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março 08, 2004
A Revolta da Incubadora
Ana Drago deu hoje a conhecer ao mundo um facto revoltante e indecoroso: O Estado português tutela o útero da Ana Drago, e reduziu-a a uma mera incubadora.
Esta acção nociva e desmoralizante do Estado português, para além de contrariar o protocolo integrado na convenção sobre biomedicina do Conselho da Europa, o parecer do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, contraria radicalmente a promessa eleitoral do governo de «menos Estado e melhor Estado».
Acaso o Estado melhora o seu desempenho tutelando o útero da Ana Drago? Porque é que o Estado se distrai das suas tarefas fundamentais e decidiu tutelar o útero da Ana Drago? Ou será o útero da Ana Drago parte do core business do Estado?
Uma possível resposta a estas inquietações, a esta acção aparentemente insensata do Estado português, inscrever-se-ia numa tentativa desajeitada e desesperada de aumentar a taxa de natalidade e contrariar o nosso declínio demográfico e o previsional colapso do sistema de segurança social daqui a poucas décadas.
Mas porquê escolher uma socióloga debilitada por noitadas políticas, ambientes fechados e doentios e lengalengas do Miguel Portas? Porque não uma beirã, enrijada pelos ares puros da serra e cuja única lengalenga que escuta são os sadios balidos do ovelhame? Uma beirã descendente em linha recta dos heróis dos Montes Hermínios?
Aqui, tenho que reconhecer o maquiavelismo e as intenções manhosas e sinuosas do Ministro Bagão Félix, eventualmente o responsável pelo Estado português ter tomado posse administrativa do útero da socióloga Ana Drago, e a ter reduzido a uma incubadora. Educados por uma mãe assim, toda a geração produzida por aquele útero sob tutela estatal teria, após uma infância desvalida e uma adolescência problemática, uma imensa revolta contra a mãe e contra tudo o que ela representasse, e seria presa fácil da extrema-direita. Assim como os educados em colégios religiosos têm uma incontrolável tendência para se tornarem anti-clericais, os produtos da incubadora Ana Drago seriam seguramente de extrema-direita.
Portanto, o governo português pretenderia, com esta estatização contra a corrente neoliberal, ganhar em todos os tabuleiros: aumentar a natalidade e criar uma numerosa geração de direita, importante para as próximas pugnas eleitorais.
Todavia, e ao que parece, mais uma vez o governo se mostrou inábil. Como já diversos ministros afirmaram ou deixaram deduzir, o governo não atina com os instrumentos necessários para uma retoma económica. E também neste caso falhou. Julgo que os portugueses têm o direito a uma resposta a estas perguntas:
- O que é que a incubadora Ana Drago produziu, desde que o seu útero é tutelado pelo Estado? Qual a sua eficiência? Como tem sido avaliado o seu desempenho? Que ministro há-de a oposição exigir a demissão em caso de falência desta estatização contra natura? Ou será, como veio noticiado noutro matutino, que este activo tutelado figura entre o património cuja existência o Estado ignora? Neste caso seria de louvar o gesto de Ana Drago ao declarar esta tutela estatal sobre o seu útero, no mesmo dia em que se reconhece o caos em que a inventariação do património do Estado se encontra.
O país espera urgentemente uma resposta a estas perguntas. O governo prometeu «menos Estado e melhor Estado» e se a incubadora Ana Drago não tem o desempenho esperado, deve enveredar-se por um processo de privatização. O útero da Ana Drago terá que ser privatizado e o Ministério das Finanças deverá começar a tratar do assunto imediatamente, reunir-se com a CMVM, e elaborar o processo de concurso e o caderno de encargos respectivos para a oferta pública de venda.
Se a hasta pública ficar vazia, há que recomeçar, baixando o preço até a procura intersectar a oferta. Espera-se que essa intersecção não fique na zona dos preços negativos, isto é, na zona em que o Estado terá que pagar para alguém ficar com aquele activo. A avaliar pelo artigo do Público e pelo absoluto caos mental em que se debate a autora, há preocupantes e fundadas suspeitas que tal venha a acontecer.
Mas aí terás, Ana, a minha solidariedade. Estarei presente nessa OPV e não deixarei que o preço de um activo tão precioso se avilte. Assim como assim, um útero sobresselente faz sempre jeito.
Publicado por Joana às março 8, 2004 07:50 PM
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Comentários
Nada de novo ...à direita !
Já fazem parte do acervo do CDS profundo estas tiradas , que é suposto serem melhor acolhidas do que os artigos de Ana Drago...
«Para o CDS-PP, que na discussão de ontem se fez representar pelo deputado Miguel Paiva, a importância do clitóris é, conforme o próprio disse ao PÚBLICO, "algo subjectiva". O deputado reconhece que tem uma função essencial no prazer sexual mas "para além disso a sua mutilação não afecta nenhuma função vital", nomeadamente, como sublinha, "a função reprodutiva".»
Público de 5 de Março
Publicado por: zippiz às março 8, 2004 09:04 PM
Tem piada, eu julgava que foram os outros partidos, com a esquerda à frente, é que tinham achado que a questão da mutilação genital era uma tradição entre os imigrantes e que o assunto deveria ser estudado melhor antes de ser votado na AR.
