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abril 27, 2005

Realizar com fé para estudar com fé

Ou como a fé move trapalhadas ...

Tinha que acontecer. Estou sem assunto. Mas para quê preocupar-me? O país está anestesiado, amodorrado no sofá, olhos fechados, imune a pensamentos complexos que perturbem a sua quietude. Espera que estas coisas bizarras da globalização, défice orçamental, deslocalizações passem e não dêem por ele. E vai-se anichando no sofá, almofada sobre a cabeça, tentando passar despercebido, à espera que a crise passe.

Está mesmo imune às trapalhadas. Ainda hoje o ministro da Administração Interna admitiu que o anunciado projecto de acompanhamento de operações policiais por elementos do Ministério Público pode ter resultado de um erro de interpretação jurídica do Governo sobre algumas competências da polícia. “Pode” ter resultado ... António Costa, com a experiência que se lhe reconhece, porquanto já havia sido ministro da Justiça de Guterres, vai continuar a estudar este assunto. Por isso advertiu que pode ter resultado de um erro de interpretação. Uma pessoa com o traquejo de António Costa em matérias de justiça, não comete erros ... foi apenas uma atrapalhação de momento.

Quando se falou na possibilidade de Bruxelas abrir, contra Portugal, um procedimento por défice excessivo, o comentário de Campos e Cunha foi "Não ficarei surpreendido". Campos e Cunha não foi interrogado na qualidade de analista de temas financeiros. Ele é o ministro das Finanças. Não se espera que um ministro das Finanças, em face de uma possibilidade de procedimento por défice excessivo, apenas nos revele os seus estados de alma, ou nos indique os valores da sua tensão arterial quando confrontado com a notícia. Esperava-se que revelasse as medidas que tencionava tomar. Atrapalhou-se ... provavelmente.

Já anteriormente, ou ele ou Sócrates (ou ambos) se haviam atrapalhado sobre a eventualidade de uma subida de impostos – um negando-a peremptoriamente e outro achando que “não ficaria surpreendido se tal acontecesse”.

Estava estabelecido como dado adquirido a realização de exames no 9º ano. A ministra, recentemente, lançou a confusão sobre esta matéria, “relativizando” o papel do exame. Tudo indica que este ano haverá mesmo exames. Para o ano ... logo se vê ... enfim ... uma trapalhada. Ontem foram lançadas algumas “ideias” completamente avulsas e outras (aumento do horário lectivo) que já não serão aplicadas este ano lectivo (que está perto do fim) e que a ministra espera que as pessoas se tenham esquecido (as escolas esquecer-se-ão seguramente) na reabertura do próximo ano lectivo. Trapalhadas ...

O Governo decidiu acabar com os hospitais SA e transformá-los em os hospitais EPE. Entretanto nomeou uma comissão para efectuar uma avaliação dos seus resultados. Expliquem-me uma coisa: não é normal, num processo decisório, estudar-se primeiro, fazer os diagnósticos e decidir no fim? Como é que se integra, nesse encadeamento lógico, decidir primeiro e estudar no fim.

Salazar disse num seu discurso, nos alvores do seu longo consulado, que deveríamos “Estudar com dúvida para realizar com fé”. Sabe-se como ele afinal acabou por “Estudar com fé para realizar com fé”. Sócrates inverteu os termos e decidiu-se a “Realizar com fé para estudar com fé”, porque depois de “Realizar com fé”, se estudasse “com dúvidas” poderia perder a “”. Assim sendo, terá que “estudar com fé”.

Trapalhadas ... Ainda bem que o país e a comunicação social estão amodorrados.

Publicado por Joana às abril 27, 2005 11:28 PM

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Comentários

Pois sejam dadas graças a Deus pela invencível inércia dos povos. É ela que nos salva dos ímpetos revolucionários da Joana.

Publicado por: Zé Luiz às abril 27, 2005 11:57 PM

Joana, do Blasfémias:
"Erro?

O ministro socialista António Costa afirma que cometeu um «erro de interpretação jurídica» sobre algumas competências da polícia. Admitiu. Fica bem.

Como também fica bem recordar que a lei que atribui as tais competências á PJ, foi da autoria do governo socialista de António Guterres que tinha ao seu tempo como titular do ministério da Justiça .... António Costa!

O que torna mais difícil reduzir a questão a uma mera questão de «interpretação jurídica». Ou sequer falar em «erro».

E sobre o «sempre ouvi dizer», convirá também recordar o então correcto conhecimento sobre as competências policiais reveladas em pedido de audição parlamentar de 2003, pelo primeiro subscritor, o então deputado... António Costa."

