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outubro 03, 2003

Processar menores

Segundo a Comunicação Social, Ferro Rodrigues intenta processar quem o caluniou, ou seja, as testemunhas que alegadamente referiram o seu nome no caso da rede pedófila.

Portanto Ferro Rodrigues pretende processar menores por alegadas calúnias. Ora processar menores, ainda por cima vítimas de abusos sexuais, se eles forem representados por advogados habilidosos, pode revelar-se uma tarefa espinhosa e contraproducente, mesmo que os testemunhos sejam calúnias ou equívocos. Como pretende Ferro Rodrigues sustentar durante anos um processo sórdido, com “revelações” saindo a conta-gotas na comunicação social? Seria um desgaste de imagem terrível.

Um arguido pode defender-se destes testemunhos, em tribunal, desacreditando-os ou lançando dúvidas sobre a sua veracidade. Quem não é arguido, mas está referenciado no processo, dizer que está à disposição da justiça para o que esta entender, pois está seguro da sua inocência, e que tudo o que vem escrito nos jornais não passam de erros ou calúnias (*). Processar menores, alegadas vítimas da rede pedófila, será sempre, e nomeadamente se for um político, um acto desastrado.

Porém, Ferro Rodrigues não pretende processar menores. Pretende sim pressionar a justiça e atemorizar as testemunhas.

Ferro Rodrigues que enquanto Ministro da tutela da Casa Pia (de que também foi Paulo Pedroso), não fez nada para pôr cobro ao que então se passava, pretende agora pressionar e atemorizar testemunhas, que são os menores que foram vítimas de abusos enquanto ele tutelava a Casa Pia.

Não é a primeira vez que Ferro Rodrigues aparece com uma truculenta e pretensa autoridade moral a ilibar-se de quaisquer responsabilidades. Fê-lo vergonhosamente na questão da Metropaço, onde agiu com uma grande irresponsabilidade e ligeireza, sendo politicamente responsável por o erário público ter sido “aliviado” de 40 milhões de contos e se comportou na Comissão de Inquérito com a desfaçatez de quem sabe que em Portugal os disparates políticos não sofrem punição.

Este fim de semana, Ferro Rodrigues foi igual a si próprio: um líder sem estatura política que tenta protagonizar uma inocência através da truculência e de falar grosso. Um líder que tenta transformar casos do domínio privado, trazendo-os para o domínio político, arrastando o próprio partido, como se fosse todo o PS que estivesse envolvido na rede pedófila, ou que este caso fosse um caso político.


(*) Mas nunca exigir uma certidão do processo, ou uma declaração de inocência, pois seria suposto Ferro Rodrigues não ter sabido do caso há 15 dias, porquanto o processo estava, e está, em segredo de justiça, com a agravante de Ferro Rodrigues ser um dos responsáveis políticos pelo regime de segredo de justiça e de prisão preventiva existente no CPP.

25-Junho-2003

Publicado por Joana às outubro 3, 2003 06:01 AM

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