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julho 21, 2004
As 2 faces de Janus
A incompetência e o provincianismo da política e comentaristas portugueses toca o absurdo. Há dois dias Nobre Guedes era uma escolha abstrusa para o Ambiente. Não tinha nada a ver com o ambiente, não percebia nada do ambiente. Era um nulo em ambiente e em tudo o que respeitava a questões ambientais.
Foi geral o clamor nos meios políticos e na comunicação social. Desde Marcelo, o Guru dos nossos analistas políticos, até aos dirigentes da Quercus, a reprovação era unânime: como era possível empossar como ministro do Ambiente, uma pasta tão complexa e delicada, uma pessoa que nunca tinha tido nada a ver com questões ambientais, que desconhecia em absoluto a matéria, cujo currículo era totalmente omisso nesta área.
Nicolau Santos assegurava que «Luís Nobre Guedes vai ter tempos difíceis no Ambiente - sector ao qual nunca esteve ligado até agora»; outros achavam, por isso mesmo, que ele teria uma mais que «duvidosa qualificação para o exercício do cargo de ministro do Ambiente». José Alho, presidente da Liga para a Protecção da Natureza, lamentava a nomeação de Nobre Guedes para liderar o Ministério do Ambiente pois era «injustificável, mais uma vez, colocar-se a pasta do ambiente sob a responsabilidade de um personalidade que é um outsider do ambiente (...) o que não nos augura nada de bom».
Mas nós vivemos num país extremamente dinâmico (por enquanto apenas no que toca à má-língua) e dois dias depois, uns míseros e parcos 2 dias, Nobre Guedes tornou-se incompatível porque afinal era um expert em questões ambientais: resíduos (presidente da mesa da Assembleia-geral da Novaflex e da Novabeira, assessorias jurídicas à Empresa Geral de Fomento e à Sociedade Ponto Verde, etc.), águas (ligações à AdP via EGF, etc.). Afinal o homem estava em tudo o que era Ambiente. Conhecia, pela via da consultoria profissional, a maioria dos dossiers mais importantes da área ambiental.
Ora conhecer uma matéria pela via da acção prática, no real concreto, é, de acordo com alguns fazedores de opinião, incompatível com o exercício de um cargo governamental. Se Nobre Guedes conhecesse o Ambiente através, única e exclusivamente, da docência universitária, evitando prudentemente qualquer contacto prático com a matéria, poderia ser uma escolha válida. Se, como os ambientalistas, conhecesse o Ambiente e a Natureza unicamente das revistas editadas por outros ambientalistas que, igualmente, apenas conhecem o Ambiente através das revistas publicadas pelos primeiros, e cuja experiência prática na matéria se resumisse às suas prestações frente às câmaras televisivas, Nobre Guedes seria uma escolha excelente.
Mas não, Nobre Guedes não servia há dois dias para o Ambiente, porque não tinha visibilidade abstracta naquela área, e não serve agora para o Ambiente, porque tem visibilidade concreta naquela matéria. E os mesmos que antes se abespinhavam contra a nulidade Nobre Guedes, trovejam agora contra as suas alegadas incompatibilidades.
Desconheço as reais capacidades de Nobre Guedes e se será ou não um bom ministro. Mas não é isso que está em jogo nesta questão. O que está aqui em jogo é a incoerência e a tontice de todos estes pretensos fazedores de opinião. E também a ideia que fazem das competências necessárias para exercer um dado cargo.
Para mim, o «caso» Nobre Guedes é apenas um exemplo da forma pouco séria e inconsistente como se abordam estas matérias
Publicado por Joana às julho 21, 2004 07:40 PM
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Comentários
a questão não é NGuedes .
a questão é que este governo já é conhecido como o mais "betinho" dos últimos 28 anos !
e foi um gozo ouvir PPortas sobre o conceito de "visão" e de a sra ser filha e neta de militares!:
Tesesa Caeiro "foi" secretrária dos Quartéis durante 2 horas e acabou secretária dos Espectáculos !
Publicado por: zippiz às julho 21, 2004 08:19 PM
Esse Janus é algum reaças? Deve ser, para a Joana falar dele
Publicado por: Cisco Kid às julho 21, 2004 10:09 PM
Esse Janus é algum reaças? Deve ser, para a Joana falar dele
Publicado por: Cisco Kid às julho 21, 2004 10:10 PM
Janus era a tua tia, ó t´tó.
E casou-se
Publicado por: Mocho às julho 21, 2004 10:17 PM
...sinto-me um Victor Baía virtual, só depois de alguém de fora me dar o valor que mereço é que vão olhar para mim, mas nesse dia eu vou rir na vossa cara...que se lixe, pra quê esperar?AH!AH!AH!AH!
