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junho 18, 2004
Ainda a Questão das Bandeiras
É bom haver este entusiasmo pela exibição dos símbolos nacionais. É pena que ele esteja directamente relacionado com o epifenómeno futebolístico.
É bom que amemos a nossa pátria. É péssimo que nos envergonhemos de mostrar esse amor e que apenas quando surgem ocasiões ou actos, em que os segmentos sociais mais entusiasmados na sua adesão são os que representam 90% da população e 0% dos agentes culturais, é que desponta esse apego aos símbolos nacionais. Um apego popular, da ralé, imediatamente catalogado de bacoco, incipiente e barato pela intelectualidade bem pensante.
Quantos de nós, dos que lêem estas linhas, não sentiriam vergonha em ostentarem os símbolos nacionais fora dos estádios desportivos? Este sentimento está de tal forma arreigado entre a intelectualidade que a leva a considerar que tal corresponde à tradição.
Ora isso é completamente falso. Por exemplo, em casa dos meus avós era normal hastearem a bandeira nacional nas ocasiões festivas, como o 5 de Outubro, o 1º de Dezembro, etc.. Na sala de visitas havia, e ainda há, o busto representativo da república, com o barrete frígio. Os meus avós eram republicanos convictos. Agora são apenas idosos desiludidos, intrigados com alguns aspectos da sociedade actual. Já não hasteiam a bandeira à janela, há uns 40 anos, porque as pessoas deixaram de o fazer.
Mas se eles engalanavam as janelas era porque tal constituía a regra e não a excepção. E se constituía a regra é porque era a tradição, contrariamente aos que pensam que a tradição começou com os comportamentos que nos têm tentado impor nas últimas décadas.
Não é preciso ir mais longe. Basta estudar a história da 1ª República para nos apercebermos da importância dos símbolos nacionais e da sua ostentação. Quer durante as duas décadas que precederam a sua implantação, quer durante a sua perturbada existência, quer ainda após a sua queda, no período da ditadura, em que o apego à democracia se exprimia pela exibição dos símbolos da república, que a ditadura nunca teve coragem de modificar.
A ditadura teve, nessa situação, o discernimento que escasseia nos nossos intelectuais: se não os podes vencer, alia-te a eles. E pouco a pouco, anexou esses símbolos para si própria. Mas mesmo com essa anexação, a exibição excessiva desses símbolos era indício claro de oposição ao regime a que a polícia política estava sempre atenta.
O paradoxal foi que à medida que o regime ficou desacreditado as mentes mais tacanhas anexaram os símbolos nacionais ao descrédito do regime. Ou seja, a ditadura conseguiu, por via indirecta, no estertor da sua morte, aquilo que não havia conseguido no auge do seu poder: desacreditar a exibição dos símbolos nacionais. Os nossos fazedores de opinião que, eles sim, são «baratos, imediatistas e pouco consistentes» encarregaram-se dessa tarefa patriótica e libertadora, ajudados pela degradação do regime.
Foram esses intelectuais «baratos, imediatistas e pouco consistentes», objectivamente aliados ao salazarismo nesta matéria, que têm desacreditado a exibição dos símbolos nacionais: bandeira, hino, etc.. E a sua inconsistência e hipocrisia são tais que consideram que as tradições são os comportamentos que correspondem aos seus desejos e convicções.
Esperemos que continue a acontecer o que tenho verificado na última década: uma progressiva recuperação do apego aos nossos símbolos nacionais.
Que isto não se esgote no epifenómeno futebolístico.
Publicado por Joana às junho 18, 2004 09:01 PM
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Lista dos links para blogues que mencionam Ainda a Questão das Bandeiras:
» Mostrar a bandeira: bacoco ou orgulho? from Dito.Cujo
Acabei de ler um artigo interessante no Semiramis sobre a bandeira nacional basicamente com a opinião que a bandeira é um motivo de orgulho e, espera-se, venha a ser mantida após o fim do Euro. Eis a minha resposta: Sou dos que acham hastear a bandeira... [Ler...]
Recebido em junho 20, 2004 03:58 AM
Comentários
Além de estar bastante de acordo com este texto que a Joana escreveu, (e outros) gostaria que me dissesse qual a sua motivação para escrever tanto sobre tantos assuntos diferentes? (Esta minha pergunta só serve para satisfazer a minha curiosidade)
Mas já agora, tomo a liberdade de colocar um texto meu... (porquê? Não sei porventura pela mesma razão que a Joana...) não está ao nível dos seus... mas.
