« Uma Floresta de Ideias | Entrada | Aproveitamentos e Retenções »

agosto 23, 2005

Atrás da Cortina das Chamas

Os incêndios têm as suas vantagens. Já Heraclito, o especialista em fogos clássicos, afirmara que o fogo é a absoluta dissolução do que persiste – o desaparecer de outros, mas também de si mesmo. Com os fogos pós-modernos, Sócrates desapareceu e ninguém deu por falta dele, exceptuando uma oposição sem ideias e alguma comunicação carente de notícias políticas relacionadas como outros elementos sem ser o fogo. Mesmo as recentes transmissões televisivas de vídeo-clips da série Sócrates.0x.mpg mostram apenas um mundo virtual, onde o toon que protagoniza Sócrates afivela, em todas as ocasiões, expressão facial idêntica, idêntica linguagem gestual, e declama exactamente, textualmente as mesmas banalidades, repetidas até à exaustão, sempre iguais e da mesma maneira.

Mas o fogo redentor não dissolveu apenas Sócrates. Está a interpor as labaredas e a fumarada entre nós e a progressiva degradação económica do país. Deixámos de a ver. Só os que vão sendo directamente atingidos por ela a sentem. Nós, os outros, só vemos o fogo.

Todavia, para além do país físico, o país económico e social arde com chama sem se ver, inexoravelmente. Ninguém consegue disponibilizar meios de combate a esta chama que nos consome.

O défice orçamental até Julho aumentou 5,1% em termos homólogos. A despesa corrente aumentou em 5,1%, mas como a despesa de capital (investimento público) caiu em 4,3%, no seu conjunto a despesa aumentou 4,3%. O aumento da dívida pública tem levado ao aumento dos encargos com a dívida pública, que cresceram 13% em termos homólogos. E o que é grave é que este aumento será progressivo e poderá mesmo tornar-se dramático se as taxas de juro subirem. Do lado da receita houve um crescimento de 4,1%, muito superior ao aumento do PIB nominal, o que indica que os contribuintes suportam um peso cada vez maior para sustentar uma despesa pública que continua incontrolável.

O desemprego no 2º trimestre situou-se em 7,2% (6,3%, no período homólogo de 2004) recuando ligeiramente (era 7,5% no 1º trimestre de 2005), mas esse recuo é um fenómeno sazonal. No final do 3º trimestre atingirá, provavelmente, os 7,6% ou 7,7%. Estes valores escondem uma realidade muito mais vasta, porquanto o desemprego na Construção Civil tem aumentado a um ritmo superior ao que os indicadores registam (perdeu 75 mil postos de trabalho), pois muitos imigrantes no desemprego (nomeadamente os do Leste) optam por regressar aos seus países. Ora este desemprego, mesmo sem estar registado, também influencia as contas públicas, porque representa menos IRS e contribuições para a Segurança Social.

O desemprego na Construção Civil era um fenómeno expectável, mesmo em situação normal. O peso da Construção Civil era excessivo na nossa economia. Eu já aqui escrevera, por diversas vezes, que as promessas de Sócrates de criação de 150 mil empregos (alguém se lembra disso?) teriam que ter em conta a diminuição dos empregos na Construção Civil e nos sectores exportadores, de baixa qualificação. Portanto, o que deveria estar a acontecer seria um redireccionamento do emprego para outros sectores de actividade. Mas nada disso acontece. O Governo apenas promete investimentos públicos, a muito longo prazo, chorudos, mas de retorno mais que duvidoso.

O défice comercial português, que se havia agravado em 19,2% em 2004, agravou-se 15,9% nos primeiros 5 meses deste ano. A taxa de cobertura das importações pelas exportações que subira de 61% (2001) para 64,6% (2002) e 67,3% (2003), caiu em 2004 (64,5%) e é agora (Janeiro a Maio de 2005) de 63,5%. As exportações aumentam, mas menos que as importações, sustentadas por uma política (ou ausência de política) de rendimentos que nos faz viver acima das nossas posses.

Estes resultados são coincidentes com os Inquéritos de Confiança que mostram que a confiança dos agentes económicos está no nível mais baixo de há anos a esta parte. O leit-motiv da campanha de Sócrates foi justamente a afirmação que havia sido o “discurso da tanga” que tinha paralisado a economia, ao criar a desconfiança nos agentes económicos. Sócrates afirmara em campanha “eu quero um bom governo, um governo que restaure a confiança dos portugueses”. Ele ia restaurar essa confiança – a confiança está cada vez mais baixa.

