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agosto 17, 2005

Os Destroços do Catamarã

Quando escrevi o post de ontem, Individualismo e altruísmo, foi apenas com a singela intenção de mostrar que o individualismo e as doutrinas que defendem o primado do individual não significam, ao contrário daquilo que os servos e adoradores do Moloch pretendem fazer crer, a defesa do egoísmo despido de qualquer ética. Como escrevi então, “Individualismo, em economia e em política, não é sinónimo de egoísmo, nem se opõe ao altruísmo. Apenas se opõe ao colectivismo. O individualismo é perfeitamente compatível com o altruísmo”.

Também não pretendi denegrir os serviços públicos. Escrevi “Os meios públicos de salvamento não chegariam a tempo (o incêndio propagou-se com grande rapidez) ”, do que qualquer leitor, que não estivesse com a mente obnubilada pelo fideísmo estatal, deduziria que a rapidez da propagação do sinistro seria causa principal da falha dos meios públicos. É claro que ontem, eu ainda não sabia que «A primeira embarcação militar a chegar ao local foi uma lancha de intervenção rápida da Brigada Fiscal (BF). Num primeiro momento, os militares ainda tentaram apagar o fogo, mas recuaram ao verificar que a fibra do catamarã ardia de forma explosiva. Em vez disso, optaram por estabelecer um perímetro de segurança na zona e acompanharam de perto as operações de salvamento, feitas unicamente por embarcações particulares».

Convenhamos que é uma situação caricata: os meios de salvamento públicos ficarem a ver os meios dos voluntários privados a procederem ao resgate dos náufragos, porque «recuaram ao verificar que a fibra do catamarã ardia de forma explosiva … optaram por … acompanhar de perto as operações de salvamento». Mentes menos abertas que a minha poderiam deduzir comportamentos menos condizentes com o serviço público. Outras, mais pundonorosas, poderiam mesmo arguir aquela manobra contemplativa de cobardia. Eu não. Presumo que houve razões poderosas para a Brigada Fiscal ter tido aquele comportamento contemplativo. Além do que, é uma Brigada Fiscal, não é uma Brigada de Resgate de Náufragos de Catamarãs a Arder. A sua missão é zelar para que não haja contrabando, tráfico de droga, transporte de mercadorias sem guia de IVA, etc.. Certamente que os brigadistas estiveram diligentemente de binóculos a certificarem-se que os náufragos não transportavam mercadorias proibidas ou sem guia de transporte. E se o fizeram, cumpriram aquilo que o país esperava deles.

E não me esqueço de enaltecer a coragem dos bombeiros de Albufeira que acorreram ao naufrágio num semi-rígido. Infelizmente apenas posso congratular-me pela coragem, visto que com um semi-rígido não se puderam aproximar do fogo, porque senão teriam que regressar a nado, a menos que fossem resgatados pelos particulares que, no meio desta história bem portuguesa, parece terem sido os únicos a agir com rapidez, discernimento e eficiência. Não admira: para um dado objectivo, os privados conseguem sempre uma afectação de recursos mais eficiente. Vem nos manuais. Aconteceu em Albufeira.

Também não denegri as vistorias. Escrevi: «segundo testemunhos (embora nestas ocorrências tais testemunhos possam não ser fiáveis), os meios próprios de salvamento não funcionaram, apesar das inspecções estarem em dia». E escrevi isto, porque ponho sempre muitas dúvidas aos testemunhos que a comunicação social recolhe. Por duas razões: 1) a comunicação social escolhe normalmente os mais maldizentes, porque têm mais efeito sobre as audiências; 2) muitas pessoas, nestas situações, agem sem discernimento, acusando tudo e todos. É certo que tenho uma má imagem das capitanias e autoridades marítimas, pelo menos nesta zona do Algarve, e sempre ouvi contar delas histórias muito pouco abonatórias. Mas é uma zona problemática. No Verão há o turismo e no Inverno, com a pesca em retracção, muitos dedicam-se ao contrabando e o tráfico de droga. Portanto é difícil discernir o que é verdadeiro, do que é exagero e do que é falso.

Portanto, limitei-me a encarar a questão, factualmente e apenas pela positiva – realçando o comportamento humanitário dos privados que, anonimamente, sem pensar em recompensas pecuniárias ou medalhas, acorreram a salvar o próximo. E não foi uma história trágico-marítima, mas uma história cómico-costeira.

Isto foi considerado por alguns como “um exercício da mais pura demagogia”. Não é demagogia … mas reconheço que é um exercício muito enervante para os adoradores do Moloch. E o enervamento não é bom conselheiro. E quando as pessoas se enervam dizem os maiores disparates: “Ninguém diz que um rico não pode ser pessoa de bem, mas se o for - e agir como tal - provavelmente não será rico muito mais tempo”. Esta sentença é uma contradição nos termos. Indo à essência da sentença, ela significa que o rico nunca pode ser uma pessoa de bem, porque se o for deixa de ser rico. Ou seja, os ricos, pessoas de bem, são apenas um fenómeno transitório, cujas condições iniciais são não nulas (herança vultuosa ou prémio no euromilhões, porque a actividade económica é pecaminosa) mas que se esvai rapidamente pela prática do bem.

Por entre adoradores de Moloch e fradinhos Capuchos o país vai ter dificuldade em singrar no mar encapelado da economia mundial. O país é o Titanic em que as autoridades e os seus apaniguados nos dizem: vá… calma … olhem para a popa, vejam o tempo magnífico e ouçam a orquestra. Não liguem àquele insignificante bloco de gelo ali atrás.

Esperemos que particulares com as suas embarcações de recreio estejam atentos ao naufrágio …

Publicado por Joana às agosto 17, 2005 06:30 PM

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Comentários

Graças a Deus que sou remediado. Um Purgatório em ponto Cruz.

Publicado por: asdrubal às agosto 17, 2005 06:55 PM

eu gostava de ser rico , que a Joana fosse rica ...e que os adoradores do Moloch fossem para sempre da classe media , baixa de preferencia , daquela que nao tem dinheiro para comprar um barco , porque quem tem um barco é uma pessoa má e eu quero que eles sejam aquilo que defendem , enfim gostava que todos tivessem aquilo que querem , eu incluido .

