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julho 26, 2004
Incêndios e Cabeças Duras
Há pouco menos de um ano escrevi um texto, Fatal como a ignorância, sobre esta matéria. Infelizmente aquilo que parece uma evidência para mim e para a quase totalidade da população rural, não o é para as nossas autoridades que nos desgovernam, para os nossos ambientalistas que nos desgraçam e para os nossos intelectuais que parasitam os nossos órgãos de comunicação social.
Toda aquela caterva de ignorantes auto-convencidos deveria colocar-se as seguintes questões:
Porque é que, de ano para ano, de há muitos anos para cá, os meios de combate aos incêndios têm vindo a aumentar em quantidade e em qualidade e os fogos são cada vez maiores e mais incontroláveis?
Porque é que é justamente nas áreas protegidas que o fogo se ateia e progride com mais intensidade, que é mais difícil combatê-lo e circunscrevê-lo?
Porque é que há uma forte correlação entre o aumento das áreas protegidas (REN, Rede Natura, Biótipo Corine, etc.) e o aumento dos incêndios em quantidade e sobretudo em poder de devastação?
Em primeiro lugar há uma questão estrutural que se refere à progressiva e acelerada desertificação rural cujo processo tem que ser parado e fazê-lo regredir. Escrevo desertificação rural e não desertificação do interior porque o abandono da agricultura e da silvicultura acontece no interior, mas também no litoral, mesmo nas imediações dos grandes aglomerados urbanos.
As terras têm que ser limpas e tratadas. As matas e florestas têm que ser limpas. O nosso país tem que ser amanhado e cuidado. Não podemos deixar os campos agrícolas transformarem-se em baldios e as florestas encherem-se de mato e ficarem absolutamente intransitáveis. É claro que o grau de abandono a que chegaram os campos e florestas portuguesas não permite que de um ano para o outro a situação seja reposta. É por isso que temos de começar já. Há que haver planos de fomento rural, no sentido de repovoar o interior e fomentar a agricultura e silvicultura em todo o país.
Mas o que é mais inquietante, verdadeiramente criminoso, e por isso mesmo de solução mais rápida e radical é a questão das áreas protegidas. Aqui confluem dois tipos de erros monstruosos:
1 A incapacidade e a incúria do Estado português em tomar conta daquilo que tem a seu cargo;
2 Os mitos estúpidos e criminosos dos ambientalistas que parasitam o aparelho do Estado, nomeadamente os organismos tutelados pelo Ministério do Ambiente, e parasitam a Comunicação Social, de onde apoiam as acções e inacções dos primeiros e promovem os álibis para mascarar as realidades dos factos.
Uma das ideias peregrinas dos ambientalistas e amigos dos animais foi a de que a limpeza das matas e florestas destrói a biodiversidade. Não me refiro obviamente às queimadas, mas à desmatação, ripagem e frezagem executadas por meios mecânicos.
Muitos agricultores se queixaram, no rescaldo das incêndios do ano passado, que tinham sido impedidos de tratarem das matas por exigências de técnicos do Estado. O Estado não trata das matas, nem deixa tratar! Os técnicos que o fizeram, no seu desdém pela ignorância dos rurais, ainda não se devem ter dado conta da sua actuação criminosa, pois para eles apenas contam os imortais princípios da defesa da biodiversidade. Mesmo que o resultado seja o aniquilamento dessa biodiversidade. Mas aí há um alibi forte: a culpa é dos outros - quem pegou fogo, a mão criminosa, falta de meios dos bombeiros, etc..
Ainda ontem um dirigente da Quercus, Francisco Ferreira, difundia nos meios de comunicação a teoria de que a culpa do fogo que devastava o Parque Nacional da Arrábida era de um deficiente ordenamento, pois havia gente que havia construído casas nas imediações da paisagem protegida e, portanto, os bombeiros tiveram que dar prioridade à contenção do incêndio junto às casas em vez de mobilizarem todos os seus meios no ataque ao fogo no Parque.
