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fevereiro 10, 2004

O Nosso Homem em Bruxelas

António Vitorino é, sem margem para dúvidas, um homem brilhante, competente e tem tido um óptimo desempenho no cargo de comissário europeu.

Surge agora a hipótese de António Vitorino poder ser o sucessor de Romano Prodi na Presidência da Comissão Europeia. É uma hipótese ténue, porquanto estará dependente da vontade dos principais países da UE e terá contra ela a oposição do bloco de direita, porventura maioritário no Parlamento Europeu quando for a votação para a sucessão de Prodi. Mas é uma hipótese que o governo português deve explorar com empenho e firmeza.

Quando foi a escolha do novo secretário-geral da NATO, aventou-se o nome de Vitorino. Todavia era uma hipótese claramente sem viabilidade face à situação internacional e à correlação de forças dentro da NATO, apesar das declarações cheias de fé dos nossos meios de comunicação e da classe política. Os socialistas europeus, e principalmente os ibéricos, fizeram declarações públicas extremamente críticas contra a guerra e, principalmente, contra a política americana. Dificilmente o governo americano aceitaria um nome oriundo do agrupamento político que tanto o criticava.

Presentemente, e se as eleições para o Parlamento Europeu derem a maioria à direita, dificilmente Vitorino poderá suceder a Prodi. Mas isto é uma guerra que o governo português deverá travar com obstinação, independentemente das dificuldades que enfrentar. E se o desfecho não nos for favorável, não cairmos em acusações mútuas estéreis, ou lamentos improfícuos: termos um português na Presidência da Comissão Europeia é apenas uma questão de prestígio; a prosperidade e o bem estar do país não depende disso, mas apenas de nós próprios.

Porém, e é uma mensagem frequentemente passada para a opinião pública, se Vitorino não suceder a Prodi, deverá ser reconduzido no cargo de comissário europeu.

Esta exigência é absolutamente sem sentido. A menos que na distribuição dos futuros pelouros dos comissários europeus calhe a Portugal o mesmo pelouro que actualmente é sobraçado por Vitorino, não há qualquer razão para Vitorino ser reconduzido.

Imaginemos que calhava a Portugal o pelouro do Comércio, e se inquiria:
- Que nome Portugal indica?
- António Vitorino! – resposta imediata e obrigatória.
- Mas que currículo essa pessoa tem nesta área?
- Excelente! Apesar das suas dimensões reduzidas, tem sido visto com grande frequência em Centros Comerciais onde tem demonstrado uma elevada capacidade de escolha e decisão. Além disso há uma exigência nacional que Vitorino seja o nosso homem em Bruxelas.

Imaginemos que se resolvia atribuir a Portugal o pelouro da Agricultura e se sondava:
- Que nome Portugal indica?
- António Vitorino! – resposta liminar e intransigente.
- Mas que currículo essa pessoa tem nesta área?
- Admirável! Embora nunca tenha tido actividade neste domínio, sabe-se que, nas suas deslocações periódicas a Portugal, costuma sobrevoar os nossos campos e adquiriu com isso uma visão muito abrangente e uma perspectiva perfeitamente vertical dos problemas campestres. Além disso há uma exigência nacional que Vitorino seja o nosso homem em Bruxelas.

Imaginemos que Portugal ficava com o pelouro da Concorrência e se questionava:
- Que nome Portugal indica?
- António Vitorino! – resposta límpida e irrefutável.
- Mas que currículo essa pessoa tem nesta área?
- Perfeito! Nunca praticou, mas tem concorrido com pertinácia a diversos cargos e a sua percentagem de êxitos nesta área é elevada. Tem um elevado espírito competitivo. Além disso há uma exigência nacional que Vitorino seja o nosso homem em Bruxelas.

Não, António Vitorino não é o nosso homem em Bruxelas. António Vitorino é apenas, e já é muito no nosso panorama político medíocre, um homem brilhante, competente e muito capaz.

Um político suficientemente brilhante e competente para fazer temer a actual liderança incapaz do PS, que o quer ver em Bruxelas, a fazer seja o que for, desde que esteja afastado das controvérsias locais.

Publicado por Joana às fevereiro 10, 2004 08:00 PM

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Comentários

Tanto quanto sei, se a maioria de direita, vencer as eleições europeias, serão nomeados comissários
daquela côr partidária, independentemente da qualificação. Esta é a tradiçao!
Não faz sentido nenhum, o papaguear de D. Barroso
em defesa do A.Vitorino. Pois é apenas conversa da treta.

Publicado por: j.gonçalves às fevereiro 10, 2004 08:37 PM

Era bom que o Vitorino fosse para a presidência da UE. Senão, talvez a Teresa vá para 1ª Dama

Publicado por: Fred às fevereiro 10, 2004 10:03 PM

Sinceramente não sei qual dos cargos seria mais importante para nós!!