APAGA O CIGARRO, A SERIO, O FUMO INCOMODA-ME, MATA-ME, MATA-TE, MATA-NOS...
TODOS OS 6 SEGUNDOS MORRE UMA PESSOA VITMA DO CIGARRO
20% NÃO FUMAVAM MAS ESTAVAM EM CONTACTO COM FUMADORES...
mas, eu sei, pouco importa avisos, estatísticas, conselhos, o que
interessa é que haja futebol na televisão, o que interessa é que haja telenovelas, o que interessa é que tenhas mais um cigarro à mão
porque a coragem não aparece no dicionário português:
- não vi ninguém, nenhum português de Lisboa ou do Porto de Coimbra ou Faro, Bragança ou Santarém, manifestar-se, exprimir a sua mágoa profunda de viver em terra lusa, quando temos homens políticos, celebridades da tv ou notáveis que não assumem os erros que fizeram. ninguém reage? Corrupção política, casa pia, pedófilos à porta de casa desde há mais de trinta anos e só agora é que se descobre algumas verdades que, por falta de cuidado, não foram apagadas como as outras.
Fogos! É normal o país arder em Setembro quando, no mínimo, poder-se-ia ter tirado algumas lições do mês anterior: Agosto. O governo quer mais ajudas europeias? Onde estás Durão? Nem pergunto : onde estás Sampaio
com certeza, no tempo oportuno, como sempre, saberás aproveitar as tragedias do nosso pequeno país
Educação escolar onde estás? Estudantes? Doutores? Engenheiros? Desliguem a televisão. Uma presidente de Câmara
que foge para o Brasil provando desta forma que houve fugas ao mais alto nível
é normal? Ter-mos estradas destas com condutores, a maior parte que compraram a carta, a matar-nos
é normal? Não vou falar dos hospitais, temo já estar numa lista de espera
só pode
Tu, português, quando vais para o shopping, com a tua amada toda
enfeitada como uma arvore de natal, não vês, no trajecto entre tua casa e a catedral dos preços altos, que, debaixo do cartão que deitaste ao lixo o ano passado está um ser, como eu e, garanto-te, como tu: Também gosta de comer bem, beber bem, ver o jogo e antes de dormir na cama paga à crédito, na casa paga à crédito, ir foder a mulher casada à crédito. O único problema é que, ele, se calhar apagaria o fogo que ameaça o teu lar. Tu? Não!.
Maior analfabetismo da Europa, maior percentagem de mortos nas estradas
os meus dedos até se paralisam de vergonha de escrever mais uma verdade, com certeza refutada por muitos que lêem este texto neste momento, como aquelas poucas que já enumerei anteriormente,
mas há mais:
Fuga ao fisco, touros de morte, tribunais com um pé no travão para os pobres e outro no acelerador para os ricos, pontes que caem, onde estás ministro, não te ouvi há tanto tempo
ainda estas de férias, mas, não está sua Excelência obrigada a agir do mesmo modo que seus predecessores
ministro não é sinonimo de turista
prometo
países pequenos, países sem recursos, conseguem estar a frente de Portugal
à sério
não é só no futebol
pois é
mesmo na única modalidade onde são investidos os nossos euros para o desenvolvimento do desporto, o futebol português é demer
(comme on dit chez nous) quantas taças europeias? Quantos campeonatos do mundo ?
Figo, Rui Costa
eu sei e outros
eu sei
são como os 3 ou 4 por cento de lusos que se aproveitam deste clima inseguro
Quantas medalhas estes 15 últimos anos nos jogos olímpicos? Mundiais de atletismo? E Estoril, quando é que vai estar aberto à Carrinhos de F1? Produção artística, onde estás? A não ser almas perdidas
Televisão: 4 canais, 3 canais brilham pela falta de conteúdo inteligente
gostas da RTP1, SIC e TVI? Tudo bem
eu sei
mas por favor pensa, depois de ver um canal destes, (a não ser raríssimos programas às 2h50 da manhã), quando é que tens oportunidade de dizer : aprendi uma coisa hoje!
Para os homens: futebol, telejornal. Para as mulheres telenovelas, telejornal. Isto é bom para que esqueças e para que não entendas aquilo que escrevi, para que o povo deixe engordar os ricos e emagrecer os pobres.
