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maio 19, 2005

Teodora, está na hora do chá!

“Em 2002, quando esse governo[de Durão Barroso] tomou posse, a economia ainda crescia e era possível defender que o país não tinha um problema de competitividade, mas tão só um problema orçamental, resultante da política expansionista prosseguida pelo governo Guterres. A taxa de desemprego, de 4,1% da população activa, mantinha-se próxima do mínimo histórico.”. Só uma economista anestesiada pelo canto de sereia guterrista, e pelo excesso de chá e biscoitos, poderia defender isto. Já era então evidente que o país não tinha competitividade e que o expansionismo guterrista vivia do expansionismo da despesa pública e que o país iria pagar uma pesada factura por isso.

“Podia então defender-se que uma política muito determinada de restrição orçamental conseguiria resolver os problemas da economia, não só corrigindo o défice orçamental, mas também incentivando as exportações (graças à quebra da procura interna), restaurando a confiança internacional no país (em resultado da atitude responsável face ao PEC) e recuperando a competitividade salarial, abalada pelos excessos anteriores.” Só uma economista amodorrada pela hora do chá e biscoitos poderia supor que as exportações são incentivadas pela quebra da procura interna. Esse incentivo é apenas marginal ... é o incentivo do desespero por se ter perdido um mercado, porque sem competitividade externa esse incentivo não funciona.

Para Teodora Cardoso as duas razões principais do falhanço foram (i) a ausência de uma estratégia de reforma da política orçamental e (ii) a falta de consideração dos problemas estruturais da economia e da perda de competitividade de que esta sofria e que ia muito para além da questão salarial. Se por reforma da política orçamental Teodora Cardoso entende reforma do Sector Público, eu estaria totalmente de acordo. Mas aquela sentença parece-me mais uma frívola banalidade que se deixa cair, displicentemente, entre dois goles de chá e um trincar de biscoito, no conchego da sala, numa conversa mundana. Quanto ao facto de ir muito para além da questão salarial, tem toda a razão. Também era necessária a flexibilização laboral – mobilidade, fim da rigidez laboral, etc. Mas nesta matéria Teodora Cardoso é omissa.

Depois alinha uma frase completamente surrealista: A consolidação orçamental acabou transformado em mera ocultação de défices, enquanto contribuía para desviar as atenções dos gravíssimos problemas exibidos pelas empresas. Com o governo Guterres, estes tinham sido encobertos pela expansão (insustentável) da construção, do comércio e do investimento subsidiado em indústrias trabalho-intensivas, cujo futuro se sabia condenado. Com o governo Durão Barroso, essas actividades entraram em crise, mas nada as substituiu, a não ser a flagelação indiscriminada dos funcionários públicos, que mais parecia destinada a dissimular a incapacidade de controlar grupos de interesses e a desviar as atenções das insuficiências do grande número de empresas que se mostravam incapazes de definir uma nova estratégia de competitividade.

A ocultação de défices desviou as atenções dos gravíssimos problemas das empresas!? Qualquer raciocínio lógico concluiria antes que a ocultação de défices desviaria as atenções dos gravíssimos problemas do peso excessivo do Estado. Só um excesso de chá e biscoitos poderia estabelecer relação de causa e efeito entre a ocultação de défices e os gravíssimos problemas das empresas. Quanto ao resto do parágrafo, ele é mais próprio das lamúrias de dirigentes sindicais do que de uma economista gabada por ter audição junto do PR.

Mais adiante percebe-se melhor o “pensamento” da economista quando afirma que ao «Ministro das Finanças compete o papel fulcral de disciplinar não só o sector público, mas em igual medida - senão maior - o sector privado. Neste, as empresas terão de virar-se para o mercado externo, avaliar as novas (e cada vez mais exigentes) condições de concorrência e definir estratégias que as retirem dos últimos lugares dos rankings internacionais. A convicção de que as rendas no mercado interno irão ser cada vez menores será um incentivo poderoso nessa direcção. Os trabalhadores, por seu turno, terão de apostar na formação e de aceitar o desafio da flexibilidade, deixando de ver na primeira um simples suplemento de emprego ou de salário e passando a ver a segunda, não como uma perda de privilégios, mas como uma forma de progresso e de afirmação». Este arrazoado não passa de banalidades moralistas. O Estado não pode “obrigar” as empresas a virarem-se para o mercado externo. Pode, e deve, criar um clima económico favorável a esse desiderato. Entre as equações da microeconomia ainda ninguém encontrou, com estatuto de variáveis, as tiradas moralistas de Teodora Cardoso, logo elas não têm qualquer efeito no comportamento dos agentes económicos. Por outro lado os trabalhadores só apostarão na formação se for criado um clima económico propício a isso. As tiradas moralistas de Teodora Cardoso são-lhes indiferentes. É um disparate pensar que os trabalhadores vão aceitar o desafio da flexibilidade sem uma profunda mudança nas leis laborais (incluindo as do sector público) que acabe com a rigidez do mercado laboral.

