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janeiro 17, 2006

Mudança de Testemunho

No próximo domingo será eleito um novo presidente, a crer em todas as sondagens feitas até à data. Mas se não for eleito à primeira volta, alguém há-de ser eleito à segunda. Em qualquer dos casos, nas próximas semanas teremos um novo presidente.
A década de Sampaio foi o pior período da história democrática portuguesa, desde a Regeneração, se exceptuarmos o período esquizofrénico da 1ª República. Assistiu impávido à malbaratação dos dinheiros públicos durante o consulado de Guterres, que aproveitou o desafogo pontual fruto da adesão ao euro para criar artificialmente emprego, empolando os efectivos do funcionalismo público em 20%, e aumentando os vencimentos do sector público muito acima da produtividade; assistiu impávido à construção das SCUT’s que só começariam a ser pagas pelo erário público muitos anos depois e durante décadas; assistiu impávido às guerrilhas dos boys guterristas; assistiu impávido à ruína das contas públicas portuguesas. Durante o tempo do pior governo português, desde os tempos da Rainha D. Maria, limitou-se a proferir banalidades ou frases ambíguas, mais próprias da Pitonisa de Delfos que de um PR.

Sampaio assistiu impávido à ruína do país, ruína evidente pelas contas de então, mas mais evidente pelos compromissos assumidos a serem pagos pelas gerações seguintes. E Sampaio tem mais de duzentos assessores, muitos deles economistas. Só começou a importar-se com a Economia quando, com o governo de Durão Barroso, em vez de apoiar as tentativas de redução do défice, lançou o slogan de que «Há vida para além do défice» apoiando objectivamente os interesses corporativos que se encarniçavam contra as medidas de contenção. Só no tempo de Sócrates compreendeu que a vida que havia para além do défice era a vida da miséria e da ruína. Não se percebe como “eminentes” economistas, Teodora Cardoso e outros, lhe apadrinharam as banalidades e as imprudências que debitou sobre a economia portuguesa. Ou percebe-se, se atentarmos que há vida, e boa, para além da ética profissional.

A cena do governo de Santana Lopes é digna de uma república das bananas. Se Sampaio duvidava da capacidade de Santana Lopes, não o deveria ter indigitado, e se a coligação existente não encontrasse alternativa, dissolver então a AR. Em vez disso arrastou a indigitação, sujeitando-a a uma espera interminável e absurda; condicionou a formação e a actuação do governo de uma forma humilhante e contrária aos hábitos constitucionais; declarou por diversas vezes que manteria o governo sob vigilância, o que era um convite aos clamores da oposição e da comunicação social por tudo o que o governo fizesse ou não fizesse e à instabilidade social que tal alarido permanente causaria; promoveu uma contínua instabilidade política, aproveitando todas as ocasiões para dramatizar a vida política.

Ou seja, Sampaio criou um clima de instabilidade política permanente que culminou na sua decisão de dissolução de um parlamento com uma maioria que apoiava o governo em exercício, abrindo um perigoso precedente que pouco ou nada contribui para a estabilidade política do país. E foi uma total insensatez ter constrangido um governo demissionário, que não tinha quaisquer hipóteses de ganhar as eleições, a fazer o OE 2005 que nunca poderia ser mais que um documento para iludir o país na expectativa, defraudada, de dividendos eleitorais.

Sampaio deixa o cargo com o país desmobilizado e desorientado face a uma crise generalizada cuja solução não consegue descortinar. Sampaio foi um presidente fraco, sem prestígio, sem autoridade, banal. Como qualquer político que não tenha responsabilidades governativas e diga banalidades, teve sempre elevados índices de popularidades. Sampaio não deixa saudades, mas os portugueses tiveram o PR que mereceram.

E a saga continua. Os portugueses esperam um D. Sebastião que os tire do atoleiro sem que tal cause transtorno aos seus interesses ilusórios. Os portugueses não pretendem fazer nada nem pelo país, nem por eles próprios. Pretendem a redenção por um milagre. Outros pretendem um PR que diga banalidades, simpático, mas sem ideias, tirando algumas velharias tiradas do baú do politicamente correcto. Por isso Cavaco e Alegre vão à frente nas sondagens. Os candidatos que representam partidos estão na cauda. Um país descrente da política, desmotivado pela coisa pública, foge dos partidos a sete pés.

