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novembro 20, 2005

Humanismos e Trivialidades

Um dos sintomas do atraso da nossa sociedade é a aversão ao trabalho manual (e mesmo ao trabalho tout court). No universo da gente com acesso à instrução, esta aversão reflecte-se na arrogância com que os que se formaram (ou apenas tiveram a frequência) nas áreas ditas humanistas se tomam como depositários da cultura, em oposição aos graduados em áreas técnicas, culturalmente ignaros. Uma retórica recheada alusões filosóficas ou literárias é cultura; discorrer sobre questões técnicas ou científicas é entediante e sintoma de vazio cultural. Carnot é despiciendo perante Rousseau; Niels Bohr ou F. Hayek perante Proust ou Sartre. A retórica, política e publicitária, julga irrelevantes a técnica e a ciência. Os números, em vez de nos levarem à verdade das coisas, levam-nos a abstracções perigosas, como o défice público, que não passa de um economicismo que visa a degradação dos trabalhadores, que só podem ser salvos por uma eloquência despojada de números e de dados científicos e técnicos.

Todavia, nos dois grandes momentos de formação do nosso pensamento, na Grécia Clássica e no Renascimento, aquela antinomia não existia e a sua inexistência foi fecunda para o desenvolvimento da nossa civilização.

O nascimento da filosofia grega aparece solidária com duas grandes transformações mentais: um pensamento positivo e um pensamento abstracto, rejeitando a assimilação estabelecida pelo mito entre fenómenos físicos e agentes divinos. Alguns dos filósofos pré-socráticos eram mercadores (*) e o aparecimento da moeda e de uma economia mercantil, na qual os objectos se despojam da sua diversidade qualitativa (valor de uso) e só têm um significado abstracto de uma mercadoria semelhante a todas as outras (valor de troca) concorreu para a formação de um pensamento sincrético onde o amor à sabedoria (filosofia) tinha como indispensável o alicerçar-se na vivência prática e na técnica.

O nascimento das Universidades (e a posterior eclosão do Renascimento) veio suprir a necessidade de conhecimentos que habilitassem a burguesia emergente a gerir os seus haveres e a aumentar a sua cultura. Confluíram portanto nesse processo uma maior valorização da cultura e a necessidade de uma educação mais prática do que aquela que a teologia escolástica dava. As "humanidades", tal como estes estudos eram conhecidos, aliavam a teoria à prática (a teoria e a prática possíveis para a época). Os humanistas eram aqueles que ministravam estes programas e aqueles que se distinguiam pelo saber e capacidade profissional nessas matérias.

Abro um parêntese para um facto curioso e … sintomático. Os currículos estavam divididos no Trivium (Retórica, Dialética e Gramática), mais virado para a eloquência e vida mundana, e no Quadrivium (Geometria, Música, Astronomia e Aritmética), de carácter científico. Trivium, em latim, significa também cruzamento viário (literalmente 3 vias) e, por extensão, local mal frequentado, coisa reles, etc.. A nossa palavra trivial tem a mesma etimologia que a área de ensino que se dedicava à retórica e à eloquência.

Com o tempo o humanismo das universidades medievais degenerou num culto puramente retórico e formal do classicismo, voltado para uma erudição que carecia de vitalidade criadora. O iluminismo e a Revolução Industrial restabeleceram, num nível superior, o papel da ciência e da técnica na vida cultural e civilizacional. Todavia, na nossa sociedade, e no mundo latino em maior ou menor grau, essa erudição carecida de vitalidade criadora continua a ser a imagem de marca daqueles que pretensiosamente se atribuem o epíteto de “humanistas”. Combatem a racionalidade baseada na ciência e na técnica, alegando que esses fundamentos a desumanizaram, quando na realidade estão a fazer apelo ao irracionalismo e à eloquência frívola. Consideram-se “humanistas” quando, efectivamente, estão a castrar o humanismo da sua componente técnica e científica que esteve na base dos momentos decisivos da formação do nosso pensamento e da nossa civilização.

Não são humanistas, são apenas triviais.

O caso assume proporções mais despropositadas com a assunção de humanista por Mário Soares quando o que se conhece publicamente da sua vertente cultural, ou “humanista”, é ter uma boa biblioteca, ser visto com muita gente do mundo cultural e ter apetência por frequentar ou estar associado à promoção de eventos culturais. Todavia não é suficiente ter uma boa biblioteca para se ser culto: também é preciso ter lido os livros. Não é suficiente conhecer e frequentar muita gente dos meios culturais: a cultura não se absorve por osmose.

Ah! … e estar licenciado numa disciplina do Trivium …


(*) Por exemplo, Tales de Mileto, o fundador da Escola Jónica, mercador de azeite, prevendo uma farta colheita de azeitonas, alugou todos os lagares da região e subalugou-os depois a um preço muito mais elevado aos próprios donos!

Publicado por Joana às novembro 20, 2005 07:58 PM

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Comentários

Com permissão do Sr. Fernando:

O mais que isto
É Mário Soares,
Que não sabe nada de finanças
Mas consta que tem uma biblioteca...

Publicado por: Vítor às novembro 20, 2005 08:12 PM

Lá vem a Joana de jipe... Joana, os meninos do tempo de Mário Soares tiveram de fazer o trivium e o quadrivium no liceu. Já no tempo do cavaco, as falhas foram maiores...

Publicado por: py às novembro 20, 2005 08:47 PM

Pois não, Vítor. Ele declarou há dias em Leiria que quando saíu de primeiro ministro tinha deixado as contas equilibradas, quando as estatísticas mostram um défice de 12% ou 13%.

Publicado por: Sa Chico às novembro 20, 2005 08:53 PM

O Soares é mesmo velho. Então ainda é do tempo do Trivium e do Quadrivium?

Publicado por: Sa Chico às novembro 20, 2005 08:55 PM

Raramente me irrito, a não ser quando os árbitros regularmente roubam o Benfica.

Mas Mário Soares hoje num qualquer telejornal, ter vindo revelar uma conversa privada que teve com Cavaco sobre uma linha da CP que supostamente este mandou encerrar, coloca-o ao nível de um Roubário Benquerença.

Era bom que lesse o “Manual de Civilidade para Meninas de Pierre Louys”

Publicado por: Aluno da D. Paula Bobone às novembro 20, 2005 08:57 PM

Sócrates diz que Soares esteve sempre do "lado certo da história".
Estamos feitos: sendo assim, a Al-Qaeda vai ganhar

Publicado por: AJ Nunes às novembro 20, 2005 09:03 PM

hihi, choque de curricula:

http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1239492&idCanal=33

(isto promete ser um lavar de roupa suja, olha, talvez fique mais limpa...)

Publicado por: py às novembro 20, 2005 09:26 PM

Como Sócrates se está a portar mal com os Professores, Louça faz bem em responder no mesmo campo do Governo. Se isso der em roupa suja, pois que dê.

Publicado por: zippiz às novembro 20, 2005 09:37 PM

A Joana está a levantar uma questão interessante: é mais culto quem cita Shakespeare ou quem cita o 2º princípio da Termodinâmica?
Porque é que a primeira é cultura e a segunda uma coisa desinteressante?

Publicado por: Vasco Forte às novembro 20, 2005 10:04 PM

Um licenciado em Filologia Germânica ou em Filosofia é mais culto que um licenciado em Engenharia, em Medicina ou em Economia?

Publicado por: Vasco Forte às novembro 20, 2005 10:06 PM

O problema da Joana é outro.
Ela acha que os "tecnocratas", à direita, são mais importantes do que os "intelectuais", à esquerda.
É mais um esterótipo de carácter ideológoco sem pernas para andar. Ou foi por acaso que ela introduziu Mário Soares neste post? Joana não perde tempo com Rousseau, Niels Bohr, F. Hayek, Proust, Sartre ou ... Trivium e Quadrivium.

