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fevereiro 16, 2004

Espanha e Portugal

Os meios de comunicação portugueses têm sido percorridos nestes últimos tempos pelo espectro do iberismo.

A Espanha estará a comprar Portugal? Essa aquisição não será a primeira fase da anexação? E que tal uma jogada de antecipação e pedirmos nós a incorporação no Reino da Espanha? E se selarmos essa união com o matrimónio de Filipe VI com Ana Sá Lopes (ela já lançou a escada ...) que, pelo menos, não corre o risco de despertar qualquer emoção estética a algum pintor estival?

José Manuel de Mello, que liderava a CUF antes do 25 de Abril, e que viveu a sua vida empresarial espojado nas delícias de Cápua da protecção do Estado Novo, encostado ao regime, ao abrigo da imprensa, das greves, dos sindicatos e da concorrência graças à Lei do Condicionamento Industrial que lhe facilitava um mercado monopolista, alargado ainda às colónias, está muito pessimista quanto ao futuro de Portugal. Não vê saída para os portugueses - «talvez sermos arrumadores de carros», diz - e defende que «devíamos dividir Portugal em duas ou três regiões e juntarmo-nos rapidamente à Espanha».

Alguns opinion makers interrogam-se angustiados: Será Portugal viável? Poderemos continuar a ser independentes?

Mas que se passará no nosso país, para esta celeuma? Celeuma que, felizmente, não sai do âmbito dos meios de jornais que serão comprados por menos de 10% da população, lidos por 2 ou 3% e compreendidos por menos de 1%.

Quais seriam as nossas probabilidades de sobrevivência nacional em 1383, perante a legitimidade dinástica de um poderoso rei estrangeiro, apoiado por parte significativa da nobreza portuguesa, émula de José Manuel de Mello? 20%? 30%? Nessa época não havia ainda corretores para sabermos a nossa posição no mercado de apostas. Todavia sobrevivemos e inaugurámos uma época de prosperidade e expansão que nos colocou de forma duradoura na História Universal.

E quando proclamámos a restauração da independência, em 1640, sem exército, sem marinha de guerra, sem tesouro público, face à principal potência militar da Europa continental? Que probabilidades de sobrevivência nacional teríamos? 10%? 5%? Provavelmente menos, pois logo que fez a paz com a Espanha, Mazarino nem quis saber de incluir Portugal no Tratado dos Pirinéus. Portugal era apenas um sítio dispensável, um ninho de irresponsáveis condenados à anexação, que só tinham valia para incomodarem a Espanha enquanto durasse a guerra com a França. Todavia sobrevivemos e mantivemos a parte mais significativa do nosso domínio colonial.

Foi no início do século XIX que uma série de ocorrências aproximaram Portugal e Espanha pois as violentas invasões francesas destruíram muitos dos valores tradicionais criados durante séculos e é neste quadro que se compreende a cumplicidade quer entre os liberais quer entre os absolutistas de ambos países: as guerras civis desta época são vividas em Espanha e Portugal como fenómenos ligados.

Por sua vez, e face à decadência dos povos peninsulares, ganha força a ideia de que só uma união ibérica permitiria fortalecer a Península frente ao poderio cada vez mais evidente das outras nações europeias. Vivia-se então a ilusão de um darwinismo dos países, em que os maiores devorariam, inexoravelmente, os mais pequenos. E era um facto que, na Europa da segunda metade do século XIX, se exceptuarmos Portugal, Países Baixos, Dinamarca e Suiça, só havia grandes potências. Diversos intelectuais portugueses (e espanhois) comungaram destas ideias (Geração de 70, por exemplo - Antero Quental propõe em 1872, para a península ibérica, uma federação republicano-democrática, Oliveira Martins avança com as ideias sobre a reconstrução federativa, etc.).

O iberismo tem estado sempre ligado a uma crise de valores e de identidade. Portugal, no século XIX, depois da secessão do Brasil e das violentas guerras civis, ficou numa situação muito fragilizada, política e economicamente. A melhoria económica e social do último quartel do século XIX e o renascer da expansão colonial nos finais desse século permitiu, senão resolver a crise de valores, pelo menos colocá-la num nível diferente para o qual o iberismo era irrelevante e a identidade nacional muito vivaz.

