro 19, 2005 01:02 PM

O problema não foi esse. D. Manuel, para agradar aos reis de Castela e Aragão, cuja coroa cobiçava através de casamentos dinásticos, viu-se obrigado a perseguir, ou pelo menos criar embaraços, aos judeus em Portugal. Com D. João III estabelece-se a Inquisição e então foi o fim da burguesia. As perseguições da Inquisição não eram apenas contra judeus e cristãos novos, eram também contra a burguesia comercial e manufactureira.

Publicado por: Joana às outubro 19, 2005 01:06 PM

Foram essas políticas que deram a fisionomia ao Portugal contemporâneo. Os actuais adoradores do Estado são os filhos dilectos dos familiares da Inquisição que denunciavam todos os que tinham êxito nos negócios.
Donde é que julga que vem a mentalidade dominante no país.

Publicado por: Joana às outubro 19, 2005 01:09 PM

E a história dos casamentos dinásticos deu mau resultado. Foi por isso que Filipe II herdou a coroa.

Publicado por: Diana às outubro 19, 2005 01:14 PM

"Os actuais adoradores do Estado são os filhos dilectos dos familiares da Inquisição que denunciavam todos os que tinham êxito nos negócios."

Ó Joana! Isso é que é desespero! E depois, se julga que Portugal expulsou os judeus está muito enganada. A esmagadora maioria dos judeus que estavam em Portugal ficou cá. E por isso é que eu, a Joana e toda a gente, tem ascendentes judeus. O que, aparentemente, não nos serviu de grande coisa.

Publicado por: Albatroz às outubro 19, 2005 02:23 PM

Já tinha visto essa tese da Joana (de que o estatismo é o sucessor da inquisição) e acho-a engraçada.

No entanto, não é muito séria. D. João II foi muito centralizador, no sentido de tirar poder aos senhores feudais e fortalecer o estado português, e, no entanto, a sua política era totalmente contrária ao estabelecimento de qualquer perseguição aos Judeus.

Além disso, a casa de Bragança (de onde era D. Manuel) tinha em relação à casa de Coimbra (de onde era D. João II) toda a uma série de diferenças políticas. Não foi APENAS a instalação do S. Ofício que deu cabo de Portugal como potência marítima europeia (embora certamente tenha sido um dos factores mais pesados): forma uma série de políticas absurdas e incompetentes. E, novamente, o Luís Lavoura tem razão ao dizer que caso os luxos fossem penalizados fortemente, Portugal ter-se-ia desenvolvido muito mais (mesmo sabendo que que éramos fortes exportadores de um luxo - as especiarias - mas isso não implicaria que os estado tivessem retaliado... provavelmente não o fariam na proporção em que esse fecho nos beneficiaria)

De qualquer forma, melhor do que fechar as fronteiras às importações, teria sido ter governantes competentes. Como D. João II que foi quem preparou a expedição para chegar à Índia (mas depois de sobreviver a inúmeros atentados e conspirações, por lutar contra interesses instalados, D. João II acabou por sucumbir a um pouco antes da partida da expedição que iria marcar o auge do império Português - auge no sentido de "poder, claro está)

Publicado por: Alfredo às outubro 19, 2005 02:28 PM

Moral da história: foram os governantes que menos regulvam a economia aqueles que foram mais coniventes com a inquisição (obviamente que há uma série de questões conjunturais por tras: não era por terem essas políticas que eram mais coniventes!). Isso desacredita a teoria da Joana: a do ascendente inquisitorial para a regulação da economia.

Publicado por: Alfredo às outubro 19, 2005 02:32 PM

Deve haver um equívoco, Alfredo, eu escrevi D. João III, sob cujo reinado foi estabelecida a Inquisição, e você fala em D. João II.

Publicado por: Joana às outubro 19, 2005 02:34 PM

Albatroz às outubro 19, 2005 02:23 PM: Claro que havia muita gente com sangue judeu, mesmo na nobreza. Mas repare que o que eu escrevi foi "As perseguições da Inquisição não eram apenas contra judeus e cristãos novos, eram também contra a burguesia comercial e manufactureira".

E foi este clima do pecado do lucro e do êxito nos negócios que formou a mentalidade portuguesa que tem perdurado, quer no conservadorismo de direita, quer no radicalismo de esquerda, quer de uma forma geral, mais atenuada, em toda a sociedade

Publicado por: Joana às outubro 19, 2005 02:38 PM

Senaqueribe:

A insatisfação pode ser louvável - e há muito a fazer no nosso país, na área da justiça, educação, ciência, etc...

A nossa educação, por exemplo, não é realmente a de um país desenvolvido. Os dados mostram-no, e está CERTO que fiquemos insatisfeitos com isso.

Mas é diferente ver a realidade como ela é, e as lamúrias constantes do costume, que acabam por perder o valor. O nosso país, no geral, é desenvolvido.