Portanto, para este inteligente líder ambientalista e para os meios de comunicação que lhe difundem as teorias, para além da área protegida, terá que haver uma área de protecção à área protegida, onde o fogo pode devastar tranquilamente, enquanto os bombeiros atacam no centro da área protegida. Todavia, como as áreas protegidas em Portugal têm uma inusitada propensão para arderem, no próximo e irremediável incêndio pôr-se-á novamente a embaraçosa questão da contenção do fogo que ameaça as casas nas imediações da área de protecção à área protegida.
Mas tal não embaraçará Francisco Ferreira que exigirá então uma nova área de protecção à área de protecção à área protegida ... e assim sucessivamente.
Ora foi claro que a devastação do fogo deveu-se ao facto de os bombeiros não poderem penetrar na área protegida porque a densidade de mato e dos arbustos tal o impediu. Aliás se a área protegida estivesse realmente protegida, isto é, tratada e desmatada, provavelmente nem se atearia o incêndio. E se se ateasse, os caminhos corta fogo dificultariam a propagação do incêndio e facilitariam a movimentação dos bombeiros e dos seus meios de combate ao fogo. Mas a Quercus nunca poderá reconhecer isto. Os ambientalistas, e os meios de comunicação que lhes dão cobertura, hão-de defender a biodiversidade e todos os seus mitos insensatos até à devastação total das áreas protegidas portuguesas.
Não é possível erradicar a piromania e a negligência, embora possam ser minoradas com campanhas e acções preventivas. Portugal não tem, por si só, mesmo que respeitasse o protocolo de Quioto, capacidade de alterar as condições climatéricas. Portanto, a mão criminosa e a canícula são dados do problema. Neste entendimento tem que apostar na prevenção, criando condições para que os incêndios, quando se deflagram, sejam controláveis e não adquiram as características de catástrofes incontroláveis, como tem acontecido nos últimos anos. Na situação em que as florestas e áreas «protegidas» se encontram nunca haverá meios humanos e materiais suficientes. Quem julga isso é porque nunca viu mato a arder no Verão.
No nosso país, em face de uma calamidade, para acalmar a opinião pública, cria-se um instituto ou uma agência, e legisla-se. Legisla-se muito e afincadamente. Com um organismo estatal e umas leis e portarias o país e os governos ficam tranquilos. Por isso alguns acusam a lentidão da instalação da Agência para a Prevenção de Incêndios Florestais ou da promulgação de uma lei salvadora como causas dos recentes incêndios devastadores. Puro disparate. Para que servem agências (aliás, já existe o Sistema Nacional de Prevenção e Protecção da Floresta contra Incêndios) e leis se o próprio Estado, através dos organismos que tutela, não é capaz, por desleixo e/ou em nome dos imortais princípios, de efectuar a prevenção nas áreas «protegidas» que estão à sua guarda e protecção?
E assim passaremos os verões, até ganharmos juízo, a bramir contra o calor, contra as mãos criminosas, contra a descoordenação e falta dos meios, etc. contra a nossa impotência.
Apenas damos socos no ar.
Publicado por Joana às julho 26, 2004 09:23 PM
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Comentários
Completamente de acordo
Publicado por: David às julho 27, 2004 05:36 PM
JM Fernandes, hoje, no Público, fez-se eco do alibi absurdo da Quercus.
JMF só deve ver fogos na TV.
Publicado por: Joana às julho 27, 2004 07:47 PM
É estranho. Os bombeiros e os reporteres falam nos acessos difíceis ou impossíveis, mas depois nem comentadores nem responsáveis ligam a isso.
Parece não ser relevante
Publicado por: Justo às julho 27, 2004 09:33 PM
Estão todos feitos uns com os outros
Publicado por: arceu às julho 28, 2004 12:19 AM
O país não tem salvação. Está entregue aos lobbies e o pior deles é o dos ambientalistas
Publicado por: Rui Sá às julho 28, 2004 02:49 PM
Por que arde o país?
