« Semíramis adverte | Entrada | A Rábula de Sócrates »

maio 16, 2005

Sócrates Austero

Vão ser tomadas medidas extremas de austeridade que irão afectar profundamente toda a população. O Governo decidiu dar o exemplo. A seguir uma reportagem gentilmente cedida pela TVB sobre a primeira reunião do executivo após o decreto de austeridade.

Socratesaustero.JPG

A consternação é geral. A primeira nota que ressalta da imagem são os efeitos devastadores da crise económica nos sectores do vestuário, calçado e lâminas de barbear.

No centro, Sócrates, encanecido pelo desgosto de só agora ter descoberto uma coisa que toda a gente sabia há muito, expõe o relatório Constâncio e apela aos membros do gabinete para se manterem calmos e austeros. Campos e Cunha encoraja-o, afagando-lhe afectuosamente o joelho.

No corredor de saída, o Ministro dos Assuntos Parlamentares, Santos Silva, bate com cabeça e mãos na parede, clamando “Habemus deficit” e tentando desesperadamente encontrar argumentos para desdizer Alberto Martins, o líder parlamentar do PS, que declarara há dias: «O défice é um instrumento necessário e fundamental para garantir o crescimento económico pela vias da competitividade nacional. Se se pretende no imediato outra coisa, não contem connosco.». Afinal têm que contar!

À direita, o Ministro das Obras Públicas levanta os braços horrorizado, sem saber como irá explicar o fim de algumas SCUT, uma das promessas emblemáticas da campanha eleitoral. À esquerda, o Ministro dos Negócios Estrangeiros está sentado, de olhos fechados, cismando qual a corrente político-filosófica que irá abraçar a seguir … apenas lhe resta o PCP.

Vieira da Silva, em travesti de efebo para não ser reconhecido, tenta dar a Sócrates uma poção que lhe foi entregue pelas Centrais Sindicais. Segundo Carvalho da Silva, é uma poção mágica preparada pelo Sindicato dos Druidas que permite que o país contrate mais 150 mil funcionários públicos, aumente a função pública 6% ao ano e elimine simultaneamente o défice orçamental, tendo ainda, como efeito colateral, a capacidade de tornar os nossos têxteis competitivos com os chineses, mesmo com salários 50 vezes superiores e trabalhando metade do tempo. Vieira da Silva chamou-lhe cicuta sicuta.

Ao fundo, alguns ministros mais perspicazes timoratos escapulem-se pelas escadas.

A luminária esmaece desalentada.

Publicado por Joana às maio 16, 2005 09:31 PM

Trackback pings

TrackBack URL para esta entrada:
http://semiramis.weblog.com.pt/privado/trac.cgi/88192

Comentários

Belo quadro.
Suspeito no entanto que o efebo que tenta envenenar Sócrates é o outro Ministro de Estado... está de costas e tudo...

Publicado por: P Vieira às maio 16, 2005 09:49 PM

Não percebi aquela das lâminas de barbear, mas vou falar com o meu barbeiro que deve estar dentro do assunto ( como está de muitos outros...).
Quanto à competição com os chineses, isso resolve-se facilmente; basta colocar os salários ao nível da tijela de arroz.

Publicado por: Senaqueribe às maio 16, 2005 10:53 PM

Confesso-me surpreendido com o «Bilderberg» de Sintra. Que mau aspecto !

Publicado por: asdrubal às maio 16, 2005 11:04 PM

Lá está a Joana a desculpa a direita...

Publicado por: Mario às maio 16, 2005 11:19 PM

Senaqueribe:
Não vê há quantas semanas eles não fazem a barba?

Publicado por: Joana às maio 16, 2005 11:45 PM

Segundo a Lusa, que José Manuel Fernandes afirma só publicar noticias de estad(ão), o ministro das coisas lá no estrangeiro, estava mesmo era a dormir.

Publicado por: carlos alberto às maio 17, 2005 12:37 AM

Está muito pensativo, o Freitas. Deve estar a tramar alguma.

Publicado por: Ant Curzio às maio 17, 2005 01:01 AM

Eu acho que os dois que estão a fugir são o Vitorino (que já começou a correr há algum tempo) e o ministro das finanças, que já percebeu onde se meteu.

Publicado por: Mário às maio 17, 2005 10:54 AM

Correcção: O ministro das finanças já percebeu com quem se meteu. Que a situação do país era complicada já ele devia saber. O que não sabia é que teria de enfrentá-la em conjunto com um grupo de autistas.

Publicado por: Mário às maio 17, 2005 10:56 AM

Na sala é visível o resultado da venda dos activos do Estado no Governo anterior, já não há quase nada, nem computadores, nem sequer canetas ou papel. As mesas, vazias, foram também vendidas tal como os candeeiros eléctricos, que se mostraram inúteis após o corte da electricidade (cortada porque os serviços demoraram tanto tempo a processar o pagamento que o prazo máximo expirou).

