« Um país paralelo | Entrada | A Economia Mundial em transe »

dezembro 17, 2003

Teses e Antíteses

O meu artigo “Nós e a nossa Negação” causou um frémito de emoção e desconforto em alguns dos meus leitores.

Alguns sentiram-se, de albornoz e turbante, transplantados para longe, nas cálidas e tranquilas noites do deserto Sírio, recolhidos nas tendas, à luz bruxuleante de uma lamparina, entretidos em fabricar, com uma paciência bem oriental, engenhos artesanais, na esperança longínqua, mas persistente, de os atirarem para debaixo de uma coluna de blindados yankees, enquanto lá fora a cáfila de camelos, que apascentavam, remoía, beiços descaídos e baba pendente, os míseros cardos que haviam colhido. De tempos a tempos o silêncio do deserto era alvorotado pelo espirrar convulsivo dos camelos, vítimas de uma persistente rinite alérgica, provocada pelo cheiro dos plásticos e restantes aditivos explosivos, e impacientes que alguém lhes comprasse um vaso constritor, em tamanho familiar, para lhes assegurar algum alívio.

Outros acorreram, céleres, a alugarem o filme de Oliver Stone sobre Fidel, “Fidel Castro - El commandante”, para se reconciliarem com o Fidel e os havanos, e para ouvirem, para seu refrigério, que "em 43 anos de revolução cubana não houve um único acto de tortura". Que consolação arrebatadora ver aquele encadeamento de planos cheios de ritmo, filmado com quatro câmaras em simultâneo! As respostas eram curtas e superficiais, mas reconfortantes.

Os mais fatalistas, cientes da irreversibilidade do destino e da ubiquidade do profeta, encetaram uma melopeia triste e pungente, entoando surahs, versículos corânicos, enquanto pensavam como iriam cumprir os ditames da Shari’a.

Mas houve também quem ficasse indignado por associações, alegadamente contra-natura, que eu teria insinuado. A esses, Joerg Haider, e garanto que não lhe pedi nada, encarregou-se de responder, ao declarar ontem que é «difícil escolher entre Bush e Saddam». «Ambos violaram o direito internacional, e ambos agiram contra os direitos humanos»

E todavia, o meu pensamento era claro. Quem nos nega, faz parte de nós. É importante para nós. É necessário ao nosso aperfeiçoamento. E quando escrevo “nosso” refiro-me aos “nós” e aos “não-nós”.

Toda a ideia tem três momentos: num primeiro momento, apresenta-se a si própria (a tese); num segundo momento, opõe-se a si mesma (a antítese); e, finalmente, regressa a si mesma superando tese e antítese (a síntese). Como então escrevi, “Hegel e Marx concordaram nisso. Quem sou eu para discordar”. E acrescentei que “é neste exercício de tentar manter e tentar destruir, que reside o segredo do nosso aperfeiçoamento, da nossa prosperidade. Construímo-nos a nós próprios lutando contra os factores da nossa destruição. Adestrámo-nos na superação dos factores de aniquilamento”.

A evolução da nossa sociedade precisa desses germes de aniquilamento. Os movimentos milenaristas que ameaçaram a sociedade feudal com insurreições sucessivas, pretendiam destruir essa sociedade, mas não tinham nada de concreto a oferecer, para além de quimeras utópicas. Todavia, embora vencidos, a sua luta ajudou ao aperfeiçoamento dessa sociedade e ao aparecimento de forças mais consistentes, capazes de liderar esse aperfeiçoamento e posterior transformação.

O sistema capitalista saído do casulo feudal como libertação das coacções económicas e sociais do Ancien régime, tornou-se rapidamente um dos regimes mais desprezados e criticados da história da humanidade. Todo o século XIX está repleto de movimentos que rejeitam e desprezam esse sistema – fourieristas, falansteristas, anarquistas, sindicalistas, comunistas. No século XX também a extrema direita, nazis e fascistas atacaram a plutocracia. A fúria purificadora de destruição do sistema capitalista foi alimentada por inúmeras correntes, conheceu muitas vicissitudes e tem-se metamorfoseado à medida que os seus conceitos têm sido invalidados pela história e pela prática.

