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janeiro 10, 2005

A Entrevista de Daniel Bessa

Veio a lume, n’ O Público de hoje uma entrevista a Daniel Bessa. Mas não é o que ele diz que é importante. O mesmo, tenho eu aqui repetido dezenas de vezes. O que é importante é tal ser dito por um ex-ministro socialista da Indústria, ministro nos primeiros meses do governo de Guterres, antes deste ter enveredado pelo pântano do laxismo.

Respigo algumas frases:

Sobre a liberalização da economia e agilização da justiça:

- A economia portuguesa precisa de liberalização, o que não é fácil de dizer para o interior do PS. ... Quando falamos em liberalizar queremos dizer deixar o mercado funcionar. Ora muitas actividades e empresas em Portugal continuam a ser mantidas de uma forma artificial. ... . A verdade é que muitas empresas apresentam sistematicamente prejuízos e continuam a funcionar, que o sistema bancário tem muita dificuldade em recuperar créditos, mesmo quando se encontram garantidos. O mau funcionamento da nossa justiça resulta em falta de liberdade e falta de concorrência na economia que prejudica as melhores empresas.

Sobre o funcionamento da administração pública e o papel do Estado:

Porque é que leva tanto tempo a fazer o que quer que seja? Porque não sei quantos interventores da administração exigem ter uma palavra a dizer, como me perguntava atrás. Temos uma administração excessiva, temos um governo excessivo, isso é sabido e ninguém faz nada.
Sem mais concorrência, mais mercado, menos intervenção do Estado, menos serviços a intervirem no processo, sem licenciamentos e processos de falência mais rápidos não conseguiremos crescer nem sequer ao ritmo da Europa

Sobre o peso da administração pública:

se não for possível compatibilizar crescimento e contenção do défice, opto pelo segundo: sem saneamento das contas públicas não há futuro nenhum. E esse saneamento é muito difícil, porque há áreas da despesa que estão a subir de forma imparável, como a segurança social e a saúde. É essencial, por exemplo, que não aumente o emprego na administração pública. Tem de haver mesmo redução, aproveitando as saídas para a reforma e, a ter de contratar, contratar com mais qualificações. Para além disso, a nível de remunerações, estes têm de estar ligados a objectivos.

Sobre a fragilidade e dependência da nossa economia

A economia portuguesa tem um problema grande que é a fragilidade da nossa oferta lá fora. Há décadas de trabalho do ICEP, mas a retaguarda não tem correspondido. A verdade é que os melhores períodos da economia portuguesa estão ligados ao investimento estrangeiro. E não falo só da Autoeuropa, que muito contribuiu para termos hoje na área automóvel um valor acrescentado superior à do têxtil. O que também tem fragilidades. O crescimento de 2,0 por cento que o Banco de Portugal projecta para 2006 depende, como alertou Vítor Constâncio, de a fábrica de Palmela da Autoeuropa ir construir um novo modelo. Isto é: estamos dependentes de um centro de decisão exterior...

Sobre o “choque fiscal”:

Vou fazer uma pequena inconfidência sobre uma conversa, até um pouco desagradável, que tive uma vez com António Guterres, ainda era ele primeiro-ministro. Disse-lhe que a carga fiscal em Portugal sobre as empresas era muito elevada e ele não gostou. Por isso mostrei-lhe uma folha do World Economic Fórum sobre a competitividade dos países onde se via que, nessa altura - agora as coisas melhoraram -, entre 59 países, éramos a 57ª carga fiscal mais elevada. Pode ser desagradável ouvir isto, mas nenhum investidor em nenhum canto do mundo acha atractivo um país que oferece uma carga fiscal assim.

Daniel Bessa está pessimista. Pensa, e provavelmente com razão, que há um excesso de população activa na construção civil e que tal não será sustentável a médio prazo. Se a previsão dele se concretizar poderá haver um aumento de 200.000 desempregados a somar aos actualmente existentes. Igualmente não acredita na promessa do PS de uma taxa de crescimento de três por cento ao ano, a menos que haja reformas estruturantes que ele não julga possível, pois a economia portuguesa precisa de liberalização, o que não é fácil de dizer para o interior do PS. A agravar a situação, esses desempregados não representam só um aumento dos subsídios de desemprego, implicam igualmente uma acentuada descida de receitas fiscais.

Por outro lado uma ampla reforma da administração pública não será possível sem uma diminuição acentuada nos seus efectivos. Para qualquer lado que se vire, o país está confrontado com perspectivas sombrias a nível do mercado de emprego.

Muito do que tenho escrito neste blogue tem sido igualmente escrito e dito por ex-dirigentes socialistas, Medina Carreira, Silva Lopes e agora Daniel Bessa, entre outros. Infelizmente, apenas os ex-dirigentes falam com senso. Os dirigentes sem ex (e não me refiro apenas aos socialistas), sobrevivem como tal, vendendo ilusões e mentindo sobre a nossa situação e sobre a validade das soluções que apregoam, apenas na esperança de regressarem ao poder e à distribuição de sinecuras.

Publicado por Joana às janeiro 10, 2005 07:25 PM

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Comentários

Claro. Esse Daniel Bessa é um traidor ao socialismo. Que é que havia de dizer?

