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maio 20, 2005
Voz de Quase-Prisão
Soube agora pelo Manuel Limiano que, em em vez de ser um solícito CA da PT ir à minha porta dar-me explicações, como eu pretendia, deveria em vez disso ter comparecido um façanhudo agente da PJ dar-me voz de quase-prisão e conduzir-me, quase-algemada, à quase-cadeia. Explicou-me que receber dividendos da PT é uma quase-ilicitude. Manuel! Não quero nada que não tenha direito. Faça favor de me indicar o destinatário, que quase-devolverei imediatamente dividendos, retenções, anexos E, quase-tudo ...
Todavia há uma coisa curiosa nos absolutistas à portuguesa ...
Esta tese é verdadeira em si. O Manuel Limiano acha, e provavelmente com razão, que a PT tem um poder de mercado excessivo, por ausência de um mercado livre e transparente. Mas esse é outra questão, que é a da demissão do Estado daquilo que deveria ser o seu papel fundamental regular a concorrência de forma a tornar os mercados mais perfeitos e transparentes e a economia mais eficiente.
O Estado, em muitos casos, age de forma curiosa. Cria as condições para as empresas majestáticas funcionarem em regime de quase monopólio, dando-lhes a possibilidade de terem lucros monopolistas, e intromete-se, directa ou indirectamente, na gestão dessas empresas de forma que esse monopólio tenha um funcionamento tão canhestro, que nem tenha lucros ... aliás, tenha pesados prejuízos.
É um Estado duplamente ineficiente, pois não age de forma a tornar os mercados eficientes e age de forma a tornar as empresas que tutela ineficientes. O Manuel Limiano gostava de ser liberal. Quando se puder deleitar nesse gosto compreenderá essas duas curiosas vertentes estatais.
Mas essa dupla ineficiência do Estado não era a matéria em apreço no post. Aí só abordei uma das ineficiências. A outra tenho abordado noutros posts. Não me peça tudo, num simples post comentando uma insatisfação de um ministro.
Quanto à sua ânsia de rachar a PT, julgo que devia moderar os seus ímpetos e analisar a situação nas suas múltiplas vertentes, sendo uma delas a de ter em atenção os interesses das muitas dezenas de milhares de pequenos investidores que compraram acções daquela empresa nos processos de privatização, de boa-fé, sem pensarem que estavam a cometer uma quase-ilicitude. É que entre os accionistas, além de neoliberais, poderá haver neoabsolutistas como você, e muitos ... muitos indiferenciados.
Publicado por Joana às maio 20, 2005 01:15 PM
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Comentários
Li o post em questão. Pareceu-me o típico artigo de quem escreve sobre tudo mas nunca se inteira de nada.
Publicado por: Mário às maio 20, 2005 01:49 PM
Na prisão é onde devias estar, e sem acesso à net
Publicado por: Cisco Kid às maio 20, 2005 02:35 PM
Seja bem vindo, Cisco Kid.
A sua elegância, inteligência e bom humor têm feito muito falta por cá :)
Publicado por: Mário às maio 20, 2005 04:07 PM
a resposta detalhada segue em breve na GLQL. Parece-me que sem querer me deu toda a razão e mais alguma. :P
Bom fim de semana
Publicado por: Manuel às maio 20, 2005 04:47 PM
Diz a Joana "o Estado, só tem 500 acções ... uma ninharia". Ora se investigar verificará que esta informação é inexacta. O Estado detém cerca de 6% do capital da PT. Ora este era o ponto de partida e o pressuposto base para o raciocínio desenvolvido no seu post original.
Se o Estado é um accionista qualificado, não se entende qual o problema em usar da sua influência para salvaguardar aquilo que entende serem os seus interesses - é um comportamento racional (no sentido em que este termo é usado em ciência política).
De qualquer forma a PT é uma empresa privada, gerida por quadros nomeados na sua grande maioria pelo principal acionista. O facto de o Estado criar condições para empresas privadas como a PT "funcionarem em regime de quase monopólio" é apenas o sintoma dum problema estrutural (e por isso antigo) da economia portuguesa. É que os grupos económicos portugueses parecem ser incapazes de funcionar em regime de concorrência. Apesar da privatização das empresas públicas e da constituição de incipientes entidades reguladoras prevalece o "rent-seeking" (no sentido usado pela escola de Virginia).
Publicado por: oliveca às maio 20, 2005 06:43 PM
O liberalismo da Joana é muito curioso: deve ter-se em atenção, prioritariamente, os interesses dos "pequenos investidores" que compraram ações da PT, e não os interesses dos pequenos e grandes consumidores de telecomunicações, os quais são cruelmente explorados pelo quase monopólio dessa empresa; acrescentanto ainda por cima, dessa forma, um fator de falta de competitividade às empresas portuguesas, devido aos altos custos que estas têm que suportar pelas telecomunicações.
Temos aqui também uma interessante revisão da economia (neo)clássica: mais importante do que eliminar os monopólios para garantir a eficiência do mercado, é proteger os interesses dos (pequenos!) acionistas das companhias monopolistas.
Temos finalmente um interesante conceito de democracia: democracia não é o poder do povo, mas sim o poder dos (pequenos!) investidores.
Publicado por: Luís Lavoura às maio 23, 2005 11:53 AM
Eu escrevi: "analisar a situação nas suas múltiplas vertentes, sendo uma delas a de ter em atenção os interesses das muitas dezenas de milhares de pequenos investidores"
Não escrevi "prioritariamente"
Porque é que me põem na tecla coisas que nunca escrevi para depois tirarem conclusões?
Publicado por: Joana às maio 23, 2005 01:02 PM
Ai, ai, ai. O estado da educação meu Deus. Senhor Lavoura, depois de aprender o abecedário e conseguir juntar as letrinhas em conjuntos coerentes que formam palavras que vêem no dicionário comece por ler textos simples e, só depois, de cabeça fresca, venha aqui ler o que escreve a Joana:
"O Manuel Limiano acha, e provavelmente com razão, que a PT tem um poder de mercado excessivo, por ausência de um mercado livre e transparente. Mas esse é outra questão, que é a da demissão do Estado daquilo que deveria ser o seu papel fundamental regular a concorrência de forma a tornar os mercados mais perfeitos e transparentes e a economia mais eficiente"
A Joana reconhece que a PT poderá ter um poder de mercado excessivo, mas que isso deve ser tratado pelas autoridades competentes - agências reguladoras da concorrência e do mercado de telecomunicações. ninguém imagina que o ministro vá lá dizer ao CA da PT para ser bonzinho e dar oportunidade aos mais fracos.
O que o ministro anda a preparar, e que começou com a cretinice dos 0, qualquer coisa da Telefónica é uma guerra ao CA da PT para lá colocar uns boys, que parece ser o único objectivo do Estado nas empresas públicas que ainda detém.
Aliás o ministro Lino cada vez mais parece um saudosista do PREC, com saudadinhas dos bancos públicos (e juros a 30%) e da farra que foram as nacionalizações, que contribuiram fortemente para o Estado miserável em que isto se encontra.
Finalmente, achar que o povo deve democraticamente axercer a gestão de empresas é de uma clarividência que ainda não lembrou a ninguém. Enfim.
Joana, tem toda a razão, e se for quase presa, peça que pelo menos lhe dêem uma quase hora por dia para escrever umas postas.
Publicado por: Nuno Sousa às maio 23, 2005 01:07 PM