Publicado por: zippiz às novembro 20, 2005 10:22 PM

Joana: não pode deixar de reconhecer que os humanistas têm uma bagagem cultural superior aos técnicos. Aliás, relembro-lhe que há 30 anos, havia uma grande diferença entre o grau cultural da malta do liceu e o da malta das escolas técnicas - independentemente de quem era a culpa, só não via quem não queria.

Sobre o grau de cultura de Mário Soares, enfim, penso que ele já não lê um livro há muito tempo e que deve ter alguém agora a fazer-lhe uns resumos.

Quanto ao Prof. Cavaco, oriundo da escola comercial, confesso-lhe que não gostei quando, há uns anos lhe perguntaram quantos cantos tinham "Os Lusíadas". Recorda-se da resposta dele? Foi assim:
- Têm, para aí, uns 8 (oito) cantos!
O que mais me afligiu foi o "...para aí...".

Julgo que hoje em dia, com a net e a globalização dos conhecimentos, já não haverá tantas diferenças entre técnicos e humanistas. Não viu outro dia a entrevista a um viticultor que obteve um doutoramento em história de arte sem ter tido quaisquer aulas?

Publicado por: Saloio às novembro 20, 2005 10:32 PM

Vasco Forte às novembro 20, 2005 10:04 PM

Ambas são cultura obviamente. Alexandre teve de fazer o trivium e o quadrivium sob a alçada de Aristóteles de seus companheiros, entre os quais Hefestion. Nunca se esquecia em cada espedição de fazer a colecta de espécimes e enviá-los para o seu mestre .

Mário Soares poderá não saber de cor o Teorema de Tales, mas duvido que ignore que a proporção foi a maior invenção conceptual grega no sentido da technos, a arte e hoje a tecnologia, como Michel Serres recordou.

Aliás a 2ª lei da Termodinâmica permite concluir que todos os estados ocorrerão no limite em proporções iguais - a máxima entropia (só aplicável num sistema isolado).

Finalmente: vale a pena não esquecer a Lady Macbeth...

Publicado por: py às novembro 20, 2005 10:35 PM

expedição

Publicado por: py às novembro 20, 2005 10:36 PM

Saloio em novembro 20, 2005 10:32 PM:
Você está equivocado. Os engenheiros, médicos, economistas, etc, vinham dos liceus.

Das escolas técnicas, para se ir para engenharia, tinham que se fazer dois anos a mais, para se poder entrar no Técnico. Ou então iam para o Instituto Industrial e tiravam o curso de Engenheiro Técnico.

Para entrar nos cursos de Economia e Gestão, se fossem através das escolas comerciais, também perdiam dois anos.

Publicado por: Vasco Forte às novembro 20, 2005 10:38 PM

Vasco Forte: e sabe quais eram as cadeiras que tinham que fazer nesses dois anos a mais que os das escolas técnicas tinham que fazer para irem para as faculdades? Eram, exactamente, cadeiras ligadas à cultura, como História, Português, Literatura, Línguas, etc..

Acredite, que é verdade.

Publicado por: Saloi às novembro 20, 2005 10:44 PM

«alugou todos os lagares da região e subalugou-os depois a um preço muito mais elevado aos próprios donos!»

Imagine-se :
Antecipou a lei do arrendamento ... mesmo assim só por um ano.

Publicado por: asdrubal às novembro 20, 2005 10:51 PM

...A justificação para esses dois anos a mais para a rapaziada das técnicas era para os pôr ao nível (cultural) da dos liceus.

Sem querer ser radical ou ofensivo, quere-me parecer que um tipo de História tem mais bagagem cultural que um de Engenharia, no sentido do que a cultura quer vulgarmente dizer: artes, história, sociologia, litratura, etc.. Estará dotado de um conjunto mais abrangente de conhecimentos genéricos, fornecidos pelo curso.

Os técnicos, como todos sabemos, sendo naturalmente cultos na sua área, só costumam sê-lo numa matéria específica.

Penso eu...

Publicado por: Saloio às novembro 20, 2005 11:15 PM

antes

Publicado por: py às novembro 20, 2005 11:21 PM

de

Publicado por: py às novembro 20, 2005 11:22 PM

morfar

Publicado por: py às novembro 20, 2005 11:23 PM

plim

Publicado por: py às novembro 20, 2005 11:23 PM

Saloio em novembro 20, 2005 11:15 PM: O tipo de História sabe mais história que o de engenharia.

Mas há uma diferença. Se o engenheiro ler uns livros de História, poderá debater coisas com o de História. Duvido que este alguma vez consiga debater algo de engenharia com um engenheiro.

Publicado por: hanibal às novembro 20, 2005 11:26 PM

Eu tenho uma formação técnica. Numa área específica. Se ler este blog acha que essa restrição "Os técnicos, como todos sabemos, sendo naturalmente cultos na sua área, só costumam sê-lo numa matéria específica" se aplica?

Publicado por: Joana às novembro 20, 2005 11:29 PM

Toda a ideia, na Ciência, na Política, na Arte ou no quer que seja, suscita três fases de reacção:

1. É impossível, não me faça perder tempo.
2. É possível, mas não vale a pena fazê-lo
3. Eu sempre disse que era uma boa ideia

"A Lei de Murphy - Edições Papagaio"

Publicado por: especialista em Aforismos às novembro 20, 2005 11:36 PM

Relativamente ao Soares tenho uma ideia pouco favorável quanto à sua cultura geral. Isto por coisas que lhe tenho ouvido dizer.

Lembro-me que uma vez, ainda PR, ele ter dito, com a segurança que o caracteriza, que só a partir do século XVI o português se tinha diferenciado do castelhano. O próprio jornalista ficou atónito, o que levou Soares a repetir o mesmo.

Soares é bom a vangloriar-se.

Publicado por: Joana às novembro 20, 2005 11:37 PM

eu não disse que o post era sobre "o Soares" ?!

Publicado por: zippiz às novembro 20, 2005 11:47 PM

Esse Tales era um liberalão e peras!

Publicado por: selat às novembro 20, 2005 11:47 PM

O post é sobre o facto dos "que se formaram nas áreas ditas humanistas se tomarem como depositários da cultura, em oposição aos graduados em áreas técnicas, culturalmente ignaros".
No post tento analisar as causas desse fenómeno e a sua evolução.
Obviamente que a ideia de o escrever surgiu-me a partir de algumas intervenções do Soares, mas o que escrevi, já o penso há muito tempo.
Soares é apenas um entre vários.

Publicado por: Joana às novembro 20, 2005 11:55 PM

As minhas opiniões têm por base o ensino que recebemos.

Haníbal: tem razão, mas o seu exemplo não é absoluto, e o seu inverso também é verdade, pois o de história também pode ir estudar e aprender alguma matéria de engenharia. E dou-lhe um exemplo na sequência do seu, mantendo o seu raciocínio: um operário da construção civil competente, pode saber mais na prática de um determinado aspecto que o próprio engenheiro, que só leu livros e, no entanto, o operário não é (em princípio) culto - é, apenas, competente.

Não se esqueça que cultura não é saber de uma coisa só. É saber de muitas.

Joana: aquilo que evidencia nos seus posts de certeza que não lhe adveio da sua formação escolar. Embora se note que a Joana está muito mais à vontade com matérias económicas e seus números (sua formação escolar técnica), as outras culturas que evidencia (história, sociologia, etc.) não lhe terão vindo da escola, mas da sua curiosidade e interesses extra-escolares. Parece-me, pois, que a sua pergunta não nega a minha afirmação.

