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fevereiro 19, 2004

História Trágico-Marítima

Portugal assemelha-se a um navio que se está a afundar, com um rombo no casco, onde, face à água a entrar em catadupas, as chefias da tripulação, em vez de tomarem medidas eficazes para consertarem o rombo, discutem as causas do rombo, discordam interminavelmente acerca da forma como está a ser medido o caudal de água que penetra pelo rombo, gesticulam irados pela quantidade de madeira e pregos que outros dizem serem necessários para o arranjo, confrontam-se sobre a calendarização do eventual remendo a efectuar, que materiais e mão de obra se devem utilizar, o tipo de calafetagem, etc., e a água sempre a entrar ... a entrar, inexoravelmente. Alguns, como o PC e o BE, acham mesmo que a causa de haver o rombo é a existência do casco. Se não houvesse casco, o conceito de rombo não teria cabimento – logo, elimine-se o casco: Não temos trabalho a remendar o casco e há água para todos em abundância. As bóias e os coletes salva-vidas hão de aparecer.

E os tripulantes, que pensarão?

Foi recentemente efectuada uma sondagem, feita pela Universidade Católica, no âmbito do programa «Prós e Contras» da RTP, que é muito curiosa.

A primeira questão respeita aos sacrifícios que a política de combate ao défice está a induzir. Questionados sobre se tais sacrifícios valem ou não a pena, 53% dos inquiridos responderam que sim e 36% que não. Ora esta resposta é muito significativa e isto porque:

- O combate ao défice pelo governo tem sido feito, com tenacidade e furor público, mas com pouca competência;
- As medidas restritivas que acompanham esse combate foram tomadas numa conjuntura extremamente desfavorável, o que potenciou os efeitos negativos no que toca ao rendimento disponível das famílias (por exemplo, o congelamento bienal salarial na Função Pública);
- Esses dois factores agravaram substancialmente o desemprego e o poder de compra da população;
- Tem sido feita uma campanha demagógica contra a política governamental, não a propósito da sua medíocre qualidade técnica, mas a pretexto dos cortes e das restrições orçamentais;
- O governo tem revelado uma notável inabilidade política em explicar o que anda a fazer.

Tudo isto levaria a pensar que os inquiridos teriam uma postura crítica mais acentuada e muito menos favorável à tese dos «sacrifícios necessários»
Ora o que aquela resposta indicia é a existência, no nosso país, da opinião que os ajustamentos económicos e sociais que Portugal tem que fazer e os respectivos custos são necessários e indispensáveis. Isto é, a população prefere uma estratégia de médio e longo prazo em detrimento do facilitismo de curto prazo. Ou seja, os líderes políticos e sindicais que protestam e algum pessoal que acompanha esse protesto, faz greves, manifesta-se, etc., são claramente minoritários.

Uma outra questão incidia sobre como os políticos se devem comportar face à situação actual. Neste caso, a sondagem indicava que 46% dos inquiridos eram favoráveis a um pacto inter-partidário sobre as finanças públicas e apenas 6% o achavam mau para a economia. Ou seja, grande parte do eleitorado da oposição, nomeadamente do PS, entendia que as dificuldades relativas à consolidação orçamental, exigiam uma resposta que devia congregar uma maioria significativa do actual espectro político e que, para essa união de esforços, um pacto inter-partidário constituiria um primeiro e indispensável instrumento.

Ora no que toca a esta matéria, o que se tem visto é a descida do Maelstrom dos líderes políticos portugueses.

Logo que abriu a actual legislatura o PS adoptou a táctica da chicana e terrorismo parlamentar, sem ter qualquer pudor pelo estado em que tinha deixado o país. O governo retorquiu com a tese do país de tanga. A partir daí as posições extremaram-se e as pontes foram cortadas. Os partidos sentiram-se com legítimas razões de queixa e contas a ajustar. O PS não perdoava as entradas de Durão Barroso, o discurso da tanga e do peso do passado e o Governo a oposição sistemática do PS e a falta de sintonia nas grandes questões de Estado, desde a revisão constitucional às grandes reformas.

