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novembro 08, 2004

Politicamente Correcto

Várias vezes tenho usado o termo politicamente correcto, ou o termo “intelectuais bem pensantes”, ou seja, os intelectuais que pensam “politicamente correcto”. Embora o termo tenha sido importado, directa ou indirectamente, dos EUA, ele ganhou autonomia própria e “nacionalizou-se”. Portanto não me vou interessar pela sua génese e avatares além fronteiras.

O politicamente correcto é comportar-se e pensar de acordo com os cânones impostos pela ideologia dominante. Mas essa ideologia não é necessária e exclusivamente política. Misturam-se nela diversos conceitos – puritanismo, censura, dogmatismo, ditadura das minorias, obrigação de fazer de qualquer particularismo uma lei geral para a comunidade, eliminação do fantasma de se tornar minoritário pela subvalorização da normalidade e das decisões ou da vontade da maioria, etc.

Do ponto de vista da ditadura sobre o pensamento, o politicamente correcto é o equivalente actual da moral burguesa, só que de sinal contrário quanto aos conceitos que erige em absolutos, o que é normal, visto a ideologia dominante se ter ela própria modificado. Portanto, todos os disparates que a ditadura da moral burguesa fez viver os nossos avós, equivalem àqueles que o politicamente correcto nos tenta impingir actualmente. Com uma diferença – a moral burguesa preocupava-se mais com o comportamento que com a política ou o pensamento, enquanto o politicamente correcto é totalitário porque invade tudo, incluindo aquilo que tínhamos de mais íntimo: o pensamento.

Formalmente o politicamente correcto é o depósito de todas as virtudes: prega a igualdade entre todos, o respeito pelo outro sob qualquer forma, o anti-racismo, a tolerância para com todas as outras crenças políticas e religiosas. O politicamente correcto abre apenas uma excepção a esta tolerância universal: O politicamente incorrecto é absolutamente interdito. Sendo assim, o politicamente correcto consiste na observação da sociedade e da historia em termos maniqueístas: O politicamente correcto representa o bem e o politicamente incorrecto representa o mal.

O politicamente correcto tem portanto a característica de uma religião total, pois para além da moral e do comportamento, abrange a política, a sociologia, as ciências da comunicação, etc., etc.. Não existe no plano económico, porque os protagonistas do politicamente correcto apenas se movem nas áreas das ciências humanas onde os critérios de validade são assegurados por quem tem mais verve ... ou quem tem uma corte mais numerosa. Em economia apenas utilizam frases simples: subsidiar os menos favorecidos, aumentar o emprego, atingir a igualdade social, etc.. Como não sabem fazer contas é-lhes despiciendo o saber como isso se faz, quanto custa e quem vai pagar. O politicamente correcto não abrange portanto as ciências baseadas em números, pois os números têm uma característica incómoda – não dependem da raça, do credo ou das preferências sexuais. São uns chatos!

Assim, para o politicamente correcto só há uma verdade: a sua. O politicamente correcto defende a tolerância ... mas apenas para o que é a sua verdade.

Neste universo perfeito é exaltante ser-se politicamente correcto, pois tem-se sempre a resposta certa para tudo. Só que têm que se fazer as penitências necessárias. Por exemplo um branco, para se tornar politicamente correcto, tem que assumir a sua culpa original por ter participado, mesmo in absentia, na escravatura, nos genocídios, no extermínio das espécies e nos maus tratos aos animais, etc.. As mulheres brancas têm um nível inferior de culpa, pois embora tenham nos seus currículos aqueles pecados originais, têm a atenuante de haverem sido vítimas de três mil anos de civilização judaico-cristã. Apenas uma espécie não tem qualquer culpa: a mulher negra, de uma crença não cristã, imigrante, sem-abrigo e lésbica.

Mas mesmo uma mulher, para se manter politicamente correcta tem que ter imenso cuidado: saber se o que usa para a maquilhagem não teria sido testado em animais, nunca usar peles ou tecidos oriundos de animais, reciclar todos os sobejos das refeições até à exaustão, ou até ao divórcio por alegada tentativa de envenenamento alimentar, etc.

Todavia, para o politicamente correcto, a mulher está num nível menos elevado que a etnia. O politicamente correcto zela pela igualdade dos sexos, mas é extremamente tolerante e compreensivo para os grupos étnicos ou religiosos que degradam a vida das mulheres e fazem delas suas vítimas.

Vejamos alguns exemplos:

Não é politicamente correcto referir a origem étnica dos delinquentes. Sempre que algum órgão de comunicação não conseguia evitar essa referência (na TV há dificuldade em impedir que o telespectador veja a etnia do delinquente) aparecia uma organização, SOS Racismo, a chamar a atenção para aquele conteúdo racista. De há alguns anos a esta parte, o SOS Racismo tem aparecido muito menos, porque verificou que o resultado junto da opinião pública era exactamente o oposto. As pessoas sentiam-se injustiçadas por julgarem que haveria uma protecção especial para delinquentes de outras etnias. Eis um exemplo em como o politicamente correcto anti-xenofobia fez, para surpresa dos p.c., aumentar a xenofobia.

Não é politicamente correcto gostar de touradas ou de tudo o que envolva qualquer sofrimento público dos animais. Os animais devem ser abatidos discretamente e aparecerem nos nossos pratos disfarçados de bifes. Como o politicamente correcto é um animal urbano, ele tem dificuldade em se aperceber que existe qualquer relação entre um bife, um entrecosto grelhado e qualquer espécie animal, por isso fica tranquilo enquanto se delicia com uma galinha de cabidela. Depois das grandiosas manifestações de massas que os arautos do politicamente correcto organizaram em Barrancos, em que cerca de cem pessoas, agitando centenas de cartazes repletos de frases politicamente correctas, condenaram firmemente as touradas, nunca estas estiveram tão em voga. O entusiasmo por esse espectáculo bárbaro aumentou em flecha. Esta é, aliás, a faceta mais brilhante do politicamente correcto – Obter junto da opinião pública o efeito exactamente oposto do que pretende.