Publicado por: Saloio às novembro 20, 2005 11:56 PM

zippiz: vejo que a sua preocupação não é sobre se há ou não fundamentos para o que escrevi, em termos gerais. O seu problema é saber se é ou não sobre o Soares.

Publicado por: Joana às novembro 20, 2005 11:58 PM

Acaso a História tem mais valor cultural que a Engenharia?
Com que critérios é que se mede?
Se é pelos efeitos no avanço da civilização, provavelmente a Engenharia estará alguns pontos à frente da História.

O erro é considerar que há áreas do conhecimento "culturais" e outras não.

Publicado por: Joana às novembro 21, 2005 12:01 AM

Eu gosto do Thales

Publicado por: Coruja às novembro 21, 2005 12:02 AM

Gosto de mercadores filósofos

Publicado por: Coruja às novembro 21, 2005 12:03 AM

Por exemplo, a Física. Einstein, Schrödinger, Niels Bohr, etc. têm fornecido mais dados para a Epistemologia e a Cosmologia que todos os filósofos do século XX.

Não será a Física uma área de cultura mais fecunda para a humanidade que a Literatura ou a História?

Publicado por: Joana às novembro 21, 2005 12:09 AM

Publicado por: Joana às novembro 20, 2005 11:58 PM

está enganada;
Vc é que mistura, propositadamente, Grécia Clássica e Renascimento com Soares.

Publicado por: zippiz às novembro 21, 2005 12:17 AM

Passa sim a "ideia geral" (aliás sugerida frequentemente pelo próprio) de que Mário Soares é um "humanista porreirão de proximidade", homem de vastíssima cultura e sem compromissos com o Capital (sic), e de que Cavaco é um hirto tecnocrata frio, sem sentimentos, complexado e aflito (sic).
Mário Soares e os "seus Eduardos Prados Coelhos" está farto de sugerir que Cavaco Silva "não leu livros", não tem formação humanista e que só sabe de economia e de finanças. Que, por isso, "não tem perfil para Presidente da República" (sic) etc. Apela à chincana e à pequena política "de circo" em que é especialista e de que é devoto.
Além disso, a sua candidatura à Presidência, perfeitamente extemporânea até pela sua vetusta idade, faz duvidar da genuínidade com que, republicano, laico e socialista, encara a alternância no topo do Estado, desde sempre ocupado pelo PS depois da "normalização democrática".
Afinal não há alternância partidária no topo do Estado ? Ou porventura os portugueses ainda não estão preparados ?
Viva a Monarquia Espanhola :
28 anos : 4 Governos.
Aqui, vamos no 17º, décimo-sétimo, a apanhar os "bonés" do nacional porreirismo.

Publicado por: asdrubal às novembro 21, 2005 12:44 AM

asdrubal em novembro 21, 2005 12:44 AM: Essa posição de M Soares é semelhante à de muitos "cultos" da literatura e das artes, para os quais a cultura são eles. M Soares usa esses slogans porque sabe que eles têm egeito nessa gente.

Publicado por: AJ Nunes às novembro 21, 2005 01:24 AM

asdrubal em novembro 21, 2005 12:44 AM: Essa posição de M Soares é semelhante à de muitos "cultos" da literatura e das artes, para os quais a cultura são eles. M Soares usa esses slogans porque sabe que eles têm egeito nessa gente.

Publicado por: AJ Nunes às novembro 21, 2005 01:26 AM

asdrubal em novembro 21, 2005 12:44 AM: Essa posição de M Soares é semelhante à de muitos "cultos" da literatura e das artes, para os quais a cultura são eles. M Soares usa esses slogans porque sabe que eles têm egeito nessa gente.

Publicado por: AJ Nunes às novembro 21, 2005 01:28 AM

Falo em M Soares e dá-se um desastre

Publicado por: AJ Nunes às novembro 21, 2005 01:29 AM

Se tivesse falado no Eduardinho ainda era pior

Publicado por: AJ Nunes às novembro 21, 2005 01:29 AM

Deve ser uma grande maçada ter um blog. Dá trabalho a escrever e depois aparecem uma data de gajos completamente dessintonizados.
Quando contestam as coisas e explicam as razões porque contestam, está bem. Um blog é para debater.
Quando contestam coisas acessórias, ou coisas que nem estão escritas, ou aplicam rótulos e depois descascam nos rótulos, só dá vontade de mandar tudo ao ar.
Gabo a paciência.

Publicado por: Impaciente às novembro 21, 2005 01:36 AM

Joana:

pode ser que você tenha razão e a palavra trivial venha do Trivium.

No entanto, eu conhecia outra explicação. Li-a num pequeno livro cujo título era algo como "Factos curiosos e inúteis". A ironia do título chamava a atenção e a leitura revelava-se contagiosa: uma página por cada facto, sucintamente escrita. Houve uns poucos que nunca mais esqueci, como o significado de lua-de-mel, a razão do nome de Viriato, a origem da expressão "ir para o maneta", da palavra trivial, etc. Podem ser falsas, mas as explicações eram tão interessantes e faziam tanto sentido que até hoje as dou como certas.

Voltando ao trivial, a explicação dada era a de que existia em Roma um mercado num largo onde confluiam três ruas (Trivium, tal como diz). Como tal, o nome do mercado era "Trivial". Acontece que nesse mercado, provavelmente mal frequentado (mas não por "humanistas"), era normal predominarem as conversas mais vulgares sobre os assuntos banais de todos os dias. Tudo demasiado vulgar (ou reles, como preferir).

Não tardou muito a que os Romanos adoptassem a expressão trivial para designar qualquer facto, conversa, personagem oriunda desse meio. Como o Latim era nesse tempo uma língua viva, a expressão trivial passou depois a ser uma palavra incorporada no Latim - tal como o "bué" dos nossos dias - com o significado próprio que hoje lhe conhecemos.

Se o Trivium era designado assim por ser trivial(no sentido do dito mercado) ou por serem três disciplinas (três vias) para o conhecimento, deixo isso para quem queira fazer investigação histórica.

Seja como for, acho a história do mercado deliciosa.

E já agora, sabe a do Viriato ?

Publicado por: J P Castro às novembro 21, 2005 04:02 AM

Já agora, fiquei a saber mais essa do Tales de Mileto. Só que acho que ele não foi particularmente esperto: os donos dos lagares é que foram profundamente burros. Não se aluga aquilo que se tenciona vir a usar.

Aliás, tal como os senhorios dos anos sessenta, que vieram a descobrir a enorme asneira que fizeram... Ou os de hoje, que ainda se arriscam ao mesmo.

E, se fosse no PREC, talvez a conduta de Tales fosse aceite por ser o inquilino. Os senhorios é que não podiam especular.

Publicado por: J P Castro às novembro 21, 2005 04:19 AM

Parece-me que anda por aqui muita gente a confundir cultura com erudição...

# : - ))

Publicado por: (M) às novembro 21, 2005 06:24 AM

Algures numa quarta feira do mês de Setembro de 2006 a administração da poderosa marca alemã de material fotográfico Agfa, descobriu surpresa (algo pouco alemão) que estava falida, na sexta feira seguinte (esta assertividade germânica é impressionante) declarou a falência. Por cá é costume a agonia prolongada das empresas sem futuro!
Novo governo alemão, corte na despesa, entrada a matar... nós por cá... vampiricamente sacam-se mais impostos, para prolongar a agonia e adiar o inevitavel.

Publicado por: diogenes às novembro 21, 2005 07:37 AM

O Lusíadas vale consideravelmente menos para a humanidade do que a invenção do parafuso, e quem diz o parafuso, diz um trilhão de outras coisas diferentes.

A "Cultura" é em grande medida uma forte desculpa para não se terem conhecimentos técnicos. A "Cultura" tem validade enquando existam terceiros dispostos a consumi-la em troco de parte do seu esforço (dinheiro).

