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agosto 14, 2005

Mercado e Ambiente

Um dos vectores de diabolização do mercado é a acusação que este prossegue uma exploração desenfreada da natureza e não cura dos prejuízos que as actividades produtivas provocam no ambiente – poluição, efeito estufa, destruição das paisagens, etc.. Há empresários que o fazem, assim como há empresários que degradam a qualidade dos seus produtos, que tentam vigarizar os consumidores, os fornecedores ou os concorrentes, que tentam defraudar o fisco, etc.. É a confusão premeditada entre liberalismo e o “vale-tudo”, comum no pensamento dos regimes totalitários e dos iliberais dos regimes democráticos. Todavia, desde o nascimento da escola da economia clássica, que os seus teóricos sustentam que cabe ao Estado aplicar a justiça e zelar para que não existam distorções e atropelos ao funcionamento do mercado. Entre esses atropelos estariam certamente os prejuízos ambientais, se eles fossem visíveis nos finais do século XVIII.

A questão dos bens ambientais tem uma característica própria que não torna imediata a forma como essa questão possa ser resolvida em mercado. Na generalidade são bens onde não existem a priori direitos de propriedade: o ar, os rios, os oceanos e o domínio hídrico em geral, etc.. Enquanto a Natureza parecia ter uma capacidade de regeneração infinita, estes problemas não se puseram. Havia poluição (fumo das chaminés industriais, poluição de rios, descargas ao ar livre, etc.) mas eram actos pontuais, que apenas incomodavam a vizinhança imediata.

Ora cabe a economia neoclássica o ter, pela primeira vez, investigado esta situação numa perspectiva científica e não moralista. O fundador da teoria moderna do bem-estar, Pigou, em Economics Welfare (publicada em 1920), vai chamar a atenção para os casos em que existem externalidades num equilíbrio geral. Ele sugere que o interesse público e os interesses privados não coincidiam, quando, por exemplo, o custo marginal social — ou seja custo para o conjunto dos indivíduos — e custo marginal privado — ou seja custo para um indivíduo tomado isoladamente — não são iguais. Esta divergência entre custo social e custo privado foi considerada por Pigou como uma externalidade. Uma externalidade surge quando uma pessoa se dedica a uma acção que provoca um impacte no bem-estar de um terceiro que não participa nessa acção, sem pagar nem receber nenhuma compensação por esse impacte.

E deve sublinhar-se que Pigou foi o primeiro, (cf. Economics of Welfare), a fim de ilustrar uma análise do bem-estar, a apresentar exemplos claramente dependentes do meio ambiente, tal como o de uma chaminé fabril que fumega e suja a vizinhança. A modalidade de internalização proposta por Pigou foi a de colmatar o desvio custo social - custo privado fazendo pagar uma taxa ou uma renda ao emissor da nocividade, taxa cujo montante seria igual à diferença entre custo social e custo privado. O preço do bem produzido seria assim igual ao custo marginal social do bem (custo marginal privado + taxa).

Autores posteriores, no quadro da economia neoclássica, pouco inclinados a preconizar soluções fiscais, contestam a optimalidade da solução de Pigou e exigem, para se obter o Óptimo, uma condição suplementar: que o produto da taxa seja entregue à vítima do efeito externo, a fim de que esta última veja o prejuízo residual compensado.

Dentro desta óptica insere-se o teorema de Coase, um dos pioneiros da análise da Economia do Ambiente: a internalização não pode provir senão de uma negociação bilateral entre emissor e vítima, ou seja, de uma discussão de preços entre os agentes económicos em causa, desde que o custo da organização dessa negociação não seja proibitivo e nunca ultrapasse o ganho social que dele se pode esperar. Esta condição de nulidade dos custos de transacção (ou de organização da negociação) é essencial na demonstração de Coase, pois o que Coase critica é o carácter unilateral da solução fiscal de Pigou. Convém notar que o teorema de Coase já tem mais de meio século e foi elaborado numa situação em que a acção sobre o ambiente não se desenrolava à escala planetária, ou pelo menos ainda não havia consciência disso. Em qualquer dos casos, muitas das soluções adoptadas actualmente, têm a ver, directa ou indirectamente, com o teorema de Coase.

Portanto é a própria economia neoclássica que reintroduz a problemática da convergência entre interesses privados e interesse público, embora com outros meios e outras finalidades que os de Adam Smith. O conjunto desta problemática neoclássica baseada nas teorias da utilidade e do bem-estar fez nascer a teoria económica do meio ambiente. No seio da economia do meio ambiente, distinguir-se-ão, sucessivamente, as questões de internalização das externalidades, a definição dos direitos de propriedade e as soluções dadas aos problemas da avaliação dos bens e dos serviços do meio ambiente

É óbvio que abordagem neoclássica pressupõe a soberania da esfera económica através do papel regulador do mercado. O mercado, através das alterações de preços relativos, pode fornecer um método para a concessão óptima dos bens e serviços ambientais.
O receio do esgotamento de recursos naturais dotados de um preço de mercado (energias fósseis, minérios) desapareceria se se deixasse agir sem qualquer intervenção os mecanismos de mercado. À medida que os preços aumentassem, as estratégias de exploração e as investigações tecnológicas seriam simultaneamente estimuladas. Estas últimas permitiriam, não só a substituição entre recursos, como também o aumento da eficácia destes, ou seja, uma diminuição do seu desperdício. Este ponto de vista gerou uma teoria económica da exploração óptima dos recursos naturais, que calcula uma trajectória óptima do esgotamento dos recursos e permite a continuação do crescimento económico, não obstante o esgotamento de certos recursos naturais.

Quanto aos problemas de poluição, estes desapareceriam, à semelhança do desperdício de certos recursos naturais, se lhes fosse criado um duplo mercado, por um lado, para os serviços de absorção dos poluentes devolvidos pelo ambiente e, por outro, para os recursos naturais actualmente disponíveis. Considera-se aqui que os problemas do meio ambiente provêm do facto de muitos bens e serviços ambientais serem gratuitos.

Ora, o risco é que, se a procura cresce, esta ultrapassa a capacidade dos bens e serviços ambientais para a satisfazer. Por outras palavras, pode ocorrer uma sobreexploração dos recursos ou das capacidades de absorção da biosfera. Por exemplo, enquanto a concentração de dióxido de carbono e de dioxinas, a espessura da camada de ozono, etc. foram tratadas como recursos de preço nulo, não havia incentivos para tomar medidas contra a sua sobreexploração.

A solução é atribuir um preço a estes bens e serviços ambientais, o que pode ser feito por diferentes métodos, ou encontrar processos sociais tais como o princípio «poluidor-pagador», o qual permite avaliar monetariamente o custo da sobreexploração de certos recursos naturais ou o da poluição. Daí decorre a questão da avaliação dos bens e serviços ambientais, assim como da «internalização dos efeitos externos», que conduz à realização de um óptimo de poluição que iguala o custo social marginal do prejuízo e o custo marginal de redução da poluição.