O que há de interessante é que são precisamente os que vivem no sistema capitalista que o vituperam. Dizem que capitalismo gera pobreza e exclusão social. Ora, ao contrário, nunca nenhum sistema teve tanta preocupação com os desfavorecidos. Nunca se fizeram tantas leis, organizações e esforços para combater a pobreza e a exclusão. Foi o regime capitalista, desde que funcione de acordo com as suas concepções teóricas, que retirou as populações da situação de carência extrema em que viviam desde sempre. Hoje, só existe miséria generalizada nos países onde, por razões variadas, o sistema capitalista não funciona, ou apenas existe um arremedo ao arrepio das suas bases teóricas de funcionamento.

O sistema capitalista vigente nos países ocidentais não cria desigualdade e injustiça. A disparidade de níveis de vida, que era abissal em todos os outros sistemas, viu-se mitigada, justamente, em virtude da liberdade económica e política em que vivemos. O sistema capitalista vigente nos países ocidentais criou a classe média, que hoje constitui a esmagadora maioria das nossas sociedades e que é a base da nossa prosperidade. A grande fonte de prosperidade, tolerância e liberdade do Ocidente é a existência dessa numerosa classe média. É ela a base da democracia e do estabelecimento de consensos sociais. A disparidade actual é entre países capitalistas e não capitalistas, pois a sociedade capitalista é a mais igualitária de sempre.

É evidente que há instabilidade e alternâncias de euforia e recessão. Que a necessidade de manter a economia competitiva, para assegurar a prosperidade social, implica reajustamentos, falências, despedimentos dos menos qualificados ou com a qualificação errada. Mas, apesar de tudo isso, o capitalismo é melhor que qualquer outra alternativa que a humanidade conheceu até hoje.

E é a melhor porque tem sabido aperfeiçoar-se, ao defender-se dos seus germes de destruição. E soube-se defender conseguindo manter os mecanismos de mercado e a liberalização da vida económica, indispensáveis ao aumento da sua prosperidade e mitigar, simultaneamente, o darwinismo social que esses mecanismos provocavam.

Mas esse aperfeiçoamento tem exigido, e continuará a exigir, que ele seja criticado, que os seus germes de destruição continuem activos. Todavia, é a própria lógica de funcionamento do sistema, a sua tolerância, a sua liberdade, que permite a actividade desses forças de destruição. Isto é, a própria lógica do funcionamento capitalista cria as condições do seu próprio aperfeiçoamento.

Para Hegel existe uma "astúcia da razão", que utiliza a humanidade, imbuída que está, regra geral, da sede do poder, da glória, da ambição, da justiça social, para através destes objectivos, uns egoístas, outros altruistas, trazer para a humanidade uma liberdade maior, um estado superior de civilização. Hegel foi o filósofo do liberalismo triunfante, assim como Adam Smith, o economista do capitalismo nascente. A “mão invisível” que gera, independentemente das vontades de cada um dos agentes económicos, equilíbrios nos mercados dos bens e do trabalho, tem algo a ver com a "astúcia da razão" que faz com que haja o aperfeiçoamento do espírito e da sociedade a caminho de uma liberdade cada vez mais plena.

Sabe-se que Marx criticou a concepção de Hegel sobre o motor daquela transformação, que em Hegel seria a Ideia, a Razão, e em Marx as forças produtivas e as relações de produção. Mas não vou repetir o que escrevi atrás, no artigo “Hegel e Marx”.

Portanto, a todos os que ficaram irritados pelo facto de se sentirem incluídos em algumas das categorias que eu estabeleci no artigo “Nós e a nossa negação”, venho aqui trazer uma (muitas!) palavra abonatória. Vocês são uma porção imprescindível do todo que somos “Nós e a nossa negação”, porção igualmente indispensável ao aperfeiçoamento de todos nós e da nossa sociedade.

Sem vocês, o sistema cairia, pouco a pouco, no marasmo, sem incentivos para se aperfeiçoar.