Descobriu-se a pólvora: há que investir na prevenção. O próprio governo não se pôs de fora: nas vésperas da época crítica dos fogos disponibilizou alguns milhões para a prevenção. Afinal, de que se está a falar quando se fala de prevenção? Aumentar a vigilância das zonas arborizadas? Limpar essas zonas?
Por um lado, estando fora de causa recrutar pessoal para a administração pública ou local, seria aconselhável que essa vigilância fosse confiada ao Exército e à Força Aérea. Tal não sucede. Este ano, segundo os jornais, o Dr. Portas disponibilizou para este efeito cerca de 30 (trinta) mancebos.
Por outro lado, com o fim da agricultura, as terras encontram-se ao abandono. Havendo um enorme número de propriedades rústicas de reduzida dimensão, a sua exploração não é economicamente rentável. Assim sendo, as terras não são periodicamente limpas. Acontece que a tributação em sede de património e de rendimento privilegia esta situação, favorecendo o absentismo.
A única forma de prevenção que poderia reduzir o número de incêndios seria impor um regime de tributação que estimulasse o aparecimento de unidades económicas com a dimensão necessária para que se tornassem viáveis.
Os governos não têm tido a coragem de o fazer. Preferem deixar arder o país. A reestruturação da propriedade fundiária far-se-á um pouco mais tarde então, provavelmente, apenas em função dos interesses das empresas de celuloses. O ministro Álvaro Barreto veio de lá.
http://pula_pulapulga.blogspot.com/
Publicado por: pulga às julho 28, 2004 07:35 PM
pulga:
E porque é que ardem as matas nacionais? E devastadoramente?
E porque é que os bombeiros não conseguem chegar ao centro dos fogos nas matas nacionais?
Publicado por: Joana às julho 29, 2004 12:30 AM
Joana:
Até pensei que pudéssemos, por uma vez, estar de acordo... Parece-me tão evidente o que escrevi!
As matas nacionais ardem por incúria do Estado. E porque o Estado «prefere» comprar submarinos a afectar verbas para a limpeza das matas. Em todo o caso, veja lá se Monsanto arde... é claro que não arde porque há limpeza e até uma corporação de bombeiros no coração do parque.
http://pula_pulapulga.blogspot.com/
Publicado por: pulga às julho 29, 2004 11:09 AM
Nem sabemos cuidar das nossas florestas. É uma desgraça
Publicado por: riuse às agosto 1, 2004 02:00 AM
pulga em julho 29, 2004 11:09 AM:
Monsanto não tem ardido porque tem ocupação humana no seu interior. A ocupação humana não impede que o fogo se ateie, mas facilita a sua rápida contenção.
O Estado não limpa as matas por incúria e porque os amigos dos animais querem proteger a biodiversidade. Não tenha dúvidas.
E pare de dizer que para resolver problemas precisamos de mais dinheiro. Isso é o que todos os organismos do Estado dizem. Quando se lhes pede para funcionarem dizem que precisam de mais dinheiro.
Publicado por: Joana às agosto 2, 2004 12:59 AM
Joana, tem toda a razão. Só quem conhece o campo percebe essa situação.
Publicado por: fbmatos às agosto 3, 2004 12:27 AM
De acordo, fbmatos. A nossa comunicação social parecem borboletas atrás de fogachos sem perceberem a realidade das coisas
Publicado por: Nereu às agosto 3, 2004 12:48 AM
O artigo de hoje no Público do Sevinate Pinto é bem interessante
Publicado por: vde às agosto 3, 2004 11:40 AM
Também gostei desse artigo do Sevinate.
Publicado por: Rita às agosto 5, 2004 01:00 PM
Face à sua simpática visita e ao comentário que deixou no meu blog, aqui estou para num ponto de vista concordar consigo. Em relação ao papel que tem vindo a ser desenvolvido pelas associações ambientalistas estou cem por cento de acordo, porque são os preservadores da conspurcação das matas e digo isto com convicção porque os lixos próprios que as matas e as florestas produzem não o deixam de o ser. Mas que isso seja só a causa bastante para que os incêndios aumentem consideravelmente de ano para ano, muito embora se gastem mais meios com o combate, neste particular já não concordo. Está a esquecer-se que nisto existem muitissimos interesses envolvidos e esses não são fáceis de combater.