Este fogo é muito mais grave que as labaredas que vemos todas as noites no ecrã televisivo. É um fogo que está a liquidar o país. Ambos têm, todavia, uma coisa em comum: resultam do nosso laxismo, da nossa imprevidência, da cobardia das nossas instituições, incompetentes e reféns dos mais variados interesses.

Publicado por Joana às agosto 23, 2005 10:39 PM

Trackback pings

TrackBack URL para esta entrada:
http://semiramis.weblog.com.pt/privado/trac.cgi/101366

Comentários

Joana com preocupações sobre o desemprego!
Era caso para nos congratularmos com esta preocupação de carácter social não se desse o caso de Liberalismo, nos dias de hoje, não casar com Humanismo.

ps:
"a confiança dos agentes económicos" um sofisma de inquérito onde só entram os CEO e os CFO para além de 1/2 dúzia de pretensos lideres de opinião e onde não são achados Trabalhadores por conta de outrém; estes não têm nenhuma confiança, nem neste governo nem nos que Joana nos propõe.

Publicado por: zippiz às agosto 23, 2005 11:05 PM

"Este fogo é muito mais grave que as labaredas que vemos todas as noites no ecrã televisivo. É um fogo que está a liquidar o país. Ambos têm, todavia, uma coisa em comum: resultam do nosso laxismo, da nossa imprevidência, da cobardia das nossas instituições, incompetentes e reféns dos mais variados interesses."

A Joana esqueceu-se de referir a causa mais grave: a nossa cobardia que nos impede de reagir à bruta à situação que nos vai sendo criada. Um bom motim ajudaria a criar condições para que o país voltasse a ser governado por quem quiser preocupar-se com o bem comum.

Publicado por: Albatroz às agosto 23, 2005 11:17 PM

Pois é Joana: quando Sócrates prometeu a criação de 150.000 novos(?) empregos estava apensar em obras de regime.
A malta não quer os tais "elefantes", por isso é melhor esquecer-mos a promessa.

Agora a sério:
"Portanto, o que deveria estar a acontecer seria um redireccionamento do emprego para outros sectores de actividade..."
Como e em que sectores?

Já nos entendemos quanto ao facto de não dever ser o Estado a criar emprego. Já chegam os 700 mil.
Chegámos então à conclusão que deve ser o Governo a apontar um rumo, criar condições (que expressão mais vaga) e lassar a corda aos empresários?
Ou basta lassar a corda (esta então é horrível), criar condições, e os empresários lá escolherão o rumo?

Publicado por: Joana às agosto 23, 2005 11:24 PM

Albatroz às agosto 23, 2005 11:17 PM

Desculpe mas acabei de ter uma regressão (não linear) e entrei novamente na fase das perguntas irónicas:

Depois desse "motim" como vamos nós escolher os que se preocupam com o bem comum? Trazem algum autocolante na testa? Ou V. já elaborou alguma lista?

Publicado por: Vítor às agosto 23, 2005 11:28 PM

Sócrates mentiu sobre tudo o que afirmou e continua a afirmar. E mente com todo o descaramento.

Publicado por: V Forte às agosto 23, 2005 11:29 PM

Joana às agosto 23, 2005 11:24 PM

O comentário supra é meu. Devo ter, acidentalmente, escrito o nome da Joana.
É o que se chama um "acto falhado".

Fica o meu pedido de desculpa à Joana.

Publicado por: Vítor às agosto 23, 2005 11:30 PM

V Forte às agosto 23, 2005 11:29 PM

V. dá-lhe mesmo Forte.
Ainda não me apercebi que o homem seja tão mentiroso como diz. Também ão estou habituado a praticar prazos tão apertados, na verificação do cumprimento de promessas.
Talvez o Eng.º Sócrates não seja assim tão mentiroso como o V Forte alega.
Ou então, sou eu que quero andar enganado mais uns tempos...

Publicado por: Vítor às agosto 23, 2005 11:35 PM

Nem o Sócrates prometeu 150 mil novos empregos no sector público (seria através da dinamização do sector privado) nem o post sugere que esse redireccionamento fosse pelo sector público. Parece-me evidente.