Publicado por: jojo às agosto 17, 2005 07:11 PM

É mais difícil um rico ser boa pessoa, que um buraco de agulha passar por um camelo

Publicado por: soromenho às agosto 17, 2005 07:25 PM

Eu então lembro aquela história que uma colega minha em Timor (precisamente no curso de Ciências Agrárias, relatado na notícia) me contou de Moçambique: um velho negro disse-lhe que havia três espécies de pessoas no mundo: os pretos, os brancos e os portugueses; quando ela perguntou se os portugueses não eram brancos ele disse que não, os brancos e os portugueses metiam os dois os pretos no mar, mas quando se estavam a afogar, só os portugueses é que iam lá buscar.

Agora a questão mais importante foi colocada pela Sininho (não se lembram do Peter Pan?) e ninguém ligou: a sardinhada...

"Não admira: para um dado objectivo, os privados conseguem sempre uma afectação de recursos mais eficiente. Vem nos manuais. Aconteceu em Albufeira". Se isto puder ser dito assim é engraçado tudo bem, mas com os fogos a micropulverização da propriedade mostra o contrário.

"Não liguem àquele insignificante bloco de gelo ali atrás."

Mas de facto Joana se o bloco de gelo já lá está atrás é melhor é olhar para os da frente! Apesar da 3ª guerra mundial vir aí.


PS - as sardinhas começam a estar em risco de pré-extinção.

Publicado por: pyrenaica às agosto 17, 2005 07:31 PM

Joana às agosto 17, 2005 06:30 PM

Este seu segundo post a propósito do incêndio do barco, exigiria uma ginástica (psic)analítica de que não me sinto capaz. Diz que os leitores duvidaram das suas "singelas intenções" e volta a dar-lhes todas as razões para persistirem na dúvida.

Estou consciente de que “Individualismo, em economia e em política, não é sinónimo de egoísmo, nem se opõe ao altruísmo. Apenas se opõe ao colectivismo. O individualismo é perfeitamente compatível com o altruísmo”.
Admito que a Joana se tenha investido no cargo de explicar isto a quem ainda não percebeu.
Mas:
Ir "arrebanhar" o exemplo deste acidente, para ilustrar a sua (nossa?) tese é, no mínimo, forçado.
Aproveitar para denegrir os serviços públicos, é demagógico.
Dizer que não denegriu, é mentir.

Duas notas de rodapé:
1) Concordo com a sua referência ao disparate de Albatroz, a propósito de ricos;
2) Porquê dizer "privados" quando se refere a pessoas?

Publicado por: Vítor às agosto 17, 2005 07:34 PM

Eu não acho que o que o Albatroz disse seja um disparate, portanto Yin-Kuo inclui-me nisso. É verdade que um rico realmente de bem vai deixar de o ser, a não ser que tenha filhos, se não avai acorrer a muita miséria, embora haja várias formas de o fazer. também é verdade que alguns que perceberam que ser rico às tantas é um peso (imagina porque é que a C. Onassis se matou)e tentaram fazer coisas para empobrecer e ainda ficaram mais ricos...karma,

Mas é claro, claro, que a grande maioria dos que se fizeram ricos fizeram-se em esquemas múltiplos de comissões e fugindo aos impostos, ou então ganharam o tal totoloto.

Há uma categoria muito particular que são os artistas: O Umberto Eco, o Saramago...

Na minha vida os que mais me deram eram pobres, e o amor mais incondicional que senti foi de uma cadelinha Huskie linda.

Publicado por: pyrenaica às agosto 17, 2005 07:46 PM

De Mario Soares, um anti-miserabilista por excelência, diz-se que é o «embuçado» de D. João II :
Promete o que não tem, distribui o que não lhe pertence e perdoa a quem não o ofendeu. Tudo no presente do indicativo. Psicanalizou-se em Paris.

Publicado por: asdrubal às agosto 17, 2005 08:03 PM

"O individualismo é perfeitamente compatível com o altruísmo"

O que a Joana quer dizer é que o individualismo aceitará, se para aí estiver virado, fazer um bocadinho de caridade... Nada de obrigações ou de reconhecimento de direitos. Uma esmolinha para apaziguar a consciência, e já está!... Ora o que um povo precisa é de justiça, e essa passa pelo reconhecimento do direito de todos a uma vida com um mínimo de dignidade... Se eu fosse uma pessoa menos bem educada podia sentir-me tentado a dizer aos liberais o que eles poderiam fazer com o seu altruismo...

Publicado por: Albatroz às agosto 17, 2005 08:18 PM

Eu não sei se a Joana reparou que os ricos não são principalmente criticados porque ganham muito dinheiro com as suas empresas e o aplicam em novos negócios. Os ricos são sobretudo criticados quando desviam uma parte significativa do lucro das suas empresas para fazerem vida de ricos. Sempre que um grande empresário gasta dinheiro na compra de uma grande propriedade de lazer, na compra de um veículo de grande luxo, na compra de um iate, ou na compra de muitas obras de arte de artistas famosos, está a desviar dinheiro da sua principal aplicação que é o investimento. Ao esbanjar dinheiro está a dar razão aos que criticam o capitalismo. E está a tirar argumentos aos que defendem o capitalismo liberal, pois se a empresa é assim tão lucrativa e se mantém viável apesar desse desvio de fundos, então esse dinheiro devia ter sido utilizado para pagar melhor aos trabalhadores das suas empresas. Deixe-se a Joana portanto de tretas...

Publicado por: Albatroz às agosto 17, 2005 08:38 PM

Por outras palavras, e para usar um argumento caro à Joana, quando uma empresa tem lucros substanciais é porque o salário está abaixo da produtividade marginal do trabalho...