Em nome da Sociedade Ocidental, os meus agradecimentos.

Publicado por Joana às dezembro 17, 2003 07:44 PM

Trackback pings

TrackBack URL para esta entrada:
http://semiramis.weblog.com.pt/privado/trac.cgi/105029

Comentários

Eh demolidor, Joana, para os que lhe chamaram fanatica no texto anterior.Bem humorado e giro.
O texto anterior caracterizava bem o combate que hoje se trava.

Muitos dos que aplaudem os tiranos, e agora choram lagrimas de crocodilo, decerto nao se apercebem do abismo para onde seriamos todos levados se o fundamentalismo triunfasse.

Publicado por: Filipa Zeitzler às dezembro 17, 2003 11:53 PM

Uma resposta com muito humor, mas muito sólida a gente que tem dificuldade de assumir determinadas opções

Publicado por: Viegas às dezembro 18, 2003 12:37 AM


Cara Joana,

Cabe-me a vez de lhe retribuir o "Si non é vero..."

Se não podemos encontrar uma primeira causa, podemos pelo menos, encontrar uma razão...

E como a razão se explica por si (ensina Hegel), todas as coisas encerram em si o seu próprio contrário.

Ahhhh.. a antítese, finalmente!

O mundo oriental, o mundo grego e o mundo romano...

Mundos... enfim!

Mas Hegel, previa também o "mundo germânico", o mundo " a haver"...

Joana, será o tal "mundo germânico" de Hegel aquele em que vemos Bush a empunar o "facho"?

Hegel escreveu:

"Um governo não é obrigado a exprimir a vontade do povo. O povo nunca sabe o que quer."

A dualidade em Hegel não é mais que a dualidade de todas as religiões: o bom (bem) e o mau (mal).

Enfim, o cinzentismo...

Que a Joana escreva linhas infindas sobre o tema e que eu lhe responda só pode ter uma razão: e ben trovato!

Publicado por: re-tombola às dezembro 18, 2003 04:08 AM

Como escreve Pacheco Pereira hoje:
"Até anteontem, as críticas eram sobre a incapacidade dos EUA prenderem Saddam (e Bin Laden), matéria altamente valorizada como símbolo do fracasso americano; hoje, que o prenderam, a prisão é trivial, sem importância e até, em bom rigor, contraproducente. Era melhor que Saddam continuasse livre para não privar Bush do seu "inimigo de estimação"... Hoje, fabrica-se uma nova agenda de reclamação antiamericana pós-prisão: em particular dominada pelas circunstâncias em que Saddam será julgado. E isto não acabará nunca, a cada coisa que aconteça, falta sempre alguma coisa por acontecer."

Publicado por: Fred às dezembro 18, 2003 11:30 AM

Censurado

Publicado por: BOB ESCARRO às dezembro 18, 2003 11:41 AM

Censurado

Publicado por: BOB ESCARRO às dezembro 18, 2003 11:44 AM

Joana é uma putalhona reles.

Publicado por: BOB ESCARRO às dezembro 18, 2003 11:44 AM

Censurado

Publicado por: BOB ESCARRO às dezembro 18, 2003 11:44 AM

Censurado

Publicado por: BOB ESCARRO às dezembro 18, 2003 11:44 AM

Censurado

Publicado por: BOB ESCARRO às dezembro 18, 2003 11:44 AM

Joana é uma putalhona reles

Publicado por: BOB ESCARRO às dezembro 18, 2003 11:44 AM

Censurado

Publicado por: BOB ESCARRO às dezembro 18, 2003 11:44 AM

Censurado

Publicado por: BOB ESCARRO às dezembro 18, 2003 11:44 AM

Censurado

Publicado por: BOB ESCARRO às dezembro 18, 2003 11:44 AM

Censurado

Publicado por: BOB ESCARRO às dezembro 18, 2003 11:44 AM

Joana é uma putalhona reles

Publicado por: BOB ESCARRO às dezembro 18, 2003 11:45 AM

Censurado

Publicado por: BOB ESCARRO às dezembro 18, 2003 11:45 AM

Censurado

Publicado por: BOB ESCARRO às dezembro 18, 2003 11:45 AM

Censurado

Publicado por: BOB ESCARRO às dezembro 18, 2003 11:45 AM

Joana é uma putalhona reles.