Portanto, foi a economia neoclássica, conhecida entre os seus detractores como neoliberalismo, que construiu modelos para analisar as externalidades ambientais e resolvê-las de um ponto de vista económico eficiente. Enquanto uns se preocuparam, tardiamente, em debitar tiradas moralistas baseadas na ignorância e/ou na malevolência, a economia neoclássica propunha soluções para os problemas, que satisfizessem o equilíbrio ambiental e a eficiência económica.

Muitas das actuais taxas, tarifas, normas e regulamentos, sistemas de coimas e outras formas quer de conteúdo claramente económico, quer aparentadas com coacções administrativas, têm suporte, directo ou indirecto, em trabalhos da teoria económica.

Frequentemente contrapõe-se a ética à abordagem neoclássica, sob a alegação que aquela é menos utilitarista. Todavia a abordagem neoclássica tem, face aos problemas ambientais, uma forte componente antropocêntrica (é o indivíduo que decide o valor a dar aos não humanos) e «presentista» (é a presente geração que decide sobre o valor de legado). A abordagem neoclássica avalia os bens ambientais, cria modelos integrando esses valores sociais e propõe soluções para maximizar o bem-estar. Há vários modelos cuja adequação depende do tipo do problema em equação. Mas têm um carácter operacional e não moralista.

Voltarei a este tema em futuros posts, desenvolvendo alguns conceitos aqui esboçados.

Publicado por Joana às agosto 14, 2005 06:59 PM

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Comentários

Afinal os neoliberais é que se preocupam com o ambiente? Este post é mesmo fracturante!

Publicado por: Surpreso às agosto 14, 2005 10:30 PM

Julgo que a maioria do pessoal não vai acreditar

Publicado por: Surpreso às agosto 14, 2005 10:32 PM

Com a devida vénia afixo a seguir um artigo publicado na Comunicação Social, que ilustra bem aquilo a que eu chamo a Fileira do Fogo, Mercado que os Neoliberais, vêm explorando com competência e Sucesso:

"A indústria dos incêndios

A evidência salta aos olhos: o país está a arder porque alguém quer que ele arda. Ou melhor, porque muita gente quer que ele arda. Há uma verdadeira indústria dos incêndios em Portugal. Há muita gente a beneficiar, directa ou indirectamente, da terra queimada.

José Gomes Ferreira
Sub-director de Informação da SIC

Oficialmente, continua a correr a versão de que não há motivações económicas para a maioria dos incêndios. Oficialmente continua a ser dito que as ocorrências se devem a negligência ou ao simples prazer de ver o fogo. A maioria dos incendiários seriam pessoas mentalmente diminuídas.

Mas a tragédia não acontece por acaso. Vejamos:

1 - Porque é que o combate aéreo aos incêndios em Portugal é TOTALMENTE concessionado a empresas privadas, ao contrário do que acontece noutros países europeus da orla mediterrânica?

Porque é que os testemunhos populares sobre o início de incêndios em várias frentes imediatamente após a passagem de aeronaves continuam sem investigação após tantos anos de ocorrências?

Porque é que o Estado tem 700 milhões de euros para comprar dois submarinos e não tem metade dessa verba para comprar uma dúzia de aviões Cannadair?

Porque é que há pilotos da Força Aérea formados para combater incêndios e que passam o Verão desocupados nos quartéis? (A jogar à Sueca, insinuaria eu)

Porque é que as Forças Armadas encomendaram novos helicópteros sem estarem adaptados ao combate a incêndios? Pode o país dar-se a esse luxo?

2 - A maior parte da madeira usada pelas celuloses para produzir pasta de papel pode ser utilizada após a passagem do fogo sem grandes perdas de qualidade. No entanto, os madeireiros pagam um terço do valor aos produtores florestais. Quem ganha com o negócio? Há poucas semanas foi detido mais um madeireiro intermediário na Zona Centro, por suspeita de fogo posto. Estranhamente, as autoridades continuam a dizer que não há motivações económicas nos incêndios...

3 - Se as autoridades não conhecem casos, muitos jornalistas deste país, sobretudo os que se especializaram na área do ambiente, podem indicar terrenos onde se registaram incêndios há poucos anos e que já estão urbanizados ou em vias de o ser, contra o que diz a lei.

4 - À redacção da SIC e de outros órgãos de informação chegaram cartas e telefonemas anónimos do seguinte teor: "enquanto houver reservas de caça associativa e turística em Portugal, o país vai continuar a arder". Uma clara vingança de quem não quer pagar para caçar nestes espaços e pretende o regresso ao regime livre.

5 - Infelizmente, no Norte e Centro do país ainda continua a haver incêndios provocados para que nas primeiras chuvas os rebentos da vegetação sejam mais tenros e atractivos para os rebanhos. Os comandantes de bombeiros destas zonas conhecem bem esta realidade.

Há cerca de um ano e meio, o então ministro da Agricultura quis fazer um acordo com as direcções das três televisões generalistas em Portugal, no sentido de ser evitada a transmissão de muitas imagens de incêndios durante o Verão. O argumento era que, quanto mais fogo viam no ecrã, mais os incendiários se sentiam motivados a praticar o crime...

Participei nessa reunião. Claro que o acordo não foi aceite, mas pessoalmente senti-me indignado. Como era possível que houvesse tantos cidadãos deste país a perder o rendimento da floresta - e até as habitações - e o poder político estivesse preocupado apenas com um aspecto perfeitamente marginal?

Estranhamente, voltamos a ser confrontados com sugestões de responsáveis da administração pública no sentido de se evitar a exibição de imagens de todos os incêndios que assolam o país.

Há uma indústria dos incêndios em Portugal, cujos agentes não obedecem a uma organização comum mas têm o mesmo objectivo - destruir floresta porque beneficiam com este tipo de crime.

Estranhamente, o Estado não faz o que poderia e deveria fazer:

1 - Assumir directamente o combate aéreo aos incêndios o mais rapidamente possível. Comprar os meios, suspendendo, se necessário, outros contratos de aquisição de equipamento militar.

2 - Distribuir as forças militares pela floresta, durante todo o Verão, em acções de vigilância permanente. (Pelo contrário, o que tem acontecido são acções pontuais de vigilância e combate às chamas).

3 - Alterar a moldura penal dos crimes de fogo posto, agravando substancialmente as penas, e investigar e punir efectivamente os infractores

4 - Proibir rigorosamente todas as construções em zona ardida durante os anos previstos na lei.

5 - Incentivar a limpeza de matas, promovendo o valor dos resíduos, mato e lenha, criando centrais térmicas adaptadas ao uso deste tipo de combustível.

6 - E, é claro, continuar a apoiar as corporações de bombeiros por todos os meios.

Com uma noção clara das causas da tragédia e com medidas simples mas eficazes, será possível acreditar que dentro de 20 anos a paisagem portuguesa ainda não será igual à do Norte de África. Se tudo continuar como está, as semelhanças físicas com Marrocos serão inevitáveis a breve prazo.

