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abril 11, 2005
Adam Smith ... do produtor
Ou uma lembrança para o Blasfémias.
Notas:
1 A imagem poderia estar melhor, mas eu não quis calcá-la, pois é uma edição do século XVIII. O último período está, parcialmente na página seguinte.
2 O outro excerto, não o digitalizei por duas razões: a primeira, porque isto é apenas uma brincadeira e andar a pôr edições antigas em scanners, só por festa; a segunda, porque metade da citação está numa página e a outra metade na página seguinte
Publicado por Joana às abril 11, 2005 09:59 PM
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Comentários
É engraçado verificar que, sendo uma edição do século 18, a ortografia é totalmente idêntica à atual.
O inglês é uma língua muito conservadora. Mantem uma forma de escrever as palavras completamente abstrusa e opaca, por motivos tradicionalistas. Faz parte da mentalidade inglesa. É deveras incompreensível.
Publicado por: Luís Lavoura às abril 12, 2005 10:25 AM
Folgo em ver que a Joana leu Adam Smith. É que, tendo-o lido, terá visto as fortes invetivas dele contra os industriais ingleses da época. Quem leu Adam Smith dificilmente acreditará que "o que é bom para a General Motors é bom para os Estados Unidos".
Publicado por: Luís Lavoura às abril 12, 2005 10:27 AM
O Luís Lavoura passou ao ataque :)
Publicado por: Rui Lizandro às abril 12, 2005 12:10 PM
Duas páginas são suficientes para ver como mudou a forma de escrever dos economistas. Nada de expressões matemáticas para cortar o ritmo e entediar o texto, apenas um discurso de ideias.
Apesar de a matemática ser necessária, o estilo e a superior técnica de escrita garante mais ideias expostas e de forma mais convincente, o constitui uma vantagem para antigo do filófoso/economista face ao actual matemático/economista, da economia política em relação ao "economics".
Publicado por: Daniel às abril 12, 2005 03:16 PM
Daniel às abril 12, 2005 03:16 PM
É que Adam Smith conhecia do mundo aquilo que os atuais economistas conhecem de teorias. Adam Smith era um homem muito viajado, tinha um saber de experiência todo feito. Os atuais economistas livrescos sabem muita matemática, mas não observam o mundo à sua volta.
Publicado por: Luís Lavoura às abril 12, 2005 04:59 PM
Essa sua visão de Adam Smith e dos actuais economistas é o que é, ou é o que você precisa que seja para tirar essa conclusão.
Publicado por: Hector às abril 12, 2005 05:17 PM
O Hector desculpe se eu fui um bocado duro com os economistas atuais. Mas, quando vejo economistas que atribuem a alta atual do preço do petróleo a meras atividades especulativas(como o fizeram durante muitos meses - agora já não mais), e que durante anos atribuíram o espetacular crescimento bolsista dos anos 90 a uma nova e maravilhosa forma de economia, eu chego à conclusão que, de facto, os economistas atuais não sabem observar o mundo que os rodeia. Quando ouço o Nicolau Santos a perorar, eu concluo que algunss economistas podem ter estudado muitos modelos matemáticos, mas isso não lhes fez desenvolver a matéria cinzenta aquilo que seria desejável.
Publicado por: Luís Lavoura às abril 12, 2005 06:04 PM
Adam Smith viajado? O homem passou praticamente a vida toda na Escócia! Visitou fugazmente Londres e andou por França como "perceptor" do jovem Duque de Buccleuch cerca de 2 anos!
Comparar isso com muitos dos economistas anuais que já estiveram em tudo quanto é sítio, além de estarem ligados à net!!
Publicado por: Joana às abril 12, 2005 08:24 PM
Caro Luís Lavoura:
O Inglês é uma língua ortograficamente estável? Do séc. XVIII até ao presente, sem dúvida; e isto em parte graças aos esforços do bom do Dr. Johnson, para não falar dessa obra monumental, iniciada no séc.XIX e que continua a ser construída hoje, que é o Oxford English Dictionary.
Mas entre o séc. XVI e o séc. XVII a transformação foi enorme, assim como entre o séc. XVII e o séc. XVIII.
Atente neste texto de Thomas Hobbes, publicado em 1651:
So the nature of War, consisteth not in actuall fighting; but in the known disposition thereto, during all the time there is no assurance to the contrary. All other time is PEACE.
Whatsoever therefore is consequent to a time of Warre, where every man is Enemy to every man; the same is consequent to the time, wherein men live without other secutity, than what their own sthength, and their oen invention shall furnish them withall. In such condition, there is no place for Industry; because the fruit thereof is uncertain: and consequently no Culture of the Earth; no Navigation, nor use of the commodities that may be imported by sea; no commodious Building; no Instruments of moving, and removing such things as require much force; no Knowledge of the face of the Earth; no account of Time; no Arts; no Letters; no Society; and which is worst of all, continuall feare, and danger of violent death; And the life of man, solitary, poore, nasty, brutish, and short.
Repare na inconsistência ortográfica: a mesma palavra aparece grafada «War» e «Warre». Hobbes parece considerar irrelevante escrever certas palavras terminadas em consoante ou em «e». Repare também na inconsistência no uso das maiúsculas: por um lado parece aplicar-se a regra germânica de grafar com maiúscula os substantivos, por outro parece que não se aplica. Palavras que hoje são grafadas com um só «l» final aparecem aqui grafadas com dois.
A separação por vírgulas das orações principal e relativa manteve-se em Inglês (como de resto também em Português) até finais do séc. XIX, por isso vai encontrá-la também em Adam Smith, em Edmund Burke, em Thomas Paine ou em Robert Owen.
