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julho 03, 2005

Novamente a Irlanda

Ou o regresso de Sísifo

A fé no Estado e nas suas virtudes tem a mesma génese conceptual que a fé teológica. Se a razão se opõe, é a razão que está errada; se os factos a contrariam, é porque estão a ser mal interpretados ... pior ... tenta-se-lhes dar uma volta para os afeitar a uma interpretação que não comprometa as bases teologais. São os nossos genes, moldados pela omnipresença do Estado, pelo poder absoluto da Inquisição e por uma revolução dita liberal, mas que se limitou a transpor um Estado absoluto para um Estado de matriz jacobina em 2ª mão. Foi o que aconteceu com os meus textos sobre a diferença de políticas entre a Irlanda e a Bélgica e os resultados a que isso conduziu. Que aliás reeditavam conclusões idênticas de estudos apresentados aqui anteriormente.

A revolução económica irlandesa é muito interessante para nós, porque a sua génese foi uma situação com muitas semelhanças com a que nós vivemos há alguns anos. Como nós, a Irlanda era um país pobre, fundamentalmente agrícola e, pior que nós, com uma pesada herança colonial britânica. A partir da adesão à UE (1973) até meados da década de 80 a economia irlandesa caracterizou-se por um contínuo aumento da despesa pública, aplicando as chamadas “receitas keynesianas” para estimular a economia. O emprego no sector público cresceu bastante, os salários subiram significativamente, e apostou-se nas infra-estruturas públicas. Todavia, até 1986, a economia cresceu muito pouco. Entre 1980 e 86, o PIB cresceu 1,68% ao ano. A dívida externa atingiu 125% do PIB. Por sua vez, o desemprego, apesar das “receitas keynesianas” continuou a crescer, atingindo 17,3% em 1985 (ver quadro abaixo).

Para sustentar esta enorme despesa pública, os impostos foram aumentando progressivamente. Os últimos escalões dos impostos sobre o rendimento das pessoas singulares atingiram os 80% e a taxa de IRC situou-se nos 50%. Todo este descalabro era mascarado internamente pela desvalorização da libra irlandesa. A partir da 2ª metade da década de 80, com a vitória do Fianna Fail, houve medidas drásticas: eliminação de 10 mil postos de trabalho no sector público, cortes maciços na despesa pública (6% na saúde, 7% na educação, 18% na agricultura, 11% nas obras públicas e 7% na defesa). A despesa pública passou de 55% do PIB para 41% do PIB entre 1985 e 1990.

Em simultâneo foram incentivadas parcerias sociais entre empregadores e trabalhadores, por períodos de 3 anos, onde em contrapartida da moderação salarial, o governo oferecia uma baixa drástica de IRS e melhorias das prestações sociais. Todos os impostos (pessoas singulares, pessoas colectivas, capitais, etc.) tiveram cortes drásticos. O PIB começou a crescer a um ritmo superior (entre 1987 e 1993 cresceu a uma média de 3,7% ao ano) e o desemprego diminuiu ligeiramente, apesar da diminuição do emprego público (em 1993 a taxa de desemprego era de 15,7%). A conjugação das parcerias, diminuição de impostos e melhoria de algumas prestações sociais fez com que, apesar das medidas drásticas relativas à despesa e emprego público, a situação laboral irlandesa melhorasse, diminuindo as horas perdidas por paralisações laborais.

Estas medidas, conjugadas com a adesão ao euro e a estabilidade dos principais parâmetros macroeconómicos induzidos por essa adesão, tornaram a Irlanda um país extraordinariamente atractivo para os investidores internacionais, nomeadamente os americanos. Entre 1994 e 2000 a economia irlandesa cresceu a um ritmo de 8,2% ao ano e a taxa de desemprego caiu para 4,3% (ver quadro abaixo). A partir de 1989, o ritmo de criação de emprego situou-se em cerca de 25 mil por ano (para uma população equivalente a 40% da população portuguesa). Como as taxas que oneravam o factor trabalho desceram significativamente, os custos laborais irlandeses mantiveram-se baixos e atractivos, apesar do aumento da riqueza pública. Mesmo em 2003, um ano mau para a UE, a taxa de crescimento do PIB irlandês foi de 3,7%, subindo em 2004 para 5,1%, enquanto Portugal estagnava dramaticamente.