Publicado por: BOB ESCARRO às dezembro 18, 2003 11:45 AM

Censurado

Publicado por: BOB ESCARRO às dezembro 18, 2003 11:45 AM

Censurado

Publicado por: BOB ESCARRO às dezembro 18, 2003 11:45 AM

Censurado

Publicado por: BOB ESCARRO às dezembro 18, 2003 11:45 AM

Censurado

Publicado por: BOB ESCARRO às dezembro 18, 2003 11:45 AM

Censurado

Publicado por: BOB ESCARRO às dezembro 18, 2003 11:45 AM

Censurado

Publicado por: BOB ESCARRO às dezembro 18, 2003 11:45 AM

Censurado

Publicado por: BOB ESCARRO às dezembro 18, 2003 11:45 AM

Censurado

Publicado por: BOB ESCARRO às dezembro 18, 2003 11:45 AM

Censurado

Publicado por: BOB ESCARRO às dezembro 18, 2003 11:45 AM

Há gente muito ordinária.
Estes não são a "nossa" negação ... ou serão?

Publicado por: Adalberto às dezembro 18, 2003 11:59 AM

Isto de facto é demais. Há gente que não tem qualquer senso.
Este comentador ordinário não é apenas ordinário, é absolutamente destituído de senso.

Publicado por: Gros às dezembro 18, 2003 12:15 PM

Isto de facto é demais. Há gente que não tem qualquer senso.
Este comentador ordinário não é apenas ordinário, é absolutamente destituído de senso.

Publicado por: Gros às dezembro 18, 2003 12:15 PM

Parece que além do pessoal descrito pela Joana no início do post, havia também este sevandija.

Publicado por: Hector às dezembro 18, 2003 12:38 PM

O seu post produziu, neste comentarista estúpido, um frémito de ordinarice!

Publicado por: fbmatos às dezembro 18, 2003 12:55 PM

É caso para dizer: cada post desperta os frémitos que merece.
# : - ))

Publicado por: (M)arca Amarela às dezembro 18, 2003 02:16 PM

Há os que ajem frontalmente, há os que ajem por omissão e há os que ajem nas entrelinhas.

Não sei quais deles são os piores

Publicado por: Novais de Paula às dezembro 18, 2003 03:15 PM

A intolerancia politica e a ordinarice andam de maos dadas.
Este espectaculo visto daqui, da Alemanha, da uma imagem triste de Portugal.
Espero que seja um caso isolado.

Publicado por: Filipa Zeitzler às dezembro 18, 2003 05:35 PM

Exma D.Joana, mui digna embaixadora da Sociedade Ocidental

Lamento não poder dizer em que categoria me sinto situado, quanto mais não seja porque não li o post «nós e a nossa negação». E, para lhe falar com franqueza, não me sinto muito estimulado para o ir ler. Há elocubrações que já são demasiado para a minha vista cansada.
Com todo o respeito pela senhora embaixadora, parece-me um pouco ligeiro meter no mesmo saco as economias e as organizações políticas e administrativas de TODOS os países capitalistas.
Pelo que tenho visto e lido, há diferenças substanciais entre a Europa e os Estados Unidos, ou, até, entre os Estados Unidos e o Canadá. No que respeita à segurança social, as diferenças entre a Europa e os EUA são tantas que dir-se-ia estarmos perante sistemas económicos diferentes.
Mesmo na Europa, entre Portugal e a Finlândia ou entre a Itália e a Inglaterra, as diferenças encheriam um compêndio.
Vem isto ao caso de a senhora embaixadora da Sociedade Ocidental ter escrito que

«...Dizem que capitalismo gera pobreza e exclusão social. Ora, ao contrário, nunca nenhum sistema teve tanta preocupação com os desfavorecidos. Nunca se fizeram tantas leis, organizações e esforços para combater a pobreza e a exclusão. Foi o regime capitalista, desde que funcione de acordo com as suas concepções teóricas, que retirou as populações da situação de carência extrema em que viviam desde sempre.»

