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agosto 22, 2005

Uma Floresta de Ideias

Certo dia um camponês foi-se queixar a um sábio ancião – o fogo tinha devastado uma parte da sua propriedade e ele queria um conselho do ancião, conhecido naquelas terras e arredores pela sua sabedoria, sensatez e sapiência de aconselhamento.

– Meu filho – disse o ancião após breve mas sábia reflexão – a natureza castiga aqueles que não a amam. Mostra o teu amor pela natureza desenhando com o teu canivete um coração em cada árvore.

E assim o camponês obrou como lhe havia sido sugerido.

No ano seguinte o camponês voltou desesperado ao tugúrio do sábio ancião, clamando que tinha ardido mais uma parte da sua propriedade. O sábio ancião cofiou longamente a barba branca como a neve, enquanto reflectia sobre o assunto. Após madura reflexão, disse-lhe:

– A floresta precisa de carinho. Compra uma aparelhagem sonora e, quando o Verão se aproximar, põe a música a tocar em permanência. E deu-lhe uma lista de CD’s para ele adquirir, onde pontificavam o Canto Gregoriano, Josquin Desprez, Monteverdi, Buxtehude e Bach, tudo artistas que o camponês desconhecia, pois que nunca, até então, haviam actuado nas festas anuais da terra. O camponês saiu de lá todo satisfeito. Seguramente que aquele conselho não falharia.

No ano seguinte, tocava em força a “Vespro della Beata Virgine”, desencadeou-se um novo e aterrador incêndio. O camponês acorreu outra vez ao aprisco do sábio ancião e deu-lhe a triste nova. O ancião que já se preparara, pois ouvira o alarido público, disse-lhe com voz doce, mas firme:

– Meu Filho, todos os acontecimentos procedem de uma necessidade do destino. O fogo não se limita a obedecer a essa lei inexorável, mas observa a lei e ajuíza de acordo com ela. O fogo sempre existiu e sempre existirá, acendendo-se segundo a medida e segundo a medida se extingue. Na sua progressão, o fogo captura, julga e condena todas as coisas. Para escapares a esta ordem cósmica, que sempre existiu e sempre existirá, toma lá estes papéis onde transcrevi toda a sabedoria de Heraclito e, quando estiver próximo o Verão, todos os dias, de manhã e ao cair da noite, vai junto das tuas árvores e lê uma frase das que estão aqui escritas. Nunca falhes.

O camponês que não percebera nada daquela lengalenga e nunca ouvira falar de Heraclito, um santo homem, sem dúvida, para estar assim em teres e haveres de sabedoria com o ancião, cumpriu fielmente as instruções. Só falhou uma noite, única e fatal. Foi a noite em que, quando chegou à sua propriedade, o fogo consumia, impiedoso, as últimas árvores. Emudeceu de tristeza e de resignação. Nem quando uma repórter da TV, em horário nobre, se abeirou e lhe perguntou como estava a “apreciar” o sinistro, uma palavra, um gemido, um soluço saiu daquela boca.

No dia seguinte, logo pela alvorada, o camponês voltou ao redil do sábio ancião e anunciou-lhe que já nada restava da sua propriedade. O pouco que havia, tinha sido consumido pelo fogo no dia anterior. O ancião, que sempre havia mostrado a maior prudência e moderação, exasperou-se:

– Nada? Não sobrou mesmo nada??

– Nada … a minha propriedade é agora um pedaço de terra nua e negra como um tição.

– Que maçada! Não fazes a mais pequena ideia quanto isso me entristece. E logo agora que eu ainda tinha tantas ideias boas!


Nota: Com algumas mudanças (mutatis mutandis) esta história é válida para o Controlo Orçamental, Política Económica, Justiça, alocuções do PR, etc., etc..

Publicado por Joana às agosto 22, 2005 05:53 PM

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Comentários

Um execlente texto para férias

Publicado por: c seixas às agosto 22, 2005 06:49 PM

Por uma feliz coincidência, hoje mesmo Fernando Ilharco no Público, postula que:

“”O fogo é a essência da transformação, tal como Heraclito há dois mil e quinhentos anos o entendeu, indicando-o como princípio básico de um universo caracterizado pela mudança. Tudo muda e o fogo é essa mudança, essa limpeza e recomeço constante - talvez por isso as armas sejam armas de fogo: porque tudo mudam””.

É natural que haja incêndios, basta uma fagulha.
Como por exemplo a que Rodrigo de Sá-Nogueira Saraiva ateou no Expresso e na qual já queimaram as mãos EPC e Ruben de Carvalho, dois dos mais volumosos intelectuais portugueses.