O governo enveredou por uma política que, em termos de estratégia que enunciou, está certa. Mas que, em termos das medidas que tem aplicado e da legislação que tem produzido, é insuficiente, inábil, tardia e, em alguns dos casos, erra o alvo. A oposição enveredou por uma chicana política sórdida, contestando tudo de uma forma demagógica, aproveitando o facto das medidas restritivas serem, normalmente, impopulares, porque bulem com regalias e rendimentos disponíveis.

Há tempos o PR fez um apelo ao entendimento dos principais partidos sobre o controlo orçamental. Logo a seguir, personalidades de diversos quadrantes fizeram idêntico apelo. Na sessão seguinte, na AR, foi uma pantomina parlamentar que se passou. Um deputado da maioria propôs um consenso para uma estratégia conjunta, a médio e longo prazo, sobre finanças públicas, relativo a um conjunto de medidas que, aliás, faziam parte das 50 medidas propostas por Pina Moura em Junho de 2001, nos finais do guterrismo, quando se avizinhava a borrasca em que então ninguém entre as hostes socialistas (exceptuando Pina Moura e o Ecordep) acreditava, tal era a anestesia propinada pelo Guterres.

O PS avançou, em contrapartida, um conjunto de propostas para a revisão do Pacto de Estabilidade e Crescimento, como se o prioritário fosse discutir um assunto cuja sede de resolução (e mesmo de agendamento) não é a AR, mas sim Bruxelas. Relativamente à proposta da maioria, O PS votou favoravelmente três pontos, absteve-se noutros e votou contra o diploma na generalidade. Tudo inútil, portanto.

Pina Moura, favorável ao consenso (aliás, as medidas propostas, também o haviam sido por ele, no anterior governo), foi encostado à parede: «Ou estás connosco ou estás com eles», foi-lhe dito. Em 2001 foi demitido, agora apenas ostracizado. A actual direcção socialista acha que, ao votar propostas da maioria, está a degradar a sua capacidade de ser oposição e a legitimar políticas anti-populares o que poderia levar a que os eleitores se distanciassem do PS na próxima refrega eleitoral. Portanto, o PS não está disponível, apesar da abertura para o debate, para se comprometer com as consequências do consenso.

Quer isto dizer que, se e quando voltar a ser governo, o PS vai demitir-se de prosseguir políticas de reforma do Estado, que contribuam para o aumento da sua eficiência e maior controlo da despesa? Não é possível. Quando voltar a ser governo o PS vai, como depois será acusado pelo BE e PC, meter «o socialismo na gaveta». Não há alternativa à política de restrição, nem as benesses encontradas pelo governo de Guterres (descida abissal das taxas de juro, pela adesão ao euro e receitas do IVA geradas pelo faça agora – as SCUT’s – e pague depois) se poderão repetir.

Qualquer governo que suceda a este terá que ter uma estratégia financeira semelhante à do actual. Poderá executá-la com maior (ou menor) competência e habilidade, mas continuará a ser uma política restritiva a nível salarial e da despesa pública corrente.

Poderá é não ser fácil fazer essa política sem dispor do apoio da oposição num conjunto de princípios mínimos. Isto é, fazerem-lhe o mesmo que o PS faz actualmente ao governo.

Se não houver inversão das actuais posturas políticas, o melhor para os tripulantes do navio Portugal é apressarem-se a vestir os coletes salva-vidas, a enfiarem as bóias e esperar que com a estadia na água não sobrevenha a hipotermia.

Publicado por Joana às fevereiro 19, 2004 09:44 PM

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Comentários

jOANA :
Vc é capaz de bem melhor.
já era altura de arranjar uns argumentos um pouco mais inovadores : sempre o PS , PC e BE como os culpados da sua depressão ...
ié : o governo é um DESASTRE , a culpa é de metade dos eleitores , que serão oposição !

Vc a fazer-nos rir desta maneira está a concorrer com o sr.Lopes da Camâra !