Talvez Cavaco tenha ideias sobre o que há a fazer. Simplesmente não cai na esparrela de as dizer, porque o eleitorado gosta de ser embalado com ilusões. Tem a experiência recente de Sócrates que foi eleito, mentindo descaradamente, e continua a mentir sempre que julga necessário.

Não se sabe se Alegre tem ideias, aliás não se lhe conhece qualquer ideia para o futuro do país. Em Setembro de 2004 era o líder da ala esquerdista do PS. Agora aposta na simpatia, na poesia e nas banalidades políticas e patrióticas. Um percurso demasiado largo para se lhe reconhecer qualquer consistência.

Sampaio foi o símbolo de uma década de declínio nacional. Mas os portugueses não aprenderam a lição. Quem aprendeu a lição foram os candidatos que tentam servir ao eleitorado aquilo que ele mais aprecia: ilusões … o milagre das rosas … a salvação do país numa manhã de nevoeiro.

Publicado por Joana às janeiro 17, 2006 10:59 PM

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Comentários

Essa de o actual PR ter mais de 200 assessores é novidade para mim. São mesmo 200? Não haverá engano? Ou serão só 20 (e já seriam muitos...)?

Publicado por: Senaquerib às janeiro 17, 2006 11:22 PM

Se Deus nos der vida e saúde, cá estaremos para ler o que Joana escreverá sobre Cavaco quando chegar o momento de o fazer...

Publicado por: (M) às janeiro 17, 2006 11:23 PM

É que 200 pessoas a trabalhar produzem demasiada informação para uma só pessoa. Não é possível.

Publicado por: Senaquerib às janeiro 17, 2006 11:25 PM

A Casa Civil do Presidente da República tem sete assessores, 23 consultores e três ou quatro adjuntos.

Os 200 são uma liberdade poética da Joana

# : - ))

Publicado por: (M) às janeiro 17, 2006 11:29 PM

(M) às janeiro 17, 2006 11:23 PM

O Cavaco ou o Alegre, que também pode acontecer.
O Cavaco está a descer 2 pontos por dia desde que afirmou confiança neste governo. Logo, no dia 22 poderá não conseguir atingir os 50% e haverá uma segunda volta. Tudo está em aberto...

Publicado por: Senaquerib às janeiro 17, 2006 11:30 PM

A casa civil de Sampaio tem 230 efectivos, aproximadamente. Este número foi-me dado pelo ex-presidente da Inspecção Geral da Administração Pública numa conversa recente.

Publicado por: Joana às janeiro 17, 2006 11:52 PM

o seu a seu dono!
A eleição providencial de Durão Barroso é que inaugurou entre nós a governação assente em Mentiras, fazendo alinhar o país, já de si fiel aliado na NATO, nas aventuras guerreiras dos Neocons de Washington.

que eu me recorde - ninguem votou nisso,,,

Publicado por: xatoo às janeiro 17, 2006 11:54 PM

Nota: O ex-Inspector Geral da Administração Pública a que me refiro exerceu o cargo durante os governos de Guterres.

Publicado por: Joana às janeiro 17, 2006 11:56 PM

Publicado por: Joana às janeiro 17, 2006 11:52 PM

Folgo muito que a Joana tenha promovido a «assessores» os cozinheiros, os administrativos, os seguranças, etc

# : - ))

Publicado por: (M) às janeiro 18, 2006 12:03 AM

Este, por exemplo, é o assessor do quadro eléctrico:

Aviso n.o 2519/2003 (2.a série).—Por despacho de 3 de Fevereiro
de 2003 do secretário-geral da Presidência da República:
Raimundo F..... B......, operário principal da carreira de electricista,
do grupo de pessoal qualificado, do quadro de pessoal da Secretaria-
Geral da Presidência da República, escalão 5, índice 245—
reclassificado para a categoria de operador central, da carreira de
operário altamente qualificado, escalão 4, índice 260, nos termos
do artigo 5.o do Decreto-Lei n.o 154/2002, de 28 de Maio, considerando-
se o quadro de pessoal da Secretaria-Geral automaticamente
alterado.
4 de Fevereiro de 2003.—O Secretário-Geral, José Vicente de
Bragança.