Infelizmente não se podem indicar links.
É que não-há-almoços grátis e agora está tudo fechado a cadeado.

E é pena porque quando se afirma que “O curioso é que os intelectuais desapareceram. Eles ainda existem? Sim, em certos bares, ligados a meios artísticos e muito misturados com o pós-modernismo e os grupos homossexuais.”” isto equivale a pelo menos quinze litros de super 98 octanas deitados sobre, sei lá, sobre aquele, talvez.

Publicado por: carlos alberto às agosto 22, 2005 06:55 PM

O Ilharco hoje no Público também fala do Heraclito.

Publicado por: c seixas às agosto 22, 2005 07:06 PM

A Joana foi feliz neste seu texto. Portugal é de facto o país da irrelevância, da glorificação acaciana, da ignorância ostensiva e orgulhosa. Começo a recear que precisávamos de ser colonizados... De preferência por alemães ou suecos...

Publicado por: Albatroz às agosto 22, 2005 07:08 PM

O EPC tem-se farto de rezingar sobre essse artigo do Rodrigo de Sá-Nogueira Saraiva no Expresso

Publicado por: Novais de Paula às agosto 22, 2005 07:10 PM

O artigo do EPC, no meio do fogo cerrado sobre o Rodrigo de Sá-Nogueira Saraiva, tinha uma coisa boa. Disse que só voltava no fim do mês.

Publicado por: Novais de Paula às agosto 22, 2005 07:13 PM

Albatroz às agosto 22, 2005 07:08 PM:
Agora o que está a dar são os irlandeses. Ingleses não precisamos mais. Temos o Algarve cheio deles

Publicado por: c seixas às agosto 22, 2005 07:16 PM

Já dizia o Ministro da Economia, há povos que privilegiam a especulação em vez de se dedicarem à acção.

Publicado por: Fialho às agosto 22, 2005 07:17 PM

Texto bem feito.

Publicado por: Lopes às agosto 22, 2005 08:33 PM

Fialho às agosto 22, 2005 07:17 PM:
O problema é que ele faz parte dos especuladores

Publicado por: Lopes às agosto 22, 2005 08:35 PM

Pior que assistir na TV à meia hora de incêndios, é ouvir Sócrates a dizer banalidades sobre os incêndios.
Ele lá sabia que o melhor sítio para estar com o país a arder, é no Quénia, longe daqui.

Publicado por: soromenho às agosto 22, 2005 09:30 PM

Repete sempre a mesma cassete, da mesma maneira, com o mesmo estilo de voz e os mesmos ademanes

Publicado por: soromenho às agosto 22, 2005 09:32 PM

Preso por ter cão, preso por não ter

Publicado por: Coiso às agosto 22, 2005 10:24 PM

Já que estamos em maré de fábulas, aqui vai...

A Fábula dos Porcos Assados

Uma das possíveis variações de uma velha história sobre a origem do assado é a seguinte:

Certa vez, aconteceu um incêndio num bosque onde havia alguns porcos, que foram assados pelo fogo. Os homens, acostumados a comer carne crua, experimentaram e acharam deliciosa a carne assada. A partir daí, sempre que queriam comer porco assado, incendiavam um bosque... até que descobriram um novo método.

Mas o que quero contar é o que aconteceu quando tentaram mudar o SISTEMA para implantar um novo.

Há muito tempo que as coisas não iam lá muito bem; às vezes os animais ficavam queimados demais ou parcialmente crus. O processo preocupava muito a todos, porque se o SISTEMA falhava, as perdas ocasionadas eram muito grandes - milhões eram os que se alimentavam de carne assada e também milhões os que se ocupavam com a tarefa da assadura. Portanto, o SISTEMA simplesmente não podia falhar. Mas, curiosamente, quanto mais crescia a escala do processo, tanto mais parecia falhar e tanto maiores eram as perdas causadas.

Em razão das inúmeras deficiências, aumentavam as queixas. Já era um clamor geral a necessidade de reformar profundamente o SISTEMA. Congressos, Seminários, Conferências passaram a ser realizados anualmente em busca de uma solução. Mas parece que não acertavam.

Assim, no ano seguinte repetiam-se os Congressos, Seminários e Conferências. As causas do fracasso do SISTEMA, segundo os especialistas, eram atribuídas à indisciplina dos porcos, que não permaneciam onde deveriam, ou à inconstante natureza do fogo, tão difícil de controlar, ou ainda às árvores, excessivamente verdes, ou à humidade da terra, ou ao serviço de informações meteorológicas, que não acertava o lugar, o momento e a quantidade das chuvas...

