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janeiro 02, 2006

Boas e Más Perspectivas

O sector privado enfrenta 2006 com perspectivas diferenciadas, consoante o caso. Há sectores que prevêem melhorias, outros prevêem um ano bem pior que o de 2005. Numa leitura apressada pensar-se-ia que tudo se saldasse num equilíbrio, nomeadamente no que toca ao emprego. Infelizmente os sectores que esperam melhorias, como a banca e os seguros, contam que tal aconteça por um ligeiro aumento do volume de negócios e pela continuação da diminuição dos custos, leia-se: diminuição dos efectivos. Quanto aos sectores que esperam um ano bem pior, têxtil, calçado e construção civil, são os principais sectores empregadores e o aprofundamento da sua crise levará a mais falências, deslocalizações e aumento do desemprego. Resumindo: se exceptuarmos as empresas na área tecnológica, ainda com reduzido impacto no emprego, quer os sectores optimistas, quer os sectores pessimistas prevêem diminuir os seus efectivos.

É fácil darmo-nos conta do desemprego nos sectores do têxtil, calçado – basta ligarmos a televisão e vermos os trabalhadores à porta das fábricas, firmes e obstinados em não permitirem a retirada de equipamentos obsoletos com os quais trabalharam durante tantos anos. Todavia o desemprego na construção civil processa-se silenciosamente. As grandes empresas de construção civil têm um núcleo duro – fundações, estruturas, project management – e o resto é dado em subempreitada a pequenas e médias empresas, muitas das quais arregimentam os efectivos a título precário. Quando a obra acaba aqueles efectivos ficam desocupados. Se não houver nada no horizonte, ficam no desemprego, muitos deles sem possibilidade de recorrerem ao subsídio por diversas razões ligadas à precariedade do seu estatuto ou por estarem em situação ilegal.

As previsões do Governo para 2006 têm sido revistas em baixa mas, apesar de nos porem na cauda da Europa quanto ao crescimento, são ainda optimistas. O Governo baseou essas previsões na expectativa que as nossas exportações cresçam 5,7%. Ora esta perspectiva tem pouco fundamento, dada a evolução actual das nossas exportações. O reduzido dinamismo que se nota na UE, nosso principal cliente, não terá reflexos no aumento das nossas exportações. Os nossos sectores exportadores tradicionais sofrem, dentro da UE, a concorrência dos países asiáticos. A agravar esta situação está o actual braço de ferro entre os trabalhadores da Auto Europa e a respectiva administração. Se não houver acordo, bem pode o Governo mandar às urtigas as previsões para 2006 e preparar-se para uma recessão fortíssima. Mas mesmo que haja acordo, é pouco provável que aquelas expectativas se concretizem.

Não são de prever investimentos estrangeiros significativos em Portugal em sectores exportadores. Portugal não tem actualmente qualquer atractividade para um investidor estrangeiro: uma burocracia paralisante, uma justiça ineficaz, um ónus fiscal pesado, confuso e arbitrário, uma legislação laboral restritiva, baixa qualificação da mão-de-obra. Dentro da UE há países muito mais atractivos que o nosso, para onde se estão a dirigir os investimentos e que crescem com taxas elevadas. Mas entre nós subsistem muitos suicidas que são adeptos entusiastas do nosso modelo de empobrecimento sustentável e são eles quem “mais ordenam” na comunicação social e nas esferas políticas e sindicais.

Os sectores abrigados do exterior também vão ser pouco a pouco afectados. O mau desempenho económico dos sectores abertos vai reflectir-se, por via da diminuição do rendimento das famílias, no funcionamento dos sectores protegidos do exterior. E por uma sinergia negativa, será depois o próprio Estado que terá dificuldade em sustentar-se pela incapacidade em manter o nível de receitas.

Até agora o Governo só tem tomado medidas que, mesmo quando são correctas do ponto de vista da justiça social, são insuficientes e não passam de paliativos no que respeita à despesa. O próprio projecto de reestruturação de carreiras, que pretende travar o automatismo das progressões, apenas poderá poupar uns 100 milhões de euros anuais nas despesas com pessoal (1/7 da renda anual das SCUTs!). A convergência da idade da reforma, medida justa do ponto de vista da equidade social, também terá, no médio prazo, um efeito ainda mais pequeno na despesa pública.