O rápido crescimento da economia irlandesa e o facto de se ter tornado o 2º país mais rico da UE (depois do Luxemburgo), possibilitou uma melhoria das condições sociais. A taxa de natalidade irlandesa é das mais elevadas da Europa (1,45%, contra 1,08% em Portugal) o que conjugada com uma baixa taxa de mortalidade (0,79%, contra 1,04% em Portugal) e uma elevada taxa de imigração líquida (0,49%, contra 0,35% em Portugal), possibilita à Irlanda um alto crescimento demográfico (1,16%, contra 0,39% em Portugal). Em Portugal é a imigração que sustenta o crescimento demográfico, enquanto na Irlanda ele é sustentado essencialmente pelo crescimento próprio.

O papel do Estado Irlandês neste milagre económico foi decidir emagrecer e assumir um papel essencialmente regulador quando, até 1985, havia sido um Estado investidor e com pretensões a criador de riqueza. Falhou totalmente nessas intenções. O Estado não tem vocação para se substituir aos empresários. A vocação do Estado é criar um clima favorável à actuação desses mesmos empresários. Não houve remédios mágicos: apenas uma economia de mercado concorrencial e sem barreira à entrada artificiais; um sistema fiscal economicamente eficiente; estabilidade política, social e fiscal; aposta na procura de investimento estrangeiro em indústrias de maior valor acrescentado; redução dos ónus fiscais que pesavam sobre o factor trabalho e aposta na melhoria da sua qualificação, produtividade e estabilidade das relações sociais.

Foi assim que a Irlanda passou de uma situação de bancarrota para a prosperidade que ostenta hoje.

Irlanda.jpg

O quadro que se segue é um gráfico representando a evolução do PIB e da Despesa Pública (DP) na Irlanda entre 1985 e 2002. Os valores estão a preços constantes. O DPb tem como fonte a OCDE e o DPa foi fornecido por um comentarista deste blogue.

IrlandaPIBDP.jpg

Publicado por Joana às julho 3, 2005 06:55 PM

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Comentários

Não deixa de ser verdade que a fé na economia é um "facto" mais antigo que a fé no Estado...

Um dos problemas chave da economia portuguesa, que urge resolver, prende-se com o dimensionamento funcional do Estado. E, para isso, importa olhar para as experiências dos outros países (boas e más) e retirar ilações, evitando contudo o "copiar" e "colar" de modelos (sejam eles: o francês, o nórdico, o irlandês, o albanês, etc.).

Concordo que o Estado deve assumir fundamentalmente um papel de regulador, sem prejuízo de, em algumas (poucas) áreas, poder tornar-se um prestador de serviços. Para desempenhar as suas funções, o Estado deve recrutar os melhores, estimular uma cultura de mérito e pagar-lhes adequadamente. Em suma, deve ser eficiente na gestão dos recursos.

Contudo,importa, em simultâneo com a resolução do problema do peso do Estado, procurar soluções para a nossa economia. O que fazer? Como fazer? Com que recursos?
O chamado "investimento produtivo" do Estado só poderá ser equacionado depois de encontradas as respostas a estas questões.
E não, como parece ser pretensão deste governo, anunciando investimentos apriorísticos em infraestruturas que não sabemos se irão ser necessárias.

Publicado por: Vítor às julho 3, 2005 07:31 PM

O chamado "investimento produtivo" do Estado foi a política irlandesa até 1985. Não foi "produtivo"

Publicado por: Joana às julho 3, 2005 08:14 PM

"a fé na economia é um "facto" mais antigo que a fé no Estado"?
Como, se a economia é uma ciência moderna?
Estados já existem há vários milénios, mais de 6. Economia há uns 4 séculos.

