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novembro 18, 2003

Nicolau Santos, Missed in Action

É incontestável que a administração Bush avaliou mal as consequências da estratégia que decidiu seguir relativamente a Saddam Hussein. Não me refiro à condução da guerra em si, que avaliou correctamente, mas sim à gestão do Iraque após o conflito, acerca da qual fez uma avaliação desastrada. Simplesmente não era possível separar uma coisa da outra: a guerra e a gestão após a guerra.

A posição de alguns países importantes da UE, o chamado Grupo dos 4, também foi desastrada. Em vez de uma política de apoio condicional a Washington, a única política sensata face à determinação americana e aos meios à disposição da Europa, o eixo franco-alemão, com o apoio da Rússia, adoptou uma política intransigente face às posições americanas que tiveram as seguintes consequências:

- Saddam e a clique militar e política iraquianas optaram por resistir até ao limite, sempre convencidos que vetos salvadores da França ou da Rússia entravariam a acção americana. Toda a política francesa de então poderia levar a concluir isso. Todavia, eu própria na altura escrevi que tal era uma hipótese a descartar, pois a Rússia vender-se-ia por um prato de lentilhas e a França não tinha força para protagonizar o nostálgico papel de grande potência, como se viu depois. Aliás teve que contratar o Woody Allen e outros para melhorarem a sua imagem nos States, o que diz do ridículo da posição francesa.

- A administração Bush passou a considerar aqueles países como “países inamistosos”, com os quais nem valeria a pena dialogar. Blair ficou assim isolado, sem capacidade de influenciar a administração Bush numa estratégia mais flexível.

Em política nunca se sabe se as alternativas conduziriam a melhores resultados. Não se sabe se Saddam abandonaria voluntariamente o poder, nem se sabe se, na sua “entourage” não poderia aparecer um núcleo de personalidades que, ajudadas pelo exterior, pudessem obrigar a uma solução negociada.

Em qualquer dos casos, todas estas hipóteses foram eliminadas pela forma desastrada como a administração Bush e o eixo franco-alemão se comportaram nos preliminares à eclosão do conflito.

Um parênteses aqui para uma referência àqueles que falam da “sabedoria” europeia perante estes conflitos. A Europa, na última década, assistiu inerme ao genocídio perpetrado pelos sérvios, primeiro nas zonas das minorias sérvias da Croácia, depois na Bósnia e finalmente no Kossovo. Quando os sérvios bombardeavam diariamente Dubrovnik, património mundial, um ministro francês propôs realizar um espectáculo cultural em Dubrovnik de solidariedade com os martirizados croatas. Estes recusaram indignados. Celebrações dessas fazem-se em face de calamidades naturais. Às bombas responde-se com bombas. A Europa foi então de uma absoluta hipocrisia e, em todos aqueles conflitos, tiveram que ser os americanos a resolver aquilo que a “sabedoria” europeia não era capaz resolver.

Os que referem actualmente a “sensatez” e a “sabedoria” da tibieza da Europa face à actual situação do Médio Oriente ou são desmemoriados, ou trouxas, ou ambas as coisas. Isto na melhor das hipóteses. Provavelmente serão hipócritas. Isto não significa que o cabedal de experiência que a Europa adquiriu, ao longo de séculos de vivência diplomática, não seja utilizado. O que não se deve é confundir experiência diplomática com tibieza e cobardia e justificar estas com aquela.

Regressando ao Iraque, chegámos à situação actual, em que as forças anglo-americanas, e as que se lhe uniram, enfrentam quer a resistência de elementos pró-Saddam, quer terroristas kamikazes iraquianos ou vindos doutros países árabes, quer bandoleiros que em face do vazio da autoridade resultante do fim do regime Baas e dos erros dos americanos, que não souberam trazer para o seu lado uma parte significativa dos aderentes do partido Baas que o eram apenas por obrigação, aterrorizam a população e jornalistas incautos e inexperientes.

Esta situação era previsível. Em Portugal, a seguir às guerras liberais, e durante mais de 2 décadas, agiram, praticamente às claras, inúmeros bandos de salteadores, tendo alguns até entrado na história, e só pouco a pouco, com a consolidação do regime e da autoridade do Estado, foram sendo eliminados. Eram apenas bandoleiros, embora muitos deles usassem referências políticas como alibi, mas absolutamente destituídas de significado.