José Gomes Ferreira"

Não preciso de acrescentar mais

Publicado por: elmano às agosto 14, 2005 10:42 PM

É por estas e por outras que o próximo Nobel do ambiente ... goes to : Mr Bush !

Publicado por: zippiz às agosto 14, 2005 11:08 PM

Excelente post.

Publicado por: Bsotto às agosto 15, 2005 12:33 AM

Bom dia Joana e tod@s. Já imprimi. Só logo daqui a bocado é que escrevo alguma coisinha. Té já.

PS Joana, que eu tenha visto além do português, no seu (nosso, ehehe) blog anad cá o latim, até alguma coisita de grego, o inglês, o francês, o espanhol, até lá se chegou um nadinha ao chinês, imagino que a Joana em posts que porventura não li tenha chegado ao alemão e se calhar ainda há mais. Ora eu acho que só nós portugueses é que gostamos de brincar com as línguas todas (e o Manu Chau e mais alguns) e portanto se multiplicar o nº de de leitores pelo nº de línguas utilizadas na comunicação, deve ser a mãe de um dos blogues mais potentes do mundo, não? Agora lá como faz isso a trabalhar numa multinacional, ou lá que é, supostamente muito executiva (conheceu a Paula Allencar da Avenida Paulista?) é que me escapa completamente. ;-)

Publicado por: pyrenaica às agosto 15, 2005 09:51 AM

Joana, já li e reli. Claro que basta ser motivo de phronesis para valer por si.

O que me preocupa é que vocês, economistas liberais, legitimaram na ordem política o axioma: " faz o melhor para ti próprio e estarás a fazer o melhor pelos outros". Eu até acredito que no tal espaço 10-dimensional isto possa ser verdade, agora nesta projecção 4-dimensional a que chamamos o imanente está a dar resultados desastrosos, a 3ª guerra mundial está à vista.

Esse princípio foi utilizado com cupidez e ganância, esquecendo o "outro". Ora o "eu" só existe em presença do "outro". Este é o fundamento da Ética.

Publicado por: pyrenaica às agosto 15, 2005 10:55 AM

E depois vamos lá desmistificar essa coisa do Óptimo. O óptimo é inimigo do bom, como há muito tempo se sabe entre nós. Eu já curti bué isso dos valores óptimos, no meu doutoramento, em funções por mim definidas, com justificação semântica; é muito belo descobrir que existe um valor óptimo numa fórmula semanticamente relevante, demonstrar a existência e unicidade desse valor, aceder às coordenadas do maximizante definidas implicitamente por equações através de métodos numéricos...porque andou um lagrangiano metido ao barulho e eu quis comê-lo...paixões...

Mas olhe que acho muito mais avisado "o caminho do meio" dos budistas...que ainda por cima está ao alcance de todos, conforme eles próprios dizem.

Publicado por: pyrenaica às agosto 15, 2005 11:18 AM

Ou seja os valores extremos dos índices (sensu Peirce, "o fumo é um índice do fogo") saõ muito utéis porque calcula-se o mínimo e o máximo e vai-se mais ou menos pelo meio. Aliás é no meio que a água do fluxo corre mais e livramo-nos daquela dúvida temível que lançou Heraclito :"quem é violento, o rio que rói as margens ou as margens que o comprimem?"

Publicado por: pyrenaica às agosto 15, 2005 11:33 AM

O "mercado" pretende conquistar uma coisa: o Lucro. Ao Estado e à Lei compete manter o "mercado" dentro dos limites que na sua compreensível voracidade pelo Lucro não o façam devorar tudo aquilo que está à sua frente, incluindo aquilo que lhe permitirá sobreviver a médio e longo prazo.

Quando o governo Bush faz eco das pressões dos grupos financeiros e industriais que defendem que a redução das emissões de CO2 implicaria uma crise económica age suicidariamente a longo prazo, pensando apenas nos lucros de curto prazo. Assim se vê que a "racionalidade do Mercado" nem sempre é verdadeiramente "racional"...

Publicado por: Rui Martins às agosto 15, 2005 11:43 AM

parece que se chama a isso a "pulsão de morte"

Publicado por: pyrenaica às agosto 15, 2005 11:45 AM

à qual se opõe dialecticamente, a pulsão de vida eheh

Publicado por: pyrenaica às agosto 15, 2005 11:54 AM

só para me ir embora: Apocalypse em grego, tanto quanto sei, só quer dizer revelação: revelação da verdade.

Publicado por: pyrenaica às agosto 15, 2005 12:12 PM

Não me parece que Bush seja um exemplo do liberalismo económico. Bush é um "neocon". É um erro confundir direita com liberalismos. A esquerda é mais propensa a uma visão estatista da economia, mas a direita também o é, por vezes, ou então não tem em atenção a necessidade de de perservar a liberdade do mercado.

Publicado por: Hector às agosto 15, 2005 12:27 PM

elmano às agosto 14, 2005 10:42 PM:
Eu li isso no site da SIC e é um disparate. É a teoria da conspiração paranoica.
Cada vez há mais meios e cada vez os incêndios são maiores. Os pirómanos que há, sempre houve e são gente sem instrução e sociopata. Agravar a moldura penal tem pouco efeito.
O fogo combate-se pelo ordenamento das florestas, abrindo caminhos corta-fogos, aceiros e desmatando com frequência. No estado em que as florestas estão presentemente, nem que tivessemos todos os meios do mundo, conseguiriamos fazer muito melhor

Publicado por: Hector às agosto 15, 2005 12:32 PM

Em 1988 o meu querido Prof. António Manuel de Azevedo Gomes, chamou-me à sua casa da Parede, vivia eu então em Lisboa.

Tinha sido o meu Professor de Ecologia, tinha-me feito conhecer O Macroscópio de Joel de Rosnay e o Odum.

Deu-me um livrinho com dedicatória. Morreu pouco tempo depois.

A. Gomes era demasiado grande para a pequenez do meio universitário, era catedrático, mas foi para SE das Florestas, ficou bloqueado por um ministro da Agricultura "moderno", e depois foi para Deputado da Nação.

O livrinho chama-se "Contra Atraso, Deleixo, Parasitismo - Uma Alternativa Sectorial", Publicações Ciência e Vida, Lta, Dezembro de 1985.

Na pag. 27 lê-se:

"... Com o advento da Democracia, interesses económicos "sem rosto, sem credo e sem balizas", aproveitando-se de uma transição necessariamente difícil, promoveram a transmudação (sic) do incêndio na floresta de factor ecológico de ocorrência normal em factor de catástrofe nacional: onde ardiam em média e por ano (período de 1968-73) uns 10 000 hectares passaram a arder cerca de 4,4 vezes mais, sem que haja mudado nem o clima e nem a floresta."

Bem, é verdade que o clima já mudou um pouco e a floresta pode imaginar-se... Em 2003 arderam 430 000 ha, no consulado de Durão Barroso. Este ano é quanto? Já vai em mais de 100 000 ha.

Teoria da Conspiração, pois é.