Publicado por: Novais de Paula às julho 3, 2005 08:53 PM

Parece que os irlandeses fizeram, há mais de 20 anos, as mesmas asneiras que nós. Duvido é que nós consigamos desfazer as asneiras como eles as desfizeram.

Publicado por: Novais de Paula às julho 3, 2005 08:54 PM

Em suma, tem de ser (sempre) o Estado a tomar as medidas necessárias para solucionar a(s) crise(s).
O grande problema é que não temos um Fianna Fail que nos valha.
E, provavelmente, nunca teremos.

Publicado por: Senaqueribe às julho 3, 2005 09:01 PM

Senaqueribe às julho 3, 2005 09:01 PM:
Neste caso, o Estado tem qye corrigir os erros que cometeu. É "solucionar", mas solucionar a situação que ele próprio criou.

Publicado por: Hector às julho 3, 2005 09:46 PM

Hector às julho 3, 2005 09:46 PM

Afinal, o Estado sempre tem virtudes... Logo, temos de ter fé no Estado(!...).

Publicado por: Senaqueribe às julho 3, 2005 10:02 PM

Quando as coisas não correm bem, é para o Estado que todos dirigem as suas preces. Até a Joana, claro.
Ou serão imprecações?

Publicado por: Senaqueribe às julho 3, 2005 10:07 PM

São imprecações

Publicado por: Joana às julho 3, 2005 11:15 PM

Eu acho que o modelo albanês não pode ser abandonado sem um estudo aprofundado. O camarada Enver era um hoeme de mérito.

Publicado por: Coruja às julho 3, 2005 11:37 PM

Na verdade, este desenvolvimento vertiginoso da Irlanda custa a acreditar. E custa mais porque nunca é referido. Os meios de comunicação portugueses nunca falam desse país. Quando ele era tão pobre como nós, falavam. Depois ...

Publicado por: Rui Sá às julho 3, 2005 11:39 PM

Para que não passe desapercebido à Joana, repito aqui um texto que deixei no "Sísifo 2":

"Cara Joana,

Deve ter reparado que os valores da despesa pública que eu referi - mas não inventei, dado que são estatísticas oficiais irlandesas - incluiem fundos não orçamentados. Não sei qual a origem desses fundos mas pareceu-me mais correcto incluí-los uma vez que fazem parte da despesa pública real. Isso explicará o pico excepcional em 1999. Deve também ter reparado que o acréscimo da despesa pública, a preços correntes, foi quase sempre superior à inflação, o que significa que a despesa pública aumentou quase todos os anos em termos reais. Assim sendo, não pode a Joana alegar que foi a diminuição das despesas públicas que esteve na origem do crescimento do produto da Irlanda, porque essa diminuição não se verificou. A diminuição do peso relativo da despesa pública da Irlanda deveu-se ao aumento do PIB e não à redução da despesa pública em termos reais. A minha conclusão é que um país tem de dinamizar o seu crescimento económico antes de poder reduzir o peso relativo da despesa pública. A Joana alega o contrário. Mas o exemplo da Irlanda não sustenta a sua alegação."

Isto não significa que, sendo possível, se não eliminem no curto prazo os desperdícios na despesa pública. Mas é fantasioso martelar na redução da despesa pública como instrumento para dinamizar o crescimento económico.

Publicado por: Albatroz às julho 3, 2005 11:49 PM

Pois, mas o que sucedeu na Irlanda foi exactamente o contrário, primeiro houve cortes substanciais na despesa pública. Depois começou a haver uma ligeira subida do PIB: "O PIB começou a crescer a um ritmo superior (entre 1987 e 1993 cresceu a uma média de 3,7% ao ano) e o desemprego diminuiu ligeiramente" e posteriormente acelerou-se "Entre 1994 e 2000 a economia irlandesa cresceu a um ritmo de 8,2% ao ano e a taxa de desemprego caiu para 4,3%"
Isto são factos.
Veja o quadro sff.

