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julho 27, 2005

Equívocos Iliberais

A crítica mais vulgar que se faz ao liberalismo é a da existência de excesso de poder de mercado de diversos grupos económicos que agem como liberticidas. Ora esta crítica é hipócrita quando se refere ao caso português e ignorante quando se refere à economia global. No caso português, os agentes económicos que distorcem a concorrência são, em primeiro lugar, o próprio Estado com as barreiras institucionais que opõe à liberdade concorrencial, com o excesso de burocracia que só é contornada por compadrio, o que faz com que as empresas que obtêm vantagens não são necessariamente as que têm mais produtividade, etc.. Em segundo lugar as empresas majestáticas, semi-privatizadas pelo Estado, mas que continuam espojadas nas delícias de Cápua do proteccionismo estatal.

É estranho tentar desacreditar o liberalismo através de exemplos que decorrem, directa ou indirectamente, do comportamento do Estado. Os cambões dos construtores civis para concursos públicos, empresas menos competitivas terem prevalência burocrática, empresas majestáticas imporem preços não explicados pelo factor mercado, etc., resulta tudo do comportamento do Estado que vicia e degrada a concorrência, quando uma das suas principais missões, de acordo com os pais da economia clássica, seria justamente a da regulação da concorrência e a de providenciar a equidade do funcionamento da economia do mercado.

Analisemos agora a situação do poder de mercado dos grandes grupos económicos a nível da economia global. O poder de mercado existe quando alguns intervenientes no mercado têm a possibilidade de cercear a liberdade de outros intervenientes. Em contrapartida, quando todos têm que aceitar igualmente o preço determinado pelo mercado, todos dispõem de poder económico idêntico e todos são, perante o mercado, igualmente desprovidos de poder.

O liberalismo económico define a liberdade como a ausência de coacção. Isso significa que só pode existir uma ameaça para a liberdade quando alguém puder impor algo a outrem. Por essa razão, para o liberalismo económico, o Estado representa, em si, uma ameaça. Mas, contrariamente ao ultraliberalismo, que assegura que todo o económico é racional desde que na sua origem não haja coacção, não podemos ignorar as ameaças à liberdade provenientes do poder de mercado das grandes empresas apesar de estas não terem capacidade de impor comportamentos ao consumidor individual ou ao pequeno produtor.

Os equilíbrios do mercado só se podem considerar racionais e eficientes na medida em que resultem da actuação de indivíduos tanto quanto possível igualmente livres. Quanto maior for o poder existente num mercado, mais irracionais (ineficientes) são os resultados globais (i.e., para todos os indivíduos e empresas).

A escola clássica inglesa, que procurou desde o início estabelecer relações lógicas entre padrões de comportamento e escassez de recursos, envolvendo um alto grau de abstracção e o recurso a ferramentas matemáticas, foi extraordinariamente enriquecida com as discussões teóricas e práticas emergentes da Sherman Act (1890), quando economistas (e os tribunais) se envolveram em disputas acérrimas sobre a forma como as estruturas de mercado influenciavam os comportamentos das firmas e em que medida determinadas situações de oligopólio (ou monopólio) violavam a concorrência. As investigações e os debates em tribunais forneceram aos economistas um grande acervo de informações sobre os comportamentos dos agentes económicos e as estruturas de mercado. Muito da teoria económica se tem desenvolvido a partir dessas disputas legais, que continuam a ocorrer, como foi o caso recente da Microsoft. A teoria dos Mercados Contestáveis (cf. W. Baumol) nasceu, na década de 80, da controvérsia legal acerca de uma alegada situação de monopólio.

Quando digo enriquecida, refiro-me aos diversos modelos que foram sendo propostos para descrever esses comportamentos. Mas refiro-me igualmente ao aparecimento da Industrial Organization que parte do paradigma Estruturas-Comportamento-Resultados, que resumidamente refere que os resultados de uma dada indústria ou mercado dependem do comportamento dos agentes económicos (compradores e vendedores) que se confrontam nesse mercado em áreas como políticas de preços, práticas comerciais, investigação e desenvolvimento, investimento em instalações produtivas, etc.. Os comportamentos dependem, por sua vez da estrutura de um dado mercado, abarcando parâmetros tais como número e distribuição dimensional dos vendedores e compradores, grau da diferenciação (física ou subjectiva) do produto, presença ou ausência de barreiras à entrada de novos produtores, estrutura de custos, grau de integração vertical, etc..

Por sua vez, a estrutura de mercado e os comportamentos interagem com as condições de base. Por exemplo, do lado da oferta, a localização da matéria prima, a tecnologia disponível, durabilidade (ou perecibilidade) do produto, rácio valor/peso, condicionantes ambientais, regulamentos estatais e enquadramento legal, padrões produtivos (por exemplo, produzir por encomenda, ou produzir para armazém – no caso em apreço, para depósito), etc.. Do lado da procura, a elasticidade preço-procura, produtos substitutos (elasticidades cruzadas da procura), taxa de crescimento e flutuações da procura, procura sazonal ou cíclica, padrões de aquisição (por exemplo, transacções através de listas de preços ou por concursos com propostas lacradas).

Os modelos iniciais, resultantes da escola clássica, baseavam-se nos “7 axiomas” da concorrência:
1-Atomicidade do mercado (grande número de concorrentes)
2-Homogeneidade do produto – não havia diferenciação dentro do mesmo produto (ausência de marcas, modelos, etc.)
3-Ausência de barreiras à entrada - inteira liberdade (legal e económica) de entrar e sair.
4-Transparência do mercado (todos conhecem exactamente as qualidades e preço do produto)
5-Mobilidade perfeita dos factores de produção (capital e trabalho)
6-Independência dos agentes económicos (não há conluios)
7-Racionalidade económica absoluta (minimizar para cada produto o consumo dos factores e, para cada combinação de factores, escolher a técnica que maximiza a produção)

Os avanços tecnológicos e o próprio processo concorrencial conduziram ao aumento da dimensão das unidades e à importância crescente das economias de escala como factor de competitividade. As dimensões mínimas óptimas de diversas indústrias agem em sentido contrário ao axioma 1: levam ao oligopólio e não à atomicidade. Criam igualmente poderosas barreiras à entrada (axioma 3) porquanto exigem investimentos elevadíssimos, e de retorno arriscado, para a firma que pretender entrar no mercado.

O axioma 2 também não se verifica em muitos bens. As empresas diferenciam os produtos continuamente tentando pressionar o consumidor pela qualidade (real ou virtual) e não pelo preço. Mas tal é normalmente ultrapassado pelo maior discernimento que o consumidor vai adquirindo sobre o funcionamento (o mesmo é válido para o axioma 4). Faz com que a concorrência se faça pelo preço, mas também pela qualidade. Tem mais impacte sobre o “rigor matemático” dos modelos microeconómicos que sobre a concorrência.

Os axiomas 5 e 6 são do escopo do Estado. São as disposições jurídico-institucionais do Estado que dificultam a mobilidade dos factores de produção (do capital e, principalmente, do trabalho). O axioma 6 depende da existência de uma entidade reguladora da concorrência eficaz e de um Estado desburocratizado e capaz de aplicar a justiça com rapidez e equidade.

O axioma 7 depende parcialmente do Estado. Uma empresa que não aja com racionalidade económica absoluta vai à falência ao fim de pouco tempo, a menos que viva sob o proteccionismo estatal. Muitas das empresas que agem com pouca racionalidade económica e muitos dos empresários que os pensadores estatizantes acusam de responsáveis pelo estado económico do país, subsistem porque têm vivido sob a protecção, directa ou indirecta, do Estado.

O reconhecimento destas imperfeições levou os teóricos anglo-saxónicos a formular a teoria da Concorrência Praticável (Workable Competition) que tenta caracterizar as actuais estruturas de mercado.

Essa Concorrência Praticável implica um alargamento das variáveis concorrenciais (como p. ex., admitir certos fenómenos rejeitados pelo modelo tradicional – concentração, não homogeneidade do produto, etc.), é essencialmente dinâmica (o carácter concorrencial de um comportamento só pode ser apreciado após se ter analisado as suas repercussões a longo prazo e o equilíbrio instantâneo é substituído por conceitos que tomem em conta o tempo, prazos de adaptação, o carácter instável e evolutivo do mercado, etc.) e é pragmática e relativista.