Publicado por: zippiz às fevereiro 19, 2004 11:30 PM

Pois, e eu que não sei nadar. Mesmo com colete.
E qual a temperatura da água? Lembro-me sempre daqueles tipos do Titanic
Que post tão macabro. Se ao menos aparecesse a Winslet.

Publicado por: Rui Silva às fevereiro 19, 2004 11:50 PM

A diferença entre Portugal e o Titanic é que este era mais luxuoso e ninguém acreditava que se afundasse

Publicado por: Seixas às fevereiro 19, 2004 11:56 PM

A diferença é que o Titanic chocou com um iceberg e nós somos como aqueles piratas do Asterix que cada vez que vêm o Obelix desatam à machadad ao casco e afundam o próprio navio. Até têm lá um PALOP e tudo.

Publicado por: Rave às fevereiro 20, 2004 12:08 AM

O que é interessante saber é que o que passa na cabeça das pessoas não é aquilo que transparece nos jornais e TV’s. As pessoas parecem ser mais inteligentes do que os jornalistas. E isso é evidente pelas sondagens apresentadas.

O que é preocupante é como é que aquilo que as pessoas pensam entra no bestunto dos políticos.

Publicado por: Joaquim Pereira às fevereiro 20, 2004 12:33 AM

zippiz: Pelo que entendi do texto, a Joana questiona a actuação quer da maioria quer do PS, embora atribua, no que concordo, mais responsabilidades ao PS não só pela herança que deixou, como por recusar comprometer-se num consenso sobre o controlo orçamental, tal como o PR tinha pedido.
Agora, e nisto você não concorda comigo, a política do BE e do PC no que se refere ao orçamento seja completamente irresponsável, o que é compreensível visto que não têm nem virão a ter responsabilidades governativas.
E mesmo que o BE venha a ter, olhe os Verdes na Alemanha. Andaram a mandar bocas e agora em coligação embarcaram em leis laborais muito mais pró-patronato que as nossas.

Publicado por: Hector às fevereiro 20, 2004 12:43 AM

zippiz: limitei-me a expor a situação a que chegámos no país, opinião que aliás é compartilhada por Pina Moura e outros socialistas mais discretos.
O que eu escrevi acima deve ser menos contundente para a actual direcção socialista que o que Pina Moura tem escrito e dito fora e dentro.

Publicado por: Joana às fevereiro 20, 2004 09:08 AM

Hector: a sua interpretação está, na generalidade, de acordo com as ideias subjacentes ao que escrevi. Obrigada pela sua intervenção.

Publicado por: Joana às fevereiro 20, 2004 09:11 AM

Joana

Cada um tem o dereito de exprimir as suas opiniões e defender o que acha de melhor para acabar com o rombo no casco.

Por isso foi surpreendente a 1ª parte do seu texto.

Parece que tem que haver quem decida, não sei se inspirado por uma visitação divina, deixando para os outros discutir as causas do rombo, quais questões bizantinas.

Como a Joana tem as suas opiniões, outros também poderão ter as suas.

Há muitas formas de se remediarem os rombos no casco, e sobre as razões para que esses rombos surjam são muitas e variadas.

Como disso o Zipizz, a Joana parece ter uma obsessão contra a esquerda e acusa-a não só de provocar rombos no casco, como depois não serem capazer de os reparar.

Não sei se o país se está a fundar (Durão acreditava que sim ao tomar posse e isso não o inibiu de prometer cruzeiros de luxo, embora para 2006 ou mesmo para 2010).

Mas tal como há muitas formas de se eliminarem os rombos nos cascos dos navios, também há muitas formas de se remendarem os rombos nas finanças públicas de um país.

E ciência económica e financeira não é uma ciência exacta, que dispense opiniões divergentes, nem uma certeza absoluta de uns iluminados que após saírem dos bancos das faculdades vêm iluminados pela Verdade absoluta de como "pôr um país a andar".

Por isso, achei este seu artigo, embora respeitável, verdadeiramente incompreensível nos termos em que é posto.

Então o PCP, o PS ou o BE estão inibidos de darem aas suas opiniões sobre as melhores formas de se remedarem rombos nos cascos?