Publicado por: (M) às janeiro 18, 2006 12:07 AM

O Conselho de Ministros de 8 de Janeiro último extinguiu 30 «assessores»:

11. Decreto-Lei que altera o quadro de pessoal da Secretaria-Geral da Presidência da República

Este diploma extingue 30 lugares do quadro de pessoal da Secretaria-Geral da Presidência da República, altera o número de lugares do mesmo quadro em várias carreiras e categorias e cria o cargo de zelador do Palácio de Belém.

Paralelamente, é criado o quadro de pessoal em regime de contrato de individual de trabalho da Administração Pública, no total de 18 lugares, de forma a, gradualmente, suprir carências de pessoal, designadamente nas áreas funcionais de biblioteca e documentação, planeamento, investigação e gestão museológica, relações públicas, secretariado e informática.

Publicado por: (M) às janeiro 18, 2006 12:14 AM

Eu subscrevo de «fio a pavio» este texto de Joana, como de costume, muito bem escrito.
Aliás, era só o que faltava se, numa republiqueta com esta superior qualidade, não fosse possível a alternância partidária no topo do Estado.
Afinal, a Constituição só proibe a Representação Histórica.
Pelo resto, há toda uma metafísica em acção que vai desde o envolvimento partidário de um Primeiro Ministro e de um Governo em funções, ao candidato suprapartidário com origem e percurso partidário e com o apoio de partidos políticos, a outro que é apoiado pelo partido que fundou, mas que é de todos os portugueses porque sim, àqueloutro que é só da cidadania mas da ala esquerda e co-fundadador do mesmo partido, enfim e o resto da turba multa dos Grandes Proletários Franciscanos.
Logo depois, na noite das eleições, a maioria eleitoral que terá eleito o vencedor «dissolve-se» naquela base espiritual de um «poderoso dissolvente» e ficamos outra vez, uns tristes, e outros muito contentes.
Mas é claro que a democracia não é um sistema perfeito ...

Publicado por: asdrubal às janeiro 18, 2006 02:23 AM

Ninguem pode levar a mal Joana gostar mais (politicamente) de Cavaco do que Sampaio.
AJJardim também acha o mesmo!

Publicado por: zippiz às janeiro 18, 2006 08:39 AM

Concordo veementemente com a imensa maior parte do texto da Joana. Só não concordo com o segundo parágrafo, em que a Joana critica abundantemente, e com toda a razão, os governos de Guterres, esquecendo que os anteriores governos de Cavaco Silva tinham feito exatamente o mesmo, ou pior. O único disparate que Guterres fez e Cavaco não foi a história das SCUTs. De resto: Cavaco malbaratou dinheiros públicos à brava (todos esses cursos de formação pagos pela CEE, por exemplo); Cavaco aumentou brutalmente o funcionalismo público, tanto em número de efetivos como em salários; Cavaco governou constantemente com um enorme deficit das contas públicas; e Cavaco teve governos altamente nepóticos, cheios de boys e de governantes irresponsáveis (como o caso da Leonor Beleza com o sangue contaminado - Jorge Coelho foi mais probo, demitiu-se quando a ponte caiu). Ou seja, a governação de Cavaco Silva teve todos os defeitos da de Guterres, com a exceção de não ter empenhado o futuro com SCUTs.

Publicado por: Luís Lavoura às janeiro 18, 2006 10:11 AM

A mim, o que mais me impressionou negativamente em Sampaio, foram as suas gaffes no campo da Justiça, das quais relembro aqui duas recentes: a) a de maior gravidade, é de como um advogado de profissão, ao que me contam (em tempos) corajoso e tenaz, vem propôr a inversão do ónus da prova no tocante à presunção de inocência, pondo em causa trezentos anos de democracia social e fazendo relembrar os piores tiranos mundiais; b) a segunda, tem a ver com a pergunta que fez a Hugo Chavez sobre o ano de prisão do nosso piloto (certamente não resistindo a cunhas pesadas e à comunicação social sensacionalista), esquecendo-se que ele tinha a acusação deduzida e que os adiamentos se deveram aos sucessivos recursos dos outros co-réus. Quando lhe responderam que em Portugal estavam presos quase 300 cidadãos do país do inquirido, na sua maioria preventivamente e há mais de 2 anos...disse nada.