Tudo isto para dizer o quê? Que em Inglês nunca houve reformas ortográficas promovidas pelo «Moloch estatal». As consolidações que se verificaram resultaram da vontade privada de indivíduos como o Dr. Johnson, ou de coligações de milhares de voluntários, como a que produziu e produz o OED.
Nestas matérias sou tão liberal como a Joana em Economia; gosto da língua inglesa exactamente como está; sou contra as reformas ortográficas e contra os acordos ortográficos. E estou mesmo a pensar em adquirir um dicionário e uma gramática da língua portuguesa anteriores a 1911 (data da primeira reforma ortográfica em Portugal) e passar a escrever como nos anos imediatamente anteriores à implantação da República: com «ph», consoantes dobradas e tudo.
Publicado por: Zé Luiz às abril 13, 2005 12:49 PM
errata:
«Sthength» e «oen» não são peculiaridades ortográficas de Hobbes, são erros de digitação meus. Hobbes escreveu «strength» e «own». As minhas desculpas.
Publicado por: Zé Luiz às abril 13, 2005 12:53 PM
Zé Luiz em abril 13, 2005 12:49 PM:
Aqui dode ver uma edição em português do século XVI. Veja: "Portugal neto de Noé" http://semiramis.weblog.com.pt/arquivo/2005/02/portugal_neto_d.html, onde eu postei uma página da Monarchia Lusitana, numa edição de finais do século XVI (a 1ª Edição)
Publicado por: Joana às abril 13, 2005 01:27 PM
O inglês é uma língua que mudou menos que o português, por exemplo.
As expressões matemáticas não cortam o texto, desde que o leito esteja à altura. Quem se habitua à linguagem matemática olha para uma expressão e consegue visualizar logo algo. Muitas vezes até simplifica.
O problema da matemática em economia (sou eu a supor, porque não é a minha área) é da própria validade das análises que se fazem. Julgo eu que em micro-economia a validade seja elevada, mas em macro-economia não passar mais de um acto de fé.
Mas isto sou eu a "falar alto" na esperança de me corrigirem e me ensinarem algo.
Publicado por: Mário às abril 13, 2005 01:55 PM
Caro Mário.
Quando diz que o Inglês mudou menos que o Português, tem razão se se estiver a referir ao período contido entre o séc. XVIII e a actualidade. Num período mais alargado o Inglês mudou mais. Camilo não é mais fácil de ler que Jane Austen; mas o Padre António Vieira é mais fácil de ler que o seu contemporâneo Thomas Hobbes, e Camões mais fácil que o seu contemporâneo Shakespeare.
Publicado por: Zé Luiz às abril 13, 2005 02:19 PM
Zé Luiz por favor não faça isso. O português já é hoje escrito de uma forma suficientemente "histórica" e confusa, e já assim há demasiada gente a cometer demasiados erros ortográficos. Se alguém decide voltar a escrever "bibliotheca" e "pharmacia", estamos lixados.
Reformas ortográficas são necessárias, para não cairmos no estado deprimente em que a língua inglesa se encontra, no qual um estrangeiro nunca sabe como ler uma palavra nova que vê, nem como escrever uma palavra nova que ouve. As reformas podem ser promovidas pelo Estado, ou ser fruto de comissões de sábios, como por exemplo na escola de Leipzig da língua alemã, que com os seus dicionários muito ajudou a estabelecer essa língua (infelizmente, com o Anschluss da Alemanha Oriental esses dicionários desapareceram do mercado, tendo sido substituídos por extremamente merdosos dicionários da Alemanha Ocidental - nota de quem teve que aprender alemão e teve ocasião de estudar por ambos os dicionários...). Não interessa: o que é importante, é que a língua ande para a frente.
Publicado por: Luís Lavoura às abril 13, 2005 03:29 PM
Luís Lavoura, já George Bernard Shaw queria reformar ortograficamente a língua inglesa. Dizia ele que pelas regras actuais (no tempo dele e no nosso) a palavra «fish» se poderia escrever «ghoti»: «gh» como em «lauGH», «o» como em «wOmen» e «ti» como em «noTIon».
Mas eu embirro quase tanto com o GBS como imagino que a nossa amiga Joana embirra. Você imagina as aulas em Hogwarts a decorrer numa língua como o Alemão, em que a grafia e o som das palavras correspondem quase exactamente?
E veja o Italiano - uma língua tão bonita, falada, e tão feia, escrita! Sem «h» no princípio das palavras! Lemos «oggi» e lembramo-nos dum par de óculos, só depois de pronunciarmos a palavra alto é que vemos que quer dizer «hoje»! E isto porquê? Por causa da mania das reformas ortográficas.
Diga-me com franqueza: você preferia chamar-se Horácio ou Oracio? Hernâni ou Ernani? Hércules ou Ercole? E casaria mais depressa com uma mulher chamada Helena ou Elena?
Está a ver? O meu coração anarquista não pode deixar de ter um fraquinho por uma língua em que «bury» se pronuncia da mesma maneira que «berry».
Outra coisa engraçada da língua inglesa é que uma grafia que não corresponde ao som em Londres pode corresponder-lhe em Manchester. Um exemplo: Há algum tempo um político alemão chamado Fuchs foi ao Reino Unido. A BBC queria dar a notícia, mas como o seu livro de estilo impunha que todos os nomes estrangeiros fossem pronunciados à inglesa, «Fuchs» teria de se ler «fax». Não podia ser: foi dada ordem para que se abrisse uma excepção e se pronunciasse o nome à alemã, ou seja, pelas regras portuguesas, «fux».
No dia seguinte começaram a chover na redacção cartas de telespectadores indignados por ouvirem obscenidades na BBC: eram do Norte de Inglaterra e da Escócia, onde a palavra em que você está a pensar rima com «book».
Publicado por: Zé Luiz às abril 13, 2005 11:48 PM