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junho 20, 2005
Futuro pelas Lentes do Presente
Em abril 07, 2005, escrevi aqui O Erro dos Futurólogos, fundamentalmente dedicado às futurologias em termos de tecnologia, produtividade e respectivas consequências económicas. Hoje, para amenizar, vou colocar aqui algumas gravuras de um artigo publicado por Santos-Dumont na revista Je Sais Tout, no número de Janeiro de 1905, há 100 anos, portanto. É extremamente interessante a visão que Santos-Dumont, um dos principais pioneiros da aviação, tem do futuro. Por duas razões: primeira, porque Santos-Dumont não é um qualquer; segundo porque se equivocou completamente.
Nesse meu texto acima referido eu havia escrito que: «A faceta mais interessante dos futurólogos é a de que nunca acertaram em nada. Júlio Verne foi-se tornando cada vez mais desinteressante, porque acertou sempre ao lado: o homem criou o transporte aéreo e submarino, mas nada que se parecesse com as soluções ficcionadas por ele; criou os veículos motorizados para uso particular, mas completamente opostos à Casa a Vapor; e assim sucessivamente. Uma coisa é imaginar que uma dada acção se torne possível no futuro; outra é prever de que forma e porque processo essa acção se irá concretizar. Imaginamos o futuro, mas sempre através da matriz presente.»
Outro dos erros da futurologia é o facto dos futurólogos usarem, sem se darem conta disso, a hipótese ceteris paribus (tudo o resto constante). Prevêem algo sobre o futuro, mas mantendo tudo o resto igual. Ora isso é impossível.
A primeira imagem retrata a ingenuidade de Santos-Dumont sobre os rápidos cruzadores aéreos a alturas inacessíveis, esquecendo a sua vulnerabilidade e que seria tecnicamente mais rápida a produção de meios anti-aéros eficazes do que aqueles cruzadores aéreos lentos e vulneráveis
A segunda imagem traz-nos o aspecto pitoresco e inesperado de uma estação no topo de Notre-Dame!! Estou a ver Sá Fernandes a interpor uma providência cautelar.
A terceira imagem é a de um Metro Aéreo, no topo de um edifício, servido por ascensor. O transporte traz a indicação de que tem a lotação completa. Se pensarmos no actual helicóptero, verificamos que esta previsão talvez seja a que se afastou menos da realidade.
A quarta imagem mostra um yacht aéreo atracando num 5º piso, recolhendo alguns elegantes à saída de um sarau parisiense. É de uma enorme ingenuidade. Os hábitos de 1905 com pseudo-tecnologia do futuro. Um equívoco completo, pois ao mudarmos as nossas tecnologias, também mudamos os nossos hábitos e mentalidades.
O que há de interessante nesta futurologia é que todas estas previsões do futuro se revelaram completamente impraticáveis. Os meios aéreos dão-nos possibilidades imensas, infinitamente maiores que as previstas por Santos-Dumont, mas as previsões dele não se revelaram exequíveis. A aviação evoluiu de uma forma totalmente diversa.
E as nossas mentalidades e hábitos mudaram igualmente.
Publicado por Joana às junho 20, 2005 07:26 PM
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Comentários
Realmente há pessoas... que defendem a liberdade de ideias, mas não deixam passar uma para criticar quem ouse sonhar, quem ouse pensar.
Da Vinci precisou de uns 500 anos para que seu génio fosse reconhecido.
Inventou um carro de combate (em madeira claro ) que se tivesse na época sido comercializado, muito teria mudado no mundo.
Os americanos, verificaram que seu carro, estava ao contrário (umas roldanas) vai daí estudaram e colocaram o carro em andamento. Chegaram à conclusão que foi o primeiro carro de combate inventado no mundo, e se não funcionava, era porque da Vinci, colocou certas "artes" ao contrário como defesa do seu invento.
Publicado por: Templário às junho 20, 2005 08:06 PM
Quanto à máquina a vapor, sabe-se hoje que podia ter sido uma via a explorar melhor, mas decidiu-se por outros motores.
As invenções podem levar certos rumos, conforme os interesses. Há tantas e tantas esquecidas nas gavetas e à espera de melhores dias.
Publicado por: Templário às junho 20, 2005 08:09 PM
O quê??!! A máquina a vapor já foi inventada??!!