Publicado por: congeminações às agosto 5, 2004 01:50 PM
Gostei muito do texto e penso que criticar o governo, as autoridades, bombeiros, não é o suficiente pois isso vai alterar pouco no modo de pensamento deles.
Eles só pensam na Economia, no desenvolvimento, mas esquecem-se que se não houver preocupação com o Ambiente, a longo prazo viremos a ter problemas económicos. É preciso sensibilizar as pessoas para este tipo de situações. São nescessárias muito mais pessoas em cursos como: Geografia, Eng. Ambiente, Eng. Florestal. Ainda agora me apercebi que já só existem 200 linces ibéricos e só quando virmos a notícia de que o lince se extinguiu é que vamos ter pena e será tarde de mais.
Publicado por: Rúben às janeiro 19, 2005 12:00 PM
Algumas coisinhas básicas sobre incêndios:
1. Desde que há vegetação na Terra que há fogos
2. Isto é especialmente verdade em regiões, como a nossa, de clima mediterrâneo
3. Sem fogo não teríamos os valores naturais que temos, eles resultam de um processo evolutivo e de adaptação ao fogo que tem milhões de anos
4. O problema actual é que há fogo a menos numa parte do Mundo e fogo a mais noutra. Num caso como o outro a culpa é do Homem, por omissão, no 1º caso, ou por acção, no 2º
5. É verdade que a única forma de limitar a expansão de grandes incêndios e lhes moderar a intensidade é intervir na vegetação. Aqui não há volta a dar-lhe, por muita dissuasão, detecção e meios de combate que existam ...
6. A construcção de casas em áreas florestais perturba severamente o combate a um incêndio, porque desvia a acção dos bombeiros da extinção do fogo para a protecção de bens e vidas humanas. Isto, em Portugal, acaba por não ser importante, porque os nossos bombeiros (a culpa não é deles, entenda-se) ignoram quase tudo sobre o combate a incêndios florestais
7. Finalmente, a visão do comum cidadão sobre o fogo (catástrofe! desgraça! miséria!) apenas apanha o lado negativo. Para que as coisas mudem as pessoas (especialmente as urbanas) têm que ser educadas não só sobre os malefícios como também sobre os benefícios do fogo (ou pelo menos de alguns fogos, ou de um regime de fogo não só aceitável como também desejável)
Publicado por: Paulo Fernandes às fevereiro 19, 2005 06:10 PM
A limpeza das matas e florestas destroi de facto a diversidade. Nao e uma ideia peregrina dos ambientalistas e amigos dos animais.
http://news.bbc.co.uk/1/hi/sci/tech/3946273.stm
Os incendios em Portugal devem-se principalmente a expansao das pragas eucaliptos e pinheiros, i consequente seca.
Publicado por: Andre às maio 23, 2005 11:24 PM
Andre às maio 23, 2005 11:24 PM
Limpar as matas elimina transitoriamente alguma biodiversidade. O fogo destrói-a completamente.
Você deve conhecer o mundo rural dos filmes e da net. Você nunca deve ter visto mato a arder. É imparável. Uma floresta não desmatada é intransitável. Por muitos meios que se tenha, o melhor que se consegue fazer é circunscrevê-lo.
Basta ver, que quanto mais meios temos, maiores e mais devastadores são os fogos. Porquê? Quer por negligência, quer pelo fundamentalismo ignorante dos tontos que se dizem amigos da biodiversidade e que parasitam alguns institutos públicos ligados à natureza e ao ambiente, as florestas não são tratadas.
Depois ardem as matas nacionais, mas os responsáveis são sempre os outros.
O pinheiro não é uma praga. Você está completamente a leste da silvicultura.
Publicado por: Joana às maio 24, 2005 10:10 AM
Nem o pinheiro nem o eucalipto são pragas. São árvores que se plantam.
