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janeiro 19, 2004

Reforma de mentalidades

Bagão Félix a propósito do incumprimento, por parte de algumas empresas, da legislação sobre a maternidade disse que tem que haver «uma mudança mais rápida das mentalidades». A propósito de alguns favorecimentos na colocação de professores na Zona Centro, e da “cunha” que permanece endémica na Administração Pública, também se referiu que tem que haver «uma mudança das mentalidades». Quando se fala da persistência da evasão fiscal igualmente se insiste que tem que haver «uma mudança das mentalidades» nos contribuintes na sua relação com o Estado.

Toda a população, ao que parece, necessita «uma mudança rápida de mentalidades». São os professores, os alunos do ensino básico e secundário e os pais destes; são os professores e alunos universitários; são os funcionários públicos e quem recorre aos serviços públicos; são os contribuintes e quem lhes gasta o dinheiro; são os empresários e os trabalhadores; são os condutores rodoviários e os peões; são os médicos e os doentes; são os jornalistas e quem os lê ou escuta; são os jogadores de futebol do Benfica e quem assiste aos seus jogos; etc.; etc.

Portanto, o nosso problema é o da reforma de mentalidades. Se reformarmos as mentalidades passaremos a educar adequadamente os nossos filhos que se tornarão alunos cumpridores, ensinados por professores competentes e dedicados; a Universidade verá o seu numerus clausus duplicado ou triplicado pela acção devotada dos docentes e tornar-se-á uma escola de excelência, onde alunos empenhados aprenderão com professores disponíveis a tempo inteiro para o ensino e investigação; os funcionários públicos trabalharão com eficiência e quem os utiliza não mete «cunhas» para acelerar os processos ou para obter favorecimentos pessoais, «cunhas» a que, aliás, a função pública seria doravante imune; os contribuintes seriam diligentes e sinceros a preencher as declarações de impostos (que deixariam de ser alteradas e armadilhadas anualmente) e a pagá-los nos prazos legais; os empresários passariam a ter visão estratégica de mercado, apostando na inovação e na qualificação laboral e os trabalhadores, cumpridores e dedicados, empenhar-se-iam na sua formação contínua e na melhoria da sua qualificação profissional; os condutores rodoviários cumpririam o Código da Estrada, rolando em estradas bem sinalizadas e sem pontos negros, mantendo um permanente cuidado com o estado de segurança da sua viatura, enquanto os peões seriam disciplinados e não atrapalhariam o trânsito fazendo-se atropelar desnecessariamente; os médicos dedicar-se-iam a tempo inteiro à sua missão, nos locais onde são estipendiados, enquanto os doentes não inundariam os serviços com acessos de hipocondria aguda; os jornalistas deixariam de de ser mensageiros do macabro e da catástrofe, pressionados aliás por um público entretanto empenhado na escolha da qualidade informativa e cultural da comunicação; os jogadores de futebol do Benfica tornar-se-iam ... bem ... não exageremos ... nem tudo será possível.

Está feito! Reformemos as mentalidades!

Mas como? As mentalidades não se podem reformar por decreto governamental. Nem por lei aprovada na AR. Ainda menos por mensagens do PR. Nem por campanhas televisivas.

O Homem faz-se a si próprio, na acção. O Homem aprende com o fazer, com a experiência. Im Anfang die Tat, escrevia Goethe. O civismo, a educação, a solidariedade social, a deontologia profissional, o sentido do dever, aprendem-se exercitando-os.

As empresas mais dinâmicas têm melhorado a sua competitividade e aumentado os seus lucros, o seu nível de emprego e o bem estar dos seus funcionários introduzindo procedimentos no seu funcionamento e no processo produtivo, e uma estrutura organizativa adequada, que melhoram a qualidade do serviço prestado aos clientes, a sua eficiência produtiva e o âmbiente de trabalho. É um processo complexo e iterativo que envolve sacrifícios, incompreensões, mas que se for seguido com determinação e empenho, acaba por produzir frutos.

Se numa empresa este desiderato é complexo, na administração pública, com situações tão diferenciadas como a educação, saúde, justiça, administração central, regional e local, institutos públicos, etc., sê-lo-á muito mais. Há que haver uma grande determinação governativa, coragem para arrostar com as incompreensões, dúvidas e receios de quem vê os seus interesses imediatos atingidos. Interesses ilusórios porque se baseiam na ineficiência do aparelho de Estado e no desperdício geral de recursos. Interesses apenas de valor relativo perante uma situação geral de baixo índice de desenvolvimento social.

E como é difícil e leva tempo, tem que se começar já.