Publicado por: Joana às julho 4, 2005 12:06 AM

O problema é que você não consegue convencer investidores "a sério" a investirem num país com o Estado a funcionar mal (principalmente a justiça), com elevada carga fiscal e com o mercado laboral rígido.

Publicado por: Joana às julho 4, 2005 12:09 AM

Hoje passaram uma reportagem na SIC (segundo me parece) onde entrevistaram diversos pequenos empresários que não conseguem arranjar empregados porque estes preferem continuar a receber o subsídio de desemprego. Muitos vão lá apenas à procura de um documento para apresentarem no INEFP para certificar que foram procurar emprego

Publicado por: Joana às julho 4, 2005 12:12 AM

Olhando para os quadros, tudo indica que os cortes da despesa pública ocorreram antes do grande desenvolvimento da Irlanda.
Podemos perguntar em que medida concorreram para tal. Agora insistir em que foi ao contrário é que me parece estranho

Publicado por: Rave às julho 4, 2005 12:35 AM

Eu peço desculpa mas os dados estatísticos irlandeses não mostram qualquer corte nas despesas públicas antes do início do período de crescimento da economia. Agradecia que me informasse, em valores absolutos, qual o montante desses cortes.

Publicado por: Albatroz às julho 4, 2005 02:37 AM

Peço desculpa, mas faça as contas:
......DP p corr...Deflactor.DP const....DP do Estudo
1985...14.364.504...60,1%...23.909.856...23.036.231
1986...14.836.877...63,3%...23.428.714...22.774.945
1987...15.693.286...65,5%...23.953.823...22.630.386
1988...17.746.024...68,4%...25.944.028...21.540.678
1989...13.998.911...72,2%...19.397.112...19.974.566
1990...16.089.298...70,4%...22.852.695...21.155.034
1991...18.369.420...71,3%...25.745.707...22.719.363
1992...19.477.796...73,5%...26.483.169...24.554.633
1993...21.256.648...77,3%...27.501.051...24.911.013
1994...22.458.257...78,2%...28.717.514...24.344.457
1995...24.067.856...81,2%...29.639.222...25.552.529
1996...28.752.544...82,8%...34.732.088...26.227.050
1997...31.075.461...86,4%...35.967.055...27.130.332
1998...30.839.013...91,9%...33.548.450...29.538.974
1999...45.967.950...95,4%...48.182.017...30.005.036
2000...32.568.009..100,0%...32.568.009...35.042.100
2001...36.863.102..105,7%...34.890.887...36.054.881
2002...43.046.944..110,4%...38.999.616...40.817.227

A 1ª coluna é a que indicou. A 2ª coluna o deflactor do PIB, a 3ª coluna os seus valores deflacionados e a 4ª coluna os valores do estudo belga (valores por estimativa visual).
Entre 1985 e 1989 a despesa pública a preços constantes caiu 16% (ou 23% segundo os seus números). Em termos de % do PIB, a queda da despesa pública ainda é maior, mais de 25%.

Publicado por: Joana às julho 4, 2005 09:07 AM

Pois. Com excepção de 1989, em que houve uma redução significativa da despesa pública, nada no comportamento da despesa pública irlandesa traduz aquilo que anda a dizer. Ou seja, o crescimento do produto irlandês não pode ser a consequência de uma redução na despesa pública. Porquê insistir nessa ficção?

Publicado por: Albatroz às julho 4, 2005 09:14 AM

Publicado por: Novais de Paula às julho 3, 2005 08:53 PM

A economia "latu sensu" tem a idade do homem. Existia muito antes de ser reconhecida como ciência...

Publicado por: Vítor às julho 4, 2005 09:40 AM

E continuam a falar na (obviamente necessária) redução do peso do Estado como se, depois disso e através de um golpe de sorte ou lei da natureza, a economia passasse a funcionar às mil maravilhas. Creio que, infelizmente, o problema é mais profundo.