Li isto com algum espanto, devo confessar. Certamente por influência de leituras subversivas, sempre pensei que o combate à pobreza e à exclusão se deve, em primeira análise, à acção dos sindicatos e das igrejas. Eu, vil e anónimo apoiante das forças ocultas, sempre pensei que a pobreza e a exclusão são, precisamente, fruto do sistema de produção capitalista. Aliás, essa ideia está presente em algumas encíclicas e constituiu o cerne do concílio Vaticano Segundo. Tentações do diabo, sem dúvida.
Antes de terminar, não quero deixar de manifestar a minha ignorância no que diz respeito à entidade que V.Excia, tão prestimosamente, representa. De cultura ocidental já ouvi falar, mais relacionada com a «herança judaico-cristã» do que com o modo de produção capitalista. Não como disso, mas, enfim, é um cozinhado que já vi servir muitas vezes. Agora isso de «Sociedade Ocidental» (com maiúsculas e tudo) é coisa que não me entra no bestunto. A não ser que se trate de uma Sociedade Ocidental, SA. Aí já não digno nada. E até compreendo o seu título de embaixadora.
Seu humilde não súbdito
(M)arca Amarela

Publicado por: (M)arca Amarela às dezembro 18, 2003 06:03 PM

Ele há coincidências...
Imagine o que eu acabo de ler num forum americano:

There has been a lot of news lately about what is happening with Medicare, thanks to the powers that be in Washington. They have essentially given it over to Big Business and the Pharmaceutical companies. There was even a big demonstration by members of AARP, protesting the new bill, because it appears AARP sold out, and looking at the depth of their roots in the insurance biz lately, one has to wonder.

On Monday, please call your member of Congress. If he or she voted for this bill, call to register your protest. If the member voted against the bill please call and thank them for standing up for our principles regarding what Medicare is, a program for the people not for the insurance industry and the drug companies. Don't forget this: The majority of seniors oppose this bill -the polls show that - and we need to be strong and mobilize that opposition in on-going protest and to push for the government to have the right to negotiate prices, re-import drugs from Canada and repeal provisions requiring competition between Medicare and private companies.

É só protecção dos desfavorecidos... # : - ))

Publicado por: (M)arca Amarela às dezembro 18, 2003 06:12 PM

Podemos então considerar que a Fome , o Desemprego , a Pobreza , a não-Saúde , a não-Justiça , a não-Educação e mais não sei quantos "nãos" , são tudo , e só , Efeitos Colaterais do Capitalismo ! Certo?

Publicado por: zippiz às dezembro 18, 2003 07:39 PM

(M)arca Amarela em dezembro 18, 2003 02:16 PM
Estimado comentarista:
A minha frontalidade impede-me de dizer que você me surpreendeu com o que escreveu.
Você mostrou-se igual a si próprio.

Publicado por: Joana às dezembro 18, 2003 08:18 PM

(M)arca Amarela em dezembro 18, 2003 06:03 PM
Exmo Sr. Comentarista
O que eu escrevi, como você citou, foi que nunca nenhum outro regime conseguiu tanta igualdade social e tamanha diminuição da pobreza e da exclusão social.

Basta comparar as sociedades capitalistas com as sociedades que a precederam, com os regimes ditos “socialistas” e com os regimes terceiro-mundistas que começaram por se intitularem socialistas ou a caminho de o serem, e hoje não passem de regimes corruptos, onde o mercado não funciona, impedido por uma burocracia autoritária e venal.

Não escrevi que não existe pobreza e exclusão social no regime capitalista. O que disse foi que era incomensuravelmente menor que em qualquer outro regime que se conheça.

Quero ainda lembrar que o único regime onde os sindicatos funcionam é o regime capitalista, “desde que funcione de acordo com as suas concepções teóricas” (como escrevi). Nos regimes ditos “socialistas” eram correias de transmissão do poder e nos regimes terceiro-mundistas é o que se sabe.