A Concorrência Praticável implica regulação e perseguição legal a quem infringe as suas normas e regulamentos (e nos EUA, como se tem visto, essa acção legal é a doer …). Embora não seja coincidente com o modelo da concorrência pura e perfeita, um dos seus axiomas (2nd Best) é claro: se uma ou mais das condições necessárias para a realização do Óptimo de Pareto não estão realizadas, não é em geral, nem necessário, nem aconselhável, procurar satisfazer outras condições, porquanto a solução encontrada estará nas imediações desse óptimo.

Como escrevi no intróito, apelidar o liberalismo económico de liberticida, só por hipocrisia ou ignorância.

Publicado por Joana às julho 27, 2005 12:46 PM

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Comentários

Aproveitei o tempo estar mau ...

Publicado por: Joana às julho 27, 2005 12:41 PM

Resumindo:

O liberalismo é uma utopia (tal como o socialismo).
Os defeitos apontados ao liberalismo resultam, na realidade, de erros do Estado.
Para ultrapassar estes dilemas, a Joana aponta uma 3.ª via do liberalismo - a Concorrência Praticável (vejam se não é irónico).

Mas o liberalismo não encerra defeitos?
Tou desconfiado. Não há bela sem senão.

Agora andam a dourar o supositório...

Publicado por: Esquerdalhaço às julho 27, 2005 12:56 PM

Afinal, o liberalismo também tem amanhãs que cantam.
Um dia, quando o liberalismo for universal, "todos" serão felizes!
Todos?! Mas quem são esses todos?
O meu barbeiro explica: - O liberalismo é o marxismo dos ricos!
Ah!!!... Agora entendo!...

Publicado por: Senaqueribe às julho 27, 2005 02:34 PM

O mau tempo afinal tem as suas vantagens

Publicado por: asser às julho 27, 2005 02:58 PM

Volto a calocar aqui umas observações que já tinha feito a propósito do "Elefante branco"...

"Alguns aqui, economistas e não economistas, parecem por vezes esquecer que o mercado apenas funcionará bem na presunção de que os agentes económicos são perfeitamente racionais e estão perfeitamente informados. Todos sabemos que os agentes económicos não são perfeitamente racionais, mas esperamos pelo menos que conheçam razoavelmente bem o seu interesse. Também não é verdade, mas enfim... Agora quanto à informação é que andamos particularmente mal. O consumidor é sistematicamente enganado. Enganado pelo produtor - que o tenta convencer que o produto é melhor do que é -, pelo distribuidor, pelo retalhista, pelo agente de marketing, pela comunicação social - que se torna agente de publicidade enganosa para aumentar as suas receitas. E isto é verdade tanto no sector dos bens como dos serviços (veja-se a banca e os seguros!), pelo que o mercado nunca pode funcionar bem. Como sempre, não vence quem é melhor mas quem tem mais poder, quem tem mais e melhores relações, seja a nivel da comunicação social, a nível das instituições financeiras, ou a nível do Estado. O jogo do mercado tornou-se num jogo inquinado, corrompido, em benefício dos mais poderosos e da concentração do seu poder. Falar da corrupção do Estado e dos seus agentes sem referir a corrupção do sector privado é tentar deitar-nos areia nos olhos. E embora eu defenda o mercado e os seus mecanismos acho que ele só pode funcionar relativamente bem se eliminarmos os interesses capitalistas, pois são estes que corrompem o mercado. Elimine-se a posse individual privada (mas não a posse colectiva, cooperativa) dos bens de produção, e ter-se-á eliminado 90% das causas da corrupção dos mercados. Talvez então as teorias da Joana possam dar algum fruto."

A concorrência praticável trazida aqui pela Joana não chega para corrigir esta falha fundamental.

Publicado por: Albatroz às julho 27, 2005 03:30 PM

Excelente e pedagógico, este post

Publicado por: Novais de Paula às julho 27, 2005 04:07 PM

Assumindo que existe um fenómeno de concentração das empresas e formação de oligopólios sujeitos a restrições legais, a mobilidade de capitais fica comprometida.
Imaginemos que, num culminar de vários processos de fusão e aquisição, passam a existir duas empresas que preenchem ou sector. Nenhuma delas pode sair do mercado, a restrição legal não o permite pois provocaria uma situação de monopólio.

Considerando a mesma situação, o que sucede em caso de falência de uma das empresas? Caímos numa situação monopolista novamente.

Consideremos ainda que o produto é diferenciado e uma delas dá um salto tecnológico que a outra não consegue acompanhar e perde a capacidade de competir? Monopólio novamente.

O monopólio é fortalecido pelos elevados custos de entrada no mercado nestas situações.

Usei apenas duas empresas para mostrar a situação no limite. O que pretendo apresentar é uma tendência para o monopólio ou uma constante necessidade de surgir o Estado como bombeiro a resolver todos os problemas.

Publicado por: Daniel às julho 27, 2005 04:12 PM

Albatroz às julho 27, 2005 03:30 PM
Não vejo como pode manter o mercado e os seus mecanismos eliminando os interesses que você designa por "capitalistas".
No fundo são esses interesses que fazem funcionar o mercado.
Acho que a resposta está no próprio post da Joana: uma regulação eficaz evitando a criação de monopólios ou que os oligopólios criem situações anti-concorrenciais.
Quanto à questão do pretenso engano do consumidor, está igualmente respondido no post quando a Joana aborda a "diferenciação" do produto. O consumidor aprende pela experiência a não ser enganado.
As firmas que enganam o consumidor acabam sempre punidas, pois uma boa imagem custa mais a fazer que a desfazer.

Publicado por: Novais de Paula às julho 27, 2005 04:14 PM

Realmente, um post, para além de extenso, elucidativo q.b. quanto às convicções da Joana.
Mas também elucidativo quanto às questões que nos dividem.

Conseguir que o Estado evite a formação de monopólios e oligopólios perniciosos, e que exerça uma actividade judicial, reguladora e, consequentemente, de purga do sistema, implica discutir o grau de intromissão do Estado na vida das empresas. Sem preconceitos...

Uma questão importante é a mobilidade perfeita do factor trabalho. Ela colide com as questões da estabilidade do núcleo familiar, nas suas diversas vertentes, por ex.º, na educação dos filhos. Aqui é necessário fazer escolhas políticas e não apenas económicas.
Podemos encontrar o equilíbrio. Mas a perfeição deve ficar no postulado - é uma utopia.

Publicado por: Vítor às julho 27, 2005 04:38 PM

Daniel às julho 27, 2005 04:12 PM:
As suas hipóteses são teóricas. Uma firma pode querer sair de um mercado, mas os seus activos estão lá e são certamente valiosos. Se há um duopólio é porque o investimento de base é muito elevado. O que irá acontecer será a firma que quer sair vender esses bens a outros. Se estiver à beira da falência encontrará certamente comprador, pois quem quer entrar num dado mercado beneficia do conhecimento do mercado dos quadros dessa empresa e do seu know-how (pelo menos de alguns). A regulação da concorrência é evitar que seja a outra firma existente a comprar esses activos.

Publicado por: Joana às julho 27, 2005 04:52 PM

Por outro lado, mesmo um monopólio tem limites (ver teoria dos Mercados Contestáveis). Se não houver barreiras legais e se o preço que o monopolista está a praticar for “atractivo” (do lado da oferta) pode incentivar a entrada de concorrentes.
Você está a raciocinar como se não houvesse mais nada, na economia, senão essas duas empresas. Repare que uma economia é constituída por milhões de empresas operando em milhares de mercados. Mercadas funcionando, cada um, segundo ordens económicas diversas, conforme as respectivas estruturas.

Publicado por: Joana às julho 27, 2005 04:54 PM

Quanto à diferenciação de produto não há situações estanques. Há elasticidades de substituição. A existência de diversos modelos e marcas de automóveis não inviabiliza a concorrência, nem cria muitos mercados monopolistas. Você escolhe o seu modelo (e marca) de acordo com um determinado plano que tem, onde o preço tem o seu lugar, mas as suas preferências também.
Por exemplo, no caso de artigos de cosmética é onde há operações de segmentação de mercado, normalmente de artigos de luxo, que são bem sucedidas, criando-se monopólios, com preços muito elevados, mas com um segmento de clientela relativamente reduzido.