Na sequência destas perguntas e respostas, e em vez dele, todo o país ficou mais uma vez envergonhado. E não penso que a culpa seja dos tais acessores...

Publicado por: Saloio às janeiro 18, 2006 10:14 AM

"A eleição providencial de Durão Barroso é que inaugurou entre nós a governação assente em Mentiras, fazendo alinhar o país, já de si fiel aliado na NATO, nas aventuras guerreiras dos Neocons de Washington."

Há duas atitudes em relação à política em Portugal. Por um lado é a passividade mergulhada na ilusão de um salvador. Por outro, é a atitude expressa no comentário acima, que pensa que a realidade é uma sequência de teorias da conspiração.

Alguém pode dizer-me uns quantos países bons para emigrar e com futuro?

Publicado por: Mário às janeiro 18, 2006 10:20 AM

"(..) como o caso da Leonor Beleza com o sangue contaminado - Jorge Coelho foi mais probo, demitiu-se quando a ponte caiu)."

Péssima atitude a de Jorge Coelho, uma total falta de ética aclamada pela irresponsabilidade lusa.

Publicado por: Mário às janeiro 18, 2006 10:22 AM

Mário às janeiro 18, 2006 10:20 AM

Eslovénia, Nova Zelândia, Suécia, Chile... não falta por onde escolher.

Vá depressa, Mário. Não perca a ocasião.

Publicado por: Luís Lavoura às janeiro 18, 2006 10:44 AM

"Há duas atitudes em relação à política em Portugal. Por um lado é a passividade mergulhada na ilusão de um salvador. Por outro, é a atitude expressa no comentário acima, que pensa que a realidade é uma sequência de teorias da conspiração."

Brilhante

"Péssima atitude a de Jorge Coelho, uma total falta de ética aclamada pela irresponsabilidade lusa."

clap clap clap

Publicado por: joao às janeiro 18, 2006 10:47 AM

Cavaco continua a descer. Vai haver 2ª volta.

Publicado por: Senaquerib às janeiro 18, 2006 11:29 AM

A Joana nunca acerta uma em matéria de eleições, já agora deixo-lhe aqui o meu pensamento:

Cavaco 45,9 %
Alegre 21,4 %
Soares 18,1 %
Jerónimo 7,3 %
Louçã 6,3 %
Garcia 0,7 %
Brancos e nulos 0,3 %
Abstenção - 29%

Segunda volta:

Cavaco : 49,6 %
Alegre : 50,4 %

E lá teremos um Poeta como Presidente, pois neste estado a que chegámos, só mesmo um Poeta nos poderá tratar da Alma !!!

Publicado por: Templário às janeiro 18, 2006 11:41 AM

Bem, afinal, parece que há também aqueles que esperam por um D. Sebastião com herói que nos salva de uma conspiração.

Publicado por: Mário às janeiro 18, 2006 12:04 PM

Luís Lavoura às janeiro 18, 2006 10:11 AM,

«Ou seja, a governação de Cavaco Silva teve todos os defeitos da de Guterres, com a exceção de não ter empenhado o futuro com SCUTs».


Quando um Primeiro-Ministro é empossado como Primeiro-Ministro, suponho que deva existir um período em que o Governo por si constituído estude todos os «dossier's» de todos os Ministérios, fazendo um levantamento pormenorizado das áreas governativas.
António Guterres herdou o que herdou de bom e de mau. Essa era uma razão acrescida para ter governado bem e com a responsabilidade que se espera de um PM. Não foi o caso, e não apenas por causa das Scut's cujos 17 mil milhões de euros é quase tanto como o actual quadro de apoio da UE para o período de 2007-13 !
Ainda estou por saber se a admissão de 150 mil novos FP na Administração Pública em seis anos, (que entretanto são para colocar em supranumerários às «tranches» de 75 mil por legislatura) é da responsabilidade repartida de Cavaco Silva e Guterres, ou se não terá sido da exclusiva responsabilidade deste último ...