Publicado por: Albatroz às agosto 17, 2005 08:47 PM

Convenhamos que é uma situação caricata: os meios de salvamento públicos ficarem a ver os meios dos voluntários privados a procederem ao resgate dos náufragos, porque «recuaram ao verificar que a fibra do catamarã ardia de forma explosiva … optaram por … acompanhar de perto as operações de salvamento». [Joana]

Não é, seguramente, mais caricata que chamar «meios de salvamento público» a uma lancha da brigada fiscal da gnr

Publicado por: Anonymous às agosto 17, 2005 08:52 PM

É mesmo uma história cómico-marítima, porque acabou em bem, apesar do susto

Publicado por: Gros às agosto 17, 2005 09:14 PM

Albatroz às agosto 17, 2005 08:47 PM:
"para usar um argumento caro à Joana, quando uma empresa tem lucros substanciais é porque o salário está abaixo da produtividade marginal do trabalho"

Você esqueceu-se de uma série de coisas: Para além do factor trabalho, também há o factor capital. Ambos influenciam as condições de custo.
Esqueceu-se igualmente da função procura com que está confrontada a empresa e que influencia directamente o lucro

Publicado por: Joana às agosto 17, 2005 09:24 PM

Anonymous às agosto 17, 2005 08:52 PM:
Mas se eu tive isso em conta. Não leu?:
«Presumo que houve razões poderosas para a Brigada Fiscal ter tido aquele comportamento contemplativo. Além do que, é uma Brigada Fiscal, não é uma Brigada de Resgate de Náufragos de Catamarãs a Arder. A sua missão é zelar para que não haja contrabando, tráfico de droga, transporte de mercadorias sem guia de IVA, etc.. Certamente que os brigadistas estiveram diligentemente de binóculos a certificarem-se que os náufragos não transportavam mercadorias proibidas ou sem guia de transporte. E se o fizeram, cumpriram aquilo que o país esperava deles».

Publicado por: Joana às agosto 17, 2005 09:26 PM

Publicado por: Anonymous às agosto 17, 2005 08:52 PM

Não morreu ninguém, mas acho que era boa ideia o senhor pensar no seguinte:
Os Bombeiros de Albufeira chegaram 45 minutos depois, a Polícia Marítima 1 hora e dez minutos depois, e o navio da Armada 5 horas e 5 minutos depois.

Não podiam cozinhar mas assavam as sardinhas.
Tinham centenas de extintores mas pediram para terra mais uns.
Tinham centenas de coletes salva vidas mais um não sei quê á ré mas foram os veraneantes que os tiraram de lá.

Seria muito curioso sabermos qual a nacionalidade dos tripulantes, dos cozinheiros e dos senhores que estavam mesmo ao lado dos extintores.

Vamos aguardar, serenamente, pelo "rigoroso inquérito".
Full power ahead, sir !!

Publicado por: carlos alberto às agosto 17, 2005 09:29 PM

"...para um dado objectivo, os privados conseguem sempre uma afectação de recursos mais eficiente. Vem nos manuais."

Ora deixa cá ver: o objectivo era vender um cruzeiro marítimo a turistas despreocupados; o recurso era um catamarã; o catamarã era privado; o catamarã ardeu. Eficientemente. Não há dúvida, foi uma afectação de recursos muito eficiente. Os privados conseguiram! Vem nos manuais!

Publicado por: Senaqueribe às agosto 17, 2005 09:56 PM

Esta história é típica de um país que não funciona. É triste, mas é verdade.

Publicado por: AJ Nunes às agosto 17, 2005 10:12 PM

Senaqueribe às agosto 17, 2005 09:56 PM: Acidentes acontecem. Se não tinha a segurança necessária, é porque a vistoria não foi feita devidamente. Leu os comentários do Luís Serpa no post anterior? Ele andou a tentar legalizar um catamarã.

Publicado por: AJ Nunes às agosto 17, 2005 10:17 PM

Joana,

mas a superioridade moral dos "individualistas privados" sobre os "colectivistas públicos" não tinha ficado claro no seu 1ºpost?

Se tem parado a tempo escusava de ter que ler o recado de (Publicado por): Albatroz às agosto 17, 2005 08:18 PM

Publicado por: zippiz às agosto 17, 2005 10:43 PM

AJ Nunes às agosto 17, 2005 10:17 PM

O que eu questiono é a falta de coerência.
Quem é responsável pelos seus actos e pelos recursos que utiliza não precisa de vistorias alheias para rectificar eventuais erros. Ele próprio o faz.
E não pode invocar a fatalidade dos acidentes para fugir às suas responsabilidades; deve antes olhar para a suas negligências.

Publicado por: Senaqueribe às agosto 17, 2005 10:56 PM

Perdoem-me o desvio do "focus":

Já fiz largas dezenas de vistorias, não de embarcações, mas de estabelecimentos e indústrias do sector vitivinícola.

Há cerca de 5 anos, as vistorias eram obrigatórias e prévias ao início da actividade. Posteriormente, por alegada necessidade de desburocratização, o novo diploma legal remeteu as vistorias para uma fase posterior à inscrição, tornando-as facultativas.
A que se assiste então? Num grande número de situações, os empresários não se empenham em dotar as suas instalações das condições mínimas necessárias de higiene, segurança e controlo metrológico. E claro, confrontados com a necessidade de mudanças, vem a lengalenga: "não vamos parar", "as obras vão afectar o negócio e custar uma pipa de massa", "mando as pessoas para casa?"

Mas isto para dizer o quê?
Que o problema não está, de facto, nos empresários. O problema está, na minha opinião:
- na autoridade do Estado, que anda pelas ruas da amargura,
- e no velho hábito português de exigir tudo dos outros e nada de si mesmo.

Olhamos para o problema dos incêndios, da construção clandestina, da justiça, da educação, da corrupção, da fuga ao fisco, do funcionamento da Administração Pública, e... ficamos "seriamente preocupados". É tudo!

Temos que implementar uma cultura de exigência para com os outros e, principalmente para connosco (entre outras coisas, deixar de falar do que não sabemos). Temos também que nos dar ao respeito, na nossa relação com os outros e com o Estado. Não podemos continuar a assobiar para o lado...

Um aparte: ainda há quem não se tenha apercebido (nem venha nunca a realizar) que o mundo não se divide em funcionários públicos incompetentes e empresários de boa vontade (nem em funcionários públicos competentes e empresários corruptos ou mal intencionados).
Se assim fosse, a coisa resolvia-se de uma penada.

Infelizmente, este blogue, começa a tornar-se a caixa de ressonância dos que nunca se "olharam a um espelho" e dos que só sabem dizer mal:
- do Estado;
ou
- dos que atacam o Estado.

E, não f nem saímos de cima...