Publicado por: Joana às julho 27, 2005 04:55 PM

Infelizmente o Estado (português) tem tido mais “habilidade” em criar monopólios ou situações monopolistas, do que em combatê-las.
Será um “bombeiro pirómano”

Publicado por: Joana às julho 27, 2005 04:55 PM

Vítor às julho 27, 2005 04:38 PM:
A actividade de regulação é idêntica à da aplicação da justiça. O facto do Estado aplicar a justiça não significa que se intromete na vida privada das pessoas ... expepto em situações onde se cometem ilegalidades.

Publicado por: Joana às julho 27, 2005 04:59 PM

As escolhas políticas são as respeitantes aos subsídios a atribuir às famílias onde a mobilidade do factor trabalho criou situações de desemprego temporário. Escolhas políticas no funcionamento das empresas dá sempre mau resultado.

Publicado por: Joana às julho 27, 2005 05:02 PM

O seus axiomas (2nd Best) é claro: ...

Bom para mim não é claro, nem é axioma. Aliás, quando numa prova oral um aluno dizia "é ébvio que ", "torna-se evidente" eu levantava logo o sobrolho. Tipicamente era uma passagem difícil, ou que ele não tinha entendido.

Parece-me que no mundo real não há nenhum caso em que as 7 condições sejam satisfeitas e só encontro boas aproximações nos mercados agrícolas de antanho. Aí, os clientes sabiam avaliar e apreçar a mercadoria, estava tudo à vista e, desejavelmente, não havia conluios.

Na indústria de microprocessadores, na publicidade, nas barracas de praia, entre outros, estimo uma tão grande distância entre a realidade e as 7 condições enunciadas que me atrevo a duvidar que estejamos a operar "nas imediações desse óptimo".

Não sou economista e por isso tenho uma dúvida sobre o modelo clássico, não é necessário acrescentar a condição de as transações terem custos nulos ?


Publicado por: João GM às julho 27, 2005 05:24 PM

A lei de Pareto ou lei dos 80/20 indica claramente que 80% dos post da Joana são entendidos por 20% dos leitores.

Publicado por: carlos alberto às julho 27, 2005 05:24 PM

carlos alberto às julho 27, 2005 05:24 PM

Deixe lá: com dedicação e trabalho, estou seguro de que um dia fará parte da minoria a que respeita o denominador...

Revisor: Não insultes o Sr. pá!

Esquerdalhaço: Atão ele insultou 80% dos leitores.

Revisor: Não enfies o barrete. Tá calado

Continua...

Publicado por: Esquerdalhaço às julho 27, 2005 05:34 PM

Joana às julho 27, 2005 04:59 PM
Falei do grau de intromissão do Estado na vida das empresas. da discussão disto, sem preconceitos. Na vida das pessoas, fia mais fino...

Publicado por: Vítor às julho 27, 2005 05:38 PM

Joana às julho 27, 2005 05:02 PM

Aqui discordamos Joana.
Na minha opinião, a intervenção do Estado não se deve resumir a "subsídios a atribuir às famílias onde a mobilidade do factor trabalho criou situações de desemprego temporário."

O Estado deve intervir, como fiel da balança, na definição do grau de mobilidade do factor trabalho. E não actuar apenas a jusante, suportando os custos sociais dessa mobilidade.

Publicado por: Vítor às julho 27, 2005 05:41 PM

Nos Estados Unidos há uma enorme mobilidade do fator trabalho. Isso tem a ver não apenas com as políticas seguidas pela federação, mas também com a cultura da população, a homogeneidade cultural do país, etc.

Ora, curiosamente, apesar da mobilidade do trabalho ser nos EUA muito maior do que na Europa, não me consta que nos EUA haja menos casamentos ou mais divórcios do que na Europa. De facto, a natalidade dos EUA é até superior à generalidade das natalidades europeias.

A mobilidade do trabalho nos EUA não parece afetar de forma sobremaneira negativa as famílias nesse país.

Publicado por: Luís Lavoura às julho 27, 2005 05:56 PM

Curiosamente, o único setor económico nos quais os sete axiomas se verificam (por vezes) de forma razoavelmente perfeita, que é o setor agrícola, carateriza-se por ser um setor económico particularmente necessitado de ajudas estatais nos países capitalistas. Sem ajudas estatais, a agricultura europeia, japonesa e norte-americana colapsaria, em grande medida.

Já no tempo de Adam Smith assim era: Adam Smith dissertou sobre o facto curioso de, sendo a agricultura um dos setores económicos mais imprescindíveis à vida da população, ele se caraterizar por remunerar de forma particularmente miserável os seus trabalhadores. Aparentemente, os trabalhadores mais úteis de todos são também os pior pagos.

Publicado por: Luís Lavoura às julho 27, 2005 06:00 PM

A lei de Pareto diz claramente que 80% das ideias de Joana têm 20% de hipóteses de estar certas.

Publicado por: Senaqueribe às julho 27, 2005 06:03 PM

Post excelente, equilibrado e elucidativo. Gostei.

Publicado por: David às julho 27, 2005 06:09 PM

Na agricultura??? Os agricultores estão completamnete isolados perante os intermediários que lhes adquirem os produtos e os vendem aos hipermercados. Ou julgam que um hipermercado é um mercado das feiras antigas, onde os agricultores iam periodicamente vender os produtos?

Publicado por: David às julho 27, 2005 06:16 PM

Se há mercado onde os produtores têm mais dificuldade em concorrerem é na agricultura. Mesmo quando se associam em cooperativas, estas tornam-se rapidamente um organismo distante que defende os interesses de alguns (mesmo assim é melhor que nada).

Publicado por: David às julho 27, 2005 06:21 PM

Os mercados de feira também não é um bom exemplo, David. São mercados pequenos e estão muito sujeitos a flutuações de preços e como os produtos agrícolas deterioram-se rapidamente, o agricultor está pouco defendido. É o que sucede nas lotas de peixe.
Por isso muitos preferem vender mais barato, mas assegurarem um preço mínimo.

Publicado por: Rui Sá às julho 27, 2005 06:27 PM

Precisamente por os agricultores estaem indefesos perante os intermediários é que as leis do mercado (os sete axiomas) se aplicam razoavelmente.

Se os agricultores se conluiassem, se formassem um cartel, então passariam a ter um poder de caráter oligopolista.

Por outro lado, é um mercado muito transparente. Cada agricultor num determinado meio rural sabe perfeitamente a que preço é que os produtos andam a ser comprados.

Publicado por: Luís Lavoura às julho 27, 2005 06:36 PM

Publicado por: Esquerdalhaço às julho 27, 2005 05:34 PM

Ui, ui pisaram-lhe os calinhos!

Deixe lá o que é preciso como diria o saudoso Saraiva de Carvalho é força na verga e estupidez natural.
Como não quero sobrecarregar blog estranho com polémicas pessoais recomendo-lhe quando abrir o meu grande espaço de intervenção que se apropriadamente se chamará

Com o Livrinho Vermelho Nunca Me Comprometo.com

E onde nos entreteremos em salutares discussões procurando o rumo para o Grande Sol que o Timoneiro nos Anunciou.
Entretanto adianto-lhe em primeira-mão a sondagem que depois de analisada por R.O. e Costa servirá de frase de entrada para o blog que se pretende seja referência mundial.

Para que uma coisa fique limpa, outra coisa qualquer terá que ficar suja

Se não lhe importa saber onde está, não está perdido

Não importa quantas vezes se demonstra que uma afirmação é falsa, haverá sempre uma percentagem de gente que a terá como verdadeira


Esta última foi metida a pedido de vários reformados(res) do PCP.

Tenho um resto de uma boa tarde.

Publicado por: carlos alberto às julho 27, 2005 06:37 PM

Bem unidos façamos
Nesta luta final
Um globo com amos
O globo liberal.

Publicado por: Senaqueribe às julho 27, 2005 06:46 PM

«É estranho tentar desacreditar o liberalismo através de exemplos que decorrem, directa ou indirectamente, do comportamento do Estado.»

Igualmente estranho, claro está, é tentar desacreditar o Estado através de exemplos que decorrem, directa ou indirectamente, de comportamentos e de interesses privados. Para haver corrupção activa tem que haver corrupção activa, e vice-versa; e os decisores económicos estão-se tão completamente nas tintas para o que dizem os pais da economia clássica como os decisores políticos - ou mesmo mais.