O Governo tem a seu crédito o ter mostrado que era possível enfrentar os interesses corporativos que têm paralisado o país e angariar o apoio da opinião pública para esse objectivo. Mas isto é apenas um tabu que se quebra. Em si quebrar um tabu é somente um sinal que se dá. Só será relevante se for para avançar na direcção que a veneração por esse tabu proibia. E o que é imperioso é o Governo atacar em força o despesismo e pôr o sector público a funcionar com eficiência.Sem isso não há retoma possível. Só tolos se podem iludir sobre tal.

É evidente que o país tem capacidade de regeneração. Os países não morrem de morte natural. Quanto mais a situação se agravar, menos suicidas, adeptos entusiastas do nosso modelo de empobrecimento sustentável, haverá. E menos gente será iludida por eles. A questão é saber em que ponto descendente do nosso declínio, os suicidas serão tomados por aquilo que efectivamente são: suicidas maníacos.

Publicado por Joana às janeiro 2, 2006 10:33 PM

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Comentários

Declínio? -> Declinar

Declinações latinas

Vá lá que podemos variar

Quanto à questão do suicídio como sabe Camus considerava-a a únika questão relevante...

Depois ainda há akele filme da boxeur do Clint Eastwood, viu?

Publicado por: py às janeiro 2, 2006 10:49 PM

(oh Joana este post está mais fresquinho e eu queria dizer uma coisa. Espero que n~´ao me venha com o argumento das "galinhas de ovos de ouro" relativamente ao delgado e aos impostos. Porque então eu teria de conkluir 3 koisas:

1. ele é galinha
2. põe ovos de ouro
3. é sovina

Ora, neste quadro hermenêutico só vejo, ou melhor, afiguram-se-me, duas saídas:

1. um aumento evidente de produtividade
ou
2. panela

lamento esta redução booleana pode ser que se consiga fazer emergir um terceiro incluído)

Publicado por: (py) às janeiro 2, 2006 11:31 PM

Ai meu Deus, tão bonzinho.

http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=12&id_news=208414

Batalha do Salado!

Publicado por: py às janeiro 2, 2006 11:37 PM

"É evidente que o país tem capacidade de regeneração."

Como não acredito em milagres não consigo enxergar essa "evidência".
Foi revelada por uma bola de cristal?

Publicado por: Senaquerib às janeiro 3, 2006 12:07 AM

"É evidente que o país tem capacidade de regeneração. Os países não morrem de morte natural"

Concordo com Senaquerib.

"O Governo tem a seu crédito o ter mostrado que era possível enfrentar os interesses corporativos que têm paralisado o país e angariar o apoio da opinião pública para esse objectivo"

?! nada foi feito de especial, os "privilégios" são só uma pequena parte do problema e uma consequência apenas do funcionamento do sistema. Onde é o que o Governo Sócrates mudou o funcionamento do sistema?

"Justiça Social"
Implica que alguém cometeu algum crime social.

Publicado por: lucklucky às janeiro 3, 2006 01:28 AM

"É evidente que o país tem capacidade de regeneração. Os países não morrem de morte natural"

Desta vez concordo com a Joana. Não é a primeira vez que o país está em crise, depois desta virão outras. Mesmo sem conseguir prever o futuro é razoável assumir uma recuperação, só não sabemos exactamente como se dará.
Há algum tempo Espanha que tinha uma taxa de desemprego assustadora, actualmente passou a referência do sucesso. "Os países não morrem de morte natural", podem sempre tratar-se das doenças de que ocasionalmente são vítimas.

Publicado por: Daniel às janeiro 3, 2006 03:08 AM

Uma boa solução para a cura é libertar o país dos parasitas...

Publicado por: (M) às janeiro 3, 2006 08:56 AM

"Justiça Social"
Implica que alguém cometeu algum crime social.

lucklucky às janeiro 3, 2006 01:28 AM
______________________________________________

Não implica, não senhor. A Justiça não lida apenas com crimes. Também trata de infracções, contraordenações, divórcios, dívidas, heranças, etc. Logo...

Publicado por: (M) às janeiro 3, 2006 09:00 AM

Mas entre nós subsistem muitos suicidas que são adeptos entusiastas do nosso modelo de empobrecimento sustentável e são eles quem “mais ordenam” na comunicação social e nas esferas políticas e sindicais.