Publicado por: Vítor às agosto 17, 2005 10:59 PM

Joana às agosto 17, 2005 09:24 PM

Não é a Joana que afirma que o salário deve ser igual à produtividade marginal do trabalho? É claro que o factor capital também conta, mas as amortizações são a forma da empresa fazer face aos custos do investimento. Se após as amortizações os lucros ainda permitem uma remuneração substancial dos accionistas é porque os salários estão abaixo da produtividade marginal do trabalho. A Joana sabe que, em concorrência perfeita e a longo prazo, a teoria clássica nos diz que as empresas devem estar no ponto crítico. Ou seja, a remuneração do capital corresponde ao juro sobre a aplicação financeira. Se a Joana acredita na correcção da teoria não pode aceitar situações de enriquecimento por parte dos empresários. Estes devem ser remunerados em função do capital investido e da taxa de risco financeiro. Nada mais. O que não dá para os Ferraris...

Publicado por: Albatroz às agosto 17, 2005 11:00 PM

Quanto à função procura, em concorrência perfeita a procura, a nível da empresa, é considerada perfeitamente elástica. Logo não é ela, mas o preço e o custo marginal, que definem o lucro.

Publicado por: Albatroz às agosto 17, 2005 11:06 PM

Já vou percebendo um bocadinho mais do economês, à conta de vos ler. Portanto isso são conceitos da teoria neoclássica.

Agora ontologicamente como é que a coisa se coloca: o preço é um índice do valor económico?

Mas portanto o valor económico é despiciendo face a coisas tão simples como o oxigénio do ar produzido de graça pelas plantas verdes e que é essencial à vida.

Porque (ainda) não é escasso e o preço é zero inferem que tem um valor económico nulo?

Publicado por: pyrenaica às agosto 17, 2005 11:15 PM

Yin-Kuo, não leves a mal, nós portugueses somos assim e se nos sobe uma coisa vermelha não olhamos aos limites, mas lá no fundo gostamos é de gostar uns dos outros, ou por uma razão ou pela sua contrária, tanto faz, para quem inventou 600 pratos de bacalhau...

Agora para não perdermos o treino...

Mas eu gosto muito de te ler porque és muito direitinho a pensar e a escrever.

Publicado por: pyrenaica às agosto 17, 2005 11:25 PM

Há muito tempo que não lia José Manuel Fernandes num escrito tão nervoso !
Público de 17Agosto, página 6, "rankings"

Publicado por: zippiz às agosto 17, 2005 11:35 PM

Olhem lá vejam lá se aquela minha sugestão de passarmos da inveja para o orgulho vos dá para ficarem todos ofendid@s!

Bem há outros. A luxúria por exemplo, quando a coisa der para o torto: castidade!(e esperar que passe...)

Ficam irad@s com a abstinência? A virtude antídoto chama-se paciência(e uns bons livros, cá para mim).

Contra a gula, temperança (e música...)

Também não vou dizer tod@s!

Publicado por: pyrenaica às agosto 17, 2005 11:36 PM

Caro Pyrenaica,
Há muito que os economistas se embrulham com o problema do valor. Valor de uso para uns, valor de mercado para outros, valor trabalho para outros ainda... Se todos os bens fossem perfeitamente e infinitamente disponíveis seriam de graça para toda a gente. Mas teriam certamente uma utilidade ou valor de uso. Se um bem é manufacturado, há quem afirme que o seu valor depende da quantidade de trabalho necessário para o produzir. O que nada tem a haver com o valor de mercado... Estamos aqui em pleno terreno ideológico, e muito pouco científico. Confesso que é um campo onde não consigo ter certezas.

Publicado por: Albatroz às agosto 17, 2005 11:40 PM

zippiz imagina que tenho a assinatura paga lá no Público e não me deixam aceder às notícias, isto apesar de eu já ter reclamado... Bom, Mário Soares esteve um belo olifante cá para mim, ontem. Sim senhor está melhor da memória do que eu, sabe bem História, divertido com as coincidências (lúcido!), sobranceiro face à morte, jovial como só um homem livre pode ser. Todos nós gostariamos de chegar aos 80 assim, não?

Publicado por: pyrenaica às agosto 17, 2005 11:44 PM

Publicado por: pyrenaica às agosto 17, 2005 11:25 PM

À falta de nicotina, reajo com escrita mais séria.

Agradeço e retribuo com um poema chinês de Tu Fu (poeta chinês do Séc. VIII)

POEMA A LI PO
"Tu escreves como o pássaro canta. Teu gorjeio? Versos.
Se não cantasses, as manhãs seriam menos vermelhas e
os crepúsculos menos azuis.

Quando a embriaguez te inspira,
os Imortais inclinam- se das nuvens para te escutarem,
o tempo suspende o seu voo,
o bem-amado esquece a bem-amada.

Tu és o Sol e nós, os outros poetas, somos apenas estrelas.
Acolhe, ó meu amigo, o balbucio do meu respeito!"

in "Poemas Chineses / Li Po e Tu Fu", Nova Fronteira, 1996
Tradução de Cecília Meireles (este nome traz-me reminiscências da escola primária)

Publicado por: Vítor às agosto 17, 2005 11:50 PM

Senaqueribe às agosto 17, 2005 10:56 PM:
Uma andorinha não faz a primavera. Não sei se, entre os particulares que lançaram os barcos à água, algum mais desajeitado, ou infeliz, não terá torcido um pé e impedido de ir ao salvamento.
Isso não afecta o resltado global.

Publicado por: Joana às agosto 17, 2005 11:51 PM

Muito obrigado Albatroz mas estou muito preocupado porque me parece que houve uma apropriação ilícita do conceito de valor da Ética para a Economia através da redução ao preço. Eu reconheço que o sistema funciona relativamente bem dentro das leis dos grandes números, isto é conseguiu acomodar um elevado nível de complexidade, mas tem efeitos perversos absolutamente deletérios, como se está a comprovar nos tempos que correm. Acho que tenho de levar comigo também a Ética de Spinoza. Felizmente tenho um estudo de caso entre mãos que me vai fazer sentir o peso dos conceitos.

Publicado por: pyrenaica às agosto 17, 2005 11:52 PM

Muito obrigado Albatroz mas estou muito preocupado porque me parece que houve uma apropriação ilícita do conceito de valor da Ética para a Economia através da redução ao preço. Eu reconheço que o sistema funciona relativamente bem dentro das leis dos grandes números, isto é conseguiu acomodar um elevado nível de complexidade, mas tem efeitos perversos absolutamente deletérios, como se está a comprovar nos tempos que correm. Acho que tenho de levar comigo também a Ética de Spinoza. Felizmente tenho um estudo de caso entre mãos que me vai fazer sentir o peso dos conceitos.

