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julho 22, 2004
O Paradigma Teresa Caeiro
Ontem, a cena política portuguesa foi surpreendida pela transferência, à última hora, de Teresa Caeiro da Secretaria de Estado da Defesa para a Secretaria de Estado das Artes e Espectáculos. Houve gente que ficou abalada; outra que chacoteou com o que qualificou de trapalhada; alguns remeteram-se a um silêncio prudente.
Estas reacções apenas mostram uma total e absoluta incompreensão pelas novas realidades da vida política portuguesa. Estas mudanças de funções governativas de Teresa Caeiro são, verdadeiramente, o paradigma da seriedade com que estas matérias são encaradas no novo estilo governativo. São o paradigma de uma política inovadora e o rasgar de novos e fecundos horizontes.
Tornou-se agora evidente para todos que estamos a travar um ingente combate pela Cultura. Logo, alguém ser transferido da Defesa para a Cultura é algo que só pode merecer o nosso louvor e os nossos encómios. Todos queremos uma Cultura combativa, capaz de avanços fulgurantes e incisivos e com grande poder de impacte que possibilite rupturas profundas nas hostes contrárias e o seu envolvimento pelos flancos. Há que trazer os artistas para as trincheiras da cultura, arranjar-lhes uniformes capazes e obrigá-los a uma disciplina efectiva.
Mas mesmo em matéria de política geral, Teresa Caeiro pode trazer algo de muito importante. Teresa Caeiro está, como se sabe, ligada afectivamente à Endemol, a criadora do Big Brother. Ora este movimento artístico é a transposição das ideias do genial Jeremy Bentham expostas há 2 séculos no seu Panopticon.
Não julguem, portanto, que o interesse dos portugueses por aquele movimento artístico é recente. De forma alguma! O interesse do nosso país por Jeremy Bentham e pelo Big Brother (na altura conhecido sob o erudito nome de Panopticon) levou inclusivamente as nossas soberanas Cortes Constituintes de 1821-22 a publicarem o seu projecto. Neste entendimento, só desconhecedores da cultura com «C» (ou «K») podem duvidar da importância do Big Brother como elemento inovador das Ciências Políticas e Sociais. Seria o mesmo que pôr em causa um dos principais teóricos da política do século XIX.
A Panoptizição da política vai alargar o âmbito da intervenção pública e a transparência dos actos políticos. Haverá câmaras em todos os ângulos e apanhando todas as perspectivas. Será a política total. Será a exposição global.
Mas esta mudança de funções governativas mostra que o recíproco também é verdadeiro. Prova-se assim, de forma cabal e definitiva, que Portas encara a guerra como um acto de Cultura. Só assim se explica que tivesse querido aproveitar a vertente cultural de Teresa Caeiro na secretaria da Defesa.
E isto é uma inovação nos nossos critérios e dispositivos de defesa. Com o material artístico de que dispomos, esta ambivalência pode introduzir um elemento altamente perturbante e inovador em futuras operações militares. Com as nossas actuais munições artísticas, para além de atingir o inimigo, desmoralizamo-lo absolutamente.
E as guerras ganham-se desmoralizando o inimigo. Tem sido sempre assim.
Publicado por Joana às julho 22, 2004 08:35 PM
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Comentários
Você está cheia de humor, Joana
Publicado por: Rita às julho 22, 2004 09:00 PM
Ha uma diferênca abismal emtre o Big Brother da Endemol e Panopticon... e a Joana sabe bem disso...
de facto se tivéssemos um governo tipo panopticon não seria tão mal quanto isto... mas o Big Brother que se conhece em Portugal, o único, por falta de Kultura, é o da Tvi... aquele que ao contrario de mostrar toda a realidade das filmagens, manipula os espectadores...
Só espero que Portugal não caia num governo big brother ... onde todas as semanas seriam eliminados políticos debaixo de fogo 24H/24H...
mas temo já ter começado este Big brother do governo... que está sujeito àquilo que os medias de diferentes partidos querem mostrar ao povo que irá rejeitar ou aprovar os novos ministros conforme aquilo que a TV decidir mostrar ou não, dizer ou não...
the show must go on... cuidado Santana & Co. quem manda aqui não és tu,
mas sim a Teresa Guilherme ...