Publicado por: Jack às julho 21, 2004 10:31 PM
Que terá o Janus a ver com o Nobre Guedes?
E com o Baía?
Publicado por: z às julho 21, 2004 10:34 PM
É sobrinha do Baía
Publicado por: Rave às julho 21, 2004 10:50 PM
E, fora de brincadeiras, estou completamente de acordo com o que escreveu, Joana.
A política portuguesa é hipócrita. Mais os mídia. O PS, por exemplo, não alinhou com estes disparates
Publicado por: Rave às julho 21, 2004 10:53 PM
A mulher de César....
Publicado por: Abreu às julho 22, 2004 12:11 AM
Governabilidade
O episódio Teresa Caeiro é a caricatura da forma como o Governo foi constituído.
http://www.pula_pulapulga.blogspot.com
Publicado por: pulga às julho 22, 2004 12:23 AM
Despejado a todo o vapor
Lê-se no Público:
«O novo ministro das Cidades, José Luís Arnaut, ocupou o Ministério das Cidades e do Ambiente, na Rua do Século, impedindo que o titular da outra pasta, Luís Nobre Guedes, pudesse instalar-se no gabinete ministerial.
Assim que tomou posse, no sábado, o social-democrata rumou ao Bairro Alto, entrou no gabinete até então de Arlindo Cunha, e começou a colocar tudo o que dizia respeito ao Ambiente porta fora, isto é, para os corredores. Na segunda-feira, Nobre Guedes arriba à Rua do Século e descobre que tem de se amanhar com um dos gabinetes antes ocupados pelos secretários de Estado. Até ontem, estava sentado à secretária que já foi de José Eduardo Martins.
Segundo os funcionários desta instituição, a confusão é geral. Arnaut terá argumentado com Nobre Guedes que, como o Ministério se chamava, nos últimos dois anos, das Cidades, do Ordenamento do Território e do Ambiente, a prioridade é dele. E também lembrou ao ministro do CDS que ele - Arnaut - era mais antigo no Governo. O pior é que, neste momento, ninguém sabe onde está nada já que toda a documentação que estava na posse de Arlindo Cunha - e que, portanto, se referem a processos pendentes - foram despejados do gabinete sem lei nem ordem.»
http://www.pula_pulapulga.blogspot.com
Publicado por: pulga às julho 22, 2004 12:35 AM
Excelente, Joana
Publicado por: Diana às julho 22, 2004 12:52 AM
A história que o pulga conta é espantosa.
Publicado por: Sargão às julho 22, 2004 12:58 AM
Penso que no que se refere ao texto agora publicado, e até em alguns dos comentários efectuados, a sensação com que fico, é de que reina um desnorte completo em Portugal, o país vai ser governado por um grupo de amigos que se juntam em cafes e distribuem pastas ministireais como se fossem doces, ...."pataca a mim, a mim pataca, pataca a ti"... Tudo isto sem a firmeza de um presidente que se emociona á miníma coisa, quase todos os dias é ve-lo a chorar, e que quanto a mim ficou refém de um acordo que estou seguro Durão lhe terá proposto, ainda antes de aceitar o cargo. Estou longe, mas perto, acompanho as noticías sempre que posso, tomei conhecimento da pequenez que nos envolve e faço parte daqueles que com amargura se resignam perante tamanho espectacúlo politíco...
Reacionário? Não Sei... Revolucionário? Tambem não... Agora, se tivessem existido eleições antecipadas, o PS e a esquerda teriam ganho, não porque o eleitorado acreditasse em Ferro Rodrigues mas porque iríamos penalizar a forma tão dura e tão louca como fomos governados...
Ao cheque fiscal prometido, vieram o corte dos empréstimos bancários para habitação aos jovens, o IVA a 19% era só um ano e já lá vão mais de 2 a reforma do codigo laboral, a reforma da segurança social, penalizando em especial, quem fica doente e quem fica desempregado, etc... E agora? Veremos, teremos seguramente um governo populista, valeu a pena este esforço?... Alguém acredita em seriedade neste grupo de amigos? Julgo que não e graças a sermos hoje livres independentes e bem informados, não esqueceremos uma vez mais.
Publicado por: O Artista às julho 22, 2004 01:09 AM
Vim só ver se aqui também havia hienas, não vá o Diabo tecê-las. Mas não, são tudo cordeirinhos mansinhos e domesticados.Parto mais sossegado.
Publicado por: Átila às julho 22, 2004 01:45 AM
O seu a seu dono!