Publicado por Joana às janeiro 19, 2004 08:33 AM

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Comentários

MAIS UNS MILHÕES PARA INOVAÇÃO.... É SÓ AREIA PARA OS OLHOS DOS PORTUGUESES. VOU VER É MAIS UMAS BOMBAS A CIRCULAR PELOS NOSSOS CAMINHOS. GASTEM ANTES O DINHEIRO NO ARRANQUE DE ESCOLAS PROFISSIONAIS E DEIXEM-SE DE PALERMICES.

OS EMPRESÁRIOS PORTUGUESES NEM O POUCO QUE SE INVENTA SÃO CAPAZES DE POR EM PRÁTICA.

www.invento.web.pt

Publicado por: fernando nogueira gonçalves às janeiro 19, 2004 03:04 PM

Em suma: Ctrl+Alt+Del e depois ResetC:
Ao país global.

Um abração do
Zecatelhado

Publicado por: Zecatelhado às janeiro 19, 2004 04:38 PM

Cara Joana,

Não sei se tem conhecimento que a Melanie regressou ao Online...
Como já foi dito antes, a Joana também faz muita falta...
Conforme disse no Online, não acredito que a Joana tivesse saído, exclusivamente por minha causa - nunca me daria tanta importância - mas gostaria que soubesse que não lhe podendo prometer a minha concordância com as suas ideias, lhe prometo menos agressividade e mais compreensão...

Publicado por: Anarca às janeiro 19, 2004 06:32 PM


Cara Joana,

Pelo menos dê uma olhada ao comentário "Iraque em debate na ONU" do Online...

Publicado por: Anarca às janeiro 19, 2004 06:56 PM

A reforma das mentalidades é a desculpa que dão aqueles que não sabem ou não querem resolver os problemas.
É uma desculpa fácil, pois se endereça o problema para os outros.
Reconheço porém que são problemas de difícil solução e morosa

Publicado por: Hector às janeiro 19, 2004 08:43 PM

Anarca, quero tranquilizá-lo:

1 - Estive a listar cuidadosamente os nicks que me fariam abandonar o Expresso, se eu fosse de sair aos empurrões de qualquer sítio, e você não estava lá. (aliás ... eu sempre achei que o Goebbels era um político com notáveis dotes oratórios! ... Anarca ... onde vai? Não fuja do online!)

2 - Aqueles que lidam comigo no online há mais tempo, sabem que eu nunca virei a cara à luta. Nunca daria a satisfação a alguém de sair por causa dele. Eu jogo a sério mesmo a nicks (perdão, a feijões)

É mesmo uma questão de falta de tempo. O tempo é um recurso escasso e em épocas de crise ...

Publicado por: Joana às janeiro 19, 2004 08:48 PM

E obrigada pela sua lembrança.
Como escreveu o re-tombola ... você está a ficar sentimental.

Publicado por: Joana às janeiro 19, 2004 08:49 PM

Caro Zecatelhado em janeiro 19, 2004 04:38 PM
Isto só vai com um novo sistema operativo precedido de uma formatação do HD de baixo nível

Publicado por: Joana às janeiro 19, 2004 08:51 PM

Hector: tem toda a razão!

Publicado por: Joana às janeiro 19, 2004 08:51 PM

O problema é que agora não é possível a reforma antecipada. Temos que esperar uma data de anos pela reforma. O memso vai acontecer às mentalidades

Publicado por: Gros às janeiro 19, 2004 10:19 PM

Esta gaja agora deu em anarco-capitalista.

Publicado por: Cisco Kid às janeiro 20, 2004 12:32 AM

Caro Zecatelhado,

Com "ResetC" corre-se o risco de repetir tudo novamente.

Cairíamos no "eterno retorno" de Nietzsche ...

Lembra-se da quarta tese dele?

«Dividir o mundo em "verdadeiro" e "aparente", quer à maneira do cristianismo, quer à maneira de Kant (em último caso, um cristão insidioso) é unicamente uma sugestão da décadence – um sintoma da vida moribunda... Que o artista aprecie mais a aparência do que a realidade não constitui uma objecção contra esta afirmação. Pois, "a aparência" significa aqui ainda a realidade, só que seleccionada, reforçada, corrigida... O artista trágico não é nenhum pessimista – diz sim a todo o misterioso e terrível, é dionisíaco...»

Pois é...

Reformar não pode ser sinónimo de repor...

Publicado por: re-tombola às janeiro 20, 2004 04:16 AM

Os sindicatos também precisam de reformar as mentalidades.
A greve de hoje foi um fiasco. Ainda por cima à 6ª feira: desacredita os grevistas.

Publicado por: Mocho às janeiro 24, 2004 12:15 AM

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