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setembro 07, 2005

Desemprego Conceptual

A controvérsia sobre os números do desemprego em Portugal abona muito pouco políticos, jornalistas, conversadores de café, etc.. Ninguém se interessa pelas coisas “em-si”, escalpelizando-as e investigando o que significam. Apenas se interessam pelas coisas em bruto, para as arremessar contra o opositor político. Se os conversadores de café fazem isso por tradição multi-secular, ancorados como estão na maledicência e no boato, os políticos e jornalistas fazem-no por ignorância (ou para tirar proveito da ignorância dos receptores das suas mensagens) e por falta de ética argumentativa.

Marques Mendes acusou o Governo socialista de estar a deixar aumentar o desemprego, quando tinha prometido a criação de 150 mil empregos adicionais e que o combate ao desemprego seria a sua prioridade. Marques Mendes tem razão em afirmar que o desemprego aumentou. Basta observar o gráfico aqui inserto para se ver que, em termos homólogos (e é assim que deve ser comparado), o desemprego aumentou.
Desemprego04-5.jpg
Todavia Marques Mendes esqueceu-se que o fenómeno do aumento do desemprego já vinha de trás, que é uma questão estrutural que não foi resolvida pela governação PSD/PP, nem está ser resolvida pela actual governação. Já aqui escrevi, por diversas vezes, que o aumento do desemprego tem a ver com a degradação da nossa competitividade (baixa qualificação para os custos da mão-de-obra). Uma parcela muito importante dos custos da mão-de-obra é constituída pela excessiva punção fiscal necessária para solver uma despesa pública excessiva. Portanto a medida primordial para combater o aumento do desemprego no sector produtivo é aliviar a carga fiscal através de uma diminuição rigorosa da despesa pública. Uma outra medida é agilizar drasticamente a justiça. Isto é economicamente evidente e politicamente incorrecto, pelo menos para os nossos políticos.

Ora nem a coligação PSD/PP nem o governo PS fizeram nada sobre esta matéria. A actuação desastrada de Vítor Martins, um dos coordenadores do PIIP, no último Prós & Contras, revela a fragilidade da estratégia socialista. Foi uma actuação demasiado má para a atribuir apenas ao défice de competência e ao desconhecimento da realidade exterior daquele professor universitário. É à própria inanidade do projecto socialista que se deve atribuir aquela performance.

Como resposta a Marques Mendes, Jorge Coelho produziu-se a “provar”, por números (?), que o desemprego havia diminuído, citando os valores dos últimos meses. Olhando para o gráfico verifica-se que, de facto, o desemprego diminuiu nos últimos meses. Sucede todavia que esta diminuição de desemprego tem as características de fenómeno sazonal. Aconteceu o mesmo em 2004. Portanto, Jorge Coelho, se a sua capacidade cognitiva não fosse inversamente proporcional ao vigor da sua voz, não deveria ter dito semelhante disparate, disparate que aliás foi partilhado pela “observadora de Soares” Ana Sousa Dias ao interromper o Prof. Marcelo quando este criticava a situação do emprego, avisando-o solenemente que o desemprego estava a “descer”. O mesmo escreveu Morgado Fernandes hoje no DN: “Marques Mendes abriu uma nova frente - o desemprego - que o Governo desmontou com toda a facilidade … Objectivamente, os números do desemprego desceram durante o Governo socialista - provavelmente, sem que isso seja reflexo da acção governativa - quando antes estavam a subir”. É paradoxal (ou fruto da ignorância) usar o advérbio “objectivamente” como sinónimo de “superficialmente”.

O que se pode concluir é que o desemprego aumentou, ao contrário do que pretende Jorge Coelho e os seus apoiantes, mas que esse aumento é um fenómeno estrutural resultante das opções políticas e económicas que foram tomadas desde há muitos anos a esta parte. Portanto, Marques Mendes erra ao atribuir unicamente ao PS o aumento do desemprego. O governo de que fez parte também concorreu para esse fenómeno. São todos responsáveis porque todos eles foram incapazes de criar condições que permitissem a melhoria do clima económico (justiça, fiscalidade, etc.).

E o grave é que este fenómeno é realimentado por ele próprio. Quanto menor for o sector produtivo, menores serão as receitas para alimentar a despesa do Estado ou, inversamente, se se quiser manter o nível das receitas, mais gravoso será o ónus que pesará sobre o sector produtivo e sobre a sua competitividade.