O Estado não deveria gastar um tostão em Cultura.

Publicado por: Incognitus às novembro 21, 2005 09:11 AM

Alternativamente, e se fosse impossível o Estado reduzir a zero os gastos em Cultura, então o Estado deveria distribuir por todos o "Cheque cultura", créditos virtuais a serem gastos pelos cidadãos nas mais variadas actividades culturais, e cujos promotores poderiam depois transformar em cash.

Assim pelo menos, a cultura subsidiada não seria escolhida por burocratas ou amigos.

Publicado por: Incognitus às novembro 21, 2005 09:18 AM

Alternativamente, e se fosse impossível o Estado reduzir a zero os gastos em Cultura, então o Estado deveria distribuir por todos o "Cheque cultura", créditos virtuais a serem gastos pelos cidadãos nas mais variadas actividades culturais, e cujos promotores poderiam depois transformar em cash.

Assim pelo menos a cultura subsidiada não seria escolhida por burocratas ou amigos.

Publicado por: Incognitus às novembro 21, 2005 09:20 AM

J P Castro às novembro 21, 2005 04:02 AM:
O que sei sobre as duas palavras (Trivium e trivial), é que elas estão etimologicamente ligadas. Se Trivium (área de ensino e não cruzamento) deu mesmo trivial, não o sei.

Publicado por: Joana às novembro 21, 2005 09:36 AM

O maneta é muito conhecido. Era o General Loison, que se tornou tristemente célebre pelas barbaridades que praticou durante as invasões francesas, daí a expressão "ir para o maneta".

Quanto a Viriato, o que me lembra é o que Aquilino Ribeiro escreveu, não sei se certo ou errado, que derivava de "víria" (bracelete). Aparentemente Viriato seria muito vaidoso e andava cheio de braceletes.

Publicado por: Joana às novembro 21, 2005 09:42 AM

Numa das memórias de militares franceses que estiveram em Portugal (não me lembro agora qual) esse militar conta que foi aprisionado pelas milícias, a populaça clamou que era o maneta e ele para se salvar levantou ambos os braços para mostrar que estavam "completos".

Publicado por: Joana às novembro 21, 2005 09:46 AM

(M) às novembro 21, 2005 06:24 AM

Estava eu inclinado a escrever qualquer coisa sobre a cultura dos agricultores da minha aldeia (que bate por K.O. muitos dos comentadores deste blogue) e V. resume tudo nessa frase.

Publicado por: Vítor às novembro 21, 2005 09:47 AM

ora bom dia, eu é só um plim que ainda estou a acordar

Publicado por: py às novembro 21, 2005 10:16 AM

Vítor: não se esqueça que a acusação de Soares a Cavaco é a deste ter lido poucos livros. É uma acusação que ele também fará, certamente, aos agricultores da sua aldeia.

Publicado por: Joana às novembro 21, 2005 10:19 AM

Não há cultura sem erudição que a suporte. Seja essa erudição a leitura dos clássicos, de quem quer que seja, ou simplesmente a sabedoria acumulada no povo, a "sabedoria popular".

O que é estéril é a "erudição que carecia de vitalidade criadora" que eu referi no post.

Publicado por: Joana às novembro 21, 2005 10:22 AM

Esquecer isso é deixar à solta uma pseudo-cultura baseada em trivialidades "eloquentes" ou engendradas não ao "gosto do freguês" mas ao gosto de quem outorga subsídios.

Publicado por: Joana às novembro 21, 2005 10:24 AM

Eu já tinha reparado que o Soares só dizia trivialidades. Agora percebo porquê.

Publicado por: Absint às novembro 21, 2005 10:42 AM

"os objectos se despojam da sua diversidade qualitativa (valor de uso) e só têm um significado abstracto de uma mercadoria semelhante a todas as outras (valor de troca)"

Esta filosofia é muito bonita para quem dispõe de todos os objetos com valor de uso de que necessita. Para quem tem fome, um pão não é apenas uma mercadoria abstrata - é uma coisa que mata a fome. Para quem vive na rua, uma casa não é apenas um objeto de aforro, que se destina a ser vendido ou arrendado pelo valor de troca mais conveniente - ela é algo que protege da chuva.

Publicado por: Luís Lavoura às novembro 21, 2005 10:45 AM

As minhas desculpas a todos mas especialmente a (M) fervoroso adepto do socialismo democrático que não podendo votar Jerónimo, votará certamente Mário, e também a João César das Neves mas o seu texto de hoje no DN, insere-se no comentário de Joana na perfeição.

Um extracto:

"Foi mesmo uma década decisiva. Os primeiros dez anos da revolução transformaram Portugal de uma ditadura sul-americana numa democracia sul-americana. Os anos de Cavaco Silva converteram essa democracia sul-americana num Estado europeu. Infelizmente, os anos posteriores têm mudado o nosso Estado europeu numa república italiana."

Convido-os a ler o resto em:

http://dn.sapo.pt/2005/11/21/opiniao/a_politica_e_fantastica.html

Publicado por: Serviço Público às novembro 21, 2005 10:45 AM

Infelizmente há quem prefira as virtudes populistas e irresponsáveis das democracias sul-americanas. Soares e os adeptos do socialismo democrático, e até alguns adeptos do socialismo 'democrático' contam-se neste grupo.

Pessoalmente sou mais adepto do 'socialismo' democrático...

Publicado por: Pedro Oliveira às novembro 21, 2005 11:09 AM

Publicado por: Luís Lavoura às novembro 21, 2005 10:45 AM

Se todos dispusessem dos objectos de valor de uso que necessitam, não existia comércio.

Publicado por: Pedro Oliveira às novembro 21, 2005 11:17 AM

Luís Lavoura em novembro 21, 2005 10:45 AM:
Esse "significado abstracto" é a moeda, o preço em euros.
Você, quando vai comprar pão, faz esse choradinho por o pão estar tabelado nessa coisa com "significado abstracto"?

Publicado por: Hector às novembro 21, 2005 11:20 AM

Não percebo isso da erudição para cultivar.

Publicado por: Coruja às novembro 21, 2005 11:24 AM

Eu rego com água e não com erudição. Nem sei onde isso se compra.

Publicado por: Coruja às novembro 21, 2005 11:25 AM

Por exemplo, o M Cultura rega com euros. Por isso nunca cresce nada.

Publicado por: Coruja às novembro 21, 2005 11:26 AM

Por isso é que somos nós que lavamos a banhada. Se regasse com água, seriam os tais agentes culturais a levar com a dita...

Publicado por: Pedro Oliveira às novembro 21, 2005 11:29 AM

Joana:

sim, a do Viriato estava relacionada com uma bracelete específica: uma argola chamada víria por ser colocada na perna, junto à virilha. Acontece que essa argola era o símbolo do chefe das tribos lusitanas.

Como tal, Viriato não era nome mas sim um designativo do chefe das tribos, o que usava a víria. Tal como César para os imperadores romanos. Isto leva a pensar que as referências a Viriato podiam não representar um único homem mas sim vários: os sucessivos chefes das tribos nos períodos em questão.

Publicado por: J P Castro às novembro 21, 2005 11:45 AM

Hector às novembro 21, 2005 11:20 AM

Eu quando vou comprar pão não faço choradinho nenhum porque, felizmente, não me falta dinheiro para o pagar.

Mas para mim o pão tem um valor de uso bem concreto - serve para matar a fome a mim e à minha família - do qual nunca está despojado. O pão não tem para mim apenas um significado abstrato - o seu preço em euros - tem sempre o significado bem concreto de algo que, se faltar em minha casa, toda a gente me pede.