Apaga o teu cigarro. O fumo incomoda-me. À sério. Tens um lindo
telemóvel, tens lindos sapatos, o teu casaco é da Beneton? Isto é que é importante
mais de 90 por cento têm telele
até dá jeito poder ligar-te, de vez em quando, para saber se estás bem. Se queres beber um copo
e são 3 da manhã
Ps. Enquanto leste este desabafo de verdades (se é que o leste até ao fim) morreram 30 pessoas de cancro do pulmão e 10 crianças morreram de fome é verdade. Dói-me.
Publicado por: ch'ti às junho 18, 2004 11:09 PM
De facto, hoje, mais do que nunca, existe uma certa vergonha em demonstrar algum sentimento pelos símbolos nacionais.
Tal situação tem a sua origem em muitos factores, entre os quais, porventura o mais importante de todos, seja o que diz respeito à importância que o Sistema Educativo confere a esses símbolos, em particular, e à nossa História colectiva, em geral.
Quantos jovens portugueses, dos tempos que correm, sentem orgulho pela nossa História? Como poderão eles orgulhar-se daquilo que lhes é apresentado de forma tão insípida, relativa, distanciada, aborrecida?
Um pequeno exemplo apenas: O Canal A Dois acabou de transmitir (repetir) um velho documentário de Diana Andringa: "Aristides de Sousa Mendes - O Cônsul Injustiçado".
Aqui está um português cujos feitos, se devidamente divulgados e ensinados aos nossos jovens, poderiam levá-los a sentir-se orgulhosos da sua nacionalidade. ASM é apenas um pequeno exemplo de alguém que foi cap+az de ir mais longe do que lhe seria humanamente exigido. O seu exemplo é razão para qualquer pessoa se sentir orgulhosa de ter a nacionalidade portuguesa. É um exemplo entre muitos. Mas que importância é dada a estes exemplos, no ensino da nossa História colectiva?
Como se pode amar aquilo que se desconhece?
Publicado por: Paulo Pedroso às junho 19, 2004 12:04 AM
Excelente, este e o anterior.
E é verdade, que ainda me lembro das bandeiras às janelas
Publicado por: Tony às junho 19, 2004 12:19 AM
ch'ti em junho 18, 2004 11:09 PM
Disponha sempre. E obrigada pelo seu texto.
Este blog começou por ser um sítio onde coloquei algumas intervenções que tinha tido no on-line, as que considerei mais prtinentes. Depois fui continuando.
Depois tornou-se quase que uma obrigação, em face de alguma clientela, uns a favor, outros contra, que apareceu por aqui, a ler e (pouccos) a comentar.
Se quiser ler os textos mais antigos, é ir à rubrica ANTOLOGIA-TEXTOS, na coluna da direita e ir clicando nos diferentes títulos dos artigos.
E obrigada pela sua intervenção
Publicado por: Joana às junho 19, 2004 10:28 AM
Paulo Pedroso em junho 19, 2004 12:04 AM :
Tem razão no que afirma, mas a vergonha é maior entre os mais velhos, a partir dos 35 a 40 anos, que entre os mais novos. Julgo que essa vergonha é maior nas gerações que viveram o fim do antigo regime e a primeira década deste, onde a censura sobre os símbolos nacionais foi mais forte.
Quanto ao ensino da história é uma catástrofe. Mas não é só em Portugal.
Publicado por: Joana às junho 19, 2004 10:33 AM
Parabéns. Este seu blog é um dos blogs com mais nível da blogosfera portuguesa.
E o que é mais de elogiar, é ele ser individual, pois todos os blogs com impacto na blogosfera são colectivos, o que facilita a regularidade de escrita e as audiências.
Publicado por: Casimiro às junho 19, 2004 10:44 AM
Cara Joana,
Não diga a ninguém, mas o douto, proeminente, excelso, digníssimo, sociólogo Carlos Fortuna, tem uma fábrica de fazer bandeiras, que pelos vistos, não é concorrencial.
Esse é o problema do ex-presidente de "todos" os sociólogos.
Publicado por: Oterses Ofircopa às junho 19, 2004 04:29 PM
Não tive muito tempo para ler os textos mas o que vi agradou-me bastante. Em todo o caso pergunto-me, se há tantos portugueses a querer fazer algo por que não fazemos?
Convido-vos a conhecer e comentar o Blog Http://Tasquinha.blogspot.com, que faz parte da mesma luta por este país.
Publicado por: Braveman às junho 19, 2004 05:07 PM
ok obrigado e bom fim de semana.
Publicado por: Ch'ti às junho 19, 2004 07:43 PM
Oterses Ofircopa em junho 19, 2004 04:29 PM :
Isso é verdade?
