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janeiro 25, 2006
Os Beduínos e os Camelos
Os beduínos têm uma característica interessante. Vagueiam pelo deserto na companhia de cáfilas de camelos remoendo cardos, de beiços descaídos e baba pendente, bamboleando as suas corcovas ao ritmo das suas melopeias. Quando arribam a algum oásis prometedor, esticam as suas tendas sobre estacas de madeira, num acampamento fácil de montar e desmontar. Lá dentro estendem um tapete grosso no chão, onde ficam as selas de camelo, as cordas e as gamelas com água. E depois, recolhidos nas tendas, à luz bruxuleante de lamparinas, fazem os seus negócios com os íncolas, que os haviam acolhido com promessas de fartas transacções. Quando vêem que a colheita das tâmaras não é suficiente, que as cabras estão a ficar escanzeladas, sem dar leite nem carne, e que os poços estão em vias de secar, arrancam as estacas, dobram as tendas, enfileiram os camelos e voltam a internar-se no deserto em busca de outro oásis.
O Governo tem vindo a tentar empolgar a opinião pública com anúncios repetidos de novos investimentos estrangeiros. O frenesim comunicativo do Governo não encontra paralelo no carácter estruturante desses investimentos. A parte que se refere a investimento industrial é muito reduzida. São mais as vozes que as nozes. O Governo tem conseguido esses investimentos mercê dos incentivos, principalmente fiscais, que oferece ao investimento directo estrangeiro. Todavia, não faz o restante trabalho de casa: liquidar a burocracia paralisante da administração pública, pôr a justiça a funcionar e criar um sistema fiscal que não exija uma dualidade de critérios: ónus pesados para os íncolas, facilidades para os beduínos recém chegados.
Ao não fazer esse trabalho de casa o Governo verá (este ou um qualquer no futuro), quando a colheita das tâmaras escassear, as cabras ficarem escanzeladas, sem leite nem carne, e os poços estiverem em vias de secar, que os beduínos arrancarão as estacas, dobrarão as tendas, porão a cáfila em ordem de marcha e voltarão a internar-se no deserto em busca de outro oásis mais prometedor, entoando versículos corânicos.
Das multinacionais dos têxteis e do calçado que se instalaram entre nós no último quarto de século, quantas ainda não desmontaram a tenda? Quantas novenas Sócrates, Pinho e mais ministros não dirigiram à padroeira do país suplicando que a questão da Autoeuropa se resolvesse sem a debandada dos beduínos? Quanto sufoco vive o país sempre que se levanta a hipótese de mais uma deslocalização de alguma empresa relevante para a nossa economia?
Portugal precisa de investimento directo estrangeiro, mas também precisa de o manter cá. E para o manter cá precisa de criar uma ambiente económico favorável ao funcionamento das empresas, portuguesas ou estrangeiras.
Se não o fizer, acontece-lhe o mesmo que aos oásis perdidos na imensidão do deserto assiste à debandada dos beduínos. Com uma pequena diferença: com tantas idas e vindas de beduínos, os camelos acabaram por ficar cá somos nós!
Publicado por Joana às janeiro 25, 2006 07:59 PM
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Comentários
A 9 de Março chegaremos ao oásis e os nossos donos começarão a esticar as tendas.
Publicado por: Senaquerib às janeiro 25, 2006 09:13 PM
Somos na verdade uns camelos!
Publicado por: Coiso às janeiro 25, 2006 10:33 PM
Onde disse donos queria dizer condutores.
Publicado por: Senaquerib às janeiro 25, 2006 11:33 PM
«Portugal tem de passar da teoria à prática, diz Durão (TSF)».
Por cá, o doente não é imaginário :
Toca mas é de «despejar», e depressa, os primeiros 35 ou 40 mil funcionários públicos da AP. Nem quero imaginar o equívoco eleitoral da maioria absoluta que sustenta o Governo de José Sócrates e a sua própria situação explosiva como PM e Secretário-Geral do PS...
Publicado por: asdrubal às janeiro 26, 2006 12:34 AM
Há uma luz (de lamparina)a brilhar lá no fundo do túnel:
http://dn.sapo.pt/2006/01/26/opiniao/senhor_presidente_amigo.html
Publicado por: A vida começa aos 90 às janeiro 26, 2006 10:25 AM
"Portugal precisa de investimento directo estrangeiro, mas também precisa de o manter cá. E para o manter cá precisa de criar uma ambiente económico favorável"
A Joana escusa de distorcer a realidade para a adaptar às suas teorias. As suas teorias têm (bastante) validade em si mesmas, e a Joana só as prejudica ao distorcer a realidade para as impôr.
A Joana sabe perfeitamente que, se o investimento direto estrangeiro não se mantem em Portugal, não é por o ambiente económico português ser desfavorável: é, essencialmente, por os salários serem mais baixos noutros locais. As deslocalizações que ocorrem em Portugal também ocorrem em muitos outros países industrializados, em países com ambiente económico bem mais favorável que o português. As empresas estrangeiras que se instalaram em Portugal não o fizeram por o ambiente económico nos seus países de origem ser desfavorável - fizeram-no por os salários portugueses serem mais baixos.