Ao defender os vícios do capitalismo real com as virtudes do capitalismo utópico, a Joana está a fazer o que censura à esquerda.

Afirma a Joana, insistentemente, que o o mercado não pode funcionar sem o estado. Quanto à impossibilidade, estou de acordo, embora pessoalmente me mova mais o facto, igualmente verdadeiro, de sem estado não poder existir civilização nem cultura.

Ora acontece que isto, se é o caso nos mercados nacionais ou regionais, é também o caso no mercado globalizado. Defender a globalização económica sem defender a globalização política é defender a barbárie.

E a Joana não defende a globalização política. Quanto à globalização económica, defende-a: considera-a inevitável no plano da realidade e desejável no plano da teoria.

Quanto à inevitabilidade, estamos conversados: não acredito em inevitabilidades históricas de espécie nenhuma, o «socialismo científico» vacinou-me contra elas. Quanto à desejabilidade, até poderei um dia estar de acordo - desde que se torne possível um Estado de Direito Mundial.

Publicado por: Zé Luiz às julho 27, 2005 07:50 PM

Não sejamos tão preciosistas. Há concorrência em muitos sectores. Há pouca concorrência onde o Estado mete o bedelho ou protege as empresas desleais: combustíveis; telefones, electricidade, etc.

Publicado por: Sa Chico às julho 27, 2005 07:52 PM

O que acontece aos axiomas 2 e 4 num mercado mundial em que a produção de marcas virtuais já suplantou, em termos de valor acrescentado, a produção de bens e serviços reais?

Publicado por: Zé Luiz às julho 27, 2005 08:00 PM

Olá Joana. Que maravilha de chuvinha não? Para salvaguardar dos fogos, regar a terra, já se lembraram que em cada minuto estão a respirar o oxigénio produzido pelas plantas verdes, de graça? De graça, a graça...da fotossíntese: um fotão entra por ali a dentro dos tilacoides dos cloroplastos, dá um chutinho num electrão que vai reduzir uma moléculo de CO2 a uma unidade de açúcar CHOH e sai como subproduto o O2. Aqui não há valor de troca, pois não? E qual é o valor de uso? Eu diria que é infinito.

A chuvinha também fertilizou a nous de Joana que fez um texto denso - o português é sempre impecável e basta-me isso para eu ficar agarrado, o que hei-de fazer, se calhar é isso que nos liga a todos neste blog. Joana, desta vez até imprimi, mas tenho pena que não tenha feito antes um post sobre o Mundo de Sofia que eu tinha esperança que acontecesse um dia.

Quanto ao texto:
O que é "as delícias de Cápua"?

Quantos aos 7 axionas da concorrência eu gosto muito do 7 (as 7 cores do arco-íris, por exemplo, a base optimal em matemática) mas aquilo são hipóteses não são axiomas, os axiomas têm-se por verdades inequívocas a priori, ora as sete proposições são de ordem ideal, no real falham. Não seria melhor chamá-las de postulados? O mais honesto de tudo era as hipóteses.

É obvio que o 3,4,5, e 6 têm todos que se lhe diga mads a Joana já abriu.

Quanto ao 7º é o nó górdio intelectual da questão: não existe uma racionalidade económica absoluta. Existe uma racionalidade económica relativa, bom mas pelos vistos na concorrência praticável isso já está interiorizado.

Demorou muito tempo a cair, veio o teorema de Godel em 1930 (o tsunami da da razão pura), depois o paradoxo de Russel (o conjunto de todos os conjuntos não existe) e mais não sei quantas coisas mas só caiu mesmo quando o Damásio veio dizer que a inteligência é emocional.

Eu também acho bom haver concorrência, é bom para os consumidores na esfera do consumo, sem qualquer dúvida. Quando estive em Havana faz 15 anos era triste a falta de cor e de movimento que a falta de lojas provocava. Tudo ficaria muito mais sanado se ficasse interiorizada uma certa Ética de que o chico-espertismo é o contrário. Haverá sempre perversões, mas pode-se ir melhorando. Quanto aos meios de produção e inetrvenção estratégicos acho que devem estar sob a tutela do Estado, em nome da defesa de Portugal.

Agora peço "ajuda". Saiu-me na rifa um desafio que não pude recusar, por várias ordens de razões, que me obriga a mexer profundadmente com o conceito de "valor económico total de um recurso natural" (vetrn). Em 1994 eu estava actualizado sobre isso, estudei vários livros e artigos da especialidade sobre o assunto e eescrevi 2 ou 3 artigos sobre o assunto. Depois passei para outras coisas, pensei que aquilo já tinha sido, mas eis que está aí de regresso.

O vetrn era então definido pelo sr. Pearce como a soma de três componentes: o valor de mercado, o valor de opção e o valor de existência.

O valor de mercado da coisa é o mais fácil. Consegue-se sempre uma estimativa razoável.

O valor de opção era então interpretado como o valor da opção de poder vir a utilizar o recurso em tempo futuro, o significa a sua preservação, e/ou a preservação da sua regeneração (no caso de ser renovável). A única maneira que eu conhecia de estimar esta componente era através do willingness (deve faltar un h algures) to pay, mas também se sabia que as pessoas diziam disparates pelo que se tinha de ter cuidado.

Quanto ao valor de existência é um berbicaxo. Supostamente dá conta de todas as externalidades associadas e a única maneira que eu consigo imaginar de objectivar a coisa através da teoria da informação: raridade vs redundância.

E pronto, para quem quiser brincar...

PS - será que ninguém achou tanta graça àquela do Portugalois como eu?

Publicado por: pyrenaica às julho 27, 2005 08:44 PM

Joana, mais propriamente sobre o Nous de Anaxágoras e a Noosfera, sobre a qual também aconselho Le Macroscope de Joel de Rosnay.

Agora, caro Albatroz, essa coisa dos comandos eu acho que é uma ilusão: somos nós aqui na internet pela palavra e pelo pensamento que vamos defender Portugal. Eles gostam de brincar aos machões e tudo bem já papei machões, entendo a onda, dantes achava mais graça que agora, mas saem muito caro ao erário público, por causa dos brinquedos todos com que andam, e só espero que a gente não tenha de passar por uma vergonha por causa disso.

Seja como for penso que o Luís Lavoura colocou o problema com mais propriedade formal.

Publicado por: pyrenaica às julho 27, 2005 09:07 PM

carlos alberto às julho 27, 2005 06:37 PM

Tá tudo muito certo.

O único equívoco está nos "calinhos".
Os únicos "calinhos" que conheço são de aguardente... Depois d'uma francesinha, p'ra cortar a gordura.

Post scriptum (só p'ra não ser PS): Não foi nada simpático esse "Tenho um resto de uma boa tarde." Fugiu-lhe a digitação para a verdade, foi o que foi...

Tenha um resto de boa tarde.

Camarada :)

Publicado por: Esquerdalhaço às julho 27, 2005 09:09 PM

pyrenaica às julho 27, 2005 08:44 PM

O seu post aborda uma questão que em tempos já aflorei (julgo que a propósito dos fogos florestais).
No decurso da licenciatura, realizei um pequeno trabalho de recensão bibliográfica sobre a valorização económica do ambiente (chamemos-lhe assim).
Correndo o risco de asneirar (nunca mais voltei ao assunto e já lá vão 10 anos), julgo que a análise da valorização de um recurso natural, assenta em 3 eixos:
- valores de uso directos (ex.º: produtos, recreação)
- valores de uso indirecto (ex.º: suporte biológico, protecção física)
- valores de não-uso (valor de opção/uso futuro e valor de existência)

Ora este berbicacho (julgo que é assim que se escreve) do valor de existência, traduz o valor que resulta da satisfação gerada pela mera existência e garantia de perenidade do recurso em causa. Esta satisfação considera-se independente da intenção de uso futura. Terá, obviamente, que ver com a raridade do bem, mas não só.
Mas, efectivamente, é complicado parametrizar este último aspecto do valor de existência.

Bem, talvez não tenha acrescentado nada, mas fica a intenção.

Publicado por: Vítor às julho 27, 2005 09:52 PM

Claro que ajudou Vítor, bem haja. O x foi de propósito (no berbicaxo). Os fogos florestais vão ser o meu macroscópio para a questão geral. Para já pus-me a pedir chuva ali aao dragoeiro que temos aqui e ele lá correspondeu. O problema é que ele fala em silêncio. Por acaso sabe-me dizer se é uma espécie monóica ou dióica?