Publicado por: Fred às fevereiro 10, 2004 10:06 PM

Embora não directamente relacionado, este tema, alem de actual, convida a uma referencia a outra situação parecida, o PSD a pretender "exilar" o Prof. Marcelo.

Penso que já não é novidade para ninguém que a generalidade da nossa classe política é constituída por profissionais da conquista do poder e não profissionais da governação, pelo que o interesse nacional é sistematicamente preterido. Sobrepõe-se o interesse pessoal e o interesse partidário, enquanto bando. Nesta perspectiva, estão-se completamente nas tintas para os perfis e competencias das pessoas, encaram o país como um saque inesgotável e dão a impressão de não ter evoluído. Devem ter como livro de cabeceira O Principe de Maquiavel, sem sequer se esforçarem em tentar adaptar o seu conteúdo à era da internet...

Exemplo: quem detem o poder neste momento no PSD (aparentemente as eminencias mais ou menos pardas...) iniciou uma campanha há já algum tempo para tentar desesperadamente "exilar" o Prof. Marcelo. O(s) patarata(s) estão desde há muito habituados a "plantar" noticias no Expresso, como forma de pressão, teste público, forma de intimidação, tentativas de fabricar a realidade, etc.

Se não estivessemos a tratar de assuntos sérios, até teria piada. Torna-se um jogo quase viciante, todos os sabados, tentar separar o jornalismo destas noticias plantadas, e graduá-las de acordo com o nível de imprecisão/mentira que apresentam.

Desta vez fiquei um bocado desiludido com a postura dele(Marcelo) no domingo passado. Embora não tenha, no essencial, mudado de postura, pareceu intimidado na forma como respondeu.

A diferença se calhar estava no peso da artilharia inimiga...na maioria das vezes o assunto morre pela 1ª noticia. Desta vez não, houve uma segunda salva e de maior calibre: um editorial na 1ª página e um aplicado artigo do director, insinuando que o homem estaria morto politicamente por cá, era até uma espécie de favor que lhe faziam, permitindo que ele fosse espalhar a sua categoria por essa Europa dentro, etc. Deixemo-nos de ironias, o jornalismo português no seu pior no ano de 2004.

Do lado do PSD, parecem nitidos resquícios da Inquisição e Ditadura do Estado Novo ainda entranhados no partido. Quanto ao Expresso é uma nítida falta de respeito pelos leitores.

Só para acabar, merece a pena transcrever a definição de patarata do dicionário Novo Aurélio, Ed. Nova Fronteira, 3ª edição, Rio de Janeiro 1999:

- Patarata:1. Ostentação ridicula, mentira jactanciosa; patacoada. 2. Pessoa que diz pataratas, patarateiro; "O primo Gamboa é um patarata sem juízo, que te diz essas coisas para te desfrutar"(Camilo Castelo Branco, "A Queda dum Anjo", pag. 185)

Publicado por: L. Azevedo às fevereiro 10, 2004 10:40 PM


Cara Joana,

Está-me cá a parecer que me começo a repetir...

Se tudo se pode resumir (e muito bem) a : "A menos que na distribuição dos futuros pelouros dos comissários europeus calhe a Portugal o mesmo pelouro que actualmente é sobraçado por Vitorino, não há qualquer razão para Vitorino ser reconduzido".... para quê escrever um tratado teórico sobre o... "Se.." ?

O "se..." já há muito que foi escrito por Rudyard Kipling e adoptado pelos macrobióticos (aqueles que.. nem carne , nem peixe....)

If you can keep your head when all about you
Are losing theirs and blaming it on you,
If you can trust yourself when all men doubt you
But make allowance for their doubting too,
If you can wait and not be tired by waiting,
Or being lied about, don't deal in lies,
Or being hated, don't give way to hating,
And yet don't look too good, nor talk too wise:
If you can dream--and not make dreams your master,
If you can think--and not make thoughts your aim;
If you can meet with Triumph and Disaster
And treat those two impostors just the same;
If you can bear to hear the truth you've spoken
Twisted by knaves to make a trap for fools,
Or watch the things you gave your life to, broken,
And stoop and build 'em up with worn-out tools:

If you can make one heap of all your winnings
And risk it all on one turn of pitch-and-toss,
And lose, and start again at your beginnings
And never breath a word about your loss;
If you can force your heart and nerve and sinew
To serve your turn long after they are gone,
And so hold on when there is nothing in you
Except the Will which says to them: "Hold on!"