Publicado por: Bsotto às junho 20, 2004 01:58 AM
Sou dos que acham hastear a bandeira bacoco, ridículo. Não me considero influenciado por realidades histórias, mas vejo o exemplo de alguns países onde tal é associado a movimentos fascistas, xenófobos, racistas.
Vejo o hastear da bandeira como um apagamento das coisas menos positivas que se pretendem esquecer sobre uma nação.
Vejo ainda a bandeira como um sinal de afirmação perante o "estrangeiro", esse grande desconhecido de todos nós. É uma forma estúpida e baixa de dizer "Eu não sei - nem quero saber - quem tu és, de onde vens, para onde vais. Eu sou português e isso basta-me." Isto é do pior xenofobismo que pode existir.
Apenas admito a utilização de bandeiras em edifícios públicos e aí não vejo nada de errado.
Agora com o Euro já vimos a nossa bandeira a ser utilizada como adereço comercial (ex: Continente) e não tarda nada vamos adorá-la como os americanos adoram a sua, colocando-a no autocolante do parachoques, em material escolar, etc.
Finalmente, não tarda nada, alguém há-de afirmar com a maior candura que quem não tem bandeira não é português. É o que acontece nos estados do interior dos EUA: quem tiver uma grande casa e não tiver a union flag hasteada pelo menos ao Domingo é logo um comunista a abater. E se isso acontecer em Portugal reservo-me desde já o direito de dar um murro nos cornos a quem mo disser.
Publicado por: Dito Cujo às junho 20, 2004 03:58 AM
É. Todos os dias aparecem listas nos jornais de americanos abatidos por não hastearem a bandeira.
Ainda ontem foi um decapitado.
Por falar em cornos, não será esse um bom sítio para hastaer a bandeira?
Publicado por: Adalberto às junho 20, 2004 11:26 AM
Onde é que teriam inventado este bacoco rufia que vai aos cornos a quem gosta do nosso país?
Publicado por: Adalberto às junho 20, 2004 11:27 AM
Em muitas bandeiras, em vez dos castelos estão fogareiros, ehehehe!!
Publicado por: Senhor dos Aneis às junho 20, 2004 01:10 PM
Também é verdade que como o nosso sistema de ensino não liga nenhuma nem à bandeira nem ao hino, é natural que o pessoal não perceba a diferença
Publicado por: Senhor dos Aneis às junho 20, 2004 01:11 PM
o povo tem destas coisas.
une-se em torno do futebol e iça a bandeira mas ignora os apelos nacionalistas , esse sim um pouco borolentos, de Paulo Portas.
uma conclusão que se pode tirar é que a nação futebolistica acha que a bandeira é o símbolo da Federação de Futebol !
daí as incompreenssões dos sociólogos acerca do que representa o fenómeno futebol.
a mesma incompreenssão parecem ter os dirigentes da maioria governamental que, mesmo cavalgando a festa do Euro2004, acabam por sair um pouco molhados com os resultados eleitorais.
Publicado por: zippiz às junho 20, 2004 04:40 PM
Viva Portugal! As bandeiras vão continuar!
Publicado por: Bsotto às junho 20, 2004 10:09 PM
Viva Portugal! As bandeiras vão continuar!
Publicado por: Bsotto às junho 20, 2004 10:09 PM
Viva Portugal! As bandeiras vão continuar!
Publicado por: Bsotto às junho 20, 2004 10:09 PM
Viva Portugal! As bandeiras vão continuar!
Publicado por: Bsotto às junho 20, 2004 10:09 PM
Ganda Vitória!
Publicado por: riuse às junho 20, 2004 10:39 PM
Não é nada bom! E o seu post mostra muito bem como é que a bandeira é republicana, mais do que portuguesa! E eu não sou monárquico! Sou português como sou beirão, ibérico, europeu, lusófono, etc e se fosse a pôr uma bandeira por tudo aquilo que eu sou, não tinha varandas que chegassem. O nacionalismo republicano pretendeu limitar a nossa identidade ao culto cívico da pátria. A pós-modernidade mostra que temos várias identidades, sobrepostas, afins, alternativas, complementares, etc. E não há bandeira nacional que exprima essa multiplicidade! Que se lixe o trapo republicano. Eu gosto é de futebol e garanto que não sou menos português do que os que se pintam de verde e vermelho, sou é, para além de português, muitas outras coisas.