Não é politicamente correcto pretender para as outras culturas o que se exige para a nossa. Os quadrantes políticos que mais pugnam pela descriminalização do aborto, foram aqueles que conseguiram adiar, na AR, o estabelecimento de legislação que condenasse a excisão do clítoris, a pretexto de se tratarem de culturas tradicionais e que era necessário, previamente, um estudo mais aprofundado.

Há dias foi assassinado, numa rua de Amesterdão, em pleno dia, Theo van Gogh, que havia realizado um filme sobre o humilhante papel da mulher na sociedade islâmica. Já havia recebido ameaças de elementos islâmicos. O suspeito do assassínio foi descrito como tendo barba comprida, estar vestido como um muçulmano e ter nacionalidade marroquina. Qualquer descrição que ultrapassasse esta forma de adivinha poderia ser considerada racista e xenófoba. Este assassinato tem permanecido relativamente em silêncio nos meios intelectuais. É natural, o politicamente correcto tem dificuldade em lidar com europeus loiros serem assassinados por muçulmanos de barba comprida. Se fosse o contrário, toda a intelectualidade estaria a redigir proclamações e abaixo-assinados de protesto. Neste caso o politicamente correcto tem o dever de ser discreto, pois se o não fosse poderia passar por racista, xenófobo, etc..

Também em matéria de ditaduras, o politicamente correcto é extremamente exigente. Ditaduras terceiro-mundistas, ou que se invoquem do anti-capitalismo ou do anti-americanismo são ditaduras boas. Em contrapartida, qualquer regime democrático que se lhes oponha é um regime imperialista e opressor.

O politicamente correcto é insidioso porque se insinua sob diversas formas, inocentes e de fácil assimilação. Começa pela linguagem. O vocabulário politicamente correcto é o principal veículo de contágio. O politicamente correcto usa eufemismos na sua linguagem. Determinadas expressões são condenadas a serem eliminadas do vocabulário para evitar associações de tipo discriminatório. Por exemplo, já não se diz contínuo da escola, mas Auxiliar da Acção Educativa, as mulheres a dias passaram a ser empregadas domésticas, os varredores de rua a serem técnicos de limpeza e jardinagem, etc.. Há determinadas categorias para as quais já se torna difícil encontrar no léxico uma denominação adequada, como no caso dos homossexuais. Mas há sempre o recurso aos circunlóquios.

A desintoxicação é difícil, na medida em que vivemos num mundo em que os meios de comunicação adquiriram uma importância desmedida e são estes os principais agentes encarregados da contaminação maciça. O primeiro remédio consiste em tomar consciência de que o politicamente correcto existe e que circula sobretudo através do nosso vocabulário. O segundo remédio consiste em pôr em prática a renúncia a toda a terminologia politicamente correcta e às ideologias nas quais ela se apoia. Chamar as coisas pelos nomes!

Como disse acima, há necessidade de uma contínua renovação de linguagem para caracterizar um conjunto de pessoas que executem uma tarefa considerada de menor nível, ou que tenham qualquer diferença que as tornem uma minoria, pois as palavras vão-se desvalorizando com o uso. O léxico vai-se esgotando. Quando isso acontece, os eufemismos utilizam circunlóquios cada vez mais tortuosos. Cito um exemplo retirado da Wikipedia (cf “Political correctness”). A forma politicamente correcta de escrever a frase "The fireman put a ladder up against the tree, climbed it, and rescued the cat" deveria ser:

"The firefighter (who happened to be male, but could just as easily have been female) abridged the rights of the cat to determine for itself where it wanted to walk, climb, or rest, and inflicted his own value judgments in determining that it needed to be 'rescued' from its chosen perch. In callous disregard for the well-being of the environment, and this one tree in particular, he thrust the mobility disadvantaged-unfriendly means of ascent known as a 'ladder' carelessly up against the tree, marring its bark, and unfeelingly climbed it, unconcerned how his display of physical prowess might injure the self-esteem of those differently-abled. He kidnapped and unjustly restrained the innocent animal with the intention of returning it to the person who claimed to 'own' the naturally free animal."

P.S. - Estava a escrever isto e a ver na TV o Miguel Portas dizer que o facto de contas bancárias, onde se decobriu estarem depositadas muitas centenas de milhões de euros, estarem no nome de Arafat, não significava que o dinheiro era dele. O azar do Isaltino foi não ter enfiado um turbante, deixado crescer a barba, passar a chamar-se Al-Satino. Então Portas passaria também a ter fundadas dúvidas. Este é um exemplo típico do politicamente correcto, acabado de vir directamente do produtor.

Publicado por Joana às novembro 8, 2004 11:00 PM

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Lista dos links para blogues que mencionam Politicamente Correcto:

» Fenomenal..., from Letras Com Garfos III
...este artigo da Joana. [Ler...]

Recebido em novembro 9, 2004 04:52 PM

Comentários

Excelente, excelente,excelente e digo mais excelente.

Quando a poeira do 11 de Setembro assentou, pensou-se fazer um monumento a glorificar o NYFD.
Havia uma fotografia particularmente feliz, passe o termo porque o momento não era para felicidades, que mostrava três bombeiros em actividade, numa evocação da célebre foto de Iwo Jima.

Infelizmente eram todos caucasianos, (e repare-se que não se pode dizer brancos), e assim a foto como modelo do monumento teve que ser ignorada, porque não correspondia, claro, ao que devia ter acontecido e assim não era “real”.