Nesta situação, o dever da Europa, não por subserviência com os EUA, mas por necessidade de sobrevivência própria, é o de apoiar “condicionalmente” os EUA, ajudando a encontrarem uma saída para esta questão com o melhor rácio benefício-custo. Definir um faseamento racional da implementação das novas instituições iraquianas e da retirada progressiva e o mais rápida possível dos efectivos militares estrangeiros, de forma a dar força, credibilidade interna e confiança aos elementos democráticos da sociedade iraquiana. Por enquanto, a acreditar na sondagem Gallup, a maioria da população iraquiana deseja a continuidade da presença da coligação militar internacional até à estabilização, não por “amar” os americanos, mas porque sabe que sem eles, agora, seria o caos social.

Portanto, quaisquer que sejam as considerações que façamos sobre as razões ou as não razões que até aqui assistiram aos diversos protagonistas deste conflito, a situação actual diz respeito a todos nós, europeus e americanos e deve ser analisada em conjunto com sensatez e ponderação.

É à luz deste intróito que deve ser examinado o texto publicado ontem, 17-11-03, no Expresso online, da autoria de Nicolau Santos.

É um texto catastrofista, insensato, apelando à emoção irracional e terceiro-mundista, cujo estilo está muito mais próximo do estro de um radical de esquerda adolescente, escrevinhador nos fóruns da net, que de um jornalista de um semanário considerado de referência.

A frase “o que se estão agora a preparar para fazer é tão rasteiro, tão baixo, com tanta falta de dignidade que só pode conduzir a que aumente o ódio e a falta de respeito pela administração americana em todo o mundo” é paradigmática do que escrevi acima. Não é possível a substituição dos soldados dos EUA pelos capacetes azuis, como NS escreve, ao imaginar Bush de joelhos, de olhos orvalhados pela emoção, a implorar capacetes azuis à ONU. Os capacetes azuis não têm qualquer capacidade operacional. Poderão ajudar as forças americanas e britânicas. Nunca substituí-las. Quem faz afirmações destas não deve estar na completa posse das suas faculdades cognitivas.

O Iraque não é o Vietname do Sul. Não tem os santuários, nem um Vietname do Norte na retaguarda a dar-lhe apoio logístico em meios humanos e materiais, nem o chamado “mundo socialista” igualmente a fornecer apoio logístico.

Por outro lado uma capitulação do mundo ocidental no Iraque teria efeitos absolutamente diversos do que sucedeu no Vietname. No Vietname havia gente com convicções, que lutava com determinação e sacrifícios inexcedíveis pela independência e reunificação do seu país, mas que apenas desejava isso. Poderiam ter convicções políticas diferentes de muitos de nós … mas eram da nossa civilização, pelo menos em muitos dos seus valores mais fundamentais. Era gente previsível.

No Médio Oriente, a luta é contra concepções que já no fim da Idade Média tinham sido abolidas da Europa. É uma luta da sociedade laica contra sociedades teocráticas; é uma luta de uma sociedade que respeita direitos, liberdades e garantias, contra sociedades que desconhecem esses conceitos na sua vivência mais comezinha; é a luta da tolerância contra a intolerância e, o que é mais grave, contra uma intolerância que se afirma como valor universal e que pretende impor os seus valores ao resto do mundo.

Isto não quer dizer que a nossa sociedade não cometa erros, não seja, às vezes intolerante, não atente, às vezes, contra a liberdade dos outros. Mas, e isso é o fundamental, a nossa sociedade, pelo seu processo de funcionamento, é capaz de se aperceber desses erros e corrigi-los rapidamente. É uma sociedade que tem em si a capacidade do seu próprio aperfeiçoamento. É uma sociedade que é capaz de se regular a si própria no caminho do progresso e da prosperidade, mesmo que nem sempre o faça de forma linear.

O último helicóptero, Nicolau Santos, não sairá de Bagdad. Se acontecesse a sua visão calamitosa o último helicóptero sairia de uma das últimas capitais europeias na direcção de alguma ilha perdida no Pacífico.

Mas você, Nicolau, ficaria aqui, de turbante e albornoz puídos a substituírem o decadente lacinho, resquício desnecessário de uma civilização moribunda, integrando uma cáfila de camelos remoendo cardos, de beiços pendentes e bamboleando as corcovas ao ritmo da melopeia do Balsemão, que entoaria versículos corânicos enquanto você, com o seu laptop em 6ª mão, comprado a um mercador arménio no Kasbah lisboeta, tentava acertar nas teclas, mas inutilmente, pois já não teria clientela para os seus escritos, dado os kamikazes do fórum do Expresso, os sobreviventes, terem sido todos conduzidos ao deserto do Hedjaz para serem reciclados e reeducados segundo os ensinamentos do profeta.

