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julho 26, 2005

Maravilhas do Mercado

1 – Nos EUA (onde haveria de ser?) apareceu no mercado um spray para polvilhar de lama os jeeps e lhes dar aquele toque desportivo de terem andado por safaris africanos, entre leões e jacarés. Temos um jeep que só é lavado na véspera da ida à inspecção. A desculpa, que damos a nós próprios, é que não cabe nos sistemas automáticos. A partir de agora a situação está resolvida. Passarei a dizer às minhas amigas: Já viram o resultado do novo spray XPTO? Mandei-o vir expressamente da América. É chiquérrimo todo este enlameado. Vejam a perfeição com que imita os dejectos dos pássaros!
E elas roídas de inveja!

2 - Como fazer dinheiro sem ser na Bolsa (remake)
O Samuel era um comerciante judeu, probo, de cabedais sólidos, bem conceituado na praça.
Um dia, de manhã cedo, a caminho da sua loja, o seu olhar caiu casualmente num anel que refulgia, abandonado à sua sorte, no empedrado da calçada. Circunvagou prudentemente o olhar, a ver se algum transeunte o estaria a observar, ou pudesse ser o dono daquela preciosidade e, em face da rua deserta àquela hora tão matinal, baixou-se, apanhou o anel sorrateiramente e guardou-o.

Ao fim da tarde, quando descia os taipais e se aprestava para regressar a casa, deu de caras com o Isaac, um outro abastado judeu que tinha uma loja ao lado, e não pôde deixar de lhe dizer:
- Encontrei este anel. É belíssimo e vou oferecê-lo à Rebeca (o Samuel, para além de honesto comerciante, era um marido amantíssimo)
O Isaac observou o anel e inquiriu:
- Sabes, eu ando há semanas para oferecer qualquer coisa à Ruth (o Isaac, para além de honesto comerciante, era também um marido amantíssimo). Compro-te o anel por 200€.
A oferta era tentadora. Afinal era um anel encontrado ao acaso do trânsito. O Samuel aceitou e vendeu o anel.
Quando chegou a casa, contou a história à Rebeca, sem referir obviamente a sua intenção inicial de lhe oferecer o anel (mesmo nos melhores casamentos é imprudente contar-se tudo ao cônjuge). Enalteceu apenas o negócio que fizera. Mas a Rebeca, perspicaz, contrapôs:
- O Isaac é um negociante muito vivo e deve ter-te enganado. Esse anel vale certamente muito mais. Tu devias reavê-lo.
O Samuel nem dormiu com a tranquilidade habitual. Assim que de manhãzinha chegou à loja, foi ter com o Isaac e propôs-se comprar-lhe o anel. Falou no desgosto da Rebeca, na iminência de um processo de divórcio, etc.. O Isaac regateou, mas acabaram por se entenderem e a transacção fez-se por 250€.
Quando chegou a casa o Isaac disse para a Ruth:
- Hoje ganhei 50€. Revendi o anel ao Samuel.
Mas a Ruth, que também era perspicaz, retorquiu:
- O Samuel enganou-te. Há qualquer coisa com o anel. Esse anel vale certamente mais. Tens que reavê-lo.
Essa noite foi a vez do Isaac ficar com insónias. No dia seguinte novo regateio e nova transacção. O Isaac comprou o anel por 300€.
Não contava porém com a Rebeca. Nessa noite a Rebeca encheu os ouvidos do Samuel sobre a evidência do negócio chorudo que o Isaac fizera.
No dia seguinte, nova transacção: O Samuel comprou o anel ao Isaac por 350€.
E as desconfianças continuaram e as transacções prosseguiram:
No 5º dia o Isaac comprou o anel ao Samuel por 400€.
No 6º dia o Samuel comprou o anel ao Isaac por 450€.
No 7º dia o Isaac comprou o anel ao Samuel por 500€.
No 8º dia o Samuel comprou o anel ao Isaac por 550€.
E todos os dias um deles saía feliz da transacção com um ganho de 50€, até que o debate com a respectiva mulher lhe fazia ver que poderia ganhar mais ainda.
Estas transacções prosseguiram, até que, no enésimo dia, quem era então o detentor do anel, perdeu-o. Ainda hoje não sabe como tal infortúnio lhe pôde ter acontecido.