O “iberismo” do início deste milénio está igualmente ligado a uma crise de valores, mas não de identidade. Há a convicção na sociedade civil da incapacidade da classe política em nos governar satisfatoriamente e dos impasses e estrangulamentos sociais existentes em todo o tecido social e produtivo português. Essa crise de valores agravou-se sobremaneira pela crise financeira e pela sensação de que não seremos capazes de sair dela: o governo não tem coragem política, a oposição está presa de concepções retrógradas e não constitui alternativa viável, o empresariado é, numa percentagem significativa, pouco competente e tenta resolver a sua incapacidade de gestão pelo recurso a métodos autoritários, os sindicatos continuam a ver a relação trabalhador-empresário em termos de luta de classes obstinada e sem tréguas, o trabalhador português que, no estrangeiro, subtraído ao enquadramento sindical e à gestão deficiente pública e privada, trabalha disciplinadamente e com competência, em Portugal tem escassa produtividade e pouca disciplina, etc..

A reunião do Beato mostrou, porém, um conjunto de empresários e gestores portugueses de uma geração que não viveu das prebendas do anterior regime nem foi traumatizada pela revolução de Abril. Uma andorinha não faz a primavera e, para além destes empresários e gestores de ideias modernas e arejadas, ainda há uma larga maioria de empresários pouco preparados e com concepções retrógradas. Mas este movimento pode ser um núcleo dinamizador do tecido empresarial português. Não foi certamente por acaso que o nome que serviu de epígrafe à reunião foi «Compromisso Portugal». Constituiu igualmente uma tomada de posição face à descrença de alguns portugueses perante a alegada invasão espanhola. Foi principalmente o assumir público da ideia que se a Espanha constitui uma ameaça, também constitui uma oportunidade e que aproveitar essa oportunidade depende exclusivamente de nós. E ainda que a viabilidade como país depende de nós e que ninguém nos governará melhor que nós próprios, por muito mal que nos governemos.

Não me parece que a actual crise de valores constitua igualmente uma crise de identidade. Portugal tem nove séculos de história, tem uma forte identidade nacional, homogeneidade linguística e a nossa língua é o quinto idioma mais falado no mundo. Isso são valores que estão bem alicerçados na nossa consciência colectiva. São valores que julgamos em crise quando ouvimos algum chiste sobre a nossa inviabilidade como Estado. Mas são apenas chistes. A experiência da nossa existência como nação multi-secular mostra que é exactamente quando sentimos em risco a nossa identidade nacional que nos unimos e que opomos uma resistência inamovível à perda dessa identidade.

Queria apenas terminar com a transcrição da parte final de um belíssimo e notável texto do Eça, «A Catástrofe», muito apropriado a esta problemática, publicado no fim do «Conde d’Abranhos»»:

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Dias amargos! Todos os meus cabelos encaneceram.
E pensar que durante anos nos podíamos ter preparado! E pensar que, à maneira da Inglaterra, podíamos ter criado corpos de voluntários, fazendo de cada cidadão um soldado, e preparando assim, de antemão, um grande exército nacional de defesa, armado, equipado, enérgico e tendo recebido, no hábito da disciplina, o orgulho da farda...
Mas de que vale agora pensar no que se podia ter feito!.. O nosso grande mal foi o abatimento, a inércia em que tinham caído as almas! Houve ainda algum tempo em que se atribuiu todo o mal ao Governo! Acusação grotesca que ninguém hoje ousaria repetir.
Os Governos! Podiam ter criado, é certo, mais artilharia, mais ambulâncias; mas o que eles não podiam criar era uma alma enérgica ao País! Tínhamos caído numa indiferença, num cepticismo imbecil, num desdém de toda a ideia, numa repugnância de todo o esforço, numa anulação de toda a vontade... Estávamos caquéticos! O Governo, a Constituição, a própria Carta tão escarnecida, dera-nos tudo o que nos podia dar: uma liberdade ampla. Era ao abrigo dessa liberdade que a Pátria, a massa dos portugueses tinha o dever de tornar o seu País próspero, vivo, forte, digno da independência. O Governo! O País esperava dele aquilo que devia tirar de si mesmo, pedindo ao Governo que fizesse tudo o que lhe competia a ele mesmo fazer!... Queria que o Governo lhe arroteasse as terras, que o Governo criasse a sua indústria, que o Governo escrevesse os seus livros, que o Governo alimentasse os seus filhos, que o Governo erguesse os seus edifícios, que o Governo lhe desse a ideia do seu Deus!
Sempre o Governo! O Governo devia ser o agricultor, o industrial, o comerciante, o filósofo, o sacerdote, o pintor, o arquitecto – tudo! Quando um país abdica assim nas mãos dum governo toda a sua iniciativa, e cruza os braços esperando que a civilização lhe cai feita das secretarias, como a luz lhe vem do Sol, esse país está mal: as almas perdem o vigor, os braços perdem o hábito do trabalho, a consciência perde a regra, o cérebro perde a acção. E como o governo lá está para fazer tudo – o país estira-se ao sol e acomoda-se para dormir. Mas, quando acorda – é como nós acordámos com uma sentinela estrangeira à porta do Arsenal!
Ah! Se nós tivéssemos sabido!
Mas sabemos agora! Esta cidade, hoje, parece outra. Já não é aquela multidão abatida e fúnebre, apinhada no Rossio, nas vésperas da catástrofe. Hoje, vê-se nas atitudes, nos modos, uma decisão. Cada olhar brilha dum fogo contido, mas valente; e os peitos levantam-se como se verdadeiramente contivessem um coração! Já não se vê pela cidade aquela vadiagem torpe: cada um tem a ocupação dum alto dever a cumprir.
As mulheres parecem ter sentido a sua responsabilidade, e são mães, porque têm o dever de preparar cidadãos. Agora trabalhamos. Agora, lemos a nossa história, e as próprias fachadas das casas já não têm aquela feição estúpida de faces sem ideias, porque, agora, por trás da cada vidraça, se pressente uma família unida, organizando-se fortemente.
Por mim, todos os dias levo os meus filhos à janela, tomo-os sobre os joelhos e mostro-lhes a SENTINELA! Mostro-lha, passeando devagar, de guarita em guarita, na sombra que faz o edifício ao cálido sol de Julho e embebo-os do horror, do ódio daquele soldado estrangeiro...
Conto-lhes então os detalhes da invasão, as desgraças, os episódios temerosos, os capítulos sanguinolentos da sinistra história... Depois aponto-lhes o futuro – e faço-lhes desejar ardentemente o dia em que, desta casa que habitam, desta janela, vejam, sobre a terra de Portugal, passear outra vez uma sentinela portuguesa! E, para isso, mostro-lhes o caminho seguro – aquele que nós devíamos ter seguido: trabalhar, crer, e, sendo pequenos pelo território, sermos grandes pela actividade, pela liberdade, pela ciência, pela coragem, pela força de alma... E acostumo-os a amar a Pátria, em vez de a desprezarem, como nós fizéramos outrora.
Como me lembro! íamos para os cafés, para o Grémio, traçar a perna, e entre duas fumaças, dizer indolentemente:
– Isto é uma choldra! Isto está perdido! Isto está aqui, está nas mãos dos outros!...
E em lugar de nos esforçarmos por salvar "isto" pedíamos mais conhaque e partíamos para o lupanar.
Ah! geração covarde, foste bem castigada!...
Mas agora, esta geração nova é doutra gente. Esta já não diz que "isto" está perdido: cala-se e espera; se não está animada, está concentrada...
E depois, nem tudo são tristezas: também temos as nossas festas! E para festa, tudo nos serve: o 1º de Dezembro, a outorga da Carta, o 24 de Julho, qualquer coisa, contando que celebre uma data nacional. Não em público – ainda o não podemos fazer – mas cada um na sua casa, à sua mesa. Nesses dias colocam-se mais flores nos vasos, decora-se o lustre com verduras, põe –se em evidência a linda velha Bandeira, as Quinas de que sorríamos e que hoje nos enternecem – e depois, todos em família cantamos em surdina, para não cha mar a atenção dos espias, o velho hino, o Hino da Carta... E faz-se uma grande saúde a um futuro melhor!
E há uma consolação, uma alegria íntima, em pensar que à mesma hora, por quase todos os prédios da cidade, a geração que se prepara está celebrando, no mistério das suas salas, dum mundo quase religioso, as antigas festas da Pátria!