Publicado por: V Forte às agosto 23, 2005 11:36 PM

V Forte às agosto 23, 2005 11:36 PM

É tão evidente que quase me podia dispensar de escrever "Agora a sério:"

Publicado por: Vítor às agosto 23, 2005 11:38 PM

Publicado por: Vítor às agosto 23, 2005 11:28 PM

Mas é muito claro.
Após o motim, os amotinados que se ganharem por um passe de mágica passam a detentores da verdade, tomam o poder.
Parece-me que tem sido assim em todos os tempos da História.

Publicado por: carlos alberto às agosto 23, 2005 11:43 PM

Eu ainda não sei se o homem é tão mentiroso assim. Só sei que tem um nariz proeminente e grande. E que cada vez me parece maior, mas talvez seja só impressão minha...

Por outro lado, já toda a gente deveria saber que a mentira é meio caminho para a vitória em democracia. Difícil é ser meio caminho para a reeleição.

Acho que também já se percebeu que a maioria das pessoas não vota a favor de nada em concreto mas sim contra o poder (votando na alternativa mais forte) ou pela manutenção do poder. O que depois sai dali, logo se verá...

Logo, quem (se) enganou ?

Publicado por: J P Castro às agosto 24, 2005 01:03 AM

1 - O comentário supra é meu. Devo ter, acidentalmente, escrito o nome da Joana.
É o que se chama um "acto falhado".
2 - Ou então, sou eu que quero andar enganado mais uns tempos...

Ó Victor desculpe, mas, ehehehehehe !!

Publicado por: asdrubal às agosto 24, 2005 02:05 AM

Gostei dessa do «Sócrates.0x.mpg».
Eu também já vi esses filmes, antes do «rename».

Um chamava-se «Portas.xxx.avi»
outro «Santana.zip» (este está zipado porque tem lá dentro uma colecção inteira de filmes)

Há alguns mais antigos, mas estão em VHS.

Publicado por: (M) às agosto 24, 2005 08:24 AM

Vítor às agosto 23, 2005 11:28 PM

Se o motim não for muito pacífico os potenciais corruptos da geração seguinte poderão considerar que a relação custo-benefício não lhes será muito vantajosa e preferirão talvez manter-se à distância. Mas é natural que só um sistema que mandasse fuzilar os políticos que não cumprissem as suas promessas nos permitisse ou livrar-nos dos aldrabões ou, pelo menos, termos o prazer de os ver ser fuzilados... Mas é claro, só os povos que se sabem fazer respeitar são respeitados. Nós ainda lá não chegámos. Os nossos heróis chamam-se Valentim Loureiro, Pedro Caldeira, Carlos Cruz, etc.

Publicado por: Albatroz às agosto 24, 2005 09:56 AM

Publicado por: Albatroz às agosto 23, 2005 11:17 PM

Um bom motim ajudaria a criar condições para que o país voltasse a ser governado por quem quiser preocupar-se com o bem comum.

Viu-se bem os resultados do último motim (o bloqueio da ponte): os 'belos' anos de diálogo guterrista. O problema é que nessa época ainda existia dinheiro para comprar paz social. Hoje não. De qualquer modo, existe sempre muita confusão entre bem comum e as minhas causas de estimação. A bem dizer, é a mesma coisa, o que torna o tal bem comum num conceito muito subjectivo.

Publicado por: Pedro Oliveira às agosto 24, 2005 10:29 AM

Pedro Oliveira às agosto 24, 2005 10:29 AM

É verdade que é dificil definir "bem comum", mas não é impossível. Se uma medida beneficia toda a gente - ainda que em graus diferentes - estamos perante uma medida que defende o bem comum. Se essa medida beneficia uns e prejudica outros (e não pode ser considerado prejuizo aquilo que elimina um privilégio), então não estamos perante a defesa do bem comum.

Publicado por: Albatroz às agosto 24, 2005 11:50 AM

Não é possível beneficiar toda a gente. O melhor é beneficiar toda a sociedade, no máximo que se puder, e corrigir o excesso de desigualdades que aparecerem, mas com o cuidado em evitar que essas correcções não prejudiquem demasiado o benefíco global

Publicado por: Hector às agosto 24, 2005 02:38 PM

Dizer que se pode beneficiar todos é irrealista. Alguns serã sempre prejudicados e não necessariamente os mais pobres

Publicado por: Hector às agosto 24, 2005 02:51 PM

E definir o que é um privilégio não é evidente. Um contínuo que está há 30 anos sem fazer praticamente nada, não é um privilegiado?
Quantos privilegiados destes e semelhantes a estes não haverá?