Recordo que na frase que eu critiquei se afirma que "os objectos se despojam da sua diversidade qualitativa (valor de uso) e só têm um significado abstracto de uma mercadoria semelhante a todas as outras (valor de troca)". Quando eu compro pão, essa frase certamente que não se aplica.

Publicado por: Luís Lavoura às novembro 21, 2005 11:49 AM

Vítor e (M):

eu vim ontem de regar as laranjeiras -- aliás, verificar se estavam bem regadas pela chuva ou precisavam de um complemento -- por isso acho que devo tentar a erudição de factos inúteis para variar.

E concordo convosco: muitos intelectuais precisavam de cultivar as batatas que comem antes de falarem na classe dos camponeses.

Publicado por: J P Castro às novembro 21, 2005 11:50 AM

A ideia da Joana era simplesmente transmitir que com o comércio, todos os bens se tornam iguais, são todos apenas uma medida de outra medida, a monetária.

Isso permite abstrair-mo-nos da natureza dos bens que possuimos, e pensarmos somente no seu valor monetário (algo de abstracto, pois o dinheiro por si "não existe").

Quando convertemos o dinheiro num bem específico para um uso específico, como o Luís diz, ele deixa obviamente de ser abstracto, e passa a valer pelo seu uso.

Publicado por: Incognitus às novembro 21, 2005 11:57 AM

Falando de valor de uso e valor de troca -- e como os estômagos não são elásticos -- para qualquer agricultor é geralmente mais importante o valor de troca do que produz em excesso do que o valor de uso.

Por uma simples razão: a economia de escala só funciona com um mercado a absorver os produtos e se não se puder produzir em quantidade, o custo da produção aumenta. O valor de troca fica ainda maior do que o normal.

Aliás, essa história de querer impôr o valor de uso ao valor de troca é como tentar que seja apenas a procura a definir o preço do mercado, ignorando a oferta. Tal como os que acusam o mercado de impõr o valor de troca ao valor de uso, parece que esquecem que no mercado a baixa da procura também determina o preço.

No fundo, o que querem é o mesmo de sempre: apropriar-se da produção e propriedades alheias em nome de uma ideologia que legitima o roubo em nome das desigualdades (e não apenas em nome das necessidades extremas de sobrevivência, como era eticamente "aceite").

Publicado por: J P Castro às novembro 21, 2005 12:10 PM

"O valor de uso e o valor de troca" em reportagem colorida ...

http://www.angelfire.com/pq/unica/

Publicado por: asdrubal às novembro 21, 2005 12:32 PM

J P Castro às novembro 21, 2005 12:10 PM

Você está a ler coisas que não estão escritas. Ninguém aqui pretendeu substituir o valor de troca pelo valor de uso. Eu só salientei que certos bens - os bens de primeira necessidade - nunca se podem considerar despojados do seu valor de uso e nunca podem ser reduzidos a um significado abstrato - o seu preço - porque o seu valor de uso é demasiado importante para poder ser esquecido.

Só se pode esquecer do valor de uso dos bens de primeira necessidade quem os tem num excesso redundante. Mas a maior parte da sociedade não se pode dar ao luxo de esquecer esse valor de uso.

Publicado por: Luís Lavoura às novembro 21, 2005 12:39 PM

Luís Lavoura às novembro 21, 2005 12:39 PM:
Por falar em ler coisas que não estão escritas, o que eu escrevi foi que o aparecimento da moeda, de significado abstracto, conferiu aos produtos um valor de troca, independente da diversidade subjectiva dos valores de uso.

Não escrevi que se eliminaram os valores de uso nem que “um pão é apenas uma mercadoria abstracta”.

Publicado por: Joana às novembro 21, 2005 01:01 PM

J P Castro às novembro 21, 2005 04:19 AM:
Tales deve ter oferecido aos proprietários dos lagares mais do que eles costumavam ganhar, num dado ano, pela operação dos mesmos. Como a colheita foi muito superior, os proprietários subalugaram-nos porque calcularam que ganhassem com isso.
Parte da mais valia resultante da colheita excepcional ficou nos alforges de Tales.

Publicado por: Joana às novembro 21, 2005 01:02 PM

"Um dos sintomas do atraso da nossa sociedade é a aversão ao trabalho manual (e mesmo ao trabalho tout court)."

Concordo Joana!

Há uns anos comprei uma BTT, tive de desarmar as rodas para a enfiar no porta-bagagens, e quando arrumei o carro perto de casa tive imensa dificuldade em montar a roda pedaleira, ainda por cima debaixo de chuva e no escuro. As pessoas passavam por mim e riam-se, num exercício elegante da sua superioridade. Foram dois tipos do leste que me ajudaram a montar a bicicleta.

Não tarda nada ficamos na cauda da Europa a 25. E depois o Presidente (?) Cavaco dirá que o que importa é a nossa posição relativa no concerto global das nações.

Publicado por: Rodrigo às novembro 21, 2005 01:08 PM

Parabéns pelo post que está muito bem visto e, na minha opinião, bem fundamentado.
As pessoas com formação técnica, como eu, partilham dessa náusea pela "arrogância", como diz, pela dita superioridade cultural dos ditos "humanistas.

Publicado por: Rui Sá às novembro 21, 2005 01:18 PM

O problema é tão mais grave, porquanto a "Cultura" a ter algum posicionamento face à "Técnica", ele é indubitavelmente inferior.

A Cultura é apenas mais uma actividade (lúdica). O seu valor advém de existirem consumidores da dita, como em tudo o resto.

A Técnica, é algo comum a todas as actividades, incluindo as Culturais. Logo, algo muito mais vasto e fundamental.

Publicado por: Incognitus às novembro 21, 2005 01:27 PM

Vivo no campo e nunca encontrei um camponês inculto, cretino ou imbecil, no sentido dos incultos cretinos e imbecis que povoam as nossas cidades, e os nossos media.
Isto para dizer que nove em cada dez portugueses sabem quantos cantos tem os Lusíadas (por causa da história do Cavaco), mas nove em cada dez portugueses nunca leram (nem podem ler porque não compreendem) os Lusíadas.

Publicado por: Joao P às novembro 21, 2005 01:36 PM

Joao P em novembro 21, 2005 01:36 PM:
A razão é porque a malta rural tem uma sólida sabedoria popular e a malta urbana perdeu isso e só ganhou em troca basófias verbais.

Publicado por: Valerio às novembro 21, 2005 01:43 PM

Serviço Público às novembro 21, 2005 10:45 AM

Por mim está desculpado — sendo um seguidor de JCN, percebe-se que tenha dificuldades em coordenar o pensamento.

Aproveito para lhe dizer que perderá dinheiro se decidir jogar na lotaria ou no euromilhões, pois as suas capacidades divinatórias andam muito por baixo.

Você não sabe do que eu sou adepto, quanto mais se sou fervoroso adepto de alguma coisa.

Além do mais, anda distraído. Até um acidental leitor do Semiramis sabe que eu não votaria Soares, nem para a presidência da Filarmónica Fraude.

É compreensível que a sua mentalidade esquemática não consiga absorver equações a mais de duas incógnitas, mas o que me deixa realmente intrigado é a sua afirmação de que eu não posso votar Jerónimo, independentemente de eu fazer ou não essa escolha.

Publicado por: (M) às novembro 21, 2005 02:04 PM

Joana às novembro 21, 2005 01:01 PM

Aquilo que Você escreveu está escrito: que os objetos se "despojam" (isto é, perdem) a sua diversidade qualitativa, e que então só têm um significado abstrato, o seu valor de troca:

"os objectos se despojam da sua diversidade qualitativa (valor de uso) e só têm um significado abstracto de uma mercadoria semelhante a todas as outras (valor de troca)"

Não venha pretender que o que está escrito é outra coisa qualquer.