A burocracia portuguesa aflige sobretudo as empresas quando elas pretendem instalar-se inicialmente em Portugal. Para uma empresa que já cá está instalada há anos, a burocracia torna-se uma rotina pouco significativa. Se a empresa a dado momento decide deslocalizar-se, não é por estar asfixiada pela burocracia, à qual de qualquer forma já está adaptada.
Publicado por: Luís Lavoura às janeiro 26, 2006 10:36 AM
Por exemplo, a Autoeuropa, queixa-se da burocracia, da justiça, ou do sistema fiscal? Será por algum desses três motivos, referidos pela Joana, que a Autoeuropa pode fechar as portas? Não: a Autoeuropa queixa-se basicamente de falta de procura para os seus produtos (tem uma capacidade de produção instalada que é o dobro daquilo que efetivamente produz), de uma lei laboral demasiado rígida, e de salários demasiado altos. E, destes três aspetos, a lei laboral ainda será, provavelmente, o menor dos males para eles.
Publicado por: Luís Lavoura às janeiro 26, 2006 10:41 AM
Aliás, enquanto a Autoeuropa estiola, a General Motors da Azambuja, muito menos falada, medra. A General Motors produziu no ano passado poucos menos carros do que a Autoeuropa.
Publicado por: Luís Lavoura às janeiro 26, 2006 10:42 AM
Quem fala que a burocracia não afecta o funcionamento das empresas, é porque nunca esteve metido em alhadas dessas.
Publicado por: David às janeiro 26, 2006 10:56 AM
E quanto à justiça, a Autoeuropa é um caso excepcional, pois vende quase tudo no estrangeiro. Se ela vendesse no mercado interno a caloteiros seria diferente.
Publicado por: David às janeiro 26, 2006 10:58 AM
David, eu não disse que a burocracia ou o mau funcionamento da justiça não prejudicassem as empresas. Leia no meu comentário: "As suas [da Joana] teorias têm (bastante) validade em si mesmas".
O que eu disse é que as empresas estrangeiras, das quais a Joana referiu explicitamente no seu post as "multinacionais dos têxteis e do calçado" e a Autoeuropa, não se deslocalizam por esses motivos.
Publicado por: Luís Lavoura às janeiro 26, 2006 11:15 AM
"A Joana sabe perfeitamente que, se o investimento direto estrangeiro não se mantem em Portugal, não é por o ambiente económico português ser desfavorável: é, essencialmente, por os salários serem mais baixos noutros locais."
"A Joana (Luís Lavoura) escusa de distorcer a realidade para a adaptar às suas teorias."
Publicado por: Mário às janeiro 26, 2006 12:03 PM
David às janeiro 26, 2006 10:58 AM
A Autoeuropa vende o quê e a quem?
Publicado por: Senaquerib às janeiro 26, 2006 03:03 PM
"A morte pela fome de uma criança Kulak ucraniana deliberadamente provocada pelo regime estalinista «vale» a morte pela fome de uma criança judia do gueto de Varsóvia deliberadamente provocada pelo regime nazi."
Com o fim da estrondosa Novela O Patife
Nova Novela na sua RIAPA A Escumalha
www.territoriolivre.com.sapo.pt
Publicado por: Brigada Bigornas às janeiro 26, 2006 03:13 PM
A lei laboral é o menor dos nossos problemas e da competitividade das empresas medias ou grandes.
É um problema importante para as pequenas empresas com até 50-100 pessoas.
Publicado por: lucklucky às janeiro 26, 2006 06:58 PM
Divirtam-se a ver a cara deste animal quando foi confrontado com o êxito do western Panasca nos Estados Unidos, ih,ih,ih
http://www.youtube.com/watch?v=7RXYEb_lmDk
Publicado por: xatoo às janeiro 26, 2006 08:13 PM
Bem, pelo menos não chamou panascas aos tipos como você.
Publicado por: AJ Nunes às janeiro 26, 2006 11:48 PM
Há cá muito camelo!
Publicado por: Coruja às janeiro 27, 2006 01:15 AM
Publicado por: xatoo às janeiro 26, 2006 08:13 PM
Pensei que fosse um canhoto com apreço pela comunidade gay...
Publicado por: Mário às janeiro 27, 2006 10:03 AM
asdrubal às janeiro 26, 2006 12:34 AM
Caro Asdrubal: eu cá ainda estou à espera dos 150 mil empregos que o Engº Sócrates prometeu na campanha para as legislativas, há mais de um ano.
Permitam-me levantar uma questão a todos os interessados: quando é que vamos poder responsabilizar concretamente/materialmente os politicos que não cumprem as suas promessas eleitorais após as vitórias?
Publicado por: Saloio às janeiro 27, 2006 10:06 AM
Saloio às janeiro 27, 2006 10:06 AM
Mal dos eleitores que escolhem os políticos com base em promessas eleitorais. São os eleitores que devem ser responsabilizados, não os políticos.
Quem cai no conto do vigário não merece mais...