Para mim o valor de existência daquele dragoeiro é infinito, mas por uma questão de democracia intelectual posso ter de admitir que infinito seria o valor do último exemplar reproductivo (ainda se escreve assim?).

Boas :))

Publicado por: pyrenaica às julho 27, 2005 09:59 PM

Zé Luiz às julho 27, 2005 07:50 PM
1 – Como é habitual, o que escreve tem pouco ou nada a ver com o que escrevi, excepto a frase que coloca em epígrafe, mas que apenas serve para um trocadilho formal.
Mas como eu me pactuo pela objectividade, passemos às questões:
“os decisores económicos estão-se tão completamente nas tintas para o que dizem os pais da economia clássica como os decisores políticos - ou mesmo mais.”
Resposta: post que acabei de colocar.

Publicado por: Joana às julho 27, 2005 10:16 PM

Zé Luiz às julho 27, 2005 07:50 PM
2 “Ao defender os vícios do capitalismo real com as virtudes do capitalismo utópico, a Joana está a fazer o que censura à esquerda”
Não usei a palavra “capitalismo”, que aliás não acho que seja tecnicamente precisa. Saberá você, por acaso definir “capitalismo”, para além dos fantasmas apavorantes que lhe povoam a mente?
Limitei-me a dar um esboço do funcionamento da economia real e dos desvios relativamente ao modelo da concorrência pura e perfeita (que eu designei por imperfeições do modelo). Aquela frase deve-lhe ter passado pela cabeça por alguma razão sólida. Infelizmente nenhuma relacionada com o meu texto

Publicado por: Joana às julho 27, 2005 10:19 PM

Zé Luiz às julho 27, 2005 07:50 PM
3 – A questão do papel do Estado já foi debatida posts atrás. Não vejo a razão para você fazer tábua rasa do que então se disse.
Indique-me, sff, onde tentei desacreditar o Estado através de exemplos que decorrem, directa ou indirectamente, de comportamentos e de interesses privados. (a menos que considere privados os interesses de sectores do funcionalismo público).
4 – Não percebo ao que vem a frase “defender a globalização económica sem defender a globalização política” Você devia estar a ler outro blog quando escreveu isto.

Publicado por: Joana às julho 27, 2005 10:21 PM

Zé Luiz às julho 27, 2005 07:50 PM
5 – “Quanto à inevitabilidade, estamos conversados: não acredito em inevitabilidades históricas de espécie nenhuma, o «socialismo científico» vacinou-me contra elas.”
Eu também não acredito em “inevitabilidades históricas”. Todavia acredito que, ao me aproximar de uma curva e contra curva, com um sinal redondo ostentando o nº 60 dentro de uma coroa circular vermelha em fundo branco, se eu continuar a direito e a 120 km/hora vou ter problemas.

Publicado por: Joana às julho 27, 2005 10:23 PM

pyrenaica e outros:
Agora tenho que sair ... prometo hoje ou amanhã responder. Boa noite.

Publicado por: Joana às julho 27, 2005 10:25 PM

Joana, o capitalismo tem definição: trata-se do sistema ideológico que legitima a (máxima) acumulação à cabeça (capita), que vem da tradição judaica de que JHVH recompensava os seus melhores filhos com muitos bens e descendência. Desculpe lá ter-me metido nas suas férias, não se sinta com pressa de responder à coisa, já estou a trabalhar e há tempo.
Boas :)

Publicado por: pyrenaica às julho 27, 2005 10:38 PM

Embora não lhe saiba responder quanto aos pormenores íntimos :) do dragoeiro (vou indagar), fica aqui o meu protesto por não poder usufruir amiúde da contemplação dessa raridade.
Vingo-me amanhã e vou ali dar uma espreitadela ao abraço, com mais de 20m de altura, de um Gingko e de um Liriodendro...

Publicado por: Vítor às julho 27, 2005 10:48 PM

Estimada JOANA ! Faz tempo que nao envio um post para o seu excelente blog . O que nao quer dizer que nao o acesse de vez em quando ! Transcrevo aqui um interessante artigo do jornalista, escritor e filosofo brasileiro OLAVO DE CARVALHO a proposito de NEOLIBERALISMO, GLOBALIZACAO, etc.Acredito que vai gostar de ler, o mesmo se passando com alguns, poucos , dos seus fieis comentadores...
Automacumba semântica
por Olavo de Carvalho em 26 de julho de 2005

Resumo: É absolutamente falso que a esquerda, no Brasil ou em qualquer outro país do continente, oponha alguma resistência ao globalismo, exceto o mínimo indispensável para fins de camuflagem.

© 2005 MidiaSemMascara.org


Olavo de Carvalho - Washington D.C. Acabo de ler a entrevista do sr. Rubens Requeijão na revista Caros Umbigos, e lá vem de novo esse personagem de comédia da Atlântida tentando assustar criancinhas com o fantasma do "neoliberalismo" – o culpado de todos os males.

Mas é só um exemplo entre infinitos. A facilidade, a desenvoltura, a segurança com que no Brasil se usa esse termo, como se designasse uma entidade patente e arquiconhecida, é para mim o sinal mais evidente da psicose nacional, do completo divórcio brasileiro entre linguagem e realidade.

É deprimente observar como os autoproclamados representantes do "pensamento crítico", incapazes da mais elementar análise crítica de seu próprio discurso, se deixam hipnotizar pelas palavras que empregam. Não existe nenhum "pensamento crítico" se você continua preso numa malha de compactados verbais, impotente para descascar suas várias camadas de significado e confrontá-las com os dados de realidade que presumidamente elas designam. Só o que existe, nessas condições, é pensamento mágico, é automacumba semântica.

"Neoliberalismo", no vocabulário usual da esquerda – que no Brasil de hoje é o da mídia e da intelectualidade inteiras –, é uma corrente de opinião que favorece (a) a livre-empresa contra a intervenção estatal na economia, (b) o globalismo em detrimento dos interesses nacionais e (c) a moral judaico-cristã tradicional em oposição aos princípios "politicamente corretos", buscando, por esses três meios, (d) ampliar a hegemonia norte-americana no mundo em prejuízo dos interesses das nações pobres. Com essas características, o neoliberalismo aparece como (e) sinônimo da "direita", dando-se por pressuposto que (f) é a ideologia dominante no mundo dos negócios e entre os políticos antipetistas e anti-esquerdistas em geral.

Dado o objeto, só resta tomar posição diante dele: a primeira coisa que no Brasil se espera de um político, de um jornalista, de um formador de opinião, é que se defina – ou consinta em ser definido pelos outros – a favor ou contra o neoliberalismo. Tal seria a questão fundamental, o supremo divisor de águas que separa não apenas duas correntes políticas, mas dois sistemas de valores, duas concepções da existência.

A síntese dos elementos designados pela junção das camadas de significado forma um desenho apto a despertar o ódio dos nacionalistas, terceiromundistas e progressistas em geral. Como slogan político criado para reunir forças num vasto front anti-americano, o termo é perfeitamente apropriado.

Só resta perguntar se o objeto assim concebido pode existir efetivamente ou se, ao contrário, o impacto persuasivo da palavra não reside precisamente no fato de que ela junta numa síntese ideal elementos que, na realidade, só podem existir como entidades separadas, heterogêneas ou antagônicas. Um breve exame tirará isso a limpo:

1) Globalismo não é simples abertura de mercados: é introdução de regulamentações em escala mundial que transferem a soberania das nações para organismos internacionais. Nenhum apóstolo da economia de mercado é sonso o bastante para não perceber, hoje em dia, que a abertura das fronteiras arrisca não produzir um paraíso de liberdade econômica, e sim a proliferação de legislações e controles em escala global - o Leviatã dos leviatãs. A incompatibilidade lógica traduz-se, no plano da ação política, como briga de foice entre os liberais clássicos e os planejadores-legisladores econômicos globais. Nos EUA, isso é um fato do dia-a-dia. Mas, como no Brasil e em outros países da América Latina a mídia intoxicada de lendas esquerdistas jamais menciona esse fato, a união harmônica e indissolúvel de liberalismo clássico e globalismo pressuposta no conceito de "neoliberalismo" parece não só viável como realmente existente. Rarissimamente encontrei entre brasileiros um colunista de mídia, cientista social, empresário, analista econômico ou estrategista militar que tivesse alguma consciência desse engano monumental.