Publicado por: Ch'ti às julho 22, 2004 10:32 PM
Podia ser uma crónica de humor. Se o assunto não fosse sério. Podia ser uma paródia. Não se tratasse do Governo da República. Podia ser uma comédia. Mas continua a ser ministro de Estado.
Enfim, podia ser uma brincadeirinha, um «fait divers», só que é mau demais para ser verdade.
Se a formação da equipa ministerial já tinha sido atribulada, como podemos qualificar aquilo que aconteceu ontem na constituição do grupo de secretários de Estado?
No dia da tomada de posse, Paulo Portas rasgou-se em elogios. Que tinha «o orgulho» de comunicar o facto histórico de uma mulher assumir um cargo na pasta da Defesa. Que essa mulher era a doutora Teresa Caeiro.
Se a ocasião era inédita, a decisão foi ponderada. Como é óbvio. Pois, prosseguia Portas, «revela visão e modernidade». O ministro de Estado e da Defesa deu os argumentos curriculares. A futura secretária de Estado está familiarizada com os assuntos militares porque, de acordo com o seu ministro, é «neta e filha de militares».
Além disso, foi uma «óptima governadora civil», que «podem perguntar a qualquer colectividade o que pensam dela» e, por fim, que «trabalhou bem com Bagão Félix, que é um homem com quem se aprende muito».
E, realmente, assim foi. Até às 17 horas e 15 minutos, quando a lista oficial teve de ser corrigida para que a doutora Caeiro fosse transferida para a Cultura e, a trouxe-mouxe, fosse empossada como secretária de Estado das Artes e Espectáculos - que, como qualquer pessoa facilmente constata, tem tudo a ver...
Podia ser, efectivamente, um «fait divers».
Não tivéssemos ainda frescas na memória as imagens de Paulo Portas, espantado com o facto de o seu Ministério também se designar Assuntos do Mar.
Não fosse o primeiro-ministro ter prometido ministros de várias regiões e serem quase todos de Lisboa.
Não tivesse o primeiro-ministro anunciado um Governo avantajado na quantidade de ministros, mas parco em secretários de Estado - e ser, afinal, o seu Governo um dos maiores que a República conheceu até hoje.
Não fosse o primeiro-ministro ter dispersado Ministérios por Santarém, Faro e Porto - e toda a gente já ter percebido que, felizmente, não passou num «improviso televisivo».
Certamente que o doutor Portas tem a capacidade de nos convencer sobre as elevadas razões para o que parece, mas não é, uma enorme confusão. O facto é que o «orgulho» do ministro de Estado apenas durou duas horas. E que, continuando a parafraseá-lo, num ápice, lá se foi a sua «visão» e a «modernidade» do seu Ministério.
O primeiro-ministro, para explicar esta enorme baralhada e as suas próprias contradições, ameaça deixar de falar aos jornalistas sobre possibilidades. E começa apenas exprimir certezas. A pergunta é: «mas ainda ninguém lhe tinha explicado essa regra básica»? É que alguém deve avisar Santana Lopes que ele já não é comentador dos Donos da Bola...
Não é grave. Até ver. E, visto do lado de fora, só dá mau aspecto.
Publicado por: Sergio Figueiredo às julho 22, 2004 10:48 PM
Caricatura
O episódio Teresa Caeiro é a caricatura da forma como o Governo foi constituído.
http://www.pula_pulapulga.blogspot.com
Publicado por: pulga às julho 22, 2004 11:00 PM
Jeremy Bentham publicou o estudo prévio num opúsculo, o «Panopticon» (que significa, em tradução livre do grego, «vê tudo»), onde idealizava uma construção com uma torre circular central e, à volta, na periferia, uma construção em anel, dividida em celas, cada uma com janelas para o exterior. Entre cada cela da construção periférica e a torre central havia janelas, mas com um sistema que só permitia a visão no sentido torre-celas. Na torre, em cada piso, estaria um vigilante que observaria em permanência os habitantes das celas.
Jeremy Bentham consultou arquitectos para elaborar planos de pormenor dos Panopticon, que poderiam ser multiusos: prisões, manicómios, hospícios, fábricas, hospitais, escolas, orfanatos, etc.