E eu a pensar que era uma coisa do futuro...
Publicado por: Senaqueribe às junho 20, 2005 10:26 PM
Senaqueribe em junho 20, 2005 10:26 PM:
Não. Não foi inventada. O Templário acabou de dizer que essa ideia foi abandonada.
Publicado por: David às junho 20, 2005 10:39 PM
NB: Isto não é uma crítica a Santos-Dumont. É uma constatação genérica relativa a todos os que se meteram a prever as maquinetas do futuro.
Podemos prever sentidos de evolução. Prever as formas que essa evolução revestirá é praticamente impossível. Até agora, nenhum acertou.
Publicado por: Joana às junho 20, 2005 11:06 PM
A unica "forecasting" com credibilidade é a Joana ; vejam lá que até acertou com a queda do governo dos tios Santana-Felix.
Publicado por: zippiz às junho 20, 2005 11:25 PM
zippiz:
Acertei em mais coisas. Olhe, por exemplo, acertei quando lhe disse que a vitória eleitoral do PS não iria conduzir ao que você estava à espera.
Publicado por: Joana às junho 20, 2005 11:32 PM
Também não era preciso um grande poder de previsão. A UE nunca o deixaria cumprir as promessa eleitorais que levariam o país ao descalabro financeiro.
Foi fácil.
Você é que acredita que há almoços grátis...
Publicado por: Joana às junho 20, 2005 11:34 PM
David às junho 20, 2005 10:39 PM
David acabei de te inscrever nas aulas de Português na Cova da Moura. Vais começar a perceber à 1ª e em vários dialectos.
Publicado por: Templário às junho 20, 2005 11:41 PM
Templário, você vai-me desculpar, mas pelos efeitos que produziu em si, prefiro não frequentar essas aulas.
Aproveito, contudo, para lhe agradecer as suas boas intenções, pois é isso que conta.
Publicado por: David às junho 20, 2005 11:46 PM
Mas repare, Joana, como em 1905, a «ingenuidade» de Santos-Dumont antecipou claramente, clarissimamente, o uso na guerra, pela primeira vez na História, dos meios aéreos. Não sei se era fácil ou difícil prevê-lo.
O que é que podemos «prever» acerca da fusão nuclear ? Tenho a certeza que o nosso amigo «Templário» vai por as suas caldeiras em funcionamento ...
Publicado por: asdrubal às junho 20, 2005 11:50 PM
asdrubal às junho 20, 2005 11:50 PM:
Tem razão, asdrubal, mas a minha teses é que: "Uma coisa é imaginar que uma dada acção se torne possível no futuro; outra é prever de que forma e porque processo essa acção se irá concretizar. Imaginamos o futuro, mas sempre através da matriz presente."
Foi isso que fez Santos-Dumont e todos os outros.
Publicado por: Joana às junho 21, 2005 12:10 AM
Note que durante a Revolução Francesa, na Batalha de Fleurus (se não me falha a memória) já haviam sido experimentados balões de reconhecimento, para avaliar a disposição das forças austríacas. Portanto a utilização de meios aéreos na guerra não era novidade
Publicado por: Joana às junho 21, 2005 12:11 AM
Têm piada esses modelos futuristas há exactamente 100 anos.
Publicado por: Rave às junho 21, 2005 12:12 AM
Joana,
- eu estava à espera de algo do PS ?
- eu acredito em almoços grátis ?
Passei a conhecer-me melhor desde que leio Semiramis !
sobre a primeira questão devo dizer que o ambiente ficou melhor : passaram a governar nos locais devidos e não na Caras !
sobre a segunda questão devo dizer-lhe que sou assalariado numa empresa internacional hà mais de 20 anos e sei quanto custa um almoço...ao cliente final!
ps: ficou satisfeita com o apoio que teve no post sobre o racismo ?
Publicado por: zippiz às junho 21, 2005 12:13 AM
Nota: A Batalha de Fleurus foi mais de 110 anos antes deste artigo no Je Sais Tout.
Publicado por: Joana às junho 21, 2005 12:14 AM
zippiz às junho 21, 2005 12:13 AM:
O meu post não era sobre o racismo. Era sobre a estupidez e a palhaçada do politicamente correcto que têm efeitos contrários aos pretendidos.