Nesse dia, como de costume, o outro comerciante veio ter com ele e, resolutamente, propôs-se comprar o anel outra vez. Abateu-se um silêncio de chumbo. O que tinha perdido o anel balbuciou, entre dentes:
- Sabes ... perdi-o
O outro ficou desesperado, e revoltado, gesticulando ameaçadoramente, invectivou-o:
- Como? Perdeste o anel? Tu perdeste o nosso ganha pão?!

E ambos se abraçaram comovidos. Tinha sido um rude golpe comercial. Todos os dias o Samuel e o Isaac, alternadamente, cada um deles ganhava 50€. Era um ganho seguro e sólido, e a desventura do destino tinha-lhes retirado essa fonte de rendimento.

Escrito neste blog em dezembro 19, 2003
http://semiramis.weblog.com.pt/arquivo/2003/12/como_fazer_dinh.html

Publicado por Joana às julho 26, 2005 06:29 PM

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Comentários

Odeio jipes.

Tome a Joana o cuidado de não o estacionar em cima do passeio em sítio por onde eu passe. É que trago sempre um canivete no bolso.

Publicado por: Luís Lavoura às julho 26, 2005 06:30 PM

:)

Publicado por: lucklucky às julho 26, 2005 06:30 PM

Isso é discriminação Luis Lavoura!

Publicado por: lucklucky às julho 26, 2005 06:31 PM

Interessante estória. O fenómeno chama-se especulação e baseia-se numa dinâmica de expectativas crescentes desligadas das realidades. Em tempos um fenómeno com algumas semelhanças deu origem à utilização da expressão "gato por lebre", pelo então primeiro-ministro Cavaco Silva... É muito típico das economias neo-liberais...

Publicado por: Albatroz às julho 26, 2005 07:36 PM

Há muita gente em Portugal que deve usar esse spray!

Publicado por: Diana às julho 26, 2005 08:44 PM

O Albatroz vive obcecado pelo neoliberalismo. Qualquer economia onde haja Mercado de Valores Mobiliários há fenómenos destes. Já havia na época de Salazar. Seria Salazar neoliberal?

Publicado por: Hector às julho 26, 2005 08:47 PM

Luís Lavoura às julho 26, 2005 06:30 PM:
Você é adepto de soluções "finais".

Publicado por: Hector às julho 26, 2005 08:50 PM

Quanto é que esses judeus ficaram a dever ao Fisco por não pagarem IVA?

Publicado por: Senaqueribe às julho 26, 2005 10:20 PM

Esse nicho de mercado é surpreendente. E haverá quem compre?

Publicado por: Rui Sá às julho 26, 2005 10:53 PM

Senaqueribe às julho 26, 2005 10:20 PM:
São judeus! Não caíram na esparrela de passarem recibos das transacções.
Nem os portugueses o fazem.

Publicado por: Rui Sá às julho 26, 2005 10:59 PM

Bora, Lavoura, furar os pneus dessa gajada. Alivia a alma e favorece as oficinas mecânicas, que é a única indústria que nos resta.

Publicado por: Coruja às julho 26, 2005 11:35 PM

Essa história triste aconteceu a muitos especuladores bolsistas portugueses.

Publicado por: Viegas às julho 27, 2005 12:10 AM

Joana, as férias estão-lhe a fazer bem. O remake está giro. Acho bem, entre nadar e blogar, aí está um bom destino para os portugueses...

Quanto aos comandos no Afeganistão acho mal. Claro que é mais ligeiro do que mandar para o Iraque, mas não deixa de ser outra intromissão de Portugal na invasão de países islâmicos por forças externas, coisa que devia ser bem ponderada, quando somos os únicos da fotografia dos Açores que ainda não levámos com atentados. Quase parece que estamos a pedi-las...