Joana às janeiro 2, 2006 10:33 PM
_______________________________________________

Fazendo algumas contas de cabeça às responsabilidades na informação temos que:

1 - Na RTP quem manda é o sr. Luis Marques
2 - Na SIC quem manda é o sr. Francisco Balsemão
3 - Na TVI quem manda é o sr. Eduardo Moniz
4 - Na RR quem manda é o sr. Sarsfield Cabral
5 - Na TSF quem manda é o sr. José Fragoso
6 - No Público quem manda é o sr.José Manuel Fernandes de acordo com a vontade do sr. Belmiro de Azevedo
7 - No Diário de Notícias quem manda é o sr. António José Teixeira
8 - No Correio da Manhã quem manda é o sr. João Marcelino
9 - No Jornal de Notícias quem manda é o sr. José Leite Pereira
10 - No Expresso quem manda é o sr. Francisco Balsemão
11 - Na Visão quem manda é o sr. Francisco Balsemão
Nos diários económicos quem manda são as grandes empresas

Ora, não consta que nenhum dos supracitados senhores seja «suicida» ou «adepto estusiasta do nosso modelo de empobrecimento sustentável». Portanto, das duas uma: ou há outros suicidas a mandar e é preciso dizer quais para informar os supracitados que estão enganados quando pensam que mandam nos meios respectivos, ou eles mandam mesmo e a comunicação social não pode ser acusada de contribuir para a manutenção do «modelo de empobrecimento»

Publicado por: (M) às janeiro 3, 2006 09:36 AM

Uma notícia de hoje:
_____________________________________________

A Associação da Restauração e Similares de Portugal (ARESP) levanta dúvidas quanto à legalidade do despacho da Secretaria de Estado dos Assuntos Fiscais que define a obrigatoriedade de os cafés, restaurantes, bares e outros estabelecimentos semelhantes emitirem sempre factura quando o valor a cobrar atinge os 9,98 euros, no âmbito das medidas de combate à fraude e evasão fiscal
_________________________________________

Olha, então não querem lá ver que eu pensei que se tratava de um sindicato kamikaze. Afinal é só uma associação patronal a querer encontrar um pretexto para fugir aos impostos...

Publicado por: (M) às janeiro 3, 2006 09:50 AM

Bom post.

Está muito adequada e acertada a descrição sobre a perda de emprego na construção civil. Trata-se de uma perda inexorável, dado que o país sofreu longos anos de um setor de construção civil empolado, com, por exemplo, um consumo de cimento per capita muito superior ao dos EUA ou à média europeia. A população estava em fase de urbanização (deslocação das populações das aldeias para as cidades) e era preciso construir muitas casas. Também havia um forte deficit de infra-estruturas. Hoje em dia o movimento de urbanização acabou, e a carência de infra-estruturas já é pequena. (Há, pelo contrário, dificuldades crescentes em manter operacionais as infra-estruturas e as habitações excedentárias existentes.) Logo, o setor da construção civil tem que, inexoravelmente, diminuir fortemente de tamanho. O PS bem tenta fugir a esta realidade (o setor da construção civil é, calculo, o principal financiador dos partidos do centrão), mas ela é inevitável e inadiável.

Publicado por: Luís Lavoura às janeiro 3, 2006 10:10 AM

"o que é imperioso é o Governo atacar em força o despesismo e pôr o sector público a funcionar com eficiência"

Sem negar que isto é imperioso, afirmo que é também imperioso que os portugueses deixem de olhar apenas e sobetudo para aquilo que o Governo deve ou não deve fazer. A principal causa da recessão portuguesa não está na má atuação dos sucessivos governos, mas sim na incapacidade dos empresários portugueses.

Se os empresários portugueses têm as suas exportações concentradas na Europa, em vez de olharem sobretudo para mercados com maior dinamismo demográfico e, portanto, maior potencial de crescimento, isso é culpa deles.

Por exemplo, li há uns dias que a Adega Cooperativa de Borba está agora a tentar vender o seu vinho na China. Faz ela muito bem. Devia era ter começado a tentar isso meia-dúzia de anos mais cedo...

Se os empresários portugueses sofrem a competição dos chineses, é porque se deixaram ficar em produções de baixo valor acrescentado, muito suscetíveis a essa competição.

O Governo dificilmente pode forçar os empresários portugueses a subir o nível tecnológico dos seus produtos, ou a procurar mercados mais promissores (em termos demográficos e não só) para a sua colocação. Se Portugal decai, a culpa é maioritariamente dos empresários portugueses.