Publicado por Joana às novembro 18, 2003 06:15 PM

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Comentários


Cara Joana,

Penso que o seu longo texto poderia ser minimalizado à frase " apoiar “condicionalmente” ".

O problema destas "discussões de café" é que elas geralmente reflectem as "discussões de salão".

E, como bem sabemos, o que se tem pedido é "apoiar incondicionalmente", o que, como também se sabe, é completamente diferente.

Talvez por isso tudo eu tenha dito em tempos que o que resta à Europa é apoiar Blair.

Não porque Blair seja um exemplo, mas , sim, porque Blair parece ser o que ainda consegue fazer Bush ver que é impossível o apoio incondicional a que ele aspirava (e, mais grave, que pensaria que iria ter).

Quanto ao Nicolau, deixe lá... A sobrevivência tem destas coisas...

Publicado por: re-tombola às novembro 18, 2003 07:23 PM

...zeus ainda tem a sua influência .
voltarei mais tarde para ler e comentar...

Publicado por: zip às novembro 18, 2003 07:59 PM


Cara Joana ,
Aparentemente todos têm uma posição sobre o tema : uns são condicionalmente a favor da guerra outros são incondicionalmente a favor da paz.
O seu texto,no entanto ,parece ser mais "incondicionalmente" contra o Expresso .

ps: se tiver tempo leia o past/copy abaixo.


Surdos-mudos
As colunas de opinião nos jornais, os espaços de comentários e os debates na televisão, a direcção da quase totalidade da imprensa está tomada já não pelo bloco central (que está, felizmente, irremediavelmente morto), mas por uma direita mais radical. Esta direita, a que temos chamado de “nova”, abandonou (por mero cálculo, nuns casos, por convicção, noutros) as bandeiras do Portugal profundo: o aborto, a família, a religião, tradição e pátria. Se lhe tocamos nesta teclas, ela reage. Mas, por iniciativa própria, geralmente, fica calada.
Esta “nova” direita é mais culta e tem a enorme vantagem de se assumir: diz que é de direita e não perde tempo a pôr o hífen para fazer a ponte com o centro, esse não lugar da política. Esta direita gosta de discutir com a esquerda, a mais radical, aquela de que faço parte. Talvez porque reconheça nessa esquerda o mesmo que essa esquerda reconhece nela: clareza. E porque o debate que com ela pode fazer lhe é mais favorável, por ser ele mesmo, o debate, radical. Repare-se que não falo da extrema-esquerda e da extrema-direita, mais mortas que o bloco central. Falo de radicalidade.
Esta direita radical percebeu que, num momento em que muito das próximas décadas será decidido, a discussão sobre o pormenor e as circunstâncias já não chega, e é nas grandes escolhas fundadoras que todo o debate se faz. Percebeu ela e muito mais gente e, por isso, as posições radicalizam-se. Não sou dos que o lamenta. Há momentos na história que os debates são assim mesmo: de raíz. E os homens devem viver no seu tempo.
Acontece que na mesma proporção em que esta direita perde o combate da opinião pública, sobretudo graças à guerra do Iraque e à crise económica que a estratégia política desta direita está a provocar, ganha na opinião publicada. E ganha por três razões: porque os proprietários de meios de comunicação social lhes são mais favoráveis, enchendo as suas páginas de opinião e os seus espaços televisivos com a sua presença; porque a esquerda nem sempre consegue, com a mesma ligeireza, abandonar a sua arqueologia; porque a esquerda tem desprezado o combate pela hegemonia da opinião. Porque a direita parece ser mais gramsciana que a esquerda.
Para vencer este combate (e é de um combate que se trata e não de uma tertúlia amena para chegarmos a algum entendimento) é preciso que esta esquerda compreenda os mecanismos do próprio “mercado” da opinião. Que as manifestações com centenas de milhares de pessoas não chegam, que dois ou três lideres políticos carismáticos (teremos tantos?) não chegam, que o confronto de argumentos não chega. Que é preciso estar presente em todos os terrenos e em todos eles ser ofensivo. Ganhar o combate no terreno do vocabulário – cada palavra que se perde é uma ideia que se mata –, da imagem e da firmeza. Que ganhar o espaço onde “se faz opinião” é tão importante como ganhar a “rua”.
A blogosfera é, neste sentido, um bom exemplo. Um exemplo de que a esquerda não sofre apenas de um bloqueio no espaço de opinião da comunicação social. É verdade que sim, mas essa verdade não chega. Aqui, na blogosfera, onde essa bloqueio não faz qualquer sentido, a esquerda demorou a reagir e a perceber as suas virtudes. Porque aqui não há “massas”, não há “organização”, não há “colectivo”, não se faz “trabalho de base”. E a esquerda sente-se mal nestes espaços em que o individuo é quase tudo e o “programa” não dá lugar à “acção”. Faz mal.
Na minha opinião, a esquerda, a radical, que é aquela que tem hoje algum futuro, tem de pôr na sua agenda dois ou três trabalhos de casa: ajudar a construir líderes de opinião consistentes e bem preparados, apostar na apresentação de alternativas económicas, sem a qual o debate político é pobre, ajudar a construir um jornal de referência na sua área e procurar no mundo académico os seus gladiadores.
Dirão que me excedo na linguagem bélica e que, por este caminho, o debate só se pode tornar um debate de surdos. Ele já é, só que, no caso da esquerda, parece que estamos surdos-mudos.