O PIB per capita, a esperança média de vida, a mortalidade infantil, o respeito pelos direitos civís, etc... Existe uma ´serie de indicadores em que o nosso país se destaca pela positiva quando comparado com a esmagadora maioria da humanidade.

Em certos pontos, somos mesmo um dos melhores países do mundo (estamos em 4º na tabela mundial que classifica a "liberdade de imprensa").

É preciso vermos a realidade como ela é, reconhecer os nossos pontos positivos, atacar os nossos pontos negativos.

E, já agora: não deixar de comprar os nossos produtos quando são melhores e mais baratos, só porque são portugueses (em oposição a "valorizá-los" comprando-os por serem portugueses, mesmo que piores).

Publicado por: Alfredo às outubro 19, 2005 02:40 PM

Alfredo às outubro 19, 2005 02:32 PM:
1 - A História não tem moral
2 - A expansão colonial portuguesa e espanhola caracterizaram-se pelo facto de estarem nas mãos das respectivas Coroas. Foi exactamente essa a causa da decadência dos povos ibéricos, face aos holandeses e aos ingleses, cuja exploração colonial começou com privados e continuou baseada nos privados, embora apoiada militarmente pelos Estados.
Este tese é opinião geral de todos os historiadores conhecidos. Ninguém disse alguma vez o contrário.

Publicado por: Joana às outubro 19, 2005 02:44 PM

Ninguém até às descobertas notáveis que acabei de ler acima.

Publicado por: Joana às outubro 19, 2005 02:46 PM

Joana:

1- Não houve equívoco. Referi-me a D. João II PRECISAMENTE porque ele não permitiu interferências do Santo Ofício. Comparei-o com D. Manuel, porque, embora o Santo Ofício só se "instalasse" com D. João III, já houve uma série de perseguições e conversões forçadas (por vezes com correspondente penhora de capital financeiro) no reinado do venturoso D. Manuel.

2- "As perseguições da Inquisição não eram apenas contra judeus e cristãos novos, eram também contra a burguesia comercial e manufactureira". Creio que pode ter havido alguma influência nesse sentido: afinal a Bíblia prega o socialismo, e a Igreja Católica é sofre alguma influência da Bíblia.
É óbvio que quando o motor dos governantes e poderosos é a inveja e a irracionalidade (que atingiram um dos seus expoetes máximos com a inquisição) a coisa só pode dar para o torto.
Mas aí o problema é este.

Uma regulação moderada da economia, se feita sob critérios racionais e honestos, não é sucessora da inquisição: é sucessora de D. João II, e outros governantes bem sucedidos.

Publicado por: Alfredo às outubro 19, 2005 02:48 PM

Isto está confuso. A minha mensagem anterior não respondia à última mensagem da Joana, mas sim à mensagem 02:38 PM.

Publicado por: Alfredo às outubro 19, 2005 02:54 PM

Sobre a úlima mensagem da Joana, devo dizer o seguinte:

A- Eu falei em regulação "moderada" da economia. Não em regulação total. A regulação total da economia pode realmente ser brutalmente eficiente (levou um país atrasado com pouco mais de uma centena de milhões de habitantes - a Rússia - a ser a segunda superpotência mundial) mas é quase impossível aliar essa eficiência a um respeito mínimo pelos direitos civís (isto é um eufemismo em relação ao martírio que se scuedeu por aquelas bandas...).

B- Havia, de facto, alguma iniciativa privada nos impérios Ibéricos. Até chegou a ser um privado a ter o monopólio da expansão e descoberta. Mas houve vários privados envolvidos. Não tenho valores, mas basta ler a "Peregrinação" de Fernão Mendes Pinto para ter uma ideia do ambiente geral: a maioria das embarcações não eram da coroa.

C- No entanto, o papel da iniciativa privada era menor. Possivelmente menor que o desejável. Afinal foi na Holanda que surgiu a primeira bolsa de valores, e tudo isso tem um impacto muito positivo na dinamização da sociedade privada.

D- Obviamente isso constituiu uma vantagem competitiva dos Holandeses. Não discordo dos historiadores em geral, se a Joana me diz que são quase unânimes nesta posição.

E- Mas isso não implica que uma regulação moderada da economia não seja desejável.

F- E o aparente paradoxo resolve-se assim: o peso relativo do estado não é igual a regulação forte. Mesmo que, no tempo de D. Manuel, o estado tivesse um peso relativo forte nos negócio ultramarinos, é NOTÓRIO que a regulação que o governo fazia da economia era FRACA. E isso foi negativo para a coroa.