Publicado por: Luís Lavoura às janeiro 3, 2006 10:20 AM

Lavoura, como podes esperar que os empresários Portugueses sejam bons, se cada vez que contratas alguém tens quase o dobro em custos, do que essa pessoa realmente leva para casa líquido?

Eu sou sócio de uma nova empresa na área de consultoria em ERP's. Essa empresa teve um início brilhante e em pouco mais de um ano passou de uma facturação de zero para uma facturação de 1.1 milhões de euros, já emprega mais de 20 pessoas.

Uma só empresa dessas, ANTES de remunerar os seus accionistas, entrega já cerca de 400000 Euros ao Estado.

Achas que é possível criar empresas, emprego e competir quando a realidade é essa? Ou sequer que faça sentido faze-lo?

Francamente, prefiro pegar no meu dinheiro e especular em mercados estrangeiros de toda a forma e sentido, pelo menos:
1) Sei que ganho;
2) Sei que o que ganho fica para mim.

Publicado por: Incognitus às janeiro 3, 2006 10:27 AM

Aparentemente os Chineses gostam mais de beber bebidas fortes à refeição, tipo brandy e coisas assim. Já se tentou vender lá Vinho do Porto (o Amorim), e não foi um sucesso por aí além.

Pode ser que os gostos deles mudem, claro.

Publicado por: Incognitus às janeiro 3, 2006 10:29 AM

(M) às janeiro 3, 2006 09:36 AM:
Nos jornais e meios de comunicação, quem manda não são os donos, mas as redacções. E você deve saber isso perfeitamente.
A única hipótese para os donos é venderem os jornais ou deixarem-nos falir. Mas se os quiserem vender têm as AACS ou herdeiros à perna, a espiolhar a quem vendem, como vendem, para que vendem, etc.

A lei portuguesa é, comparando com as estrangeiras, a que dá mais poderes às redacções. São elas que impõem as opiniões que lemos.

Publicado por: soromenho às janeiro 3, 2006 10:53 AM

O problema das opiniões expressas em meios de comunicação não me admiraria estar em QUEM expressa as opiniões.

Regra geral, quem expressa as opiniões são trabalhadores por conta de outrém e não empregadores.

Se queremos criar emprego, temos que perguntar aos empregadores, e não aos empregados, o que necessita ser feito.

Publicado por: Incognitus às janeiro 3, 2006 11:01 AM

Oh Inkognitus ainda bem que a tua empresa não é em CER's senão lá me iam as sonekas por outro lado...

Deixo-me uma dika que ainda hoje me deixa espantado: parece que é mesmo verdade que quanto mais se dá mais se recebe... agora é tudo muito transcendente, tem que se ter paciência.

Bem mas eu só vinha qui fazer um primo que este 2006 já me deu muito trabalho para começar. Um bom dia para tod@s.

Publicado por: py às janeiro 3, 2006 11:33 AM

(Ah e kuanto a Portugal, Portugal é o maior meus! Respondo com os meus t! Agora precisamos é de romanos por kausa de uma terapia que eu ká sei, que já treinámos o suficiente entre nós...)

Publicado por: py às janeiro 3, 2006 11:36 AM

O "quanto mais se dá mais se recebe" é uma desculpa religiosa para manter calmos aqueles que pouco têm para dar.

Os restantes, quando dão exigem retorno.

Publicado por: Incognitus às janeiro 3, 2006 11:36 AM

tá, espera pela revelação, mas olha que tens responsabilidade por acção e por omissão, dentro dos limites da tua consciência.

Agora dar não é à balda por kausa dos efeitos perversos.

Publicado por: py às janeiro 3, 2006 11:41 AM

e eu que nem sou baptizado e fiquei só meio-budista porque eles acharam muito engraçado fikar assim, te digo:

religião vem de re-ligar, re-ligar isto tudo...

Publicado por: py às janeiro 3, 2006 11:43 AM

E quanto a mim constatei que o retorno vem de lugares completamente inesperados, o que fika bem mais divertido

Publicado por: py às janeiro 3, 2006 11:45 AM

a minha homenagem:

http://online.expresso.clix.pt/1pagina/artigo.asp?id=24756319

Publicado por: py às janeiro 3, 2006 11:48 AM

Mas klaro que o melhor de tudo é podermos ser diferentes e aprender uns com os outros. O "meu" Centro de Saúde está a akabar a parte da obra, só depois é que vou perguntar melhor, mas como o projecto já passou por um médico e um arquitecto aqui dos moradores, em princípio está bem. Agora saiu enorme e já ando a fazer kampanha para que não se lembrem de por koisas a apitar por aqui: só luzes isso está bem!

