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março 03, 2005

Orçamento de Estado para 14 AD

Apresento seguidamente um exercício, com os mesmos pressupostos do exercício do post anterior, relativamente ao Orçamento do Estado Romano, genérico, durante o primeiro quartel do século I. Faço depois um exercício arriscado, relativamente ao cálculo do PIB do Império Romano (no conceito p.p.p. – purchase power parity, obviamente), e algumas comparações interessantes com o Estado português.

Estas receitas e despesas não incluem os valores relativos aos diferentes municípios das províncias que tinham algumas despesas administrativas e recebiam taxas para as solver. Provavelmente esses valores em falta não excederiam 20% do OE Romano, visto que as despesas militares (a fatia maior) e a administração provincial faziam parte do OE.

OE_Roma.jpg

Estes valores são consistentes com o superavit financeiro encontrado no erário público à morte de Tibério (14-37AD), de 2.700 milhões de sestércios (13.500.000 mil €), que era 24 vezes superior àquele valor anual (Tibério havia reinado 23 anos). Portanto este OE Romano poderia considerar-se um orçamento anual típico daqueles anos.

O PIB que calculei a partir daqueles valores baseou-se nos pressupostos indicados no quadro. Considerei que as actividades não agrícolas correspondiam a 40% dos valores anteriores e adicionei mais 40% sobre o total obtido, para ter em conta as actividades que não eram taxadas (aliados, etc.) e a subestimação da produção agrícola e mineira. Mesmo assim o PIB deve estar algo subavaliado

PIB_Roma.jpg

Plínio, quase um século depois, no tempo de Trajano, queixava-se das importações sumptuárias do Oriente (Índia, Pérsia, etc), sem contrapartida de exportações, que, segundo ele, ascenderiam a 100.000.000 sestércios por ano (500.000 mil €) o que é de facto uma soma avultada (cerca de 5% da despesa pública ou 0,6% do PIB).

Para comparar a fiscalidade e a despesa pública com o PIB, multipliquei aquelas por 1,2 para ter em conta despesas e receitas da administração própria dos municípios da província.

Não vale a pena fazer grandes reflexões. Todos falam do peso do Estado Romano que asfixiava a sociedade. É certo que, durante Tibério, as coisas funcionavam razoavelmente bem do ponto de vista administrativo. Mas comparando com o Estado português verifica-se que, este sim, asfixia a sociedade. É certo que o Estado português tem despesas sociais (o Estado romano também tinha algumas, como se pode ver), mas as nossas despesas não sociais representam 23% do PIB. E isso é asfixiante.

Publicado por Joana às março 3, 2005 07:37 PM

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Comentários

Muito interessante. Nomeadamente a comparação.

Publicado por: Diana às março 3, 2005 09:53 PM

Muito interessante. Nomeadamente a comparação.

Publicado por: Diana às março 3, 2005 09:56 PM

Muito interessante. Nomeadamente a comparação.

Publicado por: Diana às março 3, 2005 09:59 PM

Resumindo se subirmos o PIB baixa a percentagem das despesas e deixa de ser asfixiante.

Publicado por: Templário às março 3, 2005 10:11 PM

Resumindo:

Se subirmos o PIB, baixa a percentagem da despesa e deixa de ser asfixiante.

Publicado por: Templário às março 3, 2005 10:11 PM

Um excelente post para afastar os comentaristas.

Publicado por: Senaqueribe às março 3, 2005 10:12 PM

Um excelente post para afastar os comentaristas.

Publicado por: Senaqueribe às março 3, 2005 10:13 PM

Essa é a melhor da noite, Senaqueribe!!

Publicado por: David às março 3, 2005 10:18 PM

Também não se passa nada na política!

Publicado por: David às março 3, 2005 10:20 PM

Excelente post!! Força !

Publicado por: Janota às março 4, 2005 12:47 AM

Muito obrigado.
Deixei de beber a partir de hoje.
Vejo os comentários em duplicado e triplicado.

Publicado por: carlos alberto às março 4, 2005 12:48 AM

Excelente post!! Força !

Publicado por: Janota às março 4, 2005 12:51 AM

OK, David. Mas recuar 2 mil anos ...
Em qualquer dos casos acho aquelas informações, ou meras estimativas, muito interessantes.

Publicado por: Valente às março 4, 2005 01:02 AM

Joana: Nunca vi nada de semelhante. É uma informação preciosa, a menos que tenha inventado tudo!!!!!!!!

Publicado por: Sa Chico às março 4, 2005 01:22 AM

Espera-se que os novos servidores (escravos) deste bloger provider funcionem. Senão mandam-se para a arena para serem comidos pelos leões

Publicado por: Susana às março 4, 2005 08:30 AM

A falta de notícias políticas tem sido útil!