O emprego no sector produtivo deve ser privilegiado. Só esse emprego pode agir como motor da economia. Grandes investimentos públicos geram empregos pontuais, mas quando desaparece o seu efeito, esse emprego desaparece quase totalmente. Em contrapartida os encargos com esses investimentos ficam a pesar na despesa pública e travam o desenvolvimento do sector produtivo, degradando a sua competitividade. O mesmo sucede com o emprego público.

As causas do desemprego e do empobrecimento relativo do nosso país não são obuses para altercações políticas superficiais – são matéria para sólida reflexão.

Isto ... se os políticos fossem capazes de reflexões sólidas ...

Publicado por Joana às setembro 7, 2005 10:35 PM

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Comentários

"O próximo post de Joana é sobre as afirmações de Barbara Bush, acerca das condições dos que sobreviveram ao desastre de NO."

Tinha previsto um post de Joana sobre a família Bush, mas ela não quererá bater mais no ceguinho ( neste caso na ceguinha )

Publicado por: zippiz às setembro 7, 2005 10:51 PM

"Marques Mendes acusou o Governo socialista"

Joana, há mais algum governo no país ? porquê essa necessidade de "governo...socialista" ? existe em funções mais algum governo e a sua ideia é destrinçar um do outro ? ou será um dos defeitos que Vc acusa os seus inimigos de estimação na comunicação social ?

Publicado por: zippiz às setembro 7, 2005 10:57 PM

O país não tem cura.

Publicado por: kkkk às setembro 7, 2005 11:30 PM


Além da flutuação sazonal também seria interessante observar os efeitos do prazo de atribuição do subsídio de desemprego nos picos e descidas da taxa.

Cerca de ano a ano e meio depois de um período de crescimento do desemprego deveria verificar-se uma diminuição por força do fim do "incentivo" a manter a inscrição no centro de emprego.

A ausência desse efeito significa que o subsídio está a acabar e as inscrições mantêm-se e até aumentam. Ou seja, nem se encontram empregos temporários em quantidade suficiente para reabsorver os que terminam o subsídio.

Isso é um grave sinal.

Publicado por: J P Castro às setembro 7, 2005 11:48 PM

A Ana Sousa Dias anda a fingir de independente. Quem julga que engana?

Publicado por: fbmatos às setembro 7, 2005 11:54 PM

O pessoal não liga a estas coisas do desemprego. O Katrina é que está a dar.

Publicado por: Coruja às setembro 8, 2005 09:44 AM

"O país não tem cura." (kkkk às setembro 7, 2005 11:30 PM".

Não tem cura nem vigário.


Publicado por: Senaqueribe às setembro 8, 2005 10:20 AM

Se a Joana escrevesse "governo do PS" em vez de "governo socialista" estaria, não só a poupar teclas no computador, como também a ser mais exata. Porque o PS é tão socialista como o PSD é social-democrata ou o PP é popular, ou seja: muito pouco.

"O emprego no sector produtivo deve ser privilegiado." Concordo, evidentemente, mas, em vez de "produtivo" acharia talvez melhor "exportador". Muita da "produção" portuguesa só alimenta o excessivamente alto consumo nacional. Aliás, muito do setor "produtivo" nacional não passa de importação e comercialização de bens estrangeiros.

A longo prazo, o encarecimento da energia poderá ter como efeito a diminuição do desemprego. O encarecimento do fator energia pode levar, ou deveria levar, à sua substituição progressiva pelo fator trabalho.

Publicado por: Luís Lavoura às setembro 8, 2005 11:22 AM

Apenas sector exportador, não - sectores abertos ao exterior.
A competitividade dos sectores abertos ao exterior melhora a nossa balança comercial (+ exportações e - importações)

Publicado por: Novais de Paula às setembro 8, 2005 12:13 PM

Parece-me evidente que quando a Joana fala em sector produtivo se refere à indústria ou aos serviços ligados com a tecnologia.
Não ao comércio. O comércio não precisa de incentivos.

Publicado por: Novais de Paula às setembro 8, 2005 12:16 PM

"O encarecimento do fator energia pode levar, ou deveria levar, à sua substituição progressiva pelo fator trabalho."
Lá vamos nós ter que puxar os rickshaws

Publicado por: Coruja às setembro 8, 2005 01:05 PM

Coruja: e a seguir dar à manivela para criar uma central antropo-eléctrica.