Publicado por: asdrubal às janeiro 18, 2006 01:08 PM

Num PÚBLICO de há poucos dias (dois ou três, creio) vinha um gráfico com o número de funcionários públicos em função do ano. Nesse gráfico era claro que a maior subida do número de funcionários públicos em Portugal foi na época de Cavaco Silva. Durante o tempo de Guterres a subida continuou, mas a um ritmo mais ligeiro.

Há também que ver que muitas das entradas de funcionários públicos no tempo de Guterres foram apenas a efetivação de funcionários que já anteriormente tinham sido admitidos, mas sem vínculo formal, isto é, que estavam com contrato a prazo. Não havia qualquer direito de o Estado desobedecer à lei geral do país e continuar a manter esses funcionários como contratados a prazo. Conheço dois casos desses, que relato no comentário seguinte.

Publicado por: Luís Lavoura às janeiro 18, 2006 02:30 PM

O Departamento de Física do Instituto Superior Técnico tem dezenas de funcionários. Muitos deles são idosos, e muitos têm uma educação mais que deficiente. E muitos deles produzem muito pouco.

Quando cá cheguei em 1995 conheci duas funcionárias, jovens (menos de 30 anos), que se destacavam (e continuam a destacar-se) notoriamente pelas aptidões, preparação, vontade de aprender, e produtividade. Ambas elas estavam no Departamento já há cerca de 6 anos, e os serviços de ambas eram perfeitamente imprescindíveis ao bom funcionamento do Departamento. Mas ambas estavam desde sempre em situação precária: recebiam um contrato a prazo de dois em dois anos, sendo que o dito contrato, que por lei não podia ser sempre feito pelo mesmo patrão, era feito ora pelo IST, ora por uma pseudo-associação pertencente ao IST. Ou seja, o IST enganava deliberadamente a lei, pretendendo manter estas funcionárias (e muitas elas que se encontravam em situação similar) ad aeternam em contrato a prazo.

O que Guterres fez foi obrigar a que estas situações terminassem. Obrigar a que os contratos a prazo não pudessem ser utilizados de forma desonesta por organismos do Estado para contratar pessoal que era efetivamente necessário a longo prazo.

Assim, o acréscimo do número de funcionários públicos no tempo de Guterres foi, em boa parte, um falso acréscimo: os funcionários já estavam anteriormente a trabalhar para o Estado, e a custar dinheiro ao erário público, só que sob estatutos diferentes.

Publicado por: Luís Lavoura às janeiro 18, 2006 02:37 PM

Ou seja, muitos dos funcionários públicos admitidos formalmente no tempo de Guterres entraram ao serviço do Estado no tempo de Cavaco. Deviam estar na conta de Cavaco, e não na de Guterres.

Aliás, o problema da função pública, como é evidente no primeiro parágrafo do meu comentário anterior, não é um problema simples de excesso de funcionários, mas sim um problema de funcionários pouco produtivos. Eles são pouco produtivos em grande parte por vícios da organização da função pública, mas também em boa parte por incapacidade dos próprios funcionários, os quais são frequentemente pessoas com muito baixo nível de educação, contratadas já há muitos anos e com pouca capacidade de adopção de novos métodos. Em grande parte, a contratação de novos funcionários públicos é essencial se se pretende uma função pública mais eficaz, moderna e produtiva.

Publicado por: Luís Lavoura às janeiro 18, 2006 02:46 PM

Luís Lavoura às janeiro 18, 2006 02:30 PM:
Eu vi esse gráfico e não é nada do que escreve. O aumento começou em 1995,exactamente no ano de investidura de Guterres.
Em segundo lugar é um facto que Guterres passou muitos funcionários em regime precário a efectivos, daí o aumento grande verificado em 1995, todavia entretanto continuaram a entrar muitos funcionários em regime precário. Para além daqueles que o Público apresenta, há muitos a trabalhar em regime precário.
Portanto essa é uma falsa razão.