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Gostaria que todos reflectíssemos sobre este trecho

Publicado por Joana às fevereiro 16, 2004 07:46 PM

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Comentários

PORTUGAL, por muito que doa, a quem é visado, no teu blog, continuará a ser sempre PORTUGAL.
Tenha-mos ou não, de reiventar uma qualquer revolução independista.
Curioso, é o facto, de os nossos técnicos, gestores, politicos, empreendedores e outros, nunca vestirem, o uniforme para as batalhas que vão enfrentar.
" Numa obra, para um empresário Espanhol, em Portugal, um Engenheiro e uma Arquitecta, andam de fato de trabalho, dia a dia na obra" É obra não é?.

Publicado por: j.gonçalves às fevereiro 16, 2004 10:11 PM

Não tenho qualquer dúvida em acompanhar a sua fé e o seu fervor patriótico. Também não enfileiro com os que proclamam o apocalipse now. Mas, no seu lugar, não punha as mãos no lume pela rapaziada do Beato. O dinheiro tem razões que o coração desconhece.
Porque é que não leva mais longe a sua propensão para a História e ajuda os visitantes do blog a perceberem qual era o status social de TODOS os que sempre se bandearam com os espanhóis em tempos de crise?

Publicado por: (M)arca Amarela às fevereiro 16, 2004 10:13 PM

Bom texto, Joana ! De qualquer forma, não sei até que ponto a crise de valores não terá provocado uma corrupção de tal ordem que ao enfraquecerem-se as finanças, que se tornaram dependentes de grupos restritos, que irá acentuar cada vez mais a dependência do país vizinho. O país há muito que vinha a tornar-se dependente de jogos de interesses, autárquicos, concentração de poderes em determinadas pessoas e empresas, sempre as mesmas, obras adjudicadas quase sempre aos mesmos, pelo que o resultado duma "invasão" económica por parte de Espanha era de todo previsível. Esperemos que fiquem por aí, já que com todos os federalismos a que possamos ser submetidos através da União Europeia, continuo a querer ser português e mandado por portugueses. Um abraço para si e continuação de bons artigos ! Faça um jornal que tem jeito para isto ! Sério !

Publicado por: Palitinho às fevereiro 16, 2004 10:33 PM

"E que tal uma jogada de antecipação e pedirmos nós a incorporação no Reino da Espanha? E se selarmos essa união com o matrimónio de Filipe VI com Ana Sá Lopes (ela já lançou a escada ...) que, pelo menos, não corre o risco de despertar qualquer emoção estética a algum pintor estival?"

Joana :
da Ana Sá Lopes temos a foto no Público. Da Joana não conhecemos nada . Logo , não podemos comparar emoções estéticas !

Publicado por: zippiz às fevereiro 16, 2004 10:36 PM

zippiz: Eu, por enquanto, ainda não solicitei a mão do Príncipe das Astúrias.

Publicado por: Joana às fevereiro 16, 2004 10:49 PM

(M)arca Amarela em fevereiro 16, 2004 10:13 PM:
Não me referia a "toda" a rapaziada do Beato.

Não me parece que haja, ao longo da nossa história, um estrato social predestinado para se "bandear" com os espanhóis.
Durante a crise de 1383-85, parte da nobreza apoiava o rei de Castela, por uma questão de legitimidade feudal. A noção de nacionalidade ainda estava incipiente. A burguesia das cidades, na sua maioria, apoiava o Mestre de Avis. Tendo em conta a época, não me parece isso muito significativo como exemplo geral.

A crise dinástica que levou à união com a Espanha em 1580 não parece exemplar. Parte da nobreza e das forças que poderiam resistir haviam sido liquidadas em Alcácer-Quibir. O país estava exangue. António o Prior do Crato não era uma alternativa com peso suficiente e Catarina de Bragança não tinha força. Mesmo assim houve muitos nobres, assim como populares, que foram executados por apoiarem ou esconderem o pretendente. Mas as pretensões de António o Prior do Crato não tiveram muito eco na nobreza e na burguesia. Os bandos populares que ele conseguiu mobilizar em Lisboa não tinham expressão social nem capacidade militar.