Publicado por: Sa Chico às setembro 8, 2005 01:43 PM

cujo conbustivel são subhumanos ? os fascistas , os de direita e principalmente os liberais , certo ?

Publicado por: jojo às setembro 8, 2005 02:21 PM

Desta vez ficaram só pela confusão que decorre da sazonalidade e não questionaram a estatística em si mesma. Existe sempre a possibilidade de afirmar que os números não são reais, que a fonte estatísca do INE são as incrições no centro de emprego e que estas estão enviesadas. Decorrem daqui dois argumentos, um para o Governo e outro para a oposição.
O elemento do Governo (ou elemento anexo ao Governo, como é o caso de Jorge Coelho) pode sempre argumentar que há muitas pessoas empregadas que estão inscritas de forma fraudulenta de modo a receberem o subsídio de desemprego juntamente com o salário. Pode também considerar aqueles casos em que há inscrição em mais de um centro de emprego com o acumular de subsídios (um caso de estudo de partilha de informação) que leva a que a um indivíduo correspondam dois ou mais desempregados, aumentando a taxa de desemprego.
No caso da oposição há sempre o argumento de que só é desempregado quem está inscrito no centro de emprego e cumpre os requesitos estatísticos, logo muitos desempregados estarão fora da estatística por um dos motivos.

Publicado por: Daniel às setembro 8, 2005 03:43 PM

Claramente que a questão do desemprego interessa muito menos aos tugas que o Katrina.
Basta ver a diferença de participação entre os 2 posts!
Isto de desemprego é para os outros.

Publicado por: Tavares às setembro 8, 2005 03:55 PM

Obras públicas, não.
Privilegiar o emprego no sector produtivo, sim.
Privilegiar é o quê? Que medidas? Que sectores?
Criar uma "cartilha maternal" para os empresários?
Um leigo (como eu) fica sem perceber o que se pretende do Governo.

Concretizem!

Publicado por: Vítor às setembro 8, 2005 11:11 PM

Estes comentadores estão a ficar exigentes. Agora querem que sejam os bloggers a tomarem as decisões que eram da esfera governativa

Publicado por: Joana às setembro 8, 2005 11:21 PM

Joana às setembro 8, 2005 11:21 PM

Não falei de decisões; apenas de opiniões.
Quem tanto vocifera contra, deve ter umas ideiazitas. Ou não?

Será, a Joana, apenas uma "Velha do Restelo" sem ideias?

Publicado por: Vítor às setembro 9, 2005 12:30 AM

Para quem mantém este blog, com a variedade de assuntos que apresenta, não acha descabido dizer que a Joana não tem ideias.
Poderá não ter as ideias que o Vítor gosta.

Publicado por: soromenho às setembro 9, 2005 12:57 AM

soromenho às setembro 9, 2005 12:57 AM

Vou tentar escrever mais devagar (a ver se percebe):

Dizer que se deve apostar no sector produtivo, até eu (um leigo marxista anti-liberal primário) diria. É palha. É conversa mole p'ra boi dormir.

De um(a) economista que tanto critica a política governativa e vocifera contra o peso do Estado e a sua intervenção na economia, esperava eu que saíssem algumas ideias concretas sobre como melhorar o estado de coisas.

Relativamente à variedade de assuntos, (embora às vezes, no fundo, se trate de simples "variações sobre um tema") e ao trabalho da Joana, já aqui várias vezes lhe prestei o meu louvor. Não é por acaso que gosto de ler este blogue...

Publicado por: Vítor às setembro 9, 2005 12:50 PM

Ninguém liga ao desemprego.

Publicado por: Coruja às setembro 9, 2005 03:14 PM

Nem um leigo marxista anti-liberal primário, nem um leigo liberal anti-marxista secundário como eu.

Publicado por: Coruja às setembro 9, 2005 03:18 PM

Hum. Já não te mando a fotografia! Eu ainda estou no desemprego meu, com um despedimento ilegal, por ser mais ou menos marxista-liberal politicamente incorrecto, etc, e sem subsídio, embora 2ª feira o problema já se resolva por uns meses.

Publicado por: pyrenaica às setembro 9, 2005 05:37 PM

Que grande Albatroz. Ele está à bicada a alguma coisa, será à Joana?

Publicado por: Coruja às setembro 9, 2005 08:49 PM

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