Publicado por: soromenho às janeiro 18, 2006 02:46 PM

Luís Lavoura às janeiro 18, 2006 09:45 AM:
Assinalo que nunca o incomodou o facto de (M) chamar imbecis e estúpidos a todos os que não têm uma opinião coincidente com a dele.

Publicado por: soromenho às janeiro 18, 2006 02:50 PM

Cavaco é um dos pais do estatismo português, por isso não há que esperar muito da sua presidência.

Contudo, o crescimento do peso do Estado (e a concomitante redução de eficácia) nos tempos da governação Guterres foram bem mais graves. Mesmo que os ritmos de admissão da função pública tenham sido menores, há que ver que trata-se de medidas cumulativas. Não fechar a torneira é que foi grave. Digamos que Cavaco conduzia na auto-estrada e durante a sua governação acelerou dos 100km/h até aos 160 km/h. Guterres pegou o volante e voltou a acelerar dos 160km/h até aos 200km/h. Cavaco teve uma aumento de velocidade superior ao de Gueterres mas qual foi o mais perigoso?

A comparação que se teria de fazer era entre as medidas do governo Guterres e as medidas que um hipotético governo Cavaco teria tomado se tivesse continuado em mais um ou dois mandatos.

Publicado por: Mário às janeiro 18, 2006 02:53 PM

O último comentário refere-se a um comentários seu no post anterior. Enganei-me

Publicado por: soromenho às janeiro 18, 2006 02:53 PM

Luís Lavoura às janeiro 18, 2006 02:37 PM,

Pois então concedo-lhe que ambos [Cavaco e Guterres] falharam na necessidade de uma reforma da Administração Pública em tempo útil, tendo "sobrado" uma lei laboral desadequada das circunstâncias previsíveis ... é o que me parece.

Publicado por: asdrubal às janeiro 18, 2006 03:17 PM

asdrubal às janeiro 18, 2006 03:17 PM

Sem dúvida. As leis laborais do nosso país são em geral desadequadas às circunstâncias atuais. As leis laborais da função pública são-no ainda muito mais.

Aliás, é difícil perceber porque é que a função pública deva ter leis laborais diferentes das gerais. Muitos dos encargos de muitos funcionários públicos são perfeitamente análogos aos encargos de trabalhadores análogos do setor privado.

Em particular, um problema da função pública é o arranjo segundo o qual os salários crescem em função da antiguidade. Este arranjo está totalmente desadequado dos tempos atuais, nos quais as tecnologias evoluem rapidamente e a demografia se contrai e em que, portanto, os trabalhadores jovens deveriam em geral ser mais desejados do que os idosos.

Publicado por: Luís Lavoura às janeiro 18, 2006 03:38 PM

soromenho às janeiro 18, 2006 02:50 PM

Espero da Joana, por ela ser dona do blogue e não só, um nível de comportamento melhor do que o que espero da generalidade dos comentadores.

Publicado por: Luís Lavoura às janeiro 18, 2006 03:40 PM

Luis Lavoura

As leis laborais da função publica radicam no conceito de que, se um chefe decidir fazer algo que a Lei não permite, o funcionário pode-se recusar a executá-lo sem receio de ser despedido .... e se o não fizer é igualmente responsável.

Como a maioria dos cargos de chefia são por nomeação política, se assim não fosse imagine o resultado ....

Publicado por: luis3m às janeiro 18, 2006 04:22 PM

Luís Lavoura às janeiro 18, 2006 03:38 PM,

Ora bem.
Quanto mais depressa esse «arranjo» for «desarranjado», melhor, que tenho dois filhos a muito poucos anos de bater à porta do mercado de emprego.
Deve ser também por isso que o Estado quer agora os FP mais tempo em funções, ao mesmo tempo que lhes congela as carreiras e, acima de tudo, o cálculo das reformas. Está «bem pensado».
Já devia era ter sido há muito mais tempo ... sem prejuízo, é claro, de eu nada ter contra os Funcionários Públicos.