Publicado por: censor às março 4, 2005 09:51 AM

Joana,

Daqui a 2000 anos todos irão concordar com as suas análise da actual situação política/económica.

Publicado por: Mário às março 4, 2005 10:11 AM

Da actual, talvez, e da de há 4000 (2000) anos, seguramente.

Publicado por: Coruja às março 4, 2005 10:16 AM

Tanto tempo que a Joana terá que esperar! Quando ler isso, lá irá tomar um anti-depressivo.

Publicado por: Coruja às março 4, 2005 10:18 AM

"o Estado português tem despesas sociais"

Seria bom estudar em detalhe essas despesas "sociais" para saber em que medida elas o são, de facto.

Por exemplo: uma pensão de reforma no valor de 1.000 contos por mês é uma despesa social?

Por exemplo: como classificar o gasto do Estado português com o vencimento de 5 agentes da PSP que, destacados em Bruxelas, asseguram a proteção pessoal de Durão Barroso?

Por exemplo: a reforma vitalícia de um deputado, que o foi durante dez anos, é uma despesa social?

Há muita coisa que entra nas contas como "despesa social" e que, na verdade, não o é. E há muita coisa que entra como "despesa de funcionamento" ou "administrativa" e que também não o é.

Há muita coisa que são puros e simples privilégios e que entram no orçamento de Estado sob outras formas.

Publicado por: Luís Lavoura às março 4, 2005 12:41 PM

Luís Lavoura em março 4, 2005 12:41 PM:
Despesas sociais são a Segurança Social, a CGA, a ADSE, as pensões de reforma, subsídios de desemprego, etc.
Não são vencimentos do pessoal a que se refere

Publicado por: Joana às março 4, 2005 01:37 PM

Para quando o PIB no Império de Alexandre? Tinha interesse, agora com o filme e depois de se ter descoberto que quem matou Alexandre foi, afinal, Oliver Stone.

Publicado por: Coruja às março 4, 2005 03:33 PM

Do que esta gaja se lembra para não recordar coisas tristes

Publicado por: Cisco Kid às março 4, 2005 05:03 PM

Do que esta gaja se lembra para não recordar coisas tristes

Publicado por: Cisco Kid às março 4, 2005 05:04 PM

Estava eu curioso de saber como iriam os esquizofrénicos atacar...

Publicado por: Mário às março 4, 2005 06:05 PM

Estava eu curioso de saber como iriam os esquizofrénicos atacar...

Márinho andas com tiques, e pega é num ovo de Colombo e colocas lá estes números:

Império Romano, PIB per/capita : 1360 euros, barbeiro 6 euros, burros 2 273 euros, pedreiros 150 euros/dia

Império Actual Lusitano: PIB per/capita 12 621 euros - barbeiro 9 euros, pedreiro 50 euros/dia, burro em extinção 400 euros,

Há algo que não encaixa... deve ser da desvalorização do euro....

Publicado por: Templário às março 4, 2005 10:07 PM

Pedreiro a 50 €/dia, só se for biscateiro, em economia paralela. Uma hora de pedreiro (não de um servente) de uma empresa, não custa menos de 15€ a 20€, ou sejam 150€/dia.

Publicado por: Hector às março 4, 2005 10:29 PM

Se estiver em economia paralela nem interessa, pois não entra para o PIB. É como se fosse 0€.

Publicado por: David às março 4, 2005 10:35 PM

Hector

essa coca dá-te delírios meu !!!

20 € X 8 h = 160 € dia ?.... ok...pedreiros de luxo, que trabalham pró Cavaco, mesmo assim, mete lá esses neurónios a pensar, e chegas à conclusão, que mesmo ganhando ou custando, como queiras... o preço é o mesmo de há 2 mil anos ???

O mesmo preço de há 2 mil anos ?

Publicado por: Pedreiro às março 4, 2005 10:39 PM

Você é que não sabe ler. Pelo que li, nos 2 posts, a Joana calculou os salários e preços daquela época, em termos de preços actuais. É aquilo que se chama em economia "actualizar" os preços.
Portanto, os preços estão referidos ao custo de vida actual.
Senão bastava ter posto os preços em sestércios e nas outras moedas. O que ela quis fazer foi "trazer" os preços e custos dos romanos para os nossos padrões actuais.
Pelo menos foi assim que eu li os dois posts.

Publicado por: Hector às março 4, 2005 10:51 PM

Hector sou pedreiro mas sei ler e bem.

Você é que não quer ler o que outras opiniões expressam.

Compare os rendimetos per capita e os preços, e verificará que há disparate grosso, é como diz o outro, deve ser dos ovos.