Só quem anda para as bandas do PSD e CDS tem a sapiência necessária para resolver as crises?

Estranho, não acha?

Publicado por: Al_Mansour às fevereiro 20, 2004 11:58 AM

O país mete água, nós metemos água, é a inundação geral.

Publicado por: Daniel às fevereiro 20, 2004 07:50 PM

Almançor:
Como diz, cada um tem o direito de exprimir as suas opiniões e eu exprimi a minha.

Quanto às medidas do controlo do défice, o PS não pode ter uma opinião quando está no governo (é certo que foi uma opinião havida nos últimos meses do governo, quando o navio metia água às lufadas) e ter outra quando está na oposição.
O PS não pode, para “não se distanciar do eleitorado” estar objectivamente a obstaculizar o controlo do défice apesar dos apelos do PS e de diversas personalidades.
Será que Vítor Constâncio é de direita? Não foi Sousa Franco que disse que o governo de Guterres era o pior governo português desde o tempo de D. Maria I. Sousa Franco era de direita? Será que o PS quer pôr um trânsfuga da direita como cabeça de lista para o PE?
Quanto ao BE e ao PC nem vale a pena falar. Mas como nunca terão responsabilidades governativas, é natural que apenas proponham demagogia barata.

Publicado por: Joana às fevereiro 20, 2004 09:28 PM

História tragico-maritima(update)

O navio é já do seculo XX,com casco de aço. Embora já antigo, é sólido e tem uma boa máquina, já muito usada mas vai funcionando. Consome demais e fumega um bom bocado, mas desde que não fumegue em frente às camaras de televisão ou de alguma praia cheia de ecologistas fundamentalistas, vai andando.

Está realmente a meter agua.

O problema foi detectado há já algum tempo, mas a bordo ainda não conseguiram dar com ele em toda a sua extensão. Tanbem não se preocuparam muito, as bombas de esgoto vão funcionando, e os oficiais combinaram entre eles mandar os relatórios diários para o Armador (sediado em Bruxelas,)sem fazer referencia ao problema.
Conscientes da sua responsabilidade, preferiram no entanto ir esticando a corda. Poupam dissabores e responsabilidades perante o Armador, vão confiando nas bombas de esgoto, e quando passarem o comando a outros escusam de entrar em grandes detalhes. O novo comandante irá a seu tempo dar pelo problema e, muito provavelmente, irá continuando a esticar a corda. Se a corda partir entretanto, paciencia, entre mortos e feridos alguem há-de escapar...

Os tripulantes, esses, também já deram por isso. Alguns, em conjunto com alguns oficiais juniores, até já se aperceberam que a situação é muito mais grave do que pensam os oficiais seniores, e convenceram-se que não há reparação possível antes do próximo porto.
Percebem agora o fundamento de uns rumores que correm pela messe há já algum tempo, relatando a história dalguns marinheiros que desembarcaram meio à pressa antes do fim do contrato, e estão agora a trabalhar noutros navios.
Mas há outros, que gostam tanto daquele navio, que se recusam a desembarcar, mesmo perante a iminencia dum naufrágio. Esses, à socapa, começaram a juntar víveres e agua nos salvavidas, e a ver se estavam todos em condições, para tentar a sua sorte no mar alto quando o navio afundar.

O armador, esse, finge que não sabe de nada, mas está careca de saber o que se passa a bordo. Entrou no jogo de faz de conta dos oficiais, e não se rala muito.
O resto da frota vai funcionando, e acaba de fechar negócio para incorporar dez novos navios na sua frota. Embora usados, não metem tanta agua e têm uma exploração mais rentável.
Se o velho navio afundar, o seguro há-de servir para remediar a situação. Quanto à capacidade de carga perdida, não é grave. Com umas pequenas beneficiações nas dez novas unidades e uma reestruturação dos serviços, a capacidade da frota há-de ser reposta.

Quanto ao pessoal, não se preocupam muito. Alguns oficiais terão os seus lugares garantidos na sede do Armador com funções em terra. Dos restantes oficiais e tripulantes, alguns poderão vir a embarcar noutros navios.