Como escrevi, e repito: “Hoje, só existe miséria generalizada nos países onde, por razões variadas, o sistema capitalista não funciona, ou apenas existe um arremedo ao arrepio das suas bases teóricas de funcionamento.”

Publicado por: Joana às dezembro 18, 2003 08:20 PM

zippiz em dezembro 18, 2003 07:39 PM
Não escrevi que não existe pobreza e exclusão social no regime capitalista. O que disse foi que era incomensuravelmente menor que em qualquer outro regime que se conheça.

Publicado por: Joana às dezembro 18, 2003 08:23 PM

Entrei há minutos neste blogue com vontade de brincar um pouco com a Joana a propósito de teses e antíteses... mas a boa disposição passou-me.
Sinto-me triste, humilhado, zangado, e com vergonha de ter 2% de diferença genética em relação aos chimpanzés.
De facto, o que eu queria ser neste momento era chimpanzé: assim não pertenceria à mesma espécie que o autor ou autora da prosa torpe acima afixada.

A si, Joana, envio-lhe um abraço um pouco mais peludo do que o habitual. Um abraço sem palavras, de primata a primata.

Publicado por: Zé Luiz às dezembro 18, 2003 11:16 PM

Zé Luiz:
Brinque à vontade e não perca a boa disposição. Aqueles comentários são perfeitamente ridículos e só menoscabam quem os produz.
Eu nem os apaguei!
Obrigada pelo abraço, apareça sempre e não ligue a mentecaptos.

Publicado por: Joana às dezembro 18, 2003 11:40 PM

"É caso para dizer: cada post desperta os frémitos que merece."

Eu sei que você é bem capaz de melhor do que isto, ó MA.

É rasteiro demais principalmente vindo de quem tem outros e melhores argumentos.

Publicado por: Marapião às dezembro 19, 2003 02:57 AM

Bom, a brincadeira era declarar-me ainda mais ofendido do que antes. Já não bastava ver-me vestido, «malgré moi», de turbante e albornoz, desenterrando espingardas da areia a tramando bárbaras vinganças contra os infiéis; e de camuflado e boina, livrinho vermelho na mão, pelas sendas dos Andes, organizando o julgamento popular dalgum professor, juíz ou sargento da polícia; e tambem, assíduo e ubíquo, pelos corredores do Kremlin, de gorro de pele e fato mal talhado, segredando intrigas ao ouvido de Estaline - era preciso vir a Joana acusar-me de fazer todas essas malfeitorias ao serviço do sistema capitalista e liberal.

Depois lembrei-me de certas leituras da Joana. Se o próprio Diabo existe «ad majorem Dei gloriam», talvez não seja tão pejorativo como isso ter alguma afinidade com o Satanás de Milton.

Um pouco mais a sério: nem em relação à dialética hegeliana, nem à marxista, se pode dizer que a antítese conduza ao mero aperfeiçoamento da tese, mas sim à sua superação, que é a síntese. A síntese entre o capitalismo e a sua inevitável negação não será um capitalismo melhorado, mas outra coisa qualquer que não sabemos o que é, mas sabemos o que não é.

É certo que o comunismo soviético - a que muitos chamaram «capitalismo de Estado», não nos esqueçamos - contribuiu, e muito, para que o capitalismo se aperfeiçoasse. Isto explica, de resto, que o sistema capitalista tenha atingido os seus dias de glória em plena Guerra Fria - O Estado Social, os desembarques na Lua, o Concorde, a descolonização, o projecto europeu, a democratização da Europa do Sul, a emergência dos «tigres asiáticos», tudo isso pode ser visto como resultado da reacção do capitalismo à sua antítese.

Tudo isto se tem estado a degradar. No mundo ocidental temos cada vez mais e satisfazemo-nos cada vez menos. Vivemos num mundo sem sonhos, sem projectos, sem motivos de orgulho - hoje já não há orgulho, há «auto-estima» - e sobretudo sem esperança. Um mundo onde há quem fale, imprudentemente embora, do «fim da História». Um mundo em que os objectivos são todos contabilísticos.