Publicado por: asdrubal às janeiro 18, 2006 05:53 PM

De todos estes comentários, o que mais me divertiu foi o de um imbecil que se devia dedicar exclusivamente à Lavoura, como o apelido aconselha, em vez de andar a semear necedades pelos blogues.

Publicado por: Divertido às janeiro 18, 2006 09:20 PM

Sobre a catadupa de admissões na administração pública (AP) nos tempos de Guterres, conto o meu caso (que, obviamente, vale o que vale - é um exemplo):

- entrei em Março de 1995, com contrato de prestação de serviços (recibo verde) de 2 meses; Assim estive cerca de 3 anos, com contratos renovados de 2 em 2 meses;
- depois, passei a contrato a prazo por um ano;
- finalmente, fui admitido na AP. Nessa data havia colegas que estavam há 9 anos a recibo verde;
- agora, somos nós (os ex-recibos verdes, quase todos doutores e engenheiros, a assegurar o funcionamento desta Instituição);
- nos últimos quinze dias, não consegui sair dos serviços antes das 9 da noite. Num dos dias saí à meia-noite (entro sempre às nove da manhã);
- por três vezes, não fui sequer dormir a casa (que fica a 60 Km);
- uma vez que estamos em processo de reestruturação, foi-me solicitado que assumisse a chefia dos serviços sem qualquer acréscimo no salário ou outra regalia. Aceitei.

Como disse, é um exemplo e vale o que vale. Contudo, considero que a regularização da situação dos recibos verdes, feita pelo Governo de Guterres, foi positiva. A AP seria muito pior se isso não tivesse acontecido.

No que respeita aos comentários que por vezes aparecem neste blogue, relativos à AP, são, regra geral, eivados de desconhecimento e de preconceito.

Publicado por: Vítor às janeiro 19, 2006 12:03 PM

Manual do Anarco-Miguelista - Lição nº 3

O regime ideal é aquele que:

1º - Garante a participação dos legítimos representantes dos governados nos orgãos de poder;

2º - Impede o controlo do aparelho do poder por qualquer oligarquia.

De uma forma geral parece só nos preocuparmos com o 1º ponto, esquecendo que ele não é garante da realização do 2º ponto. Qualquer regime pode ser subvertido por uma combinação de poder económico e de corruptibilidade dos políticos e de sectores da sociedade civil. Para evitar o acesso de oligarquias ao poder, é fundamental instituir formas originais de designação dos agentes do poder.

Numa Monarquia absoluta a designação do Rei não está na dependência de eleições, logo o Rei não pode ser corrompido. Ao nomear livremente o Primeiro-Ministro o Rei impede que ele possa ser designado ou sugerido pelos corpos oligárquicos. Ao ser comandante-chefe das forças armadas, o Rei retira às oligarquias económicas o poder de derrubar o sistema pela força. Ao poder vetar absolutamente declarações de guerra e tratados internacionais, o Rei preserva a paz e a soberania nacional. Por outro lado, ao poder ser afastado em referendo de iniciativa popular, com 2/3 de maioria dos inscritos, o Rei não pode tornar-se num ditador. E havendo o crivo do Conselho de Estado na designação do sucessor, impede-se que um idiota ou um incapaz possa ser Rei.

Só num sistema deste tipo as oligarquias ficam incapacitadas de assumir o poder.

Publicado por: Albatroz às janeiro 19, 2006 01:25 PM

Vítor às janeiro 19, 2006 12:03 PM

Acredito que dá o seu melhor tal como afirmou. A questão que lhe coloco é se:

- Já melhorou os procedimentos no seu serviço, de modo a evitar 35 000 voltas.~

Porque... senão continuará a trabalhar até à meia-noite ingloriamente e um dia, chegará à conclusão que não vale a pena !

As Chefias da A.P. têm que ser corajosas e assumirem riscos, mesmo duvidando se estão dentro da Lei ( uma vez que as leis são ambíguas ) ou seja, ninguém será jamais condenado por ter trabalhado bem !!!