Publicado por danieloliveira, in Bernabé

Publicado por: zippiz às novembro 18, 2003 08:19 PM

Apreciei o seu artigo e acho interessante a sua maneira de raciocinar, apresentando uma lógica na guerra.
Mas cara Joana a guerra não tem lógica. Lógica tem quando é dada por terminada e se apagam todas as brasas e nos estroços se reveem os acontecimentos.
Esta guerra não acabou, a sua estratégia não foi, quanto a mim, revelada.
Na primeira invasão do Iraque, o Bush depois de destruir cerca de 80 porcento do exército iraquiano, não chegou a Bagdade, porque não desejou deixar uma zona destabilizada que ofereceria um perigo imenso ao mundo. Por ventura pensa que a actual situação é similar ?
Pode muito bem não ser o caso. Uma das alternativas é mesmo de deixar a area em desequilibrio.
Imagine que as pesquisas na energia do futuro, o hidrogenio, estão mais avançadas do que o previsto, ou seja teremos o primeiro carro comercial em 2010.
Na transacção duma energia para a outra, será que os países fora da area de conflito poderiam suportar tal mudança ?
Não sei a resposta a estas perguntas. Contudo penso que se o mundo não depender a energia daquela zona, convem, deixá-los no mesmo nível que os americanos os libertaram 60 anos atrás.

Publicado por: Pedro Penedo às novembro 18, 2003 08:26 PM

“Porque a direita parece ser mais gramsciana que a esquerda”.??
Serei da direita gramsciana? Sabe, na minha adolescência, andei algum tempo convencida que se Gramsci não tivesse morrido, ainda novo, nas masmorras fascistas, o destino do movimento comunista poderia ter sido diferente.

Depois cheguei à conclusão que o comunismo era incurável ... até porque se tivesse sobrevivido à guerra, Gramsci não teria sobrevivido às purgas estalinistas do após guerra.

Recomendo-lhe “A Concepção Dialéctica da História” e “Maquiavel, a Política e o Estado Moderno”.

Quanto ao resto, não ando a mando de ninguém, como sabe. Exprimo a minha opinião, doa a quem doer.

Publicado por: Joana às novembro 18, 2003 09:33 PM

zippiz:
É só para lhe dizer que ainda me estou a rir com a"direita gramsciana"!

Publicado por: Joana às novembro 18, 2003 09:35 PM

P Penedo:
Julgo que se está a referir ao hidrogénio utilizando células de combustível.

Sabe, o período que medeia entre uma nova capacidade tecnológica e a sua industrialização tecnica e economicamente viável é normalmente bastante longo, a menos que uma crise precipite as coisas. Acho pouco 10 anos. Os motores a combustíveis fósseis estão bem implantados e vai ser complicada a sua substituição a médio prazo.

Publicado por: Joana às novembro 18, 2003 09:40 PM

joana,
não me diga que ficou convencida que o comentário de Danieloliveira lhe era dedicado ?!