As causas eram, como se vê, difíceis de determinar - na verdade, o sistema para assar porcos era muito complexo. Fora montada uma grande estrutura: maquinaria diversificada; indivíduos dedicados exclusivamente a acender o fogo - incendiadores que eram também especializados, incendiadores da Zona Norte, da Zona Oeste, etc., incendiadores nocturnos e diurnos - com especialização em matutino e vespertino - incendiador de Verão, de Inverno, etc.

Havia especialistas também em ventos - os anemotécnicos. Havia um Director Geral de Assadura e Alimentação Assada, um Director de Técnicas Ígneas (com seu Conselho Geral de Assessores), um Administrador Geral de Reflorestamento, uma Comissão Nacional de Treino Profissional em Porcologia, um Instituto Superior de Cultura e Técnicas Alimentícias (ISCUTA) e o Bureau Orientador de Reformas Ígneo-operativas.

Tinha sido projectada e encontrava-se em plena actividade a formação de bosques e selvas, de acordo com as mais recentes técnicas de implantação - utilizando-se regiões de baixa humidade e onde os ventos não soprariam mais que três horas seguidas. Eram milhões de pessoas trabalhando na preparação dos bosques, que logo seriam incendiados. Havia especialistas estrangeiros estudando a importação das melhores árvores e sementes, fogo mais potente, etc.

Haviam grandes instalações para manter os porcos antes do incêndio, além de mecanismos para deixá-los sair apenas no momento oportuno. Foram formados professores especializados na construção dessas instalações. Pesquisadores trabalhavam para as universidades que preparavam os professores especializados na construção das instalações para porcos; fundações apoiavam os pesquisadores que trabalhavam para as universidades que preparavam os professores especializados na construção das instalações para porcos, etc.

As soluções que os congressos sugeriam eram, por exemplo, aplicar triangularmente o fogo depois de atingida determinada velocidade do vento, soltar os porcos 15 minutos antes que o incêndio médio da floresta atingisse 47 graus, posicionar ventiladores-gigantes em direcção oposta à do vento, de forma a direccionar o fogo, etc.

Não é preciso dizer que poucos especialistas estavam de acordo entre si, e que cada um baseava as suas ideias em dados e pesquisas específicos.

Um dia um incendiador categoria AB/SODM-VCH (ou seja, um acendedor de bosques especializado em sudoeste diurno, matutino, com bacharelado em verão chuvoso), chamado João Bom-Senso, resolveu dizer que o problema era muito fácil de ser resolvido, bastava, primeiramente, matar o porco escolhido, limpando e cortando adequadamente o animal, colocando-o então sobre uma armação metálica sobre brasas, até que o efeito do calor - e não as chamas - assasse a carne.

Tendo sido informado sobre as ideias do funcionário, o Director Geral de Assadura mandou-o chamar ao seu gabinete, e depois de o ouvir pacientemente, disse-lhe:

-Tudo o que o senhor disse está muito bem, mas não funciona na prática. O que o senhor faria, por exemplo, com os anemotécnicos, caso viéssemos a aplicar sua teoria? Onde seria empregado todo o conhecimento dos acendedores de diversas especialidades ?
- Não sei - disse o João.
- E os especialistas em sementes? Em árvores importadas para porcos, com suas máquinas purificadoras automáticas de ar?
- Não sei.
- E os anemotécnicos que levaram anos especializando-se no exterior, e cuja formação custou tanto dinheiro ao país? Vou mandá-los limpar os porquinhos. E os conferencistas e estudiosos, que ano após ano têm trabalhado no Programa de Reforma e Melhoramentos? Que faço com eles, se a sua solução resolver tudo? - Heim?
- O senhor percebe agora que a sua ideia não vem ao encontro daquilo de que necessitamos? O senhor não vê que se tudo fosse tão simples, nossos especialistas já teriam encontrado a solução há muito tempo atrás? O senhor com certeza compreende que não posso simplesmente convocar os anemotécnicos e dizer-lhes que tudo se resume a utilizar brasinhas, sem chamas! O que o senhor espera que eu faça com os quilómetros de bosques já preparados, cujas árvores não dão frutos nem têm folhas para dar sombra? Vamos, diga-me!
- Não sei, não senhor.
- Diga-me, nossos três engenheiros em Porcopirotecnia, o senhor não considera que sejam personalidades científicas do mais extraordinário valor?
- Sim, parece que sim
- Pois então. O simples fato de possuirmos valiosos engenheiros em Porcopirotecnia indica que nosso sistema é muito bom. O que eu faria com indivíduos tão importantes para o país?
- Não sei.
- Viu? O senhor tem que trazer soluções para certos problemas específicos por exemplo, como melhorar as anemotécnicas actualmente utilizadas, como obter mais rapidamente acendedores de Oeste (nossa maior carência) como construir instalações para porcos com mais de sete andares. Temos que melhorar o sistema e não transformá-lo radicalmente, o senhor entende? Ao senhor, falta-lhe sensatez!
- Realmente estou perplexo! - respondeu o João.
- Bem, agora que o senhor conhece as dimensões do problema, não saia dizendo por aí que pode resolver tudo. O problema é bem mais sério e complexo do que o senhor imagina. Agora, entre nós, devo recomendar-lhe que não insista nessa sua ideia - isso poderia trazer-lhe problemas no seu cargo. Não por mim, o senhor entende? Eu falo isso para o seu próprio bem, porque eu o compreendo, entendo perfeitamente o seu posicionamento, mas o senhor sabe que pode encontrar outro superior menos compreensivo, não é?