Pragas são as acácias. Essas sim, crescem e propagam-se em grande quantidade mesmo sem serem plantadas.
As florestas não são limpas, não "por negligência" nem (muito menos) por "fundamentalismo ignorante". Elas não são limpas porque é muito caro limpá-las e não dá lucro. Homens para as limpar à força de braço, não há. Máquinas, fica caríssimo alugá-las. E depois, o preço da madeira está tão baixo que pura e simplesmente não justifica.
É preciso limpar as matas. Creio que a única forma economicamente viável de o fazer é recorrer a cabras ou outros pequenos ruminantes. Vedar as matas com cercados e criar cabras lá dentro.
Publicado por: Luís Lavoura às maio 24, 2005 10:45 AM
Nota: que eu saiba, não é necessária qualquer autorização estatal para um proprietário limpar a sua mata. (Pode ser necessária dentro de uma área protegida, mas em geral não é.) O meu pai tem diversas propriedades florestadas, e limpa-as quando quer, sem pedir qualquer autorização. O que é necessário autorização, é para plantar eucaliptos. Só para isso.
O que se verifica é que, mesmo fora das áreas protegidas, as matas estão por limpar. Frequentemente há mato até mesmo junto às casas. De onde se conclui que a falta de limpexa das matas nada tem a ver, em geral, com qualquer proibição estatal. Os proprietários não as limpam porque, pura e simplesmente, não o podem fazer, ou não estão para isso. Não porque sejam proibidos de o fazer pelo Estado. De facto, no caso das casas o Estado OBRIGA a limpar todo o mato e árvores num raio de 50 metros, e os proprietários mesmo assim não o fazem.
Publicado por: Luís Lavoura às maio 24, 2005 11:22 AM
"O pinheiro não é uma praga. Você está completamente a leste da silvicultura."
O pinheiro e o eucalipto são árvores que favorecem o fogo, nessa prespectiva podem ser consideradas pragas. Ao que parece a nossa floresta passou a ser dominada por essas árvores no estado novo. Não são as árvores mais adequadas ao nosso clima muito seco nas épocas quentes, pois ardem e propagam incêndios com enorme rapidez (não é por acaso que as pinhas e a caruma são usadas para atear o fogo). Além disso não têm a capacidade de se regenerar do fogo, ao contrário das árvores mais tradicionais do país. Como um pinheiro ou um eucalipto crescem muito mais depressa que, por exemplo, um carvalho, e a madeira destina-se à celulose. Não compensa plantar árvores que levam uma vida a crescer e produzem madeira de boa qualidade, normalmente com outras aplicações.
"Basta ver, que quanto mais meios temos, maiores e mais devastadores são os fogos."
Quanto aos meios, é notório que muita da frota automóvel dos bombeiros é bastante antiga. Além disso a mobilidade dos bombeiros nas matas é bastante limitada, em parte porque a ordenação do território não existe.
Há no entanto casos de sucesso na prevenção e combate a incêndios, como é o caso de Mortágua. Essa região é uma excepção, há organização nas matas e empenho da população na preservação das mesmas (muitos dependem dela). Aí os incêndios são em número muito reduzido, porque há uma vontade que a floresta não arda, enquanto na maior parte das regiões há uma grande indiferença relativamente ao assunto.
Publicado por: Daniel às maio 24, 2005 11:57 AM
Pragas são plantas (ou animais) que invadem um ecossistema, devido a uma qualquer vantagem competitiva sobre as espécies nativas. Os pinheiros (bravos) e eucaliptos reproduzem-se, como quaisquer seres vivos, mas não são, no nosso país, invasores. Não são, portanto, pragas.
Uma árvore que favorece o fogo diz-se pirófila, salvo erro. O eucalipto é pirófilo, o pinheiro bravo não.
O pinheiro bravo não é nativo da maior parte de Portugal, mas sim da Galiza e Minho. É utilizado em Portugal desde há séculos - D.Diniz plantou o pinhal "de Leiria" (que na verdade é da Marinha Grande...). Não se pode dizer que seja uma árvore introduzida recentemente em Portugal.