Publicado por: Senaquerib às janeiro 27, 2006 11:18 AM
vixe... esta é minha .. plim plão
Publicado por: Cush às janeiro 27, 2006 12:50 PM
http://www.oprimeirodejaneiro.pt/?op=artigo&sec=1679091c5a880faf6fb5e6087eb1b2dc&subsec=&id=4b2ce2fb03358d133c55ac9afc5fbeba
Joana:
Quem considera melhor governante: Sócrates ou Durão Barroso? Já agora, e Santana?
Nota: não sou partidário. Pergunto isto por curiosidade.
Publicado por: Alfredo às janeiro 27, 2006 03:10 PM
Saloio em Janeiro 27, 2006 10:06 AM,
Ouvindo hoje a TSF, fiquei com a viva impressão que José Sócrates lê o «Semiramis» ; dez medidas de desburocratização, com menção, inclusive, de tempos recuperados. O homem converteu-se às ciências exactas.
Entretanto, Miguel Cadilhe - o autor do Imposto Automóvel por meados dos anos 80 - insiste na implosão do «Moloch» da Administração Pública : 200 mil fora, i-e, 200 mil famílias de «cana verde» (Cf. Expresso de hoje). Mas com «dignidade», naturalmente ...
É assim.
Publicado por: asdrubal às janeiro 27, 2006 03:27 PM
Senhor Senaquerib: se (por absurdo) seguíssemos a sua teoria, desculpávamos sempre o criminoso - neste caso, o aldrabão, e imputávamos as culpas às vítimas (os eleitores que tinham ficado confiantes nas promessas...).
E ainda seguindo a sua teoria, no casos dos assassinatos, as vítimas é que seriam os culpados...e os assassinos os inocentes...está a ver?
Caro Asdrúbal: afinal, o Engº Sócrates prometeu ou não aqueles empregos? Quanto às ameaças de despedimentos na função pública, sinceramente, não acredito...é só para "inglês ver" (espero eu).
Publicado por: Saloio às janeiro 27, 2006 08:28 PM
Saloio às janeiro 27, 2006 08:28 PM
Não exagere, não exagere.
Os eleitores não são assim tão inocentes como diz. Há sempre um bocado de egoismo quando se vai votar. Naturalmente que, lá bem no íntimo, cada um quer ver se obtém algum benefício pessoal, directo ou indirecto, em consequência do seu acto de votar. É compreensível que seja assim, de contrário não faria sentido participar nesse acto político. Qual seria a motivação? Apenas por desporto? Não creio.
E também as tais promessas não teriam razão de ser. Se os políticos as fazem é porque se apercebem do natural egoismo dos eleitores. As promessas constituem o atractor dirigido ao egoismo dos eleitores.
E, portanto, os eleitores são responsáveis.
Ainda por cima são adultos, não é verdade?
Isto não é nenhuma teoria; são factos.
Publicado por: Senaquerib às janeiro 27, 2006 11:15 PM
Saloio às janeiro 27, 2006 08:28 PM
Não exagere, não exagere.
Os eleitores não são assim tão inocentes como diz. Há sempre um bocado de egoismo quando se vai votar. Naturalmente que, lá bem no íntimo, cada um quer ver se obtém algum benefício pessoal, directo ou indirecto, em consequência do seu acto de votar. É compreensível que seja assim, de contrário não faria sentido participar nesse acto político. Qual seria a motivação? Apenas por desporto? Não creio.
E também as tais promessas não teriam razão de ser. Se os políticos as fazem é porque se apercebem do natural egoismo dos eleitores. As promessas constituem o atractor dirigido ao egoismo dos eleitores.
E, portanto, os eleitores são responsáveis.
Ainda por cima são adultos, não é verdade?
Isto não é nenhuma teoria; são factos.
Publicado por: Senaquerib às janeiro 27, 2006 11:21 PM
Peço desculpa pela repetição. Foi lapso meu.
Publicado por: Senaquerib às janeiro 27, 2006 11:22 PM
Publicado por: Senaquerib às janeiro 27, 2006 11:21 PM
Não me parece que esteja a exagerar...o seu ponto de vista é a completa e assumida irresponsabilisação dos políticos. Só que o senhor, além de os desculpar, ainda atribui as culpas aos eleitores anónimos...que serão egoistas. Desculpe-me lá mas, cordialmente, não posso concordar.
Publicado por: Saloio às janeiro 28, 2006 11:20 AM
Saloio às janeiro 28, 2006 11:20 AM
Atenção, não utilizei a expressão egoismo com sentido pejorativo, mas sim em sentido sociológico, ou, se quiser, antropológico. Não haja confusão.
Publicado por: Senaquerib às janeiro 28, 2006 04:47 PM
São os eleitores que elegem os políticos. Portanto ...
Publicado por: AJ Nunes às janeiro 30, 2006 01:45 PM
Têm uma desculpa. Entre os políticos disponíveis para votar, há poucos que se aproveitem
Publicado por: AJ Nunes às janeiro 30, 2006 01:47 PM
ah! ah ! esta é minha ...já ninguém ma tira ... Plim plão ...
Publicado por: Cush às janeiro 31, 2006 12:28 AM
Excelente, este post
Publicado por: samuelson às fevereiro 5, 2006 01:08 AM