Quantos aos outros, problema deles. Que não deixassem o navio afundar, e já não estariam nestes apuros.

Boa noite a todos.

p.s. Os oficiais, obviamente, foram todos formados nas principais escolas do pais, PP,PSD,PS,PC,BE,etc....

Publicado por: LA às fevereiro 20, 2004 10:37 PM

A nossa história actual não é trágico-marítima mas cómico-marítima. A desgraça é que nos rimos da nossa miséria. De facto quer o governo anterior por umas razões, quer o actual por outras, estão só a fazer asneiras

Publicado por: Vitapis às fevereiro 20, 2004 11:33 PM

Como dizia alguém, a grande vantagem política do BE é a de gozar da confortável posição de "minoria absoluta", como dizia o seu antigo lema. Como, o que quer que aconteça, não pensam ter responsabilidades de Governo, podem propor as ideias mais loucas, os projectos mais radicais, sem nunca terem de pensar nos seus reais custos ou efeitos. Dizem o que lhes apetece, atacam quem lhes agrada, denunciam o que querem, sem sofrerem consequências. Várias vezes usaram esta qualidade para dizerem coisas sensatas e difíceis, expondo erros graves e abusos importantes. Mas, normalmente, utilizaram-na apenas para terem graça e ganhar votos na juventude e nos desiludidos do sistema, aliás, crescentes. Usam o valor sempre inestimável da completa irresponsabilidade.

Publicado por: Novais de Paula às fevereiro 20, 2004 11:52 PM

Já agora, acrescentaria, citando que nunca existiu em Portugal um partido com maior disparidade entre a doutrina que perfilha e a origem sociológica e vida concreta dos seus apoiantes. Os votantes e dirigentes do Bloco de Esquerda afirmam-se defensores dos valores da esquerda mais pura e radical, e, no entanto, são universitários que nunca falaram com um operário e só conhecem os bairros de lata pelas fotografias da National Geographic.

São o contrário do que dizem ser. Odeiam as multinacionais, mas vestem camisolas GANT, ténis Nike, usam Swatchs e frequentam o McDonald's. Vão para as manifestações contra a globalização com telemóveis finlandeses, perfume francês e walkmans "made in China". Se fosse criada a "taxa Tobin", ou o imposto sobre as grandes fortunas, alguns veriam efeitos desagradáveis nas mesadas. Consideram horrível "este sistema", em que participam plenamente vendo a SIC Radical, vestindo roupa de marca, lendo revistas da moda e beneficiando de todos os confortos da média e alta burguesias, a que pertencem plenamente.

Publicado por: Novais de Paula às fevereiro 20, 2004 11:55 PM

Quem mete água é a Joana, sempre a deitar abaixo a esquerda.

Publicado por: Cisco Kid às fevereiro 21, 2004 12:59 AM

Essa de que a malta do BE só conhece os bairros de lata pelas fotografias da National Geographic é para rir, não é? A malta tá muito ligada aos operários e camponeses.
Vocês é que nunca viram um operário na porca da vida

Publicado por: Cisco Kid às fevereiro 21, 2004 01:02 AM

A sua alegoria maritima eh infelizmente verdadeira. Ha culpa de todos mas um PS tem acrescidas responsabilidades nao apenas pelo governo anterior, mas por ser o principal partido da oposicao

Publicado por: Filipa Zeitzler às fevereiro 21, 2004 11:00 AM

A sua alegoria maritima eh infelizmente verdadeira. Ha culpa de todos mas um PS tem acrescidas responsabilidades nao apenas pelo governo anterior, mas por ser o principal partido da oposicao