João Bom-Senso, não falou mais nada.

Sem se despedir, meio atordoado, meio assustado com sua sensação de estar caminhando de cabeça para baixo, saiu sorrateiramente e nunca mais ninguém o viu.

Por isso é que até hoje se diz, em muitas ocasiões, que falta o Bom-Senso.

Nota: Com algumas mudanças (mutatis mutandis) esta história é válida para o SISTEMA em que vivemos.

Publicado por: Senaqueribe às agosto 22, 2005 10:28 PM

Podiamo-nos exercitar em encontrar deixas para patranhas sobre o Défice, a Economia, a Justiça, etc.

Publicado por: fbmatos às agosto 22, 2005 10:32 PM

Não percebo nada de fogos/incêndios mas os culpados só podem ser o EPC e o Ruben Carvalho !

Publicado por: zippiz às agosto 22, 2005 10:55 PM

ah! ia-me esquecendo : O Sócrates também não sai ileso desta bombeirada ... mas parece que nos últimos anos não ardeu nada neste país; acho, aliás, que já não havia fogos no verão há pelo menos 10 anos.

Publicado por: zippiz às agosto 22, 2005 11:09 PM

Esta tragédia dos fogos (porque é uma tragédia a que assistimos diariamente) levanta questões interessantes:
- o país rural é falado e visionado, coisa que raramente acontece e quase nunca por boas razões;
- alguns pensadores mais liberais começam, timidamente embora, a aceitar a ideia de que o Estado deve investir em meios próprios de combate (sobretudo meios aéreos). Sacrilégio...;
- discute-se a questão da propriedade privada. Ou melhor: alguns começam finalmente a perceber que ser proprietário da floresta implicará, no futuro, um conjunto de responsabilidades (cívicas, digo eu). E que o não cumprimento dessas responsabilidades terá forçosamente que implicar uma actuação sancionatória por parte do Estado. Sacrilégio ao quadrado...
- fica patente o disparate político ao seu mais alto nível. O governo actual sobe à estratosfera da demagogia, alegando que, com piores condições climáticas e maior "número de ocorrências", consegue melhores resultados que o governo anterior. Por seu turno, os representantes dos governos que já por lá andaram exigem, despudoradamente, que seja feito aquilo que não fizeram (digamos que: um suave milagre). E exigem que o Primeiro Ministro ande por ali (talvez para atrapalhar os "cameraman"?). Cá por mim, preferiria que se mantivesse a trabalhar no gabinete, onde pode ser mais útil.

Decididamente, o país não está para fábulas...

PS: na habitual caminhada pós-jantar reparei que alguns, poucos, lá vão metendo mãos à obra e limpando uns silvados encostados às suas habitações. Mas digamos que é um por cada dez. Depois gritem...

Publicado por: Vítor às agosto 22, 2005 11:10 PM

Post bem escrito e bem visto

Publicado por: Sa Chico às agosto 22, 2005 11:26 PM

A coisa é pesada (pdf) e "maricana", mas sempre se retiram alguns ensinamentos:
http://www.for.gov.bc.ca/protect/safety/pamphlets/FireSmart-BC4.pdf

Especialmente dedicado a quem tem "segunda habitação" no interior.

Publicado por: Vítor às agosto 22, 2005 11:27 PM

Vítor às agosto 22, 2005 11:10 PM:
A maioria dos incêndios actuais não tem sido no país rural, mas à volta de zonas urbanas: Malveira, Valongo, Pampilhosa, Coimbra. Todas são zonas com bastante ocupação

Publicado por: David às agosto 22, 2005 11:30 PM

Joana às agosto 22, 2005 05:53 PM

"Certo dia um camponês foi-se queixar a um sábio ancião..."

Quando foi isso?
Tenho para mim que esse ancião anda a dar conselhos há largas décadas...