Outra dia uma professora da escola de Sacavém, referia-se aqueles delinquentes como “as crianças”.
Benza-a Deus.
Oops!! Não é correcto falar em Deus…

Publicado por: Carlos Alberto às novembro 9, 2004 12:33 AM

diz Joana,tentando surpreender:
(...) O politicamente correcto é comportar-se e pensar de acordo com os cânones impostos pela ideologia dominante.(...)

e pergunto eu : a ideologia dominante é "dominada" por quem ? querem ver que o Miguel Portas nos anda a dominar sem sabermos !
a não ser que o poder não tenha ideologia !!!

ps:
o que é que têm em comum , por exemplo , os "politicamente incorrectos", JMFernandes, JCEspada , JPPereira e aquela senhora, na RTP1 no programa "prós e contra" ?

Publicado por: zippiz às novembro 9, 2004 12:45 AM

Tenho um grande desgosto por não saber escrever como a Joana.
Mas ao mesmo tempo sinto-me feliz porque ela o faz por mim e diz, com brilhantismo, aquilo que eu penso.
Obrigado!

Publicado por: Senaqueribe às novembro 9, 2004 09:46 AM

zippiz em novembro 9, 2004 12:45 AM:
Então escrevi eu isto para lhe explicar o que era um intelectual bem pensante, a seu pedido, e você resmunga?
Você pediu isso 2ª à noite, e eu afadiguei-me a dei-lhe uma resposta 3ª à noite, e é essa a paga?
Estava para escrever-lhe uma dedicatória, mas assim desisto.
E não confunda ideologia dominante com o governo que está no poder. Isso só sucede nas ditaduras e enquanto o regime não está completamente desacreditado.

Publicado por: Joana às novembro 9, 2004 10:21 AM

Senaqueribe em novembro 9, 2004 09:46 AM:
Escrever é uma questão de treino. Passo a vida a escrever, nuns casos por dinheiro (e às vezes por prazer), na vida profissional, noutros apenas por prazer, aqui.
Mas você escreve bem. Não tem que estar desgostoso.
E muito obrigada pelas suas palavras.

Publicado por: Joana às novembro 9, 2004 10:25 AM

Joana: você é uma provocadora nata. Com muito talento, mas fundamentalmente uma provocadora.

Publicado por: Coutinho às novembro 9, 2004 11:34 AM

Por entre um texto brilhante, um único senão :
Acho indefensável dizer-se, com a ironia que perpassa por todo o texto, que «não é políticamente correcto» gostar-se da morte (ou do sofrimento) dos animais, dada em espetáculo, ou promovida em desporto.

Publicado por: asdrubal às novembro 9, 2004 12:31 PM

Interessante ...

Publicado por: c seixas às novembro 9, 2004 12:31 PM

excelente

Publicado por: jpt às novembro 9, 2004 12:56 PM

Muito divertido. A história do gato causou-me no entanto algumas dores, já que acabava de vir do dentista e rir a bandeiras despregadas não era o mais indicado...

Mas é motivo de tristeza saber que, por causa do politicamente correcto, não conseguimos - a não ser que nos chamemos António Barreto - discutir criticamente a fantasia a descair para pesadelo, a que chamamos União Europeia.

Publicado por: Albatroz às novembro 9, 2004 01:06 PM

Texto de grande fôlego (expressão politicamente correcta), que consiste num bom retrato das pessoas que, por todo o lado, querem matar a liberdade.

Publicado por: Mario às novembro 9, 2004 01:40 PM

Você esmerou-se na definição dos «intelectuais bem pensantes», categoria em que, penso, incluirá José Pacheco Pereira & outros da mesma família.
Há, no entanto, um conceito que você introduz e que eu tenho alguma dificuldade em partilhar, embora compreenda o que quer dizer: o de «o politicamente correcto» ser resultado de uma «ideologia dominante».
Estou de acordo que o «politicamente correcto» é fruto de uma ideologia que está para lá do político. Todas as ideologias estão para lá do político. E a transversalidade do «politicamente correcto» mostra que há nele outros cimentos mais fortes que o político.
Onde as nossas águas se separam é na qualificação dessa ideologia como «ideologia dominante». Eu não dissocio os conceitos de «ideologia dominante» e de «classe dominante».
Bem sei que é politicamente correcto dizer que as ideologias morreram e o marxismo também. Só que eu não sou politicamente correcto e acho que os que assim pensam se enganam redondamente.
Tirando isso, o texto é irrepreensível.

Publicado por: (M)arca Amarela às novembro 9, 2004 01:51 PM

Também não gosto que a coberto de sátiras mais ou menos irónicas o autor se ponha acima da plebe (haverá um substituto PC para plebe?), e mande uns bitaites onde junta tudo para ser tudo considerado verdade. Pouco se me dá que me rotulem de PC ou PI mas tenho convicções firmes contra, por exemplo a tourada, e por isso acho o teu artigo péssimo.

Publicado por: Filipe às novembro 9, 2004 01:54 PM

Asdrúbal e Filipe:
Eu não gosto de touradas, aliás chamei-lhe “espectáculo bárbaro”, embora não as demonize, pois sou de ascendência ribatejana, sempre convivi com eles e parte da minha família aprecia esse espectáculo (embora apenas a tourada a cavalo).

O problema com Barrancos é que os disparates que foram cometidos pelos “amigos dos animais” acabaram por se tornarem completamente ridículos e dar uma enorme publicidade às touradas.

Se toda a gente estivesse caladinha, a questão de Barrancos resolvia-se com o tempo. Resolver-se-á à mesma com o tempo, mas agora vai demorar muito mais tempo.