Publicado por: David às abril 27, 2005 11:58 PM

A trapalhada ainda é maior do que pensava

Publicado por: David às abril 27, 2005 11:59 PM

E a Joana tem a ousadia de quebrar a unanimidade sobre o novo governo?

Temos que dar pelo menos um ano de estado de graça. Os 2 anos seguintes da legislatura devemos desculpar Sócrates e o PS devido à pesada herança neo-liberal. E o ano final, quando já não temos confiança açlguma no nosso "timoneiro", levantaremos os ombros e diremos: "Pois, mas a oposição não está melhor, mal por mal..."

Publicado por: Mario às abril 28, 2005 12:02 AM

Ficou sem assunto?

Ficou sem assunto, porque é uma intelectual e apenas se preocupa com economia, educação, justiça e outras ligeirezas afins.

Se lesse os jornais, enfim os desportivos, saberia que o senhor Presidente do Penafiel, que é irmão do Citizen Kane português, abandonou a ideia de jogar com o Benfica no estrangeiro para a Liga Portuguesa porque ainda não tem matematicamente garantida a sobrevivência da sua SAD no escalão maior do futebol nacional, senão a refrega seria, talvez, em Paris.

Ora vê como se saísse á rua, já tinha assunto!

Publicado por: carlos alberto às abril 28, 2005 12:31 AM

O titular do MAI, hoje, assim como que para sinalizar, disse que o Ministério não terá liquidez para pagar os funcionários nos últimos meses do ano.
Ernâni Lopes, no tempo do PM Mário Soares, aplicou a medida ao tal de "Moloch" : 14º mês (o do Natal) prá viola ! Vale uma aposta ?

Publicado por: asdrubal às abril 28, 2005 12:44 AM

Ora, ora...
Até a Joana dirá os maiores disparates se alguém lhe puser um microfone de repente à frente da cara. Nem todos podemos ser o Jaime Gama...

Publicado por: Zé Luiz às abril 28, 2005 01:11 AM

"Political tags - such as royalist, communist, democrat, populist, fascist, liberal, conservative, and so forth - are never basic criteria. The human race divides politically into those who want people to be controlled and those who have no such desire." -- Robert A Heinlein
Eu conto-me entre os que não querem que as pessoas sejam controladas. Os neoliberais só não querem que as pessoas sejam controladas pelo Estado.

Publicado por: Zé Luiz às abril 28, 2005 01:26 AM

Este meu último comentário está metido um bocado a martelo. É no que dá estar a ter várias conversas ao mesmo tempo.

Publicado por: Zé Luiz às abril 28, 2005 01:43 AM

Se essas trpalhadas e outras que tem havido, fossem no governo anterior, quanto não se escreveria.

Publicado por: soromenho às abril 28, 2005 08:45 AM

"... O país está anestesiado, amodorrado no sofá, olhos fechados, imune a pensamentos complexos que perturbem a sua quietude. (...) E vai-se anichando no sofá, almofada sobre a cabeça, tentando passar despercebido, à espera que a crise passe."

Está mesmo na hora de ler "Portugal, Hoje - O Medo de Existir" de José Gil, Relógio D'Água Editores.

Publicado por: Senaqueribe às abril 28, 2005 11:25 AM

soromenho:
As trapalhadas do anterior governo não resultavam de um jornalista meter um microfone na cara de um ministro. O governo anterior atrapalhava-se no silêncio dos gabinetes, no estudo dos dossiês, na táctica (estratégia, nem sabiam o era), nos discurso proferidos perante o Parlamento, nas comunicações, supostamente preparadas, à Comunicação Social...
O que os membros deste governo têm que aprender é a falar menos; e a só falar quando querem para só dizer o que querem. Palpita-me que o Sócrates lhes vai ensinar isto enquanto o diabo esfrega um olho.

Publicado por: Zé Luiz às abril 28, 2005 11:27 AM

Já há muito eu estava a constatar que a Joana andava com falta de assunto para escrever.

Compreendo-a: eu, se tivesse um blogue, estaria na mesma angústia. (É uma das razões para não ter.)

Joana: tire umas férias. A malta não se chateia, desde que nos informe previamente quando é que volta. Ou então passe a só postar três dias por semana, por exemplo. Adopte um horário de 35 (ou 30, ou 20...) horas semanais, como esses que você tanto vilipendia.

Quando não há trabalho para fazer, é mesmo o melhor...

Publicado por: Luís Lavoura às abril 28, 2005 11:35 AM

Ou então faça um "banco de tempo", como o que o sindicalista da Auto-Europa, aquele horrendo militante do BE, congeminou com os seus patrões...