Insisto:
"Contudo,importa, em simultâneo com a resolução do problema do peso do Estado, procurar soluções para a nossa economia. O que fazer? Como fazer? Com que recursos?"

Publicado por: Vítor às julho 4, 2005 09:49 AM

Vítor às julho 4, 2005 09:49 AM: O que me parece por este estudo da Joana, pelos números apresentados e por outras coisa que tenho lido sobre este caso, é que o governo irlandês, para além de cortes drásticos na Despesa Pública, também criou outras condições para facilitar o arranque.
Mas criou condições, não se substituiu aos empresários.

Publicado por: Novais de Paula às julho 4, 2005 10:01 AM

E, sublinho, os cortes foram drásticos. Basta ver que, com os cortes da MF Leite, a Despesa Pública portuguesa continuou a subir, embora mais lentamente.
A descida da despesa pública irlandesa deve ter sido uma medida que terá mexido com muita gente

Publicado por: Novais de Paula às julho 4, 2005 10:04 AM

Novais de Paula às julho 4, 2005 10:01 AM

Também espero que o Governo não se substitua aos empresários. Raramente dá bons resultados...
Que faça o que tem a fazer e "deixem-nos trabalhar".

Eu, que não percebo nada de Finanças e quase nada de Economia, entretenho-me a filosofar sobre os sectores com alguma viabilidade:
- Turismo?
- Indústrias extractivas?
- Vinho?
- Azeite?
- Cortiça?
- Calçado?
- etc.

Mas isto não vai lá sem inovação, design, marketing, qualidade (essas coisas que ainda encaramos como chavões vazios de sentido).
Por outro lado, desconfio dos grandes projectos -a minha fé vai toda para as pequenas e médias empresas.

Publicado por: Vítor às julho 4, 2005 10:16 AM

«Foi assim que a Irlanda passou da bancarrota para a prosperidade».
Quem é «a Irlanda»? É os irlandeses? E nesse caso, que irlandeses? A maioria aritmética? Ou os donos do país? Quantos irlandeses ficaram mais prósperos e quantos ficaram mais pobres?
O que é que interessa a um tipo que ficou mais pobre que os donos do país tenham ficado tão ricos a ponto de puxar a média para cima?

Publicado por: Zé Luiz às julho 4, 2005 10:51 AM

A Finlândia também enriqueceu - e, ao contrário da Irlanda, enriqueceu homogeneamente. Não empobreceu a sociedade para enriquecer as empresas.

Publicado por: Zé Luiz às julho 4, 2005 10:55 AM

Caramba isto é a estória do ovo e da galinha, que canseira ! Ao que é que assistimos todos os dias ? Não é a um aumento exponencial do desemprego ? Não é ao indecoroso aumento de impostos ? Não é ao sacrifício das classes médias e ao aumento da pobreza e do mal-estar social ? Não nos dizem que o «novo modelo de desenvolvimento» passa por um forte aumento de emprego qualificado e altamente qualificado e que tal implica, forçosa e simultâneamente, um aumento considerável de desemprego e "a fortiori" da pobreza, bem como o desaparecimento de empresas obsolescentes, mal geridas, ou simplesmente ficcionadas ? Como é que se designa o «nome desta coisa» ?

Publicado por: asdrubal às julho 4, 2005 11:52 AM

Zé Luiz às julho 4, 2005 10:55 AM
Porque é que você argumenta em função dos seus desejos e não em função das realidades?
Entre 1985 e 2006 a Finlândia cresceu a sua riqueza nacional ao ritmo médio anual de 2,38%, enquanto o crescimento da Irlanda foi de 5,4%.
Quanto a empresas ricas, a Nokia e a Borealis (petroquímica) não são finlandesas?

Publicado por: Joana às julho 4, 2005 01:17 PM

Leia, sff, os meus posts Sísifo e o Estado 1, 2 e 3, nomeadamente os números e os gráficos, que são factos.