Na revolução de 1640 tiveram papéis preponderantes uma parte muito significativa da nobreza, todo o baixo clero que, durante décadas, nas suas homilias, fustigava o domínio filipino, a burguesia das cidades (nomeadamente a que vivia do comércio com as colónias) e o povo em geral. Pouca gente ficou de fora.

Aquando das guerras civis, quer liberais, quer absolutistas fizeram alianças com os correligionários do outro lado da fronteira.

O iberismo da geração de 70 foi obra de intelectuais "de esquerda" (esquerda da época), mas também não pode servir de exemplo, porquanto se tratava de um iberismo ingénuo, intelectualizado, incapaz de ir à prática.

Você me dirá que estrato social é esse.

Publicado por: Joana às fevereiro 16, 2004 11:16 PM

Acho que o José Manuel de Mello foi demasiado longe no que disse. Por muito mau que o sujeito possa ser, aquilo foi mais um desabafo que uma posição pensada.

Publicado por: Ricardo às fevereiro 16, 2004 11:51 PM

Acusar os empresários de falta de patriotismo por terem vendido por bom preço uma empresa aos espanhóis?
E os portugueses que vão a Espanha encher os depósitos de combustível, deixando no cofre do estado espanhol o dinheiro dos impostos sobre os combustíveis, em vez de deixar no nosso país? Não terão falta de patriotismo?
E os que vão às compras, ou às discotecas?

Publicado por: Rui Pereira às fevereiro 16, 2004 11:55 PM

Joana em fevereiro 16, 2004 11:16 PM
Se voltar atrás e ler mais devagar, perceberá que eu não escrevi «estrato», mas sim «status». As palavras são parecidas, mas os sociólogos americanos, que não apreciam por aí além a terminologia marxista e a luta de classes, fazem uma subtil distinção.
A verdade é que em NENHUM dos momentos que apontou houve alguma espécie de apoio ou adesão do povo à causa espanhola. Não havendo entre o povo apoiantes, fica no ar a pergunta: Qual era o status socio-económico dos apoiantes? Que razões os levaram a fazer a opção que fizeram? Durante a crise 1383-85, por exemplo, quantos e quais se venderam aos espanhóis ( e «venderam», aqui, não surge em sentido figurado)?
Tendo em conta que a especialização histórica é sua, está, certamente, em melhor posição para esclarecer estas dúvidas.
Como diria o diácono, «não havia nechechidade» de qualificar «de esquerda» o grupo da geração de 70.

Publicado por: (M)arca Amarela às fevereiro 17, 2004 12:02 AM

Joana em fevereiro 16, 2004 10:49 PM

e a Sá Lopes solicitou ? mulher coragem !!!

Publicado por: zippiz às fevereiro 17, 2004 12:07 AM

Rui Pereira:
A sua questão de porquê só os empresários, é muito pertinente. Não vale a pena estar a fazer juízos de valor sobre se foi patriótico ou não determinada atitude. Temos é que criar condições para que as coisas funcionem que o resto vem por acréscimo

Publicado por: fbmatos às fevereiro 17, 2004 12:08 AM

Esse texto do Eça é sensacional. Parte dele poderia ter sido publicada agora como se fosse actual. Não conhecia
Isto não desfazendo no texto da Joana. Aquilo sobre a sujeita do Público foi maldade, mas teve piada.

Publicado por: Romeu às fevereiro 17, 2004 12:10 AM

Ó Joana: há que concordar com o Romeu. A prosa do Eça é muito boa e muito actual.
Mas não fique desapontada. Estou plenamente de acordo com o que escreveu

Publicado por: Viegas às fevereiro 17, 2004 12:45 AM

De facto, Joana, a escolha do texto do Eça foi muito a propósito. Parece, como disse um dos comentadores, escrito na época actual, pelo menos alguns dos parágrafos