Joana - concordo consigo que não se pode dizer ao mesmo tempo que Nobre Guedes é um desconhecido na area do ambiente e por outro lado pretextar alguns dias depois que as suas ligações a empresas do ramo o tornam incompatível. E necessário explicar esta aparente contradição - não que V. não saiba o que está em causa - mas antes para esclarecer a opinião publica.
Com efeito no seu comentario acaba por enveredar pelo mesmo tipo de manipulação, que tanto verbera, assente em meias verdades e aparentes evidencias.
Afirma no seu comentário que "Nobre Guedes é um expert em questões ambientais" dadas as suas funções de "presidente da mesa da Assembleia-geral" e "consultoria juridica" em varias empresas do sector. Ora não existe forçosamente uma relação entre a função de presidente da Assembleia Geral duma empresa e o conhecimento sobre o sector de actividade específico dessa mesma empresa - o principal atributo para estas funções é um sólido conhecimento das regras do direito comercial de forma a garantir a conformidade formal das decisões tomadas pela administração da empresa e outros orgãos estatutários com os preceitos legais aplicáveis na matéria. Da mesma forma a "assessoria juridica" de que fala no seu texto não implica necessáriamente um conhecimento do sector - tal assessoria pode decorrer simplesmente de apoio dado às empresas em causa em matérias do foro juridico (p. ex. direito de sociedades) ou fiscal.
Por outro lado é inegável que as funções de "presidente da Assembleia Geral" proporcionam uma proximidade junto dos quadros dirigentes destas empresas susceptível de dar azo a situações pouco claras (aquilo que numa linguagem mais rebuscada se chama "trafico de influências").
Em conclusão:
- continua por saber através de intervenções publicas (ou escritos privados) o que pensa o recem empossado ministro sobre algumas das grandes questões que Portugal enfrenta na área ambiental (ainda estamos á espera que a actual maioria venha explicar que solução escolheu para o problema dos chamados resíduos perigosos, sem falar nas orientações sobre o sector das águas - apresentadas a público por um ministro demitido pela calada da noite alguns dias mais tarde);
- sabe-se no entanto que o recem-empossado ministro, no âmbito das suas actividades profissionais enquanto advogado, mantem contactos ao mais alto nivel com empresas do sector.
Fica a pergunta: não se deveria aplicar neste caso a máxima geralmente referida quando se discute a probidade da mulher de César?
Publicado por: Carlos às julho 22, 2004 03:52 AM
Parece que o PS ... P não vai votar contra.
Lá faz esse favor.
São uns patriotas
Os outros, PCP e BE, já se sabia. Nunca passaram de traidores
Publicado por: resus às julho 22, 2004 11:52 AM
Não é verdade que o nosso PS vote a favor. O A Costa deu "liberdade de voto"!!
São uns desgraçados, estes PS.
Publicado por: bederode às julho 22, 2004 12:00 PM
Os nossos meios de comunicação também deviam ser reciclados pelo Ponto Verde
Publicado por: riuse às julho 22, 2004 12:02 PM
Carlos: se fosse assim, quem tivesse sido empregado num restaurante não podia ir para o Turismo; quem tivesse trabalhado nas obras não podia ir para as Obras Públicas.
Os advogados não podiam ir para a Justiça, nem os médicos para a Saúde
Publicado por: Damião às julho 22, 2004 12:04 PM
O PR desmentiu ter sido pressão dos militares.
Não acredito
Publicado por: Nereu às julho 22, 2004 05:55 PM
Tudo isto é ridículo. Ninguém se entende
Publicado por: fetino às julho 22, 2004 06:39 PM
Caro Damião
Os exemplos que cita (empregado de restaurante, advogado e médico) não colhem.
Um advogado ou um médico são profissionais da Justiça e da Saúde, supostamente com preparação técnica para intervir nestes sectores. A elevada competência técnica de determinados profissionais, a sua compreensão sobre os problemas dum sector, podem justificar em meu entender a sua selecção para funções publicas (p.ex. o novo ministro da Justiça é um advogado). Junta-se neste caso a competência técnica e a entendimento sobre as principais questões políticas dum dado sector.
Tal como afirmei anteriormente não se conhecem tomadas de posição publicas on contributos relevantes do Dr. Nuno Guedes para a discussão (mesmo no plano político) de questões ambientais que justifiquem a sua nomeação para o lugar de ministro. A sua unica ligação parece restringir-se às funções de assessoria e presidência da Assembleia Geral ilustrados no texto da Joana.