Publicado por: Vítor às agosto 22, 2005 11:30 PM

Vítor às agosto 22, 2005 11:10 PM:
Quanto à acção sancionatória por parte do Estado, terá que começar por ele e pelas autarquias. As áreas protegidas têm tido uma proporção de fogos superiores às outras.

Publicado por: David às agosto 22, 2005 11:32 PM

Vítor às agosto 22, 2005 11:10 PM:
Os mais sensatos começam a perceber que, por muitos meios que haja, não se resolve nada. Tem que se investir no ordenamento florestal e na profilaxia.
No seu comentário só vejo desculpabilização do Estado e medidas sancionatórias. É simples, atira as culpas para os outros e não resolve nada.
Sobre quem? As finanças ainda não conseguiram descobrir os donos de mais de metade dos prédios rústicos

Publicado por: David às agosto 22, 2005 11:36 PM

Publicado por: David às agosto 22, 2005 11:30 PM

Reconheço que começam a ser frequentes os incêndios na periferia das zonas urbanas, mas daí a falar em maioria, vai uma grande distância.
A Pampilhosa da Serra, o vale superior do Zêzere, o Parque Natural do Alvão, as zonas ardidas no concelho de Pombal, etc, não são propriamente conhecidas pela sua natureza urbana...

Atenção que rural não significa despovoado.

Publicado por: Vítor às agosto 22, 2005 11:37 PM

David às agosto 22, 2005 11:36 PM

David:
Concordo consigo quando refere que tem que se investir no ordenamento florestal e na profilaxia. Noutras coisas mais também mas, realmente, devemos começar por aí.

Agora, V. vir dizer que eu desculpabilizei o Estado é que é de rir.
Já estou como a Joana: ou não leu o meu comentário ou percebeu mal.
Pois se até considero que o Estado deve investir em meios e sancionar quem prevarica. O que é que V. quer: que o Estado lhe vá ordenar a floresta e pagar para a limpar de vez em quando? Olhe que até isso já existe sob a forma de ajudas no projecto Ruris.

E já resolvi a minha parte - paguei 30 contos a um tipo para limpar o quintal (900m2) da casa que pretendo um dia vir a recuperar.
E pode ficar descansado que, se a casa arder por culpa do vizinho que não limpa o quintal dele, vou atirar-lhe as culpas (em tribunal).

Publicado por: Vítor às agosto 22, 2005 11:50 PM

Uma achazita para a grande fogueira dos fogos de Verão. Será que, eventualmente, por uma estranha coincidência, sei lá, se os proprietários de floresta tivessem que pagar pelas intervenções dos bombeiros, o problema da limpeza dos matos seria resolvido?

Ná! É uma ideia disparatada!...

Publicado por: Pedro Oliveira às agosto 23, 2005 09:14 AM

"E já resolvi a minha parte - paguei 30 contos a um tipo para limpar o quintal (900m2) da casa que pretendo um dia vir a recuperar."

Não quero particularizar o teu caso, por isso vou falar em geral. Em muitas situações limpar é impossível. A caruma dos pinheiros se já forem adultos é preciso ser limpa de duas em duas semanas minímo. Para mais está mais que provado que a limpeza de um país é impossível, nem isso é desjável a eliminação da vejetação rasteira seria um desastre ecológico. Não se pode ter um País só com árvores e terra.

No entanto deve-se limpar zonas ao pé de populações, e fazer corta fogos a sério e pré-planear outros.

Publicado por: lucklucky às agosto 23, 2005 11:00 AM

É uma ideia disparatada porque ninguém paga aos proprietários pelo o2 que produzem e pela paisagem.
O que conseguirias era que estes entreguassem as "chaves" dos terrenos ao estado e este que resolve-se os problemas. Terrenos de hectares só valem uma tuta e meia.

Publicado por: lucklucky às agosto 23, 2005 11:02 AM

raios!
entregassem
resolvesse

Publicado por: lucklucky às agosto 23, 2005 11:04 AM

lucklucky às agosto 23, 2005 11:00 AM

Em algumas situações não é possível nem desejável, proceder a limpezas profundas. Estou a falar, por exemplo, em zonas onde a flora se revela de especial importância, e deve ser protegida.
Nas zonas de floresta de produção, as limpezas são, além de perfeitamente possíveis, também desejáveis. Só assim se consegue, não apenas minorar a ocorrência de incêndios e a sua intensidade, bem como evitar que as plantas infestantes concorram com as árvores. Estas operações, de limpeza e desbaste, são particularmente importantes nos primeiros anos de produção. Basta atentar, por exemplo, em algumas encostas da Serra do Marão, onde se verifica que a falta de limpeza levou a que as urzes e os tojos ultrapassem em altura, os jovens pinheiros.