Publicado por: Hector às agosto 24, 2005 02:54 PM

Sócrates é mais repetitivo que o Santana ou o Portas. Você nota menos porque a comunicação social embirra com estes e passava a vida a fazer troça deles.

Publicado por: (P) às agosto 24, 2005 03:04 PM

Se Santana permanecer calado, o espalhanço de Sócrates vai ser tal que, dentro de meses, até o Santana (???) vai ser considerado preferível.

Publicado por: (P) às agosto 24, 2005 03:06 PM

Publicado por: Albatroz às agosto 24, 2005 11:50 AM

Se uma medida beneficia toda a gente - ainda que em graus diferentes - estamos perante uma medida que defende o bem comum.

Essa dos graus é boa... Essa tua escala é absoluta, ou também existem graus negativos nela?

E quem é que decide do benefício da medida? Os beneficiantes, ou os beneficiados?

Por essa ordem de ideias, as medidas, quanto mais inconsequêntes, mais atingem o bem comum: sendo inconsequêntes, não prejudicam ninguém.

Publicado por: Pedro Oliveira às agosto 24, 2005 03:16 PM

Ora vejamos; o que é que se entende por beneficiar alguém? É contribuir para que seja mais feliz?
Se sim, então, vamos a casos concretos:
- Beneficiar um ladrão é deixá-lo roubar à vontade. Ele ficará feliz.
- Beneficiar um religioso é deixá-lo rezar sem o perturbar.
- Beneficiar um assassino é deixá-lo matar quem ele quizer.
- Beneficiar um pescador é dar-lhe uma cana e um anzol.
- Beneficiar um coleccionador de selos é oferecer-lhe um álbum.
E assim sucessivamente!... Ficarão todos mais felizes!...
Vamos então beneficiar todos?
Todos mesmo? Ou ficamos apenas por uma teoria abstracta só aplicável noutro planeta?

Publicado por: Senaqueribe às agosto 24, 2005 03:46 PM

(P): Terá que permanecer calado bastante tempo. Há já uma dúzia mais potáveis que o Sócrates, e o Santana está lá longe no fim da fila

Publicado por: vitapis às agosto 24, 2005 03:47 PM

asdrubal às agosto 24, 2005 02:05 AM

Esteja à vontade:
Sempre que quiser revelar as partes pudibundas da sua personalidade, não precisa de pedir desculpa...

Publicado por: Vítor às agosto 24, 2005 05:37 PM

Vítor em Agosto 24, 2005 05:37 PM,

Não tive a mais pequena ou remota intenção de o ofender. Simplesmente achei graça ao sucedido, uma e outra vez. Por mera cortesia, fico-me por aqui.

Publicado por: asdrubal às agosto 24, 2005 06:13 PM

O bem comum é o bem geral, independente de haver ou não prejudicados, desde que não se infrinja nenhuma lei para o conseguir. Por exemplo, roubar aos ricos não aumenta o bem estar geral (embora possa aumentar, transitoriamente, o bem estar da maioria).

Publicado por: soromenho às agosto 24, 2005 06:59 PM

Aliás, roubar aos ricos leva a que os ricos ou mudem de país (se puderem) ou deixarem de se interessar pela actividade económica, o que seria um desastre para o bem geral

Publicado por: soromenho às agosto 24, 2005 07:07 PM

que confusão que vai nestas cabeças acerca do "bem comum" !
e ainda dizem que acabaram as clases sociais, respectivas lutas e previlégios...é só ler o que nos brinda : Publicado por: Hector às agosto 24, 2005 02:54 PM
...é uma raridade !

Publicado por: zippiz às agosto 24, 2005 10:10 PM

classes

Publicado por: zippiz às agosto 24, 2005 10:11 PM

Os fogos e as férias têm feito, de facto, esquecer a desgraça em que estamos

Publicado por: Surpreso às agosto 25, 2005 12:06 AM

Então um tipo que está há 30 anos sem fazer nada não é um privilegiado? O ser contínuo confere-lhe uma categoria diferente? Porquê?
Marcaram-lhe um I na testa de inimputável?
Os tipos da Classe A são bons por serem da Classe A e os da Classe B são sempre maus, por serem da Classe B?
Quem julga o que é bom e mau?