Publicado por: Luís Lavoura às novembro 21, 2005 02:08 PM

Joana às novembro 21, 2005 01:02 PM

Geralmente, em bens agrícolas, uma colheita excecional não resulta numa mais-valia, mas sim numa menos-valia. Geralmente o preço desce tanto que os agricultores acabam por ganhar menos dinheiro do que quando a colheita é normal.

Pode não ter sido assim no caso de Tales, mas é com frequência o caso.

Publicado por: Luís Lavoura às novembro 21, 2005 02:11 PM

Algumas opiniões sobre a cultura acima dadas à estampa fariam as delícias de Queipo de Llano.

# : - ))

Publicado por: (M) às novembro 21, 2005 02:12 PM

Luis, no caso de Tales o valor em questão não estava na colheita em si, e sim nos processos de transformar a colheita (os lagares), que eram de uma capacidade limitada e logo viram o seu valor aumentar devido à maior utilização dessa capacidade.

Publicado por: Incognitus às novembro 21, 2005 02:15 PM

Rodrigo às novembro 21, 2005 01:08 PM

Não se trata, no exemplo que deu, de aversão ao trabalho manual. As pessoas riam-se de si porque cá em Portugal é normal rir-se dos ciclistas. Aliás, rir dos ciclistas é o menos: por vezes, automobilistas adoptam uma condução deliberadamente agressiva, a pôr em risco e a ameaçar a segurança do ciclista. Faz parte do provincianismo nacional considerar que quem anda de bicicleta é porque não tem automóvel, e que quem não tem automóvel é um ser inferior.

Uma outra razão é que as pessoas hoje em dia estão-se nas tintas umas patra as outras, e procuram acima de tudo evitar chatices para si mesmas. Se o mal atinge apenas os outros, as pessoas procuram evitá-lo. Uma vez eu fui assaltado na rua por um grupo de adolescentes. Perto de mim havia um café, no qual algumas senhoras tomavam café na esplanada, homens bebiam cerveja ao balcão. Eu gritei por socorro, e ninguém se mexeu. Ninguém fez um gesto para me ajudar.

Publicado por: Luís Lavoura às novembro 21, 2005 02:20 PM

Joana às novembro 21, 2005 10:22 AM

Com que então os camponeses são eruditos?!

E os bosquímanes também, presume-se.

# : - ))

Publicado por: (M) às novembro 21, 2005 02:23 PM

Nessa história das colheitas, o Luis Lavoura enganou-se por pensar que, com o exemplo de Tales, Joana se refere à agricultura quando, de facto, se refere à indústria transformadora...

Publicado por: (M) às novembro 21, 2005 02:27 PM

A Grécia Clássica começou a entrar em decadência quando entregou o trabalho manual exclusivamente aos escravos e aos artesãos semi-livres mas sem quaisquer direitos políticos.
A partir daí, os filósofos, desligados da realidade prática, entregaram-se à especulação pura e simples e deixaram de dar contributos válidos para o avanço da Ciência.
Foi o começo do fim da Civilização Grega.
Quem sabe os pormenores é a Joana.

Publicado por: Senaquerib às novembro 21, 2005 04:31 PM

Mais uma pérola dos nossos politícos e gestores. Retirado do DN

ICEP põe Portugal "à venda"
Espanha poderia estar na calha do negócio histórico?

† A crise é profunda e está para durar, dizem. O ICEP, que tem por missão promover Portugal no estrangeiro, quer ajudar e criou um programa para pôr o País a exportar mais. Mas uma das medidas é algo estranha. O ICEP vai criar um portal chamado "Buy Portugal" - "comprar" ou "compre Portugal". Não fossem as boas relações com a Espanha, e os espanhóis poderiam já estar a esfregar as mãos de contentes com a hipótese de fechar um negócio histórico.

Publicado por: Braveman às novembro 21, 2005 04:36 PM

Os camponeses são eruditos? Claro que não, mas pelo menos não dizem (nem fazem...) tantas imbecilidades quanto os "cultos" que vivem nas cidades.

Publicado por: Senaquerib às novembro 21, 2005 04:38 PM

Em vez de se preocuparem com o Mário Soares e elementos de distracção afins, deviam ler uma interessante – direi mesmo muuuuuuito interessante – entrevista publicada no «Correio da Manhã»:

http://www.correiomanha.pt/noticia.asp?id=181610&p=22&idselect=19&idCanal=19

Publicado por: (M) às novembro 21, 2005 04:45 PM

Não sei que pense da entrevista, por um lado parece alguém bem conectado que se apoia nisso para fazer bons negócios. Por outro, parece alguém extremamente empreendedor.

Podia, portanto, ser pior.

Publicado por: Incognitus às novembro 21, 2005 05:06 PM

Esse António Varela terá feito algum estudo sobre a Ota? E a que conclusão chegou?

Publicado por: Coruja às novembro 21, 2005 05:39 PM

eu

Publicado por: py às novembro 21, 2005 06:29 PM

Deve ter concluído que é viável (para ele)

Publicado por: David às novembro 21, 2005 06:30 PM

hoje

Publicado por: py às novembro 21, 2005 06:30 PM

tou kaladinho

Publicado por: py às novembro 21, 2005 06:31 PM

a pensari

Publicado por: py às novembro 21, 2005 06:32 PM

py, tenta imaginar este post sem o parágrafo+linha sobre o Soares. Que tal?

Publicado por: Coruja às novembro 21, 2005 06:42 PM

Telefonei ao João César das Neves a dar-lhe os parabéns pelo excelente artigo, que presumo virá a integrar mais um dos seus livros da colecção Não Há Almoços Grátis que já vai no quinto volume e de caminho combinei um almoço para ele me autografar o último.
(A frase anterior é toda mentira).

(M) a exemplo do saudoso Marca Amarela do capitão Blake é uma pessoa inteligentíssima que sabe muito de tudo. É um perito, ou seja segundo a definição de Weber (Yale 67, Cornell 75, Oxford 84 e Moderna 96) aquele que sabe cada vez mais de cada vez menos coisas, até chegar ao ponto em que sabe absolutamente tudo sobre coisa nenhuma.
E só por isso não sabe que não pode votar em Jerónimo de Sousa porque mal acabem os debates esse “candidato” desaparecerá numa nuvem linda.
(A frase anterior contêm mentiras)

Mas (M) também é muito distraído. Acontece geralmente aos génios.
E só por isso depois de uma pergunta verdadeiramente intrigante feita a Filipa Sequeira, respondida que foi deixou no ar o mistério, como aliás fazia muito bem a Marca Amarela.
(A frase anterior é toda verdadeira)

Publicado por: Philip Mortimer às novembro 21, 2005 07:00 PM

Gosto muito deste artigo!

Tenho de dar os meus parabéns à Joana.

Publicado por: Alfredo às novembro 21, 2005 07:40 PM

A mim parece-me que a Joana faz a festa e deita os foguetes. Apresenta-nos pressupostos - "os que se formaram nas áreas ditas humanistas se tomarem como depositários da cultura, em oposição aos graduados em áreas técnicas, culturalmente ignaros" - que são falsos, e depois pontifica sobre essa falsidade como se ela fosse verdadeira. Ora, o que acontece é que há formados nas áreas humanistas que desprezam os que se formaram nas áreas técnicas, e vice-versa, e há quem não despreze nem uns nem outros, qualquer que seja a sua área de formação. A Joana inventa um falso problema para poder arrogar-se uma postura de superioridade moral. Enfim, quem não tem nada que fazer faz colheres...

Publicado por: Albatroz às novembro 21, 2005 08:00 PM

Há quem confunda eructação com erudição.