Uma verdadeira praga (em Portugal; noutros países, por exemplo no Japão, não o são) são as acácias, que também são pirófilas e que em Portugal têm invadido as nossas florestas a uma velocidade apavorante. A sua propagação tem sido fortemente ajudada pelos incêndios, precisamente porque são pirófilas. Propagam-se através das raízes, as quais resistem ao fogo; as sementes das acácias também são resistentes ao fogo, pelo que, desde que haja uma acácia adulta num terreno, ela espalha as suas sementes à volta e, mal haja um fogo, essas sementes rebentam antes de quaisquer outras e em breve o terreno todo está minado de acácias.
Publicado por: Luís Lavoura às maio 24, 2005 12:29 PM
A Joana tem uma grande raiva aos ambientalistas e isso tolda-lhe a visão. Francisco Ferreira tem a sua quota de razão, como os bombeiros reconhecem: havendo casas espalhadas pela paisagem, os bombeiros desviam os seus meios para as proteger, em vez de combater o fogo em geral. A solução não é criar mais e mais áreas protegidas, mas sim ordenar o território, concentrando as casas em aldeias, impedindo a proliferação de casas isoladas a não ser quando elas estejam ligadas a uma qualquer atividade agrícola. O que acontece é que, com a maravilhosa ajuda dos automóveis, hoje em dia há muita gente (não apenas o dr Nobre Guedes, e não apenas na Arrábida) que constrói casas de campo isoladas para passar o fim-de-semana. Essa prática é altamente deletéria em diversos termos. O mal fica aumentado quando os proprietários de casas (isoladas ou não, de fim-de-semana ou não) não limpam regularmente os terrenos à sua volta. Muitos não o fazem, aliás, porque acham bonito ter árvores mesmo junto às casas - é o caso do meu sogro, que vive no Alentejo e tem sobreiros, uma árvore altamente combustível, com ramos quase a tocar-lhe as janelas.
Publicado por: Luís Lavoura às maio 24, 2005 12:39 PM
O que eu descrevi no post é verdade. A verdade só tolda a visão dos que não querem acreditar nos factos.
Sempre houve povoação dispersa desde a antiguidade. Aliás os diferentes tipos de povoamento são estudados por referência às características físicas, económicas, etc.
Você não consegue, por decreto, pôr as pessoas a morarem de acordo com a ditadura ambiental do Francisco Ferreira.
Publicado por: Joana às maio 24, 2005 01:13 PM
O que devia ser obrigatória seria a limpeza das matas. O meu pai tem uma propriedade no Ribatejo e, na zona arborizada, manda desmatá-la anualmente.
Há uns 15 anos, estava um velhote a cortar mato nessa zona e a fazer fardos, quando por qualquer negligência, ateou fogo.
Felizmente era fds, nós estávamos lá, a piscina estava a menos de 100 metros do local do sinistro, temos mangueiras, etc., e assim que ouvimos os gritos interviemos. Mesmo assim o velhote esteve 3 semanas no hospital com queimaduras graves e houve uma dezena de pinheiros que o meu pai teve que mandar cortar porque ficaram muito queimados.
Havia relativamente pouco mato (parte já havia sido desmatado) mas a velocidade de propagação do fogo no mato foi espantosa. Só aí me dei conta da tragédia que é um incêndio numa floresta cheia de mato.
Tudo isto não durou mais de 5 minutos. Não se chamou os bombeiros porque os meios que tinhamos foram suficientes.
Publicado por: Joana às maio 24, 2005 01:26 PM
Neste século foram implementados planos para aumentar a área de pinhal, apesar de existir antes antes. O eucalipto também se expandiu recentemente. Há um gráfico que permite visualizar a evolução do pinheiro e eucalipto em
http://www.celpa.pt/?id=5&article=27&visual=17&layout=3#
Encontrei a noção de planta pirófila, que não conhecia, em http://www.cienciaviva.pt/veraocv/biologia/bio2002/pdf/pena.pdf
O facto de o pinheiro não ser pirófilo significa apenas que nada beneficia do fogo, o que não impede que arda muito bem, como comprovam os incêndios em pinhais.