Correrá o capitalismo o risco de entrar em marasmo, como escreve a Joana, por falta de oposição? Então venha a oposição, e quanto mais forte, mais aguerrida e mais radical, melhor. Não para salvar o capitalismo, como quer a Joana, mas para o fazer passar ao seu lugar na História.

Aqui está o busílis da questão. Para fortalecer o capitalismo, qualquer oposição serve, mesmo a que se reclame dos valores e dos objectivos mais arcaicos. O fundamentalismo islâmico, por exemplo. Mas para superar o capitalismo não serve uma oposição qualquer.

Publicado por: Zé Luiz às dezembro 19, 2003 05:34 PM

Zé Luiz em dezembro 19, 2003 05:34 PM
Quando me explanei sobre o aperfeiçoamento do sistema capitalista eu não excluí, de forma alguma, a sua transformação, com rotura.
Todavia não devemos transpor mecanicamente as dialécticas hegelianas e marxistas. Mesmo Marx admitia que a sociedade sem classes poderia ocorrer através de actos eleitorais, citando os países anglo-saxónicos como exemplos onde tal poderia acontecer.
Por outro lado, embora a sua essência teórica permaneça, o capitalismo tem evoluído muito. O capitalismo de hoje está muito longe, no seu funcionamento, das suas fases anteriores.
Eu não pretendo salvar o capitalismo como valor absoluto. Todavia, não há, de momento e num horizonte próximo, qualquer alternativa viável a ele. O que eu pretendo é salvar o nosso sistema, para que ele continue a funcionar e a aperfeiçoar-se e, quando as condições estiverem reunidas, para se superar .

Tão simples como isto.

Publicado por: Joana às dezembro 19, 2003 08:54 PM

re-tombola em dezembro 19, 2003 06:32 PM
Quando você aplica dinheiro num mercado financeiro, essa aplicação é, para si, uma especulação puramente financeira.
Mas esse dinheiro ao entrar no circuito é aplicado quer em empréstimos (obrigações), quer em acções, pois ele tem que render o suficiente para o remunerar a si. E se for em empréstimos, estes terão que ser reembolsados com juros.
No fim desta cadeia estará sempre a produção de bens ou serviços. Só aqui é possível remunerar, em termos reais, as aplicações financeiras.
Portanto a ideia que os mercados financeiros criam riqueza para quem investe sem criarem qualquer base de produção real não é correcta, excepto no que toca, conjunturalmente, à valorização das acções e à especulação bolsista. Mas aqui também o mercado se encarrega de resolver a questão, repondo, de tempos a tempos, a “verdade nua e crua”. Neste caso, será como um jogo: uns perdem e outros ganham e a saldo do jogo depende da produção real que está por detrás disto tudo.

Publicado por: Joana às dezembro 19, 2003 09:14 PM

Quando, no "texto-mãe", a Joana nos fala do elo (eventualmente concertado) da «astúcia da razão» e da «mão invisível» no aperfeiçoamento do espírito e da sociedade (que é - embora eu tenha sérias dúvidas - a essência dos sistemas democráticos) como é que sequer coloca a hipótese de uma rotura (na resposta a Zé Luís) ?
A «mão invisível» tem um limite que a «astúcia da razão» não anticipa ? Realiza-se, se é que é possível, uma espécie de paroxismo dialéctico ?
A (des)propósito :
Não se esqueçam de que a sonda europeia chega a Marte na madrugada do próximo dia 25.

Publicado por: Carlos Eduardo às dezembro 20, 2003 12:11 AM

(...)
Mas aqui também o mercado se encarrega de resolver a questão, repondo, de tempos a tempos, a “verdade nua e crua”. Neste caso, será como um jogo: uns perdem e outros ganham e a saldo do jogo depende da produção real que está por detrás disto tudo.
(...)

:-)))))))))))))

A verdade nua e crua, em Portugal, revela-se nos quase 48.000 desmpregados.