Publicado por: Joana às julho 4, 2005 01:19 PM

Albatroz às julho 4, 2005 09:14 AM:
OK. O avançado foi rasteirado na grande área, depois espezinhado e a seguir o defesa pegou na bola com a mão. Mas essa história do penalty é uma "ficção".

Publicado por: Joana às julho 4, 2005 01:22 PM

Joana:

A Nokia é uma empresa finlandesa e é uma empresa rica (da Borealis nunca ouvi falar). Tudo bem, não tenho nada contra as empresas ricas.

Tenho tudo, sim, contra as sociedades pobres.

Você acha que um crescimento de 5,4% é melhor que um crescimento de 2,38% - e eu, «cetera paribus», também acho. Mas não a qualquer preço, Joana, não a qualquer preço...

Publicado por: Zé Luiz às julho 4, 2005 01:34 PM

Se A for aumentado a 2,38% e B aumentado a 5,4%, então, daqui a 20 anos, se A recebe agora 100 passará a receber 160 e B, se recebe agora 100, receberá 286.
Não a qualquer preço? Pois não. Se fosse B pagava algum para receber quase o dobro de A daqui a algum tempo.

Publicado por: David às julho 4, 2005 02:07 PM

É de ficar de boca aberta com alguns comentários que aqui se fazem e com as piruetas mentais exibidas. É de ficar tão baralhado que começo a duvidar se a Irlanda existe.

Não sei como não vão recomendar aos irlandeses que sigam o modelo português. De certo que eles estão ansiosos por isso.

Publicado por: Mário às julho 4, 2005 02:16 PM

Tony "Mad Cow" Bliar quer destruir a agricultura europeia...


"The only thing they (the English) have ever done for European agriculture is mad cow," Chirac quipped, according to the paper, prompting laughter from Schroeder and Putin.

Publicado por: EUROLIBERAL às julho 4, 2005 02:46 PM

As vacas loucas são tipicamente britânicas: Sarah Ferguson, Diana de Gales, etc.

Publicado por: Coruja às julho 4, 2005 03:01 PM

A Irlanda foi uma invenção da Joana para chatear a malta de esquerda. Ela não existe. Nunca existiu.

Publicado por: soromenho às julho 4, 2005 03:02 PM

Aliás, um nome tão ridículo como "Irlanda" vê-se logo que foi inventado. E ainda que há uns tontos que acreditam nestas balelas.

Publicado por: Mário às julho 4, 2005 03:17 PM

A Irlanda só existiu enquanto esteve na cauda da Europa connosco e com a Grécia. Depois deixou de se falar nela. Agora descobri: enriqueceu, mas a nossa comunicação não fala disso, porque ela tornou-se um mau exemplo.

Publicado por: Hector às julho 4, 2005 03:36 PM

o estado não quer desfazer o que criou. A elite poiltica actual chupa o tutano de Portugal. Há contestação social não só por comodismo como por falta de esperança no futuro regido por estes senhores. O problem é que não existem soluções politícas para este país. o PSD e o PS são o aparelho, que engorda enquanto os outros apertam, o CDS ainda sofre de um estigma pós 25 de Abril. PCP e BE são mais do que duvidosos ideológicamente. O Presidente da República faz parte do aparelho partidário. o que resta? Nada. Algo que poderia responder à ansia de um projecto poderia ser a Monarquia, mas nem D.Duarte nem os muitos Vampiros que o rodeiam merecem o valor da dúvida.

Publicado por: braveman às julho 4, 2005 03:55 PM

David em julho 4, 2005 02:07 PM: O dinheiro não traz felicidade.

Publicado por: Susana às julho 4, 2005 04:06 PM

Susana às julho 4, 2005 04:06 PM

I don't care too much for money,
Money can't buy me love.