As nossas Cortes Constituintes de 1821-22 mandaram publicar o seu projecto pela Imprensa Nacional da época. Na página 181 está um estudo de viabilidade económica, que mostra que, mesmo naquela remota época, Jeremy Bentham tinha mais cuidado com os investimentos, do que muitos de nós têm agora!
Aliás, Bentham também manteve correspondência com as nossas Cortes Constituintes (e as espanholas igualmente).
Publicado por: Joana às julho 22, 2004 11:20 PM
Sergio Figueiredo em julho 22, 2004 10:48 PM:
O seu texto é o do Sérgio Figueiredo de hoje do Canal de Negócios.
Calculo que não seja a mesma pessoa?
Publicado por: Joana às julho 22, 2004 11:27 PM
Foi absolutamente caricato
Publicado por: Vitapis às julho 22, 2004 11:45 PM
Joana, não penso que o assunto em análise e por si retratado de uma forma ligeira (ligeira apenas por que nos faz sorrir com o caricato da situação) possa ser encarado de forma despreocupada, é de facto muito preocupante e, na minha perspectiva, denunciador de uma falta de organização e, quem sabe, de incompetência do PSL (e de quem o rodeia), que não soube preparar convenientemente o terreno para que não acontecesse um episódio tão caricato.
Com novas ou velhas formas de fazer polítca, o bom senso fica sempre bem, não acha?
Publicado por: Alves às julho 23, 2004 12:26 AM
Ó Joaninha, quando perde essa mania de transcrever coisas das enciclopédias como fez aqui acima? Que fatela! E já está a bater no Santana para ver se o Portitas vem ao de cima.Que giro. Mas noto aqui uma certa dose de cíumes pela Teresoca, não?
Publicado por: Átila às julho 23, 2004 01:22 AM
De facto esta trapalhada só pode ser vista com humor
Publicado por: atesif às julho 23, 2004 11:15 AM
Teresa Caeiro Cansada de Guerra
Publicado por: pro-vocativo às julho 23, 2004 12:56 PM
A pequena deve ser mesmo habilidosa.
Publicado por: rudus às julho 23, 2004 01:23 PM
a fazer humor assim ainda a convidam para escrever os textos do guilherme leite ou do manel aleluia ......
Publicado por: dionisius às julho 23, 2004 02:56 PM
Parece que a Joana não está muito segura deste governo
Publicado por: Vitapis às julho 23, 2004 08:31 PM
...adivinhem quem é que vai passar a escrever os discursos do nosso novo Primeiro-Ministro...ok, eu digo...
Publicado por: Jack às julho 23, 2004 09:59 PM
diga ...
Publicado por: Mocho às julho 23, 2004 11:06 PM
Vou-me ausentar por uma semana por motivos profissionais.
Deixo pois este blog entregue à «vigilância popular».
Não totalmente, pois levo o meu portátil com GPRS e estarei atenta ao que aqui se passar, na medida em que os meus afazeres profissionais o permitirem.
Não é pois de excluir que coloque algum post entretanto.
Até para a outra semana.
Publicado por: Joana às julho 24, 2004 12:36 AM
Jack em julho 23, 2004 09:59 PM :
Entretanto se souber a resposta à adivinha, diga qq coisa, que eu vou lendo
Publicado por: Joana às julho 24, 2004 12:38 AM
Com um currículo e mestres destes fica uma só pergunta -- privatizam-se as bandas militares ou militariza-se a banda da Carris?
Publicado por: caodefila às julho 25, 2004 05:32 AM
Cá para mim, esta Joana é um pseudónimo do AJJ, que também dizem que pega de empurrão...
Lembram-se da Albertina?
Pois...
Publicado por: curioso às julho 25, 2004 06:03 PM
Afinal, a rapariga sabe mesmo de tudo, a avaliar por um comunicado do CDS
Publicado por: dorival às agosto 1, 2004 01:38 AM
NÃO ENTENTI NADA DESSAS PALAVRAS CATALOGADAS
Publicado por: WELINGTON às agosto 15, 2004 11:59 PM
Pois
Publicado por: Caeiro às fevereiro 28, 2005 12:47 AM