Publicado por: Filipa Zeitzler às fevereiro 21, 2004 11:01 AM

A parte que gostei mais foi a comparação do Rave com os piratas do Obelix

Publicado por: venancio às fevereiro 21, 2004 12:57 PM

PROMETO DAR O MEU PIOR
Tenho medo de um país em que toda a gente promete dar o seu melhor. É a resposta mais ouvida em entrevistas televisivas logo depois de "O tempo o dirá". Pois. E o que nos diz o tempo? Na mais objectiva expressão científica, diz-nos "que está de chuva". Milhões de portugueses ao longo dos séculos a dar o seu melhor e o melhor que conseguimos foi isto?
Uma pessoa que promete dar o seu melhor é porque está convencida que esse "melhor" é "muitabom". Conclusão: mais uma vez não se aprendeu com as lições da História. Os nossos marinheiros de quinhentos não iam lá dar o seu melhor. Só estavam nos barcos os condenados, desterrados ou simplesmente desesperados. Coitados. Não, nem por isso. Iam com esperança de trocar fluidos com umas belas nativas – alguém os pode censurar? Até mesmo nos seus líderes se vê o mesmo. Recordemos a conversa entre D.Manuel e Pedro Álvares Cabral:
- Álvares, man…
- Yoh!
- Quero que comandes a segunda armada para a Índia.
- Bacano, mas e o Vasco?
- O Vasco já se encheu do guito. ‘Tá noutra.
- Ok, tá-se.
Ou seja, o registo histórico prova-nos que Pedro Álvares Cabral não prometeu nada de épico ao rei. Resultado: chegou à Índia e, de caminho, ainda descobriu o Brasil.
Houve um tempo em que os portugueses não eram arrogantes. Ninguém prometia o seu melhor. Hoje, é o que se vê: o nosso Nobel da literatura dá o seu melhor desde uma ilha espanhola, o nosso maior craque da bola fala inglês em sua própria casa com a mulher sueca e os dois filhos espanhóis e o nosso único actor em Hollywood, sempre que dá o seu melhor, é a fazer de traficante de droga sul-americano. É bem feito.
Até o nosso Nobel da Medicina, outro homem que deu o seu melhor, recebeu o prémio por uma técnica – a da lobotomia pré-frontal – que, aplicada hoje, faria de um homem uma bela hortaliça.
Ele há coisas, aliás, em que não faz sentido dar o nosso melhor. Por exemplo, um adepto de futebol. Faria sentido um verdadeiro adepto que, ao menos uma vez por ano, não destruísse uma estaçãozinha de serviço ou proferisse coisas de fazer corar o Fernando Rocha? Ou no sexo? Alguém pensa em dar o seu melhor na cama? Uma coisa animal, em que se está nu, suado, aos gritos e onde até mesmo um ateu chama por Deus? Penso que não.
Alternativas:
"Ok, vou ver o que é que se pode fazer"
"Tá bem, eu faço isso. Mas sou português, depois não digam que não avisei"
"Meu amigo, faço o que posso"
"Sim, aceito o seu convite para Ministro mas só tenho duas mãos"
Está na altura de nos deixarmos de armar em modelos que vão para actores de telenovelas e prometem dar o seu melhor. Está na altura de aplicar o legado de Egas Moniz e lobotomizar o ministro-adjunto, está na altura de dizer ao Saramago que escusa de escrever "O Ano da Morte de Ricardo Reis" mais vezes. Está na altura de acabar esta crónica.

Luís Filipe Borges in " http://causa-nossa.blogspot.com/ "

Publicado por: re-tombola às fevereiro 21, 2004 09:12 PM

Bem observado a história do barco. Portugal mete água por todos os lados e ninguém põe cobro a isso

Publicado por: A Nereu às fevereiro 23, 2004 01:48 PM

re-tombola: Não interessa se dizemos que iremos dar o nosso melhor, ou se cometemos erros. O que interessa é o resultado.
Erro maior que o do Egas Moniz foi o cometido pelo Colombo que julgava que a Terra teria metade do tamanho e que a Ásia era logo a seguir aos Açores.
Enganou-se e descobriu a América (aliás, era de tal forma contumaz no erro, que morreu convencido que tinha descoberto a Ásia).
E os cosmógrafos da Corte Portuguesa, com toda a sua sabedoria, acertaram no tamanho da Terra e e não deixaram partir Colombo.
A única (e julgo que última) vez que o governo português baseou a sua estratégia em métodos científicos, deu para o torto.

Publicado por: Joana às fevereiro 24, 2004 09:36 PM

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