Publicado por: pyrenaica às agosto 17, 2005 11:52 PM

Caro Albatroz:

"tem a haver" significa "tem a receber"

Eu hoje estou chato :)

Publicado por: Vítor às agosto 17, 2005 11:52 PM

Mesmo chato...

Joana:
Para quando o seu novo post "O Fóssil do Catamarã"?
;)

Boa noite

Publicado por: Vítor às agosto 17, 2005 11:56 PM

pyrenaica,
essa da assinatura paga no Público sem poder aceder, vai ser objecto de post de Joana, com o título :
"As exigências do público colectivista para ler as notícias do nosso altruismo privado ou as idiossincracias do guarda fiscal armado em piloto de barra a custo zero"

Publicado por: zippiz às agosto 18, 2005 12:02 AM

Hipocrisias... Como bem disse a Tia Maggie o Bom Samaritano só é lembrado porque tinha dinheiro para ter eficácia não expecialmente por causa das suas meritórias intenções...

Albatroz um dos sais da vida são os Ferraris...

Publicado por: lucklucky às agosto 18, 2005 12:10 AM

Mas o que é que lhe aconteceu.
Eu tenho a assinatura paga e nunca tive problemas de leitura.

Tenho é problemas com os montes de erros que em todas as edições cometem.
Ainda no Domingo a edição só esteve disponível por volta da doze horas

Publicado por: carlos alberto às agosto 18, 2005 12:11 AM

Albatroz às agosto 17, 2005 11:00 PM:
1- As amortizações são uma operação contabilística que não tem a ver, directamente, com a remuneração do capital;
2 – A remuneração do capital, em Economia, é medida pelo custo de oportunidade do mesmo. Em termos de avaliação de projectos diria que a remuneração do capital deve ser tal que a Taxa Interna de Rendibilidade (TIR ou IRR anglo-saxónica) dos cash-flows seja igual ou superior a projectos alternativos de aplicação do capital. (uma das condições é que tem que ser superior ao juro de que fala)
3 – Você não havia dito que estava a falar de concorrência pura e perfeita. Julguei aliás que você não acreditasse que isso existisse. Mas isso não constitui óbice.
4 – As empresas que concorrem, num mercado em concorrência pura e perfeita (ou noutro mercado qualquer), não têm, necessariamente, as mesmas condições de custo. Essa empresa com lucros maiores pode ter uma tecnologia superior e uma organização mais perfeita do processo produtivo. Eventualmente outras poderão vir a copiar esse processo. Mas durante um dado período a empresa pode deter essa vantagem.
5 – A curva de procura de mão-de-obra para um dado tipo de trabalho reflecte o valor do produto marginal de trabalho num dado mercado. É ele que define o salário médio nesse mercado. Mas essa empresa pode ter organizado o trabalho melhor e ter obtido lucros adicionais. Ela paga os salários de acordo com o equilíbrio do mercado de trabalho, mas organiza esse trabalho melhor.

Portanto, pode haver várias razões para uma empresa em concorrência pura e perfeita tenha lucros adicionais. Não é obrigatório que todas tenham as mesmas condições de custo.

Publicado por: Joana às agosto 18, 2005 12:20 AM


Lucky, agora uma coisa, se tiveres para aí voltado: eu vi aquele filme do soldado Ryan porque tinha de ser, mas aquele desembarque eu não percebo - porque é que os navios não dispararam os canhões primeiro sobre as linhas de costa? Aquela mortandade estúpida foi mesmo assim?

Publicado por: pyrenaica às agosto 18, 2005 12:21 AM

Quanto à assinatura do Público on-line, eu nunca alinharia numa coisa dessas. Eu pago em troca de um bem ou de um serviço, actuais. Não pago em troca de um bem futuro, que não se sabe como será prestado (admitindo que eu estivesse interessada nele).

Publicado por: Joana às agosto 18, 2005 12:26 AM

Pois olhe eu paguei, confiei e lixei-me. Mas isto deve ser o JMF a brincar comigo. Também se eu brinco com ele...

Bom mas essa coisa do valor económico, Joana, vai dar muito que falar. Mas eu agora já estou ko, além disso ainda tenho que phroneticar muito.
Boa noite.

PS aprende-se imenso aqui, agora tem que se dormir pelo menos 8 horas sobre isto, não? Mas aposto ops meus t. que os portugueses são campeões na blogosfera!

Publicado por: pyrenaica às agosto 18, 2005 12:49 AM

Está bem que não pague serviços/bens futuros ... mas não lhe ficava mal citar o jornal de onde retirou parte da informação do seu post; parece que os neoconservadores chamam a isso "ética nos negócios" !

Publicado por: zippiz às agosto 18, 2005 12:52 AM

Joana às agosto 18, 2005 12:20 AM

Estamos a falar de coisas algo diferentes. Não esqueça que, em concorrência perfeita, a prazo as diferenças de desempenho e de rentabilidade terão de desaparecer. As empresas terão de aplicar a totalidade dos seus recursos para se manterem competitivas, logo não haverá lugar à ostentação de riqueza por parte dos empresários. E era aqui que eu queria chegar. Não sou eu que procuro eliminar a riqueza. É o próprio sistema que a Joana propõe que, se funcionasse dentro da sua lógica própria, impediria os empresários de desviarem para proveito próprio quaisquer lucros acima da remuneração de mercado do seu capital. Se o sistema capitalista liberal permite a ostentação de riqueza por parte de muitos empresários, é que o sistema está a ser viciado e não maximiza a eficiência. Logo, como a prática se desvia da teoria, temos de considerar o sistema capitalista neo-liberal como gerador não só de de injustiça como de ineficiência. Por isso se deve procurar outro sistema que funcione melhor levando em conta o binómio eficiência económica/justiça social.

Publicado por: Albatroz às agosto 18, 2005 12:57 AM

Cada cavadela cada duas minhocas.

Agora é o comandante do porto de Portimão a brindar-nos com esta pérola:

“”Surgiram queixas sobre uma alegada chegada tardia dos meios de socorro. Como comenta essas críticas?