2) Um dos temas mais discutidos nos EUA é a contradição aparentemente insolúvel entre abertura econômica e segurança nacional. Os chineses, por exemplo, têm alguma chance de vencer a Chevron na concorrência para a compra da Unocal (a nona maior companhia americana de petróleo), mas, se isso acontecer, as conseqüências estratégico-militares podem ser desastrosas. A maior parte dos poços da Unocal está na Ásia, mais perto da China que dos EUA. Se os chineses cumprirem sua ameaça de invadir Taiwan, a quem a Unocal chinesa vai fornecer combustível? A eles ou às tropas americanas, comprometidas a defender a ilha custe o que custar? E não são só as empresas privadas que, na sua ânsia de livremercadismo absoluto, colocam o país em risco. O próprio governo americano, semanas atrás, estava quase fechando um negócio bilionário de venda de reatores nucleares à China, quando a Câmara dos Deputados, no último instante, vetou a brincadeira. Afinal, só um doido canta vitória comercial quando consegue bom preço na venda de armas ao inimigo que jurou matá-lo. Diante de fatos dessa envergadura – e eles são milhares –, como acreditar nos tagarelas brasileiros quando proclamam que a "idolatria do mercado" é um instrumento do poderio americano? Aqui, quem grita contra essa idolatria são precisamente os conservadores. Há pelo menos dez anos eles estrilam contra a orgia de investimentos na China, que os economicistas de plantão justificavam sob a desculpa da liberdade econômica, dotada, segundo eles, do poder miraculoso de gerar a liberdade política. Hoje as conseqüências dessa ilusão são tão evidentes que há mesmo quem suspeite que ela foi plantada na mente dos investidores americanos com o propósito consciente de esvaziar a ideologia capitalista dos valores morais e culturais que a sustentam, reduzi-la a um triunfalismo econômico suicida e usá-la como instrumento de liquidação das defesas nacionais americanas. Se essa hipótese lhes parece demasiado assustadora para ser verdade, lembrem-se de que a abertura econômica acoplada à destruição sistemática das bases morais do americanismo foi a marca registrada da era Clinton – e ninguém aqui ignora a intensa troca de favores entre os Clintons e a espionagem chinesa. Como lembrou o colunista Terence P. Jeffrey no semanário Human Events – de muita influência nos círculos bushistas –, os chineses leram Clausewitz e chegaram à conclusão de que comprar certos bens de capital é também "fazer política por outros meios", isto é, guerra por outros meios.

3) Se identificar o globalismo com a ambição nacional americana já é maluquice bastante, ainda mais insano é associá-lo ao conservadorismo religioso que, nos EUA, vem crescendo ano após ano. Para o automatismo mental brasileiro, nada mais óbvio e autoprobante do que essa associação. O cérebro nacional acostumou-se a saltar direto das palavras às reações emocionais que elas evocam, sem a menor necessidade de referência a alguma realidade do mundo exterior. Assim, a associação verbal é infalível: religião > reacionarismo; reacionarismo > capitalismo; capitalismo > imperialismo ianque; imperialismo ianque > globalismo; globalismo > neoliberalismo; logo, a moral religiosa tradicional é um instrumento do neoliberalismo. Esse método puramente galináceo de raciocínio é hoje obrigatório em todas as universidades brasileiras, e tamanha é a sua autoridade que a simples tentação de corrigi-lo já desapareceu do fundo das almas. Deve portanto soar como um escândalo intolerável a informação que vou dar a seguir: todos os conservadores religiosos americanos – cristãos ou judeus – são, em maior ou menor medida, contra o globalismo. E são contra por um motivo muito simples: o projeto de cultura mundial administrada, que vem junto com a uniformização econômica do planeta, traz no seu bojo as sementes de uma neo-religião híbrida, meio ecológica, meio ocultista, criada em laboratório por engenheiros comportamentais da ONU (procurem saber quem é Robert Müller), e cuja implantação resulta pura e simplesmente na destruição completa do cristianismo e do judaísmo. Não foi por coincidência que uma onda de anti-semitismo e anticristianismo se espalhou pelo planeta nas últimas décadas: ela veio por intermédio da rede global de ONGs subsidiadas pela ONU e por fundações milionárias, empenhadas na "guerra cultural" pela criação de uma civilização biônica inaceitável para toda mentalidade religiosa tradicional. Mais especialmente, o ataque cultural globalista se volta contra a cultura americana, tentando criminalizar e destruir as suas raízes judaico-cristãs e substituí-las por uma nova moral abortista e hedonista adornada pelo culto de Gaia ou fetiches similares. Nos EUA não há quem não esteja consciente de que esse é o verdadeiro divisor de águas, o verdadeiro campo de combate pelo domínio dos corações e mentes no século XXI. Os debates brasileiros passam a anos-luz de distância do centro dos acontecimentos.

4) Por fim, é absolutamente falso que a esquerda, no Brasil ou em qualquer outro país do continente, oponha alguma resistência ao globalismo, exceto o mínimo indispensável para fins de camuflagem. Nenhuma corrente política existe para se opor àqueles que a subsidiam. As fontes de dinheiro para a esquerda, tanto na América Latina quanto nos EUA e na Europa, são hoje bem conhecidas, e elas são precisamente as mesmas que, a pretexto de livre mercado, financiam o estabelecimento da Nova Ordem Global: as fundações Ford, Rockefeller, MacArthur e sobretudo a rede tentacular de agentes do multibilionário golpista George Soros - eis aí os grandes financiadores e protetores do chavismo, do lulismo, do fidelismo e de todas as demais patologias políticas que, numa atmosfera geral de loucuras e mentiras, tem se apossado velozmente do poder em várias nações do continente. A essas fontes capitalistas devem somar-se os agentes políticos (Partido Democrata, Diálogo Interamericano, os Clintons, os Kennedys e uma multidão de Carters) que ajudam a drenar para os mesmos destinatários o dinheiro do governo americano, principalmente as verbas da USAID. O leitor encontrará nos sites www.discoverthenetwork.org e www.activistcash.com um mapeamento bem minucioso da circulação de dinheiro entre os potentados do globalismo e as organizações que, na América Latina e em outras partes do Terceiro Mundo, fingem combatê-los. Essa elite invariavelmente toma partido da burocracia mundial quando esta fere o interesse nacional dos EUA, tal como aconteceu na guerra do Iraque, nas discussões sobre o Tratado da Lei do Mar, na introdução da moral "politicamente correta" na educação americana etc. Financiando a esquerda do Terceiro Mundo, essa elite tem a seu serviço um útil instrumento para enfraquecer a resistência americana, facilitando a implantação do governo mundial que a ONU já declarou ser seu objetivo prioritário para as próximas décadas.

Para isso, precisamente, serve o termo "neoliberalismo": para ludibriar nacionalistas sonsos nos países pobres, desviando suas pretensões de resistência antiglobalista no sentido de um anti-americanismo despropositado que, hoje, é um dos instrumentos essenciais da ascensão da burocracia mundial.

Intelectuais esquerdistas tagarelas do Terceiro Mundo são os tipos mais caricatos e desprezíveis que a humanidade já conheceu. Estão sempre dispostos a inventar belas desculpas para servir a tudo o que não presta.

Quem quer que use o termo "neoliberalismo" com ares de falar a sério só pode ser um manipulador de idiotas ou um idiota manipulado. Não creio que algum dia terei interesse em saber em qual dessas duas classes se incluem o sr. Requeijão e os redatores de Caros Umbigos.

Publicado pelo Diário do Comércio em 25/07/2005.

