« Adoração a Hermes | Entrada | Um Prego no Caixão »
setembro 12, 2005
Tratado de Alcanices
Faz hoje 708 anos que foi assinado o tratado de Alcanices entre o rei de Leão e Castela, Fernando IV (1295-1312) e o rei de Portugal, D. Dinis (1279-1325), na povoação leonesa de Alcañices, perto da fronteira portuguesa, fixando limites fronteiriços entre ambos os reinos e delimitando a fronteira mais antiga da Europa (ver adiante a cópia do tratado).
O Tratado de Alcanices consagrou as fronteiras portuguesas que duram até à actualidade (se exceptuarmos a questão de Olivença). São as fronteiras mais antigas da Europa. Todas as terras de Ribacoa tomadas por D. Dinis passavam para a posse portuguesa, assim como Campo Maior, Ouguela e a margem esquerda do Guadiana (Moura, Serpa, Olivença, etc.). Em contrapartida, D. Dinis renunciou às pretensões que tinha sobre Valência de Alcântara e sobre a faixa de Aracena a Aiamonte.
Foi um tratado bastante favorável para Portugal, só possível pela supremacia política que D. Dinis tinha granjeado nas Hespanhas de então, aparecendo como árbitro entre a regente de Leão e Castela, Maria de Molina (Fernando IV era menor) e diversos pretendentes à coroa, apoiados pelo rei de Aragão. Foi um árbitro bastante interventor, pois enquanto dialogava e arbitrava, ia tomando diversas praças importantes. A política de Maria de Molina, como escreveram os historiadores espanhóis foi apartar de la alianza con los rebeldes al rey de Portugal, no obstante las continuas infidelidades de éste que sólo procuraba ir ganando vilas para sí.
D. Dinis resolveu desistir de tentar adquirir territórios mais vastos, como Salamanca, Tordesilhas, Simancas e Valhadolid, que poderiam conduzir a uma reviravolta da situação e preferiu assinar um tratado que lhe era, mesmo assim, bastante favorável, atendendo à situação anterior. Preferiu consolidar uma situação que aventurar-se por anexações territoriais muito extensas que poderiam revelar-se de difícil sustentação.
O futuro imediato mostrou que D. Dinis poderia ter sido mais audaz. Fernando IV tinha 11 anos à data da assinatura do tratado e passou a sua curta vida em luta pela manutenção do seu trono, numa grande instabilidade política. Todavia a história de uma nação não se faz no horizonte de uma ou duas décadas, com políticas de curto prazo. O Tratado de Alcanices era sólido, como se provou pela sua perenidade.
Nota: Embora na fórmula de encerramento seja informada a datação como Era de mil trezentos trinta e cinco annos (ver última cópia abaixo), tal significa que essa data é referida ao calendário juliano, vigente àquela época nas Hespanhas.
Publicado por Joana às setembro 12, 2005 06:41 PM
Trackback pings
TrackBack URL para esta entrada:
http://semiramis.weblog.com.pt/privado/trac.cgi/103590
Comentários
Que espantosa documentação para um privado.
Espero que esteja bem resguardada.
New Orleans pode acontecer em qualquer sítio e de muitas maneiras.
Publicado por: carlos alberto às setembro 12, 2005 07:07 PM
carlos alberto às setembro 12, 2005 07:07 PM:
O meu pai tem isso em comum com o Soares: ter uma biblioteca. Falhou na história da candidatura. Mas ainda vai a tempo, pois tem menos 20 anos que o Soares.
Publicado por: Joana às setembro 12, 2005 07:28 PM
Está excelente. Isto é serviço público. Obrigado.
Publicado por: Adalberto às setembro 12, 2005 07:34 PM
Ora isto é que eu gosto. Joana você não quer brincar comigo com o Português? Todos os homens fogem ou porque têm medo ou então devem achar que é uma mariquice andar atrás de um diamante. Só que eu estou-me nas tintas e continuo mesmo sóxinho.
Publicado por: pyrenaica às setembro 12, 2005 07:42 PM
Soares, ao que consta, que ele nisso é bem discreto possui uma das maiores colecções privadas de arte apenas superada por Jorge de Brito e Artur Jorge.
Ora se o seu Pai nisto também igualar o avozinho e por acaso tiver algum Noronha da Costa de que não goste, eu tenho aqui espaço na parede.
Pense breve nisto, porque terça a "revolução" pelo pré está na rua.
Publicado por: carlos alberto às setembro 12, 2005 08:13 PM
Já há compradores. Aproveite que, em épocas de crise, os compradores não abundam
Publicado por: Surpreso às setembro 12, 2005 08:31 PM
Não era para compra.
Era por troca com um exemplar que tenho aqui o Derrida for Beginners. de Jeff Collins, Icon Books, 1996 com um autógrafo de EPC que diz O que eu quero ser quando for crescidinho.
Está um bocadito estragado porque caiu-lhe um pastel de nata, dois, três e está ligeiramente manchado.
Publicado por: carlos alberto às setembro 12, 2005 10:01 PM
carlos alberto às setembro 12, 2005 10:01 PM:
1 - É só biblioteca;
2 - Trocas de livros manchados, só se for com manchas de café, para ter uma patine de intelectual
3 - O EPC teve um problema: nunca chegou a crescer.
Publicado por: Joana às setembro 12, 2005 11:39 PM
Infelizmente, com a evolução dos preços da gasolina em Portugal e Espanha, a fronteira traçada em Alcanices corre o risco de se desviar para Oeste.
Já é quase ridículo ver alguém na raia a abastecer o seu carro do lado de cá. Só se for masoquista.