Publicado por: Joana às novembro 9, 2004 02:14 PM

E citei o caso da cabidela porque, para a fazer, tem que se recolher o sangue da galinha. Em miúda assisti a isso mais que uma vez e é horrível. Aqui vai a receita:

Pega-se numa galinha viva. Agarram-se ambas as asas e põe-se um pé firmemente em cima delas. Depois agarra-se o pescoço, bem por cima de uma de uma tigela para recolher o sangue. Depois com uma faca, dá-se um corte na carótida do galináceo. O corte não pode ser muito profundo porque o animal tem que morrer muito lentamente.

A lentidão não é para prolongar o espectáculo, mas para manter o animal vivo enquanto se esvai em sangue. Há que maximizar o sangue que se extrai do animal. Enquanto o sangue corre, ele tem que ser mexido. Utilizar para isso a faca.

É precisa uma grande firmeza no pé que prende as asas e na mão que agarra o pescoço, porque o animal esperneia muito por razões óbvias.

Sempre me recusei a assistir a matanças de porco, porque os gritos que eles dão, ouvem-se a centenas de metros. Só de os ouvir, ficava apavorada.

... mas depois os enchidos eram óptimos ...

Publicado por: Joana às novembro 9, 2004 02:17 PM

Joana,
Muitos parabéns; bem escrito, ideias bem organizadas, certeiras e directas assunto, com ironia q.b. Um texto incorrecto politicamente correcto (com a sentido original que a palavra deveria ter).

Publicado por: raf às novembro 9, 2004 02:19 PM

Parabéns, Joana. Há muita hipocrisia em tudo isto. Contestam-se publicamente coisas que se fazem em privado. E quando se relatam coisas hipócritas, há sempre uma nota de humor, nem que seja amargo.

Publicado por: Rave às novembro 9, 2004 02:21 PM

parabens pelo seu texto
ele é tão politicamente correcto, mas à direita
Aliás se não foessem os politicamente correctos" à esquerda,os direitos das mulheres seriam muito maiores ...
Eu sou contra o aborto, mas não osu a favor que as mulheres vão presas...
um outro exemplo de PC em relação às mulheres de que te esqueces-te

em relação a Barrancos percebo o teu raciocinio
ase uma mulher levar porrada na tromba, eu em vez de fazer algazarra, fico quietinho à espera que o problema se resolva
outro pensamento politicamente correcto( à direita9
coytas para os emigrantes
eles estão lá a morrer A`fome e ficam à espera que a malta os chame

tudo isto para dizer que a tua posta é porreira(essa do Mportas não cabe na cabeça de ninguem) ma é um pouco tendencioso
Escreve uma posta sobre o que à direita é politicamente correcto


Ps reciclar os residuos è politicamente correcto
porraa vou já dizer à minha filha que volte a por o lixo todo junto e de caminho vou ver se, para ela não me sair uma miuda PC cheia de complexos judaico-cristãos, ela colabora no proximo banco alimentar contra a pobresa e começa a fumar

Publicado por: sergio às novembro 9, 2004 02:55 PM

A Policia de Desintoxicação do Politicamente Correcto sempre vigilante. Tenho mais denúncias a fazer: as hospedeiras agora são “assistentes de bordo”, e os banheiros agora são chamados “vigilantes de praia”. E os manicómios passaram a chamar-se “hospitais psiquiátricos”, e os antigos loucos são agora tratados como “doentes mentais”. Vou continuar a investigar. Já me esquecia: os copos de três estão a ser rapidamente substituídos por copos de balão e querem acabar com a acividade tradicional de pegar fogo ao rabo dos gatos. E estão a mudar a cor aos táxis, que deixaram de ser guiados por chóferes para passarem a ser “conduzidos” por “motoristas”. E os aguadeiros galegos estão a ser substituídos por “máquinas de distribuição de água”. Por ora, é tudo.

Publicado por: caramelo às novembro 9, 2004 03:20 PM

Parabéns!

Publicado por: CAA às novembro 9, 2004 03:55 PM

"Não é politicamente correcto gostar de touradas ou de tudo o que envolva qualquer sofrimento público dos animais. Os animais devem ser abatidos discretamente e aparecerem nos nossos pratos disfarçados de bifes. Como o politicamente correcto é um animal urbano, ele tem dificuldade em se aperceber que existe qualquer relação entre um bife, um entrecosto grelhado e qualquer espécie animal, por isso fica tranquilo enquanto se delicia com uma galinha de cabidela."

É verdade, eu conheço-os, esses hipócritas bem pensantes! E quero aproveitar para anunciar que vou abrir um restaurante equipado com um écran gigante para transmissão directa das execuções do matadouro do Montijo e do aviário Avibom! Aos domingos vai haver demonstração ao vivo de degola de galinhas e matança do porco, logo seguida do repasto dos cadáveres.

Publicado por: caramelo às novembro 9, 2004 04:01 PM

A propósito de frases politicamente correctas, deixo aqui uma:

“I love Animals…They are delicious”

Publicado por: Miguel às novembro 9, 2004 04:06 PM

Joana, dou-lhe os meus parabéns pelo seu blog. Sempre que aqui venho delicio-me com o que eu gostava de ter escrito e não consegui. Ainda bem que existe! Excusado será dizer que não sou PC.

Publicado por: Emilio de Sousa às novembro 9, 2004 04:42 PM

Esta posta e a anterior estão espectaculares. Bem observadas, bem escritas, perfeitas.

Publicado por: Viegas às novembro 9, 2004 05:50 PM

Há uma coisa que é verdade. Esta gaja é a reaccionária mais hábil de todos os reaças que escrevem por cá.