Publicado por: Senaquerib às novembro 21, 2005 09:13 PM

Pois é, meu caro Albatroz, mas há alguma novidade nisso?

Às vezes chego a pensar que esta sanha da Joana contra os «intelectuais» é uma espécie de choque pós-traumático...

# : - ))

Publicado por: (M) às novembro 21, 2005 09:20 PM

Philip Mortimer às novembro 21, 2005 07:00 PM

Parece que você ficou um bocado ressabiado.
Não havia nechechidade...

Quanto à pergunta feita à Filipa, afigura-se-me que você está a meter o nariz onde não é chamado.

Hélas!

# : - )))))

Publicado por: (M) às novembro 21, 2005 09:26 PM

Fernando Namora, Miguel Torga, António Lobo Antunes, profissão: médico
Fernando Pessoa, profissão: guarda livros
Carlos Paredes, profissão: funcionário público
António Gedeão, profissão: professor de fisico- químicas
Conheço ainda vários engenheiros que são excelentes músicos, (pianistas e cantores líricos)
Álvaro Malta (cantor lírico que contracenou com Callas), profissão: médico pediatra.

Publicado por: Teixeirinha às novembro 21, 2005 09:31 PM

ooops

Publicado por: py às novembro 21, 2005 09:44 PM

minha, corujex!

Publicado por: py às novembro 21, 2005 09:45 PM

A Joana já escreveu um ou outro artigo contra "os intelectuais". Acho patético o preconceito contra a intelectualidade, pelo que não gostei desses artigos.

No entanto, a Joana neste artigo não faz nada disso: ela apresenta um problema REAL do dia-a-dia: a Ciência NÃO é considerada cultura. É estúpido, é idiota, mas é uma característica da nossa sociedade: existe uma inferiorização do conhecimento técnico-científico do ponto de vista cultural, como se a Ciência fosse algo "sujo", que só serve para fazer dinheiro, e que um "verdadeiro intelectual" tem aversão aos "frios" números.
O Cinema é cultura, a Literatura é cultura, o Teatro é cultura, a Filosofia é cultura, a História é cultura - quem dominaa estes temas tem uma boa cultura geral. A Ciência... nem por isso. Quem fala de ciência sem ser para repetir as balelas pós-modernistas (que em parte são responáveis por esta situação) e repetir tolas especulações sobre viagens no tempo e o fim do mundo, está a "entrar no domínio técnico".

Que tola situação!
A Joana faz muito bem em denunciá-la.

Publicado por: Alfredo às novembro 21, 2005 09:50 PM

Hoje li a entrevista do Cavaco no Público. O discurso do homem até é de centro-esquerda, parece que dali não viria grande mal ao mundo. Parece... Porque o que é verdade é que a direita está lá toda: são mesmo calculistas e hipócritas q.b. Nós de esquerda não nos importamos de ser candidatos e perder, só para deixarmos uma ou outra boa idéia no ar, que se for mesmo boa, outros hão-de levar para a frente.

Com a direita não é assim: isto são ilusões "românticas", "quixotescas" ou outra coisa qualquer depreciativa de gauche.

Para eles mais vale uma pomba na mão...

E aí é que está o perigo. Se por acaso cavaco fosse eleito nesta toada de centro-esquerda, havia de ser hiper-pressionadíssimo para dar um jeitinho, atómico se necessário fosse, para por no governo o staff.

É que não há volta a dar. Na lógica de César das Neves nunca há almoços grátis e um presidente eleito fica refém da reeleição.

Publicado por: py às novembro 21, 2005 09:55 PM

cá para mim tudo o que releve de um esforço intelectual honesto é kultura. Aliás é esse o meu drama, há sempre tanta coisa para ler, e tanta coisa que vai ficar por ler. Sisifo. Mas noutro dia os putos do surf deram-me um bom exemplo: um Sísifo pós-moderno, lá nadam eles para as ondas e lã vão eles com as ondas, muitas vezes para cá e para lá, e etc., até que se fartam e vêm embora.

Ps como segunda linha de defesa temos o Alzheimer, ou mais radical, o Kreutzfeld-Jacob, já podemos esquecer-nos de tudo que ninguém leva a mal, e a gente ri-se tolamente. Eu adoro rir.

Publicado por: py às novembro 21, 2005 10:12 PM

Coruja às novembro 21, 2005 06:42 PM


Eu, ou o zippiz, em novembro 20, 2005 11:47 PM bati-me, qual D.Quixote, sobre esse tema de "Soares". Joana ia-me "matando" mas, não me conseguiu convencer da bondade de meter o "gágá" do Soares num poste sobre ... Grécia Antiga! Mas o que se pode fazer contra a "bloguista" ? Talvez f(...)azer capicúas.

Publicado por: zippiz às novembro 21, 2005 10:23 PM

zippiz às novembro 21, 2005 10:23 PM:
Se você acha que o Soares está gágá, que melhor lugar senão na Grécia Antiga?

Publicado por: Joana às novembro 21, 2005 10:55 PM

Publicado por: py às novembro 21, 2005 09:55 PM

Tenho uma muito boa notícia para si.
Há por aqui um ombro amigo onde vai poder chorar a partir do dia 22 de janeiro.
Não, não sou eu!

Publicado por: Consultor Sentimental às novembro 21, 2005 11:59 PM

Publicado por: Joana às novembro 21, 2005 10:55 PM

Então sempre promoveu o homem a intelectual !?

Publicado por: zippiz às novembro 22, 2005 12:06 AM

zippiz: então toda a maralha que vivia na Grécia Antiga era intelectual?

Publicado por: Coruja às novembro 22, 2005 01:17 AM

Havia poucos e tinham que se dedicar ao comércia e a aldrabar o próximo para ganhar a vida

Publicado por: Coruja às novembro 22, 2005 01:19 AM

Julga que o Thales conseguia que lhe arranjassem uma Fundação?

Publicado por: Coruja às novembro 22, 2005 01:21 AM

Julga que o Thales conseguia que lhe arranjassem uma Fundação?

Publicado por: Coruja às novembro 22, 2005 01:24 AM

Julga que o Thales conseguia que lhe arranjassem uma Fundação?

Publicado por: Coruja às novembro 22, 2005 01:26 AM

obrigado consultor pela sua atenção deferida, mas não se preocupe, eu arranjo sempre maneira de rir.

Voltando à Ota:

http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1239653&idCanal=63

Publicado por: py às novembro 22, 2005 09:21 AM

...mas esta é para si, konsultor, ele está tão feioso que duvido que vá ganhar:

http://great-portuguese-disaster.blogspot.com/

Publicado por: py às novembro 22, 2005 09:27 AM

Albatroz às novembro 21, 2005 08:00 PM

Não posso deixar de concordar consigo - e, naturalmente, discordar da ideia da Joana.

E saliento: a cultura não tem a ver com a formação escolar/académica. Ela está com qualquer um que seja curioso e interessado, independentemente de ser "humanista" ou "técnico". Há muitos cultos sem formação académica. No entanto, são sempre os incultos que se criticam os intelectuais, e não o contrário.

Onde a Joana tem razão é em relação a certos intectuais "profissionais", de pacotilha, anafados e bem estabelecidos, que facturam desalmadamente à pala duns favores, tipo Eduardo Prado Coelho, ou Vital Moreira e outros quejandos, que conseguem debitar sobre tudo e todos - e com uma ameaça latente: quem discorda deles, é inculto!

São estes profissionais da "cultura", mais ligados às recepções e festas, que entre uns croquetes e uns espumantes à borla, vão debitando cá para fora aquilo que querem que o pagode pense ou goste, e que falam com prosápia e arrogância de "intelectuais" daquilo que nos querem vender.