O que nos salva é a gastronomia. Essa sim, segura a fronteira no sítio. Os camionistas que entram em Portugal abastecem antes da fronteira, em Espanha, mas fazem mais uns quilómetros e vêm comer a Portugal.
Enquanto houver estômagos estamos safos. Descobrimos o nosso nicho de competitividade.
Publicado por: J P Castro às setembro 13, 2005 01:19 AM
Na metade norte do país, a fronteira está demasiado a oriente. A oriente da serra da Estrela, já estamos de facto em terras da Meseta Ibérica, que só nos fazem lembrar Espanha. Deveriam pertencer a Espanha, não a Portugal. Castelo Branco, as terras da Idanha, Penamacor, Almeida, Castelo Rodrigo, etc, tudo isso é mais espanhol do que português.
A sul, pelo contrário, o Algarve prolonga-se para o lado espanhol. Huelva ainda deveria ser portuguesa. Os nomes dos rios - começados por "Odi", em vez de por "Guadi" - terminam em Huelva, com o rio Odiel. A chamada "Andaluzia atlântica" ainda deveria, pelo menos em parte, ser portuguesa.
Publicado por: Luís Lavoura às setembro 13, 2005 09:58 AM
Luís Lavoura não acho nada bem que se ponha a sugerir mexer nas fronteiras, ainda por cima está a pretender que uma zona que muito gosto, como Castelo de Vide e Marvão devia ser espanhol? Só morto, pela parte que me toca!
Mas enfin a razão profunda deste comentário é uma capicua.
Publicado por: pyrenaica às setembro 13, 2005 03:05 PM
Quanto a mim acho bem anexarmos toda a zona da fronteira, para termos a gasolina mais barata.
Publicado por: beto às setembro 14, 2005 10:03 AM
E importarmos o Aznar, para ver se mete ordem na economia.
Publicado por: beto às setembro 14, 2005 10:05 AM
Documentação interessante. Parabéns
Publicado por: VMM às setembro 14, 2005 10:33 AM
Excelente
Publicado por: Cerejo às setembro 14, 2005 11:51 AM
Parabéns pelo post
Publicado por: Carlos às setembro 14, 2005 06:50 PM
Grupo dos Amigos de Olivença
www.olivenca.org
*****
Divulgação 10-2005
708 anos sobre o Tratado de Alcanices
Na sequência de esclarecida política diplomática, o Rei D.
Dinis assinou com o Rei de Castela, em 12 de Setembro de 1297, o Tratado de
Alcanices, pelo qual se fixou a fronteira entre os dois Estados
peninsulares, sendo reconhecida a soberania portuguesa sobre os territórios
e povoações de Riba-Côa, Ouguela, Campo Maior e Olivença.
Os limites então estabelecidos jamais sofreram qualquer
alteração, assim se constituindo a mais antiga e estabilizada fronteira
nacional da Europa.
Todavia, o Estado vizinho, que em diversas ocasiões e sob
variadíssimas formas questionou a existência de tais limites, ocupou, em
1801, a vila portuguesa de Olivença. Ocupação esta que permanece,
indignamente, apesar das determinações e acordos internacionais
(designadamente o Tratado de Viena de 1815), apesar dos próprios
compromissos assumidos pelo Estado espanhol, apesar do Direito
Internacional.
Na passagem de 708 anos sobre o Tratado de Alcanices, o Grupo
dos Amigos de Olivença, denuncia - como sempre o fez desde a sua fundação
por Ventura Ledesma Abrantes, oliventino refugiado em Portugal, há mais de
68 anos - a ocupação daquela parcela de Portugal.
Esta associação de cidadãos que não abdicam do exercício dos
seus inalienáveis direitos de intervenção pública - continuando o
testemunho de tantos vultos que pugnaram pela portugalidade de Olivença,
como Hernâni Cidade, Jaime Cortesão, Queiroz Veloso, Torquato de Sousa
Soares, General Humberto Delgado, Miguel Torga, Ricardo Rosa e Alberty -
reclama-se, muito simplesmente, daquela que é a posição jurídico-política
portuguesa, com cobertura constitucional: Portugal não reconhece
legitimidade à ocupação de Olivença por Espanha, considerando que o
território é português de jure.
No momento em que se apresentam diversos candidatos
a Presidente da República - garante da Independência Nacional - espera-se
deles a iniciativa de trazer a debate a Questão de Olivença e a capacidade
de apresentar um programa nacional para a sua resolução.
O Grupo dos Amigos de Olivença prosseguirá animosamente os seus
esforços pelo reencontro com Olivença, no respeito pela História, pela
Cultura, pela Moral e pelo Direito.
Que os cidadãos portugueses, por todos os meios, exijam que a
Questão de Olivença seja colocada na agenda política nacional!
Lisboa, 12-09-2005.
A Direcção
_______________________________
Rua Portas S. Antão, 58 (Casa do Alentejo) - 1150-268 Lisboa
Tlm. 96 743 17 69
Fax. 21 259 05 77
Publicado por: Grupo dos Amigos de Olivença às setembro 14, 2005 11:41 PM
Excelente blog. Parabéns pelo blog
Publicado por: Ucha às setembro 15, 2005 12:24 AM
O problema é que, com a desgraça em que o país está, não há oliventino que queira mudar.
Publicado por: Sa Chico às setembro 15, 2005 09:08 AM
Não percebo porque tanta gente ...
Publicado por: Coruja às setembro 15, 2005 06:38 PM
despreza a cultura
Publicado por: Coruja às setembro 15, 2005 06:40 PM
Eu não
Publicado por: Coruja às setembro 15, 2005 06:41 PM