Publicado por: Cisco Kid às novembro 9, 2004 05:59 PM

A (M)arca Amarela :
Confesso-lhe que estou aqui numa postura de aprendizagem e então gostava de o interpelar a ver se compreendi o que escreveu.
Quando refere que o «politicamente correcto» comporta uma transversalidade "com outros cimentos mais fortes que o político" e lhe atribui a qualidade de ideologia ("onde as nossas águas se separam é na qualificação dessa ideologia como ideologia dominante"), de que «classe» estamos falando, se excluírmos, como exclui, a «classe dominante» ?

Publicado por: asdrubal às novembro 9, 2004 05:59 PM

Francamente, Cisco, nunca esperei ler isso de si. Hábil??

Publicado por: David às novembro 9, 2004 06:53 PM

Brilhante.

Publicado por: Anamnéstico às novembro 9, 2004 06:58 PM

Genial. Parabens pelo magnifico post. Vou-te linkar.

Publicado por: ETZ às novembro 9, 2004 07:33 PM

Acho que este artigo esta cheio de confusoes. A ideia do "politicamente correcto" surgiu da necessidade de mudar a maneira como nos verbalizavamos certas atitudes trogloditas (em relacao as mulheres, por exemplo) e as passavamos aos nossos filhos sem discussao. Os exageros e as aplicacoes estupidas desta ideia nao tem muito que ver com a necessidade (imperativa em qualquer sociedade civilizada e sofisticada) de acabar com as generalizacoes estupidas sobre mulheres, racas, credos, culturas, etc.

Publicado por: Filipe Castro às novembro 9, 2004 08:06 PM

(M)arca Amarela em novembro 9, 2004 01:51 PM:
Deixe-me fazer-lhe uma pergunta: entre o apogeu do salazarismo, o período marcelista ou o período pós 25 de Abril houve alguma diferença na classe dominante (classe definida de acordo com a terminologia marxista)? E todavia a ideologia dominante nos meios intelectuais e de comunicação variou drasticamente. Os meios de comunicação no período marcelista já eram, na sua maioria, dominados pela esquerda ou centro-esquerda, embora o poder estivesse nas mãos da extrema-direita e apesar da censura.
É fora de dúvida que durante esse período modificaram-se as correlações de força e de afirmação social entre diversos segmentos sociais. Mas a classe dominante manteve-se a mesma.
Por isso é que julgo que a teoria marxista das classes sociais muito insuficiente, ao considerar que há apenas duas classes com capacidade histórica de afirmação e cuja luta e desfecho dessa luta é o motor da história. Isto embora Marx aceite que existem mais classes, todavia sem capacidade de afirmação histórica e que se subordinarão sempre, na luta decisiva, ou à burguesia ou ao proletariado.

Publicado por: Joana às novembro 9, 2004 08:08 PM

Senhora Autora, parece que conseguiu um pleno, coisa rara, mas justa.

Joana, juntamente com Helena Matos e Teresa de Sousa, que provávelmente não somam três, são de momento leituras de grande excitação cultural e lúdica.

Obrigado.

Publicado por: Carlos Alberto às novembro 9, 2004 08:12 PM

FICO FELIZ POR VERIFICAR , COM A LEITURA DO “POLITICAMENTE CORRECTO”, QUE MAIS UMA VEZ NÃO ESTOU SÓ . CONSIGO PELO MENOS JÁ SOMOS DOIS !
POR VEZES PENSO, COM O QUE ENCONTRO NO DIA A DIA, QUE ESTÁ TUDO “CEGO” À MINHA VOLTA. O OPORTUNISMO E A MEDIOCRIDADE ESTÁ CADA VEZ MAIS VENCEDOR
AO ANALIZAR OS COMENTÁRIOS AO TEXTO ,ESTES VÊM CONFIRMAR A JUSTIÇA DAS SUAS PALAVRAS E MOSTRAR A DURA REALIDADE DA CONFUSÃO, DA IGNORANCIA E DA DEGRADAÇÃO INTELECTUAL A QUE CHEGOU O NOSSO PAÍS.
O OPORTUNISMO, MAIS ABJECTO, ESTÁ A FAZER ESCOLA ENTRE NÓS, E O QUE ESCREVEU RELATIVAMENTE AO SOS RACISMO E AO MIGUEL PORTAS É PARADIGMÁTICO.
BRILHANTE !
INFELIZMENTE, POR VEZES, TENHO DIFICULDADE EM QUANTIFICAR PARA ONDE PENDE O FIEL DA BALANÇA, ENTRE A DICOTOMIA ESQUERDA/DIREITA, PORQUANTO OS DOIS LADOS EXPLORAM À EXAUSTÃO O “POLITICAMENTE CORRECTO “ !
DEMOS À ESQUERDA " O "POLITICAMENTE CORRECTO" É DELES O "MÉRITO" !

Publicado por: AZEDO às novembro 9, 2004 09:00 PM

Joana ,
pela amostra Vc está rodeada de gente Politicamente Incorrecta . Que chatice de monotonia .
A respeito da dictomia ideologia versus poder, talvez tenha alguma razão, ié: o seu ponto de vista justifica o actual atarantamento dos jovens turcos do seu governo : têm o Poder mas querem-nos impingir a Ideologia ( e não se contentam só com o PI ; vidé circuito histórico de PSL no Prec )

Publicado por: zippiz às novembro 9, 2004 10:10 PM

Lembrei-me, lendo este "post", de um texto de George Orwell: «Politics and the english language» ( http://www.resort.com/~prime8/Orwell/patee.html ).
"(...) language as an instrument for expressing and not for concealing or preventing thought." - G. Orwell

O "politicamente correcto" é apenas uma forma particular do uso acéfalo da linguagem.
É um maneirismo que nos permite evitar alguns conflitos (desde logo, connosco).
Mas uma coisa é uma postura acrítica, ou simplesmente hipócrita, que leva ao uso de uma linguagem pc.
Outra, são pontos de vista divergentes, que mais facilmente são reduzidos a este ou a qualquer outro lugar comum do que discutidos.
Eu sou contra qualquer tipo de entretenimento assente na tortura de animais (como touradas, e não apenas as de morte). Mas não deixo por isso de apreciar um bom bife.
Referir esta postura como pc é intelectualmente desonesto (ou igualmente acéfalo).