Publicado por: Cisco Kid às janeiro 10, 2005 08:34 PM

www.haquemtenhaospesmaiores.blogspot.com

Publicado por: XZC às janeiro 10, 2005 09:43 PM

Se estivesse no governo, ou na campanha do Sócrates, já não diria isso.

Publicado por: Ramiro às janeiro 10, 2005 10:00 PM

Mudam-se os tempos

Publicado por: Ramiro às janeiro 10, 2005 10:01 PM

Jaica, não li esta cangalhada toda porque és uma condensada e não há pachorra. Li ao atravessado e reparei principalmente no final. Dizes tu que é preciso reduzir os FP's. Toda a gente diz o mesmo. Portanto o sucesso deste país passa por reduzir os FP's. Ora até aqui qualquer economista da treta diria a mesma coisa, afinal é um lugar comum.Eu não acredito nisso nem um bocadinho, mas mesmo que seja essa a tábua que salvará Portugal diz-me lá tu, que és uma guru, como se faz? Despedem-se? Reformam-se? Rescindem-se? Matam-se? Mandam-se para algures onde se preveja um tsunami? Atiram-se aos cães?
Olha, eu não gramo o Cadilhe nem um bocadinho, mas quer-me parecer que neste momento é dos poucos gajos lúcidos que por cá andam. Ora vai lá estudar o que ele diz e amanhã vê se apareces com ideias em vez de andares sempre a bater em pacóvios.E já agora acrescenta as tuas ideias e as da Susana, que me parece uma autêntica alimária, perdão, luminária. Bjs e estuda que vais lá!

Publicado por: Átila às janeiro 10, 2005 11:33 PM

Diagnóstico e soluções repetem-se.
Ainda hoje ouvi Helena Roseta tentando ainda sugerir que as medidas mais dolorosas se processassem «a par e passo» do crescimento económico, de modo a evitar desequilíbrios sociais ainda mais dramáticos e revoltantes. Para um leigo nestas matérias acode uma sufocante indignação em não existir a figura de um «voto negativo» nos partidos responsáveis por este estado de coisas, que já se sangram em saúde, com a garantia das quatro patas no Poder.

Publicado por: asdrubAL às janeiro 10, 2005 11:36 PM

Na função pública sai mais barato mandar para casa uns milhares deles (com o respectivo ordenado) do que mantê-los sentados ás secretárias a fazerem telefonemas para todo o lado, gastarem o material de escritório em brincadeiras e surripiarem outro tanto para levarem para casa, como modesta ajuda nos trabalhos escolares dos rebentos.

E ainda se poupa nas horas extras e no subsídio de almoço.
Já se esqueceram que o motorista de um cargo que a Dona Agustina nunca chegou a exercer metia horas extras

Publicado por: Carlos Alberto às janeiro 10, 2005 11:49 PM

O que disse Daniel Bessa, já o disseram milhares e milhares de portugueses, nada de novo, tudo velho, ele também lá esteve e está a desculpar-se ou será que o seu ministério estará mais desburocratizado, desde a sua passagem por lá?
Se está merece uma estátua ao lado do Marquês, se não está...só tem que dizer, que ele é igual a todos os bem falantes.

Mas eu não li essa entrevista, e já agora gostaria de saber, quanto à Indústria, qual era a Estratégia? Esperar pelas decisões exteriores?

Publicado por: Templário às janeiro 10, 2005 11:52 PM

Helena Roseta esquece que sem as medidas mais dolorosas não há crescimento económico.

Publicado por: Joana às janeiro 11, 2005 12:09 AM

O Daniel Bessa esteve lá pouco tempo

Publicado por: David às janeiro 11, 2005 12:12 AM

O Daniel Bessa esteve lá pouco tempo

Publicado por: David às janeiro 11, 2005 12:13 AM

A Helena Roseta não percene népia de Economia. Aquilo eram baboseiras eleitorais

Publicado por: Arroyo às janeiro 11, 2005 01:11 AM

Templário em janeiro 10, 2005 11:52 PM
O que disse Daniel Bessa, já o disseram milhares e milhares de portugueses, mas ele foi ministro do PS e portanto é mais uma acha diagnóstico da situação desgraçada onde nos encontramos.

Publicado por: fbmatos às janeiro 11, 2005 01:16 AM

Templário em janeiro 10, 2005 11:52 PM
O que disse Daniel Bessa, já o disseram milhares e milhares de portugueses, mas ele foi ministro do PS e portanto é mais uma acha diagnóstico da situação desgraçada onde nos encontramos.

Publicado por: fbmatos às janeiro 11, 2005 01:16 AM

Quanto mais leio os comentários mais me convenço que estou enganado. Afinal, contra o que eu sempre pensei, a estupidez não é facultativa, é hereditária. Haja Deus.

Publicado por: Átila às janeiro 11, 2005 02:17 AM

O atilado está referir-se a ele em particular.

Publicado por: Observador às janeiro 11, 2005 10:26 AM

Deve ser chato ser ministro. Ter que ser incompetente e só poder mostrar a sua competência mais tarde, fora da política activa.

Publicado por: Hector às janeiro 11, 2005 10:33 AM

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