Devo ter lido mal
Publicado por: Mocho às março 8, 2004 09:26 PM
Joana: esse artigo da Ana Drago é mesmo um nojo.
Publicado por: Mocho às março 8, 2004 09:27 PM
Que grande confusão vai naquela cabecinha!
Publicado por: Pedro às março 8, 2004 10:04 PM
Nem o alargamento nos safa da solidão
A Polónia está a tratar de legalizar o aborto. Foi noticiado em todo o Mundo. O voto do nosso Parlamento em sentido contrário também. Da próxima vez que me perguntarem de onde venho, digo só as duas primeiras letras. Talvez os engane.
[danieloliveira] 09:17 PM in bernabé
Publicado por: zippiz às março 8, 2004 10:47 PM
A Polónia também? Estamos no mato. Agora é que ficamos na cauda da Europa.
Publicado por: Nereu às março 8, 2004 11:37 PM
Sim , a Polónia do Papa !
Mas Joana estará mais interessada em campanhas tipo "SOS Vida" , com aqueles folhetes "lindos" distribuidos nas escolas!
Publicado por: zippiz às março 9, 2004 12:10 AM
Esta Joana continua na mesma, sempre a bater no BE
Publicado por: Cisco Kid às março 9, 2004 01:02 AM
Esta Joana continua na mesma, sempre a bater no BE
Publicado por: Cisco Kid às março 9, 2004 01:02 AM
O artigo da Ana Drago é de uma ganda falta de nível. A gaja perdeu a cabeça
Publicado por: Rave às março 9, 2004 01:04 AM
A Ana Drago tem muita sorte...
Olha se o Estado se lembrasse de lhe tutelar a vagina...
Publicado por: Mandrake às março 9, 2004 12:47 PM
Mandrake : desde que essa tutela levasse a um melhor produtividade que como incubadora
Publicado por: Sa Chico às março 9, 2004 01:24 PM
Esta conversa está a ir por maus caminhos, embora reconheça que o artigo da Ana Drago deixa muito a desejar
Publicado por: VSousa às março 9, 2004 01:48 PM
Esta conversa está a ir por maus caminhos, embora reconheça que o artigo da Ana Drago deixa muito a desejar
Publicado por: VSousa às março 9, 2004 01:48 PM
O Estado tutela o útero à pequena?
Olhó malandro!
Mais a sério:
O problema é que a lei da interrupção voluntária da gravidez não se cumpre!...
Um abraço,
francisco nunes
Publicado por: Planície Heróica às março 9, 2004 05:58 PM
se o Estado português tutela o útero da Ana Drago, levanta-se nova questão: a quem departamento estatal competirá a sua fecundação? ;)
Publicado por: Alexandre Monteiro às março 9, 2004 06:46 PM
Será o Departamento de Geologia e Minas?
Publicado por: Rave às março 9, 2004 10:53 PM
Esta gaja ( a Joana) é de morte. Desmoraliza qualquer um(a)
Publicado por: Bsotto às março 9, 2004 10:56 PM
E biba o Puerto!!
Publicado por: Bsotto às março 9, 2004 10:57 PM
São tiradas como a da Ana Drago que fazem com que depois a malta não aprove o referendo.
Se se portar assim na campanha vai perder outravez
Publicado por: Hector às março 10, 2004 11:16 PM
Concordo inteiramente com o Hector e achei muita piada ao texto da Joana.
Este tipo de argumentos sao de gente que esta de tal forma convencida da sua verdade que nem percebe que no funda da argumentos aos outros.
Publicado por: Filipa Zeitzler às março 11, 2004 09:38 PM
O Ridículo Causa Danos
Por MIGUEL SOUSA TAVARES
Sexta-feira, 12 de Março de 2004
1 - Aqui há uns anos, na televisão, havia um programa de conversas em que o jornalista Luís Osório entretinha um debate com o dr. Daniel Sampaio e uma figura retorcida, que se sentava sobre as pernas, fazia uns vagos gestos com as mãos e, volta e meia, soltava umas frases desgarradas, tipo-pós-modernas, restaurante dos Tibetanos ou Frágil. Entre os meus amigos, baptizámo-la de "A Vírgula", devido aos seus contorcionismos, e divertiamo-nos a imitá-la no dito programa. Mas, ao consultar a lista de deputados saídos das últimas legislativas, constatei com espanto que "A Vírgula" havia sido eleita suplente na lista do Bloco de Esquerda e, como tal, estava destinada - devido ao rotativismo igualitarista do Bloco - a aparecer ocasionalmente como deputada da nação, isto é, minha deputada. Cheguei a vê-la, aliás, numa intervenção parlamentar, onde já não apareceu sentada sobre as pernas e a pose era claramente de alguém que tinha passado a levar-se francamente a sério - embora com piores resultados.