Publicado por: Surpreso às agosto 25, 2005 12:15 AM

Não há nada como exemplificar:

1. Comprar meios aéreos para combater os incêndios é uma medida que promove o bem comum.
2. Construir estádios de futebol já não promoverá o bem comum se isso for retirar meios que, de outra forma, seriam utilizados, por exemplo, na construção de escolas e hospitais.
3. Baixar os impostos poderia promover o bem comum, salvo se a falta de receitas obrigasse o Estado a reduzir as suas despesas na área social.
4. Substituir a administração da CGD antes do fim do respectivo mandato decididamente não promove o bem comum.
et., etc., etc..

Publicado por: Albatroz às agosto 25, 2005 01:24 AM

«Nos últimos dois anos, meio milhar de empresas espanholas abandonou o nosso país. Eis a nova ameaça espanhola».
(Sarsfield Cabral no DN)

Vivemos portanto uma coisa muito próxima da trági-comédia :
O Sol, o Céu Azul ... pois.

Publicado por: asdrubal às agosto 25, 2005 02:18 AM

1. a)É uma medida que provavelmente promove o bem (patrimonial) dos propietários florestais; quanto ao meu tenho mais dúvidas - aliás, assim a priori julgo que preferiria que não gastassem tanto dinheiro dos meus impostos no combate aos incêndios florestais(ou a subsidiar madeira queimada) e que responsabilizassem os proprietários pelo que é deles b)Se for mais barato e rentável alugar esses meios, porque favorece o bem comum comprá-los? (há outras variações)

2.Boa aplicação do conceito de custo de oportunidade. Só se lembrou dele aqui? Mas conviria que as escolas e os hospitais fossem mais necessários que os estádios, caso contrário seria meaningless.

3.Porquê? As despesas do estado na área social são sinónimo de bem comum? Quanto maior o volume de despesas do estado na área social, mais abençoada é uma sociedade?

4.E se a administração for má? E se a que vier for melhor?

Não sei o que é o bem comum - a atender pelo exemplo do albatroz, será um misto de socialismo e de populismo económico. Nem percebo bem o que possa ser o bem comum interpretado por alguns - Rousseau não vive neste coração.

E se for possível arranjar as coisas para que se maximize a possibilide de cada um realizar o que entende como o seu próprio bem, torna-se um bocado irrelevante se o bem comum dele é mais bem que o meu.

Publicado por: ssssss às agosto 25, 2005 08:22 AM

Definição de BEM COMUM: é tudo aquilo que me beneficia, independentemente de também beneficiar os outros.
Ou, como diz o mecânico quando eu levo o carro à oficina: - É preciso promover a AUTO-estima!
Pois...

Publicado por: Senaqueribe às agosto 25, 2005 10:28 AM

Alguns dos comentários que, ao longo dos tempos, aqui são colocados, parecem partir do pressuposto de que TODOS os membros da comunidade estão aptos a funcionar num quadro altamente competitivo. Porque são física e intelectualmente válidos, porque adquiriram os conhecimentos necessários, porque todos beneficiam do mesmo quadro de oportunidades, etc. Nesse pressuposto quem não se safa é porque não quer. Logo o bem comum é apenas o somatório dos bens de cada um, e a luta de cada um pelo bem próprio gera o bem comum. Só que as coisas não são assim. Há, na comunidade, pessoas não competitivas porque inválidas, porque intelectualmente ineptas, porque não possuem as competências desejadas pelo mercado, ou porque as suas competências existem em excesso no mercado. Na maior parte dos casos não há "culpa" em não se ser competitivo. A natureza e o mercado é que geraram essa não competitividade. Perante isto há duas opções:

1. Deixar andar e permitir que os não competitivos soçobrem;
2. Criar condições para que os não competitivos sejam úteis à comunidade, e remunerá-los por isso, ou prestar assistência - temporária ou permanente, segundo os casos - aos que não podem ser produtivos ou úteis.

Só pode haver bem comum no segundo caso. É claro que esta segunda opção não é condição suficiente para que haja bem comum, mas é certamente condição necessária. É igualmente claro que a opção pelo bem comum não é necessariamente uma questão da economia, mas é certamente uma questão ética. De resto estou convencido que só afirma não saber o que é o bem comum quem tem vantagem (ideológica, entenda-se) em fingir que não chega lá...

