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julho 26, 2004

Marcelo a caminho de Damasco

Marcelo Rebelo de Sousa reencontrou a sua Estrada de Damasco, que em versão menos bíblica se pode traduzir por «voltaram a pô-lo nos carris».

É o que sucede quando um analista mistura as suas convicções partidárias ou os seus ressentimentos nas análises políticas que faz. No domingo anterior (18/7), um Marcelo ressentido havia ressumado o seu ódio a Santana Lopes. Com aquele talento de velhaco genial, que ninguém lhe pode negar, Marcelo vandalizou o ministério todo e, enquanto destruía cada ministro, enquanto ministro, um a um, lentamente, com requintes malvados, elogiava empolgado as qualidades pessoais de cada um e emocionava-se com a extremosa amizade que o unia a cada um deles. Foi um dos momentos mais altos da TV portuguesa, o talento da argumentação jesuítica elevado ao seu máximo requinte.

Este domingo (25/7) Marcelo Rebelo de Sousa, ex-Presidente do PSD, foi elogioso em extremo do novo elenco dos secretários de Estado. A própria Teresa Caeiro era excelente, havia feito um óptimo trabalho na Segurança Social e certamente que ... enfim ... É claramente uma secretária de Estado Todo-o-Terreno, com talento para tudo o que seja governação. O seu único problema foram aquelas precipitações usuais de Santana Lopes, Paulo Portas e Cia.

Depois do que havia afirmado no domingo anterior, e face ao risco de alguém ainda se lembrar do mal que havia dito dos ministros, viu-se constrangido a declarar que o elenco dos secretários de Estado era de melhor qualidade que o dos ministros.

Apesar do seu talento e habilidade de comunicação, parece-me que foi pior a emenda que o soneto. O elenco ministerial tem algumas fragilidades, mas o elenco dos secretários de Estado também as terá e porventura maiores. O governo actual reflecte a rapidez que Santana Lopes pôs na sua constituição e a dificuldade actual em convencer gente capaz a assumir cargos governativos.

Uma coisa poderá salvar Santana Lopes: a fasquia das expectativas foi colocada tão baixa, tão baixa, que só pode haver surpresas positivas ... o negativo deixou de ter a característica de surpresa.

Já agora permitia-me uma reflexão algo imodesta. Quem leu os meus textos durante a crise certamente não notou qualquer pirueta, qualquer inflexão. Nunca tive necessidade de me desdizer ou de me fingir distraída face a qualquer afirmação contrária que houvesse proferido entretanto.

Muitos me atribuem objectivos partidários. Mas colocar rótulos é uma táctica de desvalorizar o debate, afastando-o do que é essencial. A coerência da linha de análise que tenho mantido neste blog, desde que ele existe, resulta justamente de me orientar pelo que considero o interesse do país e da prosperidade do nosso povo e não pelo interesse partidário, ou por ressentimentos pessoais, como Marcelo Rebelo de Sousa. Essa minha orientação reflecte-se, obviamente, nas opções políticas que apoio conjunturalmente. Apoio que muitas vezes não significa concordância plena, mas apenas a escolha do mal menor.

Esta sequência de artigos a que me referi pode ser encontrada clicando nos títulos respectivos na coluna da direita.

Publicado por Joana às julho 26, 2004 09:30 PM

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Comentários

...já tenho lido coisas estranhas (acreditem, sou especialista em as escrever), mas como esta vai ser dificil suplantar... ou não. (se este comentário não parecer fazer sentido é porque ele foi feito para outro blog e resolvi aproveitá-lo por...ser tão estranho).