– Qualquer embarcação está obrigada a prestar auxílio a outra em dificuldades e esse dever foi cumprido com pleno sucesso por quem tinha barcos ou motos de água. No âmbito dos acordos internacionais firmados por Portugal, os estados obrigam-se a providenciar meios de socorro para responder a situações de perigo e, no caso da Marinha, temos um dispositivo montado a nível nacional, que inclui uma vertente oceânica, com a presença permanente no mar de uma unidade naval, e uma vertente costeira, assegurada pelas estações de salva-vidas, sob a responsabilidade dos capitães dos portos. No Algarve, dispomos ainda de duas lanchas de fiscalização que, quando necessário, são utilizadas neste tipo de operações. Os meios disponíveis seguiram para o local mal nos chegou a indicação do que estava a passar-se.””

Veja-se como a uma pergunta se dá uma não-resposta.

Pode ler o resto do delírio em:

http://www.correiodamanha.pt/comentario.asp?idCanal=181&id=170671

O “rigoroso inquérito” promete vir a ser o best-seller do ano, porque evidentemente o “livro cinzento quente” sobre os incêndios sairá na primavera.

Publicado por: carlos alberto às agosto 18, 2005 02:47 AM

A Lusitânia não se entende, como já noutros tempos se queixavam os Romanos. Temos que viver com isto à laia dos psicanalizados que se mijam descontraídamente na cama. O MASP III que distribua algálias por cada voto que entrar nas urnas.

Publicado por: asdrubal às agosto 18, 2005 03:27 AM

Publicado por: pyrenaica às agosto 18, 2005 12:21 AM

O desembarque americano (Omaha beach) foi mesmo como o filme mostra. Outros não foram tão complicados. Os americanos tiveram o azar de apanhar uma patrulha alemã, o que fez com que as fortificações costeiras estivessem mais bem guarnecidas que o habitual.

Os navios dispararam para as fortificaçãoes costeiras, mas como se sabe, as fortificações costeiras têm grandes vantagens sobre a artilharia naval. Há também que lembrar que a Muralha do Atlântico (designação alemã das fortificações costeiras ao longo do Canal da Mancha) dispunha de artilharia de longo alcance. Mesmo assim, caso os alemães tivessem intervido imediatamente com os seus meios blindados (IV ou VI Panzer, já não me lembro bem) a invasão teria ficado em apuros sérios.

Publicado por: Pedro Oliveira às agosto 18, 2005 09:48 AM

Publicado por: Albatroz às agosto 18, 2005 12:57 AM

"é que o sistema está a ser viciado e não maximiza a eficiência."

Até a meio da década de 70, em todo o mundo, vigorava um paradigma que vinha desde a alvorada da Revolução Industrial, o produtor era rei. A procura era globalmente superior à oferta, neste cenário quem manda é o produtor, neste cenário a eficiência é fundamental, não para ter preços baixos mas para encaixar margens superiores.
No novo paradigma em que vivemos a oferta é superior à procura, quem manda é o cliente. A eficiência pode ser importante para conseguir sustentar preços baixos, mas essa é só uma das opções. Em Portugal poucas empresas têm uma estratégia clara, transmissível aos seus colaboradores ou clientes, muitas, mais por instinto do que por raciocínio, fugiram acossadas para o mercado do preço baixo, o mercado do preço baixo é o mercado da standardização, das grandes quantidades, das economias de escala. Para muitas empresas que apostaram no preço baixo, sem ser no âmbito de uma estratégia consistente - o que implica trabalhar constantemente na melhoria da eficiência (porque raio é a que a McDonald's terá criado aquele dispositivo para encher os sacos de papel com batatas fritas?) - mas mais por aproveitamento dos salários baixos, está a chegar o fim da linha. Para mim numa estratégia de preço baixo uma empresa está sempre à mercê de uma empresa concorrente surgir no mercado e lançar o desafio "Vamos ver quem aguenta mais tempo debaixo de água sem respirar!".

Ora em 1985? Porter, em 1993 Wiersema & Treacy, em 2005 Simons, só a título de exemplo, vieram propor arquétipos de posicionamento estratégico, pessoalmente aprecio mais os de Wiersema e Treacy: as empresas podem competir no mercado do preço baixo (a eficiência manda); as empresas podem competir no mercado pela liderança dos produtos ou serviços, ou seja produtos ou serviços com mais atributos e características (a eficácia manda - quem produz Vuiton, ou Ferrari, não depende da eficiência para ser bem sucedido – já imaginou o que aconteceu ao mais eficiente fabricante de candeeiros a querosene com o aparecimento da energia eléctrica); as empresas podem competir no mercado pela "intimidade com o cliente", em vez de oferecerem um produto standard são suficientemente flexíveis para o modelar e acomodar aos interesses de cada cliente (mais uma vez a eficácia manda).

E a eficácia pode resultar de uma boa ideia, de ver as coisas como ninguém nunca antes as viu, e o lucro é a recompensa dessa novidade. Contudo, se uma organização não melhora constantemente essa novidade, alguém, mais cedo do que se espera há-de aparecer a fornecer o mesmo, e então resvala-se para o mercado do preço, como Gilbert & Pine eloquentemente ilustram na relação entre as forças de “customização” e “comoditização”.

É por tudo isto que me faz espécie ver, por exemplo, políticos, aplicar conceitos do tempo em que não existia marketing, em que o produtor era rei, em que a demografia na Europa crescia, ou seja receitas, a um mundo completamente diferente… as canetas Bic (laranja e cristal publicitadas na TV do inicio dos anos 70 já há muito que deixaram de ser best-sellers não obstante o seu baixo preço comparativo, canetas de gel, canetas com cheiro, canetas com… tudo coisas para os quais não conta a eficiência, ou conta muito pouco, e ainda bem que é assim, pois pode-se premiar os mais rápidos, os mais flexíveis, os mais atentos e evitar-se cair sob o jugo de dinossauros.

Publicado por: diogenes às agosto 18, 2005 10:56 AM

Ganda phronesis!

Publicado por: pyrenaica às agosto 18, 2005 11:06 AM

Joana, afinal quem leva
"A longa viagem de Gracia Mendes", Marianna Birbaum, edições 70, sou eu! E já li A Senhora há anos vai ser interessante recordar.

O Infante D. Henrique não levo, fiquei chateado com uma coisa que ele fez ao irmão, a política é mesmo cruel. Entendo mas não gosto. Tem que haver sempre um cordeiro sacrificado.

Também levo um catrapazio sobre o VET aplicado às florestas. vamos a ver eu acho que vocês neoclássicos arranjaram uma geringonça diabólica que passa ao lado do mais importante.