If you can talk with crowds and keep your virtue,
Or walk with kings--nor lose the common touch,
If neither foes nor loving friends can hurt you;
If all men count with you, but none too much,
If you can fill the unforgiving minute
With sixty seconds' worth of distance run,
Yours is the Earth and everything that's in it,
And--which is more--you'll be a Man, my son!


bla bla bla, bla bla bla

Publicado por: re-tombola às fevereiro 10, 2004 11:14 PM

re-tombola: estou em vias de me tornar uma paciente da síndroma do bei de Tunis. Foi inesperado. Inicialmente não sentia quaisquer sintomas, mas comentário seu aqui, mais comentário seu acolá, mais outro comentário seu além ... e estou a começar a sentir um certo desconforto, o som das botas a ranger no patamar, o rapaz da tipografia dos blogues, ...
Vou consultar o meu psicanalista.

Publicado por: Joana às fevereiro 10, 2004 11:54 PM


Uops!

Som das botas? Cardadas????

Ok.. ok... vou tomar o meu prozac, umas pedritas de gelo no Jameson a contra gosto, e prometo que gritarei HEIL JOANA! antes de entrar...

Vou de quarentena... a pedido so seu psicanalista :-)

Publicado por: re-tombola às fevereiro 11, 2004 12:30 AM


ps:

tenho que confessar que desde que há uns "posts" atrás me responderam como se à Joana estivessem a responder, também eu telefonei ao Lobo Antunes para ver se ele teria um tempito, quanto mais não fosse para tomar um copo.

Só que o sacana não bebe!!! Percebe o que é levar p psicanalista a tomar um copo e ele não beber????

brrrrrrrrrrrrr...

Publicado por: re-tombola às fevereiro 11, 2004 12:33 AM

As botas são do rapaz da tipografia (do texto do Eça). Nem só os nazis usavam botas

Publicado por: Joana às fevereiro 11, 2004 12:35 AM

Dizem para aí que era a ambição do Jardim era ser comissário. Este era um homem que nos punha nos píncaros........ dos bailinhos.

Publicado por: vmar às fevereiro 11, 2004 02:13 AM

Como é que um gajo tão pequenino dá origem a textos tão grandes?

Publicado por: Dorival às fevereiro 11, 2004 09:09 AM

Como é que um gajo tão pequenino dá origem a textos tão grandes?

Publicado por: Dorival às fevereiro 11, 2004 09:09 AM

Joana

O seu comentário é certeiro.

Mas repare que de acordo com os resultados eleitorais, os homens escolhidos serão oriundos dos partidos mais votados, independentemente da experiência política ou técnica que tenham.

Que experiência para o cargo possuia Cardoso e Cunha, quando esteve na Comissão Europeia?

E que experiência ou competência técnica tem ele para estar agora à frente da TAP?

Daquilo que percebi nas últimas eleições europeias, e quando se colocava a hipótese de Soares ser presidente do PE, e das reacções do PSD na altura, fiquei com uma certeza: Não será por vontade do PSD que Vitorino continuará na Europa, como comissário, ou noutro cargo qualquer.

Ainda bem que reconhece que o nosso panorama político nacional é pobre tecnicamente, porque assim parece dar a entender que um eventual substituto de Vitorino será certamente pior.

Publicado por: Al-Mansour às fevereiro 11, 2004 01:55 PM

Eh uma pena se o Vitorino nao ficar na presidencia, embora tal se me afigure dificil por causa do bloco de direita do parlamento europeu.

Publicado por: Filipa Zeitzler às fevereiro 11, 2004 11:33 PM

Acho o Vitorino um tipo competente. Mas não me parece que se deve eternizar. Não é só ele que é competente. Até agora a regra tem sido cada governo manter o anterior até à mudança de comissários e depois pôr um da sua cor.
Porque é que agora haveria de ser diferente?

Publicado por: Viegas às fevereiro 11, 2004 11:50 PM

Viegas: estou em absoluto acordo consigo.

Publicado por: vde às fevereiro 12, 2004 01:06 AM

Isto da Joana dizer bem do Vitorino trás água no bico.
O que ela pretende é que ele venha para cá lançar a confusão no PS e complicar a vida à oposição

Publicado por: Cisco Kid às fevereiro 12, 2004 01:15 AM

Al-Mansour em fevereiro 11, 2004 01:55 PM
Cardoso e Cunha é um homem de elevada competência técnica como demonstrou na Expo’98 e noutros sítios onde esteve. Tem um perfil e um tipo de competências e formação diferentes das do Vitorino, mas é igualmente competente.

Publicado por: Joana às fevereiro 12, 2004 08:42 PM

Penso que Vitorino também não está interessado em regressar. Parece-me que ele se anda a fazer ao piso a mais um mandato como comissário. Isto não é uma crítica à sua capacidade. Provavelmente ele não se quer meter no actual vespeiro do PS

Publicado por: Fred às fevereiro 15, 2004 02:28 PM

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Publicado por: Hold às fevereiro 21, 2005 08:16 AM

Our Man

Publicado por: Nurcia às fevereiro 27, 2005 11:45 PM

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