Ou seja, Teodora Cardoso aposta numa suposta intervenção estatal nas empresas (os bons velhos tempos da sua meninice, da revolução bolchevique ...), mas como soube, pela experiência de muitas décadas, que isso só produz resultados desastrosos, não concretiza que tipo de intervenção sugere e fica por banalidades completamente inoperacionais.

Afinal o PR não é o único culpado das banalidades que diz. Muitas são-lhe sopradas por “expertos” conselheiros.

Publicado por Joana às maio 19, 2005 12:08 AM

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Comentários

Se os nossos jornalistas obrigassem as pessoas a serem confrontadas com as coisas que dizem ao longo dos anos, outro galo cantaria. Como isso não acontece os gurus são sempre os mesmos. Não é verdade que o Peres Metelo continua a ser ouvido sobre assuntos económicos?

Publicado por: Joao P às maio 19, 2005 12:28 AM

No fundo, os políticos dizem-nos aquilo que queremos ouvir: vamos reformar tudo, menos os teus privilégios e mordomias. E nós acreditamos, ou fazemos que acreditamos. O mal é que 'reformar tudo' sem tocar em interesses particulares é uma receita para o imobilismo, ou pior, para a adição paulatina de mais uns lugarzitos para os amigalhaços, tudo a mamar na teta do estado, pois claro.

O mal é que esta superestrutura estatizante já vem do século XIX, com a 'modernização' das infraestruturas nacionais às custas do crescimento do sector público. E os regimes que se seguiram, rotativismo, república jacobina, república corporativa, ditaduras militares ou caudilhismo nada fizerem para mudar esta situação: quando se está no poder o que conta é ter a maior quantidade possível de poder.

Aparentemente, o melhor a que podemos aspirar é de quando em quando um reformista competente, que deixa alguma obra, não se limitando apenas a comprar a paz social com dinheiros públicos.

Publicado por: Pedro Oliveira às maio 19, 2005 09:11 AM

grande! adoro este blog

Publicado por: Alexandre às maio 19, 2005 09:14 AM

Digam o que disserem da Teodora Cardoso, ela fez uma tradução magistral da Riqueza das Nações, de Adam Smith. Só por isso perdoo-lhe tudo o resto...

Publicado por: Albatroz às maio 19, 2005 09:47 AM

Albatroz, a tradução da Riqueza das Nações também é de Luís Cristóvão de Aguiar... A nossa competitividade nunca deve ter sido famosa. Mas a política cambial desinflacionista praticada por Cavaco Silva prejudicou-a paulatinamente ao longo da década de 90 (pelo factor preço). Se ela durante esses anos não foi recuperada pelo factor qualidade-marketing, não seria "wisfull thinking" pensar que ela apareceria milagrosamente com o "cold turkey" do euro e da globalização? O psicólogo Amaral Dias disse numa sessão pública de apresentação do livro de José Gil que os industriais têxteis, nortenhos, se tivessem tido um paizinho a impor-lhes especialistas de marketing para poderem criar linhas estilísticas reconhecidas pelo mercado, provavelmente teriam sido capazes de resistir melhor ao embate. Não proponho o dirigismo das actividades económicas, mas parece que falta qualquer coisa aos empresários.

Publicado por: Rui Lizandro às maio 19, 2005 11:16 AM

Incrível como pode alguém traduzir bem algo que não compreende :)

Publicado por: Mário às maio 19, 2005 12:20 PM

A Joana tava mesmo chateada com a derrota do Sporting. Deitou a "velhinha" mesmo abaixo.

Publicado por: David às maio 19, 2005 01:03 PM

Rui Lizandro em maio 19, 2005 11:16 AM:
Nos têxteis e calçado nós precisamos, em muitos casos, de uma nova geração de empresários. Os que existem têm uma mentalidade adquirida num "ambiente económico" do 3º mundo - salários muito baixos, pessoal analfabeto, protecção industrial, trafulhices, etc. Esses vão todos à falência, mais dia menos dia. Não há designer que os salve.
Também precisamos de sindicatos com uma mentalidade mais económica e menos estúpida e de leis de trabalho que flexibilizem o emprego.

Publicado por: Hector às maio 19, 2005 01:11 PM

Rui Lizandro às maio 19, 2005 11:16 AM

Tem razão quanto à dupla autoria da tradução da Riqueza das Nações. Agradeço o reparo e peço desculpa pela omissão.