Entretanto eu gosto disto:

http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=12&id_news=208401

Publicado por: py às janeiro 3, 2006 11:55 AM

(M) às janeiro 3, 2006 09:36 AM
“(...) a comunicação social não pode ser acusada de contribuir para a manutenção do «modelo de empobrecimento»”
Não tenho uma opinião definida sobre esse tópico, mas que informa com má qualidade, principalmente no que se refere a números, não tenho dúvida.
Ilustrando: A notícia de que, no casos de fiscalização a baixas por doença, 1/3 são fraudulentos e que a Segurança Social poupou 10 milhões de erros é inqualificavelmente incompleta. Se todas as baixas foram fiscalizadas, então está correcto, se as acções de fiscalização incidiram sobre 1% das baixas existentes teremos que a SS está a perder 990 milhões! A percentagem de fiscalizações em relação ao total, como é evidente, não é referida...
A notícia (CM) também afirma que o subsídio foi suspenso e que o trabalhador é obrigado a voltar ao trabalho. Com estas penalizações, certamente que 100% dos xicos espertos meteram baixa no dia seguinte!!! Claro que a classe médica nem foi referida...

Luís Lavoura às janeiro 3, 2006 10:10 AM
“Logo, o setor da construção civil tem que, inexoravelmente, diminuir fortemente de tamanho. O PS bem tenta fugir a esta realidade (o setor da construção civil é, calculo, o principal financiador dos partidos do centrão), mas ela é inevitável e inadiável.”
Com o excesso de habitação existente, e a maior parte das infra-estruturas de transporte automóvel concluídas, haverá certamente uma quebra enorme no emprego da construção civil. Creio que o temor deste desemprego é o principal factor que leva a obras de rentabilidade/interesse duvidoso, p.e. TGV Lisboa/Porto.

Incognitus às janeiro 3, 2006 10:27 AM
“como (...) esperar que os empresários Portugueses sejam bons, se cada vez que contratas alguém tens quase o dobro em custos, do que essa pessoa realmente leva para casa líquido?
A maioria dos trabalhadores só se preocupam com o que levam, líquido, para casa. Esquecem-se, convenientemente, de todos os custos adicionais que a empresa tem (nos casos em que o faz!), vulgo descontos, que ascendem, salvo melhor opinião, a cerca de 50% deste valor. Ou seja, se calhar os ordenados não são tão baixos em Portugal como se diz, se a empresa cumprir as suas obrigações fiscais...
Ainda é possível criar emprego/empresas desde que a análise económico/financeira o recomende e, mais importante, desde que a concorrência seja LEAL.
Outra maneira é apostar em áreas em que a componente da mão-de-obra não tenha peso significativo no custo final do produto, mas normalmente não são empresas grandes empregadoras, e possuem elevada especialização.

Publicado por: Olucas às janeiro 3, 2006 12:15 PM

voltei ... vivo ... esgotado ...rssss mas vivo e pronto ....

Publicado por: cush às janeiro 3, 2006 12:49 PM

"Os países não morrem de morte natural".

Joana, só um alerta: Os países morrem de morte natural.

Leia o ultimo livro de Jared Diamond " Collapse, how societies choose to fail or to survive", particularmente os capítulos sobre o Haiti (one island, two peoples, two histories), o Ruanda, Tikopia (uma ilha no sul do Pacifico), a civilização Maya, o Império Kmer e Angkor Vat, a ilha de Pascoa, e mais perto de nós o Império Romano. Os exemplos abundam, alguns violentos, outros simples fruto de más escolhas.

Publicado por: Joao P às janeiro 3, 2006 12:52 PM

Joao P às janeiro 3, 2006 12:52 PM

Obrigado pela recomendação desse livro... já encomendei!

Publicado por: Luís Lavoura às janeiro 3, 2006 02:42 PM

Nos jornais e meios de comunicação, quem manda não são os donos, mas as redacções. E você deve saber isso perfeitamente.

