Clara, Eça e o bei de Tunes
Riamos, minha cara Clara, riamos aqui a este canto, abraçadas uma à outra! Como se vê, estes honrados comentadores ignoram as amarguras, as necessidades do jornalismo ... a quererem que não plagiasses! Ingénuos! Se não plagiasses, não podias fazer os artigos: e tinhas forçosamente que os fazeres!
Eu conheço essa situação, Clara: é medonha. Na véspera dizes ao Director da Visão, com a voz a tremer:
Palavra de honra. Amanhã tens lá o artigo, first thing in the morning (a Clara está muito anglo-saxónica...). Juro-te pela salvação do meu ego!
E lá chega a hora de entregar. E as folhas ali estão, lívidas, vazias: é necessário enchê-las com coisas extraídas do nosso interior.
É trágico. A parte da carcassa humana a que primeiro se recorre é ao cérebro, depósito de ideias, adjectivos e teorias; sacode-se o crânio nada sai do crânio.
Maldição! Recorre-se então ao peito, asilo dos afectos e sentimentos generosos. Arranha-se convulsivamente o peito o peito fica mudo como o crânio.
Inferno! E então os crentes rezam à Virgem e os ateus invocam a morte, a doce aniquilação da matéria. Sabes o que fez o Eça numa destas agonias? Agarrou ferozmente na pena e deu uma tunda desesperada no bei de Tunes!
Clara, nós vivemos uma época mais fácil. A ti bastou-te ir à Net . A golpes de google, The New Yorker, altavista translations, e outras ferramentas de tecnologia avançada, lá conseguiste sobreviver à hora fatal da prometida entrega do artigo