Esta limpeza não significa retirar por completo a camada superior orgânica do solo (manta morta). Significa apenas proceder ao corte das espécies arbustivas, evitando que estas sirvam de "ponte" e propaguem o fogo desde o revestimento herbáceo até às copas das árvores.
Particularmente em zonas de declive acentuado, a manutenção de um revestimento herbáceo do solo é particularmente importante para evitar a erosão provocada pela escorrência das águas das chuvas.

Quanto à necessidade de limpeza da caruma de duas em duas semanas, desculpe que lhe diga, mas não passa de um disparate. A caruma pode ser limpa uma vez por ano ou de dois em dois anos. Não é a caruma que imprime violência aos fogos.

Só concordo consigo quando diz que está provado que a limpeza de um país é impossível. Mas escuso-me a dissertar sobre isso...

Publicado por: Vítor às agosto 23, 2005 11:27 AM

Publicado por: Vítor às agosto 22, 2005 11:50 PM:
"E já resolvi a minha parte - paguei 30 contos a um tipo para limpar o quintal (900m2) da casa que pretendo um dia vir a recuperar."

A esses preços eram necessários 38,333 milhões de contos para ter limpado os 115.000 hectares que já arderam.

Seria incomportável?

Publicado por: Renato às agosto 23, 2005 11:37 AM

Já agora:

Disparate é ficar com meia dúzia de hectares de pedregulhos e perder em minutos o que levou dezenas de anos a crescer. A limpeza não é o remédio para todos os males da floresta. É apenas uma das medidas a adoptar.
Mas claro, apenas possível numa floresta que possa gerar rendimento.

A pulverização da propriedade e a reduzida dimensão das parcelas são um obstáculo ao ordenamento florestal. Geralmente, o português alega (e é verdade) que não retira rendimento da floresta.
Mas tão pouco se preocupa em investir, recusa-se a vender a um preço razoável, e resistirá a qualquer tentativa de emparcelamento.

Publicado por: Vítor às agosto 23, 2005 11:37 AM

Renato às agosto 23, 2005 11:37 AM

Começo a perceber porque é que este país não vai para a frente.
Eu só dei um exemplo (verídico), mas enfim, se querem contas de merceeiro, vamos a elas:
- o preço por m2 da limpeza de 900 m2 é seguramente superior ao preço por m2 da limpeza de 2 ou 3 mil hectares.
- 115.000 ha de floresta, vidas perdidas e todo o dinheiro gasto em combustíveis, aviões, indemnizações, etc, valem muito mais que 33 milhões de contos.

Publicado por: Vítor às agosto 23, 2005 11:42 AM

E ainda não percebi uma coisa:

O que acham que deve ser feito? Deixar arder? Não limpar, não ordenar, não investir?

Por acaso são proprietários florestais?

Publicado por: Vítor às agosto 23, 2005 11:45 AM

Concordo no geral excepto isto:

"Quanto à necessidade de limpeza da caruma de duas em duas semanas, desculpe que lhe diga, mas não passa de um disparate. A caruma pode ser limpa uma vez por ano ou de dois em dois anos. Não é a caruma que imprime violência aos fogos."

Eu quando falo de duas em duas semanas sei do que falo: experiência própria a limpar . Poderá agora discurtir-se a sua importância para o fogo mas uma camada homogénea seca e com muito material é inegável e isto numa área não exclusiva de pinheiros.

Publicado por: lucklucky às agosto 23, 2005 11:48 AM

É evidente que se afinal o que está nos terrenos só interessa aos proprietários deve-se deixar arder.

Agora também temos de perguntar se a distinção faz-se entre os terrenos e as habitações: um terreno pode arder porque alguém fez um churrasco ou atirou uma beata não necessáriamente um proprietário, as habitações ardem quase sempre por incúria dos habitantes

Publicado por: lucklucky às agosto 23, 2005 12:08 PM

lucklucky às agosto 23, 2005 11:48 AM

Julgo que já aqui falámos disto. E também já disse que passei largos anos a fazer, de dois em dois anos, essas limpezas. Mas é um pormenor que não vou aqui discutir. Cada um ficará com a sua experiência.
A não ser que surja um "árbitro" competente - especialista em Silvicultura de preferência.

Publicado por: Vítor às agosto 23, 2005 12:12 PM

Vítor: você é um mãos largas. Chez nous, 3 ha (30.000m2) de pinhal são 50 contos por ano. E até 5 ou 6 anos atrás não era nada, porque havia um velhote que roçava e enfardava o mato e levava para o gado dele.
É claro que há o efeito das economias de escala.