Publicado por: Alfredo às outubro 19, 2005 03:04 PM

Sobre a úlima mensagem da Joana, devo dizer o seguinte:

A- Eu falei em regulação "moderada" da economia. Não em regulação total. A regulação total da economia pode realmente ser brutalmente eficiente (levou um país atrasado com pouco mais de uma centena de milhões de habitantes - a Rússia - a ser a segunda superpotência mundial) mas é quase impossível aliar essa eficiência a um respeito mínimo pelos direitos civís (isto é um eufemismo em relação ao martírio que se scuedeu por aquelas bandas...).

B- Havia, de facto, alguma iniciativa privada nos impérios Ibéricos. Até chegou a ser um privado a ter o monopólio da expansão e descoberta. Mas houve vários privados envolvidos. Não tenho valores, mas basta ler a "Peregrinação" de Fernão Mendes Pinto para ter uma ideia do ambiente geral: a maioria das embarcações não eram da coroa.

C- No entanto, o papel da iniciativa privada era menor. Possivelmente menor que o desejável. Afinal foi na Holanda que surgiu a primeira bolsa de valores, e tudo isso tem um impacto muito positivo na dinamização da sociedade privada.

D- Obviamente isso constituiu uma vantagem competitiva dos Holandeses. Não discordo dos historiadores em geral, se a Joana me diz que são quase unânimes nesta posição.

E- Mas isso não implica que uma regulação moderada da economia não seja desejável.

F- E o aparente paradoxo resolve-se assim: o peso relativo do estado não é igual a regulação forte. Mesmo que, no tempo de D. Manuel, o estado tivesse um peso relativo forte nos negócio ultramarinos, é NOTÓRIO que a regulação que o governo fazia da economia era FRACA. E isso foi negativo para a coroa.

Publicado por: Alfredo às outubro 19, 2005 03:05 PM

Isto estava tão interessante e de repente...

"a causa da decadência dos povos ibéricos", qual decadência Joana? O que eu vejo é a antecedência inevitável do império anglófono e o ressurgimento das culturas ibéricas.

Entretanto acho que temos todos de ler a Grazia Mendes, mas também ainda não voltei a comprar.

Publicado por: pyrenaica às outubro 19, 2005 05:35 PM

...antecedência da decadência inevitável...

Publicado por: py às outubro 19, 2005 05:36 PM

De acordo, py

Publicado por: Coruja às outubro 19, 2005 05:43 PM

Há 4 séculos que considero inevitável essa decadência.

Publicado por: Coruja às outubro 19, 2005 05:46 PM

Desta vez não escapam

Publicado por: Coruja às outubro 19, 2005 05:48 PM

quem não escapa

Publicado por: py às outubro 19, 2005 06:19 PM

é o bonzão!

Publicado por: py às outubro 19, 2005 06:20 PM

Já Antero de Quental falava na decadência dos povos peninsulares. Não vejo qual a admiração

Publicado por: vitapis às outubro 19, 2005 06:59 PM

eu estive sentado no banquinho de jardim em Ponta Delgada onde o Antero meteu o bullet nos cornos, a fumar um cigarro. É uma bela praça, com metrosideros majestosos e igrejas portentosas. Concluí que o Antero devia estar com uma depressão...

Publicado por: pyrenaica às outubro 19, 2005 07:07 PM

O Antero não estaria a um charro?

Publicado por: Coruja às outubro 19, 2005 07:31 PM

Alugam o banco a suicidas?

Publicado por: Coruja às outubro 19, 2005 07:32 PM

Estou a ver aí um nicho de mercado

Publicado por: Coruja às outubro 19, 2005 07:33 PM

Os portugueses têm pouca iniciativa. Ninguém pega nesta ideia do Coruja?

Publicado por: soromenho às outubro 20, 2005 11:10 AM

Parece ser uma ideia com pernas para andar

Publicado por: bsotto às outubro 20, 2005 06:14 PM

Um banco a andar pelo parque pode lançar a confusão entre as pessoas

Publicado por: Absint às outubro 20, 2005 08:47 PM

Decadência dos povos peninsulares? Isso foi até há 50 anos.
Agora é só de Portugal

Publicado por: fbmatos às outubro 20, 2005 11:12 PM

Aqui está-se mais confortável

Publicado por: Coruja às outubro 20, 2005 11:33 PM

No post do Sampaio anda tudo à tapona por causa do Cavaco

Publicado por: Coruja às outubro 20, 2005 11:34 PM

"Eu falei em regulação "moderada" da economia. Não em regulação total. A regulação total da economia pode realmente ser brutalmente eficiente (levou um país atrasado com pouco mais de uma centena de milhões de habitantes - a Rússia - a ser a segunda superpotência mundial)"

Francamente, a URSS foi a segunda superpotência MILITAR, em termos económicos e sociais foi uma desgraça. Uma desgraça tão grande que até os comunistas Portugueses se deslocavam lá (e ao Leste europeu) com uns pares de jeans a mais na mala, ou uns tampões ...

Publicado por: Incognitus às outubro 30, 2005 01:03 AM

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