Publicado por: Hector às fevereiro 17, 2004 01:44 AM

(M)arca Amarela em fevereiro 17, 2004 12:02 AM:
O Antero de Quental não era de esquerda? Um adepto de Proudhon? Mesmo na época actual seria considerado de esquerda. E o Oliveira Martins, o Batalha Reis, etc.?
A nobreza portuguesa que em 1383 apoiou D. Beatriz casada com D. João de Castela não se vendeu. Apoiou o rei de Castela dentro da óptica da vassalagem feudal. Estava errada e essa relação de vassalagem estava a ser ultrapassada pelo conceito de nação, mas isso servirá para a considerar retrógrada e não corrupta.
Aliás, essa nobreza perdeu tudo o que tinha em Portugal, cujos domínios foram distribuídos pela nobreza que apoiou o Mestre de Aviz e por alguma burguesia que foi nobilitada. Por exemplo, a Casa de Bragança foi herdeira das enormes doações que foi objecto Nuno Álvares Pereira que a tornou mais tarde a primeira casa ducal do país.
Os conservadores não são por natureza corruptos, nem os progressistas, virtuosos. São níveis de análise diferentes.
No caso do tempo do Mestre de Aviz, a nobreza reaccionária que apoiou o rei de Castela foi despojada dos seus bens e os que acompanharam o Mestre receberam-nos de mão beijada. Onde haverá mais corrupção?
E na venda dos bens nacionais após as expropriações a seguir ao triunfo de D. Pedro IV? Onde estavam os corruptos? Quem ficou com esses bens por tuta e meia? Foram alguns dos grandes próceres do liberalismo.
Misturar as coisas é errado e perigoso. Há (e houve) muita gente profundamente conservadora, mas eticamente sã. Assim como há (e houve) muitos corruptos entre as gentes progressistas.

Interpretei status social como segmento social a que pertenciam as pessoas em causa. Fiquei com a ideia que, pela forma como escreveu, tinham significado similar.

Publicado por: Joana às fevereiro 17, 2004 08:32 AM

zippiz em fevereiro 17, 2004 12:07 AM :
É verdade, foi num número do Público do qual não me recordo, mas há menos de uma semana. Ela estaria obviamente a brincar ... mas a brincar ... a brincar ...
Leia a transcrição no comentário seguinte:

Publicado por: Joana às fevereiro 17, 2004 08:34 AM

Carta a Felipe das Astúrias e Um Dia de Toda a Ibéria
Por ANA SÁ LOPES
Domingo, 25 de Janeiro de 2004
Felipe, me deja tratar-te así. Eres um muchacho da minha geração. Aliás, o tratamento por tu, podendo eventualmente não condizer com o teu cargo de herdeiro da coroa, é muito espanhol.
Siempre me has agradado muchíssimo. És muito, mesmo muito, guapo e, além disso, o aristocrata tímido que se arrisca a namorar com a Eva Sannum é um estereótipo irresistible. Eu, plebeia, delicio-me com estereótipos.
Não sei se esta carta não virá tarde demais. Devia ter arriscado antes, mas yo también soy una tímida. Nós, los portugueses, somos embiocados, retraídos, recolhidos. No entanto, o teu estereótipo parece-me um notable traço de unión entre os nossos dois países: há em ti muito do sossego lusitano, embora suspeitemos que albergas um toureiro de morte.
Yo sé que já marcaste o casamento com a Letizia. Es guapa, lo reconozco, mas não te dará grande mais-valia política. Un matrimónio com uma asturiana jornalista, divorciada, é trivial. O que te venho propor é, de longe, um projecto muito mais ambicioso, que te colocará en la historia de da Iberia, de la Europa e, provavelmente, do mundo.
Casa comigo.
É assim: começa a haver em Portugal um movimento favorável à União Ibérica. O director do "Expresso", que é o jornal generalista que mais vende no país, e que de há uns tempos para cá todas as semanas alerta contra o risco do domínio espanhol, escreveu ontem que "ser português é muito perigoso" e que nós, portugueses, "hesitamos sobre se valerá a pena o país continuar a existir ou se não será mais sensato integrarmo-nos na Espanha, porque os espanhóis nos governariam melhor". Ele acha que os trinta anos da democracia "puseram em causa todas as nossas certezas" que, dantes, estavam todas arrumadinhas, como deves saber. Vosotros com Franco, nosotros com Salazar, era uma alegria.
Na mesma edição do "Expresso" (pede aos teus assessores para te mandarem o recorte), um dos grandes capitalistas portugueses, José Manuel de Mello, não hesita: "O que devíamos fazer era juntarmo-nos rapidamente a Espanha. Devia haver uma inteligência política que fizesse isso, mas muito rapidamente".
Já viste a oportunidade histórica, Felipe? Temos que estar preparados para alguma oposição - é natural que Jorge Sampaio se enfade, porque é chefe de Estado, mas pode ser que, passada a primeira fúria e em nome do consenso, acabe a promulgar tudo.
Casa comigo, Felipe. Convidamos para padrinhos o Saraiva e o Mello, fazemos a boda em Olivença e, não tardará, teremos todo o Portugal rendido ao neofelipismo. Farei de ti, muito em breve, o Felipe IV de Portugal, o Felipe de toda a Espanha enfim reunificada, o Felipe da Ibéria. Diz que sim.