(Beatles)

Publicado por: Luís Lavoura às julho 4, 2005 04:19 PM

Pois, eles disseram isso e depois ficaram milionários a vender o disco. Temos que falar com o sobrevivente para ele dar o dinheiro desnecessário que tem à malta.

Publicado por: Coruja às julho 4, 2005 04:23 PM

Pois é, Hector. Agora percebi porque é que desde há 10 anos que ninguém fala da Irlanda (excepto no futebol)

Publicado por: Ant Curzio às julho 4, 2005 04:24 PM

A despropósito deste post, vi hoje que Portugal vem referido na Business Week deta semana lado a lado com alguns daqueles países que a Joana gosta de nos apresentar como bons exemplos do liberalismo (não a Irlanda). A Business Week classifica as taxas de poupança por país. Há países que poupam que se fartam: o Japão, a Alemanha, a China, a Rússia. Depois há países que são uns danados sorvedores de poupanças, porque consomem muito mais do que aquilo que produzem. Nestes, os Estados Unidos aparecem na Business Week lado a lado com a Inglaterra, a Austrália, a Espanha, e... Portugal.

Espantemo-nos pois com esta maravilha: esses países que a Joana gosta de nos apresentar como exemplos (os EUA, o RU, Espanha) emparelham com Portugal, esse país que a Joana abomina, no facto de produzirem todos eles muito menos do que aquilo que consomem, ou seja, de viverem à larga à custa daquilo que os outros lhes emprestam.

Por exemplo, o deficit de poupanças espanhol é grosso modo quatro vezes superior ao português - o que está de acordo com a população espanhola ser quatro vezes superior à portuguesa. O deficit de poupanças dos EUA é 60 vezes superior ao português - um nível de endividamento per capita muito superior ao nosso.

Publicado por: Luís Lavoura às julho 4, 2005 04:27 PM

Ingleses não têm agricultura (importam tudo) nem sabem cozinhar... Por isso querem dar cabo da agricultura da Europa ! Julgam que nos contentamos com fish and chips !!! A "Gayland" das "mad cows" e da Blairdalhoca deve sair da Europa. Está a mais...

Chirac took the opportunity of a receptive audience to snipe at British food. "You can't trust people who cook as badly as that," he joked, the paper said. "After Finland, it's the country with the worst food."

Ingleses NÃO SABEM COZINHAR ! YOOOOO!

Publicado por: EUROLIBERAL às julho 4, 2005 04:31 PM

Se o importar tudo levasse a cozinhar mal, Portugal seria onde se comeria pior, depois de Hong-Kong

Publicado por: Jarod às julho 4, 2005 04:54 PM

Joana às julho 4, 2005 01:22 PM

Para alguém que se considera perita em econometria esperaria que a Joana respeitasse mais os números e não tentasse convencer-nos de que 2+2=22.

Se em 18 anos a despesa pública irlandesa só num ano baixou significativamente em termos absolutos, onde é que a Joana vai buscar a ideia de que o crescimento económico da Irlanda foi uma função do corte nas despesas públicas? Quanto muito poderá dizer que o crescimento económico da Irlanda foi auxiliado por uma recusa de fazer a despesa pública crescer ao mesmo ritmo do PIB. Aí já estaríamos de acordo, mas não é isso que a Joana insiste em dizer, agora com futebol à mistura...

Publicado por: Albatroz às julho 4, 2005 05:35 PM

... de facto é uma verdade insofismável, fiquei pasmado com a péssima cozinha inglesa. E o café ?! Tchhh, é uma coisa intragável-intragável.

Publicado por: asdrubal às julho 4, 2005 05:40 PM

Irlanda

A História da Irlanda pode ensinar-nos alguma coisa.
Este país (a quem devemos agradecer James Joyce e Van Morrison, entre outros) passou por uma crise terrível em meados do século XIX. Um ataque maciço do fungo Phytophthora infestans, dizimou a cultura da batateira, tendo sido responsável pela morte de cerca de 1 milhão de pessoas e a emigração de 1,5 milhões (principalmente para os EUA). O problema consistiu na elevada dependência alimentar de uma única cultura, a batateira, agravado pelo facto de se tratar de uma só cultivar (e, portanto, uniforme do ponto de vista da composição genética).