Publicado por: Joana às agosto 23, 2005 12:12 PM

Está quase a convencer-me a não ripostar aos seus comentários.
Mas a este não resisto:
"É evidente que se afinal o que está nos terrenos só interessa aos proprietários deve-se deixar arder."
Que raio de evidência é essa. Isso só seria evidência se o fogo fosse mais inteligente que os proprietários e queimasse apenas as propriedades dos desleixados.
Ainda não chegámos aí...


Publicado por: Vítor às agosto 23, 2005 12:15 PM

Joana às agosto 23, 2005 12:12 PM

Isso: discutam o acessório.

Mandei limpar uma área que estava abandonada há dez anos, e que fica numa zona urbanizada onde há pouca oferta de mão-de-obra - é o mercado a funcionar...
Se a Joana fizer mais barato, eu pago a deslocação :)

Publicado por: Vítor às agosto 23, 2005 12:25 PM

Vítor, concordo consigo, até por simples contas de merceeiro se vê que era vantajoso limpar a floresta.

O problema, como a Joana ilustra, é que aqueles velhotes que limpavam por interesse próprio a floresta estão a desaparecer; e a sua actividade não é retomada por mais novos. O que é absurdo: gado alimentado dessa maneira vale mais do que gado alimentado a rações duvidosas - e o mercado (ou seja todos nós) devia valorizar isso.

Publicado por: Renato às agosto 23, 2005 12:31 PM

Também acho que há uma coisa terrivelmente gritante nisto tudo: a ausência de trabalho cumunitário. E isso é sobretudo válido porque parece que somos suficientemente ricos para exigir taxas de salário relativamente elevadas, mas somos insuficientemente pobres para suportar esses custos salariais...

Noutros países as pessoas trabalham para a colectividade; se também fizessemos isso, estaríamos bem melhor.

Publicado por: Renato às agosto 23, 2005 12:36 PM

(...) mas somos insuficientemente RICOS para suportar esses custos salariais...

Publicado por: Renato às agosto 23, 2005 12:38 PM

Mas claro que isto tudo é uma fantasia... Há um ambiente geral de guerra civil, que se manifesta nesses desleixos, nas infindas licheiras que por aí grassam, pela violência ao volante, por tudo e mais alguma coisa.

Ainda há bocado saí para ir beber um café e uma senhora urbana, jovem, com um filho pequeno, jogou dois papéis amachucados para o passeio. Ela pensará que temos contratos com marcianos para nos limpar o chão e tudo o mais?

Publicado por: Renato às agosto 23, 2005 12:41 PM

Ainda há alguns negócios possíveis um deles é dar direitos de caça em troca da limpeza, embora a limpeza espante a caça :)...

Aí se prova que a "limpeza" não evita os fogos.

Continuo a dizer que corta fogos extensos em vez de "limpezas gerais" e apenas limpezas ao pé de povoações são a única solução.

Publicado por: lucklucky às agosto 23, 2005 12:43 PM

"O que é absurdo: gado alimentado dessa maneira vale mais do que gado alimentado a rações duvidosas - e o mercado (ou seja todos nós) devia valorizar isso."

Renato, que absurdo: o mato não é para os animais comerem, o mato é para fazer a "cama" desses animais. Nota-se que é da cidade. Se fosse provinciano como eu não dizia disparates desses.
Não tenho a certeza, mas parece-me que os gajos da cidade de bruxelas só inventam regulamentos que caminham para a proibição de ter animais para consumo em casa, a não ser num curral em inox com wc para o porco, outro para a galinha, etc... mato a servir de cama é que não!

Publicado por: mr às agosto 23, 2005 12:55 PM

Eu, que sou um português desleixado, ía ficando sem casa este fim de semana por causa de um incêndio que, quase milagrosamente, mudou de sentido ao chegar ao limite do meu terreno (0,5ha). O referido terreno está cheio de mato e de árvores meias mortas. Depois deste susto vou mandar limpar tudo, sem vir a ter a certeza de não ficar sem casa num próximo fogo, porque o vizinho do lado não vai fazer nada...

Publicado por: Albatroz às agosto 23, 2005 01:42 PM

Luís Lavoura sugeriu a limpeza das matas com rebanhos de cabras. Palavra que acho uma ideia luminosa. Houvesse pastores ...

Publicado por: asdrubal às agosto 23, 2005 01:48 PM

houvesse cabras, não é preciso pastores. Claro que é mais uma bouttade...

Publicado por: lucklucky às agosto 23, 2005 02:06 PM

O arrazoado de ideias vai dando razão ao título deste post...

