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fevereiro 10, 2005

Duas Mãos Invisíveis

Adam Smith escreveu que o homem ao procurar que a “produção adquira o máximo valor, só está a pensar no seu próprio ganho, e, neste como em muitos outros casos, está a ser guiado por uma mão invisível a atingir um fim que não fazia parte das suas intenções. Nem nunca será muito mau para a sociedade que ele não fizesse parte das suas intenções. Ao tentar satisfazer o seu próprio interesse promove, frequentemente, de uma maneira mais eficaz, o interesse da sociedade, do que quando realmente o pretende fazer.”. É a formulação clássica das virtudes da liberdade do mercado, que está na base da economia capitalista e da prosperidade das sociedades ocidentais. É a Mão Invisível dos neo-liberais.

Se naquele texto substituirmos o conceito de ambição ou da “satisfação do seu próprio interesse”, pelo conceito da “inveja mesquinha dos outros” ou do “bota-abaixo”, teremos a seguinte formulação – ao tentar satisfazer a nossa inveja e mesquinhez promovemos de uma maneira mais eficaz a pauperização da sociedade, do que quando realmente o pretendêssemos fazer.

Mas mesmo neste caso a Mão Invisível continua a agir – estamos a ser guiados por uma mão invisível a atingir um fim que não fazia parte das nossas intenções. Ou seja, guiados pela nossa inveja e mesquinhez estamos a conduzir o país para uma meta que não estaria nas nossas intenções, mesmo nas dos mais invejosos: a estagnação social e económica e o progressivo nivelamento pela miséria geral. É nisso que estamos a transformar a sociedade portuguesa

É a Mão Invisível dos que vivem invejosos do êxito, receosos de mudanças e apostando na mediocridade do statu quo. É a nossa Mão Invisível. É essa a Mão Invisível que nos tem guiado desde meados do século XVI e da qual não nos conseguimos livrar.

Publicado por Joana às fevereiro 10, 2005 12:06 AM

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Comentários

É importante para o país ter uma Mão Invisível só para ele. Torna-nos na inveja dos outros.

Publicado por: Coruja às fevereiro 10, 2005 12:49 AM


Muito bem Joana, muito bem...

nos seus posts anteriores, sua inveja centrou-se no PS e em Sócrates !

Publicado por: Templario às fevereiro 10, 2005 01:34 AM

Substituindo inveja por ganância temos:
CAPITALISMO SELVAGEM DE ÍNDOLE NEO-LIBERAL

e esta em !

Publicado por: Gato Fedorento às fevereiro 10, 2005 01:41 AM

É a nossa Mão Invisível. É essa a Mão Invisível que nos tem guiado desde meados do século XVI e da qual não nos conseguimos livrar.

Nossa grandeza do século XVI, iniciou-se com as acções de pirataria por esse mundo fora, mais tarde pelo respeitinho imposto aos outros piratas e desde que acabaram com os piratas...começou nosso declínio.. mas como eles voltaram no final do século XX estamos garantidos para mais 500 anos !!!

Publicado por: Templario às fevereiro 10, 2005 01:55 AM

O Templário os canitos já foram embora, que pena...

Publicado por: Gato Fedorento às fevereiro 10, 2005 01:59 AM

A inveja e a mesquinhez são o grande mal do nosso país. É infelizmente um facto.

Publicado por: dorival às fevereiro 10, 2005 11:05 AM

É o que tem dito recentemente o filósofo José Gil. A inveja e a mesquinhez paralisam. E não progredimos. É uma mão invisível, como bem observa a Joana, é um não invisível. Um não-progresso.

Publicado por: Pedro Lisboa às fevereiro 10, 2005 12:56 PM

É com desgosto que vejo o meu país decadente pela mão dos invejosos. É um mal nacional. Não é apenas nas conversas de café. Mesmo nas aldeias há invejas mortais.

Publicado por: Susana às fevereiro 10, 2005 03:31 PM

Pois, mas em meados do século XVI nem sequer invejávamos ninguém. Eramos apenas mesquinhos.

Publicado por: Senaqueribe às fevereiro 10, 2005 03:53 PM

Este tema merecia um desenvolvimento mais detalhado. Um ensaio, um livro...

Mas é curioso que é precisamente num blog e nos seus comentários que vemos como começa a desenvolver-se essa segunda mão.

Publicado por: Mário às fevereiro 10, 2005 04:12 PM

Invejavamo-nos uns aos outros, Senaqueribe

Publicado por: David às fevereiro 10, 2005 04:20 PM

Você está cínico e subtil, Mário. Bem observado

Publicado por: David às fevereiro 10, 2005 04:21 PM

Susana em fevereiro 10, 2005 03:31 PM

Ó Susaninha a menina não sabe, que a inveja é o sentimento dos impotentes ? aqueles que não querem "poder" fazer o mesmo ?

uns não podem, e aos que podem, dá mais jeito nada fazer.

A inveja é um sentimento de má lingua que é consumido no café lá da esquina.

Publicado por: Gato Fedorento às fevereiro 10, 2005 10:54 PM

Estes impotentes mentais que só falam, falam, mas não sabem o que dizem

Publicado por: David às fevereiro 10, 2005 11:30 PM

David em fevereiro 10, 2005 11:30 PM

Já reparei que este rapaz David "não pertence a este filme" entra quando aparece aquele fotograma a dizer: FIM

Publicado por: Gatos Fedorentos às fevereiro 10, 2005 11:32 PM

Que falta de nível!