Como exemplo disso, recordo a ameaça do Saramago (esse exemplo de democrata), de não estar presente em nada que meta o Cavco se este vier a ser eleito pelo povo.

Publicado por: Saloio às novembro 22, 2005 11:53 AM

py às novembro 22, 2005 09:21 AM

QED!

Esta «notícia» do Público é esclarecedora.
A ADP concluiu que Rio Frio era a melhor opção, mas como o governo tomou a decisão política de construir na Ota as conclusões foram adaptadas ao desejo do cliente.
Repare que a ADP não diz que a Ota é uma boa solução. Nenhum especialista sério o pode dizer. O que eles dizem é mais ou menos isto: Rio Frio é que é o local adequado, mas já que o governo português escolheu previamente a Ota, nós dizemos que essa localização é aceitável.

Os «constrangimentos» mencionados na notícia não o são, de modo algum.
O campo de tiro de Alcochete (e não de Alverca, como diz o Público) pode ser deslocado para muitos locais do interior alentejano onde os solos pedregosos e cansados já não compensam a cultura de cereais.
Os acessos rodoviários não são constrangimento nenhum, como se sabe. Pelo contrário. Não percebo quem inventou esta.
E considerando as alternativas (Ota e Portela) ouvir falar de impactes sonoros como «constrangimento» em Rio Frio até dá vontade de rir.

Chegou a ler esta entrevista?:

http://www.correiomanha.pt/noticia.asp?id=181610&p=22&idselect=19&idCanal=19

Publicado por: (M) às novembro 22, 2005 11:54 AM

Isto está cada vez melhor:

http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1239670&idCanal=63

Ou seja: Rio Frio é melhor, mas se formos para aí TALVEZ não recebamos financiamento de Bruxelas...

E qual é o valor desse financiamento?
Compensa o diferencial dos custos de investimento na Ota?
E como são contabilizados os custos operacionais acrescidos na Ota?
Entram para estas contas os custos suportados pelos utilizadores em despesas de transporte de e para o aeroporto?
A opção de Rio Frio diminuiria em que percentagem a factura relativa à importação de combustíveis?
A distância à Ota reduz em que percentagem a vida média dos veículos que façam regularmente o percurso (autocarros, táxis, camiões)?

Publicado por: (M) às novembro 22, 2005 12:34 PM

Se há uma separação entre aquilo que é do domínio da técnica e aquilo que é do dominio da arte (e/ou cultura), isso não se deve a qualquer arrogância dos intelectuais da área das humanidades. Pelo contrário deve-se à arrogância dos «cientistas» que se vêem a si mesmos como portadores de um saber objectivo, e que nada tem que ver com a ética, com a estética, ou, numa palavra, com os valores. A ciência seria um espelho da realidade e como tal não teria nada de subjectivo, nem de valorativo. Se tudo o que é cultura é um produto dos homens e expressa a vida e sentimentos destes, foram as ciências objectivas, reducionistas e «independentes» da vida, da história e da sociedade que se demarcaram do que é entendido como cultural e/ou artístico.
Aliás, se se analisar a origem etimológica da palavra «técnica» verifica-se que ela deriva da palavra grega «techne» que significa, precisamente, arte. A techne era simultaneamente arte e técnica. O significado único que «técnica» passou a ter deveu-se à prioridade que se passou a dar à manipulação das coisas em deterimento da sua contemplação. Assim, se as áreas técnico-cientificas não são vistas como culturais e/ou artísticas, tal facto deveu-se a uma cultura e sociedade que desprezou o belo e\ou bom e que se centrou apenas na operacionalidade das coisas.
Como a Joana disse, a antinomia entre a técnica e a cultura/arte só surgiu depois do Renascimento. Mas isso não tem nada de estranho: o que o sistema económico emergente (capitalismo) promoveu foi uma sociedade tecnicizada e utilitarista. Dessa forma, as coisas passaram a ter valor na medida em que têm utilidade e operacionalidade. As ciências objectivas têm-no como mostra a sua aplicação prática e técnica. As humanidades e a arte não o têm e por isso foram remetidas para o esquecimento: o sistema capitalista não precisa delas para funcionar. Assim, dizer que são as humanidades que dominam a esfera social e cultural dos homens é a inverter a realidade. São as áreas técnicas que têm a dominância, e isso revela-se no facto dos produtos culturais serem reduzidos a produtos de consumo.

Publicado por: Eduardo às novembro 22, 2005 01:38 PM

Eduardo em novembro 22, 2005 01:38 PM
«As humanidades e a arte não o têm e por isso foram remetidas para o esquecimento».
Há quantos anos você não lê os jornais ou vê a televisão?
Ou melhor, alguma vez o fez?

Publicado por: curioso às novembro 22, 2005 01:44 PM

confesso (M) que a dor-de-tronco com os sobreiros tira-me o discernimento, nem acompanhei bem a questão dos apoios comunitários. Confesso esta fraqueza. Mas pode ser que ainda descubra que mentiram sobre os sobreiros... porque isso costuma ser básico, a propósito de um grande negócio

Publicado por: py às novembro 22, 2005 01:46 PM

curioso às novembro 22, 2005 01:44 PM

Já viu o filme «2001 Odisseia no espaço»?
O que conseguiu concluir do filme?

Publicado por: Eduardo às novembro 22, 2005 03:22 PM

(aproveito para agradecer essa história bem engraçada da trivia e da viria e do Viriato. JP daqui a pouco tenho reunião com o vice-presidente da CMC, depois conto-te as novidades. Também estou a pensar que lá para 4 de Dezembro estou pelas tuas bandas, mas temos tempo de combinar como vai ser)

Publicado por: py às novembro 22, 2005 05:55 PM

Está muito bome este post. Parabéns

Publicado por: Redinha às novembro 25, 2005 01:11 AM

O Soares é um tonto. Aquela história dos Lusíadas é de quem está ché-ché.

Publicado por: Redinha às novembro 25, 2005 01:12 AM

Pois pois

Publicado por: Luis Silva às novembro 25, 2005 01:38 AM

Será que ele ainda se lembra do que leu?

Publicado por: Silva às novembro 25, 2005 01:57 AM

Humanismos

Publicado por: Coruja às dezembro 2, 2005 01:18 AM

Trivialidades

Publicado por: Coruja às dezembro 2, 2005 01:19 AM

e uma kpk

Publicado por: Coruja às dezembro 2, 2005 01:20 AM

a seguir

Publicado por: Coruja às dezembro 2, 2005 01:21 AM

Cabra reaças

Publicado por: Cisco Kid às dezembro 3, 2005 12:24 AM

Cabra reaças

Publicado por: Cisco Kid às dezembro 3, 2005 12:24 AM

Cabra reaças

Publicado por: Cisco Kid às dezembro 3, 2005 12:25 AM

Cabra reaças

Publicado por: Cisco Kid às dezembro 3, 2005 12:25 AM

Cabra reaças

Publicado por: Cisco Kid às dezembro 3, 2005 12:25 AM

Cabra reaças

Publicado por: Cisco Kid às dezembro 3, 2005 12:25 AM

Cabra reaças

Publicado por: Cisco Kid às dezembro 3, 2005 12:25 AM

Cabra reaças

Publicado por: Cisco Kid às dezembro 3, 2005 12:26 AM

Cabra reaças

Publicado por: Cisco Kid às dezembro 3, 2005 12:26 AM

Cabra reaças

Publicado por: Cisco Kid às dezembro 3, 2005 12:26 AM

Cabra reaças

Publicado por: Cisco Kid às dezembro 3, 2005 12:26 AM

Cabra reaças

Publicado por: Cisco Kid às dezembro 3, 2005 12:26 AM

Cabra reaças

Publicado por: Cisco Kid às dezembro 3, 2005 12:26 AM

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