Publicado por: pyrenaica às agosto 15, 2005 01:46 PM

Devia ter feito o preview, façam as correcções, pf:
- o sic fui eu que pus
- não é 4,4 é 4,5
- o "e" entre o "nem,.. nem", está a mais.

Publicado por: pyrenaica às agosto 15, 2005 01:50 PM

Só para acrescentar que em 1957 o A. Gomes deixou um livro escrito na Sá da Costa chamado "Medição dos Arvoredos", que ainda hoje é uma referência que muitos matemáticos não conseguem acompanhar (Regressão linear Múltipla, Joana, em 1957 e Regressão não-linear...). Era o livro de suporte de uma disciplina chamada Dendrometria.

Publicado por: pyrenaica às agosto 15, 2005 02:02 PM

http://csiweb2.cite-sciences.fr/derosnay/cv.html

Publicado por: pyrenaica às agosto 15, 2005 02:24 PM

Hector às agosto 15, 2005 12:32 PM:
De acordo. Continua a discutir-se os meios e esquece-se o fundamental: a profilaxia.

Publicado por: Sa Chico às agosto 15, 2005 02:49 PM

É fácil falar de interesses ocultos. Com essa desculpa não fazemos nada, apenas nos acusamos uns aos outros.

Publicado por: Sa Chico às agosto 15, 2005 02:51 PM

Mas eu concordo com o Hector, é preciso fazer coisas: a rede priméria, a rede secundária, faixas de folhosas, fogos controlados, etc. E é nisso que está a aposta principal.

Agora não vale a pena ignorar a potência do inimigo.

Publicado por: pyrenaica às agosto 15, 2005 02:58 PM

Hector às agosto 15, 2005 12:32 PM

José Gomes Ferreira tem razão como tem o senhor.
Há uma industria do fogo sem dúvida. todos os aspectos apontados não são teorias da conspiração mas sim o que se passa todos os verões. aliás é conhecimento público, que "os Loucos" muitas vezes não são mais que instrumentos pagos de madeireiros. Veja as notícias e repare quantos dos supostos incendiários são desempregados. Vá ver apenas.

Mas o que diz também é verdade, há que existir um ordenamento da floresta.
Não no entanto um ordenamento a qualquer custo.

Mas já escrevi aqui neste blog acerca disto e pode ir ver.

Mas o senhor cai exactamente na ingenuidade como muitos fazem e que promove exactamente a continuação do estado de coisas, de que os incêndios são quase todos provocados por pirómanos burrinhos e maluquinhos.

Deixe de parte essa ingenuidade.

Publicado por: Braveman às agosto 15, 2005 03:01 PM

Publicado por: Hector às agosto 15, 2005 12:32 PM

O pior cego não é o que não vê! É o que não quer ver.
É demasiada gente a dizer coisas semelhantes, para ser simples paranóia e Teoria da Conspiração.
Foi a Presidente da Camara de Ferreira do Zezere. Foi o Presidente da Camara do Fundão. Foi o Presidente da Camara do Pombal! O Sub-Director de Informação da SIC. Jornalistas que acompanham a coisa no terreno.
Veja Hector: Se não houver fogos, os que vivem do aluguer de aviões e helicópteros não facturam. Se não hover fogos, os que vivem do fornecimento de consumíveis aos bombeiros não facturam!.
Há muita gente crescida e interessada apanhada com a boca na botija: Serão todos ininputáveis?
Quando vamos despertar? Quando o Jardim à Beira Mar Plantado estiver completamente estornicado?
Tenham dó deste pobre país!

Publicado por: elmano às agosto 15, 2005 03:14 PM

Publicado por: Hector às agosto 15, 2005 12:32 PM

Desculpe Hector, mas não terminei. Concordo consigo que é preciso fazer coisas. Todas as que são apontadas: Acessos, Aceiros, Limpeza da Floresta, Ordenamento, Emparcelamento e ainda...uma Rede de Bocas de Incêndio para colocar o Acesso à Água perto dos locais onde há riscos de incêndio.
Mas é preciso fazê-lo! Como? gerindo correctamente os parcos recursos. Começando a organizar a prevenção dos fogos no Inverno. Promovendo a vigilância logo na Primavera. Atacando de imediato antes que o fogo fique descontrolado!
Punindo os incendiários e os seus mandantes! Fixando preços para a madeira ardida, não permitindo que o crime compense.

Publicado por: elmano às agosto 15, 2005 03:26 PM

Hector às agosto 15, 2005 12:27 PM

Diz o Hector que Bush não é um exemplo do liberalismo económico.
Para muitos comentadores deste blogue (não sei se é o seu caso), quando se discute ecologia, o modelo económico americano não é liberal, é conservador (porque se fosse liberal, borraria a pintura).
Se, eventualmente, se discutisse a pujança da economia ou outro parâmetro qualquer em que os EUA apresentam melhores indicadores que a Europa, isso já seria crédito da economia liberal americana.
Para muitos, a regra é: os EUA são liberais para as coisas boas e conservadores para as más.

PS: Não infira do que escrevi, que tenho uma visão maniqueísta destas questões. Não odeio Bush nem idolatro o eixo franco-alemão.
Bem sei que, para outros tantos, o que de mal sucede no nosso planeta, é culpa dos americanos...

Publicado por: Vítor às agosto 15, 2005 04:13 PM

Joana:
gostava que referisse um país onde a aplicação dos modelos (“de carácter operacional”) da teoria económica neoclássica, aos valores ambientais, tenha sucesso.
Só para contextualizar.

Publicado por: Vítor às agosto 15, 2005 04:15 PM

Eu assumo que mesmo não contando com as vítimas civis de Hiroxima e Nagasáqui - e não me venham com tretas sobre a retaliação de Pearl Harbour: este foi um ataque militar a uma base militar!- o código de honra militar foi violado pelos americanos - desde 1945 para cá o maior número de vítimas civis é, sem qualquer dúvida, imputável à política imperialista dos EUA no exterior. Isto para mim tem o estatuto de facto. E acompanhando a performance (ou melhor: o desempenho) do Dow Jones vêem-se curiosas coincidências que traduzem a realidade.

Daí até pretender que os soviéticos tenham sido bonzinhos vai uma grande distância. Mas esses já foram. Os outros ...

Publicado por: pyrenaica às agosto 15, 2005 04:35 PM

Publicado por: pyrenaica às agosto 15, 2005 04:35 PM

A sua sorte é VPV não o ler, senão levava o mesmo tratamento que A Grande Cabeça Pensante levou nas páginas do Público, sobre as atómicas bombas.

Publicado por: carlos alberto às agosto 15, 2005 04:53 PM

E se ler, lê. Quem é a Grande Cabeça P, é o FL ou o MP? Não li. Fica para o Ginkgo fazer um juízo justo, já que ele é mais antigo do que eu, pyrenaica, na ordem geológica de Gaia.

Publicado por: pyrenaica às agosto 15, 2005 05:02 PM

Mas atenção eu não estou do lado dos fundamentalistas islâmicos e do terrorismo, acho também isso uma tristeza.