Publicado por: H. Carreira às novembro 10, 2004 12:05 AM

Então, a única que se safa é a "mulher negra, de uma crença não cristã, imigrante, sem-abrigo e lésbica"?

Esta posta é brilhante!

Publicado por: A a Z às novembro 10, 2004 12:06 AM

Joana em novembro 9, 2004 08:08 PM
Espero que você aceite esta minha resposta como um testemunho e não como uma réplica.
Nos períodos que aponta e, provavelmente, no futuro próximo, a classe dominante tem sido sempre a mesma. É matéria que não oferece dúvida a qualquer análise séria.
A classe dominante mantem-se e as relações de produção reproduzem-se porque se perpetuam dois tipos de controlo: o dos meios de produção e o ideológico. A classe dominante impõe, obviamente, os seus valores ideológicos. Você fala, somente, nos meios de comunicação. Então e a escola? E a Igreja? E as leis? Etc... Tudo isso são meios, e não pouco importantes, de imposição da ideologia da classe dominante.
Detenhamo-nos, no entanto, na comunicação social, que tantas energias lhe consome.
Dizer que «os meios de comunicação no período marcelista já eram, na sua maioria, dominados pela esquerda ou centro-esquerda» é mais arriscado do que falar da antiguidade clássica ou da Revolução francesa.
Trata-se de uma realidade demasiado próxima no tempo e no espaço e está bem presente na memória de quem conheceu essa realidade.
Só havia uma estação de televisão, que era a bomba atómica da comunicação social. Não lhe faço a injustiça de pensar que você quis dizer que a RTP estava dominada pela esquerda.
Na rádio havia três estações (o resto não conta para esta fotografia). A Emissora Nacional está inocente de ter sido dominada pela esquerda naquele período; a Rádio Renascença era a rádio da Conferência Episcopal Portuguesa e está tudo dito; o Rádio Clube Português era a rádio da família Botelho Moniz e o quadro ainda é mais claro que nas duas anteriores.
Quem mandava nos dois principais diários, o "Diário de Notícias" e "O Século", eram os senhores João Coito e Manuel Figueira, que estavam longe de ser conhecidos pelas suas ideias de esquerda. O "Diário Popular" e "A Capital" não eram carne nem peixe e dedicavam-se a causas revolucionárias como «as noivas de Santo António» ou as marchas populares de Lisboa. Sabe quem eram os proprietários destes dois jornais, não sabe?
A «esquerda e centro esquerda dominante» de que fala limitava-se a lutar contra a censura no "Diário de Lisboa" e na "República". Convenhamos que, por muita estima que se tenha por esses dois baluartes quase gauleses, eles não são «a maioria» dos meios de comunicação do período marcelista. Não sabe quais eram as tiragens desses dois diários, pois não?
Nos 19 meses a seguir ao 25 de Abril a «esquerda» tornou-se dominante na comunicação social porque, então, toda a gente era de «esquerda». Diga-se de passagem que não veio daí nenhum mal para a sempiterna classe dominante. Você sabe tão bem quanto eu quem é que teve sempre o controlo da economia depois do 25 de Abril. Aliás, essa produção ideológica era tão inócua e irrelevante que até o PSD ornamentava o seu programa e documentos fundamentais com a terminologia marxista e as promessas de construção de uma sociedade socialista. Está-se a ver no que isso veio dar.
Não sei mesmo se os escritos do Marcelo Rebelo de Sousa daquele período não poderiam ser assinados pelo Francisco Louçã de agora...
Foram só 19 mezinhos. Até que a classe dominante se chateou e, para repor a ordem em todo o País, fez o 25 de Novembro, com as suas prisões e purgas de comunistas da comunicação social.
Por ser a classe dominante e com a capacidade de recuperação que o sistema que a sustenta tem, pegou nos profissionais de «esquerda» de que necessitava para manter o aparelho ideológico operante e reconverteu-os. Como? Com o livro de cheques, naturalmente.
Quanto ao marxismo, às classes e à luta de classes, o erro é tomar-se como eternos os postulados do século XIX (coisa que acontece com a maior parte dos dirigentes do PCP, por exemplo), quando o marxismo tem em si os instrumentos de análise para a sua própria evolução.
É evidente que não se pode transferir, tal e qual, para o século XXI, a visão que Marx tinha da sociedade do século XIX. Quem estudou seriamente o materialismo dialéctico sabe que ele é incompatível com o pensamento cristalizado. Mas isso não é possível discutir neste espaço, por isso... passo.

Publicado por: (M)arca Amarela às novembro 10, 2004 12:28 AM

Estive entretida a ler este debate, e achei-o muito estimulante ... lá estou eu a resvalar para o vocabulário politicamente correcto ... É um vício!!
Esqueçam: queria agradecer a todos os que puseram tanto empenho neste debate, quer os elogios (obviamente merecidos), quer as críticas (obviamente despiciendas) que me endereçaram aqui, ou por outras vias.

Publicado por: Joana às novembro 10, 2004 12:28 AM

(M)arca Amarela em novembro 10, 2004 12:28 AM:
Tem razão nessa enumeração dos órgãos de comunicação. Sucede que, segundo me parece, eles tinham perdido a credibilidade junto dos meios intelectuais e culturais, e mesmo junto do público em geral. E o único programa que teve êxito na TV foi o Zip Zip que me parece ter sido um programa "anti-regime encapotado". O DN, como escreveu algures o Joel Serrão, num ensaio dessa época, foi, ao longo da sua existência, desde a fundação, um jornal com grande circulação por causa dos anúncios.