Publicado por: Joana (transcrição) às março 12, 2004 08:06 PM
O Ridículo Causa Danos (continuação)
Esta semana, nestas libérrimas páginas do PÚBLICO, "A Vírgula" - de sua graça, Ana Drago - apareceu-me a dissertar sobre o aborto, ao melhor estilo do "direito à minha barriga". Entre o panfletário e o patético, desabafava ela que "o Dia Internacional da Mulher é mais um dia em que procuro novos caminhos para saber o que faço da minha revolta com a sistemática condenação do direito ao meu corpo".
Eu - votante, discreto militante e fervoroso crente da despenalização do aborto e do direito ao aborto em hospitais públicos, com a assistência médica e os meios do Estado - confesso, todavia, que vomito este discurso. Na questão do aborto, o que menos me preocupa é o direito da deputada Ana Drago ao seu corpo: que faça com ele o que quiser. O que me preocupa, única e exclusivamente, é o direito de uma criança que vai nascer a ter um pai e uma mãe, condições de vida minimamente aceitáveis e alguém que se preocupe com ela, que a ame, que lhe ensine o milagre de estar vivo e a responsabilidade de sobreviver. Começa, porque o aborto não é um direito: é uma tragédia, uma tragédia que se assume, em desespero ou em consciência, quando o que se apresenta como alternativa é uma tragédia ainda maior. Segue-se que, se fosse direito de alguém, não se percebe por que haveria de ser apenas da mãe e não também do pai - e se o pai, contra a vontade da mãe, quiser ter o filho e se comprometer a criá-lo e educá-lo sozinho? Ah, pois, o útero, a barriga, o corpo: o corpo é da mulher, é ela que manda nele. E quem é que manda verdadeiramente no corpo da mulher? Serão os seus progenitores que a criaram, em vez de terem decidido abortar dela? Será ela própria, os produtos de beleza, os cirurgiões plásticos? Não, quem manda é a natureza. É a natureza que decide se uma mulher é fértil ou infértil, se adoece ou se tem saúde, se engravida ou se aborta espontaneamente.
Publicado por: Joana (transcrição) às março 12, 2004 08:07 PM
O Ridículo Causa Danos (fim)
Por isso, eu vejo a questão do aborto, não como um problema ideológico ou religioso, mas como parte do equilíbrio profundamente instável das regras desse imenso jogo que é a vida - a vida, segunda as únicas verdades invencíveis, que são as da natureza. Na natureza, quando uma fêmea mata à nascença as crias mais fracas, não o faz porque as não queira ou não ame, mas apenas porque não tem condições para criar todos os filhos e opta por defender os que podem sobreviver. Na natureza humana, as condições são mais amplas, mais dolorosas e mais traumatizantes que a simples capacidade de sobrevivência física dos filhos. Entram em jogo outras e mais angustiantes coisas, como as condições psicológicas, financeiras, conjugais, amorosas. A decisão é de cada um, conforme a sua vida, a sua força, a sua convicção íntima. E se defendo a liberalização do aborto é porque entendo que o que é íntimo é impartilhável e escapa a Deus e a César. Não é, seguramente, porque a Igreja Católica e alguns fanáticos que julgam saber em exclusivo o que é a família são contra, que eu sou a favor. Mas também não sou a favor, certamente, por causa do direito à barriga da deputada Ana Drago.
Publicado por: Joana (transcrição) às março 12, 2004 08:12 PM
O artigo continua com um comentário à questão das afirmações de Luís Vilas Boas e das contestações dos politicamente correctos com o qual estou completamente de acordo e continua com uma boutade ao PR que achei deliciosa.
Vale a pena ler, nomeadamente aqueles que contestaram coisas que escrevi.
Publicado por: Joana às março 12, 2004 08:14 PM
Li esse artigo do MST. É de morte. Com que então a Ana Drago é uma vírgula!
Publicado por: Rui Pereira às março 12, 2004 09:04 PM
E se o BE (ou a Ana Drago) votarem contra a privatização do útero da Ana Drago.
Se eles são contra as privatizações e se triunfarem, lá ficará a Ana Drago, a vírgula, com o útero tutelado definitivamente pelo Estado
Publicado por: Valente às março 13, 2004 07:11 PM
É um caso de justiça imanente
Publicado por: Valente às março 13, 2004 07:11 PM
Wonderful work. I enjoyed read your site a lot.
Publicado por: Evan Anderson às julho 15, 2004 05:58 PM
Excelente
Publicado por: L Tavares às janeiro 18, 2005 02:35 PM
Eu amo a Ana Drago. Se olharmos para as mulheres na politica...Odete Santos..Leonor Beleza,etc. a Ana Drago é uma lufada de ar fresco. Quero la saber do que ela pensa. Quero ve-la vestida de coelhinha da Playboy, com aquele sorriso lindo. Viva a Ana Drago.
Publicado por: Luis Crespo às janeiro 27, 2005 10:47 AM
E será que a Ana Drago quer isso? Mulher objecto? Brrrrrr!
Talvez queira, mas na intimidade, como perversão sexual
Publicado por: David às janeiro 27, 2005 10:54 AM
AUTHOR: onker
EMAIL: john@come.to
IP: 218.16.100.66
URL:
DATE: 02/27/2005 09:27:50 AM
Publicado por: onker às fevereiro 27, 2005 09:27 AM