A Joana tem uma tal raiva aos ambientalistas que acaba por, implicitamente, defender a construção ilegal, um exemplo da fragilidade da aplicação da lei em Portugal. Aqui está um caso em que o Homem é mais selvagem que a serra. O proprietário de habitação ilegal deve ser a única espécie selvagem que a Joana quer ver protegida, já que na sua opinião as restantes não servem para nada.
Publicado por: Daniel às maio 24, 2005 01:58 PM
Daniel:
1 - Em nenhum sítio eu defendi a construção ilegal;
2 - Na metade norte do país, onde há mais incêndios, o povoamento é tradicionalmente muito disperso, provavelmente por razões de Geografia Física. É um facto com milénios e não por ilegalidades recentes com o meu conluio;
3 - O caule do pinheiro não arde. As ramadas mais baixas e as agulhas é que se incendeiam devido ao fogo do mato. Foi por ter ficado com as agulhas todas castanhas que o meu pai mandou cortar os pinheiros. Os caules e a maioria dos ramos estavam intactos.
É deprimente a iliteracia das pessoas que não compreendem o que está escrito.
Publicado por: Joana às maio 24, 2005 02:23 PM
Joana às maio 24, 2005 01:13 PM
Não se trata de uma ditadura ambiental. Trata-se da dependência entre o homem e a sociedade. Eu sou livre de ter uma casa isolada, mas então não me posso queixar se os bombeiros se recusarem a ir lá protegê-la, alegando que não têm nada que estar a gastar meios com um gajo que resolveu instalar-se no meio da floresta. O que se passa é que os bombeiros estão a desviar meios, que pertencem à sociedade, para proteger casas isoladas.
É claro que sempre existiram pessoas a viver isoladamente, mas dantes elas viviam em autarcia. Agora, dependem dos bombeiros para lhes apagar os fogos à volta da casa.
Ninguém pretende eliminar as casas isoladas, quando tal se deve a motivos agrícolas. Muito diferente é o caso das casas isoladas de férias ou fim-de-semana.
Como a Joana muito bem diz, o seu pai limpa anualmente o terreno à volta da sua casa no Ribatejo. Nenhuma autoridade estatal o impede de o fazer - muito pelo contrário, é obrigatório por lei fazê-lo. É portanto ridículo alegar que, em geral, o Estado impede os proprietários de limpar os seus terrenos. Isso pode acontecer em áreas protegidas, mas não acontece em geral.
Infelizmente, eu conheço pessoas que, tal como o seu pai, têm casas na província - mas que não limpam o terreno à volta. Dá muito trabalho.
Publicado por: Luís Lavoura às maio 24, 2005 02:25 PM
Luís Lavoura:
"hoje em dia há muita gente (não apenas o dr Nobre Guedes, e não apenas na Arrábida) que constrói casas de campo isoladas para passar o fim-de-semana." (dr Nobre Guedes -> habitação ilegal)
Joana:
"Você não consegue, por decreto, pôr as pessoas a morarem de acordo com a ditadura ambiental do Francisco Ferreira."
Eu, na minha iliteracia, concluí que a sua frase é bastante permissiva em relação à construção ilegal, daí que considerei que nela existia uma tolerância implícita. Essa conclusão foi também influenciada por comentários seus sobre questões ambientais (lince ibérico ou aves migratórias), sempre desfavoráveis aos "mitos estúpidos e criminosos dos ambientalistas".
Quanto ao tronco dos pinheiros, em cinco minutos tronco de espécie alguma arde. O problema dos pinheiros é que produzem muito mais material que serve de combustível, mais do que a generalidade das espécies, e alimenta o incêndio. Normalmente o tronco não arde completamente, mas deixa de ser comercializável e ficamos com uma árvore morta e sem utilidade.
Publicado por: Daniel às maio 24, 2005 03:55 PM