Utilizando uma linguagem menos elegante o nosso homem não se distinge pela sua competência técnica e política na matéria mas tem uns "tachos" em empresas do sector, logo é legitimo perguntarmo-nos até que ponto ele é um lídimo representante dos interesses publicos (i.e. de todos nós) ou vai na sua análise reflectir a visão e os interesses das empresas a que tem estado associado. Estas preocupações são tanto mais justificadas quanto o Sr Guedes não é um obscuro e anónimo funcionário destas empresas ("o empregado de balcão" para usar a sua expressão) mas alguem que lida com os principais responsáveis pelas empresas em questão e com acesso a informação qualificada sobre as suas ambições e prespectivas de negócios.
Quando faço alusão à "mulher de Cesar" quero dizer o seguinte:
- ao terem vindo a lume as notícias era obrigação do novo ministro tornar imediatamente publicas as suas relações com empresas ou interesses no sector, explicando nomeadamente a natureza das funções que desempenha (ou desempenhou)
- explicar qual a atitude que pretende adoptar no futuro caso venha a ser confrontado com um "dossier" que envolva estas entidades
- na apresentação do programa de governo dar a conhecer as suas opiniões e a estratégia que defende para abordar os problemas com que o país se confronta neste domínio.
Isto seria bem mais util para o bom nome do Sr. Nuno Guedes e o bom nome do governo do que as frases bombasticas mas totalmente vazias de sentido de Paulo Portas ("vamos po-los de cara a banda"). Na ausência de tais explicações as questões que têm vindo a publico parecem-me justificados.
O que esta aqui em causa não é tanto o Dr. Guedes (que não tenho o prazer de conhecer) mas o aparente desprezo a que são votados os principios eticos que devem orientar a gestão da coisa publica
Publicado por: Carlos às julho 22, 2004 06:53 PM
O homem só não sabia nada de ambiente até a oposição descobrir que ele sabia demais sobre o ambiente. Eles têm é de estar sempre no contra, nada mais.
CC
Publicado por: Maxou às julho 22, 2004 07:14 PM
Jovem !
Se és neto e filho de militares, aproveita a carreira que o Ministério da Defesa te proporciona: a certeza de uma Secretaria de Estado das Artes e Espectáculos.
Acredita na Arte !
Dá Espectáculo ao aceitares...
Publicado por: re-tombola às julho 22, 2004 08:10 PM
Joana,
Gosto mais deste seu estilo de escrita, le-se a correr e sem parar, a não ser para uma gargalhada... è um estilo mais populista, cuidado...
Eles andam aì....
Publicado por: O Artista às julho 22, 2004 11:44 PM
Concreto e substancial, com uma pitada de humor...Adorei...Quero mais
Publicado por: O Artista às julho 22, 2004 11:46 PM
Não sei onde há mais trapalhice: se no governo se na oposição
Publicado por: A Valente às julho 23, 2004 11:30 AM
Não sei onde há mais trapalhice: se no governo se na oposição
Publicado por: A Valente às julho 23, 2004 11:30 AM
Está em Janus.
Publicado por: zeze às julho 23, 2004 08:27 PM
É o que eu digo ...
Publicado por: Vitapis às julho 23, 2004 08:32 PM
Vou-me ausentar por uma semana por motivos profissionais.
Deixo pois este blog entregue à «vigilância popular».
Não totalmente, pois levo o meu portátil com GPRS e estarei atenta ao que aqui se passar, na medida em que os meus afazeres profissionais o permitirem.
Não é pois de excluir que coloque algum post entretanto.
Até para a outra semana.
Publicado por: Joana às julho 24, 2004 12:39 AM
Cá para mim, esta Joana é um pseudónimo do AJJ, que também dizem que pega de empurrão...
Lembram-se da Albertina?
Pois...
Publicado por: curioso às julho 25, 2004 06:02 PM
É só má língua
Publicado por: Broteus às agosto 1, 2004 12:52 AM
Má língua? Com esta reaças?
Publicado por: Cisco Kid às agosto 5, 2004 01:42 AM
Má língua? Com esta reaças?
Publicado por: Cisco Kid às agosto 5, 2004 01:42 AM
Sé se perdem as que caem no chão
Publicado por: Cisco Kid às agosto 5, 2004 01:43 AM
Sé se perdem as que caem no chão
Publicado por: Cisco Kid às agosto 5, 2004 01:43 AM
Este não é o Cisco, mas o companeiro, o Tonto.
Ou então o cavalo dele
Publicado por: Zeca às agosto 6, 2004 01:45 PM
Este não é o Cisco, mas o companeiro, o Tonto.
Ou então o cavalo dele
Publicado por: Zeca às agosto 6, 2004 01:45 PM