E quanto a isso do Freitas dizer que o terrorismo não se exerce com referência fotográfica, acho que é incultura. Na Turquia, há mais de 20 anos, eu não consegui fotografar ninguém porque eles recusavam e também não queria ofendê-los; fiquei a saber que para eles as fotos são uma apropriação indevida. Acho que nos safámos de um atentado com a derrota da coligação das europeias, a saída du Durão e a sábia decisão de Sampaio de dissolver o parlamento.

Ainda se levássemos com um atentado em nome de uma coisa justa, vá, mas agora em nome duma coisa que não temos nada a ver. Eu pelo menos não tenho.

Eu diria que faltou reflexão (phronesis) a José Sócrates. Peço a retirada dos comandos do Afeganistão em nome da prudência (agora já é Aristóteles) e de que com elevada probabilidade muitos portugueses pensam como eu.

Isto não é cobardia, é bom-senso.

Publicado por: pyrenaica às julho 27, 2005 12:41 AM

Em The Lonely Guy

http://www.imdb.com/title/tt0087635/

Steve Martin usa um spray que simula o suor depois de um jogging bem puxado para impressionar a dama num bar (é na América claro!) e o meu Pai conta-me a seguinte história passada na guerra.

Um fulano tinha uma lata de sardinha a vendeu-a a outro por 50 mil reis, este vendeu-a a outro ganhando dinheiro e assim sucessivamente até que um dia um dos compradores cheio de fome a abriu para comer as ditas e verificou que nada estava lá dentro.

Furioso foi ter com o vendedor que pacientemente lhe explicou:

-Isso não era para comer era só para vender.

E assim nasceu a Bolsa de Valores de Lisboa onde se formam Ministros das Finanças.

Publicado por: carlos alberto às julho 27, 2005 04:06 AM

Vou denunciar a Joana à B'nai Brith Anti-Defamation League.

Este post exibe o mais despudorado racismo. Sugere que os judeus são ganaciosos, avarentos, usurários e especuladores. Incita ao anti-semitismo. É, de facto, objetivamente anti-semita.

Pior: a autora, além de anti-semita, é uma sexista retrógrada. No post anterior sugeriu que as mães é que compram ou deixam de comprar penicos para os sesu filhos. As mães, e porque não os pais? Será que os pais não têm também o dever de comprar penicos? Não devem eles exercer uma paternidade responsável, ajudando os filhos a fazer as suas necessidades de forma higiénica? A Joana é de um sexismo descarado.

Publicado por: Luís Lavoura às julho 27, 2005 09:32 AM

"safaris africanos, entre leões e jacarés"

Em África não há jacarés. Há crocodilos. Os jacarés ("alligators") são uma espécie americana de crocodilo, bastante mais pequena do que o crocodilo africano.

Salvo erro.

Publicado por: Luís Lavoura às julho 27, 2005 11:01 AM

Publicado por: Luís Lavoura às julho 27, 2005 09:32 AM

Bem visto.
Fez-me lembrar a Ana Drago.
Não é um clone dela pois não?

Publicado por: carlos alberto às julho 27, 2005 11:13 AM

"Temos um jeep que só é lavado na véspera da ida à inspecção."

Que p. de frase mais pretensiosa! A menina é mesmo betinha...

Esse tal jeep foi comprado com um daqueles subsidiozitos da PAC?

Publicado por: Esquerdalhaço às julho 27, 2005 11:15 AM

carlos alberto às julho 27, 2005 11:13 AM

E perceber ironias? Tá quéto...

Pois. Conta-me histórias.
Ironia em cima de ironia é coisa forçada.

Publicado por: Esquerdalhaço às julho 27, 2005 11:18 AM

Essa história mostra como é fácil criarem-se expectativas absurdas. E mostra como essas expectativas absurdas mais tarde ou mais cedo levam à ruina.

Publicado por: Hector às julho 27, 2005 11:39 AM

De facto o mercado é maravilhoso. Essa firma vende sprays para novos-ricos, você e mais gente faz vista afirmando-se clientes desse produto, etc., etc.. Todaos saiem a ganhar.

Publicado por: Hector às julho 27, 2005 11:47 AM

"MARAVILHAS DO MERCADO"... é como o Mercado do Bolhão. É maravilhoso mas está a cair aos bocados.