Publicado por: Jack às julho 26, 2004 09:58 PM

Deste Sr. tudo é de esperar...Fala bem, mas diz pouco...
Que nunca se esqueçam,aqueles que seguem atentamente estas coisas, que na semana em que: - Paulo Portas vai ao tribunal testemunhar pelo caso Moderna
tem lugar a acareação entre Adelino Salvado e Maria Jose Morgado na comissão parlamentar, conluíndo-se claramente que um dos dois mente
Precisamente nesse mesmo dia são detidos 37 elementos da BT da Gnr por corrupção...
(tudo coincidências)
Este senhor, que escolhe os temas da semana a tratar, não só não comentou estes temas como destacou para essa semana o.... Aniversário do Figo.
A Joana pode defender um conjunto de valores pessoais que considera serem os melhores em prol da nossa sociedade, eu tambem assim penso, mas basta de dissimular, podemos perfeitamente dizer BASTA quando é necessário sem deixar cair nenhuma das nossas convicções politicas ou pessoais... Quem tem um Webblog e afixa diariamente uma ou varias opiniões politicas não se pode considerar alheio a partidarites, as suas convicções, ainda que pessoais e postas em prol do bem da sociedade, tém um caminho, encaixam-se mais numa do noutra estratégia politíca, vamos ser claros e honestos em termos de convicções politícas em prol do bem da sociedade, porque só assim poderão acreditar em si.
Um abraço

Publicado por: O Artista às julho 27, 2004 03:19 AM

2 reaças, esta e o Marcelo

Publicado por: z às julho 27, 2004 05:32 PM

2 reaças, esta e o Marcelo

Publicado por: z às julho 27, 2004 05:32 PM

2 reaças, esta e o Marcelo

Publicado por: z às julho 27, 2004 05:32 PM

Não tenho conhecimento de qualquer estatística sobre a popularidade do Prof. Marcelo mas aposto que a sua popularidade tem vindo a baixar. Há algo de 'oco' nas suas diatribes...

Um abraço,
Francisco nunes

Publicado por: Planície Heróica às julho 31, 2004 01:32 AM

Joana ,
um post sobre Marcelo mas Vc só fala sobre um tal de Santana ! Quem é o sujeito ?
Faz parte dos oportunistas, que normalmente se encontram, quando a direita tem que decidir sobre a "escolha conjuntural do mal menor" ?

Publicado por: zippiz às agosto 1, 2004 10:05 PM

Luís Filipe Menezes ao Independente :
«Há ministros que conspiraram contra Santana». O autarca de Gaia diz que se sente capaz para ocupar qualquer cargo de ministro e apoia Marcelo Rebelo de Sousa para as presidenciais

quem é que disse que já tinha sido atingido o grau zero da política ... às direitas ?!

Publicado por: zippiz às agosto 1, 2004 10:30 PM

O Artista em julho 27, 2004 03:19 AM:
Você não deve ter lido o que escrevi. Eu escrevi, a certa altura, que «Essa minha orientação reflecte-se, obviamente, nas opções políticas que apoio conjunturalmente. Apoio que muitas vezes não significa concordância plena, mas apenas a escolha do mal menor».
Obviamente que tenho opiniões. Mas não estão enfeudadas a nenhum partido político, mesmo que conjunturalmente sejam similares com posições deste ou daquele partido.

Publicado por: Joana às agosto 2, 2004 12:42 AM

zippiz em agosto 1, 2004 10:05 PM:
Eu falava do Marcelo, que falava do Santana e do governo ... logo ...

Publicado por: Joana às agosto 2, 2004 12:45 AM

zippiz em agosto 1, 2004 10:05 PM:
Por exemplo: uma "escolha conjuntural do mal menor" acontece quando o BE comunica a sua disponibilidade para uma coligação com o PS.

Publicado por: Joana às agosto 2, 2004 12:47 AM

zippiz em agosto 1, 2004 10:30 PM:
Não se iluda. Ainda não atingimos o grau 0. Portugal é um Case Study nesse aspecto. Julga-se que atingiu o grau 0 e depois verifica-se que passou a um grau inferior. E assim sucessivamente.

E você fala dos políticos. Já viu como estão os fóruns da net? O on-line do Expresso, por exemplo? Agora há uma clara aliança do rebotalho de esquerda e de direita para tornar aquilo na imundície mais abjecta.

Publicado por: Joana às agosto 2, 2004 12:51 AM

Sempre puseram o Marcelo nos carris. Neste domingo foi até elogioso para o Santana.

Publicado por: Seixas às agosto 2, 2004 12:36 PM

É giro ver o prof dar cambalhotas!!

Publicado por: Seixas às agosto 2, 2004 12:38 PM

Quase todos os domingos Marcelo aparece de sítios diferentes.
Mas em directo de Damasco nunca o tinha visto até agora

Publicado por: curioso às agosto 5, 2004 12:58 PM

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Publicado por: virtual às fevereiro 21, 2005 06:19 AM

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