Publicado por: zippiz às novembro 18, 2003 09:45 PM

Zippiz:
Claro que não. Esse senhor não me conhece. Mas como você teve a amabilidade de fazer c&p daquele texto para meu benefício, deduzi que achasse que ele (o texto) teria algo a ver comigo.

Publicado por: Joana às novembro 18, 2003 10:47 PM

... mas é claro que tem algo a ver consigo.
Vc é que se acha uma espécie de Padeira da Lapa , e não há nada que a demova de partilhar as opiniões mais retrógadas da blogosfera/online.

Publicado por: zippiz às novembro 18, 2003 10:57 PM

Padeira da Lapa? alguma émula urbana e actual da Padeira de Aljubarrota?

zippiz, você não contesta os meus argumentos. Apenas contesta em bloco o que escrevo dizendo que são opiniões retrógadas!

Publicado por: Joana às novembro 18, 2003 11:12 PM

..não
está a ver , tira logo conclusões precipitadas !
eu só disse que "partilhava" opinões retrógadas com alguns na blogosfera...

ps: apreciou então o epíteto de "Padeira". Mas se não gostar ...da "Lapa" ,podemos mudar para do "Rato" !

Publicado por: zippiz às novembro 18, 2003 11:38 PM

Sabe qual é o problema com as pessoas realmente independentes?
É que não percebem certas minudências.
Só agora, que você falou do Rato é me veio luz ao espírito e percebi que você se estava a referir, se não me engano, às sedes do PSD e do PS.
É isso?
Até agora, só entrei em 2 sedes partidárias, por sinal do mesmo partido. O Hotel Vitória quando deveria ter uns 16 anos e fiquei varada como é possível uma instituição política degradar tanto um edifício como aquele, e a Soeiro Pereira Gomes, 2 ou 3 anos depois, mas aqui não passei do Hall de entrada.

Publicado por: Joana às novembro 18, 2003 11:49 PM

# : - ))
Olha que interessante...

Publicado por: (M)arca Amarela às novembro 19, 2003 08:35 AM

Bem, já que estou aqui vou deixar uma observaçãozita.
Diz-se no texto que «...A Europa, na última década, assistiu inerme ao genocídio perpetrado pelos sérvios, primeiro nas zonas das minorias sérvias da Croácia, depois na Bósnia e finalmente no Kossovo.»
Alguma coisa deve ter escapado à Joana. A verdade é que a França, a Alemanha, a Itália e, até, o Vaticano estão na origem das sarrafuscas na antiga Jugoslávia.
Todos ao seu, claro. Nessa repartição de esferas de influência, do que mais gostei foi do financiamento e apoio logístico (incluindo armas) do Vaticano aos fascistas croatas.
Quanto ao Kosovo, toda a gente politicamente correcta parece ter esquecido a contribuição – em homens, armas e dinheiro – da Al Qaeda na guerrilha contra a Sérvia.
Não se diga, por isso, que «a Europa assistiu... etc». Essa Europa desencadeou os conflitos que levaram ao desmembramento da Jusgoslávia, precisamente porque esse era o objectivo.
Quanto a genocídios, era bom que o pensamento políticamente correcto fosse um pouco mais objectivo e assinalasse que houve matanças mútuas de todas as comunidades da Jusgoslávia. Não é por nada, apenas por uma questão de estatística.

Publicado por: (M)arca Amarela às novembro 19, 2003 08:51 AM

Juro que só carreguei uma vez em «afixar»

Publicado por: (M)arca Amarela às novembro 19, 2003 08:52 AM

(M)arca Amarela:
O primeiro erro foi a formação do Reino Servo-Croata-Esloveno, depois Jugoeslávia, na sequência do Tratado de Versalhes e do desmembramento da Austria-Hungria. A Croácia tinha sido um reino independente por volta do século X (estou a citar tudo de memória, pois não tenho qq documento à mão) e depois passou para a coroa húngara, onde se manteve até Versalhes. A Eslovénia esteve também sempre ligada ao Sacro-Império e depois à Austria. A Sérvia foi independente até à conquista turca e depois esteve 5 séculos sob o jugo otomano, etc.. Eram países com um passado histórico diferente, com línguas, alfabetos e religiões diferentes que constituíam uma amálgama que só funcionou durante o período titista, mercê do prestígio do marechal e da divisão do mundo em blocos, o que tirava veleidades de emancipação. Mas durante todo o século XX houve movimentos croatas anti-sérvios.