Publicado por: Alkayross às julho 27, 2005 10:58 PM

Um Gingko, sortudo! Logo a árvore fóssil que foi preservada nos templos budistas. Quem diria que é uma gimnosperma? Essa é dióica que eu lembro-me. Liriodendrum tulipifera, está bem acompanhado. Agora vou dormir :)

Publicado por: pyrenaica às julho 27, 2005 11:01 PM

pyrenaica:
"as delícias de Cápua"? – Foi aquilo que “tramou” o exército de Aníbal. Aquartelou-se em Cápua, gozando o clima e a fertilidade da zona, enquanto os romanos reconstituíam as suas forças. Até que Scipião desembarcou em África …

willingness to pay: É o montante máximo que um consumidor quererá pagar por um dado bem, ou pela sua fruição, mesmo uma paisagem, por exemplo. É um dos métodos para calcular o valor dos bens ambientais e as tarifas ou taxas a impor aos utentes desses bens. Faz-se normalmente a partir de inquéritos. Em Portugal usam-se estudos estrangeiros, porque entre nós, estudos empíricos dão muito trabalho fazerem!.
Nunca tinha ouvido falar do valor de existência, mas é capaz de ser o que o Vítor disse.
Externalidades são os efeitos não financeiros de um dado projecto: utilização de recursos hídricos, poluição do ar, etc. Também há externalidades positivas. Um projecto destinado à remoção e valorização do lixo tem externalidades positivas: melhoria da saúde pública, etc.

Publicado por: Joana às julho 27, 2005 11:30 PM

1 - «Indique-me, sff, onde tentei desacreditar o Estado através de exemplos que decorrem, directa ou indirectamente, de comportamentos e de interesses privados.»

Com todo o gosto. Quando fala, por exemplo, dos cambões dos construtores civis, tanto está a desacreditar o estado através de comportamentos privados, como a desacreditar os privados através dos comportamentos do estado. A coisa funciona nos dois sentidos. A menos que você acredite que o estado obriga os privados a cometerem delitos, o que não é o caso: pode incentivar, mas não obriga.

2- Não usou a palavra «capitalismo», mas usei eu. Pode não ser tecnicamente precisa, mas no contexto é uma palavra praticável, e não falseia o seu texto.

3 - «A questão do papel do Estado já foi debatida posts atrás. Não vejo a razão para você fazer tábua rasa do que então se disse.»

Não estou a fazer tábua rasa do que se disse, estou a chamar a atenção para o que ficou por dizer. Nomeadamente, que se o Estado é necessário a nível nacional ou regional, então também é necessário a nível global. Se não por outras razões, então por aquelas que você então indicou.

4 – «Não percebo ao que vem a frase “defender a globalização económica sem defender a globalização política” Você devia estar a ler outro blog quando escreveu isto.»

Não estava a ler outro blog, estava a ler o seu. Não me obrigue a provar uma negativa: é muito mais fácil você provar uma afirmativa. Se alguma vez defendeu a globalização política, eu não li. Mas se defendeu, diga-me onde.

5 - «Eu também não acredito em “inevitabilidades históricas”. Todavia acredito que, ao me aproximar de uma curva e contra curva, com um sinal redondo ostentando o nº 60 dentro de uma coroa circular vermelha em fundo branco, se eu continuar a direito e a 120 km/hora vou ter problemas.»

Pois é, eu também. O problema é que as leis da Física permitem prever o futuro com muito mais probabilidades de acertar do que as leis da Economia.

Publicado por: Zé Luiz às julho 27, 2005 11:35 PM

Obrigado Joana pela sua síntese. Sobre o valor de existência é que temos de conversar. Como objectivar isso por forma a que seja intelectualmente honesto? Já estou a ver que as delícias de Cápua é que me vão tramar, embora ache que eu era elefante, nessa história.

Scipião, o Africano. As guerras púnicas. Salambô de G Flaubert.

Quando estive em Tunes bem andei lá a escarafunchar para ver se pressentia Cartago, mas de facto foi delenda. Ficaram uns tophets e o museu do Bardo. As ruínas romanas são bem boas.

Publicado por: pyrenaica às julho 28, 2005 12:38 AM

pyrenaica às julho 27, 2005 08:44 PM

Dizia-se "portugalois" na mesma época em que se dizia "françois"... Deve haver uma razão linguística para isso, mas não pertence à minha área de conhecimentos. Mas não queria deixar de reagir à sua insistente chamada de atenção. Afinal de contas as coisas só têm graça quando partilhadas...

Publicado por: Albatroz às julho 28, 2005 01:14 AM

Novais de Paula às julho 27, 2005 04:14 PM

Quanto a mim "mercado" e "capitalismo" são coisas bem distintas. Pode haver capitalismo sem mercado - o chamado capitalismo de Estado -, e pode haver mercado sem capitalismo. O mercado é apenas um mecanismo expontâneo de convergência da oferta e da procura. O capitalismo (que não seja de Estado) associa-se à posse privada dos meios de produção. Não nenhuma razão para que empresas cooperativas, por exemplo, não usem os mecanismos de mercado. Logo defender o capitalismo porque é o sistema que usa o mercado é um abuso... Eu defendo o mercado, mas sou visceralmente anti-capitalista...

Publicado por: Albatroz às julho 28, 2005 01:22 AM

Ora Albatroz,obrigado pelo partilhanço. Parece-me que ele cruzou portugais*galois. A citação é uma delícia cá para mim. Ele lixou-se porque queria ser imperador e para isso primeiro tinha de ser reconhecido rei de Roma. Mais uma vez foram os Suiços, mas quem entrou por ali adentro foi ele. Quem se mete nos Alpes...
Eu cá sou mais do lado de cá dos Pirinéus.

Quanto à sua tendência anarco-miguelista, como poética acho radical, mas gosto de eleger presidentes.

Publicado por: pyrenaica às julho 28, 2005 01:23 AM

O problema do capitalismo é que se preocupa apenas com a maximização da eficiência produtiva no curto prazo. Essa eficiência é outra forma de dizer produtividade. Mas essa eficiência/produtividade depende do aumento da produção e da contenção ou redução dos custos. O aumento da produção passa em grande parte pela inovação, mas a contenção/redução dos custos passa também pela exploração do factor trabalho. Ou seja, conseguir que cada trabalhador produza mais sem que custe mais. Enquanto isso for a consequência da inovação tecnológica, tudo bem. Mas, mais tarde ou mais cedo vai ter de passar pelo aumento das horas de trabalho e/ou pela redução dos salários e benefícios sociais. Até porque há países cada vez mais competitivos (China, Índia), onde os custos do factor trabalho são muito baixos, mas a competência tecnológica dos trabalhadores já é bastante elevada. Concorrer com os trabalhadores chineses e indianos num mundo globalizado terá de passar pela aproximação das condições laborais dos nossos trabalhadores às condições laborais dos chineses e indianos. Aceitar isso é aceitar um retrocesso civilizacional. Não podemos considerar como bom um sistema que tal imponha.

Só gostava que a Joana, ou qualquer dos seus discípulos, me dissesse como é que se consegue aguentar a concorrência da China e da Índia sem aceitar trabalhar nas condições em que eles trabalham. Poderão dizer que as condições salariais dos chineses e indianos se irão aproximar das nossas, resolvendo o problema. Eu acho que vai ser o contrário que vai acontecer. O que também resolve o problema da competitividade, mas à custa do nosso bem estar. Se é esse o preço do capitalismo liberal - e eu acho que é - então não, muito obrigado...

Publicado por: Albatroz às julho 28, 2005 01:38 AM

pyrenaica às julho 28, 2005 01:23 AM

Se não estou em erro já houve uma época em que nos chamávamos a nós próprios de "portugaleses", o que pode ajudar a compreender a forma "portugalois". Mas, mais uma vez, estou um bocado no reino da fantasia...

Publicado por: Albatroz às julho 28, 2005 01:46 AM

Ah Albatroz, então a citação é nossa mesmo, e ele foi buscá-la à mãe. Então está aí a nossa bomba atómica, não? Recomeçou o Alves dos Reis...

Publicado por: pyrenaica às julho 28, 2005 01:49 AM

Encontrei na net um pequeno texto em francês antigo, que diz:

"Le Roy de Portugal a une isle a cent lieues de sondit royaume, en l’Ocean, que les Portugalois nomment l’isle de Madeira, (c’est a dire, de Matiere, a cause, disent ils, de l’abondance du bois de ladite isle) en laquelle se fait force Sucre."

Assim se pode ver que a expressão "portugalois" era comum, na época.

Publicado por: Albatroz às julho 28, 2005 01:56 AM

Boa Albatroz, QED!
A ver se consigo dormir que era suposto estar espertinho amanhã de manhã, coisa que já não vai dar. Abraço. Leu bem a citação não? Mas é preciso não esquecer que ele foi batido pelos Suiços na batalha de Nancy.