A ida do PR à Cova da Moura, nas circunstâncias em que foi feita, foi uma vergonha, própria de um país sem dignidade.
Concorreu muito mais para a Xenofobia que a manif dos broncos da FN.
Publicado por: Joana às junho 21, 2005 12:22 AM
David às junho 20, 2005 11:46 PM
Anda muito esquecido... não sabe que eu andei na escola Francesa ?
Publicado por: Templário às junho 21, 2005 12:26 AM
Joana em Junho 21, 2005 12:14 AM,
.
Pois é verdade. E o, ou, os balões de observação também foram utilizados na Guerra da Sesseção Americana, muito mais próxima de 1905, o que eu também desconhecia. Por outras palavras, parece que há sempre uma espécie de "lusco-fusco" do passado que permite uma "aproximação" ao futuro.
Ai Jesus, a I República ...
Publicado por: asdrubal às junho 21, 2005 12:37 AM
caro asdrubal
então o fadista não quer nada com a casa de bragança ?!
Publicado por: zippiz às junho 21, 2005 12:41 AM
zippiz em Junho 21, 2005 12:41 AM,
.
Boa Zippiz !
O fadista tá assim desde que se apaixonou pela ex-Presidente da Câmara de Sintra. O que é qu'agente há-de fazer ? A senhora é casada e tudo e tudo.
Publicado por: asdrubal às junho 21, 2005 01:18 AM
A ex-presidente da CM Sintra já deve ter passado "por baixo" e "por cima" e por "todas as posições" de fadistas e das mais variadas profissões
Publicado por: Coruja às junho 21, 2005 10:17 AM
Ora bem, eu também sou futurólogo e por isso não preciso de consultar o Professor Karamba ou o Professor Bambo para prever que o bacalhau à Zé do Pipo vai continuar a ter sucesso no futuro à luz da matriz presente.
São servidos?
Publicado por: Senaqueribe às junho 21, 2005 10:27 AM
Este post, como o outro que está linkado, estão muito bem observados. Na realidade nunca nenhum futurólogo acertou nos modelos que anteviu. E as razões são provavelmente aquelas que a Joana aponta
Publicado por: Ramiro às junho 21, 2005 10:27 AM
O bacalhau dentro de um ou dois séculos já só existirá em imagens de livros e revistas antigos.
Publicado por: curioso às junho 21, 2005 10:48 AM
Se olhar o dia de hoje a partir dos anos 60 (a minha infância) posso constatar que as coisas mudaram, mas não como se esperava: muitas das tecnologias de hoje já existiam na altura. As falhas de previsão devem-se à evolução dos seus custos relativos, que mudaram substancialmente. Pensem por exemplo: preço da energia versus preço da informática. Muitos dos sonhos de há 40 anos tinham como base uma energia a baixos preços, mas informação a altos preços. Não foi o que aconteceu... Embora os indicadores já lá estivessem todos.
Claro que quem soubesse prever a evolução dos preços relativos, não estaria a comentar um blogue - nem mesmo um tão delicioso como o da Joana - mas sim a ganhar muito dinheiro nos mercados de futuros...
Publicado por: Pedro Oliveira às junho 21, 2005 11:38 AM
Obrigado pelo conselho, ó nobre Ginete do Templo!
Hoje não descobri nenhuma gralha. Se calhar é das lentes novas.
Gralha é pássaro e o resto são erros de linguagem, ignorância, dislexia ou coisa que o valha.
Sim eu sei, toda a gente erra. Mas há os que assumem e há os outros.
Mas fica o agradecimento na mesma.
Publicado por: JMTeles da Silva às junho 21, 2005 12:25 PM
Ó Teles estás quase um Ariano. tens que aprender é a ser menos gralha, porque gralha barata já chateia !
PS- Fico contente por teres adquirido as novas lentes.
Publicado por: Templário às junho 21, 2005 04:25 PM
A Joana esqueceu-se que foi um português o precursor da aviação: o padre Bartolomeu de Gusmão, inventor da "Passarola".
E esta, hein?
Publicado por: Senaqueribe às junho 21, 2005 10:14 PM
Senaqueribe às junho 21, 2005 10:14 PM: Eu apenas falei do primeiro balão usado em operações militares.
Publicado por: Joana às junho 21, 2005 10:47 PM