Publicado por: Vítor às agosto 23, 2005 02:25 PM

Primeiro explorava um desgraçado de um velho e agora é explora um trabalhador rural

Publicado por: Revoltado às agosto 23, 2005 02:32 PM

Albatroz às agosto 23, 2005 01:42 PM:
Você ainda não tinha limpo o seu terreno? Então você anda a ler este blog, posts e comentários, e julgava que o pessoal estava a gozar?

asdrubal às agosto 23, 2005 01:48 PM:
Cabras continua a haver. Agora são urbanas, estão nos bares de alterne e à noite.

Publicado por: David às agosto 23, 2005 02:39 PM

E agora não são pastores, são apoderados.

Publicado por: David às agosto 23, 2005 02:43 PM

Interlúdio espero que ninguém fique chateado:

Petição para Taiwan entrar na ONU

http://www.gopetition.com/online/6889.html

Publicado por: lucklucky às agosto 23, 2005 03:12 PM

Bem escrito.

Publicado por: Gustavo às agosto 23, 2005 04:22 PM

Publicado por: Revoltado às agosto 23, 2005 02:32 PM

Primeiro explorava um desgraçado de um velho e agora é explora um trabalhador rural

As pessoas que se queixam do desemprego devem ser mesmo estúpidas. Gostam de ser exploradas em vez de gozarem a bela liberdade do dolce farniente que acompanha a falta de trabalho.

Publicado por: Pedro Oliveira às agosto 23, 2005 04:24 PM

Se Taiwan entrar na ONU, a China invade a ONU.

Publicado por: Gustavo às agosto 23, 2005 04:27 PM

Se Taiwan entrar na ONU, a China invade a ONU.

Publicado por: Gustavo às agosto 23, 2005 04:27 PM

Esclarecimento:
A Fábula dos Porcos Assados ocorreu na Bairrada.

Publicado por: Senaqueribe às agosto 23, 2005 04:30 PM

"O que acham que deve ser feito? Deixar arder? Não limpar, não ordenar, não investir?"

O que deve ser feito? É simples, basta tomar algumas medidas infalíveis, à altura do país e dos governantes que temos:
1 - Distribuir telemóveis aos pastores (algum governante iluminado poderá lembrar-se disto...).
2 - Organizar procissões implorando chuva.
3 - Deixar chover (cuidado com as inundações...).
4 - Comprar mais submarinos, em vez de material de combate aos incêndios.

Publicado por: Senaqueribe às agosto 23, 2005 04:52 PM

De facto o Sócrates diz sempre as mesmas coisas, com o mesmo tom de voz e os mesmos gestos. Parece um daqueles bonecos que os cigano vendem nas feiras

Publicado por: Rui Sá às agosto 23, 2005 05:36 PM

Senaqueribe às agosto 23, 2005 04:52 PM:
Aqui há anos havia um anúncio de telemóveis com um pastor. Mas será que os pastores não têm já telemóveis? Então não há mais telemóveis que pessoas?

Publicado por: Rui Sá às agosto 23, 2005 05:41 PM

Ideias, todos temos muitas. Implementar as ideias é que não conseguimos: a uns falta competência, a outros vontade e quase todos têm sempre algo de muito negativo a apontar às ideias dos outros.

Publicado por: Joana às agosto 23, 2005 06:27 PM

Por acaso não acho que Portugal tenha muitas ideias. Nos últimos 20 anos foi: Entramos na CEE e está tudo resolvido, não precisamos de pensar, escolher decidir com consequências, Bruxelas decide por nós. "Nós até somos o bom aluno da Europa" disse um ministro ou secretário de estado...

Depois do seguidismo Europeu talvez necessário no primeiro mandato de Cavaco e espúrio no segundo para a anestesia das vacas gordas e dialogantes de Guterres o País foi um deserto. Só agora as coisas estão a mudar.

Publicado por: lucklucky às agosto 23, 2005 08:12 PM

Mil vivas ao camarada Jerónimo de Sousa que vai imolar-se no fogo das presidenciais para dar a vitória ao companheiro Soares.

É só incêndios!

Publicado por: carlos alberto às agosto 23, 2005 09:59 PM

Este país está no mato ... a arder

Publicado por: Bsotto às agosto 23, 2005 10:33 PM

Este post é o retrato do país. Só ideias vazias, para TV ver.

Publicado por: VSousa às setembro 5, 2005 02:59 PM

Interessante

Publicado por: Nurcia às setembro 6, 2005 07:50 PM

Floresta? Ideias?

Publicado por: Gustavo às setembro 9, 2005 01:38 AM

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