Por isso é que proponho que Portugal lidere uma terceira posição, que faça reviver o espírito do califado de Córdova por exemplo.

Publicado por: pyrenaica às agosto 15, 2005 05:19 PM

pyrenaica às agosto 15, 2005 05:02 PM

Pelos vistos, a Grande Cabeça Pensante deve ser o Miguel Portas, senhor pelo qual nutro alguma simpatia, ao contrário do que sucede com Francisco Louçã (não conheço, pessoalmente, nenhum dos dois) e com Vasco Pulido Valente (uma espécie de João Jardim erudito dos cronistas que, entre uma baforada e um gole, arrota umas "postas de pescada" a saber a fel).

Sobre o que se escreveu, diga-se que, apesar de não ser taxativo usar o termo terrorismo a propósito da utilização daquelas bombas atómicas, VPV responde revelando um cinismo atroz e um desplante digno de registo.
Dizer que Trumman poupou a vida de milhões de americanos e japoneses, sabendo-se que o Japão se preparava, apesar da cegueira de alguns militares, para capitular, é no mínimo, aberrante.

Mas o VPV é que é o Filósofo e Historiador. A sua cabeça povoada de fantasmas (Eça, Marx, Cavaco, Saramago, Soares, etc.) é que sabe. E deve preocupar-se tanto com o que se diz neste blogue como eu me preocupo com o que ele diz.

Publicado por: Vítor às agosto 15, 2005 05:53 PM

É verdade é o Dr. Miguel Portas o que aliás era quase óbvio e eu considero uma honra para ele, pois VPV não perderia um minuto a responder ao Anacleto.

Ora aqui temos uma boa falácia.
O Japão ia render-se.
Mas então dez dias depois ainda estavam a pensar?

Ainda ontem no canal História passou um bom documentário sobre o que esperaria os americanos, bem calejados aliás por Iwo Jima e outras batalhas épicas, se tivessem que invadir um país onde a morte em combate era a suprema glória.

É conveniente recordar que era um bocado diferente do que invadir a França onde os "soldados" estavam deveras entretidos a comentar se o último Borgonha acompanhava bem o Camembert.

Publicado por: carlos alberto às agosto 15, 2005 06:09 PM

Veja-se entretanto como se pode ser desonesto:

“""Vasco Pulido Valente atirou-se ao meu artigo sobre Hiroxima e Nagasáqui. E repetiu a lenda com que Harry Truman justificou a sua própria consciência que as duas bombas atómicas - apesar de terem ceifado no acto 140 mil pessoas e mais cem mil nos meses seguintes, fora o resto que se sabe - tinham poupado numerosas vidas norte-americanas e japonesas”""

Miguel Portas avança com o número de mortos das bombas atómicas , 140 mil, mas quando chega aos americanos transformam-se em “numerosas vidas"

Publicado por: carlos alberto às agosto 15, 2005 06:13 PM

Mas qual é o número? Eu acho que ele não podia dizer mais que isso... Baseado em modelo previsional?

Não vale a pena tentar transpôr qualquer Hari Seldom para agora, nesses tempos da Fundação ainda não havia Teoria do Caos. Acho que só vamos lá pela poética.

Seja como for a mim chega-me para ficar mais contente que o biloba tenha rebentado em 1946, outra vez. Esta eu só soube hoje!

Publicado por: pyrenaica às agosto 15, 2005 06:34 PM

A «confusão» entre o liberalismo e o «vale tudo» não é nenhuma confusão feita por iliberais. O liberalismo é, por definição, o vale tudo; é o «laissez faire, laissez passer».
Mas se já não bastava o Estado não «deixar fazer nem deixar passar», agora os desastres ambientais impedem o funcionamento do mercado! De que mercado, pergunto eu? Há mercados que ficam prejudicados com um desastre ambiental, como foi o caso do turismo no Indico depois do Tsunami. E há mercados que saiem beneficiados, pois depois de uma destruição é preciso construir. Mas se calhar o mercado em causa é o mercado perfeito que só existe no mundo platónico das ideias eternas.
É interessante verificar como alguns conceitos utilizados pela economia foram apropriados à ética, o que não deixa de expressar uma inversão e transformação dos princípios que orientam os homens. Assim, o conceito «Bem» foi apropriado pela economia para adquirir o significado de produto; e o conceito «Valor» passou a ser sinónimo de preço. Assim, constrói-se uma hierarquia de valores em que estes são ordenados consoante a sua expressão monetária. Se o preço do ar é elevado então este tem bastante valor, se não é então não tem valor!
Esta inversão que se traduz numa sacralização do mercado – que até o liberal Popper rejeitava* – e do consumismo leva à consideração de que a ética e os valores são meros «moralismos». Como o valor supremo é o dinheiro, tudo, mas mesmo tudo, passa a ser avaliado em termos de preços! E como bem é um produto, não é de admirar que se é aquilo que se tem, e que o Ser tenha sido substituído pelo Ter, como conceito e atitude fundamental.
Que consequências tem isto no valor da liberdade, que anda sempre na boca dos liberais? Por um lado, a liberdade só terá valor se puder ser comprada, vendida, trocada. Por outro lado, não se é livre, mas tem-se liberdade. Isto é, a liberdade deixa de ser o poder-ser, para passar a ser o poder-ter. Nada que não seja estranho nos dias de hoje, tanto na linguagem como na vida!
Enfim, o que esta absolutização do mercado revela é que não vivemos numa economia de mercado, nem tão só numa sociedade de mercado, mas sim num Universo de mercado!


* É absolutamente verídico ser possível que alguns problemas – a poluição do ar, por exemplo – necessitem de uma legislação específica. Há adoradores ideológicos do denominado “mercado livre” que pensam que tal legislação que limite a economia de mercado é um passo perigoso no caminho da escravidão.Mas isso também é um disparate ideológico. Karl Popper

Publicado por: Carlos às agosto 15, 2005 06:37 PM

Vítor às agosto 15, 2005 04:15 PM
Como escrevi, Muitas das actuais taxas, tarifas, normas e regulamentos, sistemas de coimas e outras formas quer de conteúdo claramente económico, quer aparentadas com coacções administrativas, têm suporte, directo ou indirecto, em trabalhos da teoria económica., mesmo as portuguesas. Ou seja, basearam-se em estudos que tiveram em conta aqueles conceitos económicos.
Cito-lhe um caso interessante de "leilão" do direito a poluir, baseado na teoria económica: o programa de redução das emissões de SO2 nos EUA iniciado em 1991. O objectivo era lutar contra as chuvas ácidas resultantes do transporte a longa distância de sulfatos e nitratos provenientes do SO2 e dos Nox entre os Estados do Middle West e os da Nova-Inglaterra e, de modo mais geral, do Nordeste. Como base de referência para esta política foi escolhido o nível das emissões e não a incidência final sobre a qualidade do ar ambiente. O grande número de fontes implicadas nestas emissões e a grande amplitude geográfica do fenómeno das chuvas ácidas militaram para a utilização de um sistema de troca comercial de licenças de emissão. As instalações em causa foram exclusivamente centrais termo-eléctricas de mais de 25 Mw.
As licenças podem ser livremente vendidas e compradas entre centrais eléctricas sem exame nem aprovação prévia da entidade reguladora. Esta conserva contudo o registo de cada transferência de licença. Uma verificação anual do respeito pelas normas de emissão permite assegurar-se que as fontes não ultrapassem o volume de emissões coberto pelas licenças que aquelas detêm.