Publicado por: Albatroz às agosto 25, 2005 10:43 AM

Mas é por causa da existência de pessoas que, por diversas razões, não cnseguem abariar o sustento que há subsídios de desemprego e outras transferências sociais.
Julgo que o nosso problema não são as transferências sociais, mas o custo demasiado elevado do funcionamento do Estado, muito acima dos serviços que presta.

Publicado por: fbmatos às agosto 25, 2005 12:28 PM

"estou convencido que só afirma não saber o que é o bem comum quem tem vantagem".
Há outra maneira de ver isso: Em nome do bem comum têm-se criado situações que tornaram a sociedade mais pobre no seu todo. É isso que essas pessoas querem evitar

Publicado por: alberto às agosto 25, 2005 02:27 PM

Não me interessa criar sociedades mais "iguais" a troco de elas serem mais pobres e dos seus pobres, apesar de mais iguais, serem mais pobres que os pobres dos países ricos.

Publicado por: alberto às agosto 25, 2005 02:29 PM

Cada vez que há incêndios há estas discussões todas, grandes tiradas, etc. Acaba a época, nunca mais ninguém se lembra disso

Publicado por: Sa Chico às agosto 25, 2005 06:55 PM

"Não me interessa criar sociedades mais "iguais" a troco de elas serem mais pobres"

O que se pretende é criar sociedades mais iguais, à custa de alguns ricos serem menos ricos. É uma melhor distribuição de riqueza e a eliminação da exclusão social. Mas admito que haja quem não lhe interesse que isto se faça...

Publicado por: Albatroz às agosto 25, 2005 09:12 PM

2. Criar condições para que os não competitivos sejam úteis à comunidade, e remunerá-los por isso, ou prestar assistência - temporária ou permanente, segundo os casos - aos que não podem ser produtivos ou úteis.

Não poderia estar mais de acordo. É decente. E não acredito que o sentido de decência necessite da vontade esclarecida de alguns para se impor. Ideologias.

Publicado por: ssssss às agosto 26, 2005 12:28 AM

2. Criar condições para que os não competitivos sejam úteis à comunidade, e remunerá-los por isso, ou prestar assistência - temporária ou permanente, segundo os casos - aos que não podem ser produtivos ou úteis.

Não poderia estar mais de acordo. É decente. E não acredito que o sentido de decência necessite da vontade esclarecida de alguns para se impor. Ideologias.

Publicado por: ssssss às agosto 26, 2005 12:28 AM

Publicado por: Albatroz às agosto 25, 2005 09:12 PM

O que se pretende é criar sociedades mais iguais, à custa de alguns ricos serem menos ricos. É uma melhor distribuição de riqueza e a eliminação da exclusão social. Mas admito que haja quem não lhe interesse que isto se faça...

Como qualquer estudante - enfim, um estudante atento, dada a qualidade do sistema educativo - sabe, qualquer métrica que seja adoptada para medir qualidades humanas, sejam elas altura, peso, inteligência, riqueza, etc, etc se utilizada para elaborar um gráfico dá sempre uma curva com o mesmo aspecto. O melhor que se pode fazer, é puxar a moda mais para a direita (pelo menos é o que parece desejável, no caso da riqueza). Mas isso também fará com que o máximo da escala se situe mais à direita. Nem digo o que acontece se quisermos puxar o máximo da escala mais para a esquerda...

Isto para sublinhar que a igualdade, que a esquerda tanto gosta de defender é um sonho vazio. Uma sociedade egualitária seria muito mais injusta que a desigualdade actual. E seria também muito mais pobre: se somos todos iguais, ou seja, se tanto faz, então para quê o esforço?

Publicado por: Pedro Oliveira às agosto 26, 2005 01:46 PM

As novas regras de aposentação dos funcionários públicos vão permitir ao Estado uma poupança de 200 milhões de euros nos próximos quatro anos, ...

Ainda pensei que se tratasse de 1.000 milhões de euros. Pfff.

Publicado por: asdrubal às agosto 26, 2005 02:16 PM

Corresponde a menos de 10% da renda anual das SCUTs (600 a 700 milhões €/ano)

Publicado por: David às agosto 26, 2005 03:19 PM

David: Você não fale alto nisso. Senão enfurece os 500 mil funcionários públicos a quem estas medidas prejudica.