Publicado por: Templário às janeiro 20, 2006 10:45 AM

Templário às janeiro 20, 2006 10:45 AM

Eu estou cá. Por isso conheço a inércia esmagadora da "máquina". Mudar-lhe o rumo não é fácil... E, acredite, as pessoas querem mudar. Querem fazer mais e melhor. Mas querem também ser respeitadas. Não querem ser vistas como uns ladrões a quem, continuamente, apontam o dedo.

O que estou a fazer é... tentar melhorar os procedimentos. E, com 1/3 das pessoas de há 5 anos, e a restrição orçamental em vigor, fazer o mesmo trabalho. Isso exige um esforço suplementar que faço com gosto mas sem entusiamos infantis.

O que gostaria, mais uma vez de lembrar, é o completo desconhecimento e ressabiamento papagueado em alguns dos comentários sobre a função pública.

Publicado por: Vítor às janeiro 20, 2006 12:33 PM

alguém tem ...

Publicado por: J P Castro às janeiro 20, 2006 11:19 PM

E é neste ambiente de pseudo-conhecimento dos assuntos e pseudo-intelectualismo que continuamos a fazer ruido, dando opiniões sobre tudo e sobre nada, umas com um português melhor, outras mais descuidadas. Portugal está revoltado, tudo está mal, daqui a dez anos vamos ser vendidos aos espanhois, telves eles façam melhor, porque os portugueses não prestam. É este o resumo que faço de toda a indignação que existe no nosso país. Enquanto exisitrem pessoas, cujo o unico objectivo é tentar demonstrar que tudo está mal, e nada funciona, efectivamente vamos ter problemas na nossa evolução como país. Enquanto todos pensarem e afirmarem que as pessoas que têm cargos de responsabilidade, são incompetentes e que nada de bem fizeram por Portugal, o País vai continuar a ter problemas. Já dizia o Eduardo Prado Coelho, os politicos são o reflexo da sociedade, os primeiros-ministros, vão e vêm, os cidadãos ficam, e segundo voces, tudo está na mesma, ou pior, logo só posso concluir que existe uma resitência á mudança da parte da população, habituados a serem os menos produtivos da Europa e reclamarem por melhores ordenados atribuidos de forma automática, sem mérito.
Talves muitas pessoas competentes e com vontade, que Portugal tem, não surgiram para nos liderar porque realmente dá pouca vontade fazer algo, para depois ser criticado destrutivamente numa base sistemática e expor a vida para que se posso num ou noutro blog comentar, para aparecer no jornal das 8 etc..
Depois deste discurso todo, que lamento ter sido longo, mas realmente penso que enquanto não repararmos que somos bons, que as pessoas fizeram coisas boas e que temos de encarar o futuro positivamente, só nos vamos afundar mais.

Publicado por: flemmings às janeiro 23, 2006 10:46 AM

Eu acho que a joana nao tem consciencia da limitacao dos poderes do presidente a republica. Ela acusa o Sampaio de permitir que os diversos governos sabotassem a nossa economia. Mas afinal nao fomos nós portugueses que elegemos esses mesmos governos? Que direito tem ele de dissolver os governos eleitos por nós ou impedir as politicas defendidas pelos representantes que NÓS elegemos? O governo representa (supostamente) a vontade do povo e Sampaio respeitou isso. Caso contrario viveriamos numa Ditadura.
E mais, desenganem-se aqueles que pensam que o Cavaco é o nosso salvador; ele é 1 tipo mto inteligente, mas cm PR ele nao tem qualquer hipotese de por em practica as suas aptidoes em economia.
Aconselho vivamente áqueles que opinam sobre politica a obter 1 opiniao PRÓPRIA e nao se limitarem a subscrever a opiniao de alguem que possui 1 nocao politica limitada, criticando tudo e todos sem justa causa. A joana recorre á receita do "tds os politicos sao maus" para elaborar 1 opiniao pobre e tipicamente popular, sem real consciencia politica.
Nao sou apoiante do Sampaio mas devo dizer que ele foi a imagem da moderacao e da seriedade. Cometeu erros? Talvez, mas no geral foi 1 bom presidente.

Publicado por: cabeleira às janeiro 24, 2006 10:50 PM

uiui.. esta KPK é minha ... plim plão

Publicado por: Cush às janeiro 28, 2006 02:15 AM

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