Publicado por: David às fevereiro 10, 2005 11:38 PM

iá meu !

Publicado por: Gato Fedorento às fevereiro 10, 2005 11:45 PM

Mário em fevereiro 10, 2005 04:12 PM:
Concordo inteiramente com a sua ideia. Este tema merecia ser desenvolvido.

Publicado por: Novais de Paula às fevereiro 10, 2005 11:52 PM

Ó Gato

Já levaste os béu béus à rua ?

agora atira-lhes um ossito pra se calarem!

Publicado por: Templario às fevereiro 11, 2005 12:28 AM

A distancia entre PP e PSL cada vez é maior, agora trocam de "figurões" Pedro Feizt vai para a semana pedir a saída do PP para ir apoiar PSL.

Aqui estão os amigos do "Stones" unidos, 2 semanas atrás era velos nesta casa da noite "que eu também frequento" em amena cavaqueira, agora percebo qual o teor da conversa

Publicado por: Gato Fedorento às fevereiro 11, 2005 12:37 AM

Este post está bem esgalhado nos seus conceitos. E trata-se de uma ideia que de facto deveria ser desenvolvida.

Publicado por: Ant Curzio às fevereiro 11, 2005 10:47 AM

A nossa inveja é a consequência inevitável da nossa mediocridade. Somos um povo medíocre, inculto e, logo, invejoso e destrutivo. Somos também muito dóceis quando confrontados com o chicote, e já provámos que, debaixo do chicote, até conseguimos resultados interessantes. Proponho que adoptemos, como forma de governo, o despotismo iluminado. Faltando apenas resolver um pequeno pormenor: onde é que vamos encontrar, entre nós, déspotas iluminados?...

Publicado por: Albatroz às fevereiro 12, 2005 11:50 AM

É difícil, albatroz. Por eleições, já se viu que não se vai lá. Não sei como será!

Publicado por: Rui Sá às fevereiro 12, 2005 07:05 PM

Fulano produz 10 vezes mais do que Cicrano e ganha 10 vezes mais. Cicrano sofre com isso. É inveja.
Fulano produz 10 vezes mais do que Cicrano, mas ganha 11 vezes mais. Cicrano sofre com isso. Não é inveja, é fome e sede de justiça.
A inveja é a descrença na justiça.

Publicado por: Zé Luiz às fevereiro 12, 2005 07:19 PM

Fulano produz 10 vezes mais do que Cicrano e ganha 10 vezes mais. Cicrano sofre com isso. É inveja.
Fulano produz 10 vezes mais do que Cicrano, mas o Estado tira-lhe 5, dá 1 a Cicrano e fica com o resto. Cicrano continua a sofrer com isso. É mesmo inveja..

Publicado por: Hector às fevereiro 12, 2005 07:33 PM

Fulano ganha 10 vezes mais do que Cicrano, mas o Estado tira-lhe 5, dá 1 a fulano, e utiliza os outro quatro para organizar a sociedade de modo a que tanto Fulano como Cicrano possam produzir e ganhar alguma coisa. Fulano acha que está a ser roubado. É estupidez.

Publicado por: Zé Luiz às fevereiro 13, 2005 09:10 PM

Fulano ganha 10 vezes mais do que Cicrano, mas o Estado tira-lhe 5, dá 1 a Cicrano, e utiliza os outro quatro para organizar a sociedade de modo a que tanto Fulano como Cicrano possam produzir e ganhar alguma coisa. Fulano acha que está a ser roubado. É estupidez.
Se Fulano e Cicrano tivessem que utilizar o melhor do seu tempo, talento e esforço para se defenderem das depredações de Beltrano, viviam todos, até o Beltrano, na miséria.

Publicado por: Zé Luiz às fevereiro 13, 2005 09:13 PM

Dito doutra maneira.
Fulano ganha 10. O Estado tira-lhe 5. É barato: sem o Estado, Beltrano tirar-lhe-ia tudo.

Publicado por: Zé Luiz às fevereiro 13, 2005 11:42 PM

Isto parece uma conversa de débeis mentais.

Publicado por: siroco às fevereiro 14, 2005 01:56 AM

«So the nature of War, consisteth not in actual fighting; but in the known disposition thereto, during all the time there is no assurance to the contrary. All other time is PEACE.
Whatsoever therefore is consequent to a time or Warre, where every man is Enemy to every man; the same is consequent to the time, wherein men live without any other security, than what their own strength, and their own invention shall furnish them withall. In such condition, there is no place for Industy; because the fruit thereof is uncertain: and consequently no Culture of the Earth; no Navigation, nor use of the commodities that may be imported by Sea; no commodious Building; no Instruments of moving, and removing such thingas as require much force; no Knowledge of the face of the Earth; no account of Time; no Arts; no Letters; no Society; and which is worst of all, continuall feare, and danger of violent death; Athe life of man, solitary, poore, nasty, brutish, and short.»
Thomas Hobbes, «Leviathan».
O que eu pergunto à Joana e aos outros admiradores de Adam Smith é simplesmente isto: como conseguem ser fillhos de Hobbes no que toca a esfera privada e filhos de Rousseau no que toca a esfera económica?
Já adivinho a resposta: para vocês a esfera económica É privada e a esfera privada não existe...

Publicado por: Zé Luiz às fevereiro 14, 2005 10:42 AM

siroco em fevereiro 14, 2005 01:56 AM:
Completamente de acordo

Publicado por: soleimao às março 4, 2005 03:15 PM

nenhum

Publicado por: rusvel às julho 16, 2005 07:55 AM

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