Publicado por: pyrenaica às agosto 18, 2005 11:34 AM

diogenes às agosto 18, 2005 10:56 AM

Não disputo o interesse das abordagens de marketing, num quadro competitivo como aquele em que vivemos. Mas aquilo que preocupa alguns de nós não é o produtor-capitalista mas o produtor-trabalhador, e a melhor maneira de distribuir os lucros entre esses dois factores. Tudo o que referiu, embora beneficiando até certo ponto o consumidor, não contribui para que o factor trabalho tenha uma remuneração mais justa. Pelo contrário. A concorrência feroz obriga o empresário a esmagar os seus custos, o que vai acabar por se repercutir nas remunerações do trabalho. Nunca é o capitalista que sacrifica as suas margens, é sempre o trabalhador que tem de produzir cada vez mais por uma remuneração que não cresce proporcionalmente. No limite o sistema é suicida, mas os entusiastas do neoliberalismo ainda não chegaram lá...

Publicado por: Albatroz às agosto 18, 2005 11:48 AM

O que é nacional é bom:

http://mercheromero.blogspot.com/

http://isabelfigueira.blogspot.com/

http://carlamatadinho.blogspot.com/

http://barbaraelias.blogspot.com/

Publicado por: amigo às agosto 18, 2005 12:05 PM

Os virtuosos defensores do status quo que confundem propositadamente quaisquer críticas à organização do Estado como sendo 'ataques' à sua querida função pública, porque vindos de obscenos 'liberais' e 'neocons', deviam meditar nas palavras do ex-Ministro da Finanças proferidas na Assembleia da Républica à apenas três meses atrás:
"Por cada dez euros de impostos pagos pelos contribuintes, nove são para pagar despesas com pessoal do Estado e transferências para as famílias.Isto é, 90 por cento dos impostos arrecadados pelo Estado destinam-se a pagar salários da Administração Pública", e perguntar-se então como é que algum Estado pode prestar qualquer tipo de serviços de qualidade à sociedade quando nove em cada dez euros são para pagar a sua própria existência.
Quem sofre mais? Os pobres e desprotegidos claro que não podem pagar pelos serviços privados. Mas isso não interessa desde que não se toque nas virtudes sagradas do Moloch.
O pior cego é aquele que não quer ver.

Publicado por: Joao P às agosto 18, 2005 12:16 PM

Publicado por: pyrenaica às agosto 18, 2005 12:22 PM

;))

Publicado por: pyrenaica às agosto 18, 2005 12:22 PM

Olha o poeta atacou certeiro:

http://online.expresso.clix.pt/1pagina/artigo.asp?id=24753359

Publicado por: pyrenaica às agosto 18, 2005 12:43 PM

O funcionalismo público é, juntamente com o trânsito, o que mais irrita os portugueses, de acordo com um inquérito à escala europeia recente.
Provavelmente este resultado será injusto para muitos, ou mesmo para a maioria dos funcionários públicos, mas acho que deviam meditar nesta situação.
Não vale a pena varrer o lixo para debaixo do tapete. Há que encarar os problemas de frente.

Publicado por: vitapis às agosto 18, 2005 12:52 PM

Yin-Kuo, eu sei que está para além de toda a prudência e da conveniência um carvalho lusitano de tão baixo valor económico como eu, andar com evapotranspirações por uma gimnosperma fóssil ainda por cima namorad@ de um tulipifera. Mas que queres? O resto é tudo tão déjà vu e nós as árvores estamos para além dessa contabilidade rasteira que orienta o mundo.

Ainda bem que vou molhar as raízes lá para o Índico para me distrair com os coqueiros que senão ainda tinha de fazer intervir os lexothans! É que deu-me um baile de citocininas lá para as raízes, que vieram por aí acima no xilema, dispararam as auxinas, os estomas abriram...e ando com o floema cheio de sacarose e não quero ficar marcescente demais! Pero no te preocupes,

Me gusta los aviones,
me gusta tu

Publicado por: pyrenaica às agosto 18, 2005 12:54 PM

Albatroz às agosto 18, 2005 11:48 AM

"A concorrência feroz obriga o empresário a esmagar os seus custos"

Isto só é verdade se a organização eleger como factor de posicionamento estratégico o "Baixo preço", porque o baixo preço só é sustentável por baixos custos, agora se a organização apostar ou na liderança do produto, ou no serviço/produto feito à medida do cliente o factor preponderante deixa de ser o preço e passa a ser outra(s) coisa(s). Quem aposta no preço a sério (com cabeça, tronco e membros, como fruto de síntese estratégica e não como tendo sido escorraçado para esse campo) como factor competitivo fundamental, pode deslocalizar uma fábrica de calçado para a Índia ou China, vai ter uma estrutura de custos espectacularmente competitiva, vai ter que produzir grandes quantidades, vai ter que encher contentores de produto para optimizar a logística, óptimo para fornecer clientes como as forças armadas, agora experimentem tentar competir no mercado da moda, da flexibilidade, das n cores, dos n modelos... lá se vai a vantagem comparativa.

Acredito, para já ainda é só uma questão de fé enquanto não reunir estudos suficientes, é que as empresas que apostam na liderança do produto/serviço ou na intimidade com o cliente, têm de remunerar melhor os seus colaboradores, porque só assim vão conseguir ter as pessoas certas.

"Nunca é o capitalista que sacrifica as suas margens"

Na maioria das empresas texteis e de calçado que ainda sobrevivem, e que ainda não tiveram capacidade de abandonar definitivamente o negócio do preço baixo, sobrevivem à custa das suas margens. Por exemplo em Março no semanário Expresso numa entrevista a um responsável por uma fábrtica produtora de polpa de tomate aprendi que a polpa de tomate já esteve a 750 euros a tonelada e que agora está a 500 euros (por causa da entrada do tomate chinês)... quem é que estará a perder esta margem? os detentores do capital, os trabalhadores que eventualmente perderam o posto de trabalho (como os que trabalhavam nas bilheteiras da Lusomundo e que agora vêem os seus colegas do bar a venderem os bilhetes) e os fornecedores que viram as suas margens apertadas.