Ela só se enganou no facto de ele, se subir ao trono, não ser Felipe IV, mas Felipe VI.

Publicado por: A Felipe das Astúrias às fevereiro 17, 2004 08:35 AM

A Sá Lopes deve andar carente. Há dias, no Público, fazia ma declaração de amor ao Brad Pitt!

Publicado por: Resende às fevereiro 17, 2004 02:05 PM

Não acredito que Bush e Blair estivessem absolutamente convencidos que o Saddam tinha armas. Quando muito achariam que havia alguma hipótese dele as ter e exageraram os relatórios que tinham.

Publicado por: jfpereira às fevereiro 17, 2004 10:42 PM

Gostei muito de ler, quer o escrito da Joana, quer o do Eça que eu não conhecia.
Muito da nossa relação com o governo mantém-se passados mais de cem anos. Não mudámos muito

Publicado por: VSousa às fevereiro 17, 2004 11:07 PM

CARA JOANA ,

para quando um comentário sobre a batalha televisiva/campal que decorre no seio do PPD e da maoiria , acerca das presidenciais ? é um gozo !

ou só temos direito a Rosas ?
a propósito , esta semana não escreveu nada sobre o homem !

Publicado por: zippiz às fevereiro 17, 2004 11:46 PM

zippiz, você não diz nada ao pedido da Sá Lopes para o casório com o Felipe?

Publicado por: Hector às fevereiro 18, 2004 12:32 AM

hector
aprecio os monárquicos na sua luta mas, gosto mais do estilo republicano da SLopes !
mas concluir , como a Joana quase tentou fazer , que Sá Lopes se estava "a fazer" ao filipe ...
só podia ser a brincar !

Publicado por: zippiz às fevereiro 18, 2004 12:41 AM

A Ana Sá Lopes é uma gaja com muita classe e a Joana só tem inveja,

Publicado por: Cisco Kid às fevereiro 18, 2004 12:48 AM

Alguns comentadores disseram uma coisa interessante. Os portugueses, sempre que podem, compram produtos espanhois. Os mais perto da fronteira vão encher os depósitos de gasolina a Espanha, deixando nos cofres deles o imposto.
Alguém diz que eles são anti-patrióticos? Então porquê os empresários?
Não será hipocrisia?

Publicado por: Sa Chico às fevereiro 19, 2004 09:08 AM

Pois é, o pessoal vai comprar coisas a Espanha. Os que moram mais perto da fronteira ou os que têm oportunidade vão meter gasolina a Espanha deixando lá os impostos em vez de os deixar cá. Todos fazem isso, mas quando os empresários vendem uma empresa aos espanhóis são anti-patriotas e depois aparecem uns idiotas a dizer que o capital não te pátria.
Por essa ordem de ideias o trabalho também não tem pátria, somos todos uns vendidos.

Publicado por: Ventura às fevereiro 21, 2004 11:15 PM

Se somarmos o imposto sobre os combustíveis que milhares de portugueses deixam em Espanha teremos um valor muito maior que o de uma venda de um empresário. Além do que neste caso ele trocou uma coisa por outra, enquanto que os que enchem os depósitos em Espanha deixam lá toda a parte do imposto a troco de nada.

Publicado por: Ventura às fevereiro 21, 2004 11:25 PM

Há muita hipocrisia em tudo isto. De facto acusam-se uns e acha-se o que os outros fazem natural

Publicado por: Rui Sá às fevereiro 23, 2004 09:07 AM

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