Publicado por: Albatroz às maio 19, 2005 02:17 PM

Teodora Cardoso omite talvez muitos problemas, mas a Joana também é muito reducionista. Para ela, todo o problema se reduz à excessiva dimensão do Estado e à falta de competitividade externa. Omite os problemas ecológicos graves que Portugal enfrenta, como sejam o fim do petróleo barato, as alterações climáticas, e a escassez de água. Esses problemas poderão, num prazo curto (10 anos), provocar na economia portuguesa rombos devastadores, para os quais a Joana parece estar tão pouco alerta como a Teodora Cardoso.

Publicado por: Luís Lavoura às maio 19, 2005 06:41 PM

http://dn.sapo.pt/2005/05/18/negocios/investimento_capital_risco_cresce.html

a solução está aqui! Ou será quie não?!?! Fiquei sem perceber se o saldo desceu ou subiu...

Ah... afinal o impacto disto não é grande na economia...

Publicado por: LL às maio 19, 2005 06:57 PM

Pelos vistos, os problemas do país decorrem apenas da sua situação geográfica.
Sendo assim, o país tem de mudar de sítio: ir para algures onde chova mais, o clima seja mais estável e onde haja petróleo.
O governo pode ser o mesmo...

Publicado por: Senaqueribe às maio 19, 2005 07:03 PM

No dia em que tivermos problemas climáticos a sério outros já estarão a arder há muito tempo. Viva o Oceano Atlântico!

Publicado por: lucklucky às maio 19, 2005 09:38 PM

"Este arrazoado não passa de banalidades moralistas. O Estado não pode “obrigar” as empresas a virarem-se para o mercado externo. Pode, e deve, criar um clima económico favorável a esse desiderato."
Neste arrazoado da Joana, entre uma sande, e um copo, deve ler-se:
"O Estado não pode “obrigar” as empresas a virarem-se para o mercado externo. Pode, e deve, subsidiá-las, através do desagravamento de impostos, fechar o olho ao escandaloso lucro da banca e "prestamistas" que por aí pululam, aceitar com indiferença a fuga aos impostos de empresários e empresas tipo "Grão Pará" e outras, fomentar o recurso ao tráfico de influências tipo "Portucale", etc"
Isto é, na opinião da "opinadora", criar um clima económico favorável a esse desiderato."

Publicado por: E.Oliveira às maio 19, 2005 10:31 PM

E.Oliveira às maio 19, 2005 10:31 PM:
Nunca me viu defender os disparates que escreveu.

E por falar em Grão-Pará, foram os socialistas (o ministro Pina Moura) que enterraram lá dezenas de milhões de euros para nada. E já nessa altura havia o diferendo entre a Grão-Pará e o Estado por causa da dívida.

Publicado por: Joana às maio 19, 2005 10:59 PM

"Omite os problemas ecológicos graves que Portugal enfrenta, como sejam o fim do petróleo barato, as alterações climáticas..."
Publicado por: Luís Lavoura às maio 19, 2005 06:41 PM

Desta vez estou de acordo consigo, não partilhando contudo o excessivo dramatismo da sua afirmação.

Publicado por: JMTeles da Silva às maio 20, 2005 12:11 PM

Publicado por: Joana às maio 19, 2005 10:59 PM

A conversa dos políticos é sempre a mesma.
A culpa é sempre dos outros, a Joana segue-lhes os passos, pelos vistos.
No entanto, atrevo-me a dizer, que o Pina Moura deu com uma, o que Nobre Guedes, e acólitos quiseram dar com a outra, mas claro para os bolsos dos amigalhaços!

Publicado por: E.Oliveira às maio 20, 2005 03:06 PM

Achei este post de muito mau gosto.

Exibe uma forte aversão a Teodora Cardoso, com "piadas" totalmente despropositadas sobre chá e biscoitos, aversão que, ou é originada por um fanatismo político, ou por uma qualquer causa pessoal inescrutável (uma vez que a "Joana" é anónima).

Concordo grosso modo com as citações transcritas da Teodora Cardoso e não vejo motivo para estes ataques ferozes.

Publicado por: Luís Lavoura às maio 21, 2005 03:39 PM

Joaninha Joaniha....
Não tens o mínimo senso de vergonha?

Andaste estes anos todos a tecer loas à fantástica governação PP/PSD, cuja grande prioridade(!!!) sempre foi o de inverter a tendencia do crescimento do defice e agora, em vems de reconhecer a vossa escabrosa imcompetencia vens cascar na "velhinha"?

Publicado por: never mind às maio 24, 2005 01:44 AM

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