Salvaguardadas as devidas distâncias e o respeito aos que sofreram, a economia portuguesa anda pelo mesmo caminho:
No vale do Ave e Cávado é (era?) o têxtil;
No sector automóvel, é a Autoeuropa;
No vinho, é o Vinho do Porto;
etc.

E parece que os fungos chineses e de leste já começaram a atacar...

Publicado por: Vítor às julho 4, 2005 06:08 PM

David:
Você está a pressupor que os 5,4% são tão sustentáveis a 20 anos como os 2,38%. É pressupor muito; em todo o caso a sustentabilidade faz parte do «cetera» que eu mencionei.

Publicado por: Zé Luiz às julho 4, 2005 06:14 PM

Albatroz: Já que você não consegue interpretar números, veja se entende o gráfico que adicionei agora, a este post, em sua intenção.
Repare que entre 1985 e 1989 a despesa pública desceu, enquanto o PIB crescia apenas a um ritmo muito reduzido. A partir daí, quando os efeitos da diminuição da DP se fizeram sentir mais fortemente, o PIB começou a crescer mais rapidamente. Entretanto a despesa pública crescia muito pouco ou mesmo estacionava, enquanto o PIB acelerava.
A despesa pública só começou a crescer a um ritmo ligeiramente superior quando o PIB já era muito elevado.

Publicado por: Joana às julho 4, 2005 06:25 PM

Zé Luiz às julho 4, 2005 06:14 PM: No caso da Irlanda e da Finlândia não está em causa a sustentabilidade, visto que já aconteceram.
Os números do passado não oferecem dúvidas.

Publicado por: Joana às julho 4, 2005 06:27 PM

Lá paciência não lhe falta.

Publicado por: Sa Chico às julho 4, 2005 06:56 PM

Isso é tudo uma aldrabice. A Irlanda está na mão dos Bush e Cia. Isso é uma vigarice tão grande como a economia americana

Publicado por: Cisco Kid às julho 4, 2005 06:58 PM

Joana:
O passado não oferece dúvidas mas o futuro está em aberto. A sustentabilidade está em causa.

Publicado por: Zé Luiz às julho 4, 2005 07:39 PM

Joana às julho 4, 2005 06:25 PM

A descida das despesas públicas, segundo os valores obtidos, não foi de 1985 para 1989. Foi de 1988 para 1989. Entre 1985 e 1987 a despesa estagnou. Na sua visão, se em Portugal a despesa pública sofresse, num ano, uma quebra entre 20 e 25% (como terá acontecido na Irlanda entre 1988 e 1989), dar-se-ia um movimento de subida do PIB equivalente ao da Irlanda? A Joana realmente acredita que uma quebra pontual dessa ordem teria esse tipo de resultados? Veja que na Irlanda as despesas públicas em 1991 já estavam de novo ao nível de 1988 e continuaram a subir desde então. Seria possível obter resultados tão espectaculares apenas com um pequeno sacrifício (ou um grande sacrifício, no espaço de um ano) na despesa pública? Eu acho que não. A Joana acha que sim. É tudo uma questão de ser mais ou menos crédulo...

Publicado por: Albatroz às julho 4, 2005 08:35 PM

A despesa pública desceu mais substancialmente entre 1987 e 1989. Para quem vive em Portugal e vê os telejornais, você não se apercebe da dificuldade de cortes na despesa pública? Aquela descida irlandesa significou um enorme esforço.
Claro que em 1991 já estavam de novo ao nível de 1988, mas com um PIB 20% superior.
Não escrevi que foram apenas cortes na despesa pública. Apenas escrevi que esses cortes haviam sido os principais obreiros.

Publicado por: Joana às julho 4, 2005 08:46 PM

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