Publicado por: Lopes às agosto 26, 2005 03:25 PM

Lopes às agosto 26, 2005 03:25 PM

Eu sou Funcionário Público e não estou nada enfurecido.
Até concordo com as medidas adoptadas.
Julgo que é uma medida louvável deste Governo.

O único senão, pelo que li, é que será necessário preencher, cumulativamente, os requisitos de idade e de carreira contributiva, para ter direito à pensão máxima, o que não acontecerá no sector privado. Mas como às vezes os documentos do sindicato trazem umas "gralhas", vou informar-me melhor.

Publicado por: Vítor às agosto 26, 2005 03:34 PM

O aspecto «cumulativo» deve ser para negociar a prazo. Faltava saber quantos Governos se atreveram a mexer nos dinheiros da CGA para outros fins inadiáveis e se essas quantias foram atempadamente repostas. A mim, já tanto se me dá como se me deu. Os meus filhos, é daqui pra fóra e quanto mais depressa melhor.

Publicado por: asdrubal às agosto 26, 2005 04:34 PM

asdrubal às agosto 26, 2005 04:34 PM

É ou não uma medida justa esta da aproximação do regime de pensões da Função Pública ao regime da S. Social?
Deve-se ou não a este Governo?

Agora diz que são "só" 200 milhões de euros em 4 anos. Esqueceu-se de fazer as contas, mais avultadas dos próximos 10 anos, p. ex.º.
E especula dizendo que o "cumulativo" é para negociar a prazo.

É caso para dizer "se não é do cú é das calças"...

Publicado por: Vítor às agosto 26, 2005 04:56 PM

Publicado por: asdrubal às agosto 26, 2005 04:34 PM

Faltava saber quantos Governos se atreveram a mexer nos dinheiros da CGA para outros fins inadiáveis e se essas quantias foram atempadamente repostas.

O que é que interessa se os governos mexeram nos 'dinheiros da CGA'? Se a CGA estiver descapitalizada - e está, quase de certeza - o dinheiro necessário vem do oraçamento de estado. Ou tu és daqueles que pensam que o capital social das empresas está guardado no cofre da tesouraria (de um episódio dos gloriosos tempos dp PREC passado na Lousada)?

Publicado por: Pedro Oliveira às agosto 26, 2005 06:03 PM

Não pretendo que me responda, mas o Vítor tem uma "carreira contributiva" de quantos anos ?
Acha bem que um FP, que ganha o que ganha e que sempre ganhou o que ninguém ganha na privada, isto é, um pentelho acima de uma economia familiar de sobrevivência, vivendo como eu vivo há 27/28 anos de um só salário, com mulher e filhos, veja rectrospectiva e repentinamente alteradas as condições gerais outrora contractualizadas ? Alguém, alguma vez nos disse para gerirmos a nossa aposentação, à margem da CGA, como muito bem quiséssemos e entendessemos ? Deram-nos essa Liberdade fundamental ? O mínimo que agora se podia exigir do Estado é que reponha, para todos quantos assim o requeressem, todos os descontos efectuados até agora, e rua da Administração Pública. O PS é que ainda não se lembrou dessa, mas com jeito ...

Publicado por: asdrubal às agosto 26, 2005 06:28 PM

Era uma medida justa, mas se compararmos com os gastos desnecessários do Estado que ultrapassam em muito essas poupanças, é natural que os f.p. se sintam revoltados.

Publicado por: Sampaio às agosto 26, 2005 07:01 PM

Veja, Sampaio :

«As sete forças políticas, coligações e grupos de cidadãos independentes que concorrem às autárquicas de 9 de Outubro tencionam gastar mais de cem milhões de euros na campanha eleitoral». (C M, 26-08-2005)
.
Quere-se dizer, em 20 dias, "despacham" quatro anos de «poupança» com esta reforma da função pública. Vão mas é cardar a p. que os p.

Publicado por: asdrubal às agosto 26, 2005 07:10 PM

Perdão, vá lá, afinal são «só» dois anos.

Publicado por: asdrubal às agosto 26, 2005 07:11 PM

asdrubal às agosto 26, 2005 06:28 PM

Mas eu respondo-lhe com todo o gosto.
São 10 anos e meio de carreira contributiva.