Aliás essa entrevista era de antologia, o gestor falava da falência do negócio do preço baixo, afirmava que o negócio do serviço (vender molhos à medida era muito mais atraente que vender toneladas de pasta uniforme e facilmente copiável) era muito intewressante, mas estava a pensar em aumentar a capacidade de produção para produzir ainda mais polpa de tomate!!!!! Num negócio onde pela sua evolução nunca terá capacidade de competir com a China.

Era importante não abastardar a palavra empresário, use-se a palavra patrão, dono, herdeiro, agora empresário não é qualquer um...

Publicado por: diogenes às agosto 18, 2005 01:03 PM

Parece que se escreve «catarpázio». Mas é um preciosismo que os dicionários cá de casa omitem.

Publicado por: asdrubal às agosto 18, 2005 01:12 PM

brigado. O outro soava melhor, acho eu. Decidi não comprar as cápsulas enquanto as bilobas não estiverem protegidas. Sempre achei os cartagineses muito interessantes, o primeiro tratado de agricultura que se conhece é deles, e acho brilhante a solução governativa para aquele tempo dos sufetas. Eu nessa continuo a achar que fui um elefante de Anibal que meteram pelos Alpes a fora, e eu devia gostar do meu dono ou coisa assim, porque demorei mais de vinte anos para me livrar das vertigens, nesta última reencarnação. Mas cheira-me que nas delícias de Cápua fartei-me de comer aveia...

Publicado por: pyrenaica às agosto 18, 2005 01:31 PM

asdrubal às agosto 18, 2005 01:12 PM

Olhe que não...olhe que não...

Publicado por: Catrapázio às agosto 18, 2005 01:34 PM

Catarpázio? Não é catrapázio?

Publicado por: Pedro Oliveira às agosto 18, 2005 01:35 PM

Joao P às agosto 18, 2005 12:16 PM

Ó Joãozinho, filho, qual foi a parte das «transferências para as famílias» que não percebeste?

Publicado por: Instinto paternal às agosto 18, 2005 01:42 PM

diogenes às agosto 18, 2005 01:03 PM

O que diz tem muito de verdade, mas aplica-se fundamentalmente a nichos de mercado. Será que uma economia pode sobreviver através de uma enorme acumulação de nichos de mercado? Não vou garantir que não, mas tenho fortes dúvidas.

Publicado por: Albatroz às agosto 18, 2005 01:44 PM

Catrapázio em Agosto 18, 2005 01:34 PM,
Pois sim. Mas eu rercordo-me de uma polémica acerca deste vocábulo e não estou a inventar. Porque diabo não aparece nos dicionários ?

pyrenaica em Agosto 18, 2005 01:31 PM,
Deixe-me confessar-lhe que acho que a sua escrita tem um estilo "lacaniano" ...

Publicado por: asdrubal às agosto 18, 2005 01:48 PM

Joao P às agosto 18, 2005 12:16 PM

As transferências a que o ministro se referia não são salários de funcionários públicos. São, por exemplo, subsídios de desemprego, subsídios de doença ou pensões de reforma não contributivas. Logo não são despesas de funcionamento do aparelho de Estado. As suas conclusões não estão, portanto, correctas.

Publicado por: Albatroz às agosto 18, 2005 01:50 PM

Bem, por causa das coisas, já fui fotocopiar o catrapázio frente-e-verso, sempre passa para metade. E se calhar então levo um catarpázio.

Publicado por: pyrenaica às agosto 18, 2005 02:14 PM

vitapis às agosto 18, 2005 12:52 PM:
Isso é fácil para quem está de fora. Quem está de dentro tem dificuldade de ver a questão dessa maneira.

Publicado por: Nunes às agosto 18, 2005 03:04 PM

Albatroz às agosto 18, 2005 12:57 AM:
Desculpe-me dizer-lhe, mas você está a laborar numa enorme confusão. Os modelos da microeconomia servem para explicar os comportamentos dos agentes económicos e dar uma ideia das respostas desses agentes a acções sobre o tecido económico produzidas quer pelo Estado, quer pela conjuntura internacional, quer por outros agentes económicos.
Esses modelos têm poder explicativo em termos qualitativos, mas não podem ser utilizados para dar respostas quantitativas exactas sobre o funcionamento de uma dada empresa.

Sugiro-lhe que leia um post que escrevi há perto de 2 anos sobre esta questão. Veja, sff, o link:

http://semiramis.weblog.com.pt/arquivo/2003/12/claro_que_nao_e.html

ou clique aqui:
Claro que não está certo abusar da ingenuidade da juventude

Publicado por: Joana às agosto 18, 2005 06:12 PM

Joana às agosto 18, 2005 06:12 PM

Eu sei o que são modelos económicos, e sei que eles não traduzem a realidade económica. São apenas auxiliares para a compreensão dos mecanismos económicos. Mas o meu argumento apenas se serve dos modelos para demonstrar que a teoria neo-liberal viola os modelos em que diz acreditar.

Eu defendo a tese de que o neo-liberalismo gera injustiça relativamente ao factor trabalho, permitindo que o factor capital se apodere de mais do que devia do valor dos bens produzidos e transaccionados. Os neo-liberais defendem que mais regalias para os trabalhadores e maiores remunerações tornariam as empresas não competitivas, acabando por as levar à falência. A contenção ou mesmo a redução da remuneração do trabalho seria assim uma condição de sobrevivência. Ora o facto - comprovável - de que há fortunas cada vez maiores entre os capitalistas, significa que muitas empresas sobreviveriam muito bem mesmo se remunerassem melhor o factor trabalho. Ao acusarem os sindicatos de estarem a destruir as empresas, os capitalistas estão geralmente a mentir. Se o capitalismo neo-liberal funcionasse como os seus defensores afirmam, a remuneração do capital seria pouco superior à taxa de juro sobre o capital, majorada de um prémio de risco. Todos os outros resultados de exploração que não fossem necessários para manter a empresa competitiva deveriam ser distribuidos aos trabalhadores. Mas não é isto que acontece, o que significa que o capitalismo neo-liberal tem uma componente intrínseca de exploração do factor trabalho.

Publicado por: Albatroz às agosto 18, 2005 07:08 PM

Albatroz às agosto 18, 2005 07:08 PM

Não me diga!!!

# : - ))

Publicado por: (M) às agosto 19, 2005 01:00 AM

Só lérias

Publicado por: Cisco Kid às setembro 8, 2005 10:14 AM

Excelente

Publicado por: Benamor às setembro 10, 2005 09:51 AM

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