Publicado por: Pedreiro às março 4, 2005 11:01 PM

Hector em março 4, 2005 10:51 PM:
Leu e leu bem.
Haverá bens que, proporcionalmente, custavam então mais que actualmente e outros menos.
Note que, no fim da dinastia Julia-Claudiana, no ano 66AD, existiam, em Roma, 175 dias de descanso por ano!! Portanto aquele pedreiro trabalhava dia sim, dia não!
Proporcionalmente, a carne era então mauito mais cara que agora, mas o trigo era mais barato. Mas isso era porque o trigo, que constituia a base da alimentação, tinha os preços tabelados.

É claro que, quando havia um mau ano agrícola, com preços tabelados ... já se sabe ... o trigo desaparecia do mercado e era a fome.

Na cidade de Roma não havia, geralmente, problema porque o Prefeito da Annona comprava trigo no Egipto e em África (a Tunísia de hoje) para distribuir pela plebe romana.

Publicado por: Joana às março 4, 2005 11:17 PM

Diz-se mal de Tibério, mas afinal manteve as contas equilibradas, coisa que a malta perdeu ao fim de 2000 anos

Publicado por: Sa Chico às março 5, 2005 10:49 AM

175 dias de feriados... só realmente nos livrinhos da escola....

Acredito que seus dirigentes tivessem 175 dias de feriados ou mais até, agora os pedreiros e outros que labutavam por um naco ?

Hoje em 2005, podem dizer que há, não sei quantos feriados, mas é só para alguns, pois quem conhece o campo, sabe bem, que eles nunca descansam, nem sabem o que é subsídio de férias, nem nunca as tiveram.

Ora no Tempo dos Romanos, tal como agora, uma coisa são os calendários das elites, outra é o calendário do povinho...é por estes factos de vivência simples, que saem furadas as contas aos doutos livrescos... falta-lhes vivência, para perceberem certos factos.

Publicado por: Templário às março 5, 2005 08:02 PM

Aliás mais uma boca... Os eleitores do Bloco de Esquerda sabem todos os feriados do ano, e gozam-nos da melhor maneira, já os do CDS agrícola...nem sabem o que são férias há décadas...

Publicado por: Templário às março 5, 2005 08:06 PM

Só duas observações, cara Joana:
1. Porquê uma rubrica à parte para o licenciamento de veteranos?
Compreenderia que você incluísse esta despesa em «gastos militares». No tempo do Império, e contrariamente à tradição republicana, já não era possível recrutar o grosso das tropas entre os pequenos proprietários e artesãos. Era preciso fazê-lo de entre o «lumpen» urbano. Sem a expectativa do licenciamento estes homens nunca se alistariam, pelo que não é ilegítimo considerar esta despesa como um gasto militar, ainda que diferido.
Também compreenderia se você, em alternativa, incluísse esta verba na rubrica «assistência à plebe». Tratava-se, de facto, de plebeus, e a sua transformação em peqquenos proprietários agrícolas evitava o crescimento de um «lumpen» já demasiado grande e ingovernável mesmo sem o acréscimo de uns milhares de homens treinados no uso das armas.
Mas uma rubrica à parte? Só se for para lhe permitir dizer que as despesas militares do império, ou as despesas sociais, eram mais baixas do que de facto eram.
2. Do lado das receitas, você inclui a parte imperial dos despojos de guerra na rubrica «outras». Fico com a curiosidade de saber que parte é que esta alínea representava na receita total, e particularmente se o superavit se deveria ou não a ela. Dividindo arbitrariamente os 112.732.322 denarii da rubrica «outras» pelas cinco alíneas entre as quais se incluem os despojos de guerra, ficamos com uma receita de 22.546.464 denarii que se aproxima perigosamente do superavit.
Especulo: e se as contas do império, descontados os despojos de guerra, fossem deficitárias? O que é que aconteceria? O mundo é grande, mas não é infinito; a força militar do império é enorme, mas também não é infinita. Terá de haver uma altura em que já não haverá mais despojos para conquistar ou mais força para o fazer. O que acontece então?
O que acontece então é que o império implode. Um império é uma forma de governação intrinsecamente instável porque entra em colapso a partir do momento em que não se pode mais expandir.
Os europeus tardaram a compreender isto. Depois do império romano tentaram vários outros, por vezes até com a mais nobre das intenções: tornar globalmente governável um mundo em que as trocas são globais.
E é possivelmente com esta nobilíssima intenção que os americanos estão hoje a tentar ressuscitar a ideia de império. Talvez o consigam construir, mas nunca conseguirão assegurar através dele a boa governação do Mundo.
Há a alternativa europeia, tão pedestre, tão prosaica e tão vilipendiada - mas que é a única alternativa conhecida à forma imperial de governar globamente.
Não sei se a alternativa europeia terá êxito, mas desejo ardentemente que o tenha: desse êxito depende não só o futuro da Europa, como o futuro do Mundo.

Publicado por: Zé Luiz às março 6, 2005 05:00 PM

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