A única hipótese para os donos é venderem os jornais ou deixarem-nos falir. Mas se os quiserem vender têm as AACS ou herdeiros à perna, a espiolhar a quem vendem, como vendem, para que vendem, etc.

A lei portuguesa é, comparando com as estrangeiras, a que dá mais poderes às redacções. São elas que impõem as opiniões que lemos.

soromenho às janeiro 3, 2006 10:53 AM
___________________________________________

1 - Nos jornais e meios de comunicação, como em todas as empresas, quem manda é quem paga os ordenados. Ou quem o que paga os ordenados escolhe para mandar. Os media portugueses não são excepção.

2 - «A única hipótese para os donos é venderem os jornais ou deixarem-nos falir» já são DUAS hipóteses. Mas há mais hipóteses. Essa é, por exemplo a opinião do sr. Balsemão, ou do sr. Belmiro de Azevedo, ou do sr. Joaquim Oliveira, ou da Conferência Episcopal Portuguesa.

3 - Ficar-lhe-emos eternamente gratos se fundamentar a sua afirmação com a transcrição dos artigos da lei portuguesa que dão às redacções o poder para imporem as opiniões que lemos e quais os meios em que essas capacidade legal está a ser executada.

Publicado por: (M) às janeiro 3, 2006 04:13 PM

py às janeiro 3, 2006 11:36 AM

Uns espanholitos não serviriam para o efeito?

Publicado por: (M) às janeiro 3, 2006 04:17 PM

(M) não é realista pensar que os donos dos media conseguem controlar as opiniões expressas diariamente por n jornalistas. Podem "à posteriori" arreliar-se com algumas dessas opiniões (se as lerem...), mas não conseguem de forma nenhuma controla-las. São demasiadas.

As opiniões que aparecem expressas nos media são essencialmente as dos empregados.

Publicado por: Incognitus às janeiro 3, 2006 04:22 PM

pois uns espanholitos é o que está mais à mão, mas eu gosto de viajar...

Publicado por: py às janeiro 3, 2006 04:30 PM

O problema das opiniões expressas em meios de comunicação não me admiraria estar em QUEM expressa as opiniões.
Regra geral, quem expressa as opiniões são trabalhadores por conta de outrém e não empregadores.

Publicado por: Incognitus às janeiro 3, 2006 11:01 AM
______________________________________________

Quem escolhe os opinadores e lhes paga são os empregadores. Escolhem-nos sabendo antecipadamente o que eles pensam e pagam-lhes precisamente para eles irem dizer o que pensam.

Quando o sr.Balsemão contratou o sr. Miguel Sousa Tavares para o Expresso sabia muito bem o que o sr. MST pensa e escreve. E o mesmo se passou em todos os casos de contratação de colunistas para todos os meios.

Os empregadores sabem muito bem que opiniões querem ver publicadas nos seus meios e pagam o que for necessário para as terem.

Publicado por: (M) às janeiro 3, 2006 04:32 PM

(M) isso é uma visão conspirativa da realidade, que não encontra expressão nessa mesma realidade.

Estás a pensar em meia dúzia de comentadores, e não nas centenas de jornalistas que de uma forma ou de outra opinam (ainda que não em editoriais).

Publicado por: Incognitus às janeiro 3, 2006 04:44 PM

Incognitus às janeiro 3, 2006 04:22 PM

Você está a laborar em dois erros muito comuns entre os consumidores de informação:

1 - Pensa que os autores dos artigos de opinião são jornalistas dos media em que eles são publicados.

2 - Pensa que os donos dos media não controlam o que se passa nas suas redacções, pensando que têm que ser eles próprios a fazê-lo diariamente.

Ora...

Mais de 90 por cento das opiniões publicadas são assinadas por colaboradores (como esta palavra se aplica bem neste caso) não jornalistas, convidados individualmente pelos media. Uma grossa fatia desses colaboradores espalha as suas opiniões por mais do que um meio.

Os donos dos media escolhem criteriosamente as direcções dos meios, dando-lhes instruções precisas sobre a linha editorial. São estas direcções que exercem o controlo das redacções, premiando quem se insere nos objectivos definidos pelos donos e punindo quem mija fora do penico.

Publicado por: (M) às janeiro 3, 2006 04:47 PM

(M) não estou a confundir nada, estou a dizer que muitas notícias contêm a opinião do jornalista ainda que nem este se dê conta, e não estou a falar dos comentadores em artigos de opinião.