Compreendo os seus argumentos, até porque os meus colegas de trabalho mos lembram diariamente.
Compreendo até a sua raiva.
Mas o dinheiro que V. descontou não está guardado numa gaveta algures na CGA. Já serviu para pagar as reformas dos sortudos que já se reformaram.
A reforma que V. vier a receber serei eu (espero) e outros a pagá-la. Ou V. prefere receber a sua reforma por inteiro e deixar para a geração seguinte a alteração das regras?
Eu, que entrei em 1995, ando para aqui a descontar sem saber o que me espera em 2034 (se lá chegar). Se calhar espera-me a falência da CGA (Pois se o nosso "patrão" não faz os descontos que fazem os outros patrões).

Já agora:
a minha esposa também trabalha e é daqueles trabalhadores por conta própria que não pode fugir com um cêntimo ao fisco. Ainda não temos casa (o dinheiro não chega) ainda não temos filhos (porque para a minha mulher não há licenças de maternidade e se deixar de trabalhar lá se vai o ganha-pão). Tivemos que fazer um seguro de saúde para ela (porque nem a merda de um médico de família conseguimos) e continuar a descontar o mesmo para a Segurança Social.

Mas isto é a vidinha de cada um que, no computo geral, importa pouco. O que importa é o panorama.
Mas V. terá, compreensivelmente, uma opinião diferente.

Publicado por: Vítor às agosto 26, 2005 10:01 PM

.

Publicado por: Anonymous às agosto 26, 2005 10:13 PM

Mas ela não tem direito à sua ADSE?
E se desconta para a SS, então tem direito ao SNS e à reforma. Não tem é subsídio de baixa.

Publicado por: soromenho às agosto 26, 2005 10:19 PM

Direito à ADSE?
Só se estivesse mais de um ano sem trabalhar (o orçamento familiar assemelhar-se-ia às contas públicas). E logo que reiniciasse a actividade teria que se inscrever na SS, fazer os descontos e lá se iria a ADSE.

Quanto ao resto: nem médico de família, nem baixa, nem subsídio de desemprego...

Publicado por: Vítor às agosto 26, 2005 10:47 PM

Sabe Vítor, o que me revolta mesmo, não são tanto as medidas ora aprovadas em Conselho de Governo. É a criminosa nulidade prospectiva que originou este estado de coisas e a insuportável inimputabilidade política dos responsáveis.
Há uns meses atrás, o Professor Medina Carreira - que há muitos e muitos anos não tem responsabilidades políticas - pegou num lápis fez meia dúzia de contas e escreveu o célebre texto do «Titanic». Percebia-se claramente que ia sobrar um Requiem. Aí está, e isto para a hipótese (ao que parece optimista) de não se lhe seguirem outros.
Rezemos pois o terço.

Publicado por: asdrubal às agosto 27, 2005 05:02 AM

asdrubal às agosto 27, 2005 05:02 AM

Plenamente de acordo consigo.
O mal está feito e os culpados são eternos "inimputáveis".
Agora arrepia-se caminho, passando por cima dos que menos culpa têm...

Publicado por: Vítor às agosto 27, 2005 05:36 PM

Ganda blogue, leoa Joana.

Pedro Oliveira às agosto 26, 2005 01:46 PM

"todos iguais, todos diferentes"

A máxima diversidade maximiza a probabilidade do maior número de encontros reproductivos, quer reais, quer virtuais, parece, e portanto a máxima expressão dos nossos genes para os sociobiologistas.


Yin-Kuo, não te preocupes muito com o futuro porque me parece que estamos a mudar de espaço, onde possivelmente se perdem as contas. Mas vale a pena continuar a usar a prudência aristotélica, dir-te-ia porque não quero ser eu a criar-te problemas, embora não esquecendo que Sócrates a poderia considerar perto da pusilanimidade, e teria, quem sabe, razão.

Publicado por: pyrenaica às setembro 4, 2005 04:56 PM

Eu diria que o discurso pessimista faz parte da manutenção do status quo.

Publicado por: pyrenaica às setembro 4, 2005 04:58 PM

Portanto o país vai continuar a arder. Só que com outro tipo de chama

Publicado por: Rocha às setembro 4, 2005 07:44 PM

Já passou a época

Publicado por: sisifo às setembro 14, 2005 01:44 AM

Comente




Recordar-me?

(pode usar HTML tags)