Publicado por: Daniel às maio 17, 2005 11:51 AM

Daniel,

Tem que publicar essa sua teoria. Gostava de saber como justifica que quase todos os problemas se devem à excessiva dimensão do Estado, mas mesmo assim você acha que uma boa metáfora para o Estado seja uma sala depauperada.

O governo limitou-se a vender umas "bugigangas" que ninguém sabia que lá estavam. O Estado continua a ser uma arrecadação a abarrotar pelas costuras, ou melhor, um enorme arquivo morto. Infelizmente, não apenas de bens materiais mas também de pessoas.

Publicado por: Mário às maio 17, 2005 02:06 PM

Há anos que acompanho estas querelas. Julgo que só quando estivermos todos a comer m**** é que chegaremos a algum acordo.
E daí não sei. Muitos poderão continuar com a ilusão que a m**** é preferível às reformas.

Publicado por: Arroyo às maio 17, 2005 02:27 PM

Mário,
a sua aversão ao Estado é tanta que eu começo a suspeitar que pertence a algum movimento anarquista!

A dimensão do Estado mede-se em variáveis fluxo. Os activos são variáveis stock, não contam para a medição da presença do Estado na economia.

Paz e humor.

Publicado por: Daniel às maio 17, 2005 02:47 PM

Daniel: Indirectamente contam, porque precisam de manutenção. Provavelmente têm ligação à rede de águas e telefone, etc., que também custa dinheiro, embora muito menos, como é evidente

Publicado por: David às maio 17, 2005 03:03 PM

O Mário irrita-se muito com os ativos imobilizados do Estado. Mas deveria olhar para os ativos imobilizados dos particulares: prédios entaipados em Lisboa, terras de cultivo abandonadas, espaços florestais a criar mato e sem qualquer manutenção, etc. O problema dos ativos imobilizados é transversal à sociedade portuguesa, não está só no setor Estado. Relaciona-se com a falta de oportunidades lucrativas para muitos desses ativos, e com os custos de manutenção incomportáveis.

Por exemplo: há em Lisboa (zona central da cidade) montes de prédios novos que não encontram compradores. Nestas condições, restaurar ou reconstruir os prédios abandonados é estúpido: não haveria compradores para todos eles. Portanto, é racional os proprietários entaiparem-nos e deixarem-nos a cair. Pura e simplesmente, são ativos para os quais não há utilização lucrativa possível (ou pelo menos o risco do investimento é muito elevado).

Publicado por: Luís Lavoura às maio 17, 2005 03:49 PM

Publicado por: Daniel às maio 17, 2005 02:47 PM

Se a sua casa está cheia de coisas desnecessárias, não me importo, até podia achar piada. O Estado não deve ficar dependente de caprichos e irracionalidades.

A aversão que você diz eu ter ao Estado é ilusória. Tenho tanta aversão ao Estado como à comida. Sem comer morria, mas há uns meses ando a comer menos e só tenho sentido benefícios. É preciso ser mais explícito?

Publicado por: Mário às maio 17, 2005 03:51 PM

Publicado por: Luís Lavoura às maio 17, 2005 03:49 PM

Não me irrito porque não sou dado a extravagâncias emocionais.

Os activos imobilizados dos particulares são acima de tudo um problema dos particulares. Um particular pode arriscar-se a fazer negócios que depois saiem totalmente furados. O Estado não tem de mover-se por "fézadas", descurando as suas funções essenciais.

Publicado por: Mário às maio 17, 2005 03:58 PM

Quando os privados fazem asneiras nos negócios, quem paga são eles.
Quando o Estado faz asneiras, quem paga somos nós todos. Quem decidiu paga apenas 1/10.000.000 do custo da asneira que fez.

Publicado por: Coruja às maio 17, 2005 04:08 PM

Publicado por: Coruja às maio 17, 2005 04:08 PM

Não é bem assim.
Olhe o Santa Ana que pelo erro(s) que fez foi mandado borda fora para os tubarões. A percentagem dele parece-me um bocadito maior; de Imperador a arrumador.

Publicado por: carlos alberto às maio 17, 2005 05:43 PM

Nao tenho duvidas de que os dois que já vão na escada são, o Jaime Gama, que vai à frente para se acoitar no lugar de Presidente da Assembleia da República, como segunda figura do Estado e o outro é o António Victorino, que aspira a uma vaga na corrida para Belém. Como tem a perna curta espera com esta saída ganhar algum avanço. Cada um deles segura uma candeia acesa para lhes iluminar o caminho.

Publicado por: JM às maio 17, 2005 11:06 PM

Comente




Recordar-me?

(pode usar HTML tags)