Por outro lado você não refere os livros. Os livros editados naquela época, os que se vendiam e tinham divulgação, eram predominantemente de esquerda. E sobre os livros não havia censura prévia, embora fosse necessário o autor e a editora terem cautelas devido a eventuais consequências.

A questão das tiragens não é decisiva. O 24 Horas e imprensa cor de rosa têm uma tiragem muito maior que os jornais de referência. Todavia não vê ninguém a debater a opinião desses órgãos, tirando os próprios.

Publicado por: Joana às novembro 10, 2004 12:43 AM

Joana e (M)arca Amarela:
Eu vivi essa época (entrei na universidade em 1961) e acho que você têm ambos razão. O MA está a falar nos órgãos que se dirigiam a todo o público, mas esse pública estava pouco interessado em questões de alta política. Pretendia a notícia do evento, anúncios, entretenimento e pouco mais. Eram muitos, mas tinham pouco impacto na vida política, até porque não havia eleições a sério.
A joana julgo que está mais interessada na influência junto dos meios que contavam para a opinião pública. E de favto aí o regime tinha perdido a batalha da propaganda, mesmo dominando os principais órgãos de informação.
Nesses meios toda a gente zombava da RTP, do DN, etc.
E nesses meios também a influência das editoras foi importante.
Portanto ambos têm razão, não toda, mas muita. A diferença é que valorizam zonas diferentes da população. Uma, muito mais numerosa, mas muito menos influente; outra muito mais pequena, mas de grande influência.

Publicado por: L M às novembro 10, 2004 01:25 AM

Joana: aproveito a oportunidade para lhe dizer que os últimos 3 posts (incluindo o de hoje) estão muito bons. Aliás já não é a primeira vez que elogio o seu blogue. Para um blogue individual é uma obra notável. Mais uma vez parabéns.

Publicado por: L M às novembro 10, 2004 01:30 AM

Joana e Marca Amarela

Não é por acaso que se usa a palavra "oligarquia" para caracterizar o sistema sócio-político português. Desde 1820 que o país é dominado pelos mesmos, que se disfarçam de maneiras diferentes segundo as épocas. Só D. Miguel I e Salazar tentaram controlar essa oligarquia, e o segundo não foi lá muito bem sucedido, já que o seu sucessor foi aquele que parecia mais capaz de restaurar o poder oligárquico. Tivesse Franco Nogueira sido nomeado Presidente do Conselho depois do acidente de Salazar, e muita coisa teria sido diferente. Talvez não tivéssemos precisado do 25 de Abril para acabar com o "Antigo Regime", e talvez tivéssemos sido capazes de encontrar a via de fuga à oligarquia e de encontro com a democracia. Assim, são os descendentes parasitários dos parasitas de 1820, 1834 e1910, e dos sobreviventes de 1926, que dominam o país. Como foi assinalado, essa oligarquia serve-se do poder económico, do controlo da comunicação social e das ideologias na moda (sejam elas de direita ou de esquerda), para, com o poderoso instrumento do "politicamente correcto", dominarem o rebanho de subdesenvolvidos que constituem - desde sempre - a maioria do povo português. O génio dos oligarcas de hoje foi ter percebido, ao contrário de Salazar, que a melhor e mais eficaz censura é a que é exercida sob a capa da democracia. Divide-se a União Nacional em cinco facções aparentemente rivais. Disfarça-se o monolitismo oligárquico de pluralismo, entregando os orgãos de comunicação social a facções diferentes dessa oligarquia. Fazem-se eleições periódicas em que os candidatos a deputado das cinco facções situacionistas são escolhidos pelos aparelhos dos partidos oligárquicos. Faz-se de conta que há uma oposição. De vez em quando muda-se a posição relativa das facções oligárquicas. E o povo passa a acreditar que vive em democracia e que tem uma real possibilidade de escolha. Tudo isto sem coronéis munidos de lápis azul e sem polícia política. E o rebanho continua a pastar. Uma verdadeira beleza!...

Publicado por: Albatroz às novembro 10, 2004 09:29 AM

É curioso, «Albatroz», que concordando embora com a análise que faz em "grandes traços" do funcionamento deste sistema democrático, as suas referências históricas apontam para um tipo de regime - e é o mínimo que se pode dizer - claramente autoritário (D.Miguel, Franco Nogueira, Salazar). Não existia uma oligarquia na União Nacional ? Haverá sequer a hipótese de uma arquitectura política que anule o despontar de uma qualquer oligarquia ? Do que é que serve, afinal, mudar um sistema «totalitáriamente plural» (se é que se lhe pode assim chamar) para outro, porventura menos hipócrita e até se calhar mais justo, mas sem estas dialécticas ideológicas e partidárias que fazem respirar as ilusões ?
Já estou começando a pensar que, no fundo-no fundo, o nosso problema colectivo é um problema de idiossincrasia e de mentalidades. E esses ...

Publicado por: asdrubal às novembro 10, 2004 03:35 PM

asdrubal em novembro 10, 2004 03:35 PM

Não sou partidário de autoritarismos. Apenas reconheço que aqueles dois autoritarismos - miguelismo e salazarismo - eram adversários do poder oligárquico. E acho até que o Estado Novo, apesar de ter integrado figuras oligárquicas (tais como as oriundas da maçonaria), foi bastante livre do poder oligárquico. O que se compreende, já que o autoritarismo de Salazar não era compatível com gestões oligárquicas. Daí que figuras como a de Franco Nogueira, oriundo de um republicanismo de esquerda, tenham podido colaborar com Salazar, por reconhecerem que Salazar defendia o interesse nacional - embora num figurino autoritário - e não interesses particulares ou de grupo. Já Marcelo Caetano era uma figura influenciada por sectores da oligarquia. Não esqueçamos que já tinha sido ele a figura que a revolta de Botelho Moniz (1961) tinha pensado para substituir Salazar.