Publicado por: santillana às junho 21, 2004 02:22 PM
Sim, é bom que amemos a nossa pátria.
E seria igualmente bom que a pátria amase os seus filhos e não fosse mãe apenas para alguns e madrasta para todos os outros.
Publicado por: Senaqueribe às junho 21, 2004 02:27 PM
Não se esqueçam que a bandeira não é a Pátria.
É apenas um mero símbolo que pode ser (e tem sido) modificado ao longo do tempo consoante as conveniências políticas.
Amar a bandeira não é o mesmo que amar a Pátria. Longe disso! Muito longe disso!!!
Publicado por: Senaqueribe às junho 21, 2004 02:34 PM
Por sistema, desconfio de todas as atitudes radicais. A evolução nasce da síntese dos contrários e não da deriva descontrolada.
Por sistema, defendo a liberdade de cada um dizer ou fazer o que bem entender, desde que o faça sem colidir com a liberdade dos outros.
Por sistema, não faço juizos dogmáticos sobre as atitudes e pensamentos dos outros.
Vejo com algum humor a veemência dos cristãos novos das bandeirinhas. A verdade é que a maior parte dos que navegam na crista desta onda patriótico-têxtil andavam, há um mês, a engolir pirolitos na maré baixa da crónica crise existencial lusa.
Chamar patriotismo ao delírio que atravessa o país é um bocadinho... como dizer... despropositado (vejam como não escrevi ridículo). Para mim, os jogos do Euro são jogos de futebol. Apenas isso. A Pátria não só não está em perigo, como nem sequer está em causa. É evidente que me dá alguma satisfação ver a selecção ganhar. A mesma satisfação que retiro do êxito do António Damásio nos EUA, do sucesso de qualquer empresa ou de qualquer trabalhador português em qualquer parte do mundo. A satisfação que qualquer pessoa sente com o bom desempenho de um irmão ou de um grande amigo.
É um sentimento que vem da identificação com o outro. Do desejo que aconteçam coisas boas âqueles de quem nos sentimos próximos. Mesmo quando se atira à cara de um estrangeiro «Vejam como eles são bons» ou «Vejam como NÓS somos bons», do que se trata é de reclamar o respeito que nos é devido como indivíduos, como seres humanos. Niguém discute os resultados do futebol com o sentimento de patriota ofendido em defesa da soberania.
A bandeira é muito mais do que aquilo a que a querem reduzir. É um símbolo e um sinal, certamente. E não me choca que as leis do mercado a tenham instrumentalizado para atingirem os objectivos que querem atingir. No fim de contas, a mesma sorte já teve o crucifixo.
Não tenho que achar bem nem mal que as pessoas pendurem bandeiras um pouco por todo o lado. Cada um deve fazer o que pensa estar certo.
Mas não me venham com historietas de patriotismo. Não são os que se vestem de negro dos pés à cabeça quem, necessariamente, mais sente o luto. O luto não está nas vestes negras, nos lenços, nos fumos ou nas gravatas. O luto está dentro de nós. No nosso coração.
É aí, também, que está o patriotismo.
Ao longo da vida já vi muitos patriotas darem tudo pela pátria. Até a vida. E a única vez que a bandeira os cobriu foi quando estavam dentro do caixão. Pobre de quem tem que afirmar o seu patriotismo agitando uma bandeira. Mais pobre, ainda, se o faz por causa de uma bola.
Os imperadores romanos acalmavam o povo dando-lhe pão e circo. Para nossa desgraça, neste país onde falta o pão, o circo é suficiente para distrair e desviar as atenções do essencial.
Publicado por: (M)arca Amarela às junho 23, 2004 10:32 PM
Quase que me esquecia...
Joana, vai uma aposta em que tudo se vai esgotar no «epifenómeno»?
(Confesso que tenho curiosidade em saber qual é o fenómeno...)
Publicado por: (M)arca Amarela às junho 23, 2004 10:38 PM
Manif às 7 contra o SL em Belém!
Publicado por: Cisco Kid às junho 27, 2004 05:19 PM
Manif às 7 contra o SL em Belém!
Publicado por: Cisco Kid às junho 27, 2004 05:19 PM
Manif às 7 contra o SL em Belém!
Publicado por: Cisco Kid às junho 27, 2004 05:19 PM
Manif às 7 contra o SL em Belém!
Publicado por: Cisco Kid às junho 27, 2004 05:19 PM
Manif às 7 contra o SL em Belém!
Publicado por: Cisco Kid às junho 27, 2004 05:19 PM