A separação começou a tomar forma após Milosevic ser eleito num clima de grande exaltação do nacionalismo sérvio. Milosevic tinha à sua disposição o 5º exército mais poderoso da Europa e os Croatas, eslovenos e bosníacos, que tinham pago esse exército estavam praticamente desarmados.

As chacinas dos sérvios em Vukovar e na zona de Knin (Kraína, se não me engano), tiveram 2 anos mais tarde alguma contrapartida, aquando da contra-ofensiva croata. Porém o êxodo em massa dos sérvios, que constituíam cerca de 10% da população total e, naquelas áreas 30 a 50%, antes do início do conflito, deveu-se ao sentimento de que em face do que tinha acontecido seriam chamados às responsabilidades.

Publicado por: Joana às novembro 19, 2003 10:13 AM

Cara Joana

A GM tem projectado para o ano 2010, apresentar o primeiro caro a hidrogénio. Vi num documentário o protótipo e gostei. A mudança de combustíveis não é assim tão difícil . Difícil será as estruturas, porque os inventário tem de ser reduzido e modificado.

Publicado por: Pedro Penedo às novembro 19, 2003 03:34 PM

Joana
Por mim tudo bem. A sinopse histórica está certa. Mas não estou minimamente interessado em fazer a autópsia da Jugoslávia, nem o levantamento arqueológico dos Balcãs. Só pretendi sublinhar que a «Europa» não assistiu inerme, pois tem culpas no cartório, e que houve chacinas de parte a parte.
Além do mais, isso de saber quem começou pode ser um jogo complicado, tipo ovo e galinha. Durante a segunda guerra mundial, por exemplo, os croatas juntaram-se à Alemanha e à Itália e chacinaram uns bons milhares de sérvios. Em resumo, naquela história não há inocentes.

Publicado por: (M)arca Amarela às novembro 19, 2003 08:21 PM

Cara Joana:
Acho essa sua distinção entre guerra e pós-guerra um pouco artificial. Como sabe, o essencial duma guerra nunca são as batalhas.
O que os americanos ganharam foi uma batalha. A guerra, essa, só a terão ganho quando o inimigo (e quem será o inimigo?) se der por derrotado.
O que está a acontecer no Iraque não é um pós-guerra, é uma guerra.
Ora acontece que a esmagadora superioridade militar dos americanos sobre o resto do mundo lhes dá uma incontestável vantagem táctica - e por isso declaram vitória quando a manobra táctica está concluída - mas no plano estratégico têm duas enormes desvantagens, qualquer delas, por si só, potencialmente fatal.
A primeira é o desconhecimento do mundo. Por melhores serviços de informação que tenham, o mundo conhece incomparavelmente melhor a América do que a América o mundo - o mundo que fala e lê inglês, que frequenta as universidades americanas, que conhece cada rua de cada uma das suas cidades. Esta desvantagem é determinante: sabem-no bem os militares americanos, como Colin Powell e Wesley Clark, que frequentaram as academias e leram Sun-Tzu. Mas Bush não foi à tropa.
A segunda desvantagem estratégica é a indisponabilidade dos votantes para sofrer baixas: sendo as eleições de quatro em quatro anos, qualquer potencial inimigo dos EUA sabe que lhe basta resistir quatro anos para que a sua posição saia reforçada.

PS: Quanto ao hidrogénio: a empresa alemã Aqwon desenvolveu uma scooter a hidrogénio suficientemente avançada e segura para ter licença de circular nas ruas e estradas alemãs. Talvez a crise esteja a precipitar as coisas.

Publicado por: Zé Luiz às novembro 20, 2003 12:01 AM

PPS.
www.timeeurope.com
www.aqwon.com

Publicado por: Zé Luiz às novembro 20, 2003 12:05 AM

Estou de acordo. A má visão política do Bush, mas não só, meteram-nos numa encrenca (embora não se saiba, no caso da política ter sido diferente, se não estaríamos igualmente metidos numa encrenca) mas é uma encrenca que diz respeito a todos nós e que a temos que a resolver.

Publicado por: Viegas às novembro 22, 2003 06:40 PM

O Bush é um cómico

Publicado por: Valente às novembro 25, 2003 12:27 AM

O Nicolau Santos chuta para o lado em que está virado, ou para onde o viram.
Nunca vi tamanha disparidade de opiniões como nos artigos dele

Publicado por: VSousa às dezembro 5, 2003 12:59 AM

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