Publicado por: Luís Lavoura às abril 28, 2005 11:58 AM

Você não pode competir com blogs que têm 11 e 12 "afixadores", ou mais. Nem com o do JPP que é feito "pelos seus leitores" para além do pessoal que o deve ajudar.
Deve ser complicado encontrar um assunto com interesse por dia.
Em qualquer dos casos este não-assunto está bem visto

Publicado por: Rui Silva às abril 28, 2005 12:15 PM

Este não-assunto é o principal (único!?...) assunto do Portugal em que estamos.
Vejam o livro de José Gil, "Portugal Hoje - O Medo de Existir"

Publicado por: Senaqueribe às abril 28, 2005 12:38 PM

Rui Silva às abril 28, 2005 12:15 PM:
Nem eu quero competir. Desde que me lembre de algo interessante, não perco mais que uma ou duas horas a escrever.
E quanto aos blogs colectivos, há alguns com nível, quer se concorde ou não com eles (Blasfémias, Grande Loja, etc.), outros que jogam com a piada fácil e imaginativa (Barnabé, blog dos Marretas) e outros que parecem uma sala onde se toma chá e se dizem umas frivolidades (Afixe)

Publicado por: Joana às abril 28, 2005 01:05 PM

Expliquem-me lá uma coisa, que eu sou um pouco lento nestas coisas do raciocínio (como dizia o outro: eu tenho uma grande cabeça, as ideias é que me atrapalham um pouco...):

A Joana começou o post por dizer que estava sem assunto mas, logo a seguir, desenvolveu um raciocínio lógico com base em numerosos factos de actualidade. Logo, o "sem assunto" só poderia ser entendido como uma ironia. Até aqui tudo bem: tem graça e não ofende (e também não se pode descobrir a bomba atómica todos os dias).

Mas depois o pessoal agarra-se ao "sem assunto" e desata a dar conselhos concomitantes... Não percebo: não serão os críticos que estão "sem assunto" ?

É que estas "discrepâncias" surgem na sequência de outras "preocupações" sobre onde é que a autora vai arranjar tempo para tanta prosa. Isto e mesmo um país de originais, não há que duvidar.

Publicado por: J.Aldeia às abril 28, 2005 02:00 PM

Então o facto do meu SPORTING ir jogar hoje a 1ª mão das meias finais da taça UEFA, não é assunto de interesse nacional?
Nestas ocasiões, e creio que não estou sozinho, quero lá saber da economia, do déficit, - particurlarmente do déficit democrático, - do estado das contas públicas, e de outros assuntos menores. O que verdadeiramente importa é que o Liedson resolva o jogo pois desse modo resolve, pelo menos por uns dias as angustias de milhares de portugueses.

Publicado por: Luís Filipe às abril 28, 2005 03:23 PM

Luis Filipe: é preciso ter fé, já que estudar não serve de nada.

Publicado por: David às abril 28, 2005 03:50 PM

David:

Embora não saiba a que fé se está a referir, sempre lhe digo que o Caminho que vou percorrendo é no sentido de me conduzir a uma Fé adulta, só por si capaz de me libertar das angustias existências tão comuns a quem participa neste blog.

Publicado por: Luís Filipe às abril 28, 2005 04:09 PM

Fé no Sporting

Publicado por: David às abril 28, 2005 04:12 PM

Estou com uma fé enorme que o Sporting vai ser este ano o campião da 2ª circular e, consequentemente, campião nacional. Haja fé!

Publicado por: Luís Filipe às abril 28, 2005 04:48 PM

Publicado por: Luís Filipe às abril 28, 2005 04:48 PM
.
Espere sentado !!!

Publicado por: carlos alberto às abril 28, 2005 05:15 PM

Venho a este blog há pouco tempo, mas estou maravilhado. Não sei se tem sido sempre assim, mas me parece que a Joana, qual eucalipto, seca os comentadores. Quero eu dizer que aprecio tanto os textos da Joana que depois, quando vou ler os comentários, encontro-os secos, sem sumo. Convido-os a ler novamente o texto da Joana (vale a pena) e os comentáios (nem tanto) e digam lá se não tenho razão.
Continue sempre, Joana, mas vou-me abster de a elogiar para não parecer uma cassete.

Publicado por: JM às abril 28, 2005 07:46 PM

Pronto!... O JM secou!

Publicado por: Senaqueribe às abril 28, 2005 09:27 PM

JM ... olhe que eu também faço alguns comentários .. . de quando em vez ...

Publicado por: Joana às abril 28, 2005 11:26 PM

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