Essa é a produção real que "escapa" a quem joga mas que nos sobcarrega a TODOS enquanto sociedade e contribuintes.

Em nome de quê?

Do jogo?

Publicado por: re-tombola às dezembro 20, 2003 05:58 AM

Marapião, Joana e a quem mais possa interessar

A propósito de frémitos

Em condições normais, deixaria passar em claro as vossas simpáticas observações. Mas a quadra natalícia opera milagres e por isso aqui estou a iluminar-vos.

Um turista chamado fbmatos escreveu em dezembro 18, 2003 12:55 PM o seguinte:

«O seu post produziu, neste comentarista estúpido, um frémito de ordinarice!»

Não vi nenhum dos supracitados reagir a este despautério. Esta observação estabelece uma relação de causa e efeito entre o post de Joana e a ordinarice.
Partindo do princípio que a intenção de fbmatos era boa, limitei-me a assinalar, ironicamente, a incongruência da sua observação:

«É caso para dizer: cada post desperta os frémitos que merece.
# : - ))»

Explicando mais devagar, chamava a atenção para o facto de fbmatos estabelecer um nexo de causalidade para todos os comentários, o que nem sempre acontece e muito menos com discursos que nada têm que ver com o texto supostamente comentado.
O primeiro impulso levou-me a escrever
«...ou seja, cada post desperta os frémitos a que tem direito» (isto é, todos os aqui depositados). É o que se infere da observação de fbmatos.
Entendi que a expressão podia ter uma segunda leitura e utilizei um sinónimo -- merecer. É que o verbo merecer, conjugado transitivamente, tem outros sentidos, além do "ser merecedor de".
Numa coisa tem Joana razão: eu sou sempre igual a mim mesmo.
Merry Christmas

Publicado por: (M)arca Amarela às dezembro 22, 2003 11:00 AM

Apesar de turista, quando escrevi que "O seu post produziu, neste comentarista estúpido, um frémito de ordinarice!" julguei que se percebia quem era o comentarista

Publicado por: fbmatos às dezembro 23, 2003 04:47 PM

Tué que és uma antítese. Devias ir para um sítio que eu cá sei

Publicado por: z às junho 24, 2004 01:19 AM

Tué que és uma antítese. Devias ir para um sítio que eu cá sei

Publicado por: z às junho 24, 2004 01:19 AM

Tué que és uma antítese. Devias ir para um sítio que eu cá sei

Publicado por: z às junho 24, 2004 01:19 AM

Tué que és uma antítese. Devias ir para um sítio que eu cá sei

Publicado por: z às junho 24, 2004 01:19 AM

Tué que és uma antítese. Devias ir para um sítio que eu cá sei

Publicado por: z às junho 24, 2004 01:19 AM

Tué que és uma antítese. Devias ir para um sítio que eu cá sei

Publicado por: z às junho 24, 2004 01:19 AM

Tué que és uma antítese. Devias ir para um sítio que eu cá sei

Publicado por: z às junho 24, 2004 01:19 AM

Tué que és uma antítese. Devias ir para um sítio que eu cá sei

Publicado por: z às junho 24, 2004 01:19 AM

Tué que és uma antítese. Devias ir para um sítio que eu cá sei

Publicado por: z às junho 24, 2004 01:19 AM

Tué que és uma antítese. Devias ir para um sítio que eu cá sei

Publicado por: z às junho 24, 2004 01:19 AM

Tué que és uma antítese. Devias ir para um sítio que eu cá sei

Publicado por: z às junho 24, 2004 01:19 AM

Tué que és uma antítese. Devias ir para um sítio que eu cá sei

Publicado por: z às junho 24, 2004 01:19 AM

Achei perfeito, adequado e vivo seu comentario... Capitalismo visa a utopia vocês, meros revolucionarios, rebeldes, sem vida, mas que sao devidamente esmagados pelo sistema, não possuem senso, logica e discernimento para ver que o capitalismo é, foi e será o melhor e maior sistema economico controlador global...

Publicado por: Renato às outubro 5, 2004 01:04 AM

Comente




Recordar-me?

(pode usar HTML tags)