Publicado por: pyrenaica às julho 28, 2005 02:23 AM

"Entre nous Portugalois, nous avons une coustume devers nous, que, quand ceux que nous avons tenus à nos amis se font amis à nos ennemis, nous les commandons à tous les cent mille diables d'enfer"

Ehehe!

Publicado por: pyrenaica às julho 28, 2005 02:31 AM

Albatroz porque é que assumes que o movimento é para baixo? Quer na India quer na China os salários têm aumentado. Ficou-te na retina a sweatshops e não sais daí. Muitos milhões de pessoas estão a aumentar a qualidade de vida. Porque é que isso acontece, são livres de criar as suas empresas, ter e aplicar as suas ideias. É só ver o percurso das chamadas regiões especiais e a quantidade de pessoas que correram para elas.

O melhor sistema para os trabalhadores não é só a possibilidade de um trabalhador escolher entre empresas é a possibilidade de um trabalhador criar a sua própria empresa.

Publicado por: lucklucky às julho 28, 2005 04:31 PM

lucklucky às julho 28, 2005 04:31 PM

Num mercado aberto os preços têm tendência a equalizar-se. Estando os trabalhadores europeus em concorrência com os chineses, é de esperar que, não só os salários dos trabalhadores chineses SUBAM, mas também que os salários dos trabalhadores europeus DESÇAM. Isto é o que as leis da economia prevêm e é, de facto, aquilo que, pouco a pouco, se tem vindo a verificar.

(O efeito das leis da economia pode, no entanto, ser temporariamente bloqueado pela intervenção de jogos de poder. Por exemplo, patrões tirânicos apoiados pela violência de Estado podem impedir os salários dos trabalhadores chineses de subir.)

Publicado por: Luís Lavoura às julho 29, 2005 04:22 PM

Luís Lavoura às julho 29, 2005 04:22 PM

Os "nossos" amantes do neo-liberalismo e da globalização ainda não perceberam os efeitos devastadores que isso vai ter nas nossas sociedades. Por enquanto vêem a contenção dos custos laborais, mas em breve vão ver a redução do poder de compra e da procura agregada. Só então vão perceber a armadilha em que cairam. Mas, com as suas mentes "iurd", vão-se agarrar à cartilha liberal até ser tarde demais...

Publicado por: Albatroz às julho 29, 2005 05:03 PM

Albatroz às julho 29, 2005 05:03 PM: A culpa da globalização não é do liberalismo. Os economistas liberais apenas a estudam. A globalização resulta do anseio de muitos povos de ascenderem em condições de igualdade ao comércio mundial. Enquanto a UE teve força para impedir isso, a coisa foi bem, para nós. Mas agora já não consegue.

Publicado por: Rui Sá às julho 30, 2005 09:49 AM

Portanto a nossa resposta não é culpar os liberalistas nem refugiarmo-nos no proteccionismo, pois este já não é possível como havia sido até há poucos anos. É ver como concorrer num mundo com menos protecções aduaneiras

Publicado por: Rui Sá às julho 30, 2005 09:51 AM

Rui Sá,
Com raras excepções, a maioria dos países em vias de desenvolvimento não estão interessados em "ascenderem em condições de igualdade ao comércio mundial". Querem sim criar capacidade produtiva local que permita dar trabalho aos seus habitantes. Ora isso não se consegue por via da globalização, já que as empresas locais não têm capacidade para concorrer com as grandes multinacionais. Quem beneficia com a globalização são essas multinacionais, que podem produzir onde for mais barato para venderem no resto do mundo, assim como países como a China e Índia, que dispõem de custos de produção muito baixos mas também de competências tecnológicas elevadas. Nós inventámos a globalização para explorar o resto do mundo, mas agora são os chineses e indianos que dela vão beneficiar. Se não pusermos um travão a essa globalização o nosso nível de vida vai sofrer uma queda muito acentuada, e iremos perder milhões de postos de trabalho. As grandes multinacionais nada sofrerão com isso, mas já lá vai o tempo em que o que "era bom para a General Motors era bom para os EUA"... A globalização só fará sentido quando as diversas regiões do mundo tiverem níveis de desenvolvimento semelhante e custos de produção semelhantes. Até lá a globalização será um factor de enorme instabilidade. O mesmo tipo de factores que, a nível nacional, conduzem à desertificação do interior de Portugal, vão conduzir a situações de crise económica na Europa. A liberalização do comércio internacional e a livre circulação dos capitais fazem com que as actividades económicas se deslocalizem da Europa e dos EUA para a China, Índia, etc. O que é bom para os chineses e indianos mas é péssimo para nós. Como o equlíbrio entre os custos de produção nesses países e na Europa demorará (na melhor das hipóteses) várias décadas, a economia europeia entrará em recessão profunda se mantivermos a globalização. Só o proteccionismo à escala continental pode evitar isso. O que nem sequer prejudicará muito chineses e indianos, já que os respectivos mercados internos são mais do que suficientes para manter altos níveis de crescimento económico. Temos de aprender a contestar as "verdades indiscutíveis" de uma economia de manual escolar se quisermos sair deste enorme buraco.

Publicado por: Albatroz às julho 30, 2005 10:44 AM

Albatroz às julho 30, 2005 10:44 AM:
Mas isso que escreve não está em contradição com o proteccionismo que defende?
Se as multinacionais americanas e europeias ganham dinheiro com a abertura, como é que você pretende levantar barreiras. A UE e os USA perdem mais do que ganham.
Repare que essa deslocalização transfere empregos menos qualificados para a Ásia, mas cria empregos mais qualificados nos países sede dessas multinacionais

Publicado por: Rui Sá às julho 30, 2005 11:26 AM

Rui Sá às julho 30, 2005 11:26 AM

Temos que fazer a distinção entre o interesse das multinacionais e o interesse dos países ou das economias no seu todo. As multinacionais ganham com a globalização - mais lucros - mas os países desenvolvidos perdem - menos postos de trabalho, menos impostos pagos, menos procura. E depois, como é que a deslocalização cria empregos mais qualificados nos países sede das multinacionais? O que cria empregos é o investimento, e a deslocalização referida em nada contribui para esse investimento. Em tempos, segundo a economia clássica, a libertação de mão de obra dos sectores menos qualificados gerava disponibilidades para sectores tecnologicamente mais evoluídos. Os camponeses desempregados que afluiram às cidades inglesas no século XIX criaram uma reserva de mão de obra barata para a indústria. Mas onde é que está um fenómeno semelhante nos nossos dias e nos nossos países? Isso verifica-se na China de hoje, mas não na Europa. Não é por falta de mão de obra que não se criam mais actividades de alta tecnologia na UE. Temos todos de parar de repetir fórmulas sem nexo com que temos sido bombardeados, e de começar a reflectir.

Publicado por: Albatroz às julho 30, 2005 11:39 AM

A economia não é uma ciência particularmente dificil, mas exige uma grande interiorização de conceitos e de mecanismos, para que a grande multiplicidade de relações entre os agentes económicos possa ser facilmente compreendida. De outra forma torna-se num conhecimento superficial, baseado na memória e não no raciocínio. Por exemplo: toda a gente "sabe" que se o preço de mercado aumentar a oferta aumenta. Mas se não se conhecer a teoria dos custos marginais e da sua tendência crescente, não se consegue realmente perceber porque é que a oferta aumenta com o preço. Quem não estudou economia facilmente se fixa em fórmulas aparentemente simples, deixando-se enganar por aqueles que têm interesse em enganar-nos. Não esqueçamos que a oligarquia que nos domina é de base económica, tem interesses muitas vezes convergentes com os das multinacionais e domina a comunicação social. Por isso estamos sujeitos a uma barragem propagandística por vezes dificil de contrariar.

Publicado por: Albatroz às julho 30, 2005 11:53 AM

Lixo

Publicado por: Cisco Kid às agosto 5, 2005 04:50 AM

Só reaças

Publicado por: Cisco Kid às agosto 6, 2005 03:17 AM

Só reaças

Publicado por: Cisco Kid às agosto 6, 2005 03:17 AM

Só reaças

Publicado por: Cisco Kid às agosto 6, 2005 03:17 AM

Só reaças

Publicado por: Cisco Kid às agosto 6, 2005 03:18 AM

Só reaças

Publicado por: Cisco Kid às agosto 6, 2005 03:18 AM

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