Publicado por: Senaqueribe às julho 27, 2005 12:24 PM

Luís Lavoura às julho 27, 2005 09:32 AM
Pois deviam. Mas nós é que compramos os penicos, sentamos os miúdos neles, explicamos por palavras e actos que a pilinha deve ficar do lado de dentro e não do lado de fora … enfim … são uns desajeitados desde a mais tenra infância.
E a falta de jeito é directamente proporcional às bazófias machistas. Quanto menos jeito ... mais bazófia!

Publicado por: Joana às julho 27, 2005 12:31 PM

Joana às julho 27, 2005 12:31 PM

Quer a Joana dizer que os homens são uns desajeitados na utilização da pilinha? Hmmm...

Publicado por: Luís Lavoura às julho 27, 2005 12:37 PM

Eu escrevi: Quanto menos jeito ... mais bazófia!
Ou melhor: quanto mais bazófias ...

Publicado por: Joana às julho 27, 2005 12:46 PM

Quanto mais bazófias...mais viagra!
Tá resolvido.

Publicado por: Senaqueribe às julho 27, 2005 02:15 PM

Joana: a vaidade masculina baseia-se na ignorância de si mesmo. O melhor é deixá-los nessa ignorância.

Publicado por: Diana às julho 27, 2005 02:49 PM

Diana: tomo as palavras da Joana como piada. É apenas um comentário irónico. Não me parece que seja um juízo geral

Publicado por: asser às julho 27, 2005 03:01 PM

Diana às julho 27, 2005 02:49 PM

Ó menina, qué lá isso?:
ainda dizem que os homens não conhecem as mulheres. Tchhh...
Pelos vistos a Diana ainda terá muito que aprender sobre as idiossincrasias do macho...

Publicado por: Esquerdalhaço às julho 27, 2005 03:42 PM

A história está gira. Aliás ambas, embora por motivos diferentes

Publicado por: Ricardo às julho 27, 2005 04:16 PM

Publicado por: Esquerdalhaço às julho 27, 2005 11:18 AM

A esquerdaça é muito míope a ver piadas quanto mais ironias.
Estão sempre tristes.
Pudera nunca mais vêem os mil sois a desabrochar (cuidado com esta palavra senhor revisor).

Publicado por: carlos alberto às julho 27, 2005 05:08 PM

carlos alberto às julho 27, 2005 05:08 PM

Foi o meu alterego arrogante, metediço e mal criado que escreveu. Não me leve a mal.

O Luís Lavoura não é um clone. É mais um anticiclone. Não conheço o dito de lado nenhum, mas lá que é certinho e, sobretudo, certeiro...

E de desbrochar, nada. Eu é mais linguajar...

Melhores cumprimentos do
Revisor Oficial de Supostas Intenções

Publicado por: Revisor às julho 27, 2005 05:26 PM

Só num país muito grande, com gente para tudo aparecem produtos desses. Lama para Jipes?!

Publicado por: Curioso às julho 27, 2005 05:59 PM

(Recebido via «e-mail»)
Uma história de 2 aeroportos:

Áreas:
Aeroporto de Málaga: 320 hectares.
Aeroporto de Lisboa: 520 hectares.

Pistas:
Aeroporto de Málaga: 1 pista.
Aeroporto de Lisboa: 2 pistas.

Tráfego (2004):
Aeroporto de Málaga: 12 milhões de passageiros, taxa de crescimento, 7% a 8%ao ano.
Aeroporto de Lisboa: 10,7 milhões de
passageiros, taxa de crescimento 4,5% ao ano.

Soluções para o aumento de capacidade:

Málaga:
1 novo terminal, investimento de 191 milhões de euros, capacidade 20 milhões de passageiros/ano. O aeroporto continua a 8 Km da
cidade e continua a ter uma só pista.

Lisboa:
1 novo aeroporto, 3.000 a 5.000 milhões de euros, solução faraónica a 40Km da cidade.

É o que dá sermos ricos com o dinheiro dos
outros e pobres com o próprio espírito.


Publicado por: asdrubal às julho 27, 2005 11:29 PM

Só m*rdas

Publicado por: Cisco Kid às agosto 4, 2005 10:23 PM

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