A maioria dos empregadores deste país são liberais (mesmo quando eles próprios não se dão conta), e no entanto quase não existe opinião liberal nenhuma nos media.

Publicado por: Incognitus às janeiro 3, 2006 04:52 PM

Incognitus às janeiro 3, 2006 04:44 PM

Você poderá chamar-lhe o que quiser, que isso não altera o facto de eu saber muito bem o que estou a dizer.
Quantos às formas de opinião, só conheço uma: a opinião assinada, com o nome ou a cara.
Quantos às centenas de jornalistas, visto que conhece tantos, não terá dificuldade em apontar-me o nome de UM jornalista pertencente à redacção de qualquer dos canais de televisão ou de rádio que seja comentador no próprio meio em que trabalha.
Repare que não lhe peço a Lua – apenas UM nome no meio dessas centenas.

Publicado por: (M) às janeiro 3, 2006 04:55 PM

Incognitus às janeiro 3, 2006 04:52 PM

Ah! Bom! Você já podia ter dito que estava a brincar às análises de conteúdo.
Eu no domínio da subjectividade inconsciente não me meto. É demasiado esotérico para mim.
Por isso, tenho dito

Publicado por: (M) às janeiro 3, 2006 04:58 PM

Não são comentadores, já o disse, mas a sua opinião reflecte-se no que publicam.

Ou já viu algum artigo a dizer que os professores portugueses, que tanto se queixam, estão no topo de carreira nos primeiros lugares da OCDE em termos de remuneração ABSOLUTA, e são os primeiros destacados se compararmos ao PIB per capita?

E como esse facto, n outros factos. Não os lê escritos nos media tradicionais, porque simplesmente a maior parte dos jornalistas tem a sua opinião formada sobre o assunto, e essa opinião é "a função pública é mal paga".

Publicado por: Incognitus às janeiro 3, 2006 05:02 PM

(M) acha que quem cria emprego o faz por ser altruista? Ou porque gosta de barreiras à sua actividade? Ou porque adora impostos elevados para que o seu trabalho vá parar ao bolso de outros?

Publicado por: Incognitus às janeiro 3, 2006 05:05 PM

Há um factor que você também não está a ter em conta e que explica a maior parte dos casos que exemplica com a remuneração dos professores: incompetência profissional.

Publicado por: (M) às janeiro 3, 2006 05:07 PM

Só mesmo neste país é que existem iluminados que NÃO criam emprego, e no entanto se sentem na necessidade de ditar a quem cria o que deve fazer ou a criticar os poucos que ainda criam algo.

Este debate em grande medida é estéril, porque quem é liberal não quer impor nada aos outros, apenas quer liberdade para a sua acção (dentro dos limites de não afectar a liberdade de terceiros), ao passo que do outro lado temos uma série de iluminados a querer interferir na vida alheia e dentro do possível a roubar a sua riqueza compulsivamente, em nome da "solidariedade".

Publicado por: Incognitus às janeiro 3, 2006 05:08 PM

Incognitus às janeiro 3, 2006 05:05 PM

Agora é que me deixou speechless com essas perguntas.
Não faço a mínima sobre a razão das perguntas.

Publicado por: (M) às janeiro 3, 2006 05:09 PM

Eu não julgo que uma classe inteira possa ser incompetente.

A única característica que essa classe inteira partilha é o serem empregados, nada mais. Vêem as coisas na perspectiva de serem empregados.

Publicado por: Incognitus às janeiro 3, 2006 05:10 PM

(M) a razão das perguntas era para mostrar que quase todos os empregadores são liberais ainda que nem eles próprios saibam (e por isso votem PC, PS, PSD, PP, etc).

Publicado por: Incognitus às janeiro 3, 2006 05:11 PM

Eu também não penso que uma classe inteira seja incompetente. Nem escrevi isso.
Você deu um exemplo de negligência informativa e eu aventei uma explicação.
Também não penso que você pense que toda a informação é negligente

Publicado por: (M) às janeiro 3, 2006 05:15 PM

eu agradeço-vos pá, não interpretem isto como bajulação que eu detesto isso, mas deixaram-me a pensar.

Portanto a única forma de assegurar a maior liberdade de informação na CS seria com muitos empregos e muita concorrência, porque é verdade que mijar fora do penico se paga.

Entretanto agora há a blogosfera.

Publicado por: py às janeiro 3, 2006 05:43 PM

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