O truque nos nossos dias seria reinventar um sistema que fosse simultaneamente representativo e não oligárquico. É aqui que a experiência de Hugo Chavez na Venezuela poderia ser de algum interesse. Se se provar que o regime bolivariano é capaz de resistir à infiltração oligárquica. O que é algo duvidoso, se virmos a facilidade com que parte da oligarquia se consegue moldar a qualquer sistema para o corromper. Acima referi a participação de maçons no Estado Novo (Albino dos Reis, Marechal Carmona, Baltasar Rebelo de Sousa, etc.), o que é a prova acabada da flexibilidade da oligarquia. Resistir à peste oligárquica é um trabalho constante que exige uma forte ligação do poder político com o "povo". Por isso é que me parece que a saída é mais provável num quadro de esquerda, embora não da esquerda bem pensante à la Eduardo Prado Coelho, ou à la Francisco Louçã. E muito menos da falsa esquerda do PS, ou da esquerda cavernícola do PCP. Talvez uma esquerda baseada na doutrina social da Igreja (e não no marxismo), com uma compenente patriótica, mas não nacionalista, e algo medieval na defesa intransigente do "bem comum". Não sei se dá para perceber...

Publicado por: Albatroz às novembro 10, 2004 04:18 PM

Grande texto!

Publicado por: pedro guedes às novembro 10, 2004 05:14 PM

Caro «Albatroz» :
Aí está um tema, quanto a mim, muito interessante e acerca do qual podíamos "meter uma cunha" (afinal faz parte da nossa tradição...) à autora deste «blog» para também o abordar. Um tal de Robert Michels, que eu sei que é seu conhecido de leitura, (cito o Prof. Adriano Moreira), "sustentou que o governo directo das massas é uma impossibilidade técnica, e que a realidade, em todos os regimes, leva ao aparecimento de uma oligarquia que se apodera do aparelho do Governo. Isto é assim no campo político, e também no interior dos partidos e dos sindicatos. A necessidade de organização, a especialização das funções, a profissionalização, tudo implica que a sociedade esteja submetida a uma «lei de bronze da Olgarquia». Os dirigentes tendem inevitávelmente a formar um círculo mais ou menos fechado e a perpetuar-se no exercício do Poder, seja qual for o regime político em vigor".
.
Curiosamente, um outro autor, Gaetano Mosca (italiano)já havia chegado praticamente às mesmas grandes conclusões do que Michels, sendo que um (Mosca) recusa votar no Senado os novos poderes de Mussolini, e o outro (Michels) apoia a experiência fascista.
O que eu quero dizer com isto é que já houve, históricamente, uma tentativa de alternativa ao poder oligárquico e estou em crer que a experiência comunista mais não é do que a outra face da mesma moeda, embora num contexto anterior e diferente do que fez despontar o fascismo na Europa. E então, das duas, uma :
Ou vivemos e con-vivemos com a ilusão democrática, ou ... ou o quê, caro «Albatroz» ?

Publicado por: asdrubal às novembro 10, 2004 05:47 PM

asdrubal em novembro 10, 2004 05:47 PM

Como não gosto de salvadores da Pátria, sejam eles de esquerda ou de direita, e porque sou um monárquico tradicionalista, acabo sempre por chegar à conclusão que uma Monarquia de raíz tradicional, em que o Rei possa livremente nomear o Primeiro-Ministro fora dos quadros partidários - embora sujeito ao veto das Cortes (Parlamento) -, e com o poder legislativo entregue em exclusivo a umas Cortes bicamarais, com a Câmara de Deputados eleita em círculos uninominais próximos dos concelhos, e uma Câmara de Procuradores, tipo Câmara Corporativa mas livremente eleita - podia dificultar a ascensão das oligarquias. Como o Rei seria o pivot do sistema, seria no entanto necessário garantir a sua qualidade moral e intelectual. O que seria possível se a sucessão, embora hereditária, não fosse automática e exigisse a intervenção de um Conselho de Estado que impedisse a sucessão na falta dessas qualidades. É curioso notar que sempre que a Monarquia portuguesa parecia evoluir nesse sentido - casos de D. Miguel e de D. Carlos - a oligarquia intervinha para se livrar desses Reis. Fosse pela insurreição, fosse pelo assassinato. O que parece indiciar que a oligarquia receia essa alternativa. Pode parecer dificil conciliar este tipo de Monarquia tradicional com democracia, mas lembro sempre a afirmação do Marquês de Penalva (em finais do século XVIII) de que o Rei era diferente para que todos os outros pudessem ser iguais. Talvez a democracia só seja possível se o árbitro dessa democracia não estiver sujeito aos mecanismos democráticos.

Publicado por: Albatroz às novembro 11, 2004 09:15 AM

Brilhante
Formidável.
O texto que faltava.

Publicado por: Geraldo Sem Pavor às novembro 12, 2004 05:38 PM

Politicamente correcto, de facto, Joana, é assumir os trânsmites da sobrevivência democrática numa regime ditaturial. Como alguém me dizia, baixinho, "é a esquizofrenia colectiva", é " bando do Fernão Capelo", a demagogia e a estupidez insensata de quem "suga" o sangue dos fracos provocando neles a ilusão de oferta.

Publicado por: Jorge Gabriel às janeiro 10, 2005 04:33 PM

Pois

Publicado por: Grey às fevereiro 28, 2005 12:10 AM

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