Publicado por: Joana às agosto 15, 2005 06:41 PM

A valorização dos bens ambientais não traduz uma "sacralização" do mercado. Sem essa valorização não é possível fazer escolhas e determinar as melhores soluções, actuais e intergeracionais..
Sem essa valorização só é possível emitir tiradas moralistas e papaguear sermões estéreis. Fazer o quê? Proibir tudo, às cegas?
O conceito do laissez faire com o significado do "vale-tudo" é estranho à economia clássica.
Quem assimila o liberalismo económico e o "vale-tudo" é o totalitarismo de direita (a plutocracia contra a qual "lutavam" Hitler e Mussolini) e o totalitarismo de esquerda. O Salazarismo fez isso e continua viva essa "assimilação" entre os órfãos de Marx e Lenine.

Publicado por: Joana às agosto 15, 2005 06:55 PM

Joana sonha todos os dias com fantasmas.

Publicado por: zippiz às agosto 15, 2005 09:21 PM

Braveman às agosto 15, 2005 03:01 PM
“é conhecimento público, que "os Loucos" muitas vezes não são mais que instrumentos pagos de madeireiros.”
Será do “conhecimento público” mas nunca se provou nada em tribunal dessa “Conspiração”. O que se tem provado é serem pirómanos (alguns são bombeiros!) ou resultado de vinganças entre vizinhos. Também há muita negligência e acasos.

elmano às agosto 15, 2005 03:14 PM:
Primeiro, a Teoria da Conspiração era a das celuloses; depois foi dos imobiliários; depois veio a dos madeireiros; agora, com os meios que existem, a Conspiração é dos proprietários desses meios. E já agora, não será da SIC, que dedicou os primeiros 20 min. do TJ de hoje aos incêndios? E não será a Conspiração dos jornalistas da Teoria da Conspiração para aumentarem as audiências? Há mais de 30 anos que ouço e leio histórias dessas. Nenhuma teve fundamento.

A Teoria da Conspiração tem várias vantagens:1) Tem sempre uma boa audiência. O povinho pela-se por conspirações; 2) Serve de álibi para não ir ao fundo dos problemas. Custa muito menos gritar contra interesses ocultos, que passar o ano a tratar da floresta.

Publicado por: Hector às agosto 15, 2005 09:24 PM

Uma segunda rodada anti-americanismo é insuportável. As pessoas têm que decidir se querem uma vida mental ao nível dos humanos ou dos chipamzés. Fazer o papel de idiota útil é assim tão bom?

Publicado por: Mario às agosto 15, 2005 10:34 PM

Cada um tem os insuportáveis que merece. Quanto à outra parte leia o Macaco Nú de Desmond Morris.

Publicado por: pyrenaica às agosto 15, 2005 11:01 PM

"Porque é que o Estado tem 700 milhões de euros para comprar dois submarinos e não tem metade dessa verba para comprar uma dúzia de aviões Cannadair?"

Mas alguém, no seu perfeito júizo, troca 2 submarinos por 12 aviões ? Há alguma coisa mais linda que um submarino atracado no Alfeite, passeando-se na costa ou fazendo exercício no âmbito da NATO ? Só um idiota inútil !

Publicado por: zippiz às agosto 15, 2005 11:08 PM

e já agora

Publicado por: pyrenaica às agosto 15, 2005 11:09 PM

uma capicua antes de dormir!

Publicado por: pyrenaica às agosto 15, 2005 11:09 PM

pyrenaica às agosto 15, 2005 09:51 AM
“imagino que a Joana em posts que porventura não li tenha chegado ao alemão”
E imagina muito bem. Por exemplo, leia, sff:

Marx Neoliberal
http://semiramis.weblog.com.pt/arquivo/2005/01/marx_neoliberal.html

Marx Neoliberal-Educação Gratuita?
http://semiramis.weblog.com.pt/arquivo/2005/01/marx_neoliberal_1.html

Marx (in)actual
http://semiramis.weblog.com.pt/arquivo/2005/02/marx_inactual.html

Quanto ao resto, julga que sou uma Desperate Housewife, que tenta curar a depressão permanente escrevendo um blog, em vez de andar a chatear e a meter-se na vida dos vizinhos?

Publicado por: Joana às agosto 15, 2005 11:30 PM

zippiz em Agosto 15, 2005 11:08 PM,
Resposta (quase) possível :
Porque os Canadair servem para apagar fogos e os submarinos andam debaixo de água.

Publicado por: asdrubal às agosto 16, 2005 01:04 AM

Joana, acho que não conheceu a Paula Allencar (Dina Sfatt) da Avenida Paulista, senão não entendo a sua pergunta. Era tudo menos uma D. H.- no fim da série, quando ela visita na prisão o tipo que engerocou, dá-lhe como prenda o Mito de Sísifo de Camus. Leu o Estrangeiro?

De resto você é libertária de direita e eu libertário de esquerda, e por qualquer razão fatídica eu apeguei-me ao seu blogue. Mas vou para férias e o roaming é só para sms.

Publicado por: pyrenaica às agosto 16, 2005 08:34 AM

Carlos às agosto 15, 2005 06:37 PM

Só agora li, mas subscrevo totalmente o que escreveu. E é curioso como a contestação da Joana se limita a dizer que não é nada assim, sem apresentar um único raciocínio ou argumento para suportar essa negação.

Publicado por: Albatroz às agosto 16, 2005 10:34 AM

Joana às Agosto 15, 2005 06:55 PM
É óbvio que "A valorização dos bens ambientais não traduz uma "sacralização" do mercado." Também me parece óbvio que essa valorização é indispensável para que se possam discutir, seriamente, as políticas ambientais, e condicionar, de uma forma fundamentada, as actividades económicas, à necessária salvaguarda dos recursos naturais.

Mas, embora possa não ter sido esse o sentido que pretendeu dar ao seu post, fica-se com a sensação de que a economia neoclássica, como lhe chamou, foi a responsável pelo despertar para esta problemática. É óbvio que compete aos economistas, a construção de modelos de análise de eficiência económica, que considerem as externalidades ambientais. É esse o seu trabalho.
Até porque, a partir de determinada altura, se tornou imperioso, para a maioria das empresas, interiorizar estes problemas e, inclusive, projectar essa interiorização, como estratégia de marketing.

Mas não podemos esquecer (porque seria esquecer muito) o papel da opinião pública, numa primeira fase, organizada em, chamemos-lhe assim, “associações de lesados” e, posteriormente, em ONG’s que atingem um âmbito transnacional, no impulso e acompanhamento de todo o processo. Não podemos esquecer também o papel de alguns partidos políticos (não só os Ecologistas) no caminho trilhado. Foi por pressão da sociedade que os economistas se empenharam a construir modelos que integram a valorização do ambiente.

Por isso, esqueçamos o ruído. Esqueça as “tiradas moralistas e sermões estéreis” de alguma ecologia militante mais preocupada com o protagonismo, como eu tento esquecer as lengalengas hipócritas das empresas que fazem da ecologia apenas uma fachada e dos políticos cínicos que, descaradamente, procuram a todo o custo demonstrar os malefícios das preocupações ambientais na competitividade económica dos seus países.

Publicado por: Vítor às agosto 16, 2005 11:04 AM

Now for Some Real Monkey Business

By E.J. Mundell
HealthDay Reporter Mon Aug 15, 7:02 PM ET

MONDAY, Aug. 15 (HealthDay News) -- In recent studies, scientists tracked the behaviors of shoppers and investors as they spent money snapping up things on sale or investing in low-risk transactions.

And when these same consumers noticed that one shopper was getting a special deal, they reacted in a very human way: by flinging their money back in the seller's face in a righteous show of anger.

But these study subjects weren't human -- they were a troop of capuchin monkeys, native to the jungles of South America.

Scientists say the capuchins' "animal behavioral economics" are bringing new insights to everything from the stock market to the tit-for-tat reciprocity of daily human life.

"You can't explain everything that happens in economics by market forces -- you have to look at the human animal. And as soon as you look at the human animal, you notice that we have a lot in common with other animals, too," said Frans de Waal, a professor of psychology at Emory University and director of the Living Links Center at Emory's Yerkes National Primate Research Center.

Until fairly recently, economists believed the marketplace worked on a simple principle: everyone was out to maximize their own personal gain. But that theory doesn't quite fit with reality, according to Yale University primate researcher and professor of psychology Laurie Santos.

"For example, there's the curious problem of why humans don't put as much money into stocks as they do into bonds," she said. Over the long-term, stocks always outperform bonds, even though short-term dips in an individual stock's value are common. With stocks "you're more likely to look in your portfolio and say 'Oh, I lost $1,000 this month' -- even though you still make more money over the course of a year than you would with bonds," Santos said.

So why don't humans make the rational choice and play the stock market more?

The answer lies in the "reference point" -- an irrational habit that humans have of gauging economic performance against what happened yesterday or last month, or by the type of success or failure a neighbor might be having. Many economists have suggested that this illogical tendency is simply a product of human society, easily changed.

"Is this really the case?" Santos wondered. "Or is it something that's much more deeply ingrained?"

She turned to our primate cousins for help.

Working with a group of capuchins in her Yale lab, Santos and her colleagues first spent a few weeks training them to the concept of "money" -- in this case aluminum tokens that were exchangeable for food. "Even though we trained them, the monkeys spontaneously understood on their own that the market was 'fungible' -- that they could buy anything with the token -- grapes, apples, whatever was offered," she noted.

What's more, they also spontaneously latched on to the simple rules that drive the human marketplace. For example, if the researchers started swapping a token for one piece of apple but two grapes (essentially a "50 Percent Off All Grapes!" sale) the monkeys immediately chose to spend their money where it bought the most -- grapes. "It's what an economist calls a 'shift in consumption,'" Santos said.

The capuchins were also in tune with the "reference point." In one experiment, monkeys were given two options in spending their token: one researcher who offered just one piece of apple but sometimes rewarded the monkey with a "bonus" second piece; or a second researcher who initially showed the monkey two pieces but sometimes delivered just one apple slice in exchange for the token.

Either way, it was a gamble: the monkey was guaranteed at least one slice -- but might get two.

However, the capuchins overwhelmingly rejected transacting with the researcher who presented them with the two apple slices. The reason? "If they think they are going to get two pieces of apple, one piece just doesn't seem that great," Santos said. "But if they think they are going to get one piece, then getting two pieces seems really awesome."

This behavior -- a disproportionate fear of loss versus gain -- is exactly the reason humans prefer bonds to more lucrative stocks, she said. Her team plans to publish the study results soon.

Experiments conducted at the Yerkes lab and published in 2003 in Nature were even more intriguing.

A team led by Dr. Sarah Brosnan found that capuchins quickly understood that humans would accept pebbles (money) in exchange for cucumber slices. Monkeys swapped pebbles for cucumbers happily. Then, one day, a researcher suddenly rewarded just one of the monkeys with grapes -- a much more desirable commodity.

The result was pandemonium, de Waal explained. All of the monkeys who had not received the grape "suddenly got very agitated, they got obviously mad at us, the experimenter, the situation." The capuchins essentially went on strike, hurling both pebbles and cucumber slices -- which they had been greedily munching just a minute before -- out of the test chamber.

According to de Waal, this type of "outrage" against apparent inequalities in the marketplace influences human financial dealings every day. "It's irrational, and the monkeys were showing a similar irrationality -- of course a piece of cucumber is better than no piece of cucumber. But when a neighbor gets grapes, the cucumber is rejected," he said.

The capuchins are highly social animals, but it's pretty clear they're not acting from a sense of social injustice. "They don't understand the long-range implications for themselves, their society or their position. But in the same way, we probably don't either, most of the time," de Waal said.

Among capuchins and humans alike, the resentment primates feel when they think they are getting less than their neighbor is, "does, in the long run, have an effect on the level of cooperation you get from others," he said. "You're making sure that you get the right amount of reward for the right effort."

In the end, then, the capuchin studies suggest that "irrational" human economic behaviors may have logical roots in our evolution as highly social animals.

According to Santos, "It suggests that to really convince people to overcome these biases, we may have to dig a little deeper before we can get them to behave a little more rationally on their own."

More information

Learn more about capuchins and their behaviors at the Yerkes National Primate Research

http://www.emory.edu/LIVING_LINKS/capuchins/Index.htm

Publicado por: lucklucky às agosto 16, 2005 11:12 AM

Pois é: quando o "senso comum" é elevado ao pedestal da grandiloquência, acontece o disparate.
A poluição citadina é fenómeno muito mais antigo do que a Joana pensa. Já em 1285 Eduardo I criou o que deve ter sido o primeiro comité ambiental da História, para tratar do problema da poluição londrina. E já Séneca se queixava do ar de Roma...
Assim sendo, os tais "prejuízos ambientais" já eram bem "visíveis nos finais do século XVIII"...

Publicado por: Esfinge às agosto 16, 2005 02:19 PM

Para os furiosos adeptos da Teoria da Conspiração nos incêndios aconselho a entrevista do Director da PJ de Coimbra, hohe no Público, onde afasta "interesses económicos organizados" e fala antes em "motivações fúteis": vingança, divertimento ou vandalismo.

Publicado por: Hector às agosto 16, 2005 03:12 PM

Ai, Hector, será que não vê que o homem não podia dizer outra coisa, em nome da meta-estabilidade das instituições? Fique com a sua que eu fico com a minha, mas numa coisa estamos de acordo: o passo principal a dar é em medidas positivas e concretas, como alguns de nós já aqui escreveram.

Publicado por: pyrenaica às agosto 16, 2005 04:44 PM

"The Mbuti pygmies of the Ituri Forest tell themselves something radically different from the story of apartness and dominion over nature that is the very opening brave-new-world statement of Genesis. The Mbuti knew they were part of the Ituri ecosystem"

pag. 165, Dominion - can Nature and Culture co-exist?, Niles Eldredge, 1995, Henri Holt & C., New York

Publicado por: pyrenaica às agosto 16, 2005 04:53 PM

Esfinge às agosto 16, 2005 02:19 PM:
Lamentável, com efeito. Para não falar do pivete nos corredores de Versalhes onde, nos recantos menos iluminados, os cortesãos (eles e elas), faziam as suas necessidades na mais rigorosa impunidade, sem a mínima preocupação que alguém da Quercus divulgasse, no pedestal da grandiloquência, aquelas afrontas ambientais, através dos arautos, pelas ruas de Paris.

E a vergonha que era os mercadores aramaicos despejarem o lixo que restava dos mercados da Babilónia, na Porta de Ishtar, mesmo debaixo das barbas frisadas de Nabucodonosor. Até sacos de plástico lá deixavam. E não haver um economista ambiental à mão para deduzir o valor de legado de semelhante incúria!

Publicado por: Joana às agosto 16, 2005 04:56 PM

Realmente o nobilizado Coase reabilita claramente a teoria neoclássica ao dizer que um dos falhanços do mercado se resolve com a criação de mercados sobre as externalidades, e notando que os direitos de propriedade nada influenciam o nível óptimo da externalidade (da poluição!), apenas tendo consequências na redistribuição da riqueza.

Mas o grande problema é o do controlo, com a correspondente penalização dos prevaricadores.

Se os rios ora aparecem azuis, e depois amarelos ou esverdeados e nada acontece, com prejuízos enormes para as populações e actividades económicas, alguma coisa de muito grave se passa ao nível do Estado, que não impede a ultrapassagem dos níveis óptimos de poluição.

Publicado por: Mário Farinha às agosto 16, 2005 05:37 PM

E já agora, a Semíramis providenciava pela limpeza dos seus jardins suspensos da Babilónia?

Publicado por: fbmatos às agosto 16, 2005 07:38 PM

É importante pôr as coisas no seu lugar. Muita gente fala, sem saber o que está a dizer. Apenas repetem chavões que ouviram.

Publicado por: Novais de Paula às agosto 16, 2005 10:04 PM

O que osdetractores do neo -liberalismo ainda não demonstraram é que a intrevenção estatal em matéria de ambiente é efectivamente mais eficaz que o mercado a corrigir os problemas decorrentes das diversas actividades.
afigura-se-me que os problemas ambientas são de tal forma complexos que os problemas de informação e custos dessa informação levarão sempre á tomada de medidas na melhor das hipoteses ineficientes.
Ana Vasconcelos

Publicado por: Ana Vasconcelos às agosto 21, 2005 03:26 PM

Acho piada que, no meio de tanta guerra entre neo-liberalismo e "anti-liberalismo" (não sei que chamar aos netos de Marx e aos filhos do Che), quase ninguém tenha observado a conclusão final e essencial do post da Joana: apesar de a teoria económica neoclássica ser a que melhor pensou e tentou integrar os problemas ambientais - mais do que quaisquer soluções legalistas/estatistas com a sua ineficiência intrínseca - e ter a melhor base teórica para as soluções mais avançadas actualmente em uso, tal teoria não atinge nem resolve completamente o problema crucial da dicotomia economia/ambiente.




Tal problema é (tal como Joana indica no final do post) o carácter "antropocêntrico" - ou seja, ignorar as outras espécies - e "presentista" - ou seja, ignorar as futuras gerações - da actividade humana.




Qualquer solução que visa um equilíbrio mercado/ambiente tem então de trazer ainda para esse equilíbrio o peso da natureza (vulgo, outras espécies) e o daqueles que estão por nascer (mas já vão sofrer os "danos" dos que cá estão). E esse peso é um outro tipo de externalidade diferente do incluído no "custo marginal social". Seria mais correcto chamá-los, respectivamente, "custo natural integral" e "custo social integral", pois trata-se de verdadeiras bombas de custo a prolongar os seus efeitos para lá de muitos equilíbrios futuros. Não basta juntar uma taxa pontual.




Isto implica que o horizonte de análise tem de ser muito mais alargado e a taxa a introduzir tem de reflectir tudo isso NO MOMENTO em que tem de ser paga.




Indo mais fundo: é preciso que a economia passe a ser um capítulo de uma ciência maior que é a ecologia, que analisa TODO o ecossistema, em vez de apenas tentar reduzir um ecossistema ao conceito clássico de mercado. Num ecossistema, há outras transacções para lá das do mercado.




Ou seja, o equilíbrio do mercado pode funcionar dentro de um ecossistema em equilíbrio, mas o equilíbrio do mercado é uma ilusão quando este se encontra inserido num ecossistema em desiquilíbrio instável.




Basta pensar na evolução actual do petróleo para entender isto e perceber porque é que os ecologistas tinham MUITA razão ao avisarem há décadas para o que está agora a acontecer e os líderes de mercado os ignoravam então, também com razões que achavam válidas.





No entanto, estou consigo, Joana: há mais seriedade na abordagem teórica do "liberalismo" aos problemas ambientais do que na manipulação destes que se faz contra o "liberalismo".




É que, por muito que custe a uma certa esquerda, tem mais impacto sobre o ambiente um aumento de 1% do poder de compra e do nível de consumo da população do que um aumento de 10% da emissão de gases de todas as centrais térmicas. Simplesmente porque é generalizado e tem um efeito indutor devastador, tal como para uma plantação é pior uma praga de gafanhotos do que um bando de pássaros.




E, numa nota final que indirectamente tem a ver com isto, também é o carácter "presentista" da democracia moderna que a torna imperfeita e promotora de outros males, como o desiquilíbrio ambiental. O conceito (também "presentista") de luta de classe tornou-a numa ferramenta e desvirtuou o conceito inicial: escolher os melhores e escolher o futuro.


Também aqui há um paralelismo, e o tipo de solução (equilibrar internamente o que tem peso externo) é semelhante.

Publicado por: J P Castro às agosto 23, 2005 02:54 AM

desculpem os espaços exagerados (devia ser só uma linha) mas não controlei bem o "preview".

Por outro lado, se o Saramago e o tipo do Expresso podem inventar, porque não eu ?

Publicado por: J P Castro às agosto 23, 2005 02:59 AM

Sugiro uma visita ao blog Ambientalistas da Amadora

http://ambientalistasdaamadora.blogspot.com/

Publicado